pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : maio 2022
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terça-feira, 31 de maio de 2022

Editorial: As dificuldades de Bolsonaro com as pesquisas de intenção de voto.


Na ponderação do agregador de pesquisas - realizado a partir dos dados das principais pesquisas de intenção de voto, produzidas até este momento, acerca da corrida presidencial, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) abre 16 pontos de diferença em relação ao seu principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro(PL). Não se trata de uma simples média aritmética, porque tal agregador considera vários fotores para construir esse indicador, como, por exemplo, o universo pesquisado pelo instituto, método utilizado, além de outros fatores. Uma matéria sobre este assunto foi publicada numa das edições da Revista Carta-Capital, embora careça de informações mais consistentes sobre a que conclusões poderemos chegar a partir dessa informação. Para este editor, trata-se de um indicador novo, sobre o qual confessamos nosso desconhcimento do assunto.  

Neste momento - ou na fotografia do momento - a  liderança de Lula parece consolidada, inclusive com a eventualidade de vencer as eleições presidenciais ainda no primeiro turno, de acordo com os números apresentados por um dos institutos, o Datafolha. A pesquisa do Datafolha foi importante, porque indica que o petista teria herdado um percentual expressivo dos votos do ex-governador João Dória, que desistiu da disputa. Na verdade, a expressão mais correta seria: fizeram-no desistir da disputa. 

Mais do que isso, pode indicar que Lula estaria avançando sobre um eleitorado de centro, mais ponderado, menos infenso ao radicalismo,consoante parece ser a estratégia de seu staff de campanha, que anda pontuando suas falas para não ferir as susceptibilidade desses segmentos do eleitorado. Conforme observa o jornalista José Casado, colunista da revista Veja, é este eleitor que deve decidir as próximas eleições presidenciais. Bolsonaro teria uma das missões mais árduas pela frente, ou seja, superar as altas taxas de rejeição e os intermitentes problemas econômicos, responsável pela alta dos preços, dos combustíveis, do desemprego. O Auxílio Brasil não conseguiu a proesa de estancar a sangria.  

No final, o nosso reconhecimento ao brilhante texto da coluna de 29\05, do Blog do Magno Martins, onde ele, corajosamente, aponta os responsáveis por mais uma tragédia que se abateu sobre o Recife e região metropolitana em razão das fortes chuvas dos últimos dias. Uma reportagem do Jornal Nacional mostrou os diversos momentos em que os recifenses tiveram que se deparar com o problema ao longo de décadas, sem que medidas concretas fossem tomadas para enfrentar, de fato, o problema dos pernambucanos que são contingenciados a residirem em áreas de risco pela ausência de políticas habitacionais que lhes facultem uma moradia digna. 

sábado, 28 de maio de 2022

Editorial: Petistas com o Datafolha, Bolsonaristas com o IPESPE



Numa fala recente, Lula teria feito uma brincadeira com o presidente Jair Bolsonaro, a partir dos resultadas da pesquisa de intenção de voto divulgada recentemente, onde ele abre 21 pontos de diferença em relação ao oponente, podendo vencer as eleições ainda no primeiro turno. Lula brincou que, naquela noite, uma quinta-feira, Bolsonaro não teria conseguido atingir o tão esperado sono. A referência de Lula foi a pesquisa do Instituto Datafolha. Salvo melhor juízo, não houve revide do presidente, mas os bolonaristas passaram a festejar uma outra pesquisa de intenção de voto, desta vez produzida pelo IPESPE do cientista político pernambucano Antonio Lavareda, onde a difença entre ambos caía para a metade, ou seja, 11 pontos percentuais. Lula aparece com 45% e  Bolsonaro com 34%. 

Como observou o colunista da revista Veja, Robson Bonin, na coluna Radar,  é árdua a missão desses institutos de pesquisa em anteciparem os eventuais resultados das eleições de outubro, quando o eleitor decidirá seu voto na solidão das urnas. O presidente Jair Bolsonaro vinha num ritmo de recuperação gradual e seguro até mais recentemente. De fato, deve estar dando um nó para o seu staff político identificar as causas dessa estagnação nas pesquisas de intenção de voto, mas é muito simples. 

O país vive uma crise institucional e política - envolvendo os três poderes da república e, em alguns casos, até a caserna - mas, a rigor, o peso maior dessa insatisfação de parte do eleitorado com o Governo Jair Bolsonaro tem a ver com a quadra econômica, marcada pela alta dos preços de gêneros alimentícios básicos e dos combustíveis, o desemprego, que ora corrói os salários ou, no limite, joga milhões de pessoas na condição de insegurança alimentar. Já são 76 milhões de pessoas neste patamar, um número escandaloso. Segundo comenta-se o Centrão já estaria elaborando um plano para sanar esses obstáculos que estariam impedindo uma melhor performance do presidente nas pesquisas de intenção de voto.

Realmente, como observa o colunista, não é fácil a vida desses institutos de pesquisa. Em anos anteriores, o Datafolha - hoje festejado - já foi demonizado pelos petistas, quando trazia números não favoráveis aos seus postulantes. As paixões não permitem a insenção necessária por parte da militância partidária. Os números do Datafolha foram solenemente ignorados pelos bolsonaristas mais radicais, aqueles que descrêem desses números argmentando que a verdadeira pesquisa aparecerá nas urnas, em outubro de 2022. A bronca é esses bolsonaistas radicais aceitarem tais resultados, caso eles vierem mesmo a confirmar os institutos de pesquisa.

Charge! Via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 26 de maio de 2022

Editorial: Lula pode liquidar a fatura ainda no primeiro turno, segundo o Datafolha.



A jornalista e articulista da revista Veja, Clarissa Oliveira, chamava a atenção dos leitores em torno da próxima pesquisa de intenção de voto do Instituto Datafolha,divulgada hoje, 26\05, que seria fundamental para entender a dinâmica do voto do eleitorado, sobretudo depois da rearrumação nas candidaturas do pelotão da terceira via. Ciro não consegue construir essa identidade de terceira via; João Dória(PSDB-SP) desistiu da candidatura depois dos problemas enfrentados no próprio ninho tucano; Simone Tebet(MDB-MS) ainda é uma ilustre desconhecida do eleitorado. A conclusão é que, sem alternativa pela terceira via, Lula poderá liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Nesta pesquisa, Lula crava 48%, enquanto Bolsonaro pontua com 27% das intenções de voto.     

Tem sido curiosas essas movimentações políticas, eivadas de rasteiras e eventuais ardis. Parecia certo que os tucanos apoiariam o projeto de candidatura da senadora Simone Tebet, depois de provocar a desistência do ex-governador João Dória. Para o desconforto e eventual decepção da senadora, não é bem assim que a banda tucana toca. Alguns tucanos do bico fino estão empreendendo esforços no sentido de retomar as discussão em torno de uma candidatura própria, que poderia ser o senador Tasso Jereissati(PSDB-CE) ou o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS).

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro(PL), através de suas redes sociais, levanta a hipótese de que o ex-presidente Michel Temer(MDB-SP) poderia ser o nome da terceira via, hipótese, aliás, não de todo improvável. Segundo comenta-se,ele seria uma peça chave na decisão de Dória em desistir de seu projeto presidencial. Bem lá atrás, despretenciosamente, alguém teria aventado as articulações políticas em torno da formação de uma chapa envolvendo o ex-presidente Temer e o ex-governador gaúcho. Se juntarmos as pecinhas, por incrível que possa parecer, é este o desenho que se apresenta no horizonte da terceira via.

Por enquanto, são apenas especulações. Mas, por outro lado, essa possibilidade não pode, como afirmamos, ser completamente descartada, principalmente pelo trânsito deste ator político nos redutos emedebistas e tucanos. Temer é conhecido por suas excepcionais habilidades nas negociações políticas. Em tese, já seria o momento dele cumprir sua aposentadoria, pendurar as chuteiras, mas, como dizia o velho Ulisses Guimarães, o poder é afrodisíaco.   

quarta-feira, 25 de maio de 2022

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: A "desconstrução" da imagem de Marília Arraes.



