pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 21 de maio de 2022

Editorial: São muitas emoções na política nacional



Como diria o Roberto Carlos, a política nacional tem nos reservado muitas emoções nesses últimos dias. Se não, vejamos: A última pesquisa do IPESPE,que não traz muitas novidades, exceto a confirmação do candidato Luiz Inácio Lula da Silva na condição, ainda, de franco favorito a vencer as eleições presidenciais de outubro, sobretudo em razão de um eleitorado de "centro", mais ponderado, menos propenso ao radicalismo; O debate quente entre o jornalista Gregório Duvivier e Ciro Gomes,do PDT, cujas farpas foram frequentes, em alguns momentos, sobrando até para Lula, que se encontra em sua sagrada lua-de-mel; O encontro protolar  entre o presidente Jair Bolsonaro(PL) e o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, durante uma cerimônia em Brasília. Moraes não é daqueles se impressionam com afagos ou os conhecidos tapinhas nas costas. Aplicou nova multa e interditou os bens do Deputado Federal Daniel Silveira; No final, uma longa matéria da revista Veja desta semana, tratando de uma eventual volta à ribalta do clã Sarney, do Maranhão, curiosamente, contando com o apoio do suposto arquiinimigo Flávio Dino. 

É preciso aqui reafirmar que o governador do Maranhão chegou ao poder alinhavado com atores políticos que eram considerados desafetos da aligarquia Sarney. A relação de Flávio Dino(PSB-MA) com os Sarney é algo que precisa ser melhor explicada. Não supreende, portanto, essa "reaproximação". A narrativa sobre a "derrocada" da oligarquia Sarney naquele Estado, fica sub judice, diante da complexidade das alianças políticas ali formatadas, seja para conseguir essa proesa - tão festejada pelas forças progressistas e republicanas no plano nacional, seja para compreender essa reaproximação.  

Depois de cinco décadas de hegemonia, é difícil retirar completamente uma oligarquia da burocracia do poder de Estado. Ainda ontem comentávamos com o professor Michel Zaidan Filho, que, na melhor das hipóteses, nas eleições estaduais aqui em Pernambuco, teremos um clã familiar sendo substituído por outro ou rebentos dissidentes dessas oligarquias familiares chegando ao poder, como é o caso da candidata Marília Arraes(SD), que lidera todas as pesquisas de intenção de voto realizadas até este momento.

 

      

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Editorial: Eleitorado baino dividido entre Lula e ACM Neto.



ACM Neto deixou a Prefeitura de Salvador com excelentes índices de aprovação, credenciando-se a alçar voos mais altos, que, neste caso, seria a retomada do controle político da máquina estadual, reeditando a volta do Carlismo naquele Estado. Raposa política cevada pelo avô, tudo está sendo gerenciando com o maior esmero por ele, inclusive usando a estratégia de fugir à polarização que se configura no plano nacional, com a rivalidade entre as candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) e Jair Bolsonaro(PL). ACM Neto dá um banho nas pesquisas de intenção de voto. Somente um milagre retira sua condição de candidato favorito ao Governo do Estado. 

Milagres acontecem,mas o PT baiano não vem ajudando muito, depois do escândalo envolvendo o absurdo da compra dos respiradores pulmonares, de uma empresa de maconha, durante a pandemia da Covid-19 - envolvendo valores acima de 40 milhões de reais - pagos antecipadamente, no bojo do Consórcio Nordeste. Nenhum desses respiradores foram entregue. Não vamos aqui fazer ilações ou promover um julgamento precipitado do governador Rui Costa, do PT, até porque este editor ainda é do tempo do arrolamento de provas irrefutáveis, da presunção de inocência, do devido processo legal, do direito ao contraditório, do trânsito em julgado, expressões que parecem ter sumido dos dicionários jurídicos nesses tempos bicudos de insegurança legal. Mas houve, no mínimo, um imperdoável erro de gestão, que, certamente, será bastante explorado na campanha. 

Hoje, 18\05, o Instituto mineiro Quaest\Genial divulga uma pesquisa de intenção de voto e sobre a percepção dos baianos sobre o Governo Jair Bolsonaro. Estado de tradição petista nos últimos anos, como era de se esperar, Lula aparece muito bem na fita, enquanto Jair Bolsonaro amarga números preocupantes. A Bahia é o quarto colégio eleitoral do país, daí a importância desses escores entre os principais concorrentes. O curioso é essa engenharia do voto que está se configurando naquele Estado da Federação. Pelo andar da carruagem política, o eleitor baiano afirma claramente que pretende eleger ACM Neto(UB-BA) para o Governo do Estado e Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) para a Presidência da República.

Raposa cevada no Carlismo, ACM Neto já deixou muito claro que não pretende brigar com o eleitorado. Há quem assegure que já haveria algum acordo com o candidato Ciro Gomes do PDT, que, neste caso, não é carne e nem é peixe, não atrapalhando seus projetos locais. O fato evidencia, igualmente, uma outra lição: a real capacidade de Lula de transferência de voto. Gerônimo Rodrigues, do PT, tem apenas 6% das intenções de voto.      

Editorial: O nome de "consenso" é Simone Tebet


Em política, assim como na vida, é preciso saber o momento certo para avançar e recuar. Por vezes, mesmo estando certo, o mundo pode desabar sobre você e talvez não seja possível suportar o tranco. Mesmo sendo, ainda, um cristão relativamente novo na política, o ex-governador de São Paulo, João Dória(PSDB-SP), parece ter aprendido esta lição, a julgar por sua resiliência em relação aos problemas enfrentados no ninho tucano. Seus inimigos internos fecharam todos os cercos em relação à tese de não endossar sua candidatura presidencial. 

Há cucos graúdos no ninho tucano que não o desejam por perto. Isso não quer dizer que ele seja expulso do ninho. Talvez se encontre uma saída honrosa, mas, a rigor, o partido já teria fechado questão - juntamente com o MDB e o cidadania - em apoio ao nome da senadora Simone Tebet(MDB-MS) como candidata da frente, como alternativa de terceira via. De posse de pareceres jurídicos e pesquisas de intenção de voto - onde ele aparece à frente da senadora - e com muita paciência também - ele tentará reverter esta situação. 

Começou por protelar o momento da notícia, ao se recusar a ir a um encontro da legenda tucana. Como disse antes, todas as suas saídas foram fechadas - ou abertas, depenedendo da situação, se, por exemplo, ele desajar sair do ninho. Há, inclusive pareceres de juristas que entendem que a convenção da legenda é a instância suprema para definir candidaturas, o que quer dizer que as prévias vencidas por ele não signifcam muita coisa, a despeito dos milhões de dinheiro público jogados fora.

O problema de Doria é a rejeição. Dentro e fora da agremiação tucana. Os tucanos teriam pesquisas indicando que a senadora Simone Tebet teria maiores condições de se contrapor à polarização entre Lula e Jair Bolsonaro. Doria, por sua vez, depois do fechamento da janela partidária, perdeu muito do capital político acumulado durante as prévias. O ex-senador Aécio Neves, ainda muito influente na legenda, nã perdoa o fato de Dória ter defendido sua expulsão da legenda no passado. Ele enfrenta um contexto bastante desfavorável.    

terça-feira, 17 de maio de 2022

Editorial: O que explica a estabilidade de Lula nas pesquisas de intenção de voto?

