O candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad,
segundo o IBOPE, abriu 16 pontos de diferença em relação ao tucano José Serra.
Mantida essa estabilidade, deverá vencer as eleições no segundo turno,
consagrando uma vitória importante para o Partido dos Trabalhadores e para Lula
em particular, que patrocinou sua candidatura. Na reta final da campanha, o
ex-ministro vem experimentando uma ascendência nas pesquisas, superando as
dificuldades iniciais, enquanto José Serra ainda mantém os fantasmas que o
acompanham desde o início da jornada. O julgamento do Mensalão – onde proeminentes
petistas foram condenados – não surtiu efeito negativo sobre o candidato
Fernando Haddad, sobretudo porque não pesam acusações contra ele como homem público.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Sucessão Estadual de 2014: Crescem as apostas em torno do nome de Tadeu Alencar.
A escolha do nome do secretário Geraldo Julio para concorrer
às eleições do Recife se deu a partir de uma avaliação bastante criteriosa,
envolvendo, inclusive, pesquisas encomendadas pelo próprio PSB, que apontaram o
perfil do gestor desejado pelos recifenses. O nome de Geraldo caiu como uma
luva. Subiu nas pesquisas como num rabo de foguete e foi eleito ainda no
primeiro turno, conforme previsão de nosso blog. Terá um grande desafio pela
frente, mas sabe montar equipe e reúne todas as condições políticas para
realizar um bom trabalho. Esse núcleo duro palaciano sempre é lembrado quando
se especula sobre a sucessão de Eduardo Campos. Geraldo, inclusive, integra
esse núcleo duro e especulou-se, durante algum tempo, que seu nome estava cotado para assumir o Governo do Estado em 2014. Há quem afirme que sua ida para a Prefeirura da Cidade do Recife não elimine totalmente essa possibilidade, mas acreditamos que o abacaxi é grande e talvez seja mais prudente que ele resolva os graves problemas urbanos do Recife. Neste cenário, crescem as apostas em torno dos nomes de Danilo Cabral e Tadeu Alencar, caso Eduardo opte por uma solução caseira, sem mexer no vespeiro das fogueiras de vaidade de sua ampla base de apoio. Ambos, sob os auspícios de Eduardo, se movimentam à vontade. Nos últimos dias cresceram as especulações em torno do nome do Secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar. Tadeu é um arraesista roxo, daqueles que se emocionam ao falar no nome do avô de Eduardo Campos, Dr. Miguel Arraes. Danilo cobre suas bases de mimo pelo interior do Estado, mas Tadeu ocupa um cargo estratégico. Um dos maiores capitais políticos de Arraes foi a presidência do antigo IAA, Instituto do Açúcar e do Álcool. Através daquele órgão, ele passou a conhecer, como poucos, a intimidade dos grandes troncos familiares da aristocracia açucareira do Estado, permitindo-lhes celebrar alianças capazes de cindir as forças políticas conservadoras da política pernambucana. Na condição de Secretário da Casa Civil, Tadeu possui um bom manejo político do Estado. Não é pouca coisa.
Eduardo Campos: Afinal, ele entra no páreo já em 2014?
No dia de ontem, o jornalista Josias de Souza, do portal UOL,
trouxe uma matéria sobre as movimentações de Eduardo Campos, sugerindo, quem
sabe, uma preparação do terreno para uma eventual candidatura presidencial ainda em 2014. Há
alguns setores do próprio PSB, leia-se os irmãos Ferreira Gomes, que consideram
precipitado o projeto do lançamento de uma candidatura do partido em
2014. Ciro Gomes, que foi preterido nas últimas eleições presidenciais de 2010,
argumenta que o partido não reúne capilaridade suficiente para alçar vôo agora.
Apesar do número expressivo de prefeitos eleitos – o PSB foi o partido que mais
cresceu nas eleições de 2012 – o partido ainda mantém uma grande concentração
de prefeitos em regiões específicas, ou seja, o crescimento se deu em áreas
onde o partido já era forte, no raciocínio de Ciro. Há de se perguntar se quando Ciro lançou-se como
opção em 2010 esta avaliação estava nos seus planos. Em função das costuras políticas
com forças como o PMDB, o PSDB, PSD e PDT, evidentemente, trata-se de um problema que
poderia ser contornado. Sinto que procedem as informações de que Ciro estaria
sendo estimulado por setores do Planalto a assumir tal comportamento, representando uma oposição interna aos planos de Eduardo. Em todo caso, para usar uma
expressão do Campo das Princesas, está em curso um amplo processo de prospecção
política, pavimentando os caminhos do “Moleque” dos jardins da Fundação Joaquim
Nabuco. No atual cenário, conforme já afirmamos em outra ocasião, Eduardo está
no “ponto” para 2014 ou 2018. A decisão depende, entretanto, de avaliações corretas de alguns cenários
políticos, evitando que a raposa erre o bote.
Em Campinas, Eduardo Campos e Lula medem forças no segundo turno.
Eduardo Campos e Lula medem forças, mais uma vez, na cidade
de Campinas, onde a eleição foi para o segundo turno. Trata-se de uma cidade
estratégica para ambos os partidos, ou seja, o PSB e o PT. Aliás, uma cidade estratégica para qualquer agremiação política. A aposta de Lula é o
ex-presidente do IPEA, o economista Márcio Pochmann, que realizou um excelente trabalho à frente daquele órgão. O candidato do PSB é Jonas
Donizette. Em visita recente àquela cidade, o governador de Pernambuco deixou a
diplomacia de lado e partiu para as duras críticas ao PT, recordando os
problemas de malversação de recursos públicos envolvendo a gestão petista da
cidade, no seu entendimento, descredenciando-os a continuarem mandando nos
destinos da cidade. Eduardo tem mantido uma cautela bastante interessante com o
casal presidencial Lula e Dilma, mas, em alguns momentos, exala independência
por todos os poros, radicalizando o seu discurso, dando a entender que concorda
com o senador Jarbas Vasconcelos quando ele afirma que o governador deverá trilhar um caminho próprio,
afastando-se do PT, se pretende chegar ao Palácio do Planalto. Nessas últimas
eleições, sobretudo agora no segundo turno, Eduardo fechou vários acordos com o
PSDB. Em alguns casos, como Manaus, por exemplo, o PSB emprestará apoio ao
ex-senador Arthur Virgílio, um inimigo figadal de Lula. Virgílio está na lista
dos urubus voando de costa, a trupe que causou grandes aborrecimentos a Lula
durante a crise do Mensalão. Estreitam-se, igualmente, os laços entre o PSB e
setores do PMDB em algumas praças da federação, aumentando os rumores do
lançamento do nome de Eduardo Campos ainda para 2014.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Le Monde Diplomatique: Conservadores ou liberais?
Conservadores ou liberais? |
O que mudou e o que não mudou na última década em algumas percepções dos brasileiros? A análise comparada dos dados de 1999 com 2010 revela um quadro eivado de ambiguidades, que, no entanto, não necessariamente descrevem um crescimento do conservadorismo
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por Nancy Cardia |
Em 1999, no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), realizamos um estudo em dez capitais estaduais sobre o contato das pessoas com a violência e seus possíveis impactos sobre atitudes, crenças e valores em relação a instituições responsáveis pela segurança pública, ao uso da força para resolver conflitos e em particular a alguns direitos humanos.1 Também buscamos examinar um possível reflexo dessas experiências sobre comportamentos. A pesquisa foi repetida em 2010, dessa vez em onze capitais, e o questionário ampliado em relação a alguns temas como a relação entre violência e percepção do bairro, capital social, percepção da polícia, penas e punições e direitos humanos, incluído o direito à liberdade de expressão, de manifestação de dissidência política, da proteção contra a tortura etc.
O período de pouco mais de uma década entre as duas pesquisas é singular, caracterizando-se por várias melhorias: a economia do país se estabilizou e passou a crescer, partidos políticos se alternaram no poder tanto em eleições majoritárias como locais, a desigualdade diminuiu, a escolaridade da população cresceu, a mortalidade infantil declinou, o desemprego caiu etc. Seria legítimo esperar que esses ganhos se refletissem em uma queda nos índices de violência de modo transversal no país e que esta, por sua vez, tivesse algum efeito sobre as atitudes da população em relação ao tema da violência e segurança, dos direitos humanos e de instituições do sistema de justiça, entre outros.
Essa expectativa é rompida pelo fato de que infelizmente essas melhorias não foram acompanhadas por uma queda transversal dos índices de violência, por uma melhoria substancial no apoio aos direitos humanos ou pelo aumento da rejeição a práticas arbitrárias, por parte das instituições de justiça. A análise comparada dos dados de 1999 com 2010 revela um quadro eivado de ambiguidades, que, no entanto, não necessariamente descrevem um crescimento do conservadorismo. Os dados sugerem, sim, a persistência de núcleos de autoritarismo que se manifestam como apoio à punitividade, incluindo-se aqui a punição física, o uso da força física para resolução de conflitos e o uso da violência por parte da polícia em relação a pessoas identificadas como suspeitas. Apesar de a maioria ainda rejeitar esses comportamentos, aumentou o apoio à polícia poder invadir uma casa, bater em um suspeito e em um preso que tenham tentado fugir ou atirar em um suspeito ainda que desarmado. Certamente não é isso que se espera em uma democracia consolidada, na qual as leis e as instituições funcionam e o contexto social e econômico tem se apresentado como muito favorável para que se desenvolva uma cultura de apoio ao Estado democrático de direito, com ampla aprovação das garantias de proteção do cidadão contra um potencial poder estatal abusivo.
Esse quadro é perturbador pelo fato de, nesse período, ter diminuído a exposição à violência mais grave − por exemplo, ter sido vítima de agressão física, ter perdido um parente assassinado, ter tido de mudar de casa por medo da violência, entre outros. Essa queda foi acompanhada por uma melhoria na imagem das instituições de justiça – polícias (federal, civil e militar), Defensoria Pública e Judiciário.