Em razão de sua liderança nas pesquisas de intenção de voto para o Governo do Estado, seria natural que a candidata Marília Arraes(SD) tornar-se o alvo principal dos seus adversários na disputa. No caso de Marília Arraes, no entanto, há alguns ingredientes específicos, se considerarmos o fato de que tal perseguição política se estende por um longo período, em contextos nos quais sequer ela estava disputando algum cargo público. A razão é simples: Marília possui sérias indisposições com membros de nucleações familiares que hegemonizam o poder político no Estado. Marília é uma espécie de dissidência do clã familiar.  

Ao longo dos tempos, Marília já desenvolveu a resiliência ou a couraça necessária para suportar tais investidas, a julgar pela sua tranquilidade em relação ao assunto. Os cães ladram, mas a carruagem não pára. Até recentemente, repercutiu bastante nas redes sociais uma fala da Deputada Estadual Teresa Leitão(PT-PE) sobre Marília Arraes, quando de uma passagem por uma cidade do Sertão pernambucano, acompanhando o candidato ao Governo do Estado pela Frente Popular, Danilo Cabral(PSB-PE). Educada, polida e civilizada, Teresa manteve-se no plano republicano. Nós consideramos que sua fala foi mais uma ponderação crítica, o que seria perfeitamente aceitável. Sempre coerente, ela atua dentro das regras do jogo democrático. Não irá cumprir outro papel nessas eleições.Mas foi o bastante para a militância de Marília baixar uma saraivada de críticas pelas redes, com alguns ex-admiradores da Deputada Teresa Leitão já se manifestando no sentido de que a deputada havia perdido o seu voto. 

Logo em seguida, foi a vez da turma "barra pesada" cair também em cima da candidata do solidariedade, desta vez utilizando daqueles expedientes tão bem conhecidos, ou seja, no plano da baixa política, do escracho, do destrato, da difamação, bem ao estilo dos chamados gabinete do ódio e das sacanagens, para ficarmos num exemplo tupiniquim.  O plano, naturalmente, é o de desconstruir a imagem de Marília junto à opinião pública. Há algum tempo atrás, a opinião pública era formada por bons debates, num contexto republicano, onde o ouvinte ou leitor formava sua opinião a partir dos bons argumentos apresentados. 

Hoje, essa opinião pode ser (de)formada a partir da disseminação sistemática de fake news, através dos aparatos tecnológicos conhecidos. Trata-se de um retrocesso civilizatório tremendo. Neste contexto, as campanhas políticas tendem a se tornar um jogo sujo, onde, ao invés da discussão de programas, propostas e políticas públicas, alguns candidatos vão gastar seus tempos tentando se defender das acusações a eles imputados através desses expedientes. É lamentável que tenhamos chegados a este estágio, mas isso está longe de ser sanado, a julgar por este início de campanha, a despeito dos esforços da Justiça Eleitoral em coibir essas distorções.    

Editorial: Simone Tebet tenta reaglutinar as forças políticas de sua coligação.



Depois da melancólica desistência da candidatura de João Dória(PSDB-SP), a senadora do MDB, Simone Tebet, tenta reaglutinar as forças políticas dentro da coligação que dá sustentabilidade à sua candidatura à Presidência da República. Não será uma tarefa fácil, mas ela já demonstrou que terá disposição para enfrentar o desafio. Assim como ocorreu com o ex-governador João Dória, a possbilidade de ela vir a ser "cristianizada" não estaria completamente descartada, sobretudo se considerarmos o intrincado jogo político envolvendo a terceira via. 

Assim que conseguiu livrar-se do imbróglio no que concerne às legítimas pretenções de João Dória - afinal ele venceu as prévias partidárias - os caciques do PSDB resolveram adiar a decisão de apoio à candidata Simone Tebet, num prenúncio claro de que cogitam outras possibilidades. No próprio partido da candidata, o MDB, há algumas raposas políticas que defendem uma não candidatura própria da legenda e o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP),como é o caso de Renan Calheiros, Eunício Dias e José Sarney. 

Mesmo que ela consiga viabilizar sua candidatura, sua trajetória será marcada por uma corrida de obstáculos daqui para a frente. Precisa tornar-se conhecida do eleitorad; ser aceita como uma opção política à polarização representada pelas candidaturas de Jair Bolsonaro(PL) e Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP); superar as resistências internas esboçadas na própria legenda. Em última análise, o que poderá ocorrer é ela - mesmo com a candidatura endossada pela burocracia do partido e da coligação - não contar com o apoio estadual dessas figuras carimbadas da política nacional. 

Em Alagoas e no Maranhão essas alianças estão praticamente consolidadas. Até o comunista Flávio Dino voltou a fazer as pazes com os Sarney no Maranhão. Ambos devem favorecer o projeto de Lula. Mulher, íntegra e de uma conduta pública irrepreensível, Simone Tebet(MDB-MS) bem que poderia ser conduzida ao Planalto para dirigir os destinos do país no Executivo. A questão é que os eleitores precisam saber disso e apoiar esse projeto. Ela, que esboçou um entrevero com os oligarcas da legenda, hoje, portou-se com mais cordialidade, usando se sua habilidade política.    

terça-feira, 24 de maio de 2022

Editorial: A corrupção acabou no país?



Esta questão é um divisor de águas entre lulistas e bolsonaristas, seja nas discussões de bares, seja nos encontros casuais, seja pelas redes sociais. Em casos mais extremos - extremo passou a ser um verbete comum no nosso dicionário de política nesses tempos bicudos de polarização - chega-se às vias de fato, proporcionando consequências desagradáveis para uma convivência civilizada, dentro dos parâmetros estabelecidos pela democracia. Para sermos sinceros, não acreditamos que nem mesmo os bolsonaristas mais raízes acreditem na premissa de que a corrupção acabou no país. Nem poderiam. Seria necessário um índice muito alto de ingenuidade ou de fé cega. 

O Brasil sempre foi um dos países mais corruptos do mundo. Trata-se de um padrão de corrupção estrutural, generalizada, forjado no nosso modelo de colonização, produtor do famoso "jeitinho brasileiro". Até mesmo os gastos e as finanças públicas já são concebidas com esta "margem de erro". Um caso recente, registrado num Estado do Nordeste, dá a dimensão deste problema entre nós. Durante a pandemia, respiradores pulmonares foram adquiridos a uma empresa de "maconha", que recebeu todo o montante dos recursos antecipadamente e não entregou nenhum aparelho. Saíram dos cofres públicos, de forma irresponsável, apenas a bagatela de 48 milhões de reais. O problema aqui alegado é que um dos agentes públicos envolvidos não sabia falar inglês.Aqui em Pernambuco até empregadas domésticas se tornaram grandes acionistas, habilitadas a participarem de licitações fraudulentas para aquisição de insumos durante a pandemia da Covid-19. 

Portanto, quando se fala nas exportações irregulares de toras de madeira apreendidas - cujas irregularidades tiveram que ser comunicadas pelo Governo Norte-americano - ou licitações suspeitas envolvendo a aquisição de caminhões de lixo, isso bem pode ser creditado nesta conta nefasta da corrupção estrutural do país, algo que precisa ser enfrentado seriamente, mas, pelos exemplos elucidados, evidencia-se que não se trata de um problema de ideologia. 

A população paga um preço muito alto por essa corrupção. Obras públicas deixam de ser realizadas, políticas públicas não cumprem seus objetivos, em razão dos frequentes desvios de recursos. Gestores públicos corruptos não tem a menor sensibilidade para as consequências dessas atividades ilícitas, como a morte nas filas de hospitais, a merenda que falta ao aluno pobre que, por vezes, tem na distribuição dessa merenda um mínimo de segurança alimentar. E, já que estamos falando em lados polarizados, se falou bastante na corrupção envolvendo as reformas e construção de estádios de futebol durante a última Copa do Mundo realizada no país. Igualmente não houve nenhum pudor anticorrupão durante a crise sanitária produzida pela Covid-19.    

Editorial: O problema do PSDB não é a calça apertada, mas o fundilho furado.



