pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 24 de junho de 2025

Editorial: A acareação entre Mauro Cid e Braga Netto.


Este é um dos assuntos mais comentados no dia de hoje. Está prevista para logo mais uma acareação entre o tenente-coronel Mauro Cid e o general Braga Netto, no curso da ação 2668, que trata da tentativa de golpe de Estado no país. Uma pena que não será transmitida, assim como ocorrera com as audiências recentes no curso desta mesma ação. Por atitudes do próprio Mauro Cid, a sua delação premiada passou a ser bastante questionada por praticamente todos os advogados dos réus envolvidos naquela ação. Uma revista de circulação nacional afirmou que ele mentiu sobre alguns fatos. Especula-se agora que ele também poderia ter desabafado com advogado de um dos réus e poderia ter utilizado as redes sociais com outra identidade. A sua delação premiada ficou bastante fragilizada depois que essas informações vieram à tona, mas, pelo andar da carruagem jurídica, não mudaria em nada o curso do processo, uma vez que as provas colhidas já seriam suficientes para a condenação dos envolvidos.  

A acareação de hoje foi solicitada pela defesa do general Braga Netto. Mauro Cid já caiu em contradição ao ser indagado pelo advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante uma dessas audiências. Faz parte do jogo. Estima-se que a defesa do general Braga Netto tenha elementos para conduzi-lo a eventuais contradições durante a acareação, assim como sua defesa deve tê-lo preparado para não cair em eventuais armadilhas. Como disse antes, infelizmente, a acareação não será transmitida pela TV Justiça, que faz um trabalho de excelente nível.  Durante este intervalo, novas operações foram realizadas pelo Polícia Federal, depois de suspeitas sobre eventual tentativa de obtenção de passaporte português para o militar, algo já esclarecido. 

Diante da enrascada jurídica em que estão metidos, os bolsonaristas já se movimentam de olho no quadro da correlação de forças que podem ser arregimentadas a partir das próximas eleições de outubro. Maioria no Senado Federal e um candidato de centro-direita que assuma o compromisso de, uma vez eleito, indultar o ex-presidente Jair Bolsonaro, que parece que começa a jogar a toalha em torno de uma possibilidade de candidatura. Tarcísio de Freitas já vem ensaiando até o grito de guerra.  

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Friozinho de Bananeiras, na Região do Brejo Paraibano.


 

Editorial: O PT tem uma vaga de senador em Pernambuco. De quem será a outra?


A formação das federações políticas no plano nacional produziram algumas situações anômalas entre os entes federados, o que não seria de se estranhar, sobretudo no que concerne à definição sobre o comando estadual dessa nova federação, se ficaria com o dirigente do partido A ou com o dirigente do partido B. Em Pernambuco temos um caso bastante emblemático, depois da formação da federação União Progressista. O União Brasil dessa nova federação está afinado com a gestão municipal do prefeito João Campos(PSB-PE), enquanto o Progressistas integra o Governo de Raquel Lyra, quando se sabe que os dois gestores já se preparam para bater chapa nas eleições de 2026. 

Outra questão diz respeito ao Partido dos Trabalhadores, que se encontra em situação parecida, ou seja, uma ala, a parlamentar e estadual, sugere-se que se identifica com a governadora Raquel Lyra, enquanto a ala municipal da legenda integra a gestão do prefeito João Campos - e não deve ter gostado nenhum pouco das ponderações recentes do deputado estadual João Paulo sobre a gestão do Palácio Capibaribe. O PT tem dois trunfos políticos em Pernambuco. O capital político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que continua intacto localmente, e o o franco favoritismo da reeleição do senador Humberto Costa, tendo-se como certo que uma das vagas em disputa será dele. 

Pesquisas realizados pelo Instituto Paraná Pesquisas indicam que Pernambuco e Espírito Santo são dois estados onde o PT se apresenta em melhores condições na disputa para o Senado Federal. Deve ocorrer com Humberto o mesmo que ocorreu com a eleição de Teresa Leitão, em 2022, que foi eleita com certa facilidade, praticamente ignorando os adversários, com o inestimável apoio da capilaridade do Grupo da Educação. A questão que se coloca neste momento é sobre quem irá se habilitar a disputar esta segunda vaga, uma vez que o quadro está completamente embolado, onde se trava uma luta hercúlea para se assegurar o nome numas das chapas em disputa pelo Campo das Princesas. Até Humberto Costa teria alguns dilemas por aqui, uma vez que precisa aparar arestas s situar-se entre essas principais chapas em disputa pelo Governo do Estado. Alguém andou perguntando para onde caminharia o deputado João Paulo, numa situação em que Humberto Costa viesse a compor com João Campos. Continuaria onde sempre esteve, uma vez que suas críticas ao gestor municipal não são recentes.  

domingo, 22 de junho de 2025

Charge! Aroeira via Brasil 247

 


Editorial: As críticas de João Paulo à gestão municipal do Recife.



Mesmo há um ano e meio das eleições de 2026, não há dúvidas de que existem mobilizações de grupos políticos no sentido de prejudicar o andamento de algumas gestões, de olho naquelas eleições. Segundo os escaninhos da política, o Centrão já teria emitidos recados a Hugo Motta, Presidente da Câmara dos Deputados, no sentido produzir um sangramento do Governo Lula 3 até às próximas eleições. Setores do Centrão estariam se articulando em torno de um eventual apoio ao nome de Tarcísio de Freitas, no momento, o nome que reúne as melhores condições de agregar em torno de si o conjunto dessas forças conservadoras de centro-direita e até da extrema direita. Até o grito de guerra de Jair Bolsonaro ele já está ensaiando, com a cessão do próprio capitão, sem os ônus dos direitos autorais. 

No podcast do Jornal do Commércio, onde concedeu uma entrevista recente, o deputado estadual João Paulo fez duras críticas ao prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE). Segundo João Paulo, haveria uma suposta articulação entre socialistas e bolsonaristas na ALEPE com o propósito de prejudicar o Governo Raquel Lyra. Um outro ponto elencado pelo ex-prefeito do Recife é que estaria faltando disposição do atual ocupante do Palácio Capibaribe no sentido de ampliar o diálogo com o Governo do Estado, em prol do interesse da população do Recife. João Paulo lembra um momento realmente de profundas indisposições políticas entre a sua primeira gestão como prefeito, quando era governador do estado Jarbas Vasconcelos. Naquele momento político, João Paulo interrompeu o projeto da União por Pernambuco, tornando-se um adversário ferrenho do governador e do grupo político que orbitava em torno da gestão estadual, oriundos de segmentos conservadores da política pernambucana. Nem assim, argumenta ele, deixou de conversar com Jarbas quando os interesses dos recifenses estavam em jogo. Até setores do partido à época estranhavam essa relação, movida, acreditamos, em nome do interesse público. 