O aumento da punitividade ocorreu em todas as faixas etárias, o que significa que os mais jovens, que nasceram após o retorno do país à democracia, também apresentam sinais da presença daquilo que Guillermo O’Donnell intitulou de “autoritarismo socialmente implantado”, algo como uma introjeção coletiva não de princípios de respeito às leis (o processo civilizatório de Norbert Elias), mas sim de aceitação de um arbítrio exercido em nome da segurança ou do disciplinamento do indivíduo.
Isso fica claro nas respostas dadas pelos entrevistados sobre medidas que adotariam para disciplinar seus filhos, caso estes apresentassem problemas de comportamento com variados graus de gravidade: da indisciplina em sala de aula ao grafitar, do fumar maconha ao chegar tarde em casa. Aumentou no período o número de entrevistados que “bateriam muito” no filho/filha caso eles apresentassem esses comportamentos.
Esse aumento entre os mais jovens é substancial e não é acompanhado pela experiência de terem sido vítimas de punição corporal pelos pais, ou seja, esse padrão não parece expressar uma transmissão de valores entre gerações. O fato é que dobrou o percentual de jovens que dizem nunca ter apanhado na infância, mas que afirmam que “bateriam muito” no filho nas situações apresentadas. Essa sobrevivência de atitudes autoritárias e punitivas não se limita a temas sobre como disciplinar os filhos, mas aparece também nas respostas a questões sobre tortura e pena de morte. Surpreende muito o apoio dessas medidas, o qual não parece decorrer apenas de padrões de avaliação de riscos e consequências, supostamente menos acurados entre os mais jovens.
Ao analisarmos as opiniões dos jovens sobre valores em relação ao futuro − o que consideram sinal de sucesso e o que é importante conquistar na vida −, observamos que as respostas, quando comparadas àquelas de 1999, revelam que houve no período uma crescente valorização de símbolos de sucesso bastante convencionais, com ênfase na ampliação da capacidade de consumo e de geração de renda do indivíduo. Valores mais coletivos, como bem-estar da comunidade e solidariedade de grupo, parecem ter menos relevância.
Entre alguns jovens, elementos e comportamentos associados à violência vêm adquirindo crescente aprovação, na contramão do debate público. Ainda que sejam uma minoria, o fato é que cresceu substancialmente a valorização de ter uma arma, de provocar medo nos professores e/ou ter fama de “durão”, ser alguém com quem a polícia “não se mete”. Ou seja, apesar da queda da exposição à violência, o grupo de maior risco de ser vítima, quer pelo fato de ser jovem, quer pelas atitudes em relação à violência, não diminuiu. Aqui está o grande desafio: o que alimenta essas atitudes e valores? Por que a democracia não conseguiu, até o momento, promover entre as novas gerações valores mais condizentes com uma cultura de respeito aos direitos humanos e de valorização de um Estado de direito democrático? Por que sobrevivem indícios de um “autoritarismo socialmente implantado” – aquele que, ainda segundo O’Donnell, permitiu que a ditadura militar sobrevivesse por tanto tempo com tão pouca resistência? Essas são questões que devem ser respondidas se quisermos garantir que as novas gerações possam enfim romper com práticas do passado, que só garantem o perverso círculo de violência e violação de direitos.
Nancy Cardia
Vice-coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).
Ilustração: Daniel Kondo
1 “Pesquisa nacional por amostragem domiciliar sobre atitudes, normas culturais e valores em relação à violação de direitos humanos e violência, 2010. Um estudo em 11 capitais”, Nancy Cardia (coord.), NEV-USP/INCT-Cepid/Secretaria de Direitos Humanos/ Unfa, 2011.
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02 de Outubro de 2012
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Palavras chave: conservadorismo, Brasil, violência, pesquisa, desigualdade, cidades, metropóles, liberalismo, liberais, conservadores, sociedade, punição, legislação, direito, Estado, direitos humanos, jovens
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João Pessoa: A curiosa neutralidade do PSB e do PMDB
É bastante curiosa a situação política no segundo turno das
eleições em João Pessoa. O governador Ricardo Coutinho, do PSB, afirmou que não
pedirá votos para Cícero Lucena(PSDB) ou para Luciano Cartaxo, do PT, apoiado pelo
seu agora inimigo, Luciano Agra. É possível até entender que ele não se
movimente em torno do nome de Cícero Lucena, embora exista alguns acordos no plano nacional entre
o PSB e o PSDB. Ricardo já disse cobras e lagartos sobre Cícero e seria
realmente coerente que ele não subisse em seu palanque. Em relação a Cartaxo,
entretanto, a postura é surpreendente. Ricardo, inclusive, já foi petista.
Embora essa ala do partido estivesse com José Maranhão nas eleições de 2010, mesmo assim,
surpreende. O PMDB também assumiu uma postura de neutralidade, embora alguns
parlamentares do partido já tenham declarado que apoiarão o candidato do PT.
Sérgio Cabral: Dois equívocos políticos num curto espaço de tempo.
Num curto espaço de tempo, o governador do Rio de Janeiro
cometeu dois deslizes políticos, um
escore surpreendente para uma raposa política com a experiência de Sérgio
Cabral. Ao término das eleições de 2010, Sérgio despontou, ao lado de Eduardo
Campos, como uma das grandes promessas da política nacional. Era então apontado
como um dos possíveis rivais do governador pernambucano na corrida ao Palácio
do Planalto nas eleições de 2014 ou 2018. Logo em seguida vieram os escândalos
e ele precisou soterrar seus projetos. Depois dos “jatinhos” cedidos por
empresários, o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, seu
desafeto, através de doses homeopáticas, soltou para a imprensa diversos vídeos
de Sérgio Cabral em viagens ao exterior, acompanhado de executivos da Delta,
atolada até o pescoço em escândalos. Seu prestígio foi à lona. Com o feeling
político também comprometido, vive cometendo erros, como esses últimos, onde
causou um mal-estar na alta cúpula do PMDB ao propor a substituição de Michel
Temer da primazia de continuar, na condição de vice, numa chapa à reeleição da
presidente Dilma Rousseff. Depois, através de seu apadrinhado, Eduardo Paes,
andou emitindo sinais de que gostaria de ocupar o Ministério das Minas e
Energias, numa possível reforma ministerial que se aproxima. Seu projeto seria
o de alavancar o nome de Luiz Fernando de Souza, o Pezão, como candidato ao
Governo do Rio de Janeiro, em 2014. Sérgio esquece um pequeno detalhe: o PT não
tem nenhum interesse nesse projeto. Por outro lado, Minas e Energias é um
latifúndio que a família Sarney mantém na República.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Fernando Haddad pode encomendar o terno da posse.
Fernando Haddad deve ganhas as eleições do segundo turno em
São Paulo. Num contexto mais ampliado, o eleitorado já transmitiu seu recado ao
PT nas últimas eleições. Faculta-lhes, portanto, as movimentações do partido num tradicional reduto tucano,
permitindo um suspiro de regozijo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Haddad é um homem público honrado, que teve uma passagem exitosa pelo
Ministério da Educação de onde, aliás, não deveria ter saído. Em todo caso, o feeling político do ex-presidente
apontava para alguém com o seu perfil, pois percebeu, muito antes, a ressaca do eleitorado
com a “fadiga de material”. Russomanno, que poderia, a princípio, ter assumido
esse perfil, não teve fôlego ético na reta final. O eleitorado paulista não
teria motivos para não votar em Haddad. Por outro lado, apesar de tucano - os paulistas gostam dessa ave - há
uma série de questionamentos em relação ao candidato do PSDB, José Serra. Quero afirmar,
com toda a objetividade, que nos equivocamos em relação ao candidato apresentado
por Lula. São Paulo foi reservado, durante algum período, como uma espécie de “recado”
aos poderosos de plantão no sentido de que eles não extrapolassem suas
prerrogativas ao ocuparem o poder. O PT estabeleceu como uma idéia fixa quebrar
essa hegemonia tucana naquela praça. Lula considera fundamental para os planos
da agremiação manter-se no poder. Montou uma engenharia política que previa não
apenas tomar o Edifício Matarazzo, mas costurar uma rede de prefeitos novos em
cidades importantes do seu entorno, estratégia semelhante à adotada pelo PSB,
que trava, por exemplo, uma batalha sangrenta com o próprio PT, em Campinas.
Numa avaliação preliminar, sem considerar os resultados do segundo turno,
parece-nos que o PSB foi melhor sucedido na empreitada. Quanto a São Paulo, que
foi uma dor de cabeça desde o início, Lulinha parece que irá para a cama com a
sensação do dever cumprido.
Lula teme que o julgamento de Dirceu atrapalhe Haddad em São Pauloi.
Há controvérsias sobre a influência do julgamento do Mensalão
em relação ao desempenho petista nas últimas eleições. O próprio Lula considera
que observar, sistematicamente, petistas sendo condenados em ritos do STF não
deve causar uma boa impressão entre os eleitores. Por outro lado, há quem
afirme que, apesar do empenho da mídia, são poucos os eleitores que estão,
rigorosamente, acompanhando os trabalhos naquela Corte e, muito menos,
condicionando os seus votos consoante os resultados do julgamento. De fato,
numa eleição municipal, comenta-se muito sobre os problemas locais,
contingenciando o eleitor a posicionar-se os buracos de sua rua, as
dificuldades de seu trajeto ao local de trabalho, o lixo que não é recolhido
etc. Para esses analistas, a influência do julgamento sobre o voto desse
eleitorado, no caso, seria mínima. Em todo caso, o PT colocou as barbas de
molho. Uma das grandes preocupações de Lula, por exemplo, é qual deve ser a
estratégia diante do “linchamento” moral de José Dirceu às vésperas de um
embate decisivo para o partido, as eleições paulistas, onde o seu candidato,
Fernando Haddad, lidera as últimas sondagens de opinião.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Eric Hobsbawn: ANPUH responde à Revista Veja.
