pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 22 de julho de 2021

Tijolinho: O adubo dos Coelho




Sob o argumento de "pautas administrativas", tem sido recorrentes os encontros entre integrantes da família Coelho e os ocupantes do Palácio do Campo das Princesas. Amiúde, comenta-se sobre a possibilidade concreta de articulações políticas de olhos nas eleições de 2022. Hoje, o capital político da família Coelho interessaria a qualquer força política no Estado. Durante os últimos anos, eles adubaram bem as bases nas diversas microrregiões do Estado, pavimentaram as estradas, de olho, inclusive, num projeto majoritário de um dos herdeiros do clã familiar, Miguel Coelho(MDB), atual prefeito de Patrolina. Consoante determinados arranjos, no entanto, o herdeiro do clã pode esperar um pouco mais para viabilizar seu principal projeto político. Ainda é muito jovem. O pai, o senador Fernando Bezerra Coelho(MDB), por exemplo, tem sido resiliente desde os tempos do ex-governador Eduardo Campos, que, matreiramente, para evitar eventuais perda de controle do grupo, indicou técnicos de sua estrita confiança para a ocupação de  cargos majoritários do Estado, a exemplo do próprio Paulo Câmara. 

Ainda é prematuro afirmar que esses acordos já estariam sendo costurados, mas não se pode descatá-los, uma vez que a disputa no campo das oposições também apresenta alguns complicadores, como, por exemplo, definir os ungidos do grupo para as vagas em disputa, compondo a chapa majoritária, o que implica em váriáveis quase sempre de difícil controle. Soma-se a isso, as eleições presidenciais tambem em curso, o que faz de Pernambuco um Estado submetido a constantes assédios de pretendentes ao Palácio do Planalto, como Ciro Gomes(PDT) e Lula(PT). Como são eleições casadas, as articulações nacionais tem reflexos nos arranjos políticos estaduais. O Deputado Federal Marcelo Freixo, por exemplo, desembarcou no PSB, no contexto de uma costura que prevê o apoio do PT à sua candidatura ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, em 2022, que contaria com o apoio do PT, mediante acordos aqui na província com o PSB.  

Animal político de faro aguçado, não surpreende que o chefe do clã dos Coelhos, o senador Fernando Bezerra Coelho(MDB), tenha reaberto este diálogo com o Palácio do Campo das Princesas. Uma possível aliança entre o grupo Coelho e o Palácio do campo das Princesas emprestaria uma musculatura política invejável a esta coalizão de forças, uma vez, que, como dissemos no início, a família Coelho vem adubando suas bases políticas religiosamente em todos os quadrantes do Estado. Um complicador poderia ser o alinhamento do senador, no plano nacional, com correntes políticas adversárias dos socialistas. 

  

Editorial: A subordinação do poder militar ao poder civil no Brasil.


Inicío este texto já pedindo perdão aos diletos leitores e leitoras em razão de não recordar-me de um filme que causou uma forte impressão a este editor alguns anos atrás. Talvez não o filme como um todo, mas, precisamente,uma cena. Num determinado momento da película, um oficial subordinado adentra a sala de seu superior hierárquico para receber uma ademoestação. A reprimenda é dura, pois ele teria cometido uma falta gravíssima: Havia desobedecido uma autoridade civil. O filme fazia referência ao estamento militar dos Estados Unidos, onde, até recentemente, foi ventilado que oficiais de alta patente já haviam firmado um acordo para impedir uma eventual tentativa de golpe orquestrada por um presidente civil. Ao longo dos anos, a experiência democrática norte-americana, naturalmente, sofreria alguns desgastes inevitáveis. Insuficientes, entretanto,para permitir-se às quarteladas comuns nas republiquetas de bananas.  

Talvez não possamos afirmar o mesmo em relação à democracia brasileira, tutelada, eternamente inconclusa, vulnerável aos suspiros autoritários. Para usarmos uma expressão do historiador Sérgio Buarque de Holanda, a democracia entre nós, na realidade, nunca passou de um grande mal-entendido. O processo de colonização português, forjado no trabalho escravo das capitanias hereditárias, certamente, em nada contribuiu para forjar o respeito ao "outro", a sensibilidade social, a institucionalização dos nossos espaços públicos. Gostamos - e sempre citamos - essa expressão do Sérgio Buarque de Holanda porque ela é muito elucidativa para entendermos a nossa realidade política. O Brasil oficial, aquele de nossa elite tacanha e mesquinha nunca deixou a Casa Grande. Frequenta seus arredores unicamente nos carnavais e durante os jogos de futebol da seleção canarinha. E, sempre que seus interesses são contrariados, convoca os algozes para manter a "ordem", o que caracteriza que temos um simulacro de democracia, do tipo "sob medida', consoante externamos no nosso último editorial. Curioso que, para tais finalidades, são comuns os acordos entre militares e civis. 