Os socialistas acusaram as críticas e as responderam em tom duro, insinuando que João teria inveja da gestão de João Campos. Não vamos aqui descer às miudezas dessas discussões para não melindrarmos, mas consideramos prudente e dentro de um espírito republicano, prestar a atenção necessária às ponderações críticas à gestão, seja partindo do público, seja quando elas partem de políticos com a expertise do deputado João Paulo, prefeito do Recife por dois mandatos. Historicamente, os gestores do estado não gostam de serem criticados. São arrogantes, andam de salto alto, comportamento muito provavelmente herdados da profunda hierarquização de nossa formação colonial, onde essas elites familiares foram forjadas. Eles acham que não precisam dar satisfações ao público, o que se traduz num grave equívoco, pois é exatamente este público que, através de seus tributos e suas escolhas, financiam e delegam a gestão da polis a determinados atores, em período regulares, que são as eleições.   

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


sábado, 21 de junho de 2025

Editorial: A chapa?


 


São curiosos esses movimentos da política. Embora pertença ao partido Republicanos, partido do possível maior adversário de Lula numa eventual disputa à reeleição em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, O Ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, é apresentando como um dos ministros que mais se alinham às diretrizes do Planalto. Mesmo quando está aqui na província, se movimenta bem, afaga as bases, mas sempre dentro de uma margem que não pairem dúvidas sobre a sua fidelidade ao Governo que integra. Estrelas de primeira grandeza do Governo, grupo com ascendência direta sobre Lula, reconhecem esses princípios que norteiam a conduta do auxiliar. 

Agora mesmo, por ocasião das festejos juninas, difícil dizer o polo onde o político já não tenha marcado a sua presença. Prestigiou o forró dos Coelhos, em Petrolina, e, salvo melhor juízo, já se encontra em Caruaru, ao lado do prefeito Rodrigo Pinheiro, neste caso em nome de sua condição de gestor público, no plano das relações institucionais, uma vez que o prefeito é aliado da governadora Raquel Lyra. Sílvio Costa Filho é cotadíssimo para assumir uma das vagas em disputa pelo Senado Federal na chapa composta pelo prefeito João Campos, que deverá disputar a cadeira do Palácio do Campo das Princesas, nas eleições de 2026.  

Até recentemente, por sua indicação, foi nomeado Miguel Ricardo, filho do ex-prefeito de Igarassu, Mário Ricardo, para assumir a pasta de Saneamento da Prefeitura do Recife. O Grupo Coelho, por outro lado, vem mantendo relações de excelente nível com o prefeito João Campos, mesmo depois da formação da federação União Progressista. O arranjo é complicado porque os dirigentes da federação no estado, hoje aliados da governadora, já sinalizam que possuem musculatura política para ocuparem duas vagas na majoritária. Em todo caso, a foto acima, onde se encontram o prefeito João Campos, Sílvio Costa Filho e Miguel Coelho poderia ser a chapa para 2026? O jogo da disputa pelas vagas ao Senado Federal em Pernambuco é um jogo bastante embolado. Como estão surgindo a possibilidade de lançamento de novas chapas, talvez este fato contribua para descomprimir um pouco o processo das escolhas. 

Editorial: O capital político de Lula em Pernambuco e o dilema dos socialistas.



Mesmo passando por um momento difícil na gestão, Lula reafirmou no dia de ontem, em entrevista no podcast do Mano Brawn, ou Mano a Mano, que, se a saúde se mantiver em ordem, ele será candidato à reeleição em 2026. Não vamos nos antecipar aos fatos e fazer aqui algumas considerações sobre uma eventual prudência em relação a uma nova candidatura de Lula, algo que políticos experientes como José Sarney já desaconselharam. O problema maior no campo da centro-esquerda, na realidade, talvez seja mesmo a ausência de alternativas. Pode-se dizer que Lula foi um pouco egoísta em relação ao assunto. 

Na outra margem do Rio, o problema é exatamente o contrário. Muitos são os chamados e poucos os escolhido. Nos últimos dias, porém, vem se confirmando uma tese de que, finalmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro parece curvar-se à necessidade de negociar um arranjo político onde o clã familiar e o PL possam apoiar o nome de Tarcísio de Freitas para disputar as eleições presidenciais de 2026 como um ilustra representantes das forças de centro-direita e até da extrema direita, embora eles não gostem muito dessa expressão. Se tal conformação se consolidar, talvez tenhamos, mais uma vez, desta vez como representante do tucanato, uma eventual candidatura presidencial do cearense Ciro Gomes, que se propõe à tarefa ingrata de tentar quebrar uma polarização renitente na política brasileira. 

Aqui em Pernambuco, segundo levantamento realizado por um blog local, a situação de Lula é bastante confortável em relação aos adversários. Na realidade, o pernambucanos não podem se queixar de Lula. Lula foi sempre muito generoso com o seu torrão, independentemente de quem estivesse na gestão do Palácio do Campo das Princesas. Isso vem criando um dilema para os socialistas locais que, no plano nacional, sugere-se que estejam criando uma situação de menos dependência do lulismo. Discursos, como advertia o filósofo Nietzsche, não são parâmetros seguros para avaliarmos os atroes políticos. A despeito das juras de amor eterno durante a convenção partidária, na prática, os socialistas não acompanharam o Governo na questão do aumento do IOF. Os socialistas desejam um protagonismo maior no Governo e nas composições políticas daqui para frente, o que o PT talvez não ofereça. 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


Editorial: Lula libera mais de meio bilhão em emendas para acalmar o Congresso.



Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve uma conversa com o Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, que já se encontra em sua terra natal, Patos, para os festejos de junino. Logo em seguida, com o intuito de acalmar as coisas no Legislativo, onde vem sofrendo sucessivas derrotas, o presidente liberou mais de meio bilhão em emendas para os parlamentares. A liberação ocorre num momento de ressaca, conforme os leitores podem ter percebido pelos nossos editoriais dos últimos dias. Não vai resolver o problema, pois sugere-se que possamos ter entrado na fase da sangria, ou seja, uma fase sem possibilidade de retorno, pois um grupo expressivo de parlamentares, percebendo as dificuldades de reeleição do mandatário, já sinalizam com nomes em ascensão ao pleito presidencial de 2026. 

Os movimentos dos parlamentares de centro-direita, deliberadamente, caminham no sentido de desgastar a gestão até as eleições de 2026. Numa entrevista recente, Lula afirmou aquilo que já se sabia, ou seja, será novamente candidato à reeleição. Tem aparecido bem nas pesquisas de intenção de voto, a despeito dos problemas enfrentados neste terceiro mandato. O Centrão já esta fora do barco da reeleição e, neste momento, conforme se especula, estaria se articulando com Hugo Motta para deixar Lula sangrar em praça pública até outubro de 2026. A formação dessas federações, além dos interesses pelo fundo partidário, evidenciam sempre um caráter antilulista em suas narrativas. 

