Política é uma atividade que exige dos seus atores um certo grau de esperteza, habilidade, resiliência, mas, igualmente, a intuição necessária para identificar e reconhecer atitudes corretas, de solidariedade, mesmo num campo marcado por traições vis. Nestes últimos casos, além da postura ética, exige-se, também, uma boa dose de gratidão. No campo político, para usarmos uma expressão do sociólogo Pierre Bourdieu, vale a máxima de que de boas intenções o inferno está cheio. Mas, mesmo neste terreno pantanoso há, sim, gestos de grandeza. Saber reconhecê-los pode fazer uma grande diferença.
Quando candidatou-se à Presidência da República - num contexto bastante adverso - o ex-governador Mário Covas, do PSDB, contou com o irrestrito apoio do então governador do Estado do Ceará, Tasso Jereissati(PSDB-CE). Salvo melhor juízo, nem mesmo entre os tucanos o nome de Covas era unanimidade, o que dá a dimensão do que representou o apoio de Tasso naquele momento. Mário Covas não foi bem- sucedido naquelas eleições. Nas eleições seguintes, vazou para a imprensa um diálogo entre Mário Covas e a esposa, onde ele afirmava que não podia "faltar" com Tasso, um dos poucos governadores de Estado que apoiaram o seu projeto presidencial.
Em plena crise do Mensalão, quando o presidente Lula estava sendo jogado às feras, o então governador Miguel Arraes(PSB) foi até Brasília emprestar sua solidariedade ao petista, gesto imensamente retribuido por Lula ao Estado, já então sob a gestão do neto de Arraes, Eduardo Campos(PSB). No auge de sua prevalência entre os tucanos, o governador Dória tomou atitudes típicas de quem não precisaria mais contar com os antigos companheiros. Quando o mineiro Aécio Neves(PSDB-MG) se viu encrencado, Dória pediu, sem cerimônia, seu afastamento do ninho tucano.
Ao longo do tempo, foi ampliando essa lista de desafetos na agremiação, tornando-se uma figura sensivelmente rejeitada por tucanos de alta plumagem. O resultado está aí. Foi cristianizado e não terá a menor chance na agremiação para um projeto majoritário. Talvez uma vaga para Deputado Federal, mas seria muita humilhação. Seus partidários ainda estudam uma saída honrosa,mas, mesmo esta saída honrosa está dificil de se construir diante das circunstâncias políticas criadas. De forma melancólica, talvez ele tenha que voltar para a iniciativa privada, onde aprendeu muitas lições corporativas que tentou adaptar, em alguns casos sem muito sucesso, para o campo político.
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