Em 1985 fizemos uma transição precária para um suspiro de democracia política, que permitiu que ficassem no seu rastro um punhado de entulhos autoritários, acionados sempre que a ocasião permite ou a temperatura política aumenta, colocando em lados opostos o poder civil e o poder militar. No Brasil, essa relação, a rigor, nunca foi pacífica, exceto em raros momentos onde o contingencioso foi momentaneamente contido. Vejam, por exemplo, a batalha campal que foi travada para se colocar no Ministério da Defesa uma autoridade civil. Esta prerrogativa, enfim, seria uma grande conquista da Carta Constitucional de 1985. Até recentemente, essa pasta voltou a ser ocupada por um militar. Existem vários fatores ou variáveis para se aferir a saúde de uma democracia. A subordinação do poder militar ao poder civil é uma delas. Eleições regulares, harmonia entre os três poderes, respeito às minorias também são bem-vindas. 

Nos útimos meses, embates e rusgas entre os poderes civil e militar no Brasil se tornaram recorrentes, o que, em si, é um indicador da fragilização do nosso processo democrático. Alguns atores políticos, como o presidente do STF, Luiz Fux, estão assumindo o papel de bombeiros, conciliadores e árbitros, o que é bastante salutar no sentido de conter os arroubos e evitar situações limites para o nosso tecido institucional. Infelizmente, este bom exemplo, não tem sido a regra de procedimento de outros atores relevantes, que preferem esticar a corda. E essa corda, como afirmamos em editoral anterior, é bastante frágil. Não se pode brincar com coisas tão sérias. 

P.S.: Na foto acima, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, um dos poucos civis a ocuparem a pasta da Defesa. 

   

terça-feira, 20 de julho de 2021

Tijolinho: PSB: Esse estranho objeto do desejo.


Até recentemente, chegou a ser divulgada pela imprensa uma possivel chapa formada pelo PT e o PSB aqui no Estado. Acordos entre esses dois partidos, naturalmente, alijam do processo alguns atores políticos de perfis mais independentes,altivos, como é o caso da Deputada Federal Marília Arraes(PT). Como observamos em comentário numa das redes sociais, a âncaro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) aqui em Pernambuco continua sendo o atual senador da República, o médico Humberto Costa(PT). Isso ocorre desde os tempos da Brasília Amarela, das vacas magras, onde o PT realizava seus encontros, emblematicamente, no Sindicado das Empregadas Domésticas. Não se pode acusar Lula de ingratidão e, neste particular, Humberto Costa continua com todos os créditos junto ao cacique petista. O homem de confiança de Lula aqui na província é o senador. 

A possível chapa prevê que Humberto Costa(PT) seja candidato a vice-governador, Paulo Câmara(PSB) concorreria ao senado e Lula emprestaria seu apoio à candidatura do ex-prefeito Geraldo Júlio(PSB) ao Governo do Estado. Há quem observe uma ligeira desvantagem do PT nesta composição, mas, por outro lado, uma vez eleito, Paulo Câmara assumiria a condição de integrar a base governista,numa eventual eleição de Lula. Os radares dos caciques socialistas locais já detectaram ruídos no tocante à candidatura do ex-prefeito Geraldo Júlio(PSB) ao Governo do Estado. O apoio de Lula poderia contribuir para minimizar esses ruídos ou aparar essas arestas em razão do grande capital político do petista aqui na província, sua terra natal. Aliás, esses ruídos nas hostes socialistas já acenaram até mesmo para o "trabalho' de outros postulantes do partido ao Palácio do Campo das Princesas. Não há unanimidade em torno do nome do ex-prefeito Geraldo Júlio, sobretudo em razão dessas dificuldades. A questão é que, quem apoia Geraldo Júlio tem o martelo. 

Uma revista de circulação nacional, em sua edição desta semana, traz uma informação importante sobre a arena política pernambucana, envolvendo as hostes socialistas. Segundo aquela revista, dois presidenciáveis, Lula e Ciro, estariam disputando o apoio do PSB, numa briga fratricida, fundamental para os planos políticos de cada um deles. Pelo o andar da carruagem política - e pelos movimentos recentes de atores políticos como Flávio Dino, governador do Maranhão e Marcelo Freixo, Deputado Federal do Rio de Janeiro - que recentemente se filiaram ao PSB, é mais provável que o PT, de fato, feche o acordo com os socialistas. Há algum tempo atrás, quando o partido tinha em seus quadros atores políticos como o Dr. Miguel Arraes, o filósofo Walteir Silva, João Mangabeira, Evandro Lins e Silva, Rubem Braga faria algum sentido chamá-lo de objeto dos desejos. Hoje, não mais.    

