O terceiro Governo Lula enfrenta inúmeros dilemas. Alguns deles se impõem e não poderiam serem evitados, como esta tarefa hercúlea de preservar as condições mínimas de governabilidade, cedendo aos achaques do Centrão. Por outro lado, é preocupante a estratégia de se estabelecer relações de proximidades demasiadas com os militares. Isso não é bom para nenhum governo, como, aliás, também não seria de bom alvitre para os militares esse envolvimento orgânico com a política. A situação ideal seria eles voltarem para caserna, cuidarem de seus afazeres específicos e deixaram a política de lado. O ônus de terem integrado o Governo Bolsonaro foi pesado demais. Mesmo em se tratando de questões pontuais, maculou a imagem da instituição, como evidencia uma pesquisa encomendada recentemente.
Como a relação entre civis e militares no país nunca foi uma questão definitivamente pacificada, a nossa presunção é que o cálculo estabelecido pelo governo é no sentido de evitar complicadores institucionais. Não vamos usar a palavra "golpe" para não melindrar. Apostamos na hipótese de ele está apenas prospectando o terreno, esperando o momento mais adequado para estabelecer essa distância regulamentar, que se impõe como absolutamente necessária. O governo anterior tinha objetivos claríssimos para alguns setores militares, suscetíveis às rupturas institucionais, como a cada dia fica mais evidente.
Talvez possamos aqui mexer num vespeiro, mas um bom teste será a resposta do Governo a um pleito de melhoria salarial da caserna. Os militares tiveram recomposições salariais regulares durente o Governo Bolsonaro, mesmo nas circunstâncias especiais do período mais crítico da pandemia, quando os demais servidores públicos foram ao sacrifício. Antes de mais nada, o Governo Lula precisa corrigir as injustiças contra algumas categorias de servidores do Poder Executivo, que chegaram a amargar sete anos sem reajustes, com perdas que chegaram a quase 60%.
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