publicado em 13 de fevereiro de 2014 às 14:25
por Luiz Carlos Azenha, no Facebook, com atualização
A blogosfera está indo pelo mesmo caminho da mídia corporativa:
fofocas, especulações, chutes, opinionismo, exploração sensacionalista
da morte e da violência, manchetismo, superficialidade, busca de
audiência a qualquer custo…
Para não falar do fla-flu político do qual não se extrai absolutamente nada.
Como observou uma amiga, vai envenenando o sangue da gente. Faz bem dar um tempo e ler um livro.
*****
Uma colega me cobra uma opinião definitiva. Definitiva! Contundente! Arrasadora! Eu fico me perguntando de onde nasce o desejo.
Falta de convicção nas próprias ideias? Síndrome do rebanho?
Necessidade de ter certeza de que todos pensam como ela? As redes
sociais, nas quais incluo a blogosfera, criaram esta necessidade: uma
opinião definitiva por dia.
Todos sabem absolutamente tudo sobre todos os assuntos, com uma
convicção infernal: rolezinho, black bloc, Copa, Joaquim Barbosa…
Se você publica dois textos com opiniões distintas sobre o mesmo assunto é um Deus nos acuda: desagrada 100% dos leitores!
As pessoas se entregam ao opinionismo apaixonado antes mesmo de terem todas as informações que poderiam educá-las sobre o caso.
Atiram rojões verbais umas sobre as outras e o fazem de novo, no dia seguinte.
No meu caso, foi instrutivo o caso da indiazinha que teria sido
queimada no interior do Maranhão, “notícia” que nunca se confirmou.
Meu pedido de cautela aos internautas foi respondido com um
bombardeio de ofensas e críticas que uniu a Soninha ao Altino Machado.
Nunca recebi um pedido sequer de desculpas…
Onde é que está o espaço para a dúvida, a incerteza, o contraditório, a nuance?
Morreu nas mãos da ditadura do opinionismo.
*****
Tenho escrito aqui, nos últimos dias, sobre a degradação da
informação provocada pela blogosfera que busca audiência a qualquer
custo: opinionismo, manchetismo, descompromisso com a verdade factual.
É aquela que exige do blogueiro uma opinião definitiva e arrebatadora. Pelo menos uma por dia. Independentemente dos fatos.
Exemplo: recebi por e-mail um link da Aporrea, da Venezuela, segundo o
qual um manifestante teria dito ter recebido 150 bolívares para
participar de manifestações violentas em Caracas. Bolívar é a moeda
local.
Já no Brasil, sem apresentar provas do pagamento, nem sobre a origem
do dinheiro, um advogado diz que manifestantes receberam 150 reais para
se manifestar.
150 reais não tem o mesmo valor relativo de 150 bolívares venezuelanos. São números iguais, só isso.
Não há provas definitivas: de que houve o pagamento, nem lá, nem aqui. Pelo menos por enquanto.
Não há provas: de que exista alguma relação entre os dois casos.
E, no entanto, um site muito acessado usa o número 150 no título e
joga na rede. Será compartilhado muitas vezes. Vai dar muita leitura, já
que teorias de conspiração são fascinantes — pelo menos eu gosto.
Mas, e a verdade factual? E o compromisso com a informação?
Dane-se, parecem dizer os que bancam isso. Eu jogo lá, o assunto gera
os clicks de que preciso para vender publicidade e no dia seguinte eu
invento outro assunto!
PS do Viomundo: O objetivo dessa desinformação é
comprovar que existe uma conspiração internacional contra a Copa do
Mundo no Brasil. Talvez seja trabalho de contrainformação. Isso sim é
que é teoria da conspiração!
(Publicado originalmente no Viomundo)
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