sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Editorial: Critérios políticos e não técnicos na reforma ministerial.
Estávamos a pouco analisando as eventuais mudanças que deverão ocorrer na Esplanada dos Ministérios, depois de concretizada a reforma ministerial que se avizinha no Governo Lula3. Não vamos aqui entrar nos detalhes - novamente para não melindrar -mas, a julgar pelo andar da carruagem política, estamos diante de uma reforma ministerial que tende a priorizar os critérios de acomodação política em detrimento do desempenho técnico dos ocupantes das pastas. Setores do PT já sinalizaram para Lula a necessidade de considerar essa questão, sobretudo num momento como este, de profundas dificuldades políticas, onde o Governo precisa mostrar serviços, fazer as entregas a população. Lula talvez esteja diante de sua última oportunidade de imprimir uma guinada positiva em seu Governo.
Não há mágicas por aqui. O próprio Lula reconhece a necessidade de realizar uma colheitas de resultados satisfatórios. É preciso fazer o diagnóstico preciso da situação. O critério politico não pode ser desprezado em função dessa famigerada necessidade de apoios políticos, mesmo que temerários e fluídos, como tem sido. 37 deputados da base aliada já endossaram a assinatura do mais recente pedido de impeachment do presidente Lula. Por outro lado, é preciso negociar com os partidos a indicação de nomes que possam, efetivamente, dar uma contribuição eficiente às suas pastas. Há problemas de gestão, por exemplo, na Saúde, no Meio Ambiente.
Por outro lado, os problemas na área de segurança pública são eminentemente políticos. A oposição resolveu cravar uma investida sem trégua para desgastar o Governo nesta área, já como projeto das eleições presidenciais de 2026. Não há motivação técnica para substituir o titular da pasta, Ricardo Lewandowski. O mais preocupante é quando se especula sobre os nomes que poderiam substituí-lo no Ministério da Justiça.
Editorial: Quando serão mesmo as entregas de Lula?
No dia de ontem, 3o, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob os olhares atentos do novo homem forte da comunicação do Planalto, Sidônio Palmeira, concedeu uma longa entrevista a jornalistas especialmente convidados, dentro daquilo que se convencionou chamar de entrevista controlada. Esta foi mais controlada ainda, uma vez que o formato já atende as diretrizes emanadas pela nova SECOM. A entrevista foi tão controlada que o próprio Lula, ao final, sugeriu que os jornalistas foram muito tolerantes e que deveriam tomar uma bronca de seus editores quando voltassem às redações dos jornais. Lula sugeriu que gostaria de ter sido apertado, talvez com aquelas perguntas impertinentes, difíceis de serem respondidas.
Como ainda são recentes as declarações duras do Presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab, Lula aproveitou a oportuni dade para sair em defesa do seu Ministro da Fazenda Fernando Haddad, tratado como fraco pelo cacique do partido, que, aliás, em tese, é um aliado. Mesmo diante de incontestáveis dificuldades e incertezas pela frente, Lula voltou a falar sobre o momento da colheita. A colheita já foi prometida em 2024 e, a rigor, a safra não foi das melhores. Suspeitamos que elas deverão ocorrer somente em 2026, ano eleitoral, ainda com otimismo. Entramos em 2025 com enormes dificuldades políticas e econômicas para o Governo Lula3. Esbanjar otimismo faz parte do jogo, mas, intimamente, o presidente não deve desconhecer as dificuldades da safra.
No dia de ontem, um desses grandes jornais sugerem que o núcleo duro petista está sendo fortalecido, caso se confirme mesmo a indicação do nome da presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, para a Secretaria-Geral da Presidência, a porta de entrada do Palácio do Planalto. O cargo é uma espécie de Chefia de Gabinete, filtrando demandas, priorizando audiências, entre outras prerrogativas. É verdade. Lula tem dado indicação que de que seguirá integrado internamente àquele PT mais autêntico, raiz, orientado ideologicamente. Animal político, externamente ele pode até sinalizar noutra direção, mas, internamente convém não abandonar a companheirada forjada ainda na luta sindical.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Editorial: O vazamento do depoimento de Mauro Cid.
Algumas práticas se tornaram preocupantemente recorrentes no país, como os assédios institucionalizados nas repartições públicas, sob os olhares omissos - e até incentivadores - dos gestores, que teriam, por motivações éticas e dever de ofício - impedi-los. Isso começa pelos anos de 2013, quando se inicia um processo de erosão de princípios éticos na condução da coisa pública e, lamentavelmente permaneceram sob a égide de governos de corte progressista, mas que não reuniram as condições políticas para, efetivamente, proceder sua interrupção. Não que tais fatos não ocorressem antes, mas nunca foram tão recorrentes como no período demarcado acima. O diagnóstico mais cabal de tal processo de politização ou relativização dos princípios éticos é a conclusão de que a companheirada está imune, enquanto os bolsonaristas são necessariamente culpados.
Hoje não há dúvidas de que aqueles vazamentos de áudios seletivos com o objetivo de comprometer o Governo da Presidente Dilma Rousseff contaram, possivelmente, com a negligência - vamos usar o termo para não melindrar - de agentes do Estado. A polêmica da vez diz respeito ao vazamento do áudio de um dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, no curso de sua delação premiada. Sabe-se lá como esses áudios chegaram às redações de jornais e a uma emissora de televisão. Salvo melhor juízo, isto não está sendo investigado. O vazamento causou indignação entre os atores que são citados e, agora, é a defesa do militar que está sugerindo que o fato seja investigado.
