pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 7 de julho de 2013

Diálogo apartidário

Apesar de reivindicações difusas, os protestos das últimas semanas demonstram uma crise em comum: a representatividade política dos modelos atuais

Marcello Scarrone
25/6/2013
 
  • Um dos dados mais interessantes e significativos das atuais manifestações populares nas ruas brasileiras é o descolamento dos protestos da ação e orientação dos partidos políticos. Quando não expressamente hostilizados ou rejeitados, os militantes, os representantes e os porta-vozes oficiais das várias siglas e entidades partidárias têm que colocar entre parênteses sua filiação ou sua ideologia para ganhar o direito de participação, mesmo assim, ao mesmo nível de todo mundo, sem qualquer diferenciação.
    Num planeta que nos fala de primavera árabe ou turca, de mobilizações sociais de praças e cidades em diferentes continentes, há indícios de que estamos na presença de um fenômeno novo, cujo futuro é difícil de se prever, mas cujo presente nos diz algo muito interessante. Não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, a mobilização política das pessoas passa por novos canais, alheios aos esquemas ou aos pertencimentos de partido.
    Num país como o Brasil, é verdade, as siglas quase sempre significaram pouco para os cidadãos, mesmo quando eles se transformavam em eleitores. Dos partidos da época imperial, simples recipientes diferentes de um conteúdo praticamente idêntico, aos da primeira República, máquinas de conservação e administração do domínio dos setores mais abastados da sociedade, a substância do jogo político continua nas mãos dos mesmos poucos, e a maioria da população na janela, olhando.
    Com Vargas, os partidos se tornam instrumentos de organização do consenso. Depois da guerra, ainda continua grande o abismo entre as siglas partidárias e os conteúdos ideais, as visões políticas presentes na mente dos brasileiros. Até a profunda divisão da sociedade brasileira no começo da década de 1960 foi fruto de diferentes visões do presente e futuro do país que mergulhavam mais em experiências e articulações da própria sociedade do que em identificações partidárias tout court. Se havia uma identificação, era mais com o líder do que com o partido.
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    Ordem ou silêncio da maioria?
    Após as décadas da ditadura, o processo de redemocratização assiste ao ressurgimento de siglas ou ao nascimento de novas, numa aparente retomada de importância do partido, mas os eventos destes dias estão confirmando que a estação dos partidos talvez já esteja encaminhada rumo ao seu ocaso. 
    Claramente os partidos da esquerda clássica foram e são os que mais mostraram e mostram uma identificação com seus militantes ou eleitores. Partidos socialistas, comunistas e afins, na história nacional e mundial, se tornaram bandeiras, símbolos de ideais compartilhados e levados para frente, geralmente contra as injustiças sociais e econômicas. Nesse caso, a identificação era e é mais forte, mas, além do perigo, presente como em outras representações, de se cristalizar em formas burocráticas de organização política, não fugiram nem fogem do perigo de perder a capacidade de ouvir a “voz das ruas”.
    Quando a sociedade, ou uma parte dela, se mobiliza em nome de um ideal ou de uma proposta, em nome de uma vontade de protesto ou de um desejo de mudança, não há partido ou regime que fique de pé. Não só de Bastilhas queremos falar aqui, mas também da Índia de Gandhi, ou da Polônia de Walesa, ou da Europa Oriental inteira, em 1989. Em todos os lugares, mais do que partidos, havia por trás o sentimento compartilhado de uma vontade profunda de renovação e mudança.
    Se se trata hoje de um fenômeno totalmente novo, não sei. Um dado é evidente: que também em países onde o empenho político passa tradicionalmente pela mediação dos partidos, como na Europa, o novo urge e tende a se manifestar. Para falar só do caso italiano, que conheço mais de perto, após a longa temporada ditatorial do fascismo e a guerra, partidos se reconstituem ou nascem em nome de precisas idealidades e identidades: os católicos, os comunistas, os socialistas, os socialdemocratas, etc. Até a direita é representada e por décadas a luta política tem no instrumento partidário seu sustentáculo e sua maior expressão. Por anos e anos, até o menor município italiano se divide entre moderados e radicais, comunistas e católicos, com batalhas de palavras e votos.  Mas as investigações de corrupção da década de 1990 e o fim do comunismo no Leste europeu derrubaram quase todas as siglas, de forma horizontal: vários partidos morrem, outros, como o partido comunista, tem que se reciclar, até no nome e no programa. Nasce fenômenos partidários novos, até em virtude da força da imagem televisiva e seu poder de agregação, e hoje a democracia política do país é de certa forma posta em cheque por uma agremiação política que não nasceu exatamente como um partido, mas como um movimento de opinião na internet, o “Movimento 5 Stelle”.
    Crise da representatividade dos partidos, crise do próprio conceito de representação política? Talvez sim. De qualquer modo estamos diante de um modo novo de fazer e pensar a política. E disso os partidos estabelecidos e consagrados pela história devem se conscientizar, reinventando formas e modalidades outras de dialogo com a sociedade.