O problema do PSDB é bem maior do que uma simples calça apertada. A questão é que os fundilhos estão furados, como brilhantemente observou a jornalista Vera Magalhães, num artigo irretocável publicado no Jornal O Globo, no dia de hoje, 24\05. A jornalista faz um análise do partido desde os tempos idos e gloriosos de sua fundação aos dias atuais, caracterizado por brigas internas e ausências de propósitos ou comprimissos com o país nesses tempos difíceis que estamos vivendo. Tornou-se um partido de terra arrasada. Isso talvez explique o fato de que, após criarem as condições ideais para a desistência do candidato vencedor das prévias partidárias, o ex-governador de São Paulo, João Dória, o partido se encontre diante de um novo dilema: Endossar a candidatura da senadora Simone Tebet, do MDB, ou retomar o projeto de uma candidatura própria, encampada pelo ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS).

Que ninguém se engane mais com aquele PSDB que surgiu de uma costela do antigo PMDB, com nomes como o de Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Mário Covas, José Richa. Eram os chamados "autênticos", insatisfeitos com os rumos tomados pelo partido de Ulisses Guimarães. A desgraça que se abate sobre o ninho dos tucano não é de hoje. Vem de outras épocas. Dos movimentos de 2013, do golpe institucional de 2016, do flerte com o ideário conservador que experimentamos nos dias de hoje. Aqui não perdoamos o grave equívoco de Dória, ao se eleger governador de São Paulo com o apoio decisivo dessas forças. 

A despeito dos problemas de rejeição, de não deslanchamento nas pesquisas de intenção de voto, das brigas internas com setores poderosos da legenda, Dória vinha de uma gestão bem avaliada pela população do seu Estado, construia uma proposta de governo para país, foi um gestor que se conduziu muito bem durante a crise sanitária produzida pela pandemia da Covid-19. Mais importante: venceu as prévias do partido, que foram solenemente ignoradas por tucanos de alta plumagem, que o sabotaram sem a menor cerimômia. 

O partido perdeu completamente o rumo. A jornalista Vera Magalhães, observa que os fundilhos estão furados. Eu diria que, pelo andar da carruagem política, estão furados e fedidos. São Paulo era uma espécie de vitrine. O ninho mais emplumado dos tucanos. Alguns até tratavam o Estado como Tucanistão, numa referência ao "feudo' dos tucanos. Todas as pesquisas de intenção de voto realizadas até este momento indicam que eles deverão perder essa hegemonia política naquela praça do país. É quase certa uma praça de guerra localizada entre petistas e bolsonaristas.    

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Editorial: A polêmica em torno da "Casa do Lula".




Nesses tempos de insegurança jurídica, a prudência, a ponderação são ótimas companheiras. Uma dose de discreção também ajuda bastante. Daí se entender o porquê das cláusulas draconianas envolvendo o contrato de locação da nova residência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), impedindo que detalhes do contrato sejam revelados por ambas as partes. Por motivos inversos, também é possível entender a especulação de setores da imprensa em torno do assunto, ora objetivando estabeler um hiato entre Lula e os "pobres", ora apontando sua contradição em criticar os "excessos" da classe média brasileira. 

No final, tudo se resume às intrigas de desafetos, a julgar, por exemplo, pelas conclusões precipitadas de alguns duvidosos agentes da justiça - hoje devidamente corrigidas - em torno do tal sítio de Atibaia ou do tríplex do Guarujá. Até as cuecas do Lula foram usadas como eventuais provas de que ele seria, de fato, o dono do sítio de Atibaia. À época, até brincamos por aqui. Se cuecas fossem provas de propriedade de algum imóvel, este editor poderia ser considerado dono de parte da Ilha de Itamaracá - bastante frequentada nos nossos anos dourados - onde deixamos nossas "digitais" em algumas residências.

Ressabiado, entende-se perfeitamente as preocupações do ex-presidente Lula. Um conselho a esta imprensa marron: deixem o Lula viver sua lua de mel. Concentrem-se nas pautas de interesse público. Até as possíveis encrencas jurídicas do locador estão sendo dissecadas, numa alusão clara ao fato de Lula ter firmado um contrato de locação com alguém sob suspeição. A residência é num bairro chique, o aluguel é caro, em torno de R$ 20 mil reais, mas tudo isso foi feito cumprindo todos os trâmites jurídicos e Lula reúne condições financeiras para arcar com o aluguel. Pronto. 

Hoje, por exemplo, de forma mais consequente, alguém tratou da questão do programa dos candidatos. Na realidade, na "ausência" dos programas dos candidatos que concorrem às eleições presidenciais de 2022. Ainda temos um bom tempo pela frente, mas, a rigor, diante das circunstâncias tão adversas que estamos enfrentando, entende-se perfeitamente a preocupação do jornalista. Os caros precisam dizer como irão enfrentar o problema da inflação, do desemprego, do desmatamento da Amazônia, além de outras questões não menos importantes. Vamos deixar os pombinhos em paz.   

domingo, 22 de maio de 2022

Editorial: Uma saída honrosa para João Dória.



Política é uma atividade que exige dos seus atores um certo grau de esperteza, habilidade, resiliência, mas, igualmente, a intuição necessária para identificar e reconhecer atitudes corretas, de solidariedade, mesmo num campo marcado por traições vis. Nestes últimos casos, além da postura ética, exige-se, também, uma boa dose de gratidão. No campo político, para usarmos uma expressão do sociólogo Pierre Bourdieu, vale a máxima de que de boas intenções o inferno está cheio. Mas, mesmo neste terreno pantanoso há, sim, gestos de grandeza. Saber reconhecê-los pode fazer uma grande diferença. 

Quando candidatou-se à Presidência da República - num contexto bastante adverso - o ex-governador Mário Covas, do PSDB, contou com o irrestrito apoio do então governador do Estado do Ceará, Tasso Jereissati(PSDB-CE). Salvo melhor juízo, nem mesmo entre os tucanos o nome de Covas era unanimidade, o que dá a dimensão do que representou o apoio de Tasso naquele momento. Mário Covas não foi bem- sucedido naquelas eleições. Nas eleições seguintes, vazou para a imprensa um diálogo entre Mário Covas e a esposa, onde ele afirmava que não podia "faltar" com Tasso, um dos poucos governadores de Estado que apoiaram o seu projeto presidencial. 

Em plena crise do Mensalão, quando o presidente Lula estava sendo jogado às feras, o então governador Miguel Arraes(PSB) foi até Brasília emprestar sua solidariedade ao petista, gesto imensamente retribuido por Lula ao Estado, já então sob a gestão do neto de Arraes, Eduardo Campos(PSB). No auge de sua prevalência entre os tucanos, o governador Dória tomou atitudes típicas de quem não precisaria mais contar com os antigos companheiros. Quando o mineiro Aécio Neves(PSDB-MG) se viu encrencado, Dória pediu, sem cerimônia, seu afastamento do ninho tucano. 

Ao longo do tempo, foi ampliando essa lista de desafetos na agremiação, tornando-se uma figura sensivelmente rejeitada por tucanos de alta plumagem. O resultado está aí. Foi cristianizado e não terá a menor chance na agremiação para um projeto majoritário. Talvez uma vaga para Deputado Federal, mas seria muita humilhação. Seus partidários ainda estudam uma saída honrosa,mas, mesmo esta saída honrosa está dificil de se construir diante das circunstâncias políticas criadas. De forma melancólica, talvez ele tenha que voltar para a iniciativa privada, onde aprendeu muitas lições corporativas que tentou adaptar, em alguns casos sem muito sucesso, para o campo político. 

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Os acordos pontuais entre Lula e Gilberto Kassab



Fechar um acordo nacional com o PSD de Gilberto Kassab sempre esteve nos planos do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo porque atenderia a sua estratégia de campanha de ampliar sua capilaridade política ao centro do espectro político. Depois dos avanços da candidatura do adversário, o presidente Jair Bolsonaro(PL), então, tal aproximação seria fundamental para assegurar sua vantagem. Possivelmente interditado pelos problemas relativos à economia - desemprego e inflação em alta, por exemplo - a candidatura do presidente Jair Bolsonaro emite sinais de ter atingido o teto, mantendo-se estável, o que se constitui num alívio para o petista, que pôde passar sua lua-de-mel num contexto menos nervoso. 

