pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 27 de fevereiro de 2016

A resposta do Tijolaço à Globo



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Enviei o seguinte e-mail à Globo, da mesma forma que recebi sua notificação.
Senhor João Roberto Marinho.
Recebi com atraso, por ter sido feita por e-mail “fale conosco” e se desviado para a caixa de “spam”, a comunicação de Vossa Senhoria. Com o noticiário sobre a notificação a outros blogs, pedi para verificar e a mesma, encontrada, foi imediatamente publicada, a guisa de direito de resposta que este blog não se recusou, não se recusa e não se recusará a conceder, de plano, a qualquer pessoa.
Assim, creio ter sido atendido o “pedido de retificação” feito por V. Sa. e, a seguir, como solicitado, em cada matéria, será colocado um link para a publicação integral da missiva enviada.
Bem assim, fica desde já o blog à disposição para qualquer esclarecimento que deseje o senhor oferecer à opinião pública, embora com microscópico alcance perto do império de comunicação que V.Sa. dirige.
Quanto à relação entre a mansão citada e a Família Marinho, certamente não há de desconhecer V. Sa. que foi noticiada pela prestigiosa Bloomberg, em 7 de março de 2012, sob o título “Brazil’s Rich Show No Shame Building Homes in Nature Preservese nos seguintes termos:
Heirs to Roberto Marinho, who created Organizacoes Globo, South America’s biggest media group, built a 1,300-square-meter (14,000-square-foot) home, helipad and swimming pool in part of the Atlantic coastal forest that by law is supposed to be untouched because of its ecology.
E, a seguir, na mesma reportagem:
Modernist Home
That’s the case with the Marinho media family. The Marinhos broke environmental laws by building a 1,300-square-meter mansion just off Santa Rita beach, near Paraty, says Graziela Moraes Barros, an inspector at ICMBio.
Without permits, the family in 2008 built a modernist home between two wide, independent concrete blocks sheathed in glass, Barros says. The Marinho home has won several architectural honors, including the 2010 Wallpaper Design Award.
The Marinhos added a swimming pool on the public beach and cleared protected jungle to make room for a helipad, says Barros, who participated in a raid of the property as part of the federal prosecutors office’s lawsuit against construction on the land.
“This one house provides examples of some of the most serious environmental crimes we see in the region,” Barros says. “A lot of people say the Marinhos rule Brazil. The beach house shows the family certainly thinks they are above the law.”
Ao que se tenha notícia, o referido texto, em publicação internacional de renome e alcance não mereceu a preocupação que, como é de seu direito, foi manifestada sobre este blog, de representar ” ofensa ao notificante e aos demais integrantes da família Marinho”.
Assim como nas inúmeras republicações que tal texto recebeu, total ou parcialmente, no UOL/Folha (Revista acusa família Marinho e Camargo Correa de construir mansões em áreas de preservação, em 18 de março do mesmo ano) ou a CartaCapital, de 15 de março, (RJ: Milionários destroem mata nativa com mansões).
As demais conexões partiram, claro, da razoável compreensão, ante a inação descrita (mormente de uma imensa empresa de comunicação, que monitora continuamente sua imagem pública)  de que a ligação entre a proprietária formal da casa – a Agropecuária Veine e de sua controladora Vaincre LCC – seria, de fato, uma ligação com quem lhe foi apontado como proprietário real e, mesmo dispondo de todos os meios para fazê-lo, não esclareceu que, como afirma em seu texto, que “a casa em questão e as empresas citadas na matéria não pertencem, direta ou indiretamente, ao notificante ou a qualquer um dos demais integrantes da família Marinho”.
Aliás, se me permite tratá-lo como colega jornalista  – e foi em O Globo que dei meus primeiros passos na profissão, em 1978 – tomo a liberdade – quem sabe a ousadia – de sugerir que as emissoras de TV, rádio, sites e jornais de suas Organizações, então, produzam, com os meios abundantes e o profissionalismo que reconheço em seus colaboradores, uma apuração sobre quem, afinal, é o proprietário ou usufrutuário daquela joia arquitetônica que, desafortunadamente, invadiu área de preservação ambiental e privatizou uma praia antes pública, em  que pese ser remota.
Sei que o tema ambiental é caro às suas Organizações e cito como exemplo a reportagem Construções irregulares avançam em 25 ilhas de Paraty, em O Globo, quando a referida construção já havia sido repetidamente multada e tinha ordem até de demolição mas que, certamente num lapso, não foi uma das irregularidades abordadas.
É uma imperdível oportunidade de sanear aquela omissão, naturalmente involuntária.
Creio que se estará, assim,  prestando um serviço público de alta relevância ao revelar quem, afinal, se oculta sob uma agropecuária para empreender uma edificação de altíssimo luxo. Este blog se comprazerá de aplaudir a ação cidadã das Organizações Globo em mostrar ao povo brasileiro quem, de fato, se aproveita daquele templo no paraíso.
Sempre à disposição para qualquer pedido de esclarecimento, fica um e-mail onde se poderá fazer de imediato qualquer contato que, com prazer e interesse público, será aqui imediatamente atendido. 
Permita-me, à guisa de conclusão, citar um ditado gaúcho – convivi muito com um deles e absorvi seus traços de honra e dignidade: “a luta não nos quita a fidalguia”.
Atenciosamente,
Fernando Brito, editor do Tijolaço.
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Um exército de Doutores desempregados

publicado: Atualizado: 