Há quem ande sugerindo entre os petistas, alguns deles inclusive em disputa pela condução do destino da legenda a partir das próximas eleições internas programadas para julho, que o partido faça uma inflexão à esquerda. Ficamos aqui tentando imaginar como isso seria viável eleitoralmente, uma vez que atitudes e gestos de Lula, desde a primeira eleição, sempre foram no sentido de uma composição com o centro e a direita democrática. Fazer este caminho de volta a esta altura do campeonato? E preciso analisar se isso seria pragmaticamente viável eleitoralmente. 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

 




Corre-se sempre um risco, ao prefaciarmos um romance, em incorrermos na perspectiva de eleger, consoante nossos critérios e não de acordo com os critérios do autor do texto, aqueles aspectos que consideramos os mais importantes e relevante na obra. Mas, afinal, aprendemos logo cedo que o texto, sobretudo o texto literário, possui características específicas, entre as quais a subjetividade, que permitem ao leitor extrair a sua própria percepção sobre a narrativa, nem sempre coincidentes com as do autor, quem sabe preferencialmente não coincidentes. Mesmo num romance histórico e memorialista, com traços autobiográficos, como é o caso de Memórias de uma Cidade Tecida, situarmos o livro no contexto da época pode não ser suficiente para informar ao leitor o que, de fato, ele encontrará na leitura do texto. Estaríamos dando conta apenas da primeira parte do livro quando, logo em seguida, há dois outros momentos da narrativa igualmente cativantes aos leitores. 

Se ainda nos limitarmos apenas ao aspecto histórico, o romance traz um conjunto de informações das mais importantes sobre as relações sociais e políticas estabelecidas entre uma oligarquia industrial e os operários de uma vila operária localizada numa cidade-fábrica da Região Metropolitana da cidade do Recife. Paulista, na realidade, podia perfeitamente ser considerada à época como uma grande fazenda controlada, em todos os aspectos, pela família Lundgren, que, assim como afirmava Gilberto Freyre, numa alusão à hegemonia absoluta da aristocracia açucareira nordestina na Zona da Mata, era dona das matas, das águas, das terras, das máquinas, das fábricas, do porto, do aeroporto, da vila onde residiam os operários e operárias. Para exercer esse controle absoluto sobre a cidade, o grupo contava com uma milícia armada, disposta a impor à força a vontade do clã familiar sobre os moradores locais, domínio que se estendia para muito além dos limites das fábricas de tecidos, alcançando as dimensões social, religiosa, política e cultural dos moradores locais. Sugere-se que os próprios locais escolhidos para a instalação dessas indústrias tenham sido astuciosamente pensados para manter esses operários menos suscetíveis às influências das metrópoles. Tal situação foi mantida desde o início do século passado até meados da década de 60, quando ocorre um declínio da indústria têxtil no país inteiro, com seus reflexos sobre o que ocorria naquela cidade. Somente pelo apanhado dos aspectos históricos já recomendaríamos a leitura do texto. Mas, as qualidades do romance não se encerram apenas no que concerne à abordagem dos aspectos dos padrões de relações estabelecidos entre os operários e os donos da fábrica de tecidos, ao longo de décadas, onde pode-se observar, inclusive, uma microfísica da resistência das mais relevantes e exitosas, em alguns casos, encabeçadas pelas mulheres.

O romance também é um romance de costumes, que faz uma análise do ambiente doméstico para uma avalição de relações sociais mais amplas, como os hábitos sexuais dos moradores locais, numa época em que a virgindade feminina ainda era um tabu, meu caro Michel Foucault. Podemos assegurar que há relatos interessantíssimos por aqui, numa verdadeira reconstrução da arqueologia sexual dos moradores locais. Nessa história do cotidiano dos operários e operárias podem ser encontrados os elementos que nos permitem analisar, de forma mais complexa, a sociedade semifeudal que se tornou aquela cidade, onde, diferente das cumplicidades entre colonizadores e escravizados da sociedade colonial, conforme ainda sugeria o antropólogo Gilberto Freyre, o exercício do poder da oligarquia industrial era imposto, nada minimamente consensual ou consentido, sustentado numa relação de extrema dependência, ora do emprego, ora de uma autorização para residir numa das casas da Vila Operária mantida pelo grupo.

Quando partimos para a análise sobre a vida dos meninos da Vila, aí entramos numa parte extremamente gostosa da narrativa, que nos permitem uma leitura prazerosa, capaz de nos fazer recordar de nossas mais tenra infância, das peladas na chuva, banhos de bica, as brincadeiras da burrica, corrida no saco, subida no pau de sebo, empinar pipas ao vento, encher-se de contentamento com a invernada e a revoada das tanajuras, as corridas de patinetes que desciam desembestados pelas ladeiras locais, as pescarias e os banhos de riachos, dá uma de jia nos açudes, contemplando as cambalhotas dos pássaros tizius ou o festival de cores das saíras-sete-cores. Com sorte, a saíra-pintor também marcava presença junto às nascentes do Balde da Levada, repletos de bambuzeiros. Como mesmo afirma o autor, a Vila era marcada por muitas adversidades, mas também era uma festa, o que ensejava momentos de grandes gestos de solidariedade e irmandade entre os moradores, que davam sempre um jeito de se divertirem. Nos capítulos finais, cenas tristes do estigma ou preconceito existente à época sobre os portadores de hanseníase que residiam num hospital colônia instalado próximo à vila operária. Na década de 20\30 pouco se sabia sobre o tratamento dos doentes e a solução encontrada foi a de isolá-lo de suas famílias, criando verdadeiras cidades destinadas aos portadores da doença. Emocionante o drama de uma criança infectada pelo bacilo, que descreve o processo de estigma social que passou a ser submetido pelos antigos colegas que o acompanhava nas sessões de cinema de sua cidade natal. Isolado na cidade do medo, o autor escreveu dois livros tratando deste assunto, com relatos chocantes sobre o drama vivido por ele e pelos moradores do local. Parte dessa narrativa estão resgatadas no romance Memórias de uma Cidade Tecida.

A cidade de Paulista, onde foi ambientando o romance, rigorosamente, em todos os aspectos, foi uma cidade tecida. A família do comendador Herman Theodor Lundgren chegou ao município no início do século passado, adquirindo uma modesta fábrica de sacarias para armazenar açúcar, transformando-a, anos depois, num dos mais pungentes parques têxteis da América Latina. Os fios desse novelho, por outro lado, foram tecidos a um custo muito alto pelos trabalhadores e trabalhadoras locais, aspectos argutamente resgatados pelo autor, que teve a acuidade de observar em sua narrativa como aqueles pedais foram movidos. Como diria um nordestino raiz, a cidade jamais escapou dessa sina ao longo de sua existência. Há, na realidade, uma grande curiosidade e inquietação entre pessoas comuns e entre estudos acadêmicos em se saber como, de fato, se deram esse padrão de relação entre a oligarquia industrial e os moradores da Vila Operária. Há alguns bons trabalhos acadêmicos produzidos sobre o tema, mas nenhum deles desce às minúcias do cotidiano como este romance escrito por José Luiz Gomes da Silva, relatando os acontecimentos com a autenticidade de quem conviveu por eles, seja em seus momentos bons, seja em seus momentos difíceis, trocando ideias com Seu Pedro, um pescador que residia na Vila mesmo antes da implantação da fábrica de tecidos. Bons papos aqueles, sob o sombreiro das enormes castanholas do quintal.