O próprio Mauro Cid é quem afirma que, em nenhum momento, utilizou a palavra "golpe". Coisas estranhas passaram a ocorrer no país. Único delator confesso sobre as tessituras envolvendo uma tentativa de golpe de Estado no país, não é a primeira vez - e possivelmente não será a última - que tais depoimentos causam polêmicas. O depoimento do militar é crucial para as investigações encetadas pela Polícia Federal.
Editorial: As verdades ditas por Gilberto Kassab.
Gilberto Kassab, Presidente Nacional do PSD, é hoje um dos atores políticos mais relevantes do cenário político nacional. Possivelmente por ocupar tal condição, quando ele fala as pessoas tendem a ouvi-lo e considerar os seus posicionamentos. Num encontro recente com empresários, o super secretário do Governo de São Paulo afirmou duas verdades sobre o terceiro Governo Lula. A primeira diz respeito à falta de comando na condução da política econômica. Teríamos um ministro da Fazenda sem autonomia, fraco, o que se constitui num grave problema. Outra verdade externada pelo Presidente Nacional do PSD é que o Governo Lula vai mal e o morubixaba petista não seria reeleito se as eleições fossem hoje.
Essas discussões e conclusões já estão presentes em vários segmentos da legenda petista. Gilberto Kassab externa aquilo que, internamente, setores do partido já haviam diagnosticado. Conforme já antecipamos por aqui, Lula tenta se reerguer atolado num pântano de areia movediça. Os movimentos erráticos apenas agravam os seus pesadelos, como esta infeliz ideia de monitorar as movimentações com PIX. Analistas isentos já se pronunciaram de forma pessimista em relação à possibilidade de uma reação positiva do Governo. Ameaça de inflação; popularidade em queda livre; juros na estratosfera; oposição solta no picadeiro; dificuldades em áreas estratégicas, como comunicação e articulação política; perda de capilaridade política em regiões como o Nordeste e entre eleitores de estratos sociais mais fragilizados; derrotas eleitorais sucessivas, como nas eleições de 2022 e 2024. O ambiente está turvo.
No dia de ontem um jornalista estava enaltecendo os conhecimentos políticos da raposa Gilberto Kassab. Em seu bunker político no Palácio dos Bandeirantes ele seria capaz de fazer previsões políticos para todas as praças do país, afirmando, por exemplo, quantos parlamentares este ou aquele partido seria capaz de eleger em praças como o Maranhão ou o Acre. Kassab não é de direita ou de esquerda. Adota a máxima de que não se pode estar tão próximo que não possa se afastar, assim como não se pode estar tão distante que impeça uma aproximação. Na expectativa de aguardar o momento de Tarcísio de Freitas - dizem que apenas em 2030 - ele se concentra em alavancar a candidatura do governador Ratinho Junior, do seu partido, em 2026. Se Lula sair do atoleiro em que está metido, Kassab muda de posição no tabuleiro do xadrez político. Kassab não do tipo de político que pula no mar para o abraço dos afogados. Simples assim.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Crônicas do Cotidiano: A Alcântara de seu Jerônimo.
Editorial: O pedido de impeachment de Lula.
O pedido de impeachment do presidente Lula, encetado por iniciativa de um deputado do PL, já conta com 117 assinaturas. O motivo seria as eventuais manobras orçamentárias das verbas usadas no programa Pé-de-Meia, interditado pelo Tribunal de Contas da União. Os parlamentares de oposição, sob o argumento de que o orçamento do programa não havia sido aprovado previamente, asseguram que o Governo Lula3 estaria incidindo nos mesmos equívocos atribuídos a ex-presidente Dilma Rousseff, as famosas pedaladas fiscais. Embora a situação política do Governo não seja das melhores, em tese, trata-se de mais um daqueles pedidos que acabarão sendo engavetados.
O que preocupa neste caso específico, no entanto, é a forte adesão de parlamentares de partidos da base aliada, com assento na Esplanada dos Ministérios, como o MDB, o União Brasil, o PSD, Progressistas e Republicanos. Pelo andar da carruagem política, não há arranjo político que se viabilize por aqui. O Planalto tem feito um esforço enorme para assegurar um mínimo de governabilidade. Há ministros enredados que o Governo poupa apenas para não melindrar os padrinhos dos partidos que os indicaram. A conta não bate, uma vez que 37 parlamentares desses partidos resolveram, sem qualquer constrangimento, aderir ao pedido de impeachment encampado pela oposição bolsonarista.
Estamos tratando aqui de uma governabilidade sensivelmente temerária. O conceito de presidencialismo de coalizão, antes usado para definir tal situação, hoje, nem de longe, consegue explicar esta situação. Os cientista políticos terão que se debruçarem sobre o tema com o objetivo de conceituar o que ocorre nesses dias bicudos. Se, antes, esse pedidos de impeachment não passavam de manobras protocolares, hoje, no entanto, o Governo Lula3 precisa colocar as barbas de molho, diante dessa conjuntura política adversa. Comunicação institucional deficiente, popularidade em queda livre, musculatura política da oposição, perspectivas não muito alvissareiras pela frente.
Editorial: Uma reforma ministerial que considere o desempenho dos ministros.