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Vou contar uma história para vocês, para que entendam em que ponto a Ciência brasileira se insere nessa crise. Ao personagem, dou o nome de Carinha. Obviamente, é uma história generalista, que jamais pode ser aplicada a todos, mas pelo menos a uma enorme parcela dos acadêmicos. Você verá muitos amigos seus na pele do Carinha. Talvez, você mesmo.
1 - No começo dos anos 2000, principalmente a partir de 2005, novas universidades começam a surgir e o número de vagas, inclusive nas já existentes, aumenta vertiginosamente. A estrutura também melhora, e as taxas de evasão de cursos de Ciência básica (Física, Química, Biologia e Matemática, por exemplo) caem. O Carinha, então, ingressa em um desses cursos.
2 - O Carinha que entrou em 2005 e se formou em 2009 passou o período da faculdade desconhecendo o mercado de trabalho do seu curso fora do meio acadêmico. Ao seu lado, muitos colegas que passaram quatro anos sem saber nem o que estavam fazendo. Para o Carinha, não havia outra solução a não ser lecionar em escolas ou tentar o Mestrado, que oferecia bolsa de pesquisa de R$ 1.100,00. Mas, para isso, teria que passar por uma difícil e concorrida seleção. Até que, com o aumento do número de programas e bolsas de pós-graduação, ele viu então que aquilo não era tão difícil assim. Em 2010, torna-se mestrando.
3 - Enquanto seu amigo engenheiro civil****, recém-formado, já está dando entrada para comprar um carro, o Carinha usa sua bolsa para pagar seus pequenos gastos pessoais, além de sua pesquisa sem financiamento externo.
(****P.S.: Permitam-me uma edição aqui. Fui infeliz quando exemplifiquei o colega como um engenheiro civil, pois o mercado para esse profissional atualmente também encontra-se em crise. Tente imaginar qualquer profissão facilmente absorvida pelo mercado de trabalho privado e o texto continuará com o mesmo objetivo).
Em dois anos, o Carinha tenta produzir alguns artigos para enriquecer o currículo. Tem planos para publicar cinco, mas publica um, em revista de qualis baixo. Em paralelo, entra num forte estresse para entregar sua dissertação e passar pelo forte crivo da banca, que pode reprová-lo. Será? Na semana de sua defesa, seu colega também é aprovado, mas com um projeto medíocre e mal conduzido, que, apesar de criticado, foi encaminhado pela banca porque reprovações não são interessantes para a avaliação de conceito do Programa. Normas do MEC.
4 - Já mestre, publica mais um artigo e entra no Doutorado, em 2012. Foi mais difícil que o Mestrado, porém mais fácil do que teria sido anos atrás, por conta do bom número de bolsas disponível. Boa parte daqueles colegas medianos desiste da vida acadêmica, mas aquele dito cujo sem perfil de cientista de alto nível também é aprovado. Afinal, ter bolsas desocupadas não é interessante, porque senão o Programa é obrigado a devolvê-las. Normas do MEC.
5 - Sua bolsa de R$ 2.500,00 já ajuda um pouco sua condição financeira, enquanto aquele colega engenheiro conta sobre sua primeira casa própria. Além disso, o amigo já contribui com o INSS, tem seguro desemprego, 13º salário, plano de saúde, cartão alimentação, entre outros benefícios. O Carinha não, tem só a bolsa e um abraço. Normas do MEC. Mas, tudo bem, é um investimento em longo prazo. Logo menos, ele tentará um concurso para ser professor universitário, com iniciais de cerca de R$9.000,00. Ele se esforça, publica artigos, dá aulas, redige a Tese, defende e é aprovado. O colega mediano faz um terço disso, mas também alcança o título.
6 - Eis que, em 2016, Doutor Carinha se depara com uma grave crise financeira. Cortes profundos no orçamento, principalmente no Ministério da Educação, tornam escassas as vagas como docente. Concursos em cidades remotas do interior, antes com dois, cinco concorrentes no máximo, contam hoje com 30, 50, 80... A solução então é caminhar urgentemente para um Pós-Doutorado, com bolsa de R$ 4.100,00, metade do que ganha seu amigo engenheiro, mas ok, dá um caldo bom, ainda que continue sem direitos trabalhistas. Pouco tempo atrás, as bolsas sobravam, e os convites eram feitos pelo próprio professor. Hoje, ele enfrenta uma seleção com 30. Ele passa, o outro colega já fica pelo caminho, assim como centenas espalhados pelo País. O que eles estão fazendo agora?
O resumo da história é... Temos um exército de graduados analfabetos funcionais e de mestres que não merecem o título. Em um pelotão menor, mas ainda numeroso, doutores cujo diploma só serve para enfeitar a parede. Bilhões de reais gastos para investir e manter um grupo cujo retorno científico é pífio para o País. Entretanto, esse não é o pior cenário.
Alarmante é ver um outro exército de Carinhas, esse qualificado, com boas produções, só que desempregado e enfrentando a maior dificuldade financeira de suas vidas. Alguns há anos em bolsas de Pós-Doutorado, sem saberem se essas podem ser cortadas no ano seguinte. Se forem, nenhum mísero centavo de seguro desemprego. Na rua, ponto. Outros abandonando por vez a carreira para tentar os já escassos concursos públicos em outras áreas ou mesmo para fazer doces caseiros, entre outras alternativas.
Ao passo que o governo acertou na criação de novas universidades, programas e bolsas de pós-graduação nestes últimos 14 anos, a gestão desse material humano e financeiro foi bastante descontrolada. Quantidade exacerbada de cursos criados sem demanda profissional, falta de política de cargos e carreiras para o cientista brasileiro, recursos transportados para um programa de intercâmbio que não exigia praticamente nenhum produto de um aluno de graduação (sobre Ciência Sem Fronteiras, teremos um post exclusivo), critérios de avaliação bem distantes da realidade das melhores universidades do mundo, além de uma série de outros absurdos.
Teremos cerca de dez anos pela frente para que essa curva entre oportunidades e demanda volte a estabilizar. Não tenho dúvidas de que alcançaremos isso. Mas, até lá, cabe a pergunta. O que faremos com os novos Carinhas que ainda surgem a cada vestibular?
* Publicado originalmente no blog Tribuna Científica
Também no HuffPost Brasil:

Hugo Fernandes Ferreira
Dr. em Zootecnia. 

Michel Zaidan Filho: Protocolo de clientelismo e ineficiência







Tive a pachorra nesses últimos dias de acompanhar atentamente as transmissões da Rede Globo sobre eventos que envolvem o Governo do Estado de Pernambuco, ora em transmissão local, ora no Jornal Nacional. Às vezes, pela mesma repórter. E aí foi possível constatar que quando se trata da veiculação local dos mesmos fatos, o tom da cobertura jornalística é um; quando a emissão das notícias é nacional, o tom é outro. Tome-se, por exemplo, a cobertura dos mandados de busca e apreensão pelo Polícia Federal nas fazendas do sócio de Eduardo Aciolly Campos, o senhor Aldo Guedes, curiosamente nomeado diretor da Coopergás (emprega pública situada a uma pequena distância da empresa do citado senhor, na Av. Mascarenhas de Morais) e, sobretudo do quarto mandado (suspenso), onde a repórter omitiu os nomes das pessoas investigadas, com a menção dos destinatários dos mandados no Jornal Nacional. 