A experiência acadêmica do autor, por outro lado, estabelece uma conexão entre a teoria acadêmica e os conflitos ocorridos entre o capital e o trabalho nesta relação, recorrendo-se a Pierre Bourdieu para observar a teatralização da dominação; a Michel Foucault quando da abordagem sobre a microfísica da resistência; A Engels e Edward Thompson, quando trata das discussões de ambos os autores sobre as condições de vida e de trabalho dos operários têxteis ingleses no século XIX; a Foucault, mais uma vez e de forma divertida, quando da discussão sobre a história da sexualidade e da loucura na comunidade. Não é pouca teoria, quando se sabe, por exemplo, que Karl Marx, que se encontrava na França à época, tornou-se comunista depois dos relatos chocantes de Engels sobre como era a vida dos operários e operárias na fábrica que a família mantinha na Inglaterra. Curioso que a fonte privilegiada de Engels foi uma operária com quem ele manteve um relacionamento.

Não é fácil a tarefa de conduzir um romance, talvez ensaístico, sem perder o foco de uma narrativa com todas as características de um romance literário, como um conflito que se esboça, com letras amargas, desde o início da narrativa, estabelecido entre os operários, representado pela família do narrador, e o capital, representado pela indústria têxtil. Como o autor escreveu não um, mas três romances sobre o tema, no último deles há uma abordagem sobre a decadência da indústria têxtil local, provocada por inúmeros fatores, o que poderia ser entendido como um desfecho do enredo. Neste caso, aconselhamos a leitura não de um, mas dos três romances escritos com esta temática, desde as suas origens, Menino de Vila Operária, ao seu apogeu, Memórias de uma Cidade Tecida, e, finalmente, Tramas do Silêncio, sobre a fase de decadência da indústria têxtil no município e suas consequências para a população local.

Charge! Dálcio Machado via Facebook.

 


Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


Editorial: First Mile : 60 mil monitoramento ilegais de celulares.



A Polícia Federal considera que todos os monitoramentos realizados pelo sistema de rastreamento denominado First Mile, concebido por uma empresa de Israel e adquirido pela Abin, com dinheiro dos cofres públicos, por algo em torno R$ 5, 6 milhões, tenha realizado 60 mil operações ilegais, se considerarmos seu vício de origem. Hoje, 19, está repercutindo na imprensa mais uma trapalhada dessa Abin paralela, que teria monitorado o Alexandre errado, numa referência ao Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, desde sempre um dos alvos principais da arapongagem ilegal. Não há nada que se possa brincar por aqui. Isso é coisa muito séria. Vários cidadãos e cidadãs brasileiros, pessoas íntegras, vivendo dos seus salários, pagando seus impostos, podem ter sido vítimas dessa sanha persecutória, com seus tentáculos, não qualquer dúvida sobre isso, operando dentro da estrutura de Estado, atropelando preceitos republicanos, agindo ao arrepio da lei. 

Na medida em que as investigações avançam sobre a tentativa de golpe de Estado, já se conclui o papel realizado pelo monstro da Abin Paralela para o seu intento. A Abin Paralela dava suporte ao projeto autoritário que estava em curso. Alguns setores da imprensa ficam fazendo um jogo onde aponta-se eventuais indisposições da PF em relação a Abin, mas, à medida que o trabalho da PF avança, o que se tem, na realidade, é um calhamaço de provas robustas sobre as irregularidades que foram cometidas por um grupo de seus integrantes. Nunca se pode generalizar.  Não estamos tratando aqui da Agência Brasileira de Informações como um todo, mas de uma banda podre, embora essas investigações, por inúmeras razões, projetem negativamente a imagem do órgão. 

Os implicados na tentativa de golpe de Estado estão buscando uma tábua de salvação para as suas investidas antidemocrática do passado recente. Quem acareações com o delator, estão procurando minar o teor dessa delação, como se não houvessem outros elementos para condená-los. É bom ir devagar com a ansiedade, pois já tem gente indo em cana por manobras de obstrução da ação penal que trata deste assunto. 

Editorial: A "Caixa de Pandora" da Abin.



Com os últimos indiciamentos da Polícia Federal em relação aos envolvidos nas operações ilegais e clandestinas da Abin Paralela, fica evidente que tínhamos razão ao usarmos o termo  "Caixa de Pandora" para definir aquela situação. As medidas tomadas pelo Governo Lula 3, no início do seu Governo, não foram suficientes para se efetuar um processo de assepsia republicana no órgão, segundo conclusões da própria Polícia Federal, ao observar que a banda podre que se instalou na agência durante o governo anterior, supostamente continuou operando, como se presume em relação à lambança das investigações sobre como se portaria o Governo do Paraguai em relação às tarifas da Itaipu Binacional. Segundo consta, um agente da Abin confirmou essa informação. Em princípio, a estrutura ilegal montada no governo anterior, manteve-se intacta. 

Não se brinca com serviços de inteligência e segurança de Estado quando eles fogem ao controle das instituições reguladoras ou fiscalizadoras de suas ações. Paga-se um preço muito alto por isso. É assustador o número de operações ilegais realizadas pela Abin Paralela, conforme estima relatórios preliminares da própria Polícia Federal. No Governo anterior ampliou-se sensivelmente o números de órgãos públicos que passaram a compor a comunidade de informações da Abin, sabe-se lá com que objetivo. Ou, sabe-se sim. Se usados por essa estrutura paralela, supostamente podem ter sido úteis para promover uma "caça" aos desafetos do governo de turno, cascavilhando ilegalmente suas vidas com o propósito de desacreditá-los; plantando informações falsas; promovendo campanhas de difamação para cancelá-los. A PF estima que 60 mil telefones celulares podem ter sido monitorados. 

Como o projeto autoritário estava "integrado", hoje uma das preocupações é entender toda a dinâmica das operações clandestinas da agência, assim como suas articulações no sentido de colaborar para viabilizar o golpe de Estado que esteve em curso. Uma das preocupações que sempre incomodou este editor seria a razão pela qual Lula foi tão tímido no sentido de tomar as medidas que seriam fundamentalmente necessárias em relação a esses órgãos, uma vez havia comprometimentos de outras agências de segurança e inteligência. Em governos com perfil  autoritário esses flertes são automáticos. Durante a ditatura do Estado Novo a relação era tão orgânica que a sucessão no Palácio do Campo das Princesas, em Pernambuco, passava pelo Departamento de Ordem Política e Social. Lula talvez não tenha dimensionado corretamente o tamanho da encrenca que isso representa. 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Editorial: Os tucanos não estão mortos.



Quando se discutiu uma eventual federação ou fusão do PSD com o PSDB, um dos problemas levantados foram os projetos políticos de Aécio Neves em Minas Gerais. Lula tem levantado a bola do ex-Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, naquele estado, desde já peitando o governador Romeu Zema. Lula tem tratado Pacheco como governador nos momentos em que vai a Minas entregar obras de sua gestão. Numa dessas ocasiões, em público, desafiou o governador a apresentar alguma obra executada ali pelo seu antecessor na Presidência da República, Jair Bolsonaro. Até recentemente, os tucanos se recusaram a compor uma federação com o Podemos, uma vez que não chegaram a um acordo sobre quem indicaria o nome do presidente da futura federação. 