Havia uma grande costura política para que este acordo entre o PSD e o PT pudesse ser firmado no Estado da Bahia, quarto colégio eleitoral do país, mas a militância petista melou as articulações de cúpula. Aqui em Pernambuco, o PSD estará com a candidata Marília Arraes, do Solidariedade, que terá André de Paula como candidato ao Senado Federal. O Deputado Federal André de Paula é o dirigente estadual da legenda de Gilberto Kassab. Marília é um ex-petista que não abre mão do apoio de Lula, a despeito de seus compromissos com a candidatura do Deputado Federal, Danilo Cabral, do PSB. Somente o tempo e a dinâmica política dirão como as coisas irão se arrumar por aqui. 

Em Minas Gerais, depois de algumas reticências, finalmente o candidato do PSD ao Governo do Estado, Alexandre Kalil, abraçou a candidatura de Lula no plano nacional. A disputa será acirrada no terceiro colégio eleitoral do país, que conta com um candidato conservador, Romeu Zema(Novo), tentando a reeleição. Bom seria que um acordo amplo, geral e irrestrito, no plano nacional, pudesse ser fechado antes do primeiro turno das eleições presidenciais, mas a resistência e a paciência do enxadrista Gilberto Kassab são grandes. 

Como já disse antes, ele é do tipo que aguarda o pretendente jogar a boia, quando já se encontra na iminência de um afogamento. Não age por impulso, emoções ou tendência ideológica. É puro pragmatismo político e senso de oportunidade. Na realidade, a imagem do "afogamento', parece não ter sido muito feliz usada neste contexto. A tendência de Kassab é apoiar o candidato quando ele se coloca com chances reais de vencer as eleições.    

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 21 de maio de 2022

Editorial: São muitas emoções na política nacional



Como diria o Roberto Carlos, a política nacional tem nos reservado muitas emoções nesses últimos dias. Se não, vejamos: A última pesquisa do IPESPE,que não traz muitas novidades, exceto a confirmação do candidato Luiz Inácio Lula da Silva na condição, ainda, de franco favorito a vencer as eleições presidenciais de outubro, sobretudo em razão de um eleitorado de "centro", mais ponderado, menos propenso ao radicalismo; O debate quente entre o jornalista Gregório Duvivier e Ciro Gomes,do PDT, cujas farpas foram frequentes, em alguns momentos, sobrando até para Lula, que se encontra em sua sagrada lua-de-mel; O encontro protolar  entre o presidente Jair Bolsonaro(PL) e o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, durante uma cerimônia em Brasília. Moraes não é daqueles se impressionam com afagos ou os conhecidos tapinhas nas costas. Aplicou nova multa e interditou os bens do Deputado Federal Daniel Silveira; No final, uma longa matéria da revista Veja desta semana, tratando de uma eventual volta à ribalta do clã Sarney, do Maranhão, curiosamente, contando com o apoio do suposto arquiinimigo Flávio Dino. 

É preciso aqui reafirmar que o governador do Maranhão chegou ao poder alinhavado com atores políticos que eram considerados desafetos da aligarquia Sarney. A relação de Flávio Dino(PSB-MA) com os Sarney é algo que precisa ser melhor explicada. Não supreende, portanto, essa "reaproximação". A narrativa sobre a "derrocada" da oligarquia Sarney naquele Estado, fica sub judice, diante da complexidade das alianças políticas ali formatadas, seja para conseguir essa proesa - tão festejada pelas forças progressistas e republicanas no plano nacional, seja para compreender essa reaproximação.  

Depois de cinco décadas de hegemonia, é difícil retirar completamente uma oligarquia da burocracia do poder de Estado. Ainda ontem comentávamos com o professor Michel Zaidan Filho, que, na melhor das hipóteses, nas eleições estaduais aqui em Pernambuco, teremos um clã familiar sendo substituído por outro ou rebentos dissidentes dessas oligarquias familiares chegando ao poder, como é o caso da candidata Marília Arraes(SD), que lidera todas as pesquisas de intenção de voto realizadas até este momento.

 

      

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Editorial: Eleitorado baino dividido entre Lula e ACM Neto.



ACM Neto deixou a Prefeitura de Salvador com excelentes índices de aprovação, credenciando-se a alçar voos mais altos, que, neste caso, seria a retomada do controle político da máquina estadual, reeditando a volta do Carlismo naquele Estado. Raposa política cevada pelo avô, tudo está sendo gerenciando com o maior esmero por ele, inclusive usando a estratégia de fugir à polarização que se configura no plano nacional, com a rivalidade entre as candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) e Jair Bolsonaro(PL). ACM Neto dá um banho nas pesquisas de intenção de voto. Somente um milagre retira sua condição de candidato favorito ao Governo do Estado. 

Milagres acontecem,mas o PT baiano não vem ajudando muito, depois do escândalo envolvendo o absurdo da compra dos respiradores pulmonares, de uma empresa de maconha, durante a pandemia da Covid-19 - envolvendo valores acima de 40 milhões de reais - pagos antecipadamente, no bojo do Consórcio Nordeste. Nenhum desses respiradores foram entregue. Não vamos aqui fazer ilações ou promover um julgamento precipitado do governador Rui Costa, do PT, até porque este editor ainda é do tempo do arrolamento de provas irrefutáveis, da presunção de inocência, do devido processo legal, do direito ao contraditório, do trânsito em julgado, expressões que parecem ter sumido dos dicionários jurídicos nesses tempos bicudos de insegurança legal. Mas houve, no mínimo, um imperdoável erro de gestão, que, certamente, será bastante explorado na campanha. 

Hoje, 18\05, o Instituto mineiro Quaest\Genial divulga uma pesquisa de intenção de voto e sobre a percepção dos baianos sobre o Governo Jair Bolsonaro. Estado de tradição petista nos últimos anos, como era de se esperar, Lula aparece muito bem na fita, enquanto Jair Bolsonaro amarga números preocupantes. A Bahia é o quarto colégio eleitoral do país, daí a importância desses escores entre os principais concorrentes. O curioso é essa engenharia do voto que está se configurando naquele Estado da Federação. Pelo andar da carruagem política, o eleitor baiano afirma claramente que pretende eleger ACM Neto(UB-BA) para o Governo do Estado e Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) para a Presidência da República.

Raposa cevada no Carlismo, ACM Neto já deixou muito claro que não pretende brigar com o eleitorado. Há quem assegure que já haveria algum acordo com o candidato Ciro Gomes do PDT, que, neste caso, não é carne e nem é peixe, não atrapalhando seus projetos locais. O fato evidencia, igualmente, uma outra lição: a real capacidade de Lula de transferência de voto. Gerônimo Rodrigues, do PT, tem apenas 6% das intenções de voto.      

Editorial: O nome de "consenso" é Simone Tebet


Em política, assim como na vida, é preciso saber o momento certo para avançar e recuar. Por vezes, mesmo estando certo, o mundo pode desabar sobre você e talvez não seja possível suportar o tranco. Mesmo sendo, ainda, um cristão relativamente novo na política, o ex-governador de São Paulo, João Dória(PSDB-SP), parece ter aprendido esta lição, a julgar por sua resiliência em relação aos problemas enfrentados no ninho tucano. Seus inimigos internos fecharam todos os cercos em relação à tese de não endossar sua candidatura presidencial. 

Há cucos graúdos no ninho tucano que não o desejam por perto. Isso não quer dizer que ele seja expulso do ninho. Talvez se encontre uma saída honrosa, mas, a rigor, o partido já teria fechado questão - juntamente com o MDB e o cidadania - em apoio ao nome da senadora Simone Tebet(MDB-MS) como candidata da frente, como alternativa de terceira via. De posse de pareceres jurídicos e pesquisas de intenção de voto - onde ele aparece à frente da senadora - e com muita paciência também - ele tentará reverter esta situação. 

Começou por protelar o momento da notícia, ao se recusar a ir a um encontro da legenda tucana. Como disse antes, todas as suas saídas foram fechadas - ou abertas, depenedendo da situação, se, por exemplo, ele desajar sair do ninho. Há, inclusive pareceres de juristas que entendem que a convenção da legenda é a instância suprema para definir candidaturas, o que quer dizer que as prévias vencidas por ele não signifcam muita coisa, a despeito dos milhões de dinheiro público jogados fora.