 



Eleitor de Bolsonaro votando em Lula? É possível, sim, e ainda bem que isso é possível, em nome da preservação do próprio sistema de democracia representativa que experimentamos. Segundo alguns analistas, essa tendência “centrista” do eleitorado é fundamental para equilibrar o jogo do poder, contribuindo para minimizar os danos produzidos pelos extremismos tanto à esquerda, quanto à direita. Hoje,mais à direita. Claro que não estamos tratando aqui daquele eleitor raiz, disposto a carregar Bolsonaro nos braços aos gritos de: Mito! Mito! Mito!. Esses não desistem nunca. 

Estamos tratando aqui daquele contingente de eleitores menos radicais, que votaram em Bolsonaro num primeiro momento, movidos, quem sabe, pela descrença no outro candidato, de eleições presidenciais passadas, mas que poderia ter se arrependido em razão dos rumos tomados pelo seu Governo. É curioso, mas um percentual bastante expressivo do eleitorado de Lula encontra-se entre os eleitores identificados como de “centro”. Para alguns observadores, trata-se de uma vantagem competitiva de Lula na corrida presidencial das eleições de 2022. 

Isso poderia explica, por exemplo a estabilização dos seus índices de intenção de voto, verificados em várias pesquisas desde o ano de 2021. É uma tendência de voto, digamos assim, mais perene do que a apresentada pelo seu principal oponente, Jair Bolsonaro. A estratégia do staff de campanha de Lula, hoje, é exatamente cativar e ampliar esse contingente de eleitores, evitando afugentá-lo com sincericídios ou atitudes do gênero. Creio que, pela primeira vez, por ocasião do lançamento de sua pré-campanha, Lula não falou de improvisos, evitando os escorregões verbais naturais, movidos pela emoção da ocasião. 

Ampliar suas alianças ao centro do espectro político tem sido uma das suas principais preocupações. Em tese, quem deveria cumprir esse papel seria o seu vice, Geraldo Alckmin(PSB-SP), que, por algum motivo, se sentiu na contingência de tornar-se palatável aos grupos mais autênticos ou radicais da legenda petista. Mal sabe ele que essa indigestão é incurável. Alguns petistas não irão gostar de chuchu de jeito nenhum. Na ausência de Alckmin, Lula já procurou outros interlocutores para a missão, a exemplo do senador Renan Calheiros, do MDB de Alagoas, da trinca de grandes aliados do ex-presidente. 

Confiante na vitória das eleições de outubro, o candidato petista procura construir as condições de governabilidade, que sabe serão difíceis, num parlamento hegemonizado pelo Centrão. Mesmo antes de assumir, numa eventual vitória em outubro, Lula já tem trocado farpas com o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, do Partido Progressista, que não poupa mimos aos parlamentares para assegurar os interesses do Governo. Para Lula, o controle do Centrão sobre o parlamento já se configura numa espécie de semipresidencialismo. E ele tem toda a razão. O Governo de Jair Bolsonaro, em muito, passa por ali. E será assim pelas próximas governos, em razão das contingências impostas pelo presidencialismo de coalizão. 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Editorial: Encontro do PSDB: Tem cuco no ninho tucano?



A semana política começa bastante agitada. Neste final de semana, o PT local realizou seu encontro, onde o nome da Deputada Estadual Teresa Leitão(PT-PE) foi homologado para concorrer ao Senado Federal, compondo a chapa da Frente Popular, encabeçada pelo Deputado Federal Danilo Cabral(PSB-PE). Nos nossos anos dourados de estudante de Ciência Política, este editor, na condição de pesquisador, já participou de alguns desses encontros.  Nesses momentos, geralmente são expostas as feridas internas da legenda, colocando, em lados diametralmente opostos, os grupos mais autênticos e orgânicos, e os grupos pragmáticos - aqueles já contaminados pela bacia semântica - que colocam os cargos na máquina acima dos princípios e da ideologia. 

Hoje, pelo andar da carruagem política, percebe-se que, se o PT não provocasse a saída de Marília Arraes da agremiação poderia fazer, quem sabe, barba, cabelo e bigode nas próximas eleições estaduais, retomando o papel de protagonista no cenário político pernambucano. Agora não adianta tentar emplacar ou associar o nome de Teresa Leitão ao de Marília, que hoje confirma o nome do Deputado Federal André de Paula, presidente estadual do PSD, como sendo o nome pelo qual ela se empenhará para conduzir ao Senado Federal. E, por falar em Marília - voltaremos a tratar deste assunto num próximo editorial - segundo o Instituto Paraná Pesquisas, ela lidera em todos os cenários as eleições de outubro. 

Ainda esta semana, os tucanos deverão se reunir em Brasília para uma lavagem de roupa suja definitiva. Chegaram a um estágio onde tornou-se impossível construir um consenso sem algum dano. O governador de São Paulo, João Dória(PSDB-SP), pré-candidato da legenda à Presidência da República, vai ao encontro armado até os dentes, de posse de pareceres jurídicos ratificando a sua condição de candidato ungido pela legenda, embora tucanos de alta plumagem advoguem - e desejem - o contrário. Tem cuco neste ninho e é pouco provável que eles cheguem a bom termo. 

Dória recebeu o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso(PSDB-SP), mas ele já não teria a mesma capacidade de antes, em unir a legenda. Embora tenha iniciado uma ligeira reação nas últimas pesquisas de intenção de voto, muito em razão das veiculações televisas do partido, a situação de Dória não é nada confortável, tendo que largar para uma corrida presidencial com tantos obstáculos a ultrapassar, a começar pelos internos, gerados pelo próprio partido. Por outro lado, é intransigente em algumas questões: Já afirmou que não aceitaria ser vice da senadora Simone Tebet(MDB-MS).  

domingo, 15 de maio de 2022

Editorial: O embate político em Alagoas e seus reflexos na política nacional

 



Alagoas ainda é um Estado da Federação controlado por grandes oligarquias políticas. Há um amigo que nos informa que, ainda hoje, as contendas políticas ali são resolvidas à base da bala ou do cipó de vara verde. Não raro, quem entra em rota de colisão com essas elites políticas e econâomicas locais acabam precisando contratar uma equipe de jagunços bem armados para protegé-lo. Isso vem desde ápocas remotas, mas seus reflexos são sentidos ainda hoje, no clima acirrados das disputas políticas locais. Este editor tem uma ótima impressão do Estado, mas isso fica circunscrito às viagens de férias, quando temos a oportunidade de curtir seu exuberante litoral e saborear as delícias de sua gastronomia, como uma pituzada ou um sururu no capote, em recantos paradisíacos como São Miguel dos Milagres.  

Se suas praias e a suas comidas são capazes de produzir consensos, no plano político, infelizmente, as coisas não funcionam bem assim. Hoje o Estado possui dois atores políticos de projeção nacional, que atuam em campo políico opostos.O senador Renan Calheiro(MDB-AL) e o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lyra, do PP. Renan já é um velho conhecido dos brasileiros, em razão dos cargos relevantes que ocupou na República.  Sua última vitrine foi o cargo de relator da Comissão da Covid-19, onde entrou em rota de colisão com grupos ligados ao presidente Jair Bolsonaro(PL). 