Uma das grandes conclusões dos brasileiros que desaprovam o Governo Lula3, conforme checagem da pesquisa realizada pelo Instituto Quaest Genial, é que o Governo não está entregando o que prometera em campanha. A essa altura do campeonato, o próprio Lula reconhece este fato, quando admite que é preciso plantar e que a hora da colheita é daqui para frente. O Governo Lula3 está precisando mesmo de uma boa safra, capaz de reduzir o preço de alguns produtos agrícolas nas gôndolas dos supermercados; entregar obras estruturantes; ampliar as políticas públicas destinadas aos mais fragilizados socialmente, criando a marca deste terceiro Governo; aparar ou minimizar as arestas com a oposição; criar a capilaridade política necessária para tornar-se competitivo ao pleito presidencial de 2026, de preferência evitando novos deslizes, como a proposta de monitorar as operações com Pix, que deve ter produzido uma erosão de imagem e desconfianças na população.
Como se sabe, a lista desta colheita é enorme, incapaz de ser concluída com um simples editorial. Neste momento, o Governo está envolto com enormes dificuldades. Já se prenuncia, por exemplo, eventual novo aumento de combustível, o que pode ampliar ainda mais a combustão política. Neste contexto, preocupa as movimentações em torno da reforma ministerial que deverá ser anunciada nos próximos dias. Sugere-se que a discussão está sendo conduzida de forma eminentemente política, quando os critérios técnicos precisam ser necessariamente considerados, sobretudo numa conjuntura onde a população exige o cumprimento de promessas de campanha. Há alguns ministros com desempenho sofrível, quando não enredados em problemas de irregularidades em suas pastas.
Aos poucos, as nuvens da reforma ministerial vão se pronunciando no horizonte da Esplanada dos Ministérios. José Múcio Monteiro deve deixar o cargo, em razão de problemas pessoais. Vários nomes estão sendo cotados para substituí-lo, inclusive uma mulher, o que seria inusitado naquela pasta. Uma mulher e civil. Cátia Abreu está entre as cotadas. Gleisi Hoffmann, que deixa a direção nacional do PT, deve assumir uma pasta palaciana, ficando mais próxima de Lula. Alexandre Padilha deve deixar a Articulação Institucional e assumir o Ministério da Saúde ou da Defesa. Em conversas com o presidente Lula, o prefeito do Recife, João Campos, que assume a direção nacional do PSB em maio, teria solicitado manter a participação do partido na Esplanada dos Ministérios.
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Editorial: O depoimento de Mauro Cid.
O jornal Folha de São Paulo divulgou um dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, no curso das investigações sobre a tentativa de golpe do 08 de janeiro. Trata-se de um fato que alcançou enorme repercussão e, pelo andar da carruagem política, vamos gastar ainda muita tinta tratando deste assunto. Na realidade, diante das contingências adversas para o militar e para seus familiares, o ex assistente de ordens da Presidência da República resolveu abrir o jogo sobre as tessituras que antecederam as manifestações golpistas do 08 de janeiro, com riqueza de detalhamento, apontando, inclusive, os fatores e personagens determinantes para a não materialização do golpe que estava sendo armado contra as instituições democráticas do país.
O depoimento de Mauro Cid confirma, inclusive, que a não adesão do comandante do Exército à época, o general Freire Gomes, foi determinante para a inviabilização do projeto autoritário em curso, conforme outras versões que já circulavam. Embalado nesta onda midiática, um programa televisivo trouxe áudios cabulosos, supostamente travados entre os conspiradores, o que demonstra, em última análise, a fragilidade de caráter dos golpistas. Um deles adverte que ali não seria o ambiente para as pessoas que ainda preservavam os princípios éticos, o que, convenhamos os leitores, não chega a ser algo que surpreenda num grupo com tal perfil.
Os bolsonaristas citados no depoimento, alguns deles até então não arrolados nas investigações, como sempre, exploram a tese do negacionismo. Esses depoimentos, obtidos através dos acordos de delação premiada, tem sido importantes para conduzir ou orientar as investigações encetadas pela Polícia Federal sobre o assunto. Houve um momento em que, por pouco, o acordo não foi cancelado, depois que a PF verificou que alguns fatos haviam sido omitidos pelo militar. Em diálogos com o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, Mauro Cid conseguiu esclarecer o assunto e tudo foi contornado.
Editorial: O derretimento da popularidade do Governo Lula3.
No dia de ontem, 27, foi divulgada uma nova pesquisa do Instituto Quaest sobre a popularidade do Governo Lula3. Pela primeira vez na série histórica de pesquisas realizadas pelo instituto tratando deste tema, o índice de desaprovação do Governo supera os índices de aprovação, ou seja, 49% desaprovavam, enquanto 47% aprovam o Governo. Um indicador bastante preocupante, suficiente para acender o alerta vermelho no Palácio do Planalto, é que a desaprovação do Governo amplia-se em regiões como o Nordeste, tradicional reduto político do PT, e entre a população de baixa renda, uma população sempre mais sensível às políticas públicas geradas pela legenda Estima-se que o Governo tenha perdido 10% percentuais apenas no Nordeste.