O problema de Doria é a rejeição. Dentro e fora da agremiação tucana. Os tucanos teriam pesquisas indicando que a senadora Simone Tebet teria maiores condições de se contrapor à polarização entre Lula e Jair Bolsonaro. Doria, por sua vez, depois do fechamento da janela partidária, perdeu muito do capital político acumulado durante as prévias. O ex-senador Aécio Neves, ainda muito influente na legenda, nã perdoa o fato de Dória ter defendido sua expulsão da legenda no passado. Ele enfrenta um contexto bastante desfavorável.    

terça-feira, 17 de maio de 2022

Editorial: O que explica a estabilidade de Lula nas pesquisas de intenção de voto?

 



Eleitor de Bolsonaro votando em Lula? É possível, sim, e ainda bem que isso é possível, em nome da preservação do próprio sistema de democracia representativa que experimentamos. Segundo alguns analistas, essa tendência “centrista” do eleitorado é fundamental para equilibrar o jogo do poder, contribuindo para minimizar os danos produzidos pelos extremismos tanto à esquerda, quanto à direita. Hoje,mais à direita. Claro que não estamos tratando aqui daquele eleitor raiz, disposto a carregar Bolsonaro nos braços aos gritos de: Mito! Mito! Mito!. Esses não desistem nunca. 

Estamos tratando aqui daquele contingente de eleitores menos radicais, que votaram em Bolsonaro num primeiro momento, movidos, quem sabe, pela descrença no outro candidato, de eleições presidenciais passadas, mas que poderia ter se arrependido em razão dos rumos tomados pelo seu Governo. É curioso, mas um percentual bastante expressivo do eleitorado de Lula encontra-se entre os eleitores identificados como de “centro”. Para alguns observadores, trata-se de uma vantagem competitiva de Lula na corrida presidencial das eleições de 2022. 

Isso poderia explica, por exemplo a estabilização dos seus índices de intenção de voto, verificados em várias pesquisas desde o ano de 2021. É uma tendência de voto, digamos assim, mais perene do que a apresentada pelo seu principal oponente, Jair Bolsonaro. A estratégia do staff de campanha de Lula, hoje, é exatamente cativar e ampliar esse contingente de eleitores, evitando afugentá-lo com sincericídios ou atitudes do gênero. Creio que, pela primeira vez, por ocasião do lançamento de sua pré-campanha, Lula não falou de improvisos, evitando os escorregões verbais naturais, movidos pela emoção da ocasião. 

Ampliar suas alianças ao centro do espectro político tem sido uma das suas principais preocupações. Em tese, quem deveria cumprir esse papel seria o seu vice, Geraldo Alckmin(PSB-SP), que, por algum motivo, se sentiu na contingência de tornar-se palatável aos grupos mais autênticos ou radicais da legenda petista. Mal sabe ele que essa indigestão é incurável. Alguns petistas não irão gostar de chuchu de jeito nenhum. Na ausência de Alckmin, Lula já procurou outros interlocutores para a missão, a exemplo do senador Renan Calheiros, do MDB de Alagoas, da trinca de grandes aliados do ex-presidente. 

Confiante na vitória das eleições de outubro, o candidato petista procura construir as condições de governabilidade, que sabe serão difíceis, num parlamento hegemonizado pelo Centrão. Mesmo antes de assumir, numa eventual vitória em outubro, Lula já tem trocado farpas com o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, do Partido Progressista, que não poupa mimos aos parlamentares para assegurar os interesses do Governo. Para Lula, o controle do Centrão sobre o parlamento já se configura numa espécie de semipresidencialismo. E ele tem toda a razão. O Governo de Jair Bolsonaro, em muito, passa por ali. E será assim pelas próximas governos, em razão das contingências impostas pelo presidencialismo de coalizão. 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Editorial: Encontro do PSDB: Tem cuco no ninho tucano?



A semana política começa bastante agitada. Neste final de semana, o PT local realizou seu encontro, onde o nome da Deputada Estadual Teresa Leitão(PT-PE) foi homologado para concorrer ao Senado Federal, compondo a chapa da Frente Popular, encabeçada pelo Deputado Federal Danilo Cabral(PSB-PE). Nos nossos anos dourados de estudante de Ciência Política, este editor, na condição de pesquisador, já participou de alguns desses encontros.  Nesses momentos, geralmente são expostas as feridas internas da legenda, colocando, em lados diametralmente opostos, os grupos mais autênticos e orgânicos, e os grupos pragmáticos - aqueles já contaminados pela bacia semântica - que colocam os cargos na máquina acima dos princípios e da ideologia. 

Hoje, pelo andar da carruagem política, percebe-se que, se o PT não provocasse a saída de Marília Arraes da agremiação poderia fazer, quem sabe, barba, cabelo e bigode nas próximas eleições estaduais, retomando o papel de protagonista no cenário político pernambucano. Agora não adianta tentar emplacar ou associar o nome de Teresa Leitão ao de Marília, que hoje confirma o nome do Deputado Federal André de Paula, presidente estadual do PSD, como sendo o nome pelo qual ela se empenhará para conduzir ao Senado Federal. E, por falar em Marília - voltaremos a tratar deste assunto num próximo editorial - segundo o Instituto Paraná Pesquisas, ela lidera em todos os cenários as eleições de outubro. 

Ainda esta semana, os tucanos deverão se reunir em Brasília para uma lavagem de roupa suja definitiva. Chegaram a um estágio onde tornou-se impossível construir um consenso sem algum dano. O governador de São Paulo, João Dória(PSDB-SP), pré-candidato da legenda à Presidência da República, vai ao encontro armado até os dentes, de posse de pareceres jurídicos ratificando a sua condição de candidato ungido pela legenda, embora tucanos de alta plumagem advoguem - e desejem - o contrário. Tem cuco neste ninho e é pouco provável que eles cheguem a bom termo. 

Dória recebeu o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso(PSDB-SP), mas ele já não teria a mesma capacidade de antes, em unir a legenda. Embora tenha iniciado uma ligeira reação nas últimas pesquisas de intenção de voto, muito em razão das veiculações televisas do partido, a situação de Dória não é nada confortável, tendo que largar para uma corrida presidencial com tantos obstáculos a ultrapassar, a começar pelos internos, gerados pelo próprio partido. Por outro lado, é intransigente em algumas questões: Já afirmou que não aceitaria ser vice da senadora Simone Tebet(MDB-MS).  

domingo, 15 de maio de 2022

Editorial: O embate político em Alagoas e seus reflexos na política nacional

 



Alagoas ainda é um Estado da Federação controlado por grandes oligarquias políticas. Há um amigo que nos informa que, ainda hoje, as contendas políticas ali são resolvidas à base da bala ou do cipó de vara verde. Não raro, quem entra em rota de colisão com essas elites políticas e econâomicas locais acabam precisando contratar uma equipe de jagunços bem armados para protegé-lo. Isso vem desde ápocas remotas, mas seus reflexos são sentidos ainda hoje, no clima acirrados das disputas políticas locais. Este editor tem uma ótima impressão do Estado, mas isso fica circunscrito às viagens de férias, quando temos a oportunidade de curtir seu exuberante litoral e saborear as delícias de sua gastronomia, como uma pituzada ou um sururu no capote, em recantos paradisíacos como São Miguel dos Milagres.  

Se suas praias e a suas comidas são capazes de produzir consensos, no plano político, infelizmente, as coisas não funcionam bem assim. Hoje o Estado possui dois atores políticos de projeção nacional, que atuam em campo políico opostos.O senador Renan Calheiro(MDB-AL) e o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lyra, do PP. Renan já é um velho conhecido dos brasileiros, em razão dos cargos relevantes que ocupou na República.  Sua última vitrine foi o cargo de relator da Comissão da Covid-19, onde entrou em rota de colisão com grupos ligados ao presidente Jair Bolsonaro(PL). 