Arthur Lyra apoia o presidente Jair Bolsonaro, mas segue numa raia própria, respaldada pelo Centrão, o que leva  alguns interlocutores a apontarem indícios de um semipresidencialismo. Conforme afirmamos no editorial de ontem, temos aqui um probrema sério no tocante à governabilidade. Problema que, aliás, já foi percebido por Lula, na eventualidade de vencer as próximas eleições presidenciais. Fica claro que será o Centrão quem continuará dando as cartas do jogo da política nacional, independentemente de quem esteja sentado na cadeira do Palácio do Planalto. 

A missão delegada por Lula ao colega Renan seria a de procurar os mecanismos - e principalmente  os atores politicos de centro - com o propósito de reequilibrar essas forças. Segundo informações da revista Veja desta semana- que traz uma matéria sobre assunto assinada pelo jornalista João Pedroso de Campos - entre esses atores priviligiados com os quais Renan manteve tais articulações, estão Michel Temer(MDB-SP) e Gilberto Kassab(PSD-SP). Deixando sempre muito claro que o Mensalão esteve associado ao nosso modelo canhestro e pernicioso de presidencialismo de coalizão.      

sábado, 14 de maio de 2022

Pinga Fogo: As mulheres na campanha presidencial

 


As mulheres dos candidatos terão um papel importantíssimo nessas eleições presidenciais, ou seja, ajudar seus maridos a consquistarem o voto feminino. Michele Bolsonaro, mulher de Jair Bolsonaro, tem se mostrado muito ativa nas redes sociais do marido. A socióloga Janja, que contrai núpcias com Lula nos próximos dias, segundo comenta-se, tem uma participação ativa junto ao comitê eleitoral do futuro marido, fato que já vem criando alguns embaraços para o seu staff político. 

Editorial: O papel do chuchu na paella lulista



Bem-humorado, por ocasião do lançamento da chapa com sua pré-candidatura à Presidência da República, o ex-governador Geraldo Alckmin(PSB-SP) fez brincadeira com o seu apelido - picolé de chuchu - e o nome de Lula, só que, neste caso, numa referência ao molusco. Ele afirmou que chcuchu com lula vai muito bem. Há algumas dúvidas sobre o assunto, principalmente entre os setores mais radicais da agremiação petista, que ainda não digeriram muito bem este cardápio. Há, aqui, uma resistência localizada, que será difícil de contornar. Trata-se da turma da tradicional mortadela com pão, que não suporta o chuchu. 

Não se sabe de onde Geraldo Alckmin tirou essa conclusão de que precisa ser melhor aceito por esses setores, quando o próprio Lula já foi bastante enfático ao tratar deste assunto, ameaçando abandonar, inclusive, a candidatura caso esses problemas não fossem contornados. Os petistas históricos, mesmo a contragosto, teriam que comer a paella lulista com chuchu e pronto. Afastando-se um pouco dessas discussões internas do PT, a grande questão que se coloca diz respeito ao real papel de Geraldo Alckimn nesta composição, depois de emprestar a credencinal da Faria Lima ao petista. 

Lula precisa ampliar sensivelmente seu diáolgo com setores mais ao centro do expectro político e, a rigor, Alckmin poderia cumprir bem esse papel. Assim que estiver reestabelecido da Covid-19, naturalmente. Em princípio, Alckmin não vem se movimentando neste sentido. Tanto isso é verdade que outros atores políticos da confiança de Lula já foram escalados para cumprir tal missão, como é o caso do senador Renan Calheiro(MDB-AL), que recebeu carta branca para essas negociações.

O momento político está bastante tensionado e a palavra "negociação", fundamental no mundo da política, assume um papel crucial neste contexto, hegemonizado por forças conservadoras no Legislativo, que dará o "balizamento" de qualquer governo, mesmo numa eventual vitória do petista. O Centrão governa o país e continuará governando mesmo com Lula na Presidência da República, que terá uma margem de manobra bastante reduzida. É complicada essa engenharia institucional, mas é a que se apresenta.    

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Lula abre 8 pontos de diferença para Bolsonaro em Minas Gerais



Hoje, 14\05, o Instituto Paraná Pesquisas divulgou uma pesquisa de intenção de voto para a Presidência da República, circunscrita ao Estado de Minas Gerais. Como já afirmamos numa outra ocasião, Minas Gerais é o segundo colégio eleitoral do país, sendo, assim, um palco importante para mensurar a temperatura e as tendências de comportamento dos candidatos. Hoje, Minas Gerais é um Estado governado por um político de raízes conservadoras, o Romeu Zema, do Novo, que deve emprestar apoio ao presidente Jair Bolsonaro(PL). 

Lula, por sua vez, não consegue ajustar um eventual acordo com o prefeito de Belo Horionte, Alexandre Kalil, do PSD, candidato ao Governo do Estado. Isso dependeria de um ajuste no plano nacional com o morubixaba da legenda, Gilberto Kassab, que reluta em fazê-lo ainda no primeiro turno das eleições. Mesmo diante de todas essas dificuldades, o eleitorado mineiro segue uma tendência nacional favorável à candidatura do petista. Naquela praça, pela última pesquisa de intenção de voto realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, Lula abre 8 pontos percentuais de diferença em relação ao candidato Jair Bolsonaro. 

Quando esteve em Belo Horizonte,mais recentemente, Lula falou para o "cercadinho", ou seja, a sua base histórica de sustentação política. Alexandre Kalil não compareceu ao evento, pois não quis magoar sua base de apoio parlamentar, que esboça uma tendência em apoiar o nome de Jair Bolsonaro. O "cercadinho', como se sabe, são favas contadas. Para manter esses percentuais e até mesmo para ampliá-lo, Lula, necessariamente, precisa articular-se ao centro do expectro político. De onde se conclui que Kalil seria uma peça chave nessa engrenagem. 

Kassab tentou, sem sucesso, construir uma alternativa política pela terceira via para concorrer às eleições presidenciais. Hábil e paciente como um grande enxadrista, só joga a bóia no momento certo, pois sabe que as recompensas e gratidões seriam bem mais maiores. Por enquanto, vai observando a água do mar revolto bater nas pedras, tentando tirar as suas conclusões da formação das espumas. O problema é que o mar está revolto demais e pode engolir a todos nós.

Lula:  41,6%

Jair Bolsonaro:  33,8%

Ciro Gomes:  6,2%

TSE: Registro BR-09255\2022   

Editorial: A credibilidade dos institutos de pesquisas de intenção de voto.




Fazia algum tempo que este editor lia algo sobre a credibilidade dos institutos de pesquisa. Ao longo dos anos, eles aprimoraram seus métodos de coleta de dados, análise dos resultados,minimizando sensivelmente suas margens de erro. Exceto por um outro candidato que quer aparecer bem na fita de qualquer jeito, no geral, entre a opinião pública e os analistas da área, hoje, o conceito desses institutos estão em alta. Alguns deles possuem espertise de décadas. No passado, o que corroeu essa credibilidade foram as chamadas terceirização das pesquisas nos Estados, por vezes entregues a institutos locais, sem estrutura ou profissionais com a competência adequada para conduzir essas pesquisas. 