    (Revista de História da Biblioteca Nacional)

Tijolaço protesta contra a bandidagem eletrônica dos Estados Unidos: somos ratos?

publicado em 7 de julho de 2013 às 13:36

Somos um país ou somos ratos?
7 de Jul de 2013 | 06:10
por Fernando Brito, no Tijolaço

A revelação de que os Estados Unidos violam, em escala gigante, o sigilo das telecomunicações no Brasil não admite vacilações ao nosso país.
Não pode ser tratada com descaso, usando argumentos pueris como “todo mundo sabe que os EUA tem capacidade tecnológica para vigiarem o que quiserem”.
Poder para fazer não é a mesma coisa que fazer, assim como é muito diferente ter a bomba atômica e explodir uma delas.
Chegamos ao intolerável paradoxo de vermos que o país que se diz modelo da democracia violar, em plano mundial, a privacidade das comunicações telefônicas e cibernéticas dos cidadão de todo o planeta – inclusive e especialmente os brasileiros – num inacreditável  volume de bilhões de ligações mensais.
Até agora, se sabia que faziam isso com seus próprios cidadãos, com as pessoas que vivem sob seu controle militar no Oriente Médio e, depois, com uma Europa ajoelhada moralmente, ao ponto de querer ocultar sua covardia negando pouso ao avião presidencial da Bolívia, talvez porque nada possa um índio como aqueles que, no colonialismo, massacrou aos milhões.
A partir da tarde de ontem, porém, é conosco.
Não somos melhores que ninguém, mas temos de cuidar de nós mesmos, se nos pretendemos um país adulto e soberano.
Está acima de ideologias. Nem o mais radical neoliberal diria que a regra do mundo deveria, ao lado do laissez faire, laissez passer, incluir um laissez écouter.
É um atentado às nossas leis e- mais grave – às mínimas regras de convivência entre as nações.
O Governo brasileiro jamais colocou ou colocaria obstáculos a qualquer investigação sobre ramificações terroristas antiamericanas em nosso país.
Mas nem o mais americanófilo brasileiro, civil ou militar, aceitaria que todas as comunicações feitas neste país fossem monitoradas por uma agência de espionagem.
Muito menos que as empresas – ainda que de origem estrangeira, operando sob as leis brasileiras – cedam gentilmente, sabedoras ou não,  o acesso a seus (e nossos) registros de telefonemas, e-mail e todo o tipo de mensagem eletrônica, inclusive as redes sociais, a um Big Brother Sam na base de um é ir chegando e grampeando.
Que o Governo Obama tenha perdido o senso e os limites nessa questão, que queira transformar o homem que revelou seu esquema global de espionagem em um fantasma perambulando pelos desvãos do mundo, que tenha chegado ao ponto de usar seis vezes um Espionage Act de 1917 que, em 90 anos e uma Guerra Mundial no meio, só três vezes antes havia sido invocado, problema dele.
Que espione nossas telecomunicações, problema nosso.
A reação diplomática do Brasil deve ser a mais dura e clara.
Teremos a solidariedade  de todo o mundo, enojado com essa monstruosidade e chocados de ver a reação pusilânime de governos nacionais que, eleitos por seus povos, prestam a mais rasteira vassalagem a quem viola a privacidade de seus cidadãos.
Não somos um Rato que Ruge,  como no conhecido filme de Peter Sellers, em que um pequeno país se insurge contra os Estados Unidos.
Mas certamente não podemos nos comportar como ratos diante do grande e gordo gato.