Eric Hobsbawm: um dos maiores intelectuais do século XX
Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric
Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da
formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo
contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século
XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo
conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao
lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores
marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando
do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam
escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que
organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as
estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento
capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um "acadêmico", no sentido de reduzir
sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição
do "intelectual" como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm
defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma
por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro
está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas
afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo
homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser
medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há
duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes
do século XX.
Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o
historiador à condição de "idiota moral" (cf. o texto "A imperdoável cegueira
ideológica da Hobsbawm", publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e
despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX.
Veja desconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se
esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda
dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A
Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil)
repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim,
ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O
tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto "historiador
esquerdista", dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E
é assim em toda a "análise" acerca do falecido historiador. Nós, historiadores,
sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus
acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E
defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo
de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam.
Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão
empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o
bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada
como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.
São Paulo, 05 de outubro de 2012
Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013
terça-feira, 9 de outubro de 2012
PT: Ninguém segura a onda vermelha... em João Pessoa.
O candidato do PT em João Pessoa, Luciano Cartaxo, deverá
vencer aquelas eleições no segundo turno. Todos os fatores convergem nessa
direção. Dissidências do PSB, antes mesmo da realização das eleições do último
dia 07 já haviam debandado para a sua candidatura. Exatamente aquele contingente
mais aguerrido, a sua juventude. Cartaxo conta com o apoio decisivo do atual
gestor da cidade, Luciano Agra, sem partido, mais muito bem avaliado pela
população. Setores do PT, nas eleições de 2010, estiveram com a raposa José
Maranhão, inclusive o grupo que hoje encampa a candidatura de Luciano Cartaxo.
Terceira colocada nas pesquisas, Estelizabel Bezerra, tem um histórico vinculado aos movimentos sociais. É muito pouco provável que o PSB apoie o nome de
Cícero Lucena, do PSDB. Aparentemente, nenhum problema, uma vez que o PSDB, no
plano nacional, é um aliado circunstancial do PSB. O apoio do grupo do senador Cássio Cunha
Lima ao então candidato Ricardo Coutinho foi fundamental para a vitória deste
nas eleições de 2010. O governador Eduardo Campos, inclusive, tem uma excelente
relação com Cássio. Ocorre, entretanto, que Cícero representa a facção do eu
sozinho na agremiação. É brigado com todo mundo. Não se entende com Cássio, não
se entende Ricardo, inviabilizando um acordo. Agremiação bastante permeável
ideologicamente naquele Estado, o PT já fez alianças com Deus e com o diabo. É
mais um trunfo do partido na disputa do segundo turno. Cassem meu registro de
cientista político se o PT não ganhar aquelas eleições. Não entendo como um animal político tão experiente como Ricardo Coutinho cometeu tantos equívocos nessas eleições. Agra, que inclusive demonstra o desejo de afastar-se da vida pública, deu o troco na primeira esquina.
Nota do Editor: No dia de hoje, 10, o candidato petista, Luciano Cartaxo, manteve um encontro com o ex-governador José Maranhão. Depois do diálogo, conforme prevíamos, a raposa sorriu para os repórteres, o que pode ser lido como um provável entendimento entre ambos para o segundo turno das eleições. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, em reunião em Brasília, segundo dizem, iria recomendar que o partido apoiasse Luciano Cartaxo. Diante do exposto, como diriam os advogados, não sabemos quem vai ficar com Cícero Lucena.
Nota do Editor: No dia de hoje, 10, o candidato petista, Luciano Cartaxo, manteve um encontro com o ex-governador José Maranhão. Depois do diálogo, conforme prevíamos, a raposa sorriu para os repórteres, o que pode ser lido como um provável entendimento entre ambos para o segundo turno das eleições. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, em reunião em Brasília, segundo dizem, iria recomendar que o partido apoiasse Luciano Cartaxo. Diante do exposto, como diriam os advogados, não sabemos quem vai ficar com Cícero Lucena.
Le Monde Diplomatique: "Pode deixar que eu cuido disso": a infantilização do voto
A “despolitização” induz a maioria das pessoas a perceber as eleições como o único meio de fazer política. Essa contração foi acompanhada por um deslocamento: as eleições “acontecem” na TV e no rádio. Lá chegando, incorporaram-se a um dispositivo que, além do conteúdo conservador, transforma tudo em entretenimento
|
por Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida
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Processos de infantilização das campanhas eleitorais sempre ocorrem nas democracias de massa. No esforço para capturar os votos da maioria em sociedades em que o poder político e econômico é detido por uma minoria, algum tipo de manipulação é imprescindível. Referindo-se ao século XIX, quando surgiram as primeiras democracias eleitorais, Eric Hobsbawm observou as afinidades entre a era da democratização e a hipocrisia política.1
Estudiosos sofisticados não apenas teorizaram como justificaram esse processo, considerando-o um componente positivo de qualquer democracia possível. Foi o caso de Joseph Schumpeter, em seu clássico Capitalismo, socialismo e democracia,2 publicado em 1942 e hoje mais influente do que nunca. Para esse autor austríaco exilado nos Estados Unidos, é teoricamente incorreto e politicamente arriscado levar a sério a etimologia de democracia (poder do povo). O povo jamais teve ou terá o poder, que sempre foi e será das elites. Nesse sentido, a democracia se define como um conjunto de procedimentos que asseguram a concorrência entre elites organizadas em empresas políticas, ou seja, partidos, que concorrem pela preferência do consumidor político, isto é, o eleitor. Este, como qualquer consumidor, não é um exemplo de racionalidade ao fazer sua escolha. Daí algumas condições para que a democracia prospere, como, por exemplo, um debate político que não coloque questões estruturais em pauta. E que o eleitor deixe o eleito em paz. A este, e não àquele, o mandato pertence.
Essa concepção dita procedimental da democracia, ao traçar uma forte analogia entre a política e o mercado (idealizando este último), contribui para legitimar a superficialização do debate político, o alijamento da maior parte da população de questões mais sérias e a forte presença dos profissionais em propaganda eleitoral. É provável que o fantasma de Schumpeter ronde as atuais eleições brasileiras, especialmente no “horário político” da TV e nas matérias publicadas pela grande imprensa. Até porque, como se trata de pleitos municipais, é mais fácil a disseminação da ideia de que basta um bom gerente para que os principais “problemas” estejam em boas mãos.
Não exageremos nas simplificações. Para além da manipulação – e para que esta funcione em maior ou menor grau –, existem fortes determinações estruturais. É o caso da construção altamente ideologizada de uma comunidade de indivíduos-cidadãos livres e iguais, inclusive quanto ao acesso à informação política, em sociedades marcadas por ferozes relações de exploração e dominação. Uma propaganda do TSE que apresenta o eleitor como “patrão” expressa, de modo enviesado e um tanto confuso, essa construção. Não ficaria mais próximo da vida como ela é apresentar a maioria dos eleitores como “não patrões”?
Essa maioria não patronal é o grande alvo do “horário político”. A ela se dirigem os candidatos travestidos de super-heróis, prometendo, a cada quatro anos, resolver os “problemas” de moradia, assistência médico-hospitalar, creche, esgoto, água tratada, emprego, habitação etc. Só não explicam a origem de seus superpoderes ungidos de espírito público e amor ao próximo, bem como por que, historicamente, tudo isso desaparece assim que se encerra a estação de caça aos votos.
Na vida real, os “patrões” não costumam rasgar dinheiro. Não gastam seu precioso tempo assistindo ao show dos horários eleitorais em que um promete mudar aeroportos ou erguer aerotrens; outro afirma com a maior seriedade que eliminará congestionamentos de trânsito aproximando locais de trabalho e de moradia (e vice-versa); um terceiro garante que nomeará um ministério do nível de ministros (grito socorro?) e que os serviços públicos funcionarão porque ele aparecerá onde não o esperam (Jânio vem aí?).
Nenhum se refere a um aspecto importantíssimo para a aplicação de políticas, inclusive no plano municipal: nessa situação de crise capitalista que se aprofunda e de forte comprometimento das contas nacionais com o pagamento da dívida pública a boa parte dos grandes “patrões” (bancos, fundos de pensão, grandes empresas industriais brasileiras e transnacionais), é quase nula a capacidade do Estado, em seus distintos níveis, de colocar em prática políticas sérias, especialmente sociais. Poupa-se o eleitor desse assunto enfadonho, até porque – reza o saudável senso comum – crise capitalista não é assunto de prefeito ou vereador. Melhor destacar que é amigo da presidenta e do governador; que é administrador experiente e competente; que, assim como foi o maior ministro de tal área, será o maior prefeito. E que, ao contrário do adversário, não é amigo do Maluf.
É claro que existem diferenças políticas entre as candidaturas relevantes, aí se incluindo partidos cuja competitividade eleitoral é ínfima. E, mesmo em seus melhores momentos, as disputas eleitorais filtram e refratam os principais interesses das forças sociais. Mas um importante aspecto comum em uma cidade altamente politizada como São Paulo consiste no peso extraordinário que adquire a interpelação do eleitorado como essencialmente passivo. Lutas populares, nem pensar. Basta o voto (claro que em mim!) para mudar o destino da maioria daqueles a quem a propaganda eleitoral se dirige. Um grande autor, em sua fase juvenil, fez uma crítica mordaz desse duplo mundo, o “celestial”, onde, apagadas as diferenças, todos viram “cidadãos”; e o “terreno”, onde o homem é o lobo do homem.3 Nas grandes metrópoles brasileiras, essa dupla vida nos incomoda quando deparamos com homens e mulheres pobres, expostos ao sol inclemente deste inverno surreal, segurando cartazes de candidatos com os quais não têm nenhuma afinidade político-eleitoral, até porque isso é o que menos importa. Para quem paga, é tirar partido de mão de obra sobrante e, portanto, barata. Para quem segura o rojão, também tanto faz ser placa de empreendimento imobiliário ou de qualquer “político”. Melhor do que “compro ouro”. Para todos nós que passamos de carro, por que se indignar? No melhor dos casos, cumpriremos nosso dever cívico, depositando o voto na urna, e esperamos – quem sabe até cobrando – que as “autoridades” resolvam a situação dessa gente com as quais (situação e gente) nada temos a ver.
Exatamente devido aos impactos que produz no sentido de desorganizar a ação coletiva e autônoma dos dominados – inclusive no que se refere à produção e circulação de informações –, esse processo de “despolitização” não é politicamente neutro. Ao contrário, contribui, em São Paulo ou em São Luís, para a reprodução de um dos padrões de dominação e exploração mais predatórios do planeta.
Também cabe evitar a ideia igualmente simplista de que o esforço de manipulação opera sobre um terreno vazio e passivo (um espécie de folha de papel em branco) e sempre obtém os mesmos resultados. No fundamental, o que está em jogo é, em cada conjuntura, a maior ou menor capacidade de intervenção popular na vida política.
Essa capacidade sofreu drástica redução nos últimos anos. Partidos antes combativos passaram por fortes mutações, ao longo das quais obliteraram seus espaços de participação (inclusive debates internos). Políticas sociais importantes para, em caráter emergencial, melhorar as condições de vida de populações que estavam em extrema miséria tampouco ampliaram aquela capacidade. Ao contrário, reforçaram a percepção de que o governante é um pai (ou uma mãe), com especial carinho para com os mais desprotegidos. E, como vimos, no plano nacional, sem tempo para negociar com a totalidade dos professores das universidades federais envolvidos numa ação coletiva (uma greve) durante mais de cem dias; e, no estadual/municipal, o bárbaro massacre dos moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), também organizados na luta política por direitos constitucionais elementares. Enquanto isso, o especulador não tem do que se queixar, e um candidato “do bem” se vangloria de, quando secretário estadual da Educação, jamais ter deparado com uma greve de professores.
Sorte dos trabalhadores e trabalhadoras que não se metem em confusão, até porque esse processo de despolitização segue pari passucom o de judicialização da vida política. Mas por que nos preocuparmos? Afinal, a essência da maioria dos candidatos pode se resumir no refrão de um deles: passa o tempo todo pensando nos pobres.
Com essa drástica redução da capacidade de ação popular coletiva, não é mais necessário, como foi em 1989, que um importante dirigente industrial, Mário Amato, alerte que, caso determinado candidato vencesse, 800 mil empresários abandonariam o Brasil; ou, no pleito seguinte, outro peso pesado dos industriais advertisse que a eleição do mesmo candidato seria o equivalente a uma bomba de hidrogênio despencar sobre este país abençoado por Deus. Na campanha eleitoral de 2002, o marqueteiro-mor do mesmo candidato, ao coordenar importantes figuras políticas na feitura de uma propaganda televisiva, disse para todos erguerem a mão em forma de L. “A mão direita ou a esquerda?”, perguntou alguém. “Como quiser”, respondeu o pragmático guru, “quem for de direita, com a direita; quem for de esquerda, com a esquerda.”4 Não por mera coincidência, assinou-se a “Carta aos brasileiros”; apesar de algumas rusgas passageiras, houve forte apoio empresarial; e o partido concluiu sua passagem para a idade da razão.
Os impactos “despolitizadores” sobre os processos induzem a grande maioria das classes populares a perceber as eleições como o único meio legítimo de fazer política. Essa contração foi acompanhada por um deslocamento: as eleições “acontecem” principalmente na televisão e no rádio (as chamadas redes sociais ainda engatinham nesse processo). Lá chegando, incorporaram-se a um dispositivo que, além do conteúdo abertamente conservador, transforma tudo em entretenimento. Em outros termos, o centro da atividade eleitoral mais visível se transfere para meios de comunicação tremendamente oligopolizados e que reproduzem, na imensa maioria das transmissões, (novelas, noticiários, propagandas) processos de infantilização. Lutas pelo aprofundamento da participação política no Brasil requerem democratizar e diversificar os meios de comunicação.
Quando Schumpeter escreveu seu célebre livro sobre democracia, o desfecho da Segunda Guerra Mundial, fortemente articulada a uma crise do capitalismo, ainda estava incerto e restavam poucas democracias liberais no planeta. Em um livro schumpeteriano bem mais simplista, A terceira onda, Samuel Huntington se congratulava, em 1993, pelo espraiamento desse regime por grande parte do planeta.5 Todavia, no atual contexto de profunda crise capitalista, tendem a aumentar os desencontros entre esse regime e a participação popular. Se Schumpeter e tantos outros negam a possibilidade do poder do povo, diversos estudiosos, como Slavoj Žižek,ao abordar uma questão bem mais específica, recorrem a uma expressão cada vez mais em voga para nos referirmos a essa reviravolta sinistra: a democracia se volta contra os povos.6
Diante dos riscos de que o modelo schumpeteriano de democracia chegue ao seu esgotamento no bojo da atual crise, é urgente inventar novas e profundas formas de efetiva participação popular na política.
Resta saber se isso é possível sem reinventar a sociedade.
Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida
é professor do Departamento de Política da PUC-SP
Ilustração: Daniel Kondo
1 E. Hobsbawm, A era dos impérios, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1988, p.130.
2 J. A. Schumpeter, Capitalismo, socialismo e democracia, Fundo de Cultura, Rio de Janeiro, 1961.
3 Karl Marx, A questão judaica,Boitempo, São Paulo, 2010.
4 A sequência aparece no documentário Entreatos,de João Moreira Salles.
5 Samuel Huntington,A terceira onda: a democratização no final do século XX, Ática, São Paulo, 1994.
6 Slavoj Žižek, “Democracy versus the people. A new account of Haiti’s recent history shows how the genuinely radical politics of Lavalas and its”, New Statesman, 14 ago. 2008.
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02 de Outubro de 2012
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Palavras chave: conservadorismo, eleição, política, democracia, crise, capitalismo, sociedade do espetáculo, entretenimento, voto, eleitor, televisão, rádio, campanha, candidato, liberalismo, esquerda, direita, sociedade
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Cinco coisas que você precisa saber para não passar vexame sobre as eleições.
1. O enigma: As urnas de 2012 produziram uma Esfinge. Chama-se Eduardo Campos. O PT avalia que, ao levar um ‘poste’ do nada para o triunfo de primeiro turno em Recife, o governador de Pernambuco ameaçou Lula e Dilma Rousseff com um enigma: decifra-me ou te devoro. Bobagem. Na verdade, o enigma proposto por Eduardo é outro: devora-me ou te decifro. O PSB do governador vai ganhando uma musculatura que o afasta do papel de satélite do PT. Elegera 133 prefeitos em 2000. Saltara para 310 em 2008. Agora, foi a 433. Eduardo ultrapassou as fronteiras de Pernambuco, eis a novidade. Para desassossego do petismo, passou a ser visto como uma perspectiva de poder nacional.
2. As montanhas: Ao romper a aliança que mantinha com o prefeito Márcio Lacerda (PSB), o PT estimulou Dilma Rousseff a atravessar o Rubicão que se esconde atrás das montanhas de Minas Gerais. A presidente gritou ‘alea jacta est’, patrocinou a candidatura do petista Patrus Ananias e foi às lanças. Enxergava na empreitada uma oportunidade para trincar o projeto presidencial de Aécio Neves, derrotando-o na sua província. Deu errado. Bem avaliado, Lacerda prevaleceu no primeiro turno de braços dados com Aécio. E virou uma opção automática do grão-tucano para o governo do Estado em 2014. Ficou entendido que Aécio tem muitas debilidades políticas, mas Minas não se inclui entre elas.
3. O efeito mafagafo: São dois os males dos partidos políticos: excesso de cabeças e carência de miolos. O PT sofre da mesma carência. A diferença é que tem uma cabeça só. Na disputa pela vaga de candidato a prefeito de São Paulo, a legenda revelou-se um ninho de mafagafos com quatro mafagafinhos. Entre eles Marta Suplicy. Lula avocou para si a tarefa de desmafagafizador. Empinou o nome de Fernando Haddad. Levou-o ao segundo turno com a terceira pior marca de um candidato petista, abaixo da média histórica de votos do partido na cidade. Fez isso socorrendo-se do prestígio de Dilma. Se Haddad prevalecer sobre o rival tucano José Serra, Lula repetirá no município o feito nacional de 2010. Do contrário, arrisca-se a virar na maior cidade do país um mafagafingo de si mesmo.
4. O bico rachado: A presença de Celso Russomanno no terceiro lugar do pódio e o excesso de votos anulados (28,9%) deixou a impressão de que Shakespeare estava pensando na eleição paulistana quando disse que “não há o que escolher num saco de batatas podres”. Numa disputa em que esteve ameaçado por um azarão e foi ao segundo turno roçando cotovelos com um novato, o tucano José Serra descobriu-se uma liderança fragilizada. Comparado consigo mesmo, teve um desempenho sofrível –30,8% dos votos válidos. Candidato a governador em 2006, amealhara na cidade de São Paulo 53,1%. Presidenciável em 2010, beliscara no município 40,3%. Para se recompor em cena, precisa distanciar-se de Haddad. Se retornar à prefeitura com diferença miúda, será um tucano de bico rachado. Uma eventual derrota o deixaria depenado. Para Serra, o eventual fracasso em 2012 terá o peso de uma lápide.
5. A lógica fotográfica: Se eleição fosse feita à base de lógica, em Curitiba faltaria muito material. Cavalgando duas máquinas, a estadual e a municipal, o governador tucano do Paraná, Beto Richa, conseguiu levar seu candidato, o prefeito Luciano Ducci (PSB), à mais vexatória derrota de 2012. Foram ao segundo turno Ratinho Júnior (PSC), um Russomanno que deu certo, e Gustavo Fruet (PDT), um ex-tucano que Richa desprezara. O governador aprendeu da pior maneira um ensinamento clássico: política é como fotografia, se mexe muito não sai.