Em tese, esse problema também teria sido sanado, quando se sabe, por exemplo, que os "grandes" institutos não mais utilizam ou tomaram as precauções devidas na escolha desses institutos locais. Nos últimos dias, no entanto, a crônica política pernambucana vem noticiando alguns fatos que dasabonam a conduta de alguns desses institutos, como a realização de pesquisas de intenção de voto com valores bem aquém da realidade de mercado, assim como uma tremenda confusão quanto ao preenchimento dos formulários, ora trocando as postulações das candidaturas - candidato a governador que aparece como candidato ao Senado Federal - ora deixando de registrar nomes confirmados na disputa eleitoral. 

Com a nossa experiência, embora tais fatos sejam desagradáveis, eu diria que podem ser postos nas chamadas margem de erro, nada que inspire grandes preocupações. Geralmente, nesses períodos eleitorais, surgem alguns institutos novos, procurando um lugar ao sol nesse mercado tão concorrido. O eleitor já está sensivelmente maduro para separar o joio do trigo, ou seja, as pesquisas sérias e aquelas que sofrem a influência direta do contratante, com claras distorções dos dados apresentados.  

O que nós lamentamos aqui no Estado é que ainda não tenha saído nenhuma pesquisa informando a capacidade de transferência de votos tanto do canddiato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) quanto do seu oponente, o presidente Jair Bolsonaro(PL). Presume-se que pouca coisa Lula poderá fazer para estancar a sangria que passa o candidato socialista, em razão dos inúmeros problemas em sua base aliada, conjugada com o desgaste e avaliação ruim do governo. Soma-se a isso a ousadia da candidata Marília Arraes, do Solidariedade, que retirou Lula para dançar no seu arraial sem pedir licença a Janja. Se ela não pede licença a Janja imagina se irá pedir licença aos seus algozes da política local.     

Charge! Duke via O Tempo!

 


sexta-feira, 13 de maio de 2022

Editorial: "Eleições é assunto de civis e forças desarmadas"




É nos momentos difíceis que identificamos aqueles homens dotadas de espírito público e coragem cívica. Quando do golpe civil-militar de 1964, Dr. Miguel Arraes, então governador do Estado de Pernambuco, se recusou a sair do Palácio do Campo das Princesas pela porta dos fundos, conforme instrução dos militares que o haviam deposto. Saiu pela porta da frente, de cabeça erguida, honrando os milhões de votos dos pernambucanos que o haviam conduzido ao cargo em eleições livres e soberanas. 

Dr. Miguel Arraes nunca se curvou ao arbítrio, deixando uma lição de espírito público e coragem cívica para as novas gerações. Em 1962, setores da Igreja Católica aliados à oligarqguia dos Lundgren, em Paulista - região metropolitana do Recife - moveram montanhas para que os operários não votassem em Miguel Arraes. O então líder sindical Roberto do Diabo furou esse bloqueio. Ele não poderia desonrar esses votos. 

Ao reestabelecer a ordem das coisas no tocante à organização e realização das eleições, o ministro Edson Fachin, que preside o STE, dá uma demonstração inequívoca de coragem cívica e entra na galeria dos homens dotadas de espírito público. O melhor de sua fala recente não é a referência ao papel das Forças Armadas, mas, sobretudo, a sua conclusão de que a democracia vencerá as próximas eleições. Nesses momentos turbulentos que atravessamos - caracterizado por uma baita crise institucional, que ameaça os alicerces do edifício democrático - falas assim contribuem para as reflexões e ações necessários que são exigidas neste momento delicado vivido pelo país, quem sabe, inibindo tentativas de retrocessos políticos. 

O momento é de equilíbrio instável e insegurança institucional. Existe um arranjo antidemocratico em curso que precisa ser contido, assim como ocorreu nas comemorações do último 07 de setembro, quando o ministro Luiz Fux, habilmente, desarmou a bomba. Para ser mais preciso, nossa democracia nunca gozou de uma boa saúde, por razões históricas e sobretudo econômica. Nossas desigualdades econômicas minam constantemente o edifício do arcabouço institucional que dá suporte à democracia política. É preciso superar essas desigualdades, destribuir renda, mas isso dentro das regras do jogo democrático, com eleições livres, soberanas, respeito e equilíbrio entre os três poderes.  

terça-feira, 10 de maio de 2022

Editorial: Lula em Minas Gerais: um olho no padre, outro na missa.



Minas Gerais é o segundo colégio eleitoral do país, perdendo apenas para o Estado de São Paulo. Trata-se de um Estado estratégico para qualquer candidato que deseje viabilizar seu projeto presidencial. Ali, a disputa promete ser acirrada, pois os dois principais concorrentes às eleições presidenciais de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) e Jair Bolsonaro(PL), apresentam um relativo equilíbrio de forças. O governador Romeu Zema, do Novo, que concorre ao Palácio Tiradentes, é um político de perfil conservador, com fortes afinidades com o presidente Jair Bolsonaro. 

Lula tenta um reequilíbrio de forças juntando-se ao ex-prefeito Alexandre Kalil, do PSD, que concorre ao Governo do Estado. O palanque de Lula naquele Estado, no entanto, não estaria rigorosamente montado, uma vez que a formalização de um apoio do PSD ao PT ainda não teria sido definido, fato que poderia ajudar bastante o candidato petista. O enxadrista Gilberto Kassab prepara sua melhor jogada nesse desenlace, maximizando seus dividendos do apoio. Fica evidente que o seu jogo não é conduzido pela ideologia, mas por puro pragmatismo.   

Agora mesmo, por ocasião da visita do morubixaba petista àquela praça, Alexandre Kalil(PSD-MG) não o teria acompanhado. Há rumores de que sua base de sustentação política também não estaria inclinada ao apoio ao candidato do PT. Diante desses impasses, Lula acabou falando para o chamado "cercadinho", ou seja, sindicalistas e lideranças partidárias de sua tradicional base de apoio, o que não acrescenta muito, pois, como se diz aqui no Nordeste, são favas contadas. No caso, votos contados.

Para o desconforto dessa base de apoio histórica, Lula com chuchu passou a ser apenas um aperitivo. O prato principal será bem mais indigesto. Ele precisa ampliar sensivelmente o seu cardápio político para incluir o menu da centro-direita, por mais estraho que isso possa parecer. Tem evitado falar em rever a reforma trabalhista, tampouco menciona a palavra reestatização, com receio de afugentar um eventual apoio do mercado e seus investidores. Há homens de sua estrita confiança, como é o caso de Renan Calheiro(MDB-AL), com a missão de estabelecer essa articulação com atores e partidos da centro-direita.  

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Publisher: This game cannot be one on one. If my team loses, there's zum-zum-zum


It is not good for the health of a democracy to spread false information, casting doubt on the fairness of the results of an election. Worse than that is when voters come to believe in this systematic wave of disbelief about the electoral process. In these post-truth pointy times, lies can become absolute truths, through those expedients that are now so well known and so professionally used.

Once, this editor was in the classroom when several students began to receive, simultaneously, shots from Zap, realizing that a certain priest from a city in Pernambuco was a pedophile. I don't get into the merits of the question - even because some students, of those who didn't believe in hairy legs, were soon leaving such statements under suspicion - but the fact scales the trouble we are in, after such expedients started to be used as a political weapon to destroy the reputation of opponents.

