Há um grande economista brasileiro, premiado pela ANPOCS, que
surpreendeu o mundo acadêmico com a sua tese de doutoramento. A tese,
muito questionada pela banca
examinadora, estudava o drama das desigualdades e da pobreza no país a
partir de um olhar não dos empobrecidos, mas sobre o imaginário dos
ricos, ou seja, como eles se viam, como eles imaginavam porque chegaram lá, suas percepções
sobre justiça social, etc. Um dos aspectos observados pelo autor é que
os ricos possuem um grau de capilaridade social bem mais acentuado do
que os empobrecidos, ou seja, conhecem pessoas influentes que facilitam
sua entrada, por exemplo, no mercado de trabalho, geralmente em cargos
de confiança, muito bem-remunerados. Quando não, assumem os negócios da
família, mas sempre muito bem posicionados na pirâmide social. Com os
filhos da pobreza, salvo raras exceções, ocorre um caminho tortuoso.
Normalmente começam a vida com um estágio remunerado, depois seguem para
um emprego de salário mínimo durante o dia e, normalmente, uma
faculdade durante a noite, realizada com grande sacrifício pessoal. Para
essa turma do andar de baixo atingir um salário acima de 10 mínimos por
mês vai uma longa jornada. O que ocorreu recentemente no DETRAN-PE é um
exemplo disso. Concretizada a aliança com os tucanos no Estado, coube
àquele partido a gestão do órgão. Um grão-tucano local teria indicado
várias pessoas para assumirem posições de chefia no órgão, inclusive uma
jovem de apenas 21 anos, o que revoltou funcionários mais antigos, de
carreira, concursados, muito mais experientes. O que espanta, no caso,
não são apenas os critérios utilizados para a ocupação desses cargos numa
sociedade como a brasileira, de raiz patrimonialista profunda.
Surpreende, igualmente, o discurso oficial do Governo do Estado no
sentido de adoção da meritocracia na gestão da máquina, da substituição
do velho poder de mando das oligarquias políticas do Estado. Logo em
seguida, vazou para a imprensa que os apadrinhados do Governo teriam
acesso, com antecedência, a informações sobre as blitzes da Lei Seca
realizadas pelo DETRAN, em conjunto com outros órgãos. Mais uma
evidência de que pouco coisa mudou nos costumes políticos do Estado.
Cabe a pergunta: O que há de novo nessa "Nova Política"?
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