pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: A banalização do mal.
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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Editorial: A banalização do mal.



Uma expressão bastante recorrente nos textos do escritor tcheco Franz Kafka é: "sob certos aspectos". Não sabemos se se trata de um problema de tradução dos seus livros para a língua portuguesa, mas a expressão é demasiadamente recorrente e, de alguma forma, surpreende num escritor com os qualitativos do autor de A metamorfose. A impressão que passa é que ele utilize a expressão intencionalmente para dá ênfase à narrativa em alguns momentos específicos do texto. Vamos utilizá-la por aqui para enfatizar que, sob certos aspectos, o bolsonarismo nos fez muito mal. 

Ou, para sermos mais precisos, banalizou o mal na sociedade brasileira, se queisermos fazer alguma analogia com a filósofa Hannah Arendt. Vamos fazer aqui, no entanto, uma ponderação necessária. Os males produzidos pelo bolsonarismo são inerentes à sociedade brasileira. Era esta a advetência de uma socióloga, respondendo àqueles que procuravam entender a origens ou a razão da ascendência desse projeto macabro do bolsonarismo entre nós. Na realidade, o bolsonarismo possui uma esponja de permeabilidade bastante razoável numa sociedade como a nossa, caractetizada pelas profundas desigualdades sociais,  por um racismo estrutural e dada às práticas genocidas, como ocorreu com os povos originários e com os negros. 

Se aparece uma besta fera do apocalípse disseminando essas teses, as esponjas serão facilmente encharcadas. Eles avançaram ou ocuparam algumas casas na sociedade brasileira e será um tarefa hercúlea fazê-los recuar. Nas últimas eleições presidenciais quem determinou as armas foi o bolsonarismo. Muita gente boa do campo progressista se recusou a adotar as mesmas práticas. Pelas redes sociais, vamos ser francos, os gabinetes do ódio não apresentavam muita diferença. Procedem, neste sentido, algumas críticas de bolsonaristas em relação a este assunto. Com tais procedimentos, perdeu a sociedade brasileira. 

Práticas assediativas durante o bolsonarismo se tornaram recorrenes dentro das instituilões públicas federais brasileiras. Em alguns casos, a prática parece que enraizou-se mesmo sob a gestão do PT. O aparelhamento político da burocracia também produziu seus efeitos nocivos, como os casos e espionagem ilegal da ABIN paralela, o desmonte de instutições como a FUNAI, militarizada e atuando contra seus princípios norteadores iniciais. O indigenista Bruno Pereira foi morto enquanto cumpria suas missões institucionais, ou seja, lidava com a questão das comunidades originárias que ainda não tinham contato com o mundo "civilizado". 

Na região onde ele atuava, em alguns casos, o Estado perdeu completamente o controle da situação. São terras controladas pela bandidagens, em alguns casos, sob os auspícios das autoridades de Estado, que deveriam fazer cumprir seu papel de servidores públicos. Ali predomina a exploração do garimpo ilegal, tráfico de madeiras, contrabando de armas, pesca ilegal em reservas indígenas, entrada de drogas no país. Até recentemente, um general do Exército foi preso depois que se comprovou seu envolvimento com os garimpeiros ilegais que atuavam na área. O drama enfrentado pelos povos Yanomamis está relacionado a essa questão. As autoridades de Estado não conseguiam passar com medicamentos para atender aos indígenas.

Agora são os constrangimentos ou assédios explícitos verificados em logradouros públicos que se tornaram frequentes. O ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, outro dia, precisou alterar o seu voo, em razão das hostilidades provocadas pelos bolsonaristas. Situação semelhante foi reservada ao Ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, agredido virulentamente enquando transitava no hall do Aeroporto de Brasília. Os bolsonaristas também têm suas queixas, como o Deputado Federal Nikolas Ferreira, agredido nos corredores da Câmara dos Deputados, que precisou recorrer à Polícia Legislativa para prender o agressor por injúria e difamação. Preso em flagrante delito, o que deve agravar sua situação.  

Isso foi o suficiente para, infelizmente, explodir as redes sociais com petistas repetindo os bordões que o rapaz havia afirmado. Muita calma nesta hora, para não sermos igualados nessas atitudes rasteiras. Os petistas precisam tomar muito cuidado com isso. Não fica bem estarmos reproduzindo essas práticas pelas redes sociais, dando margem às  críticas bolsonaristas.   

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