José Lins do Rego e a literatura regionalista - Banguê

Charge! Duke em O Tempo

 


Donald Winnincott no Brasil em 2021

 

Tales Ab´Sáber

Donald Winnicott no Brasil em 2021
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Donald Winnicott é o psicanalista da vida. Só quem conheceu como próprios os meandros produtivos da psicanálise, que ele chamava de fundamentalmente criativa, poderia dizer um dia que “a vida é mais importante que a análise”. Para ele, sem abrir mão da teoria do inconsciente que recebeu de sua tradição, a psicanálise sempre foi de fato vida. Tendo anos de análise pessoal com James Strachey, que se analisou com Freud em Viena, e de estudos com Melanie Klein, que se analisou por sua vez com Sándor Ferenczi e Karl Abraham, Winnicott soube fazer seu tudo aquilo que recebeu, bem como, em sonhos, Goethe propôs a Freud. Ao seu modo altamente idiomático, ele reinventou a psicanálise, o objeto cultural que tanto amava, no mesmo movimento em que a incorporou. E foi exatamente esta ética de civilização como criação que ele ofereceu aos milhares de crianças e bebês que teve no colo, durante cinquenta anos, em sua clínica psicanalítica pediátrica que acontecia no hospital público inglês. Talvez por isso elas transformassem de modo tão vivo suas dores e seus medos junto a ele, junto à sua zona de ilusão.

Passando por baixo e indo além de todo caráter contratual que estrutura grande parte da vida social da psicanálise no mundo, como Gilles Deleuze dizia sobre ele, sendo o primeiro a nos ensinar a “a ir até lá”, como o filósofo completava, observando, como também dizia Giorgio Agamben dele, o modo com que o objeto põe o humano para ser nele próprio, como os índios, as crianças e os artistas sabiam, Winnicott é, por estas e por outras, para muitos de nós, depois de Freud, o psicanalista dos psicanalistas. Com ele aprendemos a respeitar, e a desrespeitar, todo o cânone ao mesmo tempo. Passamos a pensar, ou melhor, a viver, em um mundo “entre os mundos” e a partilhar, em suas palavras rigorosas, a origem temporal do simbolismo.

Pensamentos, experiências e concepções de clínica diretamente “inspiradas” nele foram os de Marion Milner, M. Masud Kahn, Margaret Little, Jean-Bertrand Pontalis, Christopher Bollas, Harold Searles, René Kaës, René Roussillon, Adam Phillips, entre tantos. Jessica Benjamin e Axel Honneth o estudaram bastante e o consideraram, ambos, como uma espécie de último limite de uma teoria ética e ontológica, desde a psicanálise, do reconhecimento: o mundo fundante de um humano como ser político e de cultura. Ele próprio tinha um vínculo de afinidade eletiva especial, de pai para filho inconsciente poderíamos dizer, com o pensamento do então bem censurado da psicanálise Sándor Ferenczi, com o qual entrou em contato através de seu amigo psicanalista Michael Ballint, analisado por Ferenczi e guardião do mítico “diário clínico” do genial discípulo húngaro de Freud.

No Brasil, seu trabalho frutificou como em poucos centros da psicanálise de hoje e deu origem, entre outros, ao inspirador pensamento de Gilberto Safra, altamente humanista. O meu próprio trabalho com a Clínica Aberta de Psicanálise, e nosso grupo analista, nosso coletivo de psicanalistas sociais na Casa do Povo em São Paulo, só pôde existir porque em 1930 Winnicott se ajoelhou com uma criança em um corredor de hospital em Londres e eles desenharam juntos belas figuras, enquanto ela lhe contava seus sonhos… A Clínica Aberta se sustenta articulando uma série, aberta, inventada pelo paciente, de “consultas terapêuticas”, a poeticidade psicanalítica muito especial do encontro único, verdadeiro mundo clínico descoberto por Winnicott.

Certa vez Rodrigo Naves me disse desconfiar que os “objetos relacionais” de Lygia Clark tinham inspiração e base no objeto e fenômeno transicional de Winnicott, que ela teria aprendido na época diretamente em Londres, quando morou lá… Perto do fim da vida, Winnicott nos contou sobre um clube de amigos que lhe aparecia em sonhos, no qual costumava se encontrar e conversar com C. Gustav Jung. Ao mesmo tempo, ele nos mostrava todo o valor do “sem sentido” em psicanálise; enquanto pedia a Mohammed Masud Khan que fosse com a sua roupa de cavaleiro atender uma moça anoréxica que amava cavalos…

Há pacientes lacanianos como há pacientes kleinianos. Pode-se rastrear os termos da teorização freudiana em todas as suas coordenadas e conceitos e fazer ainda mais mil e um mapas dos grafos de Lacan. Mas qualquer coisa do tipo perde o principal em Winnicott, o momento fulgurante de um acontecimento em psicanálise, disse dele Pontalis. Psicanalista do potencial, dos “mundos sem fim”, ele inverteu o valor e o sinal da ideia ocidental de ilusão e nos mostrou um pouco como “viver o paradoxo”. O paradoxo para Winnicott: verdadeira fonte de devir, antes de julgá-lo como qualquer modo de significação ou de significante. Por isso ele foi lido por alguns com Espinosa, por outros com Heidegger, e com Merleau-Ponty, quando foi de fato apenas um psicanalista pediatra que partilhou sonhos, e brincadeiras, com crianças. E com bebês, que adoravam o seu snack bar, a sua lanchonete, como ele chamava seu consultório no hospital, onde eles devoravam a espátula de prata, e voltavam à vida em seu colo.

Médico de aldeia, mesmo que a aldeia fosse Londres, diferente do mestre político Freud e da necessidade espetacular de reconhecimento de Lacan, só viemos a saber tudo o que ele era e tudo o que pensava após a sua morte. Definiu sua obra prima clínica, o “jogo do rabisco”, como “o jogo sem nenhuma regra”. Porque “o analista que não sabe brincar não sabe analisar”, e a vida é mais importante que a análise, “esta forma altamente civilizada que o século 20 inventou de… brincar”! Pode? Por saber brincar e por amar tanto a psicanálise, que o fez tanto quanto ele a fez, foi mesmo o animador da vaquinha entre os psicanalistas ingleses que instalou a estátua de Freud, de Oscar Nemon, em Swiss Cotage.

Salve Winnicott, nosso guia e bom sonho, analista da potência criativa que tomou a vida ocidental como cultura, e como contra-cultura!…, até outro dia. O brincar e a realidade é o duplo, interior da psicanálise, desde a clínica, do radical e utópico discurso político, desde a cultura, que foi Eros e civilização. E nem Marcuse, nem Winnicott, rigorosamente contemporâneos, ouviram falar um do outro enquanto levavam a psicanálise na mesma direção. Ofereço esse ensaio, este estudo e retrato, Winnicott, experiência e paradoxo, a todos os meus amigos que mantêm o humano vivo e íntegro, deste ou daquele modo, de todos os modos, de todos os mundos, nestes tempos tristes de pobreza psíquica, mercadoria como sujeito e violência como cultura. Tempo em que homens do sonho, do reconhecimento, da criação e da democracia, como Winnicott, são tidos por inimigos.

Agradeço muito à Florencia Ferrari, e aos amigos da Ubu editora, que me deram a responsabilidade feliz de acompanhar com esta apresentação e ensaio a sua nova e fundamental coleção Donald Winnicott. E agradeço a todos os colegas que estão presentes em mim. Estou disponível para conversar com quem quiser falar sobre este livro, que foi escrito para todos. Evoé, DWW.

Tales Ab’Sáber é psicanalista e ensaísta, doutor em Psicologia Clínica pela USP e professor da Unifesp. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

Editorial: Brasil: uma democracia na UTI?

 



A saúde de nossa democracia nunca foi das melhores, sobretudo se considerarmos as consequências nefastas do nosso processo de colonização, que deu como resultado a formação de uma elite escravagista, predatória e insensível, incapaz de desenvolver a alteridade necessária para entender o drama daqueles que ocupam o andar de baixo da pirâmide social. Trata-se de um simulacro de democracia que funciona consoante a preservação dos interesses da Casa Grande, consorciada com a banca financeira internacional e os interesses geopolíticos do grande irmão do Norte. Trata-se de uma "democracia sob medida", ou seja, sempre essas elites tem seus interesses contrariados, engendra-se um golpe. 
 
Nos últimos anos, surgiram alguns ingredientes novos para compor esse cenário, como os arranjos autoritários articulados através das próprias instâncias institucionais do arcabouço dito democrático, o que convencionou-se chamar de golpes de um novo tipo - sem que os algozes dos regimes democráticos precisem ser expor ou sujar as mãos - e reúnam, ainda, as condições jurídicas de criminalizar quem se expressar  nesses termos sobre o assunto. O hiato entre a democracia política e a democracia econômica ou substantiva, por sua vez, conforme apontam inúmeros estudos, encarrega-se de colocar por terra o edifício institucional da democracia.É a chamada última pá de terra. Desde a década de 60 do século passado que o sociólogo francês, Claude Leffort já advertia-nos: "Uma democracia que não se amplia tende a morrer de inanição."

A "onda" conservadora e de direita que varre o mundo, de um quadrante a outro, embora tenha enfrentado alguns refluxos nos últimos embates, como no Chile, por exemplo, ainda apresenta-se bem edificada. A democracia agradece ao povo chileno, que rejeitou majoritariamente uma constituição autoritária e colocou Elisa Lancon, uma índia Mapuche, na presidência dos trabalhos que formulará a nova carta constitucional do país, que deverá ser plural, cidadã e, principalmente, preserve os valores da democracia num país que já enfrentou retrocessos democráticos sangrentos.

Pedimos perdão aos leitores e leitoras pelas tautologias, mas ainda encontramos grandes dificuldades de entender como essas correntes políticas insurgentes - de diretia - conseguem a alquimia de conciliar variáveis, a princípio, excludentes, como, por exemplo, unir  milícias e neopentecostalismo num mesmo projeto político.Há indícios sobre integrantes de igrejas neopentecostais envolvidos até mesmo com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Transgressões são possíveis em qualquer instituição. Estranha, no entanto, a recorrência. Algumas análises apontam uma perigosa proximidade geográfica desses "rebanhos" - periferia pobre, negra e favelada de centros urbanos como o Rio de Janeiro - mas nos parece que a "motivação' política é uma variável mais elucidativa para aclarar esse fenômeno. Meditar sob a massaranduba do tempo, não raro, nos ajudam a entender certos acontecimentos políticos. Sobre este em particular, não deve ser diferente. Há bons estudos em andamento sobre esta questão e, sempre que possível, vamos trazê-los por aqui. 