(Publicado originalmente no blog do jornalista Josias de Sousa, Portal UOL)
The Economist: The Nobel prize for physics
The Nobel prize for physics
Trappings of success
Oct 9th 2012, 13:56 by J.P.
IF PHYSICS has a mascot, it must be Schrödinger's cat. Famously alive and dead at the same time, it was born in 1935 of a thought experiment to illustrate the bizarre nature of the quantum world, where particles can persist in two states at once. It proved hard to hunt down in practice, however, because such "superposition" is a fragile phenomenon, easily lost upon any hint of disruption. This year the Nobel committee recognised Serge Haroche, from College de France, and David Wineland, of America's National Institute of Standards and Technology, for their efforts to nab and tame the hypothetical feline—or at least microscopic versions of it.
Dr Haroche and Dr Wineland led two independent teams which, beginning in the 1980s, devised experimental methods to measure and manipulate individual particles while preserving some of their quantum weirdness. Dr Haroche's approach depended on trapping microwave photons by getting them to bounce back and forth between two tiny superconducting mirrors. Crucially, he was able to hold on to them for a tenth of a second, aeons in subatomic terms and long enough to probe their quantum properties.
This he did by introducing a so-called Rydberg atom, tweaked so it curled into a doughnut shape roughly 1,000 times bigger than an ordinary atom, to the mirror-walled cavity. There, it interacted with the photon bouncing around inside. As a result of this interaction, the photon and the atom become entangled. This other strange quantum property means that when the atom is measured, the measurement automatically reveals the state of the photon, while leaving the photon itself intact. By sending a series of Rydberg atoms through the cavity one by one and reading them as they exited, Dr Haroche's team was therefore able to track precisely how a photon behaves when in a superposition without nudging it out of that tenuous state.
Where Dr Haroche used atoms to probe individual photons, Dr Wineland did the opposite. He employed an electric field to trap beryllium atoms, stripped of their electrons, in a vacuum at extremely low temperatures and then pulsed them with laser light. The carefully calibrated pulses served to cool the ions even further, to their lowest possible energy, and to nudge them into a superposition of two different energy states. Such cooling is necessary to remove any residual heat, which causes particles to shed their magical properties. As with Dr Haroche's bouncing photons, the cooled ions remained in superposition long enough to examine them in detail.
Dr Wineland also used them to build the world's most accurate clock. Unlike caesium clocks, whose atomic metronomes oscillate in the microwave range and which have become the standard for precision timekeeping necessary for such things as satellite navigation, Dr Wineland's optical clock ticks at the higher frequency of visible light. One version of it uses two trapped ions that are entangled, so that one ticks unperturbed while the other is used to read the time. The upshot is a device accurate to one part in 1017, a hundredfold improvement on the caesium sort and one that, had it started ticking at the time of the Big Bang 14 billion years ago, would today be off by five seconds. Such precision made it possible to pin down subtle effects of small changes in speed and gravity on the passage of time, as predicted by Albert Einstein's theory of relativity.
Looking ahead, physicists hope that the methods to conjure up, maintain and control superposition and entanglement pioneered by Dr Haroche and Dr Wineland will usher in the era of quantum computers. Such machines would, it is thought, be capable of solving some of the problems which stump today's machines, like finding prime factors of numbers with hundreds of digits or trawling through large databases at astonishing speeds.
An ordinary digital computer manipulates information in the form of bits, which take the value of either 0 or 1. These are represented within the computer as different electrical voltages. Dr Haroche's and Dr Wineland's work makes it possible to use other properties of particles, like ions' energy levels, to construct a quantum analogue of the traditional bit—the qubit. Entanglement, meanwhile, allows more qubits to be added. Each extra qubit in a quantum machine doubles the number of simultaneous operations it can perform. Two entangled qubits permit four operations; three permit eight; and so on. In theory, a 300-qubit computer could perform more simulataneous operations than there are atoms in the visible universe.
In 1995 Dr Wineland's team was the first to demonstrate a quantum computation with two qubits, and others have improved on that result since. The Nobel committee was quick to point out that quantum laptops are not in the offing just yet. But the laureates' efforts have brought them closer to reality.
Armando Monteiro: O Palácio do Campo das Princesas está mais próximo dos seus horizontes.
O senador Armando Monteiro não esconde de ninguém que é
candidato ao Governo do Estado. Mantém uma relação respeitosa com o governador
Eduardo Campos, até porque, além de admirá-lo como político, em razão de sua
veia empresarial, também está em alta a boa gestão que o socialista imprime ao
Estado. Portanto, há entre ambos, algumas sintonias importantes. Armando,
apesar das rusgas surgidas com Campo das Princesas, sempre atendeu ao chamado
de Eduardo Campos. Agora mesmo, no momento em que o governador apresentou o
nome de Geraldo Júlio como candidato do conjunto de forças da Frente Popular à Prefeitura
da Cidade do Recife, ele foi o primeiro a desmontar o barraco do grupo
alternativo e declarar apoio ao candidato palaciano. Eduardo também cede.
Avisado pelo editor do Blog de que perderia as eleições em Garanhuns se
insistisse na candidatura de Antonio João Dourado, na reata final, resolveu
apoiar o nome de deputado Izaías Régis, do PTB de Armando Monteiro. Afirmamos
que Izaías Régis seria o novo prefeito de Garanhuns ainda em 2011. Contabilizem
aí como mais um acerto do blog. Basta somente reler nossas postagens da época.
O PTB sai mais fortalecido das urnas – algo que o senador vem cuidando com muito
carinho já há bastante tempo, sempre plantando suas sementinhas, que começam a
brotar. Peça importante nos projetos estratégicos e políticos do Estado, o
senador credencia-se na linha sucessória do Palácio do Campo das Princesas. Seu
até então principal concorrente, o Ministro da Integração Nacional, saiu um
pouco fragilizado dessas eleições com a refrega sofrida em sua terra natal,
Petrolina. Nada que não possa ser revertido, até porque Eduardo Campos ainda
tem uma dívida com o ministro. Como Humberto Costa está fora do páreo – sempre
afirmamos que o governador não entregaria a joia da coroa a um petista – salvo a
possibilidade de o governador retirar mais um coringa da cartola entre seu
núcleo duro – o senador Armando Monteiro, anda mais uma casa. Além das
credenciais citadas, soma-se o fato da linha sucessória que se abre em Brasília
no PTB, que pode ficar sob controle do pernambucano, colocando-o no colo dos
projetos nacionais do governador. Sem nenhuma dúvida, Armando pode se colocar
também como um dos vencedores desse último pleito. O Campo das Princesas está mais próximo dos seus horizontes.
Roberto Numeriano responde ao PCB, qu o expulsou da agremiação.
"Eu já havia decidido sair das diretrizes, renunciar a condição de dirigente estadual. Não pretendia me desfiliar, apenas ficar numa posição mais discreta para militar por algumas mudanças dentro do partido."
"O partido está impedindo a construção do próprio partido, adotando uma interpretação integrista da tática. E isso eu combato veementemente. Até a discussão política no partido está sendo judicializada. Parece a Igreja Católica no tempo da Idade Média."
"Ninguém vê jovens militando pelo PCB. E isso não é porque comemos criancinhas", brincou. "É porque não fazemos o partido atraente. SWe o partido não mudar, não vai a lugar nenhum."
"Dentro do partido muitos ficam sonhando que, de uma hora para a outra, haverá uma revolução. Eles idealizam isso. Mas eles não veem que isso é antidialético", criticou. "O partido está ficando engessado, como o PSTU. E esse modelo de partido é perigoso para a democracia."
Nesta terça-feira (9), Numeriano emitiu uma nota pública explicando seu posicionamento diante do caso. Veja a íntegra da nota.
Já é fato público que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) me expulsou no dia 7, mal foi aberta a apuração dos votos, no Recife. Na Nota Pública colocada no site do Partido, registraram até o horário da postagem: 17h. A Nota segue abaixo, para quem a desconhece. Mas é necessário que me defenda, até porque o texto mente, em alguns pontos, e noutros escreve meias verdades (que é uma forma requintada de mentir).
Antes de tudo, eu já havia comunicado oficialmente ao PCB, por meio de email enviado a três dirigentes a pelo menos dois meses, que no dia 08 de outubro renunciaria formalmente aos cargos diretivos do Partido nas três instâncias (Secretário de Organização no Recife, Secretário Estadual de Finanças, licenciado, e membro do Comitê Central). Na mesma ocasião, pedi que não mais me enviassem correspondências do Comitê Central, pois não julgava honesto, politicamente, tomar conhecimento de assuntos internos restritos, dado o fato de ter decidido renunciar. Também registrei que continuaria filiado ao Partido.
Assim decidi porque ocorreram fatos, nesta campanha, dos quais discordei politicamente. Um deles é público, pois diz respeito ao meu apoio à candidatura do ex-militante Luciano Morais, também recentemente expulso por se manter candidato a vereador em Paulista, após o PSDB ter declarado apoio à chapa majoritária de Sérgio Leite. Mas a causa foi anterior, embora com substância política semelhante, e envolveu a candidatura de Edvalmir Carteiro, em Timbaúba. Edvalmir, que tinha grande chance de ser eleito numa chapa proporcional, foi obrigado a sair da mesma porque à ultima hora, por força da legislação eleitoral que impõe a cota de mulheres nas chapas proporcionais, uma professora aposentada, filiada ao PSDB, foi chamada para compor. Edvalmir saiu candidato isoladamente. E perdeu.