O quadro, aliás, para sermos mais precisos, é sensivelmente preocupante. Já cansamos de enfatizar por aqui que o problema de avaliação positiva do Governo não diz respeito apenas a uma questão de comunicação, daí se entender que a aposta que o Governo Lula3 faz na eventualidade de, mudando o como esses índices possam ser revertidos é equivocada, constituindo-se me mais um erro estratégico. As digitais do novo homem forte da comunicação palaciana já são evidentes em alguns anúncios transmitidos pela TV aberta. Em reunião recente com seus auxiliares o presidente Lula, ao negar que seria candidato em 2026, acabou confirmando sua candidatura, até mesmo pela ausência de um nome que reúna as condições de substitui-lo entre o seu staff político mais próximo.
O momento que o Governo Lula3 enfrenta é tão complicado que até mesmo o programa Pé-de-Meia, que se apresentava como uma eventual nova marca identitária da gestão do Governo Lula3, segundo os órgãos de fiscalização e controle, enfrenta problema com as verbas de custeio. Podemos até estarmos enganados, mas a probabilidade de uma reversão desses índices de impopularidade são remotas. As circunstâncias são muto adversas e o diagnóstico que o Governo faz da situação equivocado. Sem uma profunda autocrítica a conjuntura desfavorável não será revertida. E não se faz autocrítica decretando sigilo de informações fundamentais ao pagador de impostos.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
domingo, 19 de janeiro de 2025
Editorial: João Campos já cumpre missões nacionais pelo PSB.
No final de maio o prefeito reeleito do Recife, João Campos, deverá assumir a Presidência Nacional do PSB, em substituição a Carlos Siqueira. Até aqui nenhuma novidade, uma vez que os socialistas pernambucanos sempre ocuparam espaços relevantes na direção da legenda, em razão da força e representação que exercem em Pernambuco. Se quisermos ir além, há até razões históricas e simbólicas para esta primazia. Neste caso em particular, em razão da popularidade do prefeito, a agremiação partidária almeja um futuro promissor para o futuro presidente da legenda, preparando o terreno para alçá-lo a projetos presidenciais. Tanto Geraldo Alckmin quanto Carlos Siqueira não poupam elogios ao político pernambucano.
Até recentemente, o prefeito entregou a gestão da cidade ao seu vice, Victor Marques, informando que iria usufruir de uns dias de recesso. Como recesso de homem público é coisa complicada, neste intervalo o prefeito já manteve encontros com Lula, onde teria sido discutido a questão de como o prefeito utiliza as suas redes sociais, comandada por um equipe que pode reforçar o time do Planalto na área. Este assunto tornou-se um ponto nevrálgico para o Planalto. Por outro lado, informes do próprio PSB asseguram que o prefeito já cumpre compromissos nacionais pela legenda, antes mesmo de assumir o cargo, o que só ocorre no final de maio.
João Campos teria mantido encontros com a bancada federal do partido e com o Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com quem discutiu a presença dos socialistas no Governo durante a reforma ministerial que se prenuncia. Conforme discutíamos no dia de ontem, 18, Lula tem muitas variáveis para controlar em relação a essa reforma ministerial. Partidos querem ampliar o seu naco de poder, outros desejam entrar, alguns ministros não estão bem em suas gestões.
sábado, 18 de janeiro de 2025
Editorial: A insustentável leveza de Fernando Haddad.
A princípio, cogita-se algumas possibilidades para Lula ter nomeado Fernando Haddad o seu Ministro da Fazenda. Possivelmente arrumar a casa no tocante à economia e, assim, fortalecê-lo para as eleições presidenciais seguintes, já que, em princípio, seu nome seria o melhor ranqueado entre os eventuais ungidos pelo morubixaba petista. Mas, a rigor, Lula iniciou o Governo navegando num terreno pantanoso, carregado de obstáculos, atolado em areia movediça, onde, quanto mais o sujeito se mexe, mas afunda. Crise institucional instaurada, inclusive com ameaça de golpe.
Em tais circunstâncias, não podemos falar de um bom começo. Venceu uma eleição onde a oposição fez maioria parlamentar, não aceitou o resultado do jogo e fustiga o governo em todos os campos. Nas ruas, nas redes sociais, no parlamento. Em alguns casos, com o apoio de parte da mídia. Eles estão azeitadíssimos dentro e fora do país. O vídeo do Nikolas Ferreira atingiu mais de 300 milhões de visualizações. Dizem que contou com o apoio inestimável - e não subestimável - daquele tal do algoritmo de uma dessas redes sociais, que não vamos mencionarmos por aqui para não melindrar, colocando mais lenha na fogueira. Estamos mais para bombeiros do que para incendiários. O fato é que o percentual de pessoas que viram o vídeo é superior à população brasileira.
Soube agora que se cogitam, até mesmo, eventuais mobilizações de rua já no sentido de pedir o impeachment do presidente Lula. Como a História se repete, seja como farsa ou como tragédia - até recentemente a população de São Paulo protestou contra o aumento da tarifa de transporte público, assim como ocorreu naquelas mobilizações de 2013, que começaram assim, mas foi aprisionado pelo extrema direita e culminou, três anos depois, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. A economia é uma das áreas que não vão bem no Governo Lula3. Há outras áreas que também não vão bem, mas como dizia o economista Roberto Campos, o bolso é a parte mais sensível do ser humano.