Agora, na visita da OMS ao Brasil e a Pernambuco pela atual secretária, a senhora Margareth Chan, ocorreu a mesma coisa. Na transmissão local, feita pela repórter Beatriz de Castro, foi noticiado que a visita da comitiva foi ao IMIP, não a algum hospital público do Estado e que lá ela teria elogiado as medidas tomadas pelos médicos no combate ao mosquito transmissor da Zika-Vírus. Quando a mesma matéria foi ao ar, à noite, no Jornal Nacional, a repórter lembrou-se de mencionar os hospitais públicos (Agamenon Magalhães e o Oswaldo Cruz) e disse que o elogio foi feito aos médicos brasileiros. Na matéria transmitida na rede local da TV GLOBO apareceu um obeso secretário de Saúde, se expressando com dificuldades, para dizer que o protocolo seguido pelo governo estadual tinha se tornado um modelo de combate à doença no Brasil e no Mundo inteiro. E que Pernambuco devia se orgulhar de ter o maior número de casos de microcefalia, pois o alarmante número da virose entre nós tinha sido responsável pelo tal protocolo.

Como todo mundo sabe, existe o SUS (Sistema Único de Saúde), do qual fazem parte os hospitais públicos de referência no combate às doenças infectocontagiosas e existe as fundações privadas, sustentadas com dinheiro público, equipamentos públicos e servidores públicos, como o Instituto Materno-Infantil (IMIP). Lá estão vários parentes do ex-governador. O presidente (licenciado) da Fundação é ao mesmo tempo o secretário estadual de saúde, e sua fundação recebe dinheiro público para administrar várias UPAS e Hospitais públicos da região metropolitana do Recife. É o caso de se perguntar por que a emissora regional de televisão faz dois tipos de cobertura? – Uma, destinada a audiência nacional; outra, ao distinto público televisivo de Pernambuco. 

Quando se trata de cobrir os problemas sanitários, as tempestades, o caos do trânsito da cidade, a violência urbana, ocorre o estranho fenômeno de inversão da responsabilidade civil e criminal: o governo aparece tomando todas as providências para debelar a catástrofe, o povo é que não ajuda, não colabora. A culpa então é do povo, é da população que é mal educada, não tem hábitos de higiene e que acumula lixo nas calçadas e terrenos baldios da cidade. O governo não. Tem um protocolo-modelo para o país e a comunidade internacional, elogiado até pela secretária da OMS.

Há quem possa confiar num noticiário como esse. Podemos perguntar é a natureza governista, chapa branca, bajulatória dos meios de comunicação de massa? Ou são as conveniências, os interesses comerciais, sempre de olho num imenso bolo das verbas publicitárias da administração pública de Pernambuco? – A continuar assim, vamos voltar áquele tempo que se dizia: “a Globo te faz de bobo”, e buscar outras fontes de informação bem mais confiáveis. E isso numa época pré-eleitoral, onde os governantes de turno têm todo interesse em promover a sua imagem institucional através da mídia.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE





quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Editorial: Dilma, você abusou. Tirou partido de mim, abusou...




Peço licença poética aos compositores Antonio Carlos e Jocafi para usar os seus versos na chamada deste editorial. Também gostaríamos de informar que, em qualquer circunstância, manteremos o respeito e a civilidade que sempre nos caracterizaram. Mas, devo confessar, presidente, a minha mais absoluta consternação com a aprovação do Projeto de Lei, de autoria do senador José Serra(PSDB), ocorrida ontem, no Senado Federal, que, na pratica, alija a Petrobras das operações do Pré-sal, num verdadeiro atentado contra a soberania nacional. 

Quando foram iniciadas as investigações em torno da teia de corrupção que atuava na Petrobras, envolvendo agentes públicos e privados, logo surgiram vozes afirmando que isso fazia parte de uma grande urdidura política com o propósito final de "sangrar" a estatal, num primeiro momento, criando as condições para, num segundo momento, conspirar contra os interesses nacionais envolvendo as reservas de petróleo do Pré-sal.Ontem, com a aprovação do Projeto de Lei, em caráter de urgência, urgentíssima, esta tese parece que está se confirmando. No horizonte, a famigerada Chevron, com quem, comenta-se, o senador tem fortes ligações. 

O pior é que a aprovação desse projeto no Senado Federal - ainda para ser apreciado pela Câmara dos Deputados - lesivo aos interesses nacionais, contou com o concurso do próprio Planalto, que abandonou os senadores Requião e Lindberg às feras. Quem traduziu bem essa situação foi o próprio senador petista pelo Rio de Janeiro, que, em pronunciamento naquela Casa - ou seria desabafo - informou que o Planalto protagonizou uma aliança nefasta com os tucanos e próceres figuras do PMDB, com o objetivo de derrotar quem se opunha ao projeto. Numa votação onde, aliás, o Governo poderia ter vencido. 

O mais preocupante de tudo isso - logo depois do atentado aos interesses nacionais - é que Dilma curvou-se diante dos seus algozes, numa atitude de absoluta capitulação, traindo ideais dos mais comezinhos, contrariando sua trajetória política, solapando os próprios companheiros de partido. De acordo com a sua liderança na Casa, a estratégia faz parte uma de uma 'negociação" em torno de pautas de interesses do Governo. Aqui para nós, vocês podem imaginar o que está em jogo? Como aconselha o professor Durval Muniz, em sua timiline da rede Facebook, não era preciso chegar a tanto, Dilma. Melhor seria cair com dignidade. Não dessa forma. 

Aliás, a presidente vem se especializando num discurso tergiversante. Quando houve a troca do ministro Joaquim Levi por Barbosa, logo o Planalto divulgou a informação de que estaríamos diante de uma guinada à esquerda. Praticamente nada mudou desde então, a economia ainda não voltou a crescer, permanece o assédio às conquistas históricas da classe trabalhadora. E, agora, depois da aprovação do "Projeto do Serra", cristaliza-se uma política neoliberal.

Ao final e ao cabo, o mais desastroso de tudo isso é que o PT poderá pagar um ônus política de proporções inimagináveis, com reflexos nas próximas eleições. Pelo "massacre midiático", não haverá como a população deixar de creditar ao partido a grave crise "moral" que estatal está passando, com a credibilidade mais baixa do que poleiro de pato, em razão do rumoroso escândalo de corrupção mostrado pela Operação Lava Jato. 