Não precisamos informar aos leitores que, de uma maneira geral, a situação dos tucanos não é das melhores em todo o país. Perderam dois governadores de Estado, caso de Pernambuco e Rio Grande do Sul, e não se saíram bem nas últimas eleições, principalmente em São Paulo, onde tentaram se posicionar com o apresentador José Luiz Datena. Eles investiram tudo em São Paulo, até como uma forma de compensar os percalços pelo país afora. Ali também não deu certo. Mas, em todo caso, como eles dizem, há vida inteligente fora da polarização entre petistas e bolsonaristas. O que se especula, pelo menos a partir de uma reaproximação entre Tasso Jereissati e Ciro Gomes, é que aventa-se a possibilidade de Ciro tornar-se tucano e habilitar-se a uma candidatura ao estado do Ceará e, quem sabe, até à Presidência da República, sobretudo se Tarcísio de Freitas não confirmar sua candidatura, quando o cearense poderá se apresentar como o candidato da Faria Lima, contrapondo-se ao bolsonarismo e ao lulismo. 

Ciro Gomes tem reiterado que não pretende mais disputar alguma eleição presidencial, mas, como dizia o governador Paulo Guerra, lá atrás, em política não existem "nunca" nem "jamais". São palavras que não existem no dicionário da política. Por enquanto, ele se coloca como um contraponto entre o petismo e o bolsonarismo no estado. Não subestimem essas articulações entre Ciro e Jereissati.  Eles já mostraram do que são capazes no passado, quando derrotaram velhos coronéis encastelados no Palácio da Abolição.  

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247.

 


Editorial: A CPMI do INSS será instalada.



O Presidente do Senado Federal, David Alcolumbre, finalmente, leu o relatório da CPMI do INSS. Estima-se que os trabalhos devem começar no segundo semestre, provavelmente em agosto. Trata-se de uma derrota do Governo Lula 3, que não desejava a instalação da CPMI. Agora o Governo corre atrás do prejuízo, escalando um time de senadores que possa equilibrar o jogo dos debates de narrativas, definir convocações de A ou B, influir sobre o relatório final, enfim, ter um mínimo de controle sobre o andamento dos trabalhos. O presidente da Comissão deverá ser o senador do PSD do Amazonas,  Omar Aziz, que já esteve mais alinhado com o Governo no passado. 

O relator será indicado pelo PL e poderá ser o deputado federal Coronel Chrisostomo. Não se trata de uma boa composição, como os leitores podem perceber. Ambos possuem pavio curto, sugerindo que a CPMI já começa com imanente potencial de atritos, mas isso faz parte do jogo. A CPMI do INSS, quando os velhinhos estiverem presentes ao plenário externando suas agruras, tem o potencial de provocar um desgaste imenso em qualquer que seja o governo de turno. As narrativas do Governo Lula 3 no sentido de eximir-se completamente das responsabilidades sobre aqueles fatos se mostraram insuficientes para conter o desgaste da imagem do governo junto à opinião pública. 

Não vamos aqui entrar no mérito de quando começaram essas fraudes, que medidas poderiam ter facilitados o trabalho dos gatunos ou coisas do gênero. A questão é que o escândalo estourou durante o Governo Lula. Neste contexto, a narrativa, talvez concebida pela SECOM, de jogar a responsabilidade sobre o Governo de Jair Bolsonaro soou esquizofrênica, vazia, insustentável. Não colou. Que seja bem-vinda a CPMI do INSS, que ela possa ser suficiente para esclarecer a população a engrenagem nebulosa que funcionou durante anos com o objetivo abjeto de roubar pensionistas e aposentados. 

terça-feira, 17 de junho de 2025

Editorial: Líder do Governo sinaliza com possíveis retaliações.



Lula já sabia das dificuldades, mas preferiu pagar para ver. Além das conversas de negociações, supostamente, teria até liberado o pagamento de emendas parlamentares, tudo com o objetivo de não sofrer novas derrotas no Legislativo. Não deu certo. A Oposição, com o inestimável apoio de partidos da base, infligiu mais uma derrota ao Governo. Foram 346 votos a favor do veto ao aumento do IOF e 97 contra. Como se diz popularmente, uma derrota acachapante. Hoje, 17, o líder do Governo na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, observa que poderá haver retaliação contra os partidos da base que deixaram de apoiar o Governo. A Ministra da Articulação Política, Gleisi Hoffmann já havia sinalizado no mesmo sentido. 

Pessoalmente, não se conhece nenhum pronunciamento de Lula em relação ao assunto, mas o Governo já havia sido alertado em relação às dificuldades. Hugo Motta sofre uma pressão imensa da Oposição, assim como Davi Alcolumbre, embora a situação seja minimamente mais equilibrada na Casa Alta. Mesmo assim, também com apoio integral dos partidos da "base aliada", dá-se como certa a instauração da CPMI do INSS para logo após o feriado de São João. A situação é bastante delicada, uma vez que o Legislativo hoje goza de certa autonomia em relação às emendas, assim como as federações que estão se formando com esses partidos da base sinalizam para uma independência do Planalto. 

Corre-se o risco de novos vexames, como o de tentar substituir nomes e se enfrentar novas recusas, como já ocorreu em relação às mudanças no Ministério das Comunicações. Aliás, aquela reforma ministerial pomposa que se prenunciava antes, acabou em mudanças pontuais, em alguns casos experimentando "soluções caseiras". Não há muito o que se possa ser feito.  

Editorial: Câmara aprova urgência de projeto que derruba decreto do IOF.


Está todo mundo reclamando das férias do Ministro Fernando Haddad. Acreditamos que somente este editor considerou que já passava do momento do ministro tirar um descanso merecido. Sugeriram que ele jogou a bomba e se mandou. No dia de ontem, em esforço concentrado antes do recesso junino, os deputados aprovaram a urgência do projeto que derruba o decreto do IOF. Essa derrota já seria esperada, como outras tantas que devem vir por aí, inclusive com a aprovação da instauração da CPMI sobre o roubo do INSS logo após os festejos de São João. As pesquisas realizadas depois que estourou o escândalo indicam que o Governo Lula 3 pagou um ônus pesado de imagem com o episódio. Isso num momento em que a aprovação do Governo já sofria um intermitente declínio. 

O jornal Folha de São Paulo de hoje, 17, traz uma matéria tratando de mais uma derrota do Governo na Câmara dos Deputados, pedra cantada por praticamente todos os órgão de imprensa antes que se materializasse na noite de ontem. Chama a atenção na matéria a lista de partidos que votaram contra o Governo que, somados detém 11 cadeiras na Esplanada dos Ministérios. São poucas as pessoas que hoje exercem alguma ascendência sobre o líder petista. Falava-se em Gleisi Hoffmann, Ministra da Articulação, Rui Costa, Ministro da Casa Civil,  e Sidônio Palmeira, da Comunicação Institucional. Seriam nomes que Lula ainda consultaria antes de uma tomada de decisão. 

O mesmo jornal, curiosamente, traz uma matéria onde observa que Lula já não estaria disposto a seguir as recomendações de Sidônio como antes. Ajustar os passos deste terceiro mandato do presidente Lula não está sendo fácil para ninguém. O Governo começou sob um signo muito ruim, em meio a uma tormenta de instabilidade institucional, sob uma tentativa de golpe de Estado, sem base de apoio político no Legislativo e estourando as contas públicas. Quebrou na emenda, como se diz.  

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Editorial: A repercussão da prisão do ex-ministro Gilson Machado.