A survey recently released shows that one in three voters began to express suspicion about the fairness of the electoral results. A worrying fact for the health of our representative democracy, as we stated at the beginning. The questioning about the Electoral Justice is an indicator of the terrible moment experienced by our democratic institutions. Free, regular and sovereign elections, with results accepted by the contestants, is one of the indicators that the health of a democracy is going well. When that doesn't happen, something is wrong.

The best example was what happened with the election of President Dilma Rousseff (PT-MG), when the opponent did not accept the sovereign results of the polls and began an exhausting process of political articulation with the purpose of making her government unfeasible, culminating in the institutional coup of 2016. It started school and from there we had no peace, as if repeating the chorus of the popular songbook: "If my team loses, there's zum-zum-zum".

This reminds us of the back-and-forth on the plains of the past, when the opponent did not accept the score of the game and began those inferences about its result, alleging that the referee had failed to award a penalty for his team or expelled a player from the opposing team for an eventual fault committed during the match. Result of all this? Just a tremendous mess created, without anything positive being produced. Our big problem, however, is that there are political actors giving clear demonstrations that they are betting on this chaos.


In the photo above, the elegant Edgar Ferreira da Silva, composer of the song whose chorus is quoted in the editorial.

Um livro-espelho, ou um livro-divã

 

Edição do mês
Um livro-espelho, ou um livro-divã
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(Imagem: Reprodução/ Johann Moritz Rugendas)

 

O soldado antropofágico fica além do universo de obras que se pode resenhar. Não se resume, não se conclui nem se define. Uma obra do tamanho de nossa complexidade e de nossa permanente crise, nossa, de “brasileiros” e “brasileiras”, seja lá o que for isso. Conjunto de reflexões diante do espelho. Conseguimos nos enxergar nesses reflexos? Corre no vulgo que o Brasil não é para amadores – frase que reiteramos enigmaticamente para os gringos. O fundo moral disso rebate nossa complexidade como povo. Hoje, nomeadamente desde o golpe de 2016, vivemos a vertigem da imensa dificuldade – para muitos, como eu, da absoluta incapacidade – de compreensão desse estado de coisas a que chegamos. Ataques cotidianos, inclusive por parte do Estado, aos mais básicos parâmetros de humanidade, urbanidade, civilidade e respeito. Desprezo generalizado à vida, à dignidade, ao outro – “outro” não branco, não macho, não hetero, não rico.

“Como chegamos a isso?” Essa indagação vem a calhar, pois remete aos fundamentos do problema e ao tratamento dado a ele na obra. “Chegamos aqui” no tempo; não se faz sentido desse presente agônico sem observá-lo, mais que no tempo, na longa duração. “Fazer sentido”, exercício hermenêutico, interpretação, como o exegeta interpreta o texto, o jurista a lei face ao caso, o psicanalista o trauma pela narração de si.

Aqui já outra imensa contribuição dessa obra cifrada, que abre questões mais do que as pretende resolver: interpretar o “sujeito Brasil”, atitude intelectual que se insere numa tradição tão importante, hoje abertamente desprezada e atacada por muitos – a do ensaio crítico de interpretação, que produziu a linhagem do “pensamento social brasileiro” ao longo do século 20. Só por essa contribuição, a obra já deve ser bem-vinda. Ab’Sáber, professor e psicanalista, mobiliza no seu ensaio de crítica cultural um patrimônio gigantesco de sonhos e pesadelos, inscritos na história, no direito, na literatura, na música e na cultura em geral.

A profundidade do buraco em que nos encontramos estava a exigir um exercício de pensamento que as abordagens disciplinares convencionais não dão conta. Isoladamente, antropologia, sociologia, estudos literários, a própria psicanálise, tampouco a disciplina histórica, conseguem mobilizar tantos e tão diversos elementos numa mesma equação para tentar fazer sentido do nosso tempo, do não lugar a que chegamos. A história talvez guarde a chave mais importante da decifração de nossa esfinge, mas tampouco ela seria capaz de montar a equação sozinha. Embora Tales tenha sacado e nos ofereça no livro a importância da persistência, da quase invariância de algumas estruturas sociais e mentais de longa duração, forjadas historicamente na própria constituição da sociedade escravocrata que ainda somos. Isso por um lado. Por outro, nossa insistente prática do veto à enunciação, a persistência do não dizer, a sublimação do outro, a não presença em seu silenciamento, humus da subjetivação biopolítica do Brasil.

A exegese do paciente Brasil no divã de Tales põe em revista conceitos que aqui perderam – ou ganharam – sentidos outros, como, em especial, o de “modernidade”, produtor, desde os turvos inícios da nação-Estado, do autorretrato distorcido da elite escravocrata brasileira, que se via europeia e civilizada ao promover a recusa simbólica de ativamente não dizer a realidade que a sustentava, não enunciar a escravidão. Elite que, na primeira metade do século 19, conseguiu produzir uma não literatura, ou uma literatura de formas vazias, desconectas do tempo. A escravidão e os escravizados, por essa época, só ponteavam nos códigos legais, criminais. Foi como se o final da Guerra do Paraguai tivesse despertado o escritor brasileiro para o fenômeno da escravidão, que, no entanto, era quase toda a vida ao redor.

Elite – precisamos falar de nossas elites, passadas e presentes! – que, encampando as abstrações das fórmulas do amor romântico importadas, se esmerou desde o início a recalcar o erotismo criativo da cultura popular. A polícia foi braço forte e mão nem um pouco amiga para perseguir fados e lundus, capoeiras e candomblés, quaisquer sinais de vida criativa que brotasse nas ruas pretas das cidades brasileiras. Reprimindo o erótico e o alegre, essa classe “civilizada” foi-se fazendo pobre, triste, casmurra, doente. Talvez a realidade da escravidão, sustentáculo de sua riqueza, prestígio e poder, fosse-lhe tão insuportável, que essa elite adotou o dispositivo de não ver ou, ao menos, não dizer a própria realidade – ou ao menos mantê-la na distância contemplativa, sem qualquer vínculo de empatia real.

No máximo, a arrogância do pietismo patriarcal, tão bem expressa em autores escravistas que saíram do armário depois dos anos 1870, como José de Alencar, para quem a massa miserável de escravizados não fazia jus à benevolência paternal que lhes devotava a beata classe branca proprietária – nossa voluntariamente alienada elite, criticada na literatura por Antonio Candido e no cinema por Paulo Emílio; elite que se ufana da própria ignorância, da boçalidade do mal, em seu total descompromisso com a inteligência.

Tales percorre esse vasto menu de iniquidades e recalques mobilizando com equilíbrio e sensibilidade a melhor e a pior expressão da cultura nacional, ou de estrangeiros que experimentaram desse caldo, de Schlichthorst e Fernand Denis a Tom Jobim e os tropicalistas, de Tomás Antônio Gonzaga e Santa Rita Durão a Mário de Andrade, de Debret a Glauber Rocha, de Januário da Cunha Barbosa a Paulo Emílio Salles Gomes e Anna Muylaert, e por aí afora e adentro. Isso em fino diálogo com os mestres de nossa crítica cultural e exegetas do Brasil, como Joaquim Nabuco, Faoro, Florestan, Freyre, Sérgio, Prado Jr, Veríssimo, Antonio Candido, Bosi, Wisnik, Paulo Arantes, Saffioti, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales, Leda Martins e, o interlocutor entre interlocutores, Roberto Schwarz. A referência à melhor historiografia, outro traço marcante da obra, vem de braços dados com um seleto escol de pensadores, dos clássicos como Weber, Marx e Foucault aos pós-coloniais como Mbembe a Angela Davis.