Arthur Lyra apoia o presidente Jair Bolsonaro, mas segue numa raia própria, respaldada pelo Centrão, o que leva  alguns interlocutores a apontarem indícios de um semipresidencialismo. Conforme afirmamos no editorial de ontem, temos aqui um probrema sério no tocante à governabilidade. Problema que, aliás, já foi percebido por Lula, na eventualidade de vencer as próximas eleições presidenciais. Fica claro que será o Centrão quem continuará dando as cartas do jogo da política nacional, independentemente de quem esteja sentado na cadeira do Palácio do Planalto. 

A missão delegada por Lula ao colega Renan seria a de procurar os mecanismos - e principalmente  os atores politicos de centro - com o propósito de reequilibrar essas forças. Segundo informações da revista Veja desta semana- que traz uma matéria sobre assunto assinada pelo jornalista João Pedroso de Campos - entre esses atores priviligiados com os quais Renan manteve tais articulações, estão Michel Temer(MDB-SP) e Gilberto Kassab(PSD-SP). Deixando sempre muito claro que o Mensalão esteve associado ao nosso modelo canhestro e pernicioso de presidencialismo de coalizão.      

sábado, 14 de maio de 2022

Pinga Fogo: As mulheres na campanha presidencial

 


As mulheres dos candidatos terão um papel importantíssimo nessas eleições presidenciais, ou seja, ajudar seus maridos a consquistarem o voto feminino. Michele Bolsonaro, mulher de Jair Bolsonaro, tem se mostrado muito ativa nas redes sociais do marido. A socióloga Janja, que contrai núpcias com Lula nos próximos dias, segundo comenta-se, tem uma participação ativa junto ao comitê eleitoral do futuro marido, fato que já vem criando alguns embaraços para o seu staff político. 

Editorial: O papel do chuchu na paella lulista



Bem-humorado, por ocasião do lançamento da chapa com sua pré-candidatura à Presidência da República, o ex-governador Geraldo Alckmin(PSB-SP) fez brincadeira com o seu apelido - picolé de chuchu - e o nome de Lula, só que, neste caso, numa referência ao molusco. Ele afirmou que chcuchu com lula vai muito bem. Há algumas dúvidas sobre o assunto, principalmente entre os setores mais radicais da agremiação petista, que ainda não digeriram muito bem este cardápio. Há, aqui, uma resistência localizada, que será difícil de contornar. Trata-se da turma da tradicional mortadela com pão, que não suporta o chuchu. 

Não se sabe de onde Geraldo Alckmin tirou essa conclusão de que precisa ser melhor aceito por esses setores, quando o próprio Lula já foi bastante enfático ao tratar deste assunto, ameaçando abandonar, inclusive, a candidatura caso esses problemas não fossem contornados. Os petistas históricos, mesmo a contragosto, teriam que comer a paella lulista com chuchu e pronto. Afastando-se um pouco dessas discussões internas do PT, a grande questão que se coloca diz respeito ao real papel de Geraldo Alckimn nesta composição, depois de emprestar a credencinal da Faria Lima ao petista. 

Lula precisa ampliar sensivelmente seu diáolgo com setores mais ao centro do expectro político e, a rigor, Alckmin poderia cumprir bem esse papel. Assim que estiver reestabelecido da Covid-19, naturalmente. Em princípio, Alckmin não vem se movimentando neste sentido. Tanto isso é verdade que outros atores políticos da confiança de Lula já foram escalados para cumprir tal missão, como é o caso do senador Renan Calheiro(MDB-AL), que recebeu carta branca para essas negociações.

O momento político está bastante tensionado e a palavra "negociação", fundamental no mundo da política, assume um papel crucial neste contexto, hegemonizado por forças conservadoras no Legislativo, que dará o "balizamento" de qualquer governo, mesmo numa eventual vitória do petista. O Centrão governa o país e continuará governando mesmo com Lula na Presidência da República, que terá uma margem de manobra bastante reduzida. É complicada essa engenharia institucional, mas é a que se apresenta.    

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Lula abre 8 pontos de diferença para Bolsonaro em Minas Gerais



Hoje, 14\05, o Instituto Paraná Pesquisas divulgou uma pesquisa de intenção de voto para a Presidência da República, circunscrita ao Estado de Minas Gerais. Como já afirmamos numa outra ocasião, Minas Gerais é o segundo colégio eleitoral do país, sendo, assim, um palco importante para mensurar a temperatura e as tendências de comportamento dos candidatos. Hoje, Minas Gerais é um Estado governado por um político de raízes conservadoras, o Romeu Zema, do Novo, que deve emprestar apoio ao presidente Jair Bolsonaro(PL). 

Lula, por sua vez, não consegue ajustar um eventual acordo com o prefeito de Belo Horionte, Alexandre Kalil, do PSD, candidato ao Governo do Estado. Isso dependeria de um ajuste no plano nacional com o morubixaba da legenda, Gilberto Kassab, que reluta em fazê-lo ainda no primeiro turno das eleições. Mesmo diante de todas essas dificuldades, o eleitorado mineiro segue uma tendência nacional favorável à candidatura do petista. Naquela praça, pela última pesquisa de intenção de voto realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, Lula abre 8 pontos percentuais de diferença em relação ao candidato Jair Bolsonaro. 

Quando esteve em Belo Horizonte,mais recentemente, Lula falou para o "cercadinho", ou seja, a sua base histórica de sustentação política. Alexandre Kalil não compareceu ao evento, pois não quis magoar sua base de apoio parlamentar, que esboça uma tendência em apoiar o nome de Jair Bolsonaro. O "cercadinho', como se sabe, são favas contadas. Para manter esses percentuais e até mesmo para ampliá-lo, Lula, necessariamente, precisa articular-se ao centro do expectro político. De onde se conclui que Kalil seria uma peça chave nessa engrenagem. 

Kassab tentou, sem sucesso, construir uma alternativa política pela terceira via para concorrer às eleições presidenciais. Hábil e paciente como um grande enxadrista, só joga a bóia no momento certo, pois sabe que as recompensas e gratidões seriam bem mais maiores. Por enquanto, vai observando a água do mar revolto bater nas pedras, tentando tirar as suas conclusões da formação das espumas. O problema é que o mar está revolto demais e pode engolir a todos nós.

Lula:  41,6%

Jair Bolsonaro:  33,8%

Ciro Gomes:  6,2%

TSE: Registro BR-09255\2022   

Editorial: A credibilidade dos institutos de pesquisas de intenção de voto.




Fazia algum tempo que este editor lia algo sobre a credibilidade dos institutos de pesquisa. Ao longo dos anos, eles aprimoraram seus métodos de coleta de dados, análise dos resultados,minimizando sensivelmente suas margens de erro. Exceto por um outro candidato que quer aparecer bem na fita de qualquer jeito, no geral, entre a opinião pública e os analistas da área, hoje, o conceito desses institutos estão em alta. Alguns deles possuem espertise de décadas. No passado, o que corroeu essa credibilidade foram as chamadas terceirização das pesquisas nos Estados, por vezes entregues a institutos locais, sem estrutura ou profissionais com a competência adequada para conduzir essas pesquisas. 

Em tese, esse problema também teria sido sanado, quando se sabe, por exemplo, que os "grandes" institutos não mais utilizam ou tomaram as precauções devidas na escolha desses institutos locais. Nos últimos dias, no entanto, a crônica política pernambucana vem noticiando alguns fatos que dasabonam a conduta de alguns desses institutos, como a realização de pesquisas de intenção de voto com valores bem aquém da realidade de mercado, assim como uma tremenda confusão quanto ao preenchimento dos formulários, ora trocando as postulações das candidaturas - candidato a governador que aparece como candidato ao Senado Federal - ora deixando de registrar nomes confirmados na disputa eleitoral. 

Com a nossa experiência, embora tais fatos sejam desagradáveis, eu diria que podem ser postos nas chamadas margem de erro, nada que inspire grandes preocupações. Geralmente, nesses períodos eleitorais, surgem alguns institutos novos, procurando um lugar ao sol nesse mercado tão concorrido. O eleitor já está sensivelmente maduro para separar o joio do trigo, ou seja, as pesquisas sérias e aquelas que sofrem a influência direta do contratante, com claras distorções dos dados apresentados.  