Haddad sofre o assédio do fogo amigo para efetivar o seu programa de ajuste fiscal, cortando gastos, o que significa briga feia com alguns segmentos da legenda; aprovou-se um pacote cheio de remendos - sempre favorecendo os mais aquinhoados, como no caso dos supersalários- e, agora, a infelicidade do anúncio de controle do Estado sobre as movimentações com Pix, o que fortaleceu a oposição e deixou a população enfurecida. Na realidade a revolta da população foi insuflada pela propagação das famigeradas fake news, um expediente amplamente utilizado pela extrema direita. O Governo voltou atrás sobre a medida, mas existe a ressaca da impopularidade, que deve ser aferida nas próximas pesquisas de avaliação de gestão. Segundo um levantamento do Instituto Quaest, um percentual expressivo da população sequer sabe que o Governo revogou a medida, o que é muito sério.
Num clima como este, não estranha que o ministro tenha perdido a esportiva e dito algo fora do script formal - como se diz por ali, perdeu a esportiva - suscitando as reações do outro lado. Tanto o Flávio Bolsonaro quanto o Jair Bolsonaro estão entrando na justiça contra o ministro. O desgaste é grande. Ele já anunciou que não pretende ser candidato em 2026. Não deve ter sido apenas para esfriar os ânimos e as especulações em torno do assunto. O plano inicial, que seria o de fortalecê-lo como eventual candidato presidencial do partido, no momento em que Lula pendurasse as chuteiras, sugere-se que não está dando certo.
Editorial: O destino de Rodrigo Pacheco.
Há muito se especula acerca do destino do Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, que deve está deixando o cargo nos próximos dias. Em outras postagens, aventamos algumas possibilidades, mas sempre no campo das especulações, como uma indicação para o TCU, ao STF ou a retomada de sua carreira política em Minas Gerais, onde tem suas bases. Dizem até que o Palácio Tiradentes estaria entre os seus planos, ancorado na capilaridade conquistada pelo seu PSD, que ampliou sensivelmente o número de prefeituras naquele estado, assim como o apoio do PT, o que hoje torna-se cada vez menos provável, dada as movimentações da legenda nas alterosas, sempre com o propósito de construir uma alternativa própria.
Assim, a partir dessa perspectiva, eles agem até junto ao Planalto, no sentido de não facilitar a vida do parlamentar - concedendo um ministério, por exemplo - o que poderia projetá-lo no estado. Diferentemente de Arthur Lira, sempre enigmático, Rodrigo Pacheco tem mantido uma posição que o coloca hoje como um aliado do Palácio do Planalto. Se o senador vier a ocupar um ministério, sugere-se que poderia ser o Ministério da Justiça, em substituição a Ricardo Lewandowski. Vamos ser sinceros por aqui. A esta altura do campeonato, nem o próprio Lula ainda deve ter claro as variáveis que definirão os critérios de escolhas de eventuais novos ministro.
Os problemas começam pelo número excessivo de ministérios que já existem. Há problemas de resultados que não foram entregues por alguns ministérios; acomodação da nova correlação de forças oriundas das eleições municipais passadas; musculatura política para o embate de 2026, que será dificílimo, pelo andar da carruagem política. Na realidade, está tudo muito confuso. Segundo especula-se, o anúncio desastrado das eventuais mudanças no Pix não teria chegado à Casa Civil. Enquanto cobra um status melhor na Esplanada, o PSD trabalha para alavancar o nome de Ratinho Junior, governador do Paraná, como alternativa para as eleições presidenciais de 2026. A esta altura do campeonato, um cargo vitalício, com bom salário, sem os aperreios da política seria de bom tamanho para o aliado.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Editorial: O PT que não aceita Raquel Lyra.
Existe um PT bom de briga. Conforme já discutimos numa outra oportunidade, e isso não é necessariamente ruim. Ao contrário, este PT brigão é aquele mesmo responsável pela saúde da democracia interna da legenda, aquele que se insere junto aos movimentos sociais orgânicos ou de base. É aquela ala do partido que respeita as decisões dos filiados, que aprovam candidaturas da legenda mediante compromissos públicos e partidários. Nas eleições passadas, em João Pessoa, por exemplo, o grupo comprou uma briga com o Grupo Eleitoral, que agia nacionalmente, uma vez que o diretório municipal havia deliberado em assembleia que os postulantes do partido à Prefeitura de João Pessoa passariam por uma prévia, onde o vencedor seria homologado.
No final, a Executiva Nacional decretou uma espécie de intervenção branca, indicando um nome que não tinha capilaridade orgânica com a legenda e ele acabou se dando mal no pleito. A direção municipal do partido à época deixou claro que não se mobilizaria com o mesmo empenho em torno do nome determinado pelo Grupo Eleitoral. Aqui no Recife, existe uma ala da legenda que defende uma aproximação maior com a governadora Raquel Lyra, do PSDB. As sondagens neste sentido envolvem até mesmo figuras de proa da legenda, com assento na Esplanada dos Ministérios. A questão é que, enquanto esse grupo deseja a filiação da governadora, talvez integrar o governo e articular alianças visando as eleições de 2026, já existe um grupo do PT que integra o Governo Municipal de João Campos e não deseja a filiação da governadora ao partido. Este grupo que apoia João Campos ocupa três secretarias municipais.
Curiosos são os pronunciamentos de Cirilo Melo, presidente municipal da legenda, ao abordar este assunto, em matéria do Jornal do Commércio publicada no dia de hoje, 17. Segundo dizem, o prefeito João Campos, com o prestígio em alta em Brasília, principalmente em razão do trabalho exitoso de sua equipe nas redes sociais, não anda nada satisfeito com essas movimentações da legenda em torno da governadora Raquel Lyra.