Nesse itinerário de longa duração, Tales inscreve questões centrais como nossa histórica e proverbial dificuldade de simbolização da escravidão e seus males, nosso recalcitrante negacionismo, o “pacto do silêncio estrutural” a respeito da escravidão, nosso insuperável anti-intelectualismo, sexismos, racismos, tão evidentes nestes dias de paupéria. Esse livro não se escreveria em outra forma que o ensaio. Como aqui forma e conteúdo se fundiram tão bem! Vem-me imediatamente “O ensaio como forma”, de Adorno. Busca da liberdade. Tudo aquilo que é do ser humano, do espírito, da vida, não cabe em qualquer fórmula, nem na rigidez artificial do raciocínio dedutivo. É preciso desejar a liberdade. E o caminho da redenção está na forma de expressão libertária do ensaio. Monsieur de Montaigne é persona non grata no círculo apolíneo da ciência. É preciso inocular a irresponsabilidade do livre pensamento pulsional no quartel general da doxa, nessa empresa produtora e reprodutora de lugares comuns que se perpetua na observação escrupulosa de suas regras internas de legitimação, com um toque retrógrado de corporativismo, rendida e vendida à cultura oficial. O ensaio se realiza plenamente nessa obra.

Poucos capítulos da história intelectual brasileira conseguiram extrair tanto sentido de um acontecimento fortuito, o encontro de uma beldade escravizada cheia de bossa, vendedora de doces nas ruas do Rio de Janeiro, com o viajante estrangeiro arguto e encantado, que deixou desse encontro o precioso registro, matéria prima trabalhada por Tales.

Depois de O soldado antropofágico, o que faltará ser dito para que nós, brasileiros de hoje, despertemos do sono letárgico das fabulações escravocratas da docilidade paternalista, da candura cristã, da dignidade concedida, da afabilidade superior, para conseguirmos enxergar enfim que o pesadelo não acabou, de que a escravidão não é passada, mas viva e presentemente reiterada na exploração dos corpos, na privação dos direitos, na violência cotidiana do Estado e da minoria branca privilegiada contra esse outro que grita e chora, mas que não se ouve, que gesticula e sangra, mas que não se vê? Faltava dizer-se aquilo que se não dizia, sobretudo das elites escravocratas de ontem e de hoje. Não falta mais. Tales o enunciou, afinal.

 

Jurandir Malerba é historiador, professor titular livre na UFRGS, autor de, entre outros, A corte no exílio: civilização e poder no Brasil às vésperas da independência (1808–1821).

(Publicado originalmente no site da revista Cult)

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: O contorcionismo político de Marília Arraes

 



Desde as eleições municipais de 2020, quando perdeu para o candidato João Campos(PSB-PE), que já foi possível perceber o contorcionismo político da Deputada Federal Marília Arraes(SD-PE). No segundo turno daquelas eleições, a então candidata recebeu apoios significativos de forças conservadoras que já esboçavam uma reação oposicionista ao governo do PSB. A montagem dos palanques estaduais tem sido uma dor de cabeça para muitos presidenciáveis. Para todos eles, para ser mais preciso. Quem, entre eles, não enfrenta alguma dificuldade em maior ou menor proporção? 

Figuras ilustres e viáveis eleitoralmente, por exemplo, já foram sacrificadas em nome da prioridade do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em razão dos arranjos políticos nas quadras estaduais; Um certo capitão bolsonarista lidera todas as pesquisas de intenção de voto no Ceará, reduto político do candidato do PDT, Ciro Gomes. Os palanques estaduais do candidato João Dória(PSDB-SP) é uma grande incógnita. Aqui em Pernambuco, Lula tem dois palanques para dar assistência. Um oficial e um oficioso, mas com melhores chances eleitorais. O candidato do PSB, Danilo Cabral(PSB-PE), enfrenta um inferno astral, sem contar com o apoio efetivo dos atores que poderiam dar suporte a sua campanha. Não consegue decolar nas pesquisas de intenção de voto, com alguns observadores ja prevendo uma crônica de uma derrota anunciada. 

Antecipando-se a um possível revés eleitoral, partidos da base aliada já estão deixando o barco antes do naufrágio, como é o caso do PP, do Avante, Pros e PSD. Algumas dessas lideranças, no plano nacional, estão na base aliada do presidente Jair Bolsonaro, mas, num cáulculo frio das chances eleitorais, desembarcaram no palanque de Marília Arraes, como é o caso do Deputado Federal Eduardo da Fonte, do PP, que deverá assumir a coordenação de sua campanha, assim como o também Deputado Federal Sebastião Rufino, do Avante, que deverá ser o candidato a vice em sua chapa. 

André de Paula, do PSD, poderá vir a ser o candidato ao Senado Federal na chapa encabeçada por Marília Arraes, embora ela negue essa possibilidade. Marília empreende um verdadeiro contorcionismo político para celebrar tais alianças com forças políticas conservadoras sem perder seus vínculos orgânicos com os setores progressistas do Estado, que sempre emprestaram apoio aos seus projetos políticos. Dr. Miguel Arraes, eleitoralmente, seguia uma linha semelhante, mas, programaticamente, sempre mantinha uma cota de atendimento às demandas dos setores mais socialmente fragilizados do Estado. Convém que Marília saiba resolver bem essa equação.   

Editorial: A volta do Lulinha paz e amor



Dizem que as coisas não estão nada boa no staff de campanha do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP). As reorientações de diretrizes comportamentais do candidato - cujo discurso lido no lançamento de sua pré-campanha é um exemplo - decorre de uma série de ajustes para evitar que ele tropeçe novamente nas palavras e cometa novos sincericídios, como o anúncio da demissão dos militares em cargos comissionados e a posição sobre os policiais. A briga é feia nos bastidores. 

Cabeça estão rolando, enquanto novos atores assumem missões estratégicas na campanha. A ideia é a de adequar o discurso do candidato consoante o momento da campanha, que indica uma recuperação do candidato Jair Bolsonaro(PL), assim como um acirramento de ânimos, que envolve a tensão entre os Três Poderes e a temperatura nas casernas. Ainda bem que eles tem sido francos em relação ao assunto, como na afirmação do ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, de que se Lula vencer, não teremos um Governo do PT. Na realidade, meu caro Wagner, nunca tivemos e dificilmente o teremos nesses dias de turbulências políticas que enfrentamos. 

Neste caso, talvez a grande conquista, no momento, seria restituir a saúde de nossas instituições democráticas e evitar um mal maior. Como tenho afirmamdo por aqui, nossas instituições democráticas já atingiram um certo grau de comprometimento e estão ameaçadas. Se possuem tecido suficienete para reagir aos assédios é uma outra questão. Torçamos que sim. Torçamos para que o tecido já não esteja "puído", como se dizia em nossa época de menino. É triste a constatação de que a nossa democracia padece de um mal eterno de amadurecimento, incapaz de suportar as reformas de um governo de perfil progressista. 