Muita gente foi tomado de surpresa em relação à prisão do senhor Gilson Machado, ex-Ministro do Turismo do Governo Jair Bolsonaro. Ele passou poucas horas preso num presídio em Abreu e Lima, cidade da Região Metropolitana do Recife,  e, logo em seguida, foi liberado, ratificando sempre a sua condição de inocência em relação às acusações que lhes são imputadas pela PGR. A PRG observou nas movimentações do ex-ministro "ações sugestivas" que poderiam indicar que ele, supostamente, estaria se articulando para ajudar o tenente- coronel Mauro Cid, o que significaria obstruir ou prejudicar os trabalhos em andamentos em relação à ação 2668, onde estão arrolados os indiciados na tentativa de golpe de Estado no país. 

Acabamos de ler uma matéria sobre um vídeo que Gilson Machado enviou à revista Veja, onde concede uma entrevista àquele órgão de imprensa. Na entrevista, Gilson reafirma a sua preocupação com esta situação, assim como inclusive à situação dos 2oo funcionários de suas empresas. Gilson é muito amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas, numa entrevista concedida aos repórteres logo que deixou a prisão, reafirmou que seus contados com o ex-ajudante de ordens da Presidência da República eram apenas protocolares. O advogado do ex-ajundante de ordens ficou indignado com a decretação da prisão do militar, entre outros motivos, sob a alegação de que sua família havia viajado para os Estados Unidos. 

Na realidade, este não é o grande problema. O grande problema de Mauro Cid hoje é uma matéria da mesma revista  informando que ele supostamente havia mentido, o que pode anular a sua delação premiada. Praticamente todos os advogados dos envolvidos na tentativa de golpe estão pedindo a anulação de sua delação, o que poderia trazer, aí sim, embaraços para o andamento dos trabalhos da ação 2668. Supõe-se que Mauro Cid poderia ter usado perfis anônimos para desabafar sobre a situação em que se encontra. Esses perfis foram identificados e estão sob investigação do STF, que já solicitou à rede Meta que disponibilize tudo o que foi tratado pelo titular do perfil. 

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


Editorial: As férias de Fernando Haddad.



Outro dia publicamos por aqui uma foto do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sensivelmente abatido. Há uma artilharia pesada contra o ministro e isso está se refletindo em sue estado psicológico. Era bom que ele conseguisse viabilizar essas férias mesmo. Está precisando. Ser Ministro da Fazenda do Governo Lula 3 se constitui num fardo muito pesado. O dano é tão complicado que o ministro pode até mesmo comprometer sua carreira política. Em sondagens para uma eventual candidatura ao Senado Federal, por São Paulo, em 2026, por exemplo, se se mostra desanimado. Aliás, desanimado é um adjetivo que se encaixa bem na conjuntura vivida por Fernando Haddad. 

O Congresso tem emitidos sinais veementes que não aprovará o novo projeto de cobranças de mais impostos. Haddad serve a um governo que abomina a ideia de austeridade fiscal e, internamente, já percebeu que não conseguirá convencer os caciques da legenda petista sobre a necessidade de ajustes nas contas públicas. Perdeu a guerra internamente para os gastadores e sofre uma pressão feroz da Oposição, dos setores produtivos, do mercado, com o apoio de setores influentes da grande mídia. Os planos iniciais de Lula para transformar Haddad num eventual Fernando Henrique Cardoso, catapultado à Presidência da República depois do êxito do Plano Real, não deu certo.

O desgaste sofrido pelo ministro é enorme. Talvez tenha que voltar ao batente da sala de aula depois dessas refregas. É emblemático um diálogo mantido entre ele e o morubixaba, quando o ministro sinalizava que pretendia ajustar as contas naquele ano. Ali estava selado o seu destino dentro do Governo. Nada melhor do que a paz interior, Haddad. Essas férias, se não forem interrompidas, poderão fazer muito bem ao senhor. Boas férias! 

domingo, 15 de junho de 2025

Editorial: Os eventuais recados de Bolsonaro para Tarcísio de Freitas.



Estávamos lendo uma matéria recentemente sobre um apagão no humor nacional, depois da condenação do humorista Léo Lins, condenado a 08 anos de prisão e pagamento de uma multa astronômica, superior a R$ 1,5 milhões. A matéria prima desses humoristas é exatamente esse ambiente político nosso, marcado por lances exóticos, protagonizados por alguns atores. Esse cuidado não é para menos. Quando humoristas e chargistas passam a ser condenados por sua arte é um sinal de que os tempos estão nublados. Isso justiça usarmos o termo "eventual" na chamada do edital acima. Estamos diante da necessidade de criarmos em nossos textos, uma narrativa não comprometedora, onde termos como eventual ou supostamente estão se tornando muito comuns. São os reflexos dos tempos bicudos exercendo sua influência na linguagem. Pelo andar da carruagem política, logo teremos robôs algoritmo censurando aquilo que pode e aquilo quer não pode ser dito. Antes disso, num exercício de autocensura, alguns temas, por exemplo, já foram abolidos dessas nossas conversas diárias aqui pelo blog. É uma temeridade tratar de assuntos relativos à atuação policial, assim como as ações de grupos do crime organizado. 

Tarcísio de Freitas é hoje o nome ungido pelos setores conservadores para as eleições presidenciais de 2026. Aqui se congregam o eleitorado conservador - bolsonarista radical ou não - setores da mídia, o mercado, a Faria Lima e possivelmente amplos segmentos do Centrão. Por outro lado, esse puxa e encolhe do PL em torno de aspirar, ainda que remotamente, uma eventual candidatura de Jair Bolsonaro ou alguém indicado por ele, tem levado o governador de São Paulo a manter-se reticente acerca da necessidade de assumir que é candidato à Presidência da República em 2026. Algumas de suas atitudes alimentam a expectativa desses setores, ao passo que, em alguns momentos, outras atitudes sinalizam para o desejo de Tarcísio em esquentar a cadeira do Palácio Bandeirantes por mais quatro anos. Ele é coerente e muito correto com o ex-presidente Jair Bolsonaro. 

A Folha de São Paulo, no dia de hoje, 15, traz uma reportagem onde observa que interlocutores confiáveis entre ambos estariam fazendo uma ponte no sentido de se chegar ao ex-governador Tarcísio de Freitas a informação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro estaria disposto a apoiá-lo, desde que a sua esposa, Michelle Bolsonaro fosse indicada a ocupar a vice na chapa encabeçada por ele. Michelle tem uma cadeira praticamente assegurada como representante do clã ao Senado Federal, concorrendo pelo Distrito Federal. É quase impossível que a inelegibilidade de Jair Bolsonaro seja revertida. Sugere-se que ele já começou a trabalhar com tal hipótese. Uma condenação, igualmente, não seria improvável. Nesse contexto, talvez se entenda uma declaração recente do seu filho, Eduardo Bolsonaro, no sentido de que o próximo presidente de direita - que é o que eles esperam que ocorra com resultado em 2026 - se comprometa a indultar Jair Bolsonaro e não aceitar qualquer anulação do ato pelo STF.  

sábado, 14 de junho de 2025

Charge! Renato Aroeira via Facebook.

 


Editorial: A guerra psicológica do Irã contra Israel.