PS do Viomundo: CPI para saber quais empresas permitiram espionagem de suas redes no Brasil e para perguntar ao Paulo Bernardo se ele autorizou.
(Publicado originalmente no blog Viomundo)

Jungmann quer CPI para setor de transporte


Leonardo Lucena_PE247 – Após a onda de protestos que aconteceu no final do mês passado em nível nacional e que mobilizou 52 mil pessoas no Recife, tendo como mote a redução das tarifas e a melhoria na qualidade do transporte público e uma greve deflagrada pelos rodoviários que adentra pelo quinto dia de paralisação, o vereador oposicionista da capital pernambucana, Raul Jungmann (PPS), pedirá a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes Públicos. De acordo com o parlamentar, existe uma cartelização no setor de transporte público na Região Metropolitana do Recife (RMR) e uma investigação servirá para abrir a caixa-preta das empresas do setor. “O objetivo é abrir a caixa-preta da planilha de custos e subsídios que servem de base para a fixação da tarifa do transporte público”, declarou Jungmann. A ideia é que a CPI seja criada depois o recesso parlamentar, em agosto.
Na defesa da criação da CPI, o parlamentar não poupou críticas à qualidade do transporte público e disparou contra o Governo do Estado. Sobre o fato nenhuma empresa ter apresentado propostas no lançamento da primeira licitação das linhas de ônibus, no semestre passado, cujo contrato é de R$ 15 bilhões, Jungmann disparou: “É um claro indício de cartelização”.
Para criar uma CPI é necessário que pelo menos um terço da Câmara dos Vereadores, ou seja, 13 dos 39 parlamentares, apoie a iniciativa. Mas vale ressaltar a oposição tem apenas quatro representantes no Legislativo Municipal. Caso a base governista tente travar as investigações, Jungmann não descarta utilizar outros recursos para investigar as empresas de ônibus.
“Vamos ao Ministério Público, seja ele qual for. Também temos a Lei de Acesso à Informação (LAI)”, afirmou. No entanto, o parlamentar não acredita que os aliados da prefeitura, comandado por Geraldo Júlio (PSB), tentarão dificultar as apurações. “Muita gente da base vai se sensibilizar”, acrescentou.
Curiosamente, a Câmara Federal aprovou, na última quarta-feira (3), um projeto de lei para dar mais transparência aos dados e informações que são utilizados com a finalidade de fixar as tarifas de ônibus. O projeto, de autoria do deputado Ivan Valente (Psol-SP) segue para o Senado e, depois, para a sanção presidencial.
Além disso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quinta-feira (4), um estudo apontando que as tarifas de ônibus subiram 67% acima da inflação no período 2000-2012. De acordo com os dados do órgão, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país, aumentou 125% neste período, o preço das passagens do transporte coletivo subiu 192%. A publicação mostra, ainda, que, para as famílias de baixa renda, o impacto médio do custo com transporte público na renda domiciliar chega a 13%, 9,6 pontos percentuais acima da média total (3,4%), que inclui as famílias de todas as classes sociais.
“Os serviços estão ficando mais caros e a precariedade na prestação desse serviço é cada vez maior. Temos um serviço público, com subsídio público e sem nenhuma transparência, onde as decisões são tomadas sem o controle da sociedade”, disparou Raul Jungmann.
Com o objetivo de conseguir apoio popular para a criação da CPI, o vereador está fazendo uma enquete em sua fanpage e informou que, até o momento, mais de sete mil pessoas tinham votado a favor do projeto e somente 464 contra. “O movimento é massivo”, declarou Jungamann. “Vi circular na internet uma auditoria feita em uma capital nordestina, mostrando que os custos destas empresas estariam superfaturados. Na minha visão, o momento é este, e estou disposto a começar uma coleta de assinaturas para instalação da CPI do transporte público na Câmara Municipal do Recife, a exemplo de outras cidades”, observou.

(Brasil 247)

Construção do Acquário já soma gastos de R$ 52,6 milhões


Apesar de poder depender de plebiscito para a sua conclusão, a obra segue na praia de Iracema, com novos custos se acumulando. Gastos se dividem principalmente entre a CG Construções e a ICM-Reynolds
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Envolta em polêmicas e incertezas, a construção do Acquário Ceará já soma gastos de R$ 52,6 milhões aos cofres públicos do Estado. Por cima dos tapumes que isolam a obra, no entanto, o que se vê são avanços tímidos, pouco condizentes com o valor gasto. Apesar de ainda poder depender de plebiscito para ter conclusão garantida, a obra segue na praia de Iracema, com novos custos se acumulando a cada dia.