Minha resistência a estes fatos decorreu de algo anterior, que venho observando na cúpula dirigente do Partido: o progressivo fechamento político-ideológico do diálogo democrático interno. E o maior exemplo disso é uma interpretação que chamo de mecanicista e integrista (ultra-radical) da sua tática política. Nunca defendi, é claro, alianças com partidos de direita, mas não podemos ser vítimas desses partidos quando, numa composição eleitoral, por motivos extemporâneos e alheios a nós, arranjos de última hora e contingências de legislação impõem fatos como o que descrevi. Não houve culpa dessas duas municipais do Partido, pois em ambos os casos suas direções respaldaram o processo. A partir da decisão contrária da Comissão Política Nacional, os dois candidatos foram obrigados a tomarem outro rumo.
Do ponto de vista formal (e segundo a legislação eleitoral) o PCB tinha todo o direito de nos punir. E assim fez. Expulsou o Luciano por desobediência e a mim pelo apoio ao que julgo melhor para a luta política e social do Partido. Sabia dos riscos que corria. Exerci o direito de discordar, mas, nos últimos tempos, o dirigismo de cúpula no Partido imagina ser possível resolver e zerar por meio de "canetadas" em resoluções, circulares, normas etc o livre exercício do contraditório. Alegam que descumpri princípios do "Centralismo Democrático" (CD). Formalmente, sim, mas não politicamente, pois não existe sequer a possibilidade da dialética sem a possibilidade de transigir. Essa cúpula ultra-radical (CPN) e maioria do Comitê Central imagina que o debate político-ideológico deve ser moldado por tribunas em tempos de congresso, conferências etc. Por isso mesmo, radicalizou na aplicação do CD. Foi fiel, não por acaso, à interpretação integrista da tática.
E agora passo a responder a essa Nota que, redigida e divulgada com a sanha de me "desonrar" politicamente, a rigor expôs o Partido de maneira vergonhosa. (Talvez nem fosse redigida se as intenções de voto para o "camarada" Numeriano apontassem a possibilidade do mesmo disputar um segundo turno). Na prática, essa Nota comprovou o que venho observando e sentindo politicamente.
Há tempos observo esse engessamento do Partido. Uma lenta e progressiva estreiteza político-ideológica que aos poucos, se a militância de base não reagir, vai transformá-lo numa seita política, a exemplo do que é hoje o PSTU. Quis resistir a esse processo. Jamais recusei uma tarefa a mim delegada, como militante. Sobretudo nos últimos quatro anos, quando, com grande sacrifício intelectual, profissional e familiar, tratei, ao lado Luciano e do Aníbal, de recuperar a ação política e a organização política do Partido no Estado. Disputei três eleições majoritárias consecutivas com duas ou três pessoas ao meu lado. Nunca fiz "corpo mole", mesmo porque, como servidor público, jamais me permitiria "fazer" de conta que sou candidato, pois meu salário é pago com o salário do contribuinte e deve ser honrado. Levo isso muito a sério e é por isso que, em 18 anos de serviço público, faltei ao trabalho apenas nove vezes, por doença atestada (crise de labirintite).
A CPN mente quando afirma que o Partido teve "suficientes motivos" para me substituir por outro camarada. Não podia, porque não havia razão política respaldada (mesmo na "lei burguesa", a qual essa direção integrista e ultra-radical vive tanto a destratar, mas logo quer se valer dela quando é questionada politicamente). Apoiei publicamente o Luciano Morais e postei no meu facebook pessoal algumas fotos da campanha de Sérgio Leite, do PT, a prefeito do Paulista. Em essência, foi esse o motivo "suficiente" para retirar a candidatura. Esse extremismo me assusta, como me chocou a ação de militantes do PCB em Paulista indo às casas comunicar que o Luciano tinha sido expulso do PCB.
A CPN mente quando diz que não o fez para não "prejudicar as importantes campanhas" dos militantes Délio e Elvira. Mente porque, a rigor, não havia campanha nas ruas. Com grande sacrifício pessoal, esse grande comunista e intelectual que tenho a honra de conhecer, meu camarada Délio Mendes, fazia uma bela campanha simbólica, e a Elvira somente no final da disputa imprimiu alguns panfletos (na campanha inteira, sequer me chamou para um ato que tivesse organizado). Tínhamos, na verdade, duas "campanhas conceituais" dos vereadores.
A CPN mente com grave cinismo político quando diz que "valoriza" a "grande possibilidade" de eleger o Edilson Silva. Se assim fosse, a militância do Recife e do Paulista não deixaria o militante Numeriano sozinho, a tocar uma campanha de três meses custeando quase toda a despesa de material, sendo redator, repórter, assessor, motorista etc. E eu nem queria sair candidato a prefeito (pois já havia passado pelo mesmo nas campanhas de 2008 e 2010). Fui voto vencido e me curvei à decisão da maioria. E depois, por força dos entendimentos com o PSOL e decisão da Executiva Estadual, saí candidato no sacrifício. E, apesar de em geral solitário todo esse tempo (o Délio e o Henrique me ajudaram na medida de suas possibilidades), fiz o máximo possível para ajudar o camarada Edilson e honrar o compromisso com o PSOL. No entanto, devo dizer, pois nunca me calo diante do que considero injusto, o PCB não se empenhou, organicamente, nessa campanha. Assim o fez em 2008 e 2010, quando muitos se reuniram para "entrar na batalha", mas ao final somente eu, o Luciano e o Aníbal fomos sangrar de verdade nas ruas. Fiz vários chamamentos para o Partido se integrar à campanha. Inutilmente: o PCB, há tempos, faz apenas "campanhas conceituais". Imaginei que pudesse ser diferente, em função da coligação. No fim das contas, a CPN é que é, em si, uma "crise política". E, como precisam transferir a outrem seus erros, Luciano e Numeriano, não por caso foram abatidos pela radicalização que toma conta do Partido.
A CPN mente quando diz que "traí" o Partido. Quisera que, Brasil afora, muitos militantes estivessem "traindo" o Partido nos termos do que fiz. Seríamos, creio, salvos dessa sanha radical, integrista e mecanicista que imagina ser possível criar uma realidade e enfiá-la nas formulações táticas e estratégicas do PCB. Traem o Partido os que estão transformando o seu legado heróico em algo datado, livresco, saudosista. Traem o Partido os dirigentes cupulistas que se imaginam acima do bem e do mal. Traem o Partido os que querem o grande PCB transformado num PSTU, cheio de rancor pequeno-burguês, a destilar ódio irracional sobre a luta de classes. Traem o Partido os que, do alto de suas gestões burocráticas, imaginam ser possível transformá-lo num instrumento da ação política libertadora da classe trabalhadora sem buscar no povo os instrumentos e motivação. O PCB não precisa de semelhantes paladinos, pois nossa sociedade já cansou do socialismo retórico de alguns supostos clarividentes.
Por fim, vale registrar o uso reiterado, na Nota, do pronome possessivo: "sua candidatura" e "sua campanha". Como assim, "sua candidatura" e "sua campanha"? Até ontem, eram de uma coligação, pelo menos em tese. O fato é que temos no texto um curioso ato falho que, por si mesmo, diz tudo. Foi, realmente, uma "campanha do Numeriano", cumprida como manda a tradição do PCB dos velhos tempos de homens como Prestes e Gregório: com honestidade, empenho, vigor e, sobretudo, dentro do programa social, político e ideológico do PCB e do PSOL. O resultado aí está, na forma de quase sete mil votos que honraram a todos nós que, militantes para além da palavra, transformam em ato a vontade de mudar a sociedade no rumo do socialismo.
Essas tradições, vocês, dirigentes de cúpula que odeiam eleições "pequeno-burguesas", estão matando. Essas tradições, vocês, dirigentes mecanicistas que amam a retórica socialista, apequenam quando no dia da apuração dos votos do candidato da Frente de Esquerda, expulsam-no sumariamente como num auto de fé de Torquemada. Se quiseram demonstrar "coerência de princípios" e "unidade ideológica", peço olharem no facebook as manifestações de crítica ao Partido. É isso o que de verdade lamento: essa inquisição tosca atingiu em essência ao Partido.
Aquele abraço. Vamos em frente
Roberto Numeriano
PS: Quem desejar adquirir um pequeno livro que redigi tratando dos caminhos do PCB, PSOL e PSTU, intitulado O Culto da Ilusão das Formas, basta me comunicar. Acredito que pode provocar uma reflexão sobre a luta da esquerda socialista.
"O partido está impedindo a construção do próprio partido, adotando uma interpretação integrista da tática. E isso eu combato veementemente. Até a discussão política no partido está sendo judicializada. Parece a Igreja Católica no tempo da Idade Média."
"Ninguém vê jovens militando pelo PCB. E isso não é porque comemos criancinhas", brincou. "É porque não fazemos o partido atraente. SWe o partido não mudar, não vai a lugar nenhum."
"Dentro do partido muitos ficam sonhando que, de uma hora para a outra, haverá uma revolução. Eles idealizam isso. Mas eles não veem que isso é antidialético", criticou. "O partido está ficando engessado, como o PSTU. E esse modelo de partido é perigoso para a democracia."
Nesta terça-feira (9), Numeriano emitiu uma nota pública explicando seu posicionamento diante do caso. Veja a íntegra da nota.
Já é fato público que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) me expulsou no dia 7, mal foi aberta a apuração dos votos, no Recife. Na Nota Pública colocada no site do Partido, registraram até o horário da postagem: 17h. A Nota segue abaixo, para quem a desconhece. Mas é necessário que me defenda, até porque o texto mente, em alguns pontos, e noutros escreve meias verdades (que é uma forma requintada de mentir).
Antes de tudo, eu já havia comunicado oficialmente ao PCB, por meio de email enviado a três dirigentes a pelo menos dois meses, que no dia 08 de outubro renunciaria formalmente aos cargos diretivos do Partido nas três instâncias (Secretário de Organização no Recife, Secretário Estadual de Finanças, licenciado, e membro do Comitê Central). Na mesma ocasião, pedi que não mais me enviassem correspondências do Comitê Central, pois não julgava honesto, politicamente, tomar conhecimento de assuntos internos restritos, dado o fato de ter decidido renunciar. Também registrei que continuaria filiado ao Partido.