O Irã tem ou não condições de enriquecer urânio aos níveis factíveis para a produção de ogivas nucleares? As informações mais confiáveis sobre o assunto dizem que sim, sugerindo que os ataques de Israel contra o seu território não teriam sido suficientes para impedir tal possibilidade. Sugere-se que o Irã já teria transferidos as suas operações nucleares para regiões montanhosas, onde seria quase impossível uma identificação precisa sobre a localização dessas bases. Geograficamente, o Irã seria um fortaleza inexpugnável, como se sabe. Mais ou menos o que ocorre em algumas regiões da Rússia, onde o melhor general é o próprio ambiente físico. 

Por algum motivo, no entanto, os serviços de inteligência do país são sensivelmente frágeis. O Mossad, Serviço Secreto de Israel, consegue proezas dentro do seu território que são surpreendentes, numa evidência dessa vulnerabilidade. Nesse último ataque, por exemplo, foram mortos físicos nucleares, num total de seis, chefes militares importantes, como o comandante das Forças Armadas e o chefe maior da Guarda Revolucionária.  E isso ocorre desde algum tempo, sempre com as mesmas características. O espaço aéreo naquela região está sob a hegemonia do Estado de Israel, restando ao Irã, em princípio, apenas o lançamentos de mísseis de longo alcance contra o território do Estado Judeu. 

Chama a nossa atenção os gravíssimos problemas psicológicos enfrentados pelo população de Israel, sempre argumentado em torno dos problemas de ansiedade, da tensão permanente, da necessidade de procurar ajudar médica para tratamento de transtornos psicológicos. Trata-se de uma população que não vive em paz, num país em estado de guerra permanente. É complicado. 

Editorial: Tucanos suspendem formação de federação com o Podemos.



O PT tem perdido o timing político há algum tempo. Tem caminhado à reboque das iniciativas da Oposição, nunca se antecipando aos passos dos adversários. Enquanto a Oposição já se estrutura para o lançamento de nomes competitivos ao Senado Federal em várias praças do país, o partido parte do pressuposto de que as preocupações sobre o assunto devem entrar na agenda apenas em 2026. Somente nos últimos dias, por ocasião do Encontro Nacional do PSB, Lula demonstrou uma preocupação no sentido de formar uma federação, assim como vem ocorrendo com amplos setores da Oposição. Essas federações, conforme já enfatizamos por aqui, partem de um pressuposto incômodo ao Planalto: seus líderes sinalizam para a composição de nomes que possam concorrer à Presidência da República em 2026. Afirmam que não endossam o projeto de apoio à reeleição de Lula. Isso é algo preocupantemente comum para o Governo Lula 3, que pode ser traduzido como um desembarque. 

De imediato, Carlos Siqueira, ainda na condição de presidente da legenda, já descartou a formação de uma federação com o PT, por um simples motivo. O PT não abdicaria de encabeçar essa federação. Por este mesmo motivo, os tucanos suspenderam as negociações para a formação de uma federação com o Podemos, processo que já estava bastante avançado. A Federação Progressista enfrentou problema semelhante. Em princípio, as negociações iniciais entre o União Brasil e o Progressistas previa que o ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, assumisse o comando da federação. Chegaram a um bom termo, onde, de imediato, assumiu o leme da federação o então Presidente Nacional do União Brasil, Antonio Rueda. 

Os arranjos nos estados, por outro lado, tem produzido situações inusitadas, como aqui em Pernambuco, colocando atores políticos em situações delicadas, apoiando gestões que, no plano nacional, não se coadunam com o contexto político local. Até recentemente, o Presidente Nacional do PSDB, Marconi Perillo, se pronunciou sobre um posicionamento da governadora Raquel Lyra, onde ela explicava porque deixou o ninho. Marconi Perillo enfatizou que o real motivo é que o partido não ficava nada satisfeito com a aproximação da governadora com o Governo Lula 3.   

Editorial: A liberdade de Gilson Machado.



Melhor falar de liberdade do que de prisão. A prisão do ex-Ministro do Turismo do Governo Bolsonaro, Gilson Machado, decretada pelo STF e logo depois revogada, ainda está envolta em muitos mistérios. Segundo as explicações do ex-ministro, seus contatos com o Consulado Português foram no sentido de renovar o passaporte de seu genitor, com 85 anos de idade. Nunca teria ido pessoalmente ao consulado e uma investigação sobre esses contatos provariam exatamente isso. Gilson Machado é amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro, acompanhando suas movimentações políticas sempre que possível, como nesta última incursão pelo estado do Rio Grande do Norte. 

Em princípio, nada se sabe sobre uma eventual proximidade entre ele e o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid. Como cogitou-se, essa suposta trama ou uma articulação entre ambos, com o suposto propósito de favorecer uma eventual proposta de fuga de Mauro Cid é um fato desconhecido. Mauro Cid negou veementemente qualquer tentativa de deixar o país. Como as prisões foram revogadas, supõe-se que não haveria provas indicando o contrário. A princípio, não estamos diante de mais um elemento que poderia complicar a vida do ex-ajudante de ordens da Presidência da República . A revogação do acordo de delação premiada, certamente, seria o maior desses complicadores. 

Diante do que ocorreu recentemente com a deputada Carla Zambelli, que fugiu do país, possivelmente tanto a Polícia Federal quanto o próprio STF tenham redobrado os cuidados em relação ao assunto. Possivelmente é neste contexto que se pode entender, em princípio, caso não surjam fatos novos, a decretação da prisão do ex-ministro Gilson Machado, que já voltou ao convívio dos familiares, criando musculatura para uma nova batalha pela frente: habilitar-se a uma candidatura ao Senado Federal por Pernambuco, em 2026. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Resenha: Romance Chaminés Dormentes.




O romance reconstitui, histórica e socialmente, a decadência da indústria têxtil no país, a partir de uma experiência observada na cidade-fábrica de Paulista, localizada na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco. Durante o seu apogeu, o município ostentou a condição de maior polo têxtil da América Latina, situação que o coloca como um indicador seguro para entendermos como este ciclo de industrialização se deu em todo o Brasil, pois as indústrias do Grupo Lundgren, em Paulista, se constituíam numa espécie de termômetro ou parâmetro seguro para avaliarmos o que ocorria neste setor da economia no país. Tudo, absolutamente tudo que ocorria no país em relação a essa indústria se refletia nas fábricas do município, seja as crises do setor, as novas tecnologias, os grandes movimentos grevistas. Daí se concluir, em princípio, porque o caso de Paulista torna-se emblemático para entendermos a origem, o apogeu e a decadência deste setor da economia em todo o país. 

Além de abordar o processo de decadência da indústria têxtil no município, o romance envereda pelas consequências daí decorrentes, uma vez que tudo, absolutamente tudo no município girava em torno dessa indústria, a Companhia de Tecidos Paulista. Como ficaria a cidade com o encerramento de suas atividades? O que fazer com o espólio de construções históricas do período? Qual a memória a ser preservada? a da oligarquia industrial – representada pelo clã da família Lundgren - ou a memória da luta dos trabalhadores e trabalhadoras por sua emancipação, principalmente mobilizados pela Sindicato dos Tecelões de Paulista? A indústria fechou suas portas na década de 80 do século passado, mas, já na década de 60, refletia a crise no setor têxtil que se observava no plano nacional, de onde não haveria mais retorno, exceto pelo interregno da fase do Milagre Econômico Brasileiro, decorrente da fase inicial desenvolvimentista da Ditadura Militar implantada no país com o Golpe Civil-Militar de 1964. Milagre que durou muito pouco, pois o santo era de barro. 