Editorial: Corregedoria e força tarefa esclarecem morte do empresário Vinícius Gritzabach.
Algumas coisas parecem óbvias e outras não menos preocupantes em relação a morte do empresário Vinicius Gritzabach. Recentemente, a Corregedoria da Polícia e a força tarefa empenhada em elucidar o episódio, prendeu um cabo da ativa da Polícia Militar, que seria o responsável pelos disparos de fuzil que culminou com a morte do delator do PCC, assim como de um motorista de aplicativo que estava no local, morto acidentalmente. Em princípio, sugere-se que a escolta de segurança do delator estaria envolvida diretamente no planejamento e execução do crime. Tudo se encaixa perfeitamente numa trama sinistra, como aquele carro que quebrou e uma parte da escolta optou por proteger o automóvel, enquanto a vítima expunha-se à vulnerabilidade.
Depois o olheiro, preso logo em seguida, salvo melhor juízo, também com ligações com o aparato policial, indicavam o envolvimento desses policiais no crime. 15 deles foram presos, todos integrante da segurança do empresário - Derrite odeia essa denominação, uma vez que estamos tratando aqui de uma pessoa que, comprovadamente, lavava dinheiro para o crime oranizado - Até o governador Tarcísio de Freitas se pronunciou sobre o assunto, possivelmente a partir dos informes do seu Secretário de Segurança, observando que a destreza do atirador indicava que ele era um policial. As motivações são óbvias, os mandantes igualmente, mas a força tarefa agora empenha-se no objetivo de identificar quem deu a ordem para assassinar o delator. Aqui se impõe uma dúvida. E se a ordem não partiu de alguma liderança individualmente?
A seara das preocupações é mais complexa. Observem o nível de contaminação do aparato de segurança do aparelho de Estado pelo crime organizado. No Rio de Janeiro, parece não haver dúvidas de que já podemos falar em um narcoestado. A delação de Gritzabach expôs, de uma maneira sensivelmente preocupante, o quanto essa organização criminosa já atua em conluio com pseudos agentes públicos, que agem em nome da Lei, usam distintivos, não aprendem essas lições em academias de polícia, mas estão mancomunados com os fora da lei. O mais grave é que este sintoma de metástase observada em centros como São Paulo e Rio de Janeiro já são observados em todo o país.
Crônicas do Cotidiano: Jampa: Aqui a engorda é outra.
Depois do tsunami produzido pelas fake news disseminadas sobre a taxação do Pix, que deu uma dor de cabeça danada ao Governo, no dia de hoje, 16, a notícia que mais repercutiu foi a negação do passaporte do ex-presidente Bolsonaro, que pretendia comparecer à posse do amigo Trump, que ocorre no próximo dia 20. Bolsonaro alegou que se sentiu muito feliz com o convite, rejuvenescido. Tão bem que talvez nem precisasse mais tomar Viagra. Antes que nos condenem por aqui, foram palavras do próprio ex-presidente, que, no passado também já havia afirmado ser imbrochável. A decisão da Suprema Corte caiu como uma ducha de água fria no seu entusiasmo. O ex-mandatário do país alegou que estava sendo perseguido, assim como ocorrera com o amigo americano. Sua esposa, Michelle Bolsonaro, irá representá-lo no evento.
E, por falar em tsunamis, voltaram a circular as tristes imagens dos estragos produzidos pelas chuvas em Balneário Camboriú, quando as lagoas, formadas depois do processo de engorda da praia, contaminadas por coliformes fecais, invadem as ruas principais dos condomínios, tornando um inferno a vida dos ricaços que moram por lá. Nesses momentos, os comerciantes e o trade turístico assumem a batalha das redes sociais, defendendo o Balneário dos ataques dos internautas. Mas, se, por um lado, as fake news são abomináveis, neste caso em particular, verdades não se combatem com mentiras. Estamos, na realidade, diante de uma tragédia ambiental.
Até bem pouco tempo, a praia de Ponta Negra, em Natal, passou por um processo semelhante. Tudo ia muito bem, espetáculos foram ali realizados, com grande afluência de público nos festejos de final de ano. Tudo ia bem, registre-se, até a primeira chuva mais forte, que formaram inúmeras lagoas nas áreas de engorda. Há alguma coisa de errado com essas intervenções. Até recentemente, o poder público chegou a propor um projeto semelhante para a praia de Manaíra, em João Pessoa. O projeto seria executado pela mesmo empresa que ficou encarregada da engorda do Balneário Camboriú. Ainda bem que voltaram atrás logo em seguida.
Vocês precisam acompanhar o que está acontecendo aqui em Jampa. Hoje, por exemplo, é dia de um daqueles luais concorridíssimo, com cantores, artistas de ruas, música ao vivo e muita gente. Gente de todas as idades, de todas as tribos. Papeando, tomando suas cervejinhas, jogando uma partida de dominó. Definitivamente, aqui a engorda é outra. Começa logo cedinho, no Mercado Público de Tambaú, com suas frutas de época, como as mangas espadas de Santa Rita, os abacaxis de vermelhos de Sapé, castanhas de caju assadas no tacho - hoje isso faz uma diferença enorme, numa época em que os asiáticos resolveram fabricar castanhas - doces, mel de engenho, queijos, carne de sol de Picuí. Na peixaria, sururus frescos, camarões e aquelas postas de pescada amarela, que se comem fritas, acompanhadas de arroz soltinho e um suco de araçá bem geladinho. Alguém já experimentou essa iguaria? Quem foi que disse mesmo que João pessoa iria se transformar no curral de Natal?