O que nós lamentamos aqui no Estado é que ainda não tenha saído nenhuma pesquisa informando a capacidade de transferência de votos tanto do canddiato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) quanto do seu oponente, o presidente Jair Bolsonaro(PL). Presume-se que pouca coisa Lula poderá fazer para estancar a sangria que passa o candidato socialista, em razão dos inúmeros problemas em sua base aliada, conjugada com o desgaste e avaliação ruim do governo. Soma-se a isso a ousadia da candidata Marília Arraes, do Solidariedade, que retirou Lula para dançar no seu arraial sem pedir licença a Janja. Se ela não pede licença a Janja imagina se irá pedir licença aos seus algozes da política local.     

Charge! Duke via O Tempo!

 


sexta-feira, 13 de maio de 2022

Editorial: "Eleições é assunto de civis e forças desarmadas"




É nos momentos difíceis que identificamos aqueles homens dotadas de espírito público e coragem cívica. Quando do golpe civil-militar de 1964, Dr. Miguel Arraes, então governador do Estado de Pernambuco, se recusou a sair do Palácio do Campo das Princesas pela porta dos fundos, conforme instrução dos militares que o haviam deposto. Saiu pela porta da frente, de cabeça erguida, honrando os milhões de votos dos pernambucanos que o haviam conduzido ao cargo em eleições livres e soberanas. 

Dr. Miguel Arraes nunca se curvou ao arbítrio, deixando uma lição de espírito público e coragem cívica para as novas gerações. Em 1962, setores da Igreja Católica aliados à oligarqguia dos Lundgren, em Paulista - região metropolitana do Recife - moveram montanhas para que os operários não votassem em Miguel Arraes. O então líder sindical Roberto do Diabo furou esse bloqueio. Ele não poderia desonrar esses votos. 

Ao reestabelecer a ordem das coisas no tocante à organização e realização das eleições, o ministro Edson Fachin, que preside o STE, dá uma demonstração inequívoca de coragem cívica e entra na galeria dos homens dotadas de espírito público. O melhor de sua fala recente não é a referência ao papel das Forças Armadas, mas, sobretudo, a sua conclusão de que a democracia vencerá as próximas eleições. Nesses momentos turbulentos que atravessamos - caracterizado por uma baita crise institucional, que ameaça os alicerces do edifício democrático - falas assim contribuem para as reflexões e ações necessários que são exigidas neste momento delicado vivido pelo país, quem sabe, inibindo tentativas de retrocessos políticos. 

O momento é de equilíbrio instável e insegurança institucional. Existe um arranjo antidemocratico em curso que precisa ser contido, assim como ocorreu nas comemorações do último 07 de setembro, quando o ministro Luiz Fux, habilmente, desarmou a bomba. Para ser mais preciso, nossa democracia nunca gozou de uma boa saúde, por razões históricas e sobretudo econômica. Nossas desigualdades econômicas minam constantemente o edifício do arcabouço institucional que dá suporte à democracia política. É preciso superar essas desigualdades, destribuir renda, mas isso dentro das regras do jogo democrático, com eleições livres, soberanas, respeito e equilíbrio entre os três poderes.  

terça-feira, 10 de maio de 2022

Editorial: Lula em Minas Gerais: um olho no padre, outro na missa.



Minas Gerais é o segundo colégio eleitoral do país, perdendo apenas para o Estado de São Paulo. Trata-se de um Estado estratégico para qualquer candidato que deseje viabilizar seu projeto presidencial. Ali, a disputa promete ser acirrada, pois os dois principais concorrentes às eleições presidenciais de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) e Jair Bolsonaro(PL), apresentam um relativo equilíbrio de forças. O governador Romeu Zema, do Novo, que concorre ao Palácio Tiradentes, é um político de perfil conservador, com fortes afinidades com o presidente Jair Bolsonaro. 

Lula tenta um reequilíbrio de forças juntando-se ao ex-prefeito Alexandre Kalil, do PSD, que concorre ao Governo do Estado. O palanque de Lula naquele Estado, no entanto, não estaria rigorosamente montado, uma vez que a formalização de um apoio do PSD ao PT ainda não teria sido definido, fato que poderia ajudar bastante o candidato petista. O enxadrista Gilberto Kassab prepara sua melhor jogada nesse desenlace, maximizando seus dividendos do apoio. Fica evidente que o seu jogo não é conduzido pela ideologia, mas por puro pragmatismo.   

Agora mesmo, por ocasião da visita do morubixaba petista àquela praça, Alexandre Kalil(PSD-MG) não o teria acompanhado. Há rumores de que sua base de sustentação política também não estaria inclinada ao apoio ao candidato do PT. Diante desses impasses, Lula acabou falando para o chamado "cercadinho", ou seja, sindicalistas e lideranças partidárias de sua tradicional base de apoio, o que não acrescenta muito, pois, como se diz aqui no Nordeste, são favas contadas. No caso, votos contados.

Para o desconforto dessa base de apoio histórica, Lula com chuchu passou a ser apenas um aperitivo. O prato principal será bem mais indigesto. Ele precisa ampliar sensivelmente o seu cardápio político para incluir o menu da centro-direita, por mais estraho que isso possa parecer. Tem evitado falar em rever a reforma trabalhista, tampouco menciona a palavra reestatização, com receio de afugentar um eventual apoio do mercado e seus investidores. Há homens de sua estrita confiança, como é o caso de Renan Calheiro(MDB-AL), com a missão de estabelecer essa articulação com atores e partidos da centro-direita.  

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Publisher: This game cannot be one on one. If my team loses, there's zum-zum-zum


It is not good for the health of a democracy to spread false information, casting doubt on the fairness of the results of an election. Worse than that is when voters come to believe in this systematic wave of disbelief about the electoral process. In these post-truth pointy times, lies can become absolute truths, through those expedients that are now so well known and so professionally used.

Once, this editor was in the classroom when several students began to receive, simultaneously, shots from Zap, realizing that a certain priest from a city in Pernambuco was a pedophile. I don't get into the merits of the question - even because some students, of those who didn't believe in hairy legs, were soon leaving such statements under suspicion - but the fact scales the trouble we are in, after such expedients started to be used as a political weapon to destroy the reputation of opponents.

A survey recently released shows that one in three voters began to express suspicion about the fairness of the electoral results. A worrying fact for the health of our representative democracy, as we stated at the beginning. The questioning about the Electoral Justice is an indicator of the terrible moment experienced by our democratic institutions. Free, regular and sovereign elections, with results accepted by the contestants, is one of the indicators that the health of a democracy is going well. When that doesn't happen, something is wrong.

The best example was what happened with the election of President Dilma Rousseff (PT-MG), when the opponent did not accept the sovereign results of the polls and began an exhausting process of political articulation with the purpose of making her government unfeasible, culminating in the institutional coup of 2016. It started school and from there we had no peace, as if repeating the chorus of the popular songbook: "If my team loses, there's zum-zum-zum".

This reminds us of the back-and-forth on the plains of the past, when the opponent did not accept the score of the game and began those inferences about its result, alleging that the referee had failed to award a penalty for his team or expelled a player from the opposing team for an eventual fault committed during the match. Result of all this? Just a tremendous mess created, without anything positive being produced. Our big problem, however, is that there are political actors giving clear demonstrations that they are betting on this chaos.


In the photo above, the elegant Edgar Ferreira da Silva, composer of the song whose chorus is quoted in the editorial.

Um livro-espelho, ou um livro-divã

 

Edição do mês
Um livro-espelho, ou um livro-divã
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(Imagem: Reprodução/ Johann Moritz Rugendas)

 

O soldado antropofágico fica além do universo de obras que se pode resenhar. Não se resume, não se conclui nem se define. Uma obra do tamanho de nossa complexidade e de nossa permanente crise, nossa, de “brasileiros” e “brasileiras”, seja lá o que for isso. Conjunto de reflexões diante do espelho. Conseguimos nos enxergar nesses reflexos? Corre no vulgo que o Brasil não é para amadores – frase que reiteramos enigmaticamente para os gringos. O fundo moral disso rebate nossa complexidade como povo. Hoje, nomeadamente desde o golpe de 2016, vivemos a vertigem da imensa dificuldade – para muitos, como eu, da absoluta incapacidade – de compreensão desse estado de coisas a que chegamos. Ataques cotidianos, inclusive por parte do Estado, aos mais básicos parâmetros de humanidade, urbanidade, civilidade e respeito. Desprezo generalizado à vida, à dignidade, ao outro – “outro” não branco, não macho, não hetero, não rico.