Pior que isso. Também passará à História como o partido que comprometeu a soberania e os interesses nacionais, ao permitir a exploração do Pré-sal a grupos estrangeiros. Um grande retrocesso, que deverá ser creditado a um partido que, por princípio, sempre defendeu o contrário. Parece mesmo o fim...melancólico. 


O Brasil e a era dos narcisos


Os governos do PT cometeram um erro que pode ser fatal: achar que o processo de mudança da paisagem social que promoveram poderia passar sem conflitos.


Flavio Aguiar, de Berlim
Ricardo Stuckert/PR
Vivemos tempos de intolerância em alta, egos em estado de exaltação e simultânea exaustão, consumismo desenfreado de auto-imagens nas redes virtuais, que muitas vezes nada têm de sociais. Antigamente havia a máxima “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Hoje a equação mudou de rumo: vale o “digo-te o que consumo e vais saber quem eu sou”. E na sociedade brasileira isto se multiplicou nos espaços de uma classe burguesa em que muitos gostam de se pensar como vivendo dentro de um supermercado de luxo na Europa ou em Miami, Nova Iorque, tanto faz. Também se multiplicou nos espaços de uma classe média onde muitos gostam de se ver como desfrutando de privilégios semelhantes aos dos mais ricos.
Esta é uma das razões da crise social que está na base, no bastidor, no porão e no sótão das atuais histerias políticas e econômicas que a velha mídia gosta de alimentar falando da “crise”. Com os aumentos do salário mínimo, a elevação do padrão de vida daqueles a quem o saudoso Florestan Fernandes chamava “os de baixo”, muita gente do andar de cima e do andar intermédio sentiu, além de ter perdido parte do seus poder aquisitivo do trabalho alheio, a perda de status social. Estes não suportam ter agora de disputar espaço no shopping center, no aeroporto, na rua, na universidade, no elevador social e na escada rolante com aqueles que antes olhavam de cima.
Os governos do PT podem ter cometido outros erros, mas cometeram este, de base, que pode ser fatal: achar que o processo de mudança da paisagem social que promoveram poderia passar batido, sem conflitos, sem ódios desatados, sem ressentimentos.
Na América Latina, e o Brasil não é exceção, sempre que uma crise social se apresenta, há a tendência de resolve-la com recursos ao autoritarismo seletivo, seja por onde for. Foi assim em 45, quando Getulio foi derrubado não por seu autoritarismo, mas por seu “populismo”, foi derrubado pela direita e não pela esquerda. Foi suicidado em 54 pelo mesmo motivo, com o famoso manifesto dos coronéis reclamando do quanto os operários estavam ganhando. Foi assim em 64 também, com a ameaça das reformas de base.
Por que seria diferente agora? A diferença é que, como os militares não estão mais disponíveis para golpes,  tenta-se o golpe por outros meios, além da mídia golpista: o judiciário e o aparelho policial.
Este aparato golpista faz de tudo para inverter o que se poderia chamar de “a narrativa Brasil”, a narrativa de um país que hoje serve de exemplo ao mundo inteiro em termos de políticas sociais de combate à miséria, à pobreza e à exclusão.
Como vivemos em tempos de individualismo feroz, os protagonistas deste golpe capitalizam o narcisismo como arma, dispondo-se a produzir as manchetes mais espetaculares a cada dia e assim tornarem-se os “heróis” deste ressentimento dos que não aguentam que pobres ou ex-pobres não tenham mais de mendigar salários ao invés de exercer direitos, não aguentam a ideia de que ex-pobres tenham descoberto que têm direito a ter direitos, que é o direito-base de todos os outros.


Tais personagens - juízes, procuradores, um ou outro policial, protagonizam um narcisismo grotesco, preferindo o vigor das manchetes ao rigor da profissão que deveriam abraçar. São movidos por uma paródia grosseira da frase da rainha de Branca de Neve: “diga-me jornal meu, haverá alguém hoje mais famoso do que eu?” E assim se transformam nas bruxas caçadoras de inocentes e culpados indiscriminadamente, fabricando seus culpados antes mesmo que estes tenham a chance de se defender.
Mas a desconstrução da narrativa Brasil atinge muito mais gente. Por exemplo, intelectuais, escritores, artistas que se movem pelo mesmo gesto de pequenos narcisos. Tornaram-se frequentes agora as “metáforas do exagero” para descrever o Brasil. Recentemente fomos brindados aqui na Alemanha por um escritor em ascensão no mercado brasileiro, com frases bombásticas e vazias do tipo "O Brasil é um país xenófobo, homofóbico, racista, corrupto, etc.", numa retórica que nada diz porque dilui as acusações em generalidades sem rumo.
Chegou a afirmar que os escritores brasileiros não se interessam por política, só escrevem para uma elite (os saraus da periferia de São Paulo e de outras cidades não existem…) e que ele, o escritor em questão, consegue ser ouvido só porque foi convidado para falar na Alemanha. É um modo solerte, mas desconchavado, de auto-promoção: venho de um país de borra (para não dizer coisa pior), mas vejam como eu sou bacana… Li entrevista de outro escritor na mesma situação de estar ascendendo no mercado, no mesmo diapasão, esta dada aí mesmo no Brasil. Li igualmente entrevista de renomado cientista que trabalha no Brasil com pérolas do tipo “o brasileiro é muito ignorante”… “fazer pesquisa de ponta aqui é mais difícil do que no resto do mundo”… Gostaria de saber que “mundo” é este a que o cientista se referia: provavelmente inclui apenas chamado “circuito Elizabeth Arden” da diplomacia brasileira, Nova Iorque, Londres, Paris… O resto não existe.
Não sei onde dará esta crise. Mas sei para onde vai este narcisismo desenfreado. Vai acabar numa tremenda duma ressaca, que não haverá Engov que cure. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Tucanos reacendem desejo de uma candidatura própria à Prefeitura da Cidade do Recife


A alta cúpula tucana aqui da província esteve recentemente reunida. Neste encontro, reafirmaram o desejo de uma candidatura própria à Prefeitura da Cidade do Recife, em 2016. Este, aliás, por hora, é um dos impasses políticos mais visíveis no ninho tucano, se considerarmos os arranjos políticos que antecedem as eleições de 2016, no Recife. O embate se dá, sobretudo, em razão de acordos nacionais que poderão se celebrados entre a legenda e o PSB, no plano nacional. Essas conversações em tordo desse possível acordo, colidem frontalmente com as aspirações da direção local da legenda, que desejam um nome tucano na chapa que concorre à Prefeitura.