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Editorial: Batalha de titãs pelas redes sociais.
Vamos nos atualizar por aqui, para não perdermos nenhum lance dessa verdadeira batalha de titãs que deverá ser desencadeada pelas redes sociais, envolvendo o Governo Lula3 e a oposição, antecipando, desde já, o embate que deverá ser travado em relação às eleições presidenciais de 2026. A oposição bolsonarista, como se sabe desde algum tempo - desde 2016, para sermos mais precisos - passou a ocupar um espaço estratégico nas redes sociais. Quando o presidente Bolsonaro foi eleito naquelas eleições, agradeceu ao filho Flávio Bolsonaro, que ficara responsável por suas redes sociais.
Muita coisa ocorre neste submundo - algumas até ilegais e imorais - mas não vamos aqui entrar neste mérito. Não há a menor dúvida de que, neste momento, eles continuam ganhando de braçadas na comunicação digital, um fato até mesmo admitido pelo novo Ministro da Comunicação Institucional, Sidônio Palmeira, que assumiu a pasta recentemente, onde admitiu, em discurso de posse, que o governo talvez ainda esteja na era analógica neste terreno. Enfatizamos por aqui, em mais de um momento, que o problema do Governo Lula3 não é apenas de comunicação. O Governo convive com inúmeros problemas em áreas estratégicas, como saúde, segurança pública, economia e, por conseguinte, até em comunicação.
O Governo ainda não criou uma marca que identifique este terceiro mandato do PT, como ocorreu nos governos anteriores, onde você tinha o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, a expansão e acesso ao ensino técnico e superior. Estão pensando no Pé-de-Meia, mas as discussões em torno do assunto ainda são incipientes, até porque o Governo Lula3, para variar, é também muito dividido e isso fortaleceria o nome de Camilo Santana como eventual sucessor do morubixaba. O discurso do novo titular da Secom parte do pressuposto de que o governo tem realizações e o problema é que elas não chegam na ponta - entenda-se as inúmeras camadas da população - em virtude das campanhas de desinformação orquestradas pela estrema direita, que cria um cortina de fumaça deliberada, ofuscando as realizações de Governo.
Conforme afirmamos no editorial anterior, o governo precisa atingir essa ponta. O caminho que apontamos por aqui talvez não coincida, necessariamente, com o proposto por Sidônio Palmeira. Inflação em alta, por exemplo, chega na ponta. Na ponta dos mais pobres, onde tais reflexos são mais expressivos, uma vez que atinge o seu orçamento apertado para pagar as contas do mês. E toma seu cafezinho, que está aumentando sensivelmente. Isso é ponta. Um desses grandes jornais, no dia de hoje, traz a noticia de que o PL já estaria se movimentando em torno da campanha de 2026 e, neste sentido, anda estabelecendo uma espécie de colóquio de consultoria com o marqueteiro Duda Lima, que já foi responsável pela campanha de Bolsonaro e, mais recentemente, pela campanha vitoriosa de Ricardo Nunes à Prefeitura de São Paulo.
O jornal insinua as eventuais digitais do marqueteiro neste vídeo que andou causando um tsunami nas redes sociais, onde aparece o deputado federal Nicolas Ferreira comentando as novas normativas do Governo Federal sobre o uso do Pix. Nikolas Ferreira poderia ter sido indicado pelo próprio Duda Lima, em razão da sua popularidade nas redes sociais. Não precisamos dizer que o vídeo produziu um estrago imenso na imagem do Governo, que já anda desgastada. Membros do próprio Governo admitem aqui uma estrondosa vitória da oposição. O vídeo chegou à ponta, para usarmos uma expressão do marqueteiro do Planalto. Foi visto por 220 milhões de pessoas e teria adicionado 13 milhões de seguidores ao parlamentar, apenas numa de suas redes. Uma avalanche de repercussão. Inclusive fornecendo musculatura ao parlamentar para os novos embates que virão pela frente. Não é todo dia que se adiciona 13 milhões de seguidores numa rede social.
Antes de desistir das medidas que estavam sendo pensadas sobre o Pix, o Governo até pensou em convidar o deputado federal Lindbergh Farias para rebater o deputado mineiro, um bolsonarista roxo. Às pressas, o Governo Lula3 está recorrendo à equipe de marketing digital do prefeito do Recife, João Campos, que já está em conversas avançadas com o pessoal da Secom. Dois nomes da equipe do prefeito participam dessas negociações sobre eventual suporte digital, Mariah Queiroz e Rafael Marroquim. Pelo andar da carruagem política, o Planalto vai investir pesado para reverter a situação desfavorável do Governo nas redes sociais. Uma batalha de titãs de se aproxima. Aguardem os próximos capítulos.
Editorial: O Governo volta atrás sobre as novas regras do Pix. Como administrar a "ressaca" da imagem?
Segundo dizem, o novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira, já havia caído em campo para tentar estancar a sangria das fake news que foram disseminadas em relação às novas regras que a Receita Federal havia determinado em relação às operações com Pix. Antes que isso ocorresse, no final da tarde de ontem, depois de um estrago de imagem enorme que já havia sido produzido, o Governo voltou atrás, revogando a instrução normativa em torno do assunto. Fica tudo como era antes em relação às operações com Pix, para alívio de inúmeros brasileiros, principalmente pequenos comerciantes, prestadores de serviços, pessoal dos aplicativos, microempresários, que tem neste instrumento sua prioridade no que concerne às transações financeiras.
