Há um case de negócios, que se tornaria depois num grande best-seller, tratando de uma situação real, onde o executivo de uma grande empresa de refirgerantes resolveu mudar a fármula do seu produto, criando as condições ideais para o adversário ganhar espaços significativos de mercado, avançando sobre o concorrente. Este caso pode ser emblemático para entendermos o que está se passando na política pernambucana, na disputa desse segundo turno das eleições para o Palácio do Campo das Princesas.
Escrevi um longo texto sobre o assunto, mas vou direto ao ponto, uma vez que, aqui na província, críticas e argumentos não são enfrentados com autocrítica ou contra-argumentos, mas através de perseguições vis ou expedientes de intimidações judiciais, o que interdita o debate político. Quem sabe, como voltarmos a respirar ares mais republicanos, possamos tratar do assunto. Nesta fase da campanha, qualquer equívoco pode ser determinante sobre o resultado do pleito.
Um tropeço, um vacilo, uma fala impensada, uma ausência e não haveria mais tempo para se redimir ou sanar a sangria. O staff de campanha de Jair Bolsonaro faz um esforço descomunal para conter seu temperamento, pedindo ponderações sobre suas falas ou declarações. O último "embate" com o STF, por exemplo, foi solenemente criticado por seus apoiadores. Eles desejam um Bolsonaro "fora de si' - gostei muito desse expressão usada pelo jornalista Josias de Sousa, do UOL - bem diferente daquele Bolsonaro "normal".
Do outro lado, a equipe de Lula tenta, de todas as formas convencê-lo a mudar a sua estratégia de lidar com o eleitorado evangélico. Lula não está suficientemente convencido disso. De certa forma, pode ser a compreensão de que se trata de uma batalha perdida. A estratificação da pesquisa de hoje, do DataPoder, mostra que o candidato Jair Bolsonaro continua hegemônico neste nicho do eleitorado. Jair Bolsonaro tem 80% da preferência do eleitor evangélico, sobretudo depois das supostas ameaças de alguns pastores de excomungar o fiel que votar em Lula, como anda se especulando por aí.
Marília Arraes(SD-PE), desde que anunciou que seria candidata ao Governo do Estado, abrindo uma dissidência no PT, manteve-se liderando todas as pesquisas de intenção de voto durante o primeiro turno das eleições estaduais. Muito se especulou sobre de onde provinha esse capital político da candidata. Sua militância e vinculação aos segmentos mais orgânicos do PT seria um ponto a assinalar. Tanto isso é verdade que tais segmentos declaram apoio à candidata, mesmo sendo expulsos da agremiação.
Junta-se a esses grupos partidários outros movimentos sociais importantes, representativos de outros interesses, como a FETAPE, Federação dos Trabalhadores Rurais, que sempre esteve do lado do seu avô, o Dr.Miguel Arraes. Quando Lula esteve em Garanhuns, lá estava o MST a bradar o nome da candidata do Solidariedade, quando Lula, em vão, tentava afirmar que o seu candidato "formal" era o Deputado Federal Danilo Cabral, do PSB; Sua atuação política aqui na capital - com reverberação na Região Metropolitana do Recife - é um outro fator importante, pois aqui se encontra quase a metade dos votos de Pernamabuco.
O nome "Arraes', especula-se, pode ter ajudado a candidata nos grotões do interior, mas não há nada de concreto sobre o assunto; Liderando as pesquisas até então, a candidata atraiu aguns atores políticos - com atuação no interior do Estado - descontentes com o tratamento recebdio pela finada Frente Popular. Raposas políticas releventes, com forte influência sobre prefeitos e outras lideranças municipais; Sua contraposição à hegemonia dos socialistas no Estado, no entanto, pode ter sido onde a candidata conseguiu construir o seu maior capital politico.
Sua tese e determinação de enfrentar e apear esse grupo do Palácio do Campo das Princesas passou a ser uma premissa capaz de identificá-la com tal possibilidade, levando o eleitorado a apostar suas fichas na candidata do Solidariedade. Solidariedade, aliás, por um desses acidentes de percurso. É certo que os demais sempre se apresentaram com tal propósito, mas o martírio de Marília Arraes consolidou essa identidade na candidata. E, por falar em solidariedade, havia, naturalmente, uma solidariedade do eleitorado pernambucano com a neta de Dr, Arraes, vítima frequente dos ataques vis dos adversários bem conhecidos. Durante um bom tempo, esse foi o seu maior trunfo político nesta disputa, na opinião deste modesto observador da cena política pernambucana.
Possivelmente embalada por indicadores que se mostraram falsos sobre seus verdadeiros escores, parece que o salto alto indicou a estratégia sobre a candidata de não comparecer aos debates do primeiro turno, o que pode ter se constituído num erro. Ela ter incorporado, neste segundo turno, o apoio de setores ou partidos do campo progressista, a exemplo do PSTU, nenhum problema. Mas, a reconciliação com os seus algozes, oriundos de setores da Frente Popular, a exemplo da cúpula do PSB e dos setores oligáquicos e fisiológicos do PT, aqui sim, ela pode ter dado um tiro no pé.
Não necesariamrnte pela capacidade de diálogo da candidata, quando se sabe que em política, tudo é possivel, e não existem os termos nunca ou jamais, para ficarmos nos conselhos do ex-governador Paulo Guerra. O fato pernicioso para a identidade que ela construiu na campanha é que ela tornou-se mais do mesmo, abrindo uma possibilidade - diga-se perigosa e amplamente rejeitada - de manter na esfera do poder estadual um grupo político que o eleitor já havia decidido que deve sair e ela incorporava essa saída. Um erro estratégico que pode custar a sua eleição, independentemente do fator "emocional' que pode ter ajudada a adversário Raquel Lyra, do PSDB, nesta reta final de campanha. Na pesquisa do IPEC sobre a disputa no Estado, a ex-prefeita de Caruaru aparece à frente de Marília Arraes.
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