Os cardeais do partido, caso de Aécio e Alckmin, mantém boas relação com os socialistas. No caso de Alckmin, até mesmo uma mudança de ninho chegou a ser cogitada. Seu desejo de habilitar-se a vaga de concorrente à Presidência da República, em 2018, é grande. Tudo leva a crer que algum acordo será fechado entre as duas legendas, já para as eleições municipais de 2016, inviabilizando uma pretensa candidatura local. Esse namorico é antigo. O ex-governador Eduardo Campos ainda era vivo, quando as aproximações começaram. Aqui na província, o ex-senador Sérgio Guerra, já falecido, nunca permitiu que a legenda atrapalhasse os planos do ex-governador.

Os tucanos, por sua vez, teriam muitas razões para apostarem numa candidatura própria à Prefeitura da Cidade do Recife. Além do projeto de poder, que deve embalar qualquer legenda, eles possuem um nome competitivo, como o do Deputado Federal Daniel Coelho. Falam as más línguas que se trata de um tucano meio exótico, surgido, quem sabe, de um ovo de um cuco, posto no ninho tucano para ser chocado. Causou um grande estrago na última eleição para o Executivo Municipal, que lhes permitiu um expressivo capital politico para barganhar. 

No projeto de poder local dos tucanos, nos horizontes de 2018, um ator como Elias Gomes, segundo dizem, estaria sendo preparado como uma carta na manga, quem sabe para ser usada naquelas eleições. 


Marília Arraes no PT. Mas que Marília Arraes?


Já está sendo antecipada a filiação da vereadora Marília Arraes(PSB) ao Partido dos Trabalhadores. A expectativa é tão grande que o atual superintendente da SUDENE e ex-prefeito do Recife por dois mandatos, João Paulo, equivocadamente, antecipou a chegada da futura companheira ainda para este mês, quando se sabe que, oficialmente, a vereadora só desembarca das hostes socialistas em meados de março. Há muito tempo que não existe mais clima para a vereadora continuar no PSB. A zonas de atrito se agravam a cada dia. Na mais recente, a vereadora abre uma dissidência nas famílias Campos/Arraes, ao se pronunciar, de forma contundente, contra a nomeação dos filhos do ex-governador Eduardo Campos para cargos no Executivo Estadual e Municipal. Venho acompanhando a trajetória da vereadora Marília Arraes.

Nem sempre nos pronunciamos favoráveis às suas posições, algumas delas aparentemente movidas apenas com uma preocupação de preservar seus espaços entre os herdeiros do espólio político do Dr. Miguel Arraes. Era preciso aguardar mais um pouco, para consolidar a convicção de que ela agia de forma mais consistente. Suas últimas posições sobre a nomeação de João Campos, assim como Maria Eduarda, parece não haver dúvidas de que ela, de fato, abre uma dissidência dentro do clã. Em razão dos métodos sórdidos dos seus desafetos nas hostes socialistas, a cidade acordou com uma série de pichações desabonadoras e ofensivas à sua honra, num ato covarde e desumano, indicador do modus operandi desse grupo, cujo expedientes da calúnia e difamação são corriqueiros. Agora, não foi diferente. Através de um blog local, tomamos conhecimento de que ela entrou com uma queixa-crime contra internautas que repetiram os mesmos métodos, postando ofensas, desta vez em sua timiline.

Um outro fato digno de registro foi o seu pedido de uma moção de desagravo em favor do professor Michel Zaidan, em relação ao processo movido contra ele pelo governador Paulo Câmara. Infelizmente, a tal moção não teve a aprovação dos seus pares, o que demonstra a fragilidade da oposição no Estado. Em todo caso, vejo mais uma vez aqui, uma demonstração de altivez, de coragem e independência da vereadora Marília Arraes, quando se sabe que o Dr. Michel Zaidan foi uma das vozes mais combativas de oposição ao Governo de Eduardo Campos. 

Agora resta saber qual será o futuro que a aguarda entre os petistas. Uma boa puxadora de votos para uma eventual candidatura de João Paulo? Assim como deve ocorrer - pelo menos é o que eles pensam - com uma possível candidatura, como já se fala, de João Campos à Casa de José Mariano, em 2016.Percebo que a vereadora será muito bem-vinda no partido, mas muita saliva ainda será gasta até uma definição de seu papel na futura legenda. 

  

Educação, o trunfo de Lócio em Petrolina.


Ainda é cedo para informar como as coisas irão se "arranjar" para as próximas eleições municipais em Petrolina, em 2016.Mas, já é certo que o jovem prefeito Júlio Lócio guarda alguns trunfos na manga para fazer seu sucessor. Até recentemente, Júlio foi vitima de um piripaque, o que o afastou da gestão da cidade, entregando-a ao seu vice. Mas, a julgar pelas informações publicadas em sua página numa rede social, ele já está plenamente recuperado. Numa dessas últimas publicações, ele aparece realizando operações de catarata, na cidade.

Petrolina é uma cidade importante no tabuleiro político do Estado de Pernambuco. É uma das cidades do chamado "Triângulo das Bermudas". Já há algum tempo, Júlio desponta como uma liderança emergente, um ator político relevante na quadra sucessória do Estado. Em pleno "Eduardismo" Lócio foi capaz de infligir duas derrotas sucessivas ao governador Eduardo Campos, que o tinha atravessado na traqueia antes de morrer naquele trágico acidente.

Com isso, seu nome passou a constar das bolsas de apostas, como um possível candidato peemedebista ao Palácio do Campo das Princesas. Esta pssibilidade ainda não está descartada, mas, antes, talvez ele deseje conhecer melhor o Legislativo do Estado, passando uma temporada na ALEPE. Esse estágio, aliado a uma metropolitanização, faria bem a qualquer postante ao Governo do Estado. Além do cacife político, o maior trunfo de Lócio, entretanto, está relacionado aos bons indicadores alcançados nos indicadores de educação obtidos pelo alunado da rede de educação do município, ratificados em indicadores como o IDEB,SAEP e,ecentemente, o Firjan. Vamos discutir essa questão com mais profundidade em outro momento, mas antecipo que isso é o resultado concreto de algumas políticas públicas bem-sucedidas para o setor. 