Assim decidi porque ocorreram fatos, nesta campanha, dos quais discordei politicamente. Um deles é público, pois diz respeito ao meu apoio à candidatura do ex-militante Luciano Morais, também recentemente expulso por se manter candidato a vereador em Paulista, após o PSDB ter declarado apoio à chapa majoritária de Sérgio Leite. Mas a causa foi anterior, embora com substância política semelhante, e envolveu a candidatura de Edvalmir Carteiro, em Timbaúba. Edvalmir, que tinha grande chance de ser eleito numa chapa proporcional, foi obrigado a sair da mesma porque à ultima hora, por força da legislação eleitoral que impõe a cota de mulheres nas chapas proporcionais, uma professora aposentada, filiada ao PSDB, foi chamada para compor. Edvalmir saiu candidato isoladamente. E perdeu.
Minha resistência a estes fatos decorreu de algo anterior, que venho observando na cúpula dirigente do Partido: o progressivo fechamento político-ideológico do diálogo democrático interno. E o maior exemplo disso é uma interpretação que chamo de mecanicista e integrista (ultra-radical) da sua tática política. Nunca defendi, é claro, alianças com partidos de direita, mas não podemos ser vítimas desses partidos quando, numa composição eleitoral, por motivos extemporâneos e alheios a nós, arranjos de última hora e contingências de legislação impõem fatos como o que descrevi. Não houve culpa dessas duas municipais do Partido, pois em ambos os casos suas direções respaldaram o processo. A partir da decisão contrária da Comissão Política Nacional, os dois candidatos foram obrigados a tomarem outro rumo.
Do ponto de vista formal (e segundo a legislação eleitoral) o PCB tinha todo o direito de nos punir. E assim fez. Expulsou o Luciano por desobediência e a mim pelo apoio ao que julgo melhor para a luta política e social do Partido. Sabia dos riscos que corria. Exerci o direito de discordar, mas, nos últimos tempos, o dirigismo de cúpula no Partido imagina ser possível resolver e zerar por meio de "canetadas" em resoluções, circulares, normas etc o livre exercício do contraditório. Alegam que descumpri princípios do "Centralismo Democrático" (CD). Formalmente, sim, mas não politicamente, pois não existe sequer a possibilidade da dialética sem a possibilidade de transigir. Essa cúpula ultra-radical (CPN) e maioria do Comitê Central imagina que o debate político-ideológico deve ser moldado por tribunas em tempos de congresso, conferências etc. Por isso mesmo, radicalizou na aplicação do CD. Foi fiel, não por acaso, à interpretação integrista da tática.
E agora passo a responder a essa Nota que, redigida e divulgada com a sanha de me "desonrar" politicamente, a rigor expôs o Partido de maneira vergonhosa. (Talvez nem fosse redigida se as intenções de voto para o "camarada" Numeriano apontassem a possibilidade do mesmo disputar um segundo turno). Na prática, essa Nota comprovou o que venho observando e sentindo politicamente.
Há tempos observo esse engessamento do Partido. Uma lenta e progressiva estreiteza político-ideológica que aos poucos, se a militância de base não reagir, vai transformá-lo numa seita política, a exemplo do que é hoje o PSTU. Quis resistir a esse processo. Jamais recusei uma tarefa a mim delegada, como militante. Sobretudo nos últimos quatro anos, quando, com grande sacrifício intelectual, profissional e familiar, tratei, ao lado Luciano e do Aníbal, de recuperar a ação política e a organização política do Partido no Estado. Disputei três eleições majoritárias consecutivas com duas ou três pessoas ao meu lado. Nunca fiz "corpo mole", mesmo porque, como servidor público, jamais me permitiria "fazer" de conta que sou candidato, pois meu salário é pago com o salário do contribuinte e deve ser honrado. Levo isso muito a sério e é por isso que, em 18 anos de serviço público, faltei ao trabalho apenas nove vezes, por doença atestada (crise de labirintite).
A CPN mente quando afirma que o Partido teve "suficientes motivos" para me substituir por outro camarada. Não podia, porque não havia razão política respaldada (mesmo na "lei burguesa", a qual essa direção integrista e ultra-radical vive tanto a destratar, mas logo quer se valer dela quando é questionada politicamente). Apoiei publicamente o Luciano Morais e postei no meu facebook pessoal algumas fotos da campanha de Sérgio Leite, do PT, a prefeito do Paulista. Em essência, foi esse o motivo "suficiente" para retirar a candidatura. Esse extremismo me assusta, como me chocou a ação de militantes do PCB em Paulista indo às casas comunicar que o Luciano tinha sido expulso do PCB.
A CPN mente quando diz que não o fez para não "prejudicar as importantes campanhas" dos militantes Délio e Elvira. Mente porque, a rigor, não havia campanha nas ruas. Com grande sacrifício pessoal, esse grande comunista e intelectual que tenho a honra de conhecer, meu camarada Délio Mendes, fazia uma bela campanha simbólica, e a Elvira somente no final da disputa imprimiu alguns panfletos (na campanha inteira, sequer me chamou para um ato que tivesse organizado). Tínhamos, na verdade, duas "campanhas conceituais" dos vereadores.
A CPN mente com grave cinismo político quando diz que "valoriza" a "grande possibilidade" de eleger o Edilson Silva. Se assim fosse, a militância do Recife e do Paulista não deixaria o militante Numeriano sozinho, a tocar uma campanha de três meses custeando quase toda a despesa de material, sendo redator, repórter, assessor, motorista etc. E eu nem queria sair candidato a prefeito (pois já havia passado pelo mesmo nas campanhas de 2008 e 2010). Fui voto vencido e me curvei à decisão da maioria. E depois, por força dos entendimentos com o PSOL e decisão da Executiva Estadual, saí candidato no sacrifício. E, apesar de em geral solitário todo esse tempo (o Délio e o Henrique me ajudaram na medida de suas possibilidades), fiz o máximo possível para ajudar o camarada Edilson e honrar o compromisso com o PSOL. No entanto, devo dizer, pois nunca me calo diante do que considero injusto, o PCB não se empenhou, organicamente, nessa campanha. Assim o fez em 2008 e 2010, quando muitos se reuniram para "entrar na batalha", mas ao final somente eu, o Luciano e o Aníbal fomos sangrar de verdade nas ruas. Fiz vários chamamentos para o Partido se integrar à campanha. Inutilmente: o PCB, há tempos, faz apenas "campanhas conceituais". Imaginei que pudesse ser diferente, em função da coligação. No fim das contas, a CPN é que é, em si, uma "crise política". E, como precisam transferir a outrem seus erros, Luciano e Numeriano, não por caso foram abatidos pela radicalização que toma conta do Partido.
A CPN mente quando diz que "traí" o Partido. Quisera que, Brasil afora, muitos militantes estivessem "traindo" o Partido nos termos do que fiz. Seríamos, creio, salvos dessa sanha radical, integrista e mecanicista que imagina ser possível criar uma realidade e enfiá-la nas formulações táticas e estratégicas do PCB. Traem o Partido os que estão transformando o seu legado heróico em algo datado, livresco, saudosista. Traem o Partido os dirigentes cupulistas que se imaginam acima do bem e do mal. Traem o Partido os que querem o grande PCB transformado num PSTU, cheio de rancor pequeno-burguês, a destilar ódio irracional sobre a luta de classes. Traem o Partido os que, do alto de suas gestões burocráticas, imaginam ser possível transformá-lo num instrumento da ação política libertadora da classe trabalhadora sem buscar no povo os instrumentos e motivação. O PCB não precisa de semelhantes paladinos, pois nossa sociedade já cansou do socialismo retórico de alguns supostos clarividentes.
Por fim, vale registrar o uso reiterado, na Nota, do pronome possessivo: "sua candidatura" e "sua campanha". Como assim, "sua candidatura" e "sua campanha"? Até ontem, eram de uma coligação, pelo menos em tese. O fato é que temos no texto um curioso ato falho que, por si mesmo, diz tudo. Foi, realmente, uma "campanha do Numeriano", cumprida como manda a tradição do PCB dos velhos tempos de homens como Prestes e Gregório: com honestidade, empenho, vigor e, sobretudo, dentro do programa social, político e ideológico do PCB e do PSOL. O resultado aí está, na forma de quase sete mil votos que honraram a todos nós que, militantes para além da palavra, transformam em ato a vontade de mudar a sociedade no rumo do socialismo.
Essas tradições, vocês, dirigentes de cúpula que odeiam eleições "pequeno-burguesas", estão matando. Essas tradições, vocês, dirigentes mecanicistas que amam a retórica socialista, apequenam quando no dia da apuração dos votos do candidato da Frente de Esquerda, expulsam-no sumariamente como num auto de fé de Torquemada. Se quiseram demonstrar "coerência de princípios" e "unidade ideológica", peço olharem no facebook as manifestações de crítica ao Partido. É isso o que de verdade lamento: essa inquisição tosca atingiu em essência ao Partido.
Aquele abraço. Vamos em frente
Roberto Numeriano
PS: Quem desejar adquirir um pequeno livro que redigi tratando dos caminhos do PCB, PSOL e PSTU, intitulado O Culto da Ilusão das Formas, basta me comunicar. Acredito que pode provocar uma reflexão sobre a luta da esquerda socialista.
Edilson Silva: Vamos assumir o mandato conferido pelo povo.
Por: Edilson Silva:
Recifenses e todos aqueles que mesmo não estando ou sendo do Recife contribuíram para a grande vitória de nossa candidatura a vereador da cidade, quero aqui expressar publicamente meu mais profundo agradecimento pelos votos de confiança, de apoio e solidariedade antes, durante e depois das eleições. Nosso povo foi protagonista de uma campanha linda, emocionante, limpa, coerente, corajosa. Estamos todos de parabéns!
Há, contudo, uma disfunção em nosso sistema eleitoral, que permite que mesmo uma candidatura sendo a terceira mais votada nas eleições, como foi a nossa, não assuma o mandato institucional. Não alcançamos o quociente eleitoral. Sobre isto, já expressamos por várias vezes que precisamos no Brasil, como mínimo, de uma reforma eleitoral, que respeite e fortaleça os partidos, mas que antes de tudo respeite a vontade dos eleitores. Lutemos por isto.
Mas o momento não é para lamentações - muito pelo contrário, mas para muita comemoração. O povo do Recife elegeu Edilson Silva vereador da cidade. Vamos assumir este mandato e encaminhar todas as demandas e reivindicações que trabalhamos durante a campanha. Recife, a partir de hoje, por vontade popular, já tem um 40º vereador. Nosso mandato não terá o diploma do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), mas o diploma da legitimação da população. Trata-se da obediência cidadã contra a desobediência antidemocrática da formalidade das regras eleitorais.
Vamos alugar uma sala ao lado da Câmara que funcionará como nosso gabinete. Teremos assessorias colaborativas, voluntárias, qualificadas, acompanharemos e fiscalizaremos, com rigor, todos os atos do Executivo e do Legislativo. Cumpriremos o mandato que o Recife nos delegou.
Vamos estabelecer com a Câmara, em audiência com seu futuro presidente, uma relação política altiva e de colaboração na defesa dos interesses da cidade, começando por buscar reverter o aumento salarial de 62% que os vereadores se concederam e a redução de alguns benefícios que podem ser interpretados como privilégios, como 14º e 15º salários.
Vamos marcar audiência com o presidente do TRE, na condição de Presidente do PSOL-PE e vereador de fato da cidade, e estabelecer com a instituição uma relação de colaboração e respeito no intuito de qualificar nossa democracia e seu funcionamento cotidiano.
Vamos marcar audiência com o prefeito eleito Geraldo Julio é colocarmo-nos totalmente à sua disposição para colaborar com sua gestão na reversão do projeto Novo Recife no Cais José Estelita; na ampliação das ciclovias e ciclofaixas na cidade; na recuperação do Programa Saúde da Família e do SUS; para pagar o piso nacional do magistério aos professores; para cuidar de nossos rios, mangues, lagoas e açudes; para garantir estrutura e políticas públicas que combatam as opressões em nossa cidade; para colocar no ar a Rádio Frei Caneca; para regularizar a situação das creches públicas e profissionais que nela trabalham; para democratizar a gestão administrativa e financeira dos mercados públicos; para reorganizar e modernizar a legislação que trata da ocupação e uso do solo em nossa cidade; para garantir finalmente que tenhamos licitação pública na concessão da exploração dos transportes coletivos na cidade; para garantir Passe Livre aos estudantes e desempregados no transporte público de nossa cidade; para garantir banda larga de internet a toda a cidade; etc. O prefeito poderá contar, portanto, com mais um vereador para apoia-lo na defesa de nossa cidade e do povo que nela vive.
Nosso mandato será financiado por apoiadores voluntários. Por exemplo, você, que está lendo este artigo. Não contaremos com verbas públicas. Os recursos arrecadados de forma transparente e gastos de forma também transparente, serão utilizados para alugar o gabinete, pagar funcionários e assessorias especializadas quando necessárias e para garantir estrutura para realizarmos o projeto “mandato na rua”, quando vamos aos bairros e comunidades informar e mobilizar a cidade para acompanhar o ciclo orçamentário, votações importantes, preparar proposições legislativas, viabilizar projetos de lei de iniciativa popular, ações civis públicas, etc.
Portanto, enganaram-se aqueles que imaginaram que a vontade popular não seria levada em conta nesta eleição. As transformações que nossa cidade precisa não cabem nas regras formais de uma democracia que apresenta sinais de fadiga. Recife conquistou um mandato cidadão e faremos o nosso melhor para honrar cada voto recebido, unindo em torno de nosso mandato os melhores espíritos de nossa cidade. Obrigado, Recife!
Presidente do PSOL-PE, vereador eleito, de fato, pela população do Recife.
Há, contudo, uma disfunção em nosso sistema eleitoral, que permite que mesmo uma candidatura sendo a terceira mais votada nas eleições, como foi a nossa, não assuma o mandato institucional. Não alcançamos o quociente eleitoral. Sobre isto, já expressamos por várias vezes que precisamos no Brasil, como mínimo, de uma reforma eleitoral, que respeite e fortaleça os partidos, mas que antes de tudo respeite a vontade dos eleitores. Lutemos por isto.
Mas o momento não é para lamentações - muito pelo contrário, mas para muita comemoração. O povo do Recife elegeu Edilson Silva vereador da cidade. Vamos assumir este mandato e encaminhar todas as demandas e reivindicações que trabalhamos durante a campanha. Recife, a partir de hoje, por vontade popular, já tem um 40º vereador. Nosso mandato não terá o diploma do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), mas o diploma da legitimação da população. Trata-se da obediência cidadã contra a desobediência antidemocrática da formalidade das regras eleitorais.
Vamos alugar uma sala ao lado da Câmara que funcionará como nosso gabinete. Teremos assessorias colaborativas, voluntárias, qualificadas, acompanharemos e fiscalizaremos, com rigor, todos os atos do Executivo e do Legislativo. Cumpriremos o mandato que o Recife nos delegou.
Vamos estabelecer com a Câmara, em audiência com seu futuro presidente, uma relação política altiva e de colaboração na defesa dos interesses da cidade, começando por buscar reverter o aumento salarial de 62% que os vereadores se concederam e a redução de alguns benefícios que podem ser interpretados como privilégios, como 14º e 15º salários.
Vamos marcar audiência com o presidente do TRE, na condição de Presidente do PSOL-PE e vereador de fato da cidade, e estabelecer com a instituição uma relação de colaboração e respeito no intuito de qualificar nossa democracia e seu funcionamento cotidiano.
Vamos marcar audiência com o prefeito eleito Geraldo Julio é colocarmo-nos totalmente à sua disposição para colaborar com sua gestão na reversão do projeto Novo Recife no Cais José Estelita; na ampliação das ciclovias e ciclofaixas na cidade; na recuperação do Programa Saúde da Família e do SUS; para pagar o piso nacional do magistério aos professores; para cuidar de nossos rios, mangues, lagoas e açudes; para garantir estrutura e políticas públicas que combatam as opressões em nossa cidade; para colocar no ar a Rádio Frei Caneca; para regularizar a situação das creches públicas e profissionais que nela trabalham; para democratizar a gestão administrativa e financeira dos mercados públicos; para reorganizar e modernizar a legislação que trata da ocupação e uso do solo em nossa cidade; para garantir finalmente que tenhamos licitação pública na concessão da exploração dos transportes coletivos na cidade; para garantir Passe Livre aos estudantes e desempregados no transporte público de nossa cidade; para garantir banda larga de internet a toda a cidade; etc. O prefeito poderá contar, portanto, com mais um vereador para apoia-lo na defesa de nossa cidade e do povo que nela vive.
Nosso mandato será financiado por apoiadores voluntários. Por exemplo, você, que está lendo este artigo. Não contaremos com verbas públicas. Os recursos arrecadados de forma transparente e gastos de forma também transparente, serão utilizados para alugar o gabinete, pagar funcionários e assessorias especializadas quando necessárias e para garantir estrutura para realizarmos o projeto “mandato na rua”, quando vamos aos bairros e comunidades informar e mobilizar a cidade para acompanhar o ciclo orçamentário, votações importantes, preparar proposições legislativas, viabilizar projetos de lei de iniciativa popular, ações civis públicas, etc.
Portanto, enganaram-se aqueles que imaginaram que a vontade popular não seria levada em conta nesta eleição. As transformações que nossa cidade precisa não cabem nas regras formais de uma democracia que apresenta sinais de fadiga. Recife conquistou um mandato cidadão e faremos o nosso melhor para honrar cada voto recebido, unindo em torno de nosso mandato os melhores espíritos de nossa cidade. Obrigado, Recife!
Presidente do PSOL-PE, vereador eleito, de fato, pela população do Recife.
Blog do Jolugue: A cobertura das eleições municipais de 2012.
Júlio Lóssio: Nasce uma estrela no Sertão do São Francisco.
E Júlio Lóssio venceu as eleições em Petrolina, a capital do
sertão. Se, no contexto geral, o governador Eduardo Campos teve uma vitória
estupenda no Estado, elegendo 170 prefeitos da coligação da Frente Popular, deve
estar atravessada em sua garganta a refrega – mais uma – em Petrolina. Apesar
de ser do PMDB, por inúmeras razões – inclusive pelo rolo compressor montado
para derrotá-lo – Júlio é sim um adversário de Eduardo Campos. Nada que no
futuro não possa ser contornado, sobretudo considerando-se a sobrevivência
das forças políticas não aglutinadas no processo de “eduardolização da
política pernambucana”. O torniquete político foi ali aplicado exaustivamente para mudar os
cenários, mas, efetivamente, com a sua liderança, uma gestão bem-avaliada e sua
capacidade de enfrentamento, Júlio desponta como uma das grandes lideranças
políticas do Estado ao derrotar as manobras e urdiduras do Campo das Princesas. Sobreviveu a todas escaramuças A articulação política montada naquele município pelo Campo
das Princesas não foi suficiente para infringir-lhes uma derrota. Como último
recurso, tentou-se afastar Odacy Amorim (PT) da disputa, mas ele não concordou.
Fernandão, o ministro, arregaçou as mangas, foi à luta, mas nada conseguiu
reverter o quadro. A derrota enfraquece
suas pretensões de tornar-se governador do Estado, disputando a unção de
Eduardo Campos em 2014, embora continue na fila. Em certa medida, a afirmação de Eduardo de que já pagou sua dívida com o PT não se aplica a Fernando Bezerra Coelho, que foi afastado da disputa ao senado em 2010. Pelo andar da carruagem política, com a sucessão do
PTB em curso, e a “ressaca” petista, o senador Armando Monteiro anda uma casa
rumo ao Campo das Princesas.
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