Há toda uma mobilização de autoridades federais no sentido de judicializar essa questão, identificando e punindo com os rigores da lei aqueles atores que teriam espalhado a notícia falsa de que o Governo pretendia taxar as operações com Pix. Os dispositivos de disseminação de fake news tornaram-se um dos instrumentos mais perniciosos desse subterrâneo da política que passamos a enfrentar nos últimos anos, onde a mentira, aliada a instrumentos de tecnologias modernos, tornou-se uma arma política poderosa nas mãos da extrema direita. Outro dia alguém mencionou até um nome técnico específico para se referir a este fenômeno. O vídeo divulgado pelo político mineiro Nikolas Ferreira atingiu mais de 220 milhões de pessoas, incorporando ao seu perfil, em apenas uma das redes sociais, 13 milhões de novos seguidores.
O Governo Lula3, no entanto, precisa fazer uma autocrítica em torno do assunto. A gestão não vai bem, a medida impopular foi amplamente repelida pela população, tomada em momento inoportuno, o que deverá produzir estragos ainda maiores na imagem do Governo. Declarar guerras às big techs, sem que se faça uma correção de rumo na gestão não irá resolver o problema. O Governo Lula3 não enfrenta apenas um problema de comunicação. O Governo precisa ter o que comunicar, retomando o diálogo com amplos segmentos sociais que se distanciaram do discurso superado da legenda do PT. Eis aqui a grande missão de Sidônio na Secom: identificar as aspirações desses segmentos brigados com o Governo e, preferencialmente, não contrariá-los com medidas impopulares.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Crônicas do Cotidiano: A bela de Belo Jardim.
Ainda no primeiro ciclo do ensino fundamental, que hoje recebe a nomenclatura de fundamental I, conquistamos o primeiro lugar num concurso de redação promovido pela escola onde estudávamos. Aluno rude para aprender a ler - aquele que deu tanto trabalho a Dona Maria José Tavares de Lima, nossa inesquecível professora primária - depois que aprendemos, passamos a ler tudo que encontrávamos pela frente. Líamos e colecionávamos de tudo, acumulando muitas pastas pela casa, tratando de todos os assuntos possíveis e imagináveis. Sabíamos de cor as datas e os nomes dos grandes cientistas que estiveram envolvidos na conquista da lua; os piores acidentes de avião; o enriquecimento do urânio; as ocorrências sinistras no Triângulo das Bermudas; o assassinato de John F. Kennedy; o escândalo Watergate; os artigos que o antropólogo Gilberto Freyre publicava, todas as quintas-feiras, no Diário de Pernambuco.
Depois, descobrimos que não estávamos sozinhos nessa maluquice. Existia um outro cidadão que enchia as paredes do seu quarto com recortes de jornais e revistas, o que lhes permitia acompanhar todas as ondas de mudanças sociais: Alvin Toffler, escritor americano. Saber que estávamos bem acompanhados nos proporcionaram algum conforto emocional, porque as pessoas censuram uma eventual bizarrice neste ato. Por outro lado, isso nos permitiam apresentar os melhores trabalhos do colégio nos círculos subsequentes de ensino. Não tínhamos concorrentes no fundamental II.
Se isso nos permitiam apresentar os melhores trabalhos escolares, certamente, deve ter contribuído para que fizéssemos aquela redação prestigiada pelo pessoal do colégio. Sempre ocorreram esses vieses em concursos desta natureza. Hoje, por exemplo, em tempos de identitarismo, participar de um concurso literário sem uma obra que aborde a questão do empoderamento feminino, minorias como quilombolas, indígenas ou grupos LGBTQIA+, você já entra em desvantagem. À época do concurso da escola existia um conjunto de pessoas que defendiam, se identificavam ou eram patrocinadas pelo oligarquia industrial local.
A hegemonia dessa oligarquia era tão onipresente na cidade que até a atuação da Igreja Católica no município ocorria sob os auspícios do grupo industrial, que cedia espaços físicos, nomeava padres e até construía igrejas. Mas, ainda bem que existem as dissidências mesmo dentro dessas organizações. Por essa época já haviam algumas pastorais da Igreja Católica Progressista atuando no município, em defesa do interesses dos trabalhadores. Hoje, passados esses anos, estamos convencidos de que o voto da ala progressista da Igreja foi decisivo para a nossa premiação naquele certame, mesmo que a redação fizesse referência a um tal de Roberto do Diabo, líder sindical que implantou o primeiro sindicato de tecelões da cidade.
Roberto do Diabo tornou-se uma espécie de herói entre os moradores da vila operária. Inimigo declarado da oligarquia industrial, perdeu sem emprego na indústria têxtil e, consequentemente, precisou entregar a casa onde residia com a família. Como se recusasse a cumprir a determinação, num ato execrável, sua residência foi destelhada pela milícia dos poderosos locais. Fatos como este são tratados em capítulos do nosso primeiro romance, Menino de Vila Operária, que aguarda uma segunda edição. Mas, a invocação a tal episódio é por um bom motivo. Entre os doze alunos que conquistaram a nota mil na redação do ENEM, há uma pernambucana, de Belo Jardim, a quem parabenizamos e dedicamos a crônica de hoje.