A caricatura do Pacto Pela Vida


É um fato que este Governo de Pernambuco, por obra dos seus dirigentes, está se tornando, de uma certa forma, caricato, surreal, grotesco. E, como tal, alguns fatos estão contribuindo efetivamente para consolidar essa imagem. É morto carregando vivo, príncipes herdeiros assumindo postos de comando no reino, rainhas que governam... Lá para as bandas Inglaterra elas epenas reinam. E, esses fatos não param de ser produzidos. Os socialistas tupiniquins estão se tornando especialistas no assunto. Questionado pela reportagem de um jornal local, sobre a contratação de Maria Eduarda para um cargo no Instituto Pelópidas da Silveira, da Prefeitura do Recife, o Chefe do Executivo Municipal saiu-se com uma pérola: Isso acontece com milhares de jovens. 

E, predizendo o ditado de que as coisas que estão ruim tendem a piorar, outro dia o Diário de Pernambuco trouxe a notícia de mais um assalto a ônibus na região metropolitana do Recife, uma tipologia de delito que está se tornando comum, com os seus índices crescendo assustadoramente. Depois nós voltaremos a tratar deste assunto, mas os leitores mais atentos já devem ter observado que "assaltos a ônibus" passa a ser um indicador bastante relevante na mensuração dos índices de violência. Sempre que esses índices começam a fugir ao controle das autoridades públicas, observem, assaltos a coletivos se tornam uma prática corriqueira. É preciso reavaliar o "status" dessa modalidade de delito nas estatísticas de violência.

O inusitado, neste caso, é que, de acordo com a matéria, o assalto teria sido cometido por dois homens, a cavalo, assim como no tempo das diligências do Velho Oeste. Este "simbolismo", todos sabem, produzem um efeito bastante negativo, sobretudo quando se sabe das dificuldades enfrentadas pela área de segurança pública do Estado.  

Marcelo Odebrecht não decifrou a sopa de letrinhas da Polícia Federal




Nesta fase da Operação Lava Jato, denominada de Acarajé, o empresário Marcelo Odebrecht foi convocado às pressas para esclarecer algumas informações entre os documentos apreendidos, relacionados à sua pessoa, em particular, ou da Construtora Odebrecht. Há, ali, uma série de siglas e apelidos, usados com o propósito de sonegar informações e identidades. Não fosse pela gravidade com que essas siglas e apelidos se revestem - a possibilidade concreta de pagamentos de propinas, gerada pelos desvios de recursos púbicos - e as mesmas poderiam compor um bom mosaico inspirador para obras de ficção. 

Pelas imagens mostradas durante a sua transferência, o empresário parecia bastante abatido. Durante o interrogatório, certamente por orientação dos seus advogados, o Marcelo Odebrecht manteve o silêncio, informando que apenas se pronunciaria depois de tomar conhecimento dos detalhes da Operação Acarajé. Aliás, o nome de batismo da operação faz alusão ao termo utilizado pelos operadores quando se referiam a dinheiro. Como informamos, vamos aguardar mais um pouco, mas já possível perceber o enredo nebuloso em que essas empreiteiras estão envolvidas. Segundo fomos informados, João Santana, o marqueteiro do PT, dirá que havia caixa dois em suas campanhas no exterior, onde a construtora tem interesses. Essa seria a origem dos 7,5 milhões encontrados em sua conta. 

Precisamos falar sobre a vaidade no mundo acadêmico

Pequenos poderes e os "donos de Foucault" é fundamental para termos uma universidade melhor
por Rosana Pinheiro-Machado — publicado 24/02/2016 03h37
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Unicamp
Estudante aguarda vestibular da Unicamp: a nova geração de universitários pode ajudar a melhorar a vida acadêmica
A vaidade intelectual marca a vida acadêmica. Por trás do ego inflado, há uma máquina nefasta, marcada por brigas de núcleos, seitas, grosserias, humilhações, assédios, concursos e seleções fraudulentas. Mas em que medida nós mesmos não estamos perpetuando essemodus operandi para sobreviver no sistema? Poderíamos começar esse exercício auto reflexivo nos perguntando: estamos dividindo nossos colegas entre os “fracos” (ou os medíocres) e os “fodas” (“o cara é bom”).
As fronteiras entre fracos e 'fodas' começam nas bolsas de iniciação científica da graduação. No novo status de bolsista, o aluno começa a mudar a sua linguagem. Sem discernimento, brigas de orientadores são reproduzidas. Há brigas de todos os tipos: pessoais (aquele casal que se pegava nos anos 1970 e até hoje briga nos corredores), teóricas (marxistas para cá; weberianos para lá) e disciplinares (antropólogos que acham sociólogos rasos generalistas, na mesma proporção em que sociólogos acham antropólogos bichos estranhos que falam de si mesmos).
A entrada no mestrado, no doutorado e a volta do doutorado sanduíches vão demarcando novos status, o que se alia a uma fase da vida em que mudar o mundo já não é tão importante quanto publicar um artigo em revista qualis A1 (que quase ninguém vai ler).
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dizíamos que quando alguém entrava no mestrado, trocava a mochila por pasta de couro. A linguagem, a vestimenta e o ethosmudam gradualmente. E essa mudança pode ser positiva, desde que acompanhada por maior crítica ao sistema e maior autocrítica – e não o contrário.
A formação de um acadêmico passa por uma verdadeira batalha interna em que ele precisa ser um gênio. As consequências dessa postura podem ser trágicas, desdobrando-se em dois possíveis cenários igualmente predadores: a destruição do colega e a destruição de si próprio.
O primeiro cenário engloba vários tipos de pessoas (1) aqueles que migraram para uma área completamente diferente na pós-graduação; (2) os que retornaram à academia depois de um longo tempo; (3) os alunos de origem menos privilegiada; (4) ou que têm a autoestima baixa ou são tímidos. Há uma grande chance destas pessoas serem trituradas por não dominarem o ethos local e taxadas de “fracos”.
Os seminários e as exposições orais são marcados pela performance: coloca-se a mão no queixo, descabela-se um pouco, olha-se para cima, faz-se um silêncio charmoso acompanhado por um impactante “ãaaahhh”, que geralmente termina com um “enfim” (que não era, de fato, um “enfim”). Muitos alunos se sentem oprimidos nesse contexto de pouca objetividade da sala de aula. Eles acreditam na genialidade daqueles alunos que dominaram a técnica da exposição de conceitos.
Hoje, como professora, tenho preocupações mais sérias como estes alunos que acreditam que os colegas são brilhantes. Muitos deles desenvolvem depressão, acreditam em sua inferioridade, abandonam o curso e não é raro a tentativa de suicídio como resultado de um ego anulado e destruído em um ambiente de pressão, que deveria ser construtivo e não destrutivo.
Mas o opressor, o “foda”, também sofre. Todo aquele que se acha “bom” sabe que, bem lá no fundo, não é bem assim. Isso pode ser igualmente destrutivo. É comum que uma pessoa que sustentou seu personagem por muitos anos, chegue na hora de escrever e bloqueie.
Imagine a pressão de alguém que acreditou a vida toda que era foda e agora se encontra frente a frente com seu maior inimigo: a folha em branco do Word. É “a hora do vâmo vê”. O aluno não consegue escrever, entra em depressão, o que pode resultar no abandono da tese. Esse aluno também é vítima de um sistema que reproduziu sem saber; é vítima de seu próprio personagem que lhe impõe uma pressão interna brutal.
No fim das contas, não é raro que o “fraco” seja o cavalinho que saiu atrasado e faça seu trabalho com modéstia e sucesso, ao passo que o “foda” não termine o trabalho. Ademais, se lermos o TCC, dissertação ou tese do “fraco” e do “foda”, chegaremos à conclusão de que eles são muito parecidos.
A gradação entre alunos é muito menor do que se imagina. Gênios são raros. Enroladores se multiplicam. Soar inteligente é fácil (é apenas uma técnica e não uma capacidade inata), difícil é ter algo objetivo e relevante socialmente a dizer.
Ser simples e objetivo nem sempre é fácil em uma tradição “inspirada” (para não dizer colonizada) na erudição francesa que, na conjuntura da França, faz todo o sentido, mas não necessariamente no Brasil, onde somos um país composto majoritariamente por pessoas despossuídas de capitais diversos.
É preciso barrar imediatamente este sistema. A função da universidade não é anular egos, mas construí-los. Se não dermos um basta a esse modelo a continuidade desta carreira só piora. Criam-se anti-professores que humilham alunos em sala de aula, reunião de pesquisa e bancas. Anti-professores coagem para serem citados e abusam moral (e até sexualmente) de seus subalternos.
Anti-professores não estimulam o pensamento criativo: por que não Marx e Weber? Anti-professores acreditam em lattes e têm prazer com a possibilidade de dar um parecer anônimo, onde a covardia pode rolar às soltas.
O dono do Foucault
Uma vez, na graduação, aos 19 anos, eu passei dias lendo um texto de Foucault e me arrisquei a fazer comparações. Um professor, que era o dono do Foucault, me disse: “não é assim para citar Foucault”.
Sua atitude antipedagógica, anti-autônoma e anti-criativa, me fez deixar esse autor de lado por muitos anos até o dia em que eu tive que assumir a lecture “Foucault” em meu atual emprego. Corrigindo um ensaio, eu quase disse a um aluno, que fazia um uso superficial do conceito de discurso, “não é bem assim...”.
Seria automático reproduzir os mecanismos que me podaram. É a vingança do oprimido. A única forma de cortamos isso é por meio da autocrítica constante. É preciso apontar superficialidade, mas isso deve ser um convite ao aprofundamento. Esquece-se facilmente que, em uma universidade, o compromisso primordial do professor é pedagógico com seus alunos, e não narcisista consigo mesmo.
Quais os valores que imperam na academia? Precisamos menos de enrolação, frases de efeitos, jogo de palavras, textos longos e desconexos, frases imensas, “donos de Foucault”. Se quisermos que o conhecimento seja um caminho à autonomia, precisamos de mais liberdade, criatividade, objetividade, simplicidade, solidariedade e humildade.
O dia em que eu entendi que a vida acadêmica é composta por trabalho duro e não genialidade, eu tirei um peso imenso de mim. Aprendi a me levar menos a sério. Meus artigos rejeitados e concursos que fiquei entre as últimas colocações não me doem nem um pouquinho. Quando o valor que impera é a genialidade, cria-se uma “ilusão autobiográfica” linear e coerente, em que o fracasso é colocado embaixo do tapete. É preciso desconstruir o tabu que existe em torno da rejeição.
Como professora, posso afirmar que o número de alunos que choraram em meu escritório é maior do que os que se dizem felizes. A vida acadêmica não precisa ser essa máquina trituradora de pressões múltiplas. Ela pode ser simples, mas isso só acontece quando abandonamos o mito da genialidade, cortamos as seitas acadêmicas e construímos alianças colaborativas.
Nós mesmos criamos a nossa trajetória. Em um mundo em que invejas andam às soltas em um sistema de aparências, é preciso acreditar na honestidade e na seriedade que reside em nossas pesquisas.
Transformação
Tudo depende em quem queremos nos espelhar. A perversidade dos pequenos poderes é apenas uma parte da história. Minha própria trajetória como aluna foi marcada por orientadoras e orientadores generosos que me deram liberdade única e nunca me pediram nada em troca.
Assim como conheci muitos colegas que se tornaram pessoas amargas (e eternamente em busca da fama entre meia dúzia), também tive muitos colegas que hoje possuem uma atitude generosa, engajada e encorajadora em relação aos seus alunos.
Vaidade pessoal, casos de fraude em concursos e seleções de mestrado e doutorado são apenas uma parte da história da academia brasileira. Tem outra parte que versa sobre criatividade e liberdade que nenhum outro lugar do mundo tem igual. E essa criatividade, somada à colaboração, que precisa ser explorada, e não podada.
Hoje, o Brasil tem um dos cenários mais animadores do mundo. Há uma nova geração de cotistas ou bolsistas Prouni e Fies, que veem a universidade com olhos críticos, que desafiam a supremacia das camadas médias brancas que se perpetuavam nas universidades e desconstroem os paradigmas da meritocracia.
Soma-se a isso o frescor político dos corredores das universidades no pós-junho e o movimento feminista que só cresce. Uma geração questionadora da autoridade, cansada dos velhos paradigmas. É para esta geração que eu deixo um apelo: não troquem o sonho de mudar o mundo pela pasta de couro em cima do muro.
(Publicado originalmente no site da Carta Capital)

A polêmica em torno do artigo: "A carnavalização do mito", do cientista político Michel Zaidan.





Artigo publicado aqui no blog, escrito pelo cientista político Michel Zaidan Filho, provocou algumas polêmicas nas redes sociais. O artigo foi equivocadamente interpretado pelo escritor Raimundo Carrero como ofensivo ao escritor Ariano Suassuna. Pelas manifestações dos internautas, através de nossa timeline, parece não haver dúvidas quanto ao equívoco de interpretação do escritor. Não fosse isso suficiente, quando acessamos a rede social Facebook, durante a noite, encontramos algumas mensagens de solidariedade dos amigos, todas apontando o erro de interpretação do escritor pernambucano. 

Não houve ofensa. Muito menos graves, como grifou Carrero. No artigo existe apenas uma analogia entre a obra ficcional do dramaturgo Ariano Suassuna - ou o reino da fantasia - e a realidade política do Estado, transformada num reino grotesco, surreal, dinástico, armorial, risível, pelas manobras dos governantes de turno. Didático, como costumam ser os artigos do professor Michel Zaidan, o texto foi publicado, simultaneamente, num blog de pesquisa escolar mantido por este editor. 

Ariano Suassuna foi uma espécie de mentor literário do escritor Raimundo Carrero. Leu seus trabalhos iniciais, apontando caminhos que o transformariam num escritor consagrado nacionalmente. É compreensível - e até elogiável - a sua gratidão ao dramaturgo paraibano. Ariano, por sua vez, sempre foi muito ligado aos socialistas aqui da província, assumindo as políticas culturais nos governos de Miguel Arraes e do seu neto, Eduardo Campos. Era militante filiado ao PSB, daí se entender, igualmente, a clarividência do cientista político Michel Zaidan em estabelecer esse vínculo ficcional com a realidade política observada hoje no Estado de Pernambuco. 

O artigo da polêmica:


  

João Santana preso. Um país sob tensão.




Quando nos dirigíamos ao trabalho, na manhã de hoje, observei alguns cartazes espalhados pelas ruas, convocando a população para novas manifestações contra o Governo da Presidente Dilma Rousseff, marcadas para o próximo dia 13 de março. As últimas manifestações ocorridas ficaram aquém do esperado pelos organizadores, reunindo alguns gatos pingados por todo o Brasil. Quase fomos trucidados pelos coxinhas, ao publicamos um artigo num site local, tratando deste assunto. De fato, os ânimos estão bastante acirrados entre petistas e coxinhas, ou entre aqueles que desejam o impeachment da presidente Dilma Rousseff e os que são contra.

Há um termo muito interessante, utilizado sobretudo pelos economistas, para identificar aquela situação onde os indicadores da economia atingem níveis dos mais preocupantes, numa combinação nefasta de fatores: recessão, alta inflacionária, desemprego galopante, taxas de juros nas alturas, déficit nas contas públicas etc. Salvo algum engano, o termo é tempestade total. Se levarmos isso para uma esfera social mais ampla, talvez possamos falar numa situação de anomia social. Uma baita crise, respingando em todo o tecido social. 

Isso vem a propósito das recentes declarações do marqueteiro do Planalto, João Santana, que coordenou as três últimas campanhas presidenciais do PT, que elegeu Lula, num primeiro momento, e, depois, Dilma Rousseff, cujo segundo mandato, a rigor, ainda não começou. Nessa fase da Operação Lava Jato, num conjunto de ações denominada de Operação Acarajé, o publicitário e a sua esposa estão sendo acusados de receber recursos ilícitos, fruto das falcatruas cometidas em transações de empreiteiras com a estatal Petrobras, como forma de remuneração pelo seu trabalho. O fato, se vier a ser confirmado, tem um peso enorme, pois pode significar a utilização de recursos irregulares na campanha presidencial que elegeu a chapa Dilma/Temer. 

Fala-se em depósitos no montante de 7 milhões, transferidos para contas secretas no exterior, através de uma empreiteira. Sempre elas. Não costumamos fazer prejulgamentos e sempre oferecemos ao outro o princípio da presunção de inocência. Vamos aguardar as conclusões das investigações para formamos melhor juízo sobre os fatos. Curiosa essa sopinhas de siglas, onde a Polícia Federal já conclui que IL se refere ao Instituto Lula, MO ao Marcelo Odebrecht, "Feira" ao suposto apelido de João Santana, que nasceu numa cidade próxima à Feria de Santana, na Bahia, e "Vaca" a Vaccari, o tesoureiro da legenda, que já se encontra encarcerado. Isso é de uma fragilidade que salta aos olhos. 

João Santana, que participava de uma campanha presidencial na República Dominicana, já pediu desligamento, retornou ao Brasil e entregou-se às autoridades, juntamente com a esposa, também publicitária. Em sua carta de despedida da campanha de reeleição do candidato Danilo Medina, o publicitário faz alusão a um fato que nos chamou a atenção: o clima de perseguição instaurado no país. Se, ao final, ficará provada, as irregularidades apontadas pela Polícia Federal, ainda é cedo para concluir. Segundo "Feira", todos os recursos em suas contas no exterior são provenientes de campanhas realizadas em outros países, nada tendo a ver com as campanhas do PT. Vamos aguardar os fatos. 

Num aspecto, já se sabe que o João Santana foi assertivo: quando se referiu ao clima de perseguição que se vive no Brasil. Ontem, o blogueiro Renato Rovai voltou a bater na tecla de que Lula já foi condenado aprioristicamente. Faltam "apenas" os detalhes dessa condenação. Há uma espécie de indignação seletiva, conduzida por setores do judiciário, da mídia, com o concurso de uma Polícia que parece não ser orientada, necessariamente, por uma postura republicana. Nesta mesma semana, surgiram fatos desabonadores envolvendo o ex-presidente FHC e a emissora do Plim Plim. Um silêncio sepulcral, apenas quebrado pela luta incansável da imprensa alternativa e dos "blogs" sujos. 

P.S.:De acordo com informações mais recentes, João Santana deverá admitir para a Polícia Federal a existência de caixa dois, em suas campanhas no exterior, patrocinadas pela Odebrecht. A construtora, inclusive, tem negócios em países onde o publicitário atuou. Fica patente a promiscuidade da relação dessas empreiteiras com o aparelho de Estado. É encrenca das grossas. Se existe caixa dois por aquelas bandas...