Neste caso, depois da conformação partidária formada pela janela, se Lula vencer essas eleições, terá uma base congressual extremamente hostil para enfrentar, que poderá dificultar enormemente o seu governo. Em relação a ex-presidente Dilma Rousseff(PT-MG), como se sabe, aplicou-se um torniquete político que acabou estrangulando o seu governo, com o golpe institucional de 2016. Essa insegurança democrática é uma constante no país. Infelizmente.    

Charge! Via Folha de São Paulo

 


sábado, 7 de maio de 2022

Editorial: Lula com chuchu vai bem?



O novo staff de campanha de Lula preparou um discurso sob medida não apenas para a ocasião de lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República, ocorrida no dia de hoje, mas para o momento político delicado que o país atravessa, num embate nada saudável entre os três poderes. Diríamos que a estratégia de campanha, hoje, seria tornar o Lula mais comedido em suas falas, assim como ampliar o arco de alianças ao centro do espectro político. Neste sentido, traçar uma Lula com chuchu seria apenas um aperitivo, um prato de entrada, mesmo que indigesto para alguns setores mais conservadores da agremiação petista. O próprio Geraldo Alckmin vem sendo cobrado neste sentido, ou seja, se faz necessário ampliar esse diálogo com o centro, ao invés de tentar agradar o cercadinho lulista, que não o digere. Vão sempre preferir o sanduba de martadela com pão.   

Para esses setores, Lula sem chuchu seria bem mais gostoso, mas o que fazer diante do contexto político que se apresenta, onde idealizações e chapas puro-sangue pela esquerda são inviabilizadas numa competição eleitoral com características bastante particulares, onde tudo parece ser um favor ou uma concessão dessas elites? A experiência nos mostra que muitas reformas deixarem ser feitas durante os Governos da Coalizão Petista exatamente em função dessa conformação de forças. Nem mesmo em relação à reforma agrária tivemos avanços significativos. 

Agora, não será diferente, a despeito dos alertas da ex-presidente Dilma Rousseff(PT-MG), que afirmou que Lula já leva a tiracolo o seu Michel Temer. Não é improvável, sobretudo num contexto onde os resultados do pleito estarão sempre sob suspeita, em razão dos ataques sistemáticos ao processo de apuração. Como afirmamos por aqui, um em cada três eleitores já acreditam na possibilidade de fraudes eleitorais. Nossa democracia representativa já sofreu um dano irreparável diante dessas pregações levianas. 

Há de se considerar o fato, inclusive, de que a base de sustentação política do Governo Bolsonaro estar bastante azeitada com a migração de parlamentares durante a vigência da janela partidária. Aqui se perdeu o primeiro round. Mesmo eleito, Lula teria grandes dificuldades de tocar o seu governo. Como bem observou o ministro do STF, Edson Fachin, hoje na presidência do STE, nossa democracia encontra-se bastante chamuscada, diante dessas refregas de corte autoritário.  

Editorial: A eleição do carrinho de supermercado



Já faz algum tempo que não escuto o carro do ovo passar por aqui. E, quando ele passa, os números relacionados ao preço da bandeja já são outros, sempre acima dos R$ 10,00, atingindo a cifra de R$ 15,00 da última vez, um sonzinho desagradável para os ouvidos e, mais ainda, para o bolso. O bairro deste editor é considerado de classe média, mas o carro não distingue classe social para vender seus produtos. Trabalho no bairro de Casa Forte, onde reside a elite recifense, e, não raro, escuto o som dos seus potentes microfones por ali. Num pequeno espaço de tempo, houve um aumento de 50% do produto. A bandeja com 30 ovos chegava a ser vendida por menos de R$ 10,00. 

O ovo passou a ser uma alternativa protéica de baixo custo, nesses tempos de vacas magras.Protéica e democrática, já que, como se sabe, tal alternativa - antes talvez circunscrita aos mais pobres - atingiu em cheio a classe média, bastante fragilizada pelo achatamento ou perda de poder de compra dos salários. O cardápio vem mudando bastante para este segmento social nos últimos tempos: Carne enlatada - que, de carne, tem muita pouca coisa -, pés e pescoço de frango para engordar a canja. Tomando sempre os cuidados para não se engasgar,assim como aquela apresentadorea de TV.Não precisamos mencionar os preços de outros produtos da cesta básica por aqui, uma vez que os nossos leitores fazem feiras, vão aos supermercados e estão sentido o peso desses preços nos seus orçamentos. Bifes, hoje, já não se compra pelo peso, mas por quantidade. Um para a esposa e outro para o marido, de preferência nos almoços especiais dos domingos. 

Toda essa fala inicial é apenas para comentar sobre os reultados da última pesquisa de intenção de voto realizada pelo Instituto IPESPE, do cientista político pernambucano, Antonio Lavereda. Embora o Paraná Pesquisas tenha aventado a possibilidade de um eventual empate técnico entre os candidatos Jair Bolsonaro(PL) e Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), o IPESPE ainda reserva uma diferença de 13 pontos percentuais entre ambos, embora confirme alguns dados alvissareiros para a candidatura de Jair Bolsonaro, como numa constante recuperação em termos de avaliação de governo. 

O mais importante nessa discussão, é a afirmação do cientista político, consultado pelo jornalista Matheus Leitão, de Veja, de que, naõ importa as bravatas, tampouco os eventuais escorregões cometidos pelo ex-presidente Lula em sua entrevista à revista americana Time. Quem irá decidir essas eleições presidenciais é mesmo o humor dos brasileiros na hora de pagar a conta do carrinho de supermercado na boca do caixa, confirmando o argumento do próprio cientista político de que nenhum Governo permanece imune às altas taxas de inflação. 

Charge! Mor via Folha de São Paulo

 


Editorial: Esse jogo não pode ser um a um. Se o meu time perder tem zum-zum-zum.

 

Não é nada bom para a saúde de uma democracia a disseminação de informações falsas, pondo em dúvidas a lisura dos resultados de uma eleição. Pior do que isso é quando os eleitores passam a acreditar nessa onda sistemática de descrença sobre o processo eleitoral. Nesses tempos bicudos de pós-verdade, mentiras podem-se tornar verdades absolutas, mediante aqueles expedientes hoje tão bem-conhecidos e profissionalmente tão bem-utilizados. 

Certa vez este editor estava em sala-de-aula quando diversos alunos passaram a receber, simultaneamente, disparos de Zap dando conta de que um tal padre de uma cidade pernambucana era pedófilo. Não entro no mérito da questão - até porque algumas alunas,  dessas que não acreditavam em pernas cabeludas, foram logo deixando sob suspeita tais afirmações - mas o fato dimensiona a encrenca em que estamos metidos, depois que tais expedientes passaram a ser usados como arma política para destruir a reputação dos adversários.

Uma pesquisa divulgada recentemente aponta que um em cada três eleitores passaram a manifestar suspeição sobre a lisura dos resultados eleitorais. Um dado preocupante para a saúde de nossa democracia representativa, como afirmamos no início. O questionamento sobre a Justiça Eleitoral é um indicador do péssimo momento vivido por nossas instituições democráticas. Eleições livres, regulares e soberanas, com resultados acatados pelos competidores é um dos indicadores de que a saúde de uma democracia vai bem. Quando isso não ocorre, algo está errado. 

