pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Olha o centenário de Osman Lins aí, gente!
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quarta-feira, 15 de maio de 2024

Editorial: Olha o centenário de Osman Lins aí, gente!



Antes de regressar ao Recife, depois de uma temporada de estudos nos Estados Unidos e na Europa, o sociólogo Gilberto Freyre foi aconselhado por amigos, principalmente Oliveira Lima, a procurar outras praças, em razão dos problemas da inveja aqui no Recife algo que, segundo se especula, poderia ter sua origem no nosso processo de formação histórica, forjado nessas oligarquias familiares, num perfil que se aproxima bastante do conceito de familismo amoral cunhado pelo cientista político americano Edward Banfield. Ou seja, os recursos públicos e o exercício do poder não se constituem algo do interesse comum, mais são apropriados, de maneira nada republicana, por nucleações familiares, seus agredados e áulicos. 

"Fazer críticas no Recife, Deus do céu! É o mesmo que querer usar patins sob aquele céu ardente", adevetiu Oliveira Lima ao amigo. Professores mais próximos de Gilberto, como Armstrong, sugeriram até mesmo que ele permanecesse em solo americano e escrevesse em inglês, o que o antropólogo recusou, observando que não saberia dançar em inglês, o que ele fazia tão bem no idioma de Camões. Gilberto acabou voltando ao Recife, onde teve um começo profissional com alguns atropelos e não deixou de fazer alguns inimigos, como reflexo das advertências de Oliveira Lima. 

Nascido em Vitória de  Santo Antão, cidade da Zona da Mata Centro do Estado de Pernambuco, filho de um alfaiate e de uma dona de casa, o escritor Osman Lins encontrou inúmeras dificuldades em ser legitimado na sua condição de escritor. Sua carreira só deslanchou quando mudou-se para o Estado do Rio de Janeiro, em ambiente mais promissor culturalmente e, possivelmente, menos invejoso. Mesmo com o seu talento para a escrita já reconhecido, era tratado pelos gestores de uma agência de um banco no Recife, instituição onde trabalhava, como um simples bancário. 

Alguns anos depois, alcançando projeção nacional como escritor, o banco, sugerindo-se o reconhecimento de uma eventual injustiça inicial,  o convida para uma exposição. Ele se recusa a participar. Estava revendo em nossos papéis, uma resenha que fizemos, ainda no CAC\UFPE, sobre o romance Avalovara, um dos mais importantes de sua carreira literária. À época, fomos conhecer a sua cidade natal, onde, ao longo de sua obra, alguns logradouros públicos são mencionados. 

Há pouco dias, lemos um texto escrito por Marcus Prado, publicado no Diário de Pernambuco, alusivo ao centenário de seu nascimento, onde o autor faz referências às suas experiencias na zona rural da cidade de Vitória de Santo Antão, onde o escritor nasceu. Vivências rurais nada comparáveis ao Menino de Engenho de José Lins do Rego, mas, nem por isso menos importante. Osman era muito exigente com sua escrita. Como ele mesmo admitiu, chegou ao limite de sua criatividade com o romance Avalovara que levou um bom tempo para ser concluído. Essa exigência pessoal, segundo Regina Igel, que escreveu uma biografia intelectual do escritor, devia-se à inspiração do pai, que era alfaiate, sempre preocupados com as linhas e os cortes retos e precisos. 

Agora no dia 05 de julho, se estivesse vivo, Osman Lins comemoraria os seus cem anos. É lamentável que governos e instituições não prestem uma homenagem a um dos maiores escritores do Estado e do país. Não estamos observando nenhuma movimentação neste sentido. Há muitas histórias sobre o escritor pernambucano. Escrevemos um longo texto tratando deste assunto, mas ficou mais parecendo com um ensaio, incompatível aos limites impostos por este blog. 

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