“Como chegamos a isso?” Essa indagação vem a calhar, pois remete aos fundamentos do problema e ao tratamento dado a ele na obra. “Chegamos aqui” no tempo; não se faz sentido desse presente agônico sem observá-lo, mais que no tempo, na longa duração. “Fazer sentido”, exercício hermenêutico, interpretação, como o exegeta interpreta o texto, o jurista a lei face ao caso, o psicanalista o trauma pela narração de si.

Aqui já outra imensa contribuição dessa obra cifrada, que abre questões mais do que as pretende resolver: interpretar o “sujeito Brasil”, atitude intelectual que se insere numa tradição tão importante, hoje abertamente desprezada e atacada por muitos – a do ensaio crítico de interpretação, que produziu a linhagem do “pensamento social brasileiro” ao longo do século 20. Só por essa contribuição, a obra já deve ser bem-vinda. Ab’Sáber, professor e psicanalista, mobiliza no seu ensaio de crítica cultural um patrimônio gigantesco de sonhos e pesadelos, inscritos na história, no direito, na literatura, na música e na cultura em geral.

A profundidade do buraco em que nos encontramos estava a exigir um exercício de pensamento que as abordagens disciplinares convencionais não dão conta. Isoladamente, antropologia, sociologia, estudos literários, a própria psicanálise, tampouco a disciplina histórica, conseguem mobilizar tantos e tão diversos elementos numa mesma equação para tentar fazer sentido do nosso tempo, do não lugar a que chegamos. A história talvez guarde a chave mais importante da decifração de nossa esfinge, mas tampouco ela seria capaz de montar a equação sozinha. Embora Tales tenha sacado e nos ofereça no livro a importância da persistência, da quase invariância de algumas estruturas sociais e mentais de longa duração, forjadas historicamente na própria constituição da sociedade escravocrata que ainda somos. Isso por um lado. Por outro, nossa insistente prática do veto à enunciação, a persistência do não dizer, a sublimação do outro, a não presença em seu silenciamento, humus da subjetivação biopolítica do Brasil.

A exegese do paciente Brasil no divã de Tales põe em revista conceitos que aqui perderam – ou ganharam – sentidos outros, como, em especial, o de “modernidade”, produtor, desde os turvos inícios da nação-Estado, do autorretrato distorcido da elite escravocrata brasileira, que se via europeia e civilizada ao promover a recusa simbólica de ativamente não dizer a realidade que a sustentava, não enunciar a escravidão. Elite que, na primeira metade do século 19, conseguiu produzir uma não literatura, ou uma literatura de formas vazias, desconectas do tempo. A escravidão e os escravizados, por essa época, só ponteavam nos códigos legais, criminais. Foi como se o final da Guerra do Paraguai tivesse despertado o escritor brasileiro para o fenômeno da escravidão, que, no entanto, era quase toda a vida ao redor.

Elite – precisamos falar de nossas elites, passadas e presentes! – que, encampando as abstrações das fórmulas do amor romântico importadas, se esmerou desde o início a recalcar o erotismo criativo da cultura popular. A polícia foi braço forte e mão nem um pouco amiga para perseguir fados e lundus, capoeiras e candomblés, quaisquer sinais de vida criativa que brotasse nas ruas pretas das cidades brasileiras. Reprimindo o erótico e o alegre, essa classe “civilizada” foi-se fazendo pobre, triste, casmurra, doente. Talvez a realidade da escravidão, sustentáculo de sua riqueza, prestígio e poder, fosse-lhe tão insuportável, que essa elite adotou o dispositivo de não ver ou, ao menos, não dizer a própria realidade – ou ao menos mantê-la na distância contemplativa, sem qualquer vínculo de empatia real.

No máximo, a arrogância do pietismo patriarcal, tão bem expressa em autores escravistas que saíram do armário depois dos anos 1870, como José de Alencar, para quem a massa miserável de escravizados não fazia jus à benevolência paternal que lhes devotava a beata classe branca proprietária – nossa voluntariamente alienada elite, criticada na literatura por Antonio Candido e no cinema por Paulo Emílio; elite que se ufana da própria ignorância, da boçalidade do mal, em seu total descompromisso com a inteligência.

Tales percorre esse vasto menu de iniquidades e recalques mobilizando com equilíbrio e sensibilidade a melhor e a pior expressão da cultura nacional, ou de estrangeiros que experimentaram desse caldo, de Schlichthorst e Fernand Denis a Tom Jobim e os tropicalistas, de Tomás Antônio Gonzaga e Santa Rita Durão a Mário de Andrade, de Debret a Glauber Rocha, de Januário da Cunha Barbosa a Paulo Emílio Salles Gomes e Anna Muylaert, e por aí afora e adentro. Isso em fino diálogo com os mestres de nossa crítica cultural e exegetas do Brasil, como Joaquim Nabuco, Faoro, Florestan, Freyre, Sérgio, Prado Jr, Veríssimo, Antonio Candido, Bosi, Wisnik, Paulo Arantes, Saffioti, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales, Leda Martins e, o interlocutor entre interlocutores, Roberto Schwarz. A referência à melhor historiografia, outro traço marcante da obra, vem de braços dados com um seleto escol de pensadores, dos clássicos como Weber, Marx e Foucault aos pós-coloniais como Mbembe a Angela Davis.

Nesse itinerário de longa duração, Tales inscreve questões centrais como nossa histórica e proverbial dificuldade de simbolização da escravidão e seus males, nosso recalcitrante negacionismo, o “pacto do silêncio estrutural” a respeito da escravidão, nosso insuperável anti-intelectualismo, sexismos, racismos, tão evidentes nestes dias de paupéria. Esse livro não se escreveria em outra forma que o ensaio. Como aqui forma e conteúdo se fundiram tão bem! Vem-me imediatamente “O ensaio como forma”, de Adorno. Busca da liberdade. Tudo aquilo que é do ser humano, do espírito, da vida, não cabe em qualquer fórmula, nem na rigidez artificial do raciocínio dedutivo. É preciso desejar a liberdade. E o caminho da redenção está na forma de expressão libertária do ensaio. Monsieur de Montaigne é persona non grata no círculo apolíneo da ciência. É preciso inocular a irresponsabilidade do livre pensamento pulsional no quartel general da doxa, nessa empresa produtora e reprodutora de lugares comuns que se perpetua na observação escrupulosa de suas regras internas de legitimação, com um toque retrógrado de corporativismo, rendida e vendida à cultura oficial. O ensaio se realiza plenamente nessa obra.

Poucos capítulos da história intelectual brasileira conseguiram extrair tanto sentido de um acontecimento fortuito, o encontro de uma beldade escravizada cheia de bossa, vendedora de doces nas ruas do Rio de Janeiro, com o viajante estrangeiro arguto e encantado, que deixou desse encontro o precioso registro, matéria prima trabalhada por Tales.

Depois de O soldado antropofágico, o que faltará ser dito para que nós, brasileiros de hoje, despertemos do sono letárgico das fabulações escravocratas da docilidade paternalista, da candura cristã, da dignidade concedida, da afabilidade superior, para conseguirmos enxergar enfim que o pesadelo não acabou, de que a escravidão não é passada, mas viva e presentemente reiterada na exploração dos corpos, na privação dos direitos, na violência cotidiana do Estado e da minoria branca privilegiada contra esse outro que grita e chora, mas que não se ouve, que gesticula e sangra, mas que não se vê? Faltava dizer-se aquilo que se não dizia, sobretudo das elites escravocratas de ontem e de hoje. Não falta mais. Tales o enunciou, afinal.

 

Jurandir Malerba é historiador, professor titular livre na UFRGS, autor de, entre outros, A corte no exílio: civilização e poder no Brasil às vésperas da independência (1808–1821).

(Publicado originalmente no site da revista Cult)