O melhor exemplo foi o que ocorreu com a eleição da presidente Dilma Rousseff(PT-MG), quando o oponente não aceitou os resultados soberanos das urnas e começou um desgastante processo de articulação política com o propósito de inviabilizar o seu governo, culminando com o golpe institucional de 2016. Fez escola e de lá cá não tivemos mais sossego, como que repetindo o refrão do cancioneiro popular: "Se o meu time perder tem zum-zum-zum". 

Isso nos faz lembrar das peladas dos campos de várzea de antigamente, quando o adversário não aceitava o placar do jogo e começava aquelas ilações quanto ao seu resultado, alegando que o juiz havia deixado de marcar um pênalti para o seu time ou expulsado um jogador do time adversário por uma eventual falta cometida durante a partida. Resultado de tudo isso? Apenas uma tremenda confusão instaurada, sem que nada de positivo seja produzido. O nosso grande problema, no entanto, é que há atores políticos dando demonstrações claras de que apostam nesse caos. 

Na foto acima, o elegante Edgar Ferreira da Silva, compositor da música cujo refrão é citado no editorial.   

terça-feira, 3 de maio de 2022

Editorial: A incontinência verbal de Lula



Por razões compreensíveis - sobretudo  para não dar munição aos adversários, que já estavam sugerindo um eventual ministério para ele - o ex-ministro José Dirceu tem sido mantido afastado da campanha de Lula. Afastado - registre-se - até certo ponto, uma vez que o seu capital político permite um trânsito livre entre o ex-presidente e os seus principais assessores. Afinal, quem teria coragem de barrar José Dirceu? É com esta desenvoltura - mesmo que discreta - que o ex-homem forte do Governo Lula procura aconselhar o petista no tocante aos rumos de sua campanha presidencial deste ano. 

Observamos que todas as ponderações que estão sendo dirigidas à campanha do ex-presidente Lula convergem num ponto: Há um sério problema de comunicação. Seja no excesso - ou na incontinência verbal, para ser mais preciso - seja na ausência, como a incipiente e preocupante presença de Lula nas mídias sociais, onde o adversário ganha de braçadas, com a espertise, embora eivada de controvérsias, acumulada desde as eleições passadas. A distância dos perfis do ex-presidente para o candidato Jair Bolsonaro(PL) nas redes sociais é quilométrica e é pouco provável que ele consiga equilibrar o jogo por ali antes de outubro. 

Faz sentido, portanto, uma preocupação manifestada pelo escritor Paulo Coelho neste sentido, ao afirmar que Lula precisa ser mais contido em suas falas, assim como assumir um melhor protagonismo nas redes sociais. As ponderações de José Dirceu, de alguma forma, também esbarram num problema de comunicação. Embora afirme que Lula precisa agilizar as definições dos palanques estaduais, a outra observação do ex-ministro José Dirceu também diz respeito ao fato de que ele precisa dizer para a população como seria um governo do PT, estabelecendo um contraponto em relação ao presidente Jair Bolsonaro.

Lula, de fato, parece estar tendo alguns problemas com a incontinência verbal. Não bastassem as falas sobre o aborto, sobre a classe média e os militares - há algumas semanas atrás e que tiveram uma repercussão bastante negativa - sua última fala envolveu os policiais. Sobre esta categoria, ele chegou a externar um pedido de desculpas durante as manifestações do primeiro de maio. Esses sincericídios provocaram um verdadeiro rebuliço no seu staff de campanha, onde algumas mudanças substantivas estão ocorrendo, com o objetivo de frear esse ímpeto do ex-presidente.  

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: A implosão da Frente Popular.




O consultor e articulista da revista Veja, Thomas Traumann, fazendo uma análise sobre as pesquisas de intenção de voto, afirmou que a pesquisa mais importante se daria por ocasião do fechamento da janela partidária, onde o feeling dos atores políticos seria direcionado para os partidos ou candidaturas presidenciais que pudesem viabilizar suas chances de se reelegeram. Neste sentido, os partidos da base aliada do presidente Jair Bolsonaro teriam vencido o primeiro round em relação aos partidos ou candidatuaras de centro-esquerda, como é o caso da do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP). Partidos como o PL, o PSL, Progressistas e Republicanos, que são da base aliada do presidente, foram os que mais ganharam a adesão de deputados. 

Essa digressão é com o objetivo de entender o que  poderia estar ocorrendo com a Frente Popular aqui em Pernambuco, que atravessa um processo nítido de implosão. Confirma a tese acima a afirmação do Deputado Federal Eduardo da Fonte(PP-PE), que, ao emitir claros indícios de que poderá compor o palanque da candidata Marília Arraes ao Governo do Estado, pelo Solidariedade, informar que sua preocupação seria com a bancada de deputados estaduais e federais e não ocupar algum espaço na chapa. Na realidade, o desembarque é o tempo suficiente para arrumar as malas. Não existe mais clima para Eduardo da Fonte continuar na Frente Popular, depois dos duros pronunciamentos públicos do Deputado Federal Milton Coelho(PSB-PE), um fiel escudeiro socialista, do núcleo duro do ex-governador Eduardo Campos. 

No seu projeto até certo bem-sucedido de tornar-se hegemônico politicamente aqui no Estado, o ex-governador Eduardo Campos, em alguns momentos, entrou em rota de colisão com Eduardo da Fonte, que sempre seguiu numa raia própria, com uma base bem azeitada de prefeitos e parlamentares. Como disse antes, ele possui uma penca de prefeitos no seu grupo político, o que lhes faculta autonomia e barganha nas negociações políticas. Naquele momento, a situação foi "acomodada" porque não seria conveniente afastar-se da base de apoio do governador Eduardo Campos. Hoje, os tempos são outros. A Frente Popular enfrenta uma profunda crise. Seus governantes carecem de boas avaliações, enfrenta o desgaste da fadiga de material e a ausência de bons remadores para tocar o barco. Demoraram uma eternidade para bater o martelo sobre um nome para compor a chapa do candidato ao Governo do Estado, Danilo Cabral, como candidato ao senado federal. Quando optaram pelo nome de Teresa Leitão(PT-PE), o desgaste já estava consolidado, provocando mais uma defecção, desta vez do Deputado Federal André de Paula(PSD-PE), que poderá concorrer ao mesmo cargo, só que na chapa da candidata Marília Arraes, do Solidariedade.

Pelo menos o Deputado Federal André de Paula tem sido mais discreto ao tratar sobre o seu destino. Sabe-se de suas pretenções de candidatar-se ao Senado Federal, projeto que já conta com o apoio do Eduardo da Fonte. Em razão de suas ligações com a Deputada Estadual Priscila Krause, a tendência maior é que ele estreite os laços com Marília Arraes, que passsou a liderar as pesquisas de intenção de voto para o Governo do Estado. Há outras possibilodades de mais defecções na Frente Popular, como a do Deputado Estadual Sebastião Oliveira, do Avante, mais conhecido como Sebá. A Frente enfrenta um momento delicado. 

A vida nos engenhos de açucar - a partir da leitura de José Lins do Rego.