O fato concreto é que dormimos o sono político que produziu o monstro. Deixamos de cuidar de nossa democracia e, hoje, amargamos um retrocesso de dimensões gigantestas, com achaques quase que diários às nossas instituições democráticas. E, como disse antes, nossos pilares sempre foram muito frágeis. Se a corda for mantida esticada, penso que arrebenta. Iniciativas tomadas pelo STF no sentido de convocar os atores políticos representativos dos três poderes para um ajuste de conversas são importantes e necessários, no sentido de conter os arroubos e reestabelecer os limites de cada um deles. Ainda mais importante, aplicar os rigores da lei para impedir manifestações e pregações de cunho antidemocráticas, como as fake news, verdadeiras máquinas de destruir reputações.     


 

sábado, 3 de julho de 2021

Estudo mostra diversidade de práticas sexuais entre indígenas no Brasil pré-colonial

 


Estudo mostra diversidade de práticas sexuais entre indígenas no Brasil pré-colonial
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Arte sobre litografia: Índio Camacã Mongoió, de Jean Baptiste Debret, 1834 (Revista CULT/Reprodução)

 

 

A diversidade sexual no Brasil pode parecer uma pauta nascida na atualidade, mas é muito mais antiga: ela existe, pelo menos, desde antes da época colonial. É o que mostram os antropólogos Estevão Rafael Fernandes e Barbara Arisi no estudo Gay Indians in Brazil: Untold Stories of the Colonization of Indigenous Sexualities (“Índios gays no Brasil: Histórias não contadas da colonização das sexualidades indígenas”).

Analisando dezenas de registros das diferentes formas de sexualidade e de relacionamentos entre os índios brasileiros no período colonial, a dupla concluiu que foi a homofobia, e não a homossexualidade, que desembarcou na América com os colonizadores europeus.

Recém-publicada em inglês pela editora alemã Springer, a pesquisa traz exemplos da diversidade de práticas sexuais que datam de muito antes dos processos de colonização: homossexualidade, poligamia e até mesmo algo semelhante à transgeneridade e ao não-binarismo. “As famílias tradicionais brasileiras que os portugueses encontraram quando desembarcaram aqui não eram homofóbicas”, afirma o antropólogo Estevão Rafael Fernandes.

Os pesquisadores partiram de relatos e crônicas históricas dos exploradores europeus. Encontraram um grande número de acusações de “perversão sexual”, “sodomia” e “pederastia”. “São histórias de como a Cruz, a Coroa e o Estado tentaram (e tentam) controlar os corpos indígenas, e de como eles resistem e persistem”, define Barbara Arisi.

Segundo Fernandes, é possível afirmar que a liberdade sexual não costumava ser motivo de preconceito entre os próprios indígenas até a chegada dos colonizadores. É o que mostram casos como o de um nativo que, tido como “hermafrodita” pelos europeus, foi amarrado à boca de um canhão prestes a ser disparado.

Uma vez que a proposta dos autores não era a de publicar uma leitura “exótica” dos costumes sexuais indígenas, a pesquisa investigou principalmente como se deu a colonização sexual e corporal dessas comunidades – e como sua diversidade vem sendo apagada e reestruturada desde a chegada dos europeus no continente americano até os dias de hoje.

De acordo com os antropólogos, os processos de colonização vão muito além dos aparatos burocrático e administrativo, englobando também “o manejo da subjetividade, da afetividade e da corporalidade”, nas palavras de Arisi. A colonização, portanto, se fez muito mais no cotidiano do que em nível de governo, cortando, pouco a pouco, costumes, crenças e práticas culturais dos povos indígenas.

“A colonização baseia-se em um conjunto de relações de poder que opera em relação a noções como raça, gênero e povo, por exemplo, e a partir de práticas desde as quais estas noções são construídas e mantidas justamente para manutenção destas relações de poder”, afirma Fernandes.

Ecos da colonização

Partindo da colonização sexual, os autores abordam também a sexualidade indígena atual, mostrando que os processos de colonização jamais pararam de acontecer: “Se falar em ‘homossexualidade indígena’ choca nos dias de hoje, é necessário ter em mente que tanto a questão da sexualidade quanto a da etnicidade são moldadas historicamente”, diz Fernandes.

Os autores afirmam que existe atualmente uma visão preconceituosa de que o homem branco teria “corrompido” as populações indígenas ao apresentar outras formas de interação sexual e amorosa além da heterossexual e monogâmica. 

Essa noção teria começado a circular no Brasil nos anos 1970, quando se consolidou de forma mais organizada o movimento pelos direitos indígenas no país. “É um discurso de que a homossexualidade equivaleria à ‘perda da cultura’, ou seja, de que o indígena LGBT seria ‘menos indígena’ do que o heterossexual”, afirma o pesquisador.

A ideia foi incorporada, inclusive, pelos próprios líderes das aldeias ao longo do processo de colonização, discurso que segundo o antropólogo se relaciona com ideias que ainda hoje chegam às aldeias por meio de agentes de instituições oficiais ou de igrejas. “É como se a homossexualidade se transmitisse por contágio, como doença, levando à perda da identidade cultural”, diz.

O resultado: altas taxas de suicídio entre os índios LGBT, assassinatos por homofobia e pouca visibilidade para o assunto, já que muitos preferem calar do que lutar, prezando pela própria segurança. “Hoje, afirmar-se índio e gay é uma dupla luta pela sobrevivência”, pontua Fernandes.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)


quarta-feira, 23 de junho de 2021

Guerra de Canudos - Parte II





Neste vídeo sobre a Guerra de Canudos abordaremos as condições sociais e políticas que favorecerem a emergência do Arraial de Canudos, liderado por Antonio Vicente Mendes Maciel, o Antonio Conselheiro, assim como o primeiro conflito entre os seguidores de Antonio Conselheiro e o stablisment, formado pela Igreja, o Estado e elite econômica da época - traduzidos em forças policiais - onde já evidenciavam-se as divergências e "indisposições" do Brasil Oficial com aquele contingente independente, representante legítimo de um Brasil Real, ou seja, um povo ordeiro, trabalhador, cujos direitos básicos não são reconhecidos pela Casa Grande. Aliás, conforme afirmamos no vídeo, o Brasil Oficial, na realidade, nunca saiu da Casa Grande. Exceto para massacrar a senzala.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Ainda em torno de gênero, sexo e o que (e como) precisamos fazer

 

Ainda em torno de gênero, sexo e o que (e como) precisamos fazer
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Joy Hester Love, 1949 (Foto: Heide Museum of Modern Art/Divulgação)

 

A primeira consideração que me ocorre, neste segundo tempo do debate em torno da existência ou não de heterossexuais, refere-se menos ao conteúdo das formulações propostas e mais à forma que este debate deve ter para que possa valer a pena, visto que muitas vezes os múltiplos impasses e enigmas surgidos acabam circunscritos a uma querela entre supostos identitaristas e ditos universalistas.

Tal oposição me parece não apenas insuficiente, mas principalmente falsa, além de servir muito mais para por um ponto final ao debate do que para alimentá-lo. Por um lado, a lógica identitária claramente já nos revelou suas armadilhas – escrevo sobre isso há pelo menos 20 anos e ainda assim acredito que cheguei atrasado ao debate. Por outro, parece-me difícil pensar em uma proposição de caráter universal que não se converta rapidamente em discurso de poder.

Sobre os temas em questão, podemos recomeçar pelo insistente lugar das identidades em nosso mundo contemporâneo, em relação ao qual creio ser preciso ir além do reconhecimento do seu valor político circunstancial e do essencialismo estratégico – como nos diz Gayatri Spivak – que o acompanha: precisamos entender por que a afirmação de uma suposta essência ou de fronteiras intransponíveis entre indivíduos ou grupos foi naturalizada. O que implica considerar, em nossos debates como em nossas lutas, a força da racionalidade identitária que organiza nossos modos de relação consigo e com o outro desde a modernidade, nos seus vínculos tanto com a razão instrumental e o modo de produção capitalista e sua expansão colonizadora quanto com as disciplinas que foram se construindo no mesmo quadro histórico, dentre elas a própria psicanálise. Afinal, as armadilhas identitárias estão postas e não creio que algum de nós esteja livre do risco de cair nelas.

Não se trata, portanto, de defender o uso estratégico da identidade, como se isso coubesse apenas a certos grupos menosprezados, mas de reconhecer que a identidade é a modalidade hegemônica de subjetivação, que ainda define os limites das formas atualmente possíveis de existência, para gregos e troianos.

O que não significa de modo algum perder de vista a particularidade de experiências singulares. É evidente que as experiências de gênero, prática sexual, raça e classe social são distintas e ordenadas por diferentes dispositivos e mecanismos de opressão, bem como são lugares de potências singulares de resistência às dinâmicas e relações de poder. Contudo, não se pode negligenciar que as operações de subalternização e de silenciamento que envolvem tais condições – as quais aprendemos a designar como minoritárias – se entrelaçam, se sobrepõem e se reforçam mutuamente. Isso já está em muitos livros, mas basta conversar numa mesa de bar com uma mulher trans negra e homossexual para saber.

Ainda em relação especificamente à questão da identidade e dos movimentos identitários, talvez seja interessante pensar que o desacordo, neste debate, provavelmente não está na crítica à racionalidade identitária, mas no modo como procuramos superar tal racionalidade, se queremos demolir as suas bases (o que implica identificar quais são essas bases, inclusive aquelas que habitam nossos sistemas teóricos).

Certamente a valorização de operações de desidentificação é relevante e provavelmente será fundamental à produção de novas subjetivações – ainda que prefira continuar a conceber esse trabalho como a retomada de identificações contingentes e transitórias.  Precisamos, no entanto, discutir mais quais seriam as suas condições de possibilidade e também os efeitos políticos e subjetivos dessa recusa a identificar-se em cada caso particular.

Nada mais legítimo ou admirável, por exemplo, do que recusar a participação no regime sexual vigente, marcado por divisões binárias que se sustentam mutuamente, mas talvez a própria necessidade deste ato político e subjetivo de recusa implique o reconhecimento de que o dispositivo normativo está em pleno funcionamento e não é apenas hegemônico, é assiduamente supremacista.

Ou seja, a recusa em participar da ordem heterossexual não significa, a meu ver, que heterossexuais não existam; ao contrário, a heterossexualidade tanto existe que é preciso rejeitá-la (como de algum modo preciso me recusar a ser o homossexual-tipo definido pela medicina, pela indústria cultural e também pela própria psicanálise).

Não se trata, evidentemente, como bem apontam Helena Vieira e Yuri Fraccaroli, de supor qualquer dimensão ontológica seja da orientação sexual seja da generificação do corpo, mas de reconhecer que ainda que se trate em última instância de tecnologias, estas não apenas agem sobre corpos e sujeitos, mas sobretudo os produzem.

Aqui se faz inevitável tocar no ponto talvez mais sensível do debate com Vladimir Safatle, quando ele me acusa de ser violento – e talvez o tenha mesmo sido. Efetivamente, não faz muito sentido operar nenhum outing às inversas e se o nomeei heterossexual é para destacar o fato de que estamos todos, em nossos corpos e em nossos saberes, submetidos a essas categorias.

Não posso, contudo, deixar de pensar que se Vladimir tem a opção de não se encaixar, de recusar tal posição normativa, ou mesmo renunciar ao poder decorrente de ocupá-la, essa possibilidade não é dada a todos que transitam pelos territórios definidos pelas normas sexuais e de gênero vigentes, muitas vezes caracterizados por fronteiras bem marcadas e sempre vigiadas. Basta pensar no que significa para uma pessoa dissidente de gênero, ainda hoje, recusar a qualificação de transexual e ter que, por exemplo, só de início, abrir mão de qualquer acesso à rede pública de saúde.

Outro ponto importante é o que entendemos como ‘vivência concreta do sexual’.

Apesar de estar presente no primeiro artigo publicado por Vladimir e ter se deslocado para o título da sua tréplica, para mim ainda não está claro o que devemos compreender por esse sintagma e seus elementos constituintes. Não só me refiro ao sexual – que pode ser o de LacanFreud ou Laplanche, ou mesmo aquilo que Foucault circunscreverá no dispositivo de sexualidade –, mas sobretudo ao que deve ser qualificado de concreto, pensando ainda o que tal adjetivo pode implicar de hierarquia entre diferentes vivências ou interpretações relativas ao sexo.

 

Em termos mais específicos:
por que devemos supor que
fantasias, circuitos de afetos
e dinâmicas de gozo
constituem uma vivência do
sexual mais concreta do que
práticas corporais ou
performances circunscritas
por injunções sociais?

 

 

Tal interrogação sobre o que entendemos sobre concretude tem, ainda, ressonância nos termos que escolhemos, de modo que, ainda que de início tal pergunta pareça banal, é preciso fazê-la: estamos falando de heterossexuais, d’O heterossexual ou de heterossexualidade? O que podemos propor como não existente, A relação sexual ou as relações sexuais?

Por fim, um tema que sempre me interessa ver desenvolvido se refere à questão da verdade, do estatuto do saber produzido pela psicanálise e, mais do que isso, da posição de enunciação que assumimos quando pretendemos dar a nossa contribuição intelectual à luta política e à transformação das estratégias que pactuam a realidade.

Se quisermos efetivamente superar nossas pequenas diferenças – com seu inevitável e nem sempre pequeno narcisismo – é preciso estabelecer um programa de ação minimamente comum, o que só será possível com a livre circulação de interpretações concorrentes e não com a afirmação soberana de uma razão superior. Da luta política ao trabalho teórico, se quisermos efetivamente, ao menos a partir de um certo ponto, privilegiar as aproximações, mais do que as diferenças, até para evitar uma deriva identitária – a afirmação de si a partir da desqualificação do diferente ou discordante e pela demarcação de fronteiras incontornáveis entre o eu e o outro – é vital reconhecer a pertinência de interpretações concorrentes, pois só tal reconhecimento pode nos fornecer a base a partir do qual uma aliança pode ser construída.

Isso significa sim, lidar com gramáticas diferentes, seja para aprender a usá-las seja tão somente para recusá-las. É nesse confronto de gramáticas, nessa confusão de línguas, penso, que as posições que as sustentam são postas em xeque e discursos de poder podem ser desestabilizados, perdendo então a naturalidade conquistada. Por outro lado, o modo como suportamos esses confrontos, sem desqualificar o nosso interlocutor ou mesmo oponente, também nos dará a medida do quanto estamos dispostos a encontrar aliados e produzir um comum em meio ao dissenso; comum que nos permitirá sustentar outros modos – quem sabe mais belos ou deliciosamente feios – de vivermos juntos.

Especialmente no que se refere ao trabalho teórico, é preciso, ainda, encontrar níveis intermediários de abstração que permitam a mediação entre a sofisticada elaboração de certas formulações – necessárias muitas vezes para que novas inteligibilidades se produzam e outras leituras do real se façam possíveis – e a experiência cotidiana de nossas vidas banais. Para que não fiquemos presos aos circuitos fechados da metafísica nem ao imediato do fenômeno em sua tautologia.

É preciso, sobretudo, a meu ver, encontrar formas e posições de enunciação que não percam de vista certa dimensão cotidiana dos embates. Ao mesmo tempo que se faz necessário transformar essas outras inteligibilidades, que nos esforçamos em produzir teoricamente, em novas práticas situadas.

No que se refere à psicanálise, isso implica ao menos algum nível de autocrítica quanto ao estatuto de verdade que pretendemos atribuir à nossa forma de compreender o mundo e a experiência subjetiva, pois não creio que seja interessante supor uma soberania do saber psicanalítico, a qual refletiria imaginariamente a soberania do Inconsciente.

Por fim, encerrando minha contribuição a este debate, quero agradecer ao Vladimir por ter respondido tão rapidamente à minha provocação e também a oportunidade de continuar pensando, buscando questões, mais do que apresentando respostas. Agradecer também a Helena e Yuri, que puderam destacar outras perspectivas e vozes em um debate que certamente não pode ser monopolizado por lacanianos ou por quem quer que seja.

Eduardo Leal Cunha é Psicanalista, Doutor em Saúde Coletiva (IMS), Professor do Departamento de Psicologia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Sergipe e Pesquisador Associado do Departamento de Estudos Psicanalíticos da Universidade de Paris.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Charge! Duke via O Tempo

 


Tijolaço: O carnaval e a cadeia produtiva da cultura

 


A melhor coisa que acorreu a este editor durante a pandemia - além, claro, de não ter contraído o vírus - foi uma série de crônicas escritas, tratando desde assunto, com um fictício amigo cineasta brasileiro em Paris, que estava naquele França para reconstituir a trajetória do grande diretor e cinema Jean-Luc Godard, algo alusivo aos seus 90 anos. Precisei mergulhar nos livros, nos filmes do cineasta francês, nos documentários e alguns cursos sobre cinema, com o propósito de estabelecer este diálogo. Assustador para ele foi a descrição de uma Olinda deserta, vivendo sob o toque de recolher imposto pelo lockdown, sem as tapioqueiras da Sé, as mesas de bares expostas nos Quatro Cantos, os meninos e meninas fazendo a farra na pracinha do Carmo. Trauma maior ainda está por vir, com a proximdade dos festejos de Momo, com a interdição de tribos de todos os recantos do mundo subindo e descendo aquelas ladeiras, acompanhando os bonecos ou o batuque do Pitimbeiras, do Elefante, do Homem do Meia- Noite. Aliás, para ser bem sincero, se não fosse esse maldito vírus, os olindenses raízes já haviam caído nas fuzarcas das prévias, que, praticamente, emenda o carnaval de um ano ao outro, com ligeiros intervalos para curar-se das ressacas.  

Correta a  determinação do Governo do Estado em suspender os festejos de Carnaval deste ano. Trata-se de uma decisão inquestionavelmente acertada, que conta com nosso absoluto apoio, a despeito dos sofrimentos infringidos. Todas medidas preventivas para evitar a disseminação desse vírus serão bem-vindas para este editor, principalmente em razão do agravamento do problema, acrescido dessa cepa de variantes, com um grande potencial de contaminação, como, aliás, suspeita-se que já esteja ocorrendo em Manaus e outras capitais da região Norte do país.  Por mim, já teríamos adotado aqui as recomendações do médico Miguel Nicolelis, ou seja, um lockdown em todo o grande Recife. A questão diz respeito aos problemas daí decorrentes para a cadeia produtiva da cultura do Estado, especificamente àquela diretamente ligada ao evento do Carnaval. 

Está certo o Partido dos Trabalhadores em manisfestar essa preocupação e pedir que o Estado acene com algum tipo de proposta ou incentivo aos produtores culturais. A cadeia produtiva da cultura vem enfrentando problemas gigantescos este ano, como decorrência dos transtornos provocados pela pandemia . Teatro, música, cinema, literautura -mesmo dentro dos projetos aprovados pelo Funcultura, por exemplo - tiveram probelmas sérios com o cumprimento de prazos, com reformulações e adaptações de projetos a esta nova realidade, exigindo, do aparelho de Estado, um mínimo de sensibilidade para o problema, que, agora, se depara com mais um agravante: as consequências do cancelamento do Carnaval, principalmente para os produtores culturais.