O que perdurou por longos 21 anos foram os danos políticos e institucionais daí decorrentes, como a supressão de direitos, liberdades civis e a perseguição aos adversários, com seus reflexos no município, elementos que são, igualmente, tratados no romance, como os torturados e desaparecidos locais, assim como o Massacre da Granja São Bento, onde guerrilheiros da VPR foram mortos pelos homens do delegado Sérgio Paranhos Fleury, depois da delação do agente infiltrado cabo Anselmo. Este foi considerado um dos maiores massacres da ditadura militar. Resultaram seis mortos, com evidências periciais de tortura. Esses fatos estão relatados no romance, trazendo, inclusive aquele que foi o último poema de Soledad Barret, dirigido a sua mãe. 

Este romance é o terceiro da trilogia sobre a industrialização têxtil no município, abarcando a origem, Menino de Vila Operária, o apogeu, Cidade das Chaminés e, finalmente, Chaminés DormentesNa primeira parte abordamos os problemas enfrentados pela indústria têxtil naquele período histórico específico, envolvendo, inclusive as sucessivas greves ali verificadas, aguçando, até o limite do possível, o conflito entre capital e trabalho. A greve de 1962 é a mais emblemática entre elas, pois ocorre num ambiente político extremamente favorável à classe trabalhadora, significando conquistas importantes, embora não duradouras, pois, logo em seguida, dois anos depois, ocorreu o Golpe Civil-Militar de 1964. 

Em 1962  estávamos no Governo João Goulart e o Dr. Miguel Arraes - como assim se referia a ele o professor João Francisco - governava o estado de Pernambuco. Papai tinha uma grande admiração pelo ex-governador Miguel Arraes. Arraes foi muito bem votado no município, elegendo-se governador do estado, a despeito das recomendações expressas da oligarquia industrial e dos clérigos católicos locais para que os trabalhadores não sufragassem o nome de Arraes. Naqueles idos, os comunistas eram bem ativos na cidade, a despeito das dificuldades inerentes. Eles conseguiram montar um aparelho que agia dentro da indústria têxtil, tomando todos os cuidados para não comprometerem os operários. Institucionalmente, através da ALEPE, moveram ações para investigar a atuação da milícia armada que atuava no município. 
 
A segunda parte do romance aborda as consequências da queda das atividades da indústria têxtil no município, pois existia um padrão de interdependência bastante acentuado entre essa indústria e os moradores locais, uma relação que extrapolava o caráter estritamente produtivo, atingido outras esferas, como a moradia - existia uma vila operária – os roçados da companhia, que produziam alimentos para a população local. Registre-se, igualmente, que a oferta de bens culturais na cidade também estava condicionados à indústria têxtil da família Lundgren. Na realidade, a cidade tornou-se absurdamente dependente dos ditames da oligarquia industrial. Quando se discutia, por exemplo, sua transformação em cidade, um dos grandes questionamentos dizia respeito à necessidade de uma mini reforma fundiária. 

Na terceira e última parte do romance, abordamos o quadro de ebulição política que exista no país naquele momento, no início da década de 60, de muita agitação política, sindical e estudantil, em torno das reformas de base que país reclamava, que envolvia questões relativas à reforma agraria, educação de adultos, entre outras, e como tal momento se refletia no município. Historicamente, como se sabe, tais reformas foram abortadas pelo golpe de classe articulado pelas forças conservadoras consorciadas com os militares, produzindo longos dias de trevas para o país. Como é dado a quem escreve a liberdade de criação e de invenção, abrimos espaço, durante a narrativa, para uma oficina literária, com o intuito de estimular a leitura entre os moradores, e até mesmo para a organização de um curso de alfabetização de adultos ofertado na Vila, cuja primeira aula foi ministrada pelo educador Paulo Freire. 

Como existia a paranoia entre os militares de que os cubanos estavam insuflando os agricultores no estado, criamos o personagem fictício de um professor cubano, que foi quem conseguiu articular a presença de Paulo Freire no município. Por muito pouco o filósofo francês Jean-Paul Sartre, que estava em  Pernambuco à época, também não esteve presente. Se ele foi tomar o famoso licor de pitangas, porque não atenderia a um pedido de Arraes para prestigiar o lançamento de um projeto de alfabetização de adultos da Vila Operária? Estamos procedendo algumas revisões no texto, mas a primeira versão já se encontra disponível em nosso perfil da Amazon.  

Editorial: Mauro Cid presta novo depoimento à Polícia Federal.



Depois do que ocorreu com a deputada Carla Zambelli, que fugiu do país depois de condenada, a Polícia Federal e o STF acenderam o alerta máximo sobre os nomes indiciados pela tentativa de golpe de Estado no país. A revista Veja desta semana traz uma longa matéria sobre o tenente-coronel Mauro Cid, logo após o seu depoimento durante  interrogatório no STF. A revista afirma que ele mentiu numa de suas afirmações, caiu numa pegadinha armada pelos advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro, onde titubeou acerca da utilização das redes sociais, depois de proibido de fazê-lo, consoante o acordo de delação firmado. O pior disso tudo é que os advogados do ex-presidente podem pedir a anulação da delação premiada concedida ao militar, assim como, segundo ainda a revista, a Procuradoria-Geral da República também estaria cogitando pedir a anulação da delação premiada, o que implicaria em ampliar, substantivamente, a condição do ex-ajudante de ordem. 

Hoje, 13, aqui no Recife, numa operação da Polícia Federal, foi preso o ex-Ministro do Turismo do Governo Jair Bolsonaro, Gilson Machado. A PF suspeita da possibilidade de ações no sentido de retirar um passaporte português para o ex-ajudante de ordens da Presidência da República. A prisão do militar chegou a ser decretada e, logo em seguida, revogada, mas ele prestou um longo depoimento à Polícia Federal. Mauro Cid já teve um outro problema com essa delação, ao fazer confissões que foram vazados e publicados pela imprensa. Ele negou veementemente qualquer iniciativa de obter esse passaporte, mas sabe-se lá o que teria a dizer o ex-Ministro do Turismo. Pelo andar da carruagem, ele poderá perder os benefícios inerentes a uma delação premiada. 

Não temos informações acerca da situação do ex-Ministro Gilson Machado, após a decretação de sua prisão. Não se sabe, exatamente, o que a PF tem contra ele. É preciso aguardar os informes dos próprios órgãos de investigação acerca deste caso. Aqui no estado, o ex-ministro se movimenta no sentido de credenciar o seu nome como candidato ao Senado Federal, nas eleições de 2026. Se o seu depoimento contradizer o que tem sido afirmado pelo ex-ajudante de ordens, não seria improvável a decretação de uma nova prisão contra o militar e praticamente a anulação de seu acordo de delação premiada.