Na última quarta-feira, a Câmara Municipal de Fortaleza aprovou pedido de urgência para votação do Projeto de Decreto Legislativo 28/2012, do vereador João Alfredo (Psol). A matéria, que será votada em até cinco sessões da Casa, determina plebiscito para decidir sobre a construção do Acquário. Projeto no mesmo sentido também foi apresentado ontem na Assembleia Legislativa do Estado por Heitor Férrer (PDT).

Os parlamentares questionam gastos excessivos na obra, justo em momento que o Estado passa por seca. Segundo João Alfredo, ainda é possível reverter a obra e renegociar contratos sem prejuízos. Heitor Férrer ainda alerta para possibilidade de o valor previsto para a obra aumentar.

A volta dos holofotes sobre o assunto segue declaração de Cid Gomes (PSB) do final do mês passado. Durante encontro com manifestantes, o governador admitiu a possibilidade de submeter à população o destino do Acquário. Apesar da promessa, gastos crescentes sugerem que o governo não trabalha com a perspectiva de um “não” das ruas. “Projetos e materiais de infraestrutura já estão comprados. Está tudo pronto para a obra funcionar”, diz a Secretaria de Turismo do Ceará (Setur). Por meio de sua assessoria de imprensa, o órgão afirma que foi adquirida toda a estrutura de concreto para o Acquário, bem como todos os projetos do oceanário da obra. Mesmo “preparada” para sua execução, a obra segue em estágio primário, sem sinais de avanço.

Em nota enviada pela assessoria da pasta, o secretário de Turismo, Bismarck Maia - atualmente de férias - não comenta a perspectiva de prejuízos caso a população rejeite a obra. Frisa, no entanto, que “aguarda com serenidade e respeito” a possibilidade de plebiscito. “O projeto do Acquário se insere como transformador, para melhor, das questões econômicas, sociais, culturais e ambientais da nossa cidade e Estado”, se limita a dizer.

Polêmicas
Segundo o portal da transparência do Governo do Ceará, os gastos já efetuados para o Acquário se dividem principalmente entre duas empresas, a CG Construções e a Americana ICM-Reynolds. A primeira, vencedora de concorrência pública, recebeu R$ 13,6 milhões para obras da estrutura de concreto. Já a americana, que contou com inexigibilidade de licitação, recebeu R$ 36,6 milhões para “construção do Acquario”.

A inexibilidade à ICM-Reynolds é motivo de contestação no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em abril, inspetoria da Corte negou necessidade da ação. O conselheiro responsável pela relatoria do caso, Edilberto Pontes, enviou o caso de volta para a inspetoria, alegando precisar de mais informação sobre a matéria.

(O Povo Online)

Gastos de senadores pernambucanos vão de voos a casas noturnas

 

Por José Accioly, do Jornal do Commercio
 
O custo para o exercício do mandato dos três senadores de Pernambuco – Humberto Costa (PT), Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Armando Monteiro Neto (PTB) – no primeiro semestre de 2013 foi de R$ 466.687,06, sem a remuneração, de acordo com o Portal da Transparência do Senado. Os gastos vão desde pagamentos com materiais de divulgação a consumo em casa noturna. O senador com maior despesa no período foi Humberto, com R$ 193.139,73. Em seguida aparece Jarbas, com R$ 163.422,17, e, por último, Armando, com R$ 110.125,16.
No primeiro semestre do ano, Humberto protocolou 551 recibos de pagamentos a título de gastos para atividade parlamentar. Um deles é o pagamento de R$ 72,57 à House Yellow Casa Noturna Bar e Restaurante LDTA, no dia 5 de abril. Além disso, o senador apresentou uma série de notas de restaurantes em dias sem expediente no Senado, como exemplo ao Eki, no dia 2 de março, no valor de R$ 152,70, e ao Anjos e Souto LTDA, no dia 18 de maio, ao custo de R$ 301,84. Ambas as despesas ocorreram aos sábados.
Na prestação de contas do senador Jarbas Vasconcelos constam 190 recibos. Em sua maioria, os débitos referem-se a gastos com o escritório político do peemedebista, o Debate, no bairro da Ilha do Leite, no Recife. Já o senador Armando Monteiro Neto foi o único dos três pernambucanos que utilizou pouco mais da metade do teