José Luiz Gomes escreve
Difícil
reagir à frieza do candidato escolhido pelo governador Eduardo Campos como
postulante à sua sucessão no Palácio do Campo das Princesas, nas próximas
eleições. Esse fato, aliado à sua personalidade discreta de um técnico que
nunca se apresentou às urnas, talvez explique os comentários comedidos dos
analistas políticos sobre o seu nome, salvo uma evidente torcida de alguns
veículos de comunicação local. A rigor, o insosso Paulo Câmara, pelos primeiros
pronunciamentos, terá que melhorar bastante sua performance ao falar em
público, construir um discurso mais sintonizado com os companheiros de chapa,
além de afirmar uma identidade própria, menos atrelada ao prefeito do Recife,
embora não se negue as semelhanças quando se está em jogo o perfil
técnico.
Competia
ao governador, como líder maior da coalizão socialista, a última palavra sobre
o assunto. Seu leque de opções era expressivo e, com maior ou menor intensidade,
todos se movimentavam com o propósito de serem “ungidos”. Como se sabe, alguns
ficaram pelo caminho. Ora pela ousadia, ora pelas arestas, ora pela
incompatibilidade evidenciada pelas pesquisas realizadas pelo marqueteiro
oficial do Campo das Princesas, ora por não se adequarem à imagem que o
governador tenta passar à população como candidato à Presidência da República.
Ao
que se sabe, todos se comportaram bem. Exceção mesmo apenas para o famoso
churrasco de Aldeia, organizado por “Andrei Gromiko”, que teria deixado o
governador irritado. Logo no início das discussões em torno da escolha do
candidato à sua sucessão, Paulo Câmara, do dono do cofre, aparecia bem na fita.
Na reta final, outros nomes ascenderam e nem ele mesmo acreditava numa
reviravolta, motivada por circunstâncias políticas específicas. Paulo Câmara
não era o primeiro nome na lista de preferências do governador.
Alguns
aspectos pesaram em sua decisão, um processo nevrálgico, que produziu, como já
afirmamos, algumas vítimas, entre os quais o vice-governador, João Lyra Neto. Profundo
equívoco considerar como verdadeiras as suas palavras de que o governador
conseguiu “unir a Frente Popular”. As pesquisas realizadas pelo argentino Diego
Brandy, que acompanhou todo o processo decisório, foram fundamentais. Elas
apontavam um perfil de candidato “não político”, assim como ocorreu com o hoje
prefeito Geraldo Júlio, nas eleições de 2010. Não por acaso, Paulo Câmara, em
seus primeiros pronunciamentos, tentou “colar” sua imagem à do prefeito,
apresentando-se como um técnico que será o primeiro a acordar e o último a
dormir. Faltou somente o capacete.
Nas
últimas semanas antes da decisão, surgiram várias notícias da imprensa nacional
sobre a “sucessão familiar” em Pernambuco, o que teria levado o governador a
“calcular” o desgaste sobre a escolha de um candidato com laços de
consanguinidade junto à família Campos. Paulo Câmara não foge a esse perfil,
pois é casado com uma prima “distante” da primeira-dama do Estado, Renata
Campos. Em todo caso, havia postulantes mais próximos, o que, a princípio,
minimizaria os danos. De fato, há parentes demais no Governo.
Outro
fator relevante a ser considerado, é a candidatura presidencial do governador
Eduardo Campos. É evidente sua escolha por um nome que pudesse ser associado à
imagem da “Nova Política” que ele pretende vender ao eleitorado nas eleições de
2014. Essa “Nova Política” é o maior embuste eleitoral, mas os marqueteiros,
aliados às pesquisas qualitativas e às assessorias de comunicação, são capazes
de muitas proezas.
A
campanha e os debates poderão nos informar quem é esse sujeito que atende pelo
nome de Paulo Câmara. Por enquanto, ele é apenas um candidato de proveta,
produzido pela prancheta dos marqueteiros do Campo das Princesas, para atender
aos projetos do governador Eduardo Campos. A própria composição da chapa indica
suas fragilidades. Nem os prefeitos socialistas o conhecem. Fernando Bezerra
Coelho, experimentado no traquejo político, terá que suar a camisa para
carregar o andor. Não deverá, sequer, contar com a ajuda do padrinho Eduardo,
envolvido até o pescoço em seu projeto presidencial.
No
entanto, aos poucos, em doses homeopáticas, começam a surgir os bombardeios
contra o cobrador de impostos. Segundo o Banco Central, até setembro último (2013),
o Governo do Estado teria arrecadado menos do que gastou com o custeio da
máquina, ou seja, despesas com pessoal, investimentos etc. Até recentemente,
teria retirado recursos de programas como o Chapéu de Palha – de corte social –
para honrar compromissos com a construtora Odebrecht em relação à Arena da
Copa, o que já era previsto, num erro de avaliação das autoridades do Estado,
que não esconde sua arrogância de competência técnica. Aliás, já faz algum
tempo que uma professora da área de economia da Universidade Federal de
Pernambuco, ao analisar em profundidade os famosos “PIBs” do Estado, concluiu
que, a rigor, seus índices não se traduzem em benefícios sociais para a
população.
Pelas
redes sociais, chegam as notícias de insatisfação dos produtores e comerciantes
dos polos de confecções do Estado em relação aos altíssimos impostos cobrados
aos micro e pequenos empreendedores. Segundo comenta-se, as autoridades
fazendárias do Estado teriam jogado pesado, realizando blitez nas estradas,
apreendendo peças de tecidos, confecções prontas, etc. Caruaru, Santa Cruz do
Capibaribe, Toritama, Jataúba, Brejo da Madre de Deus estão entre as cidades
mais atingidas.Talvez aqui merecesse algumas considerações à política de
incentivo fiscais do Governo, traduzida por alguns analistas como robinhoodiana
às avessas, ou seja, através de suas práticas de isenção, acaba, no final,
retirando recursos dos mais pobres para entregar aos mais ricos.
Por
falar em Caruaru, vem da Princesa do Agreste, quem sabe, um dos maiores focos
de resistência ao nome de Paulo Câmara. Assim como ocorre com Campina Grande, no
Estado vizinho da Paraíba, os arranjos políticos celebrados na Princesa do
Agreste repercutem nas eleições estaduais. Caruaru é um vértice do chamado
“triângulo das bermudas” eleitorais do Estado. Com o objetivo de serenar os
“ânimos” entre os Lyras, o Palácio teria prometido mundos e fundos ao
correligionário, inclusive, o apoio ao nome de Raquel Lyra como candidata à
prefeita nas próximas eleições municipais. Não se sabe se teria combinado com
José Queiroz (PDT), atual prefeito e seu escudeiro fiel naquela cidade. Do
ponto de vista das formalidades, o governador teria feito barba, cabelo e
bigode na Princesa do Agreste. Além dos Lyras e dos Queiroz, até o grupo do
Deputado Estadual Tony Gel está com o governador. Em tese, apenas em tese, o
governador, como diria uma velha raposa da política local, tem um cardápio
variado: carne-de-sol, charque e, não fosse suficiente, pode subir ao Alto do
Moura para dividir uma chã de bode com os novos aliados. Apesar disso, não
convém apostar suas fichas num engajamento da família Lyra. Eles podem não suar
a camisa pela eleição do cobrador de impostos.
Não
restam dúvidas de que o PSB possui alguns ativos importantes no Estado. Apenas
filiados ao partido, soma-se mais de cinco dezenas de prefeitos, além de outros
tantos da coalizão. Governa o Estado já pelo segundo mandato. Por outro lado, com o apoio do Planalto, a oposição está
montando uma chapa bastante competitiva, liderada pelo senador Armando Monteiro
(PTB). Apesar do esboço de uma candidatura própria, o PP de Eduardo da Fonte
deve compor a chapa, assim como o PT. Armando já entra com uma boa capilaridade
política em regiões importantes do Estado e deverá contar com o apoio decisivo
do Planalto, que anda com o "Galeguinho' atravessado na traqueia. Paulo
Câmara, o cobrador de impostos, não terá vida fácil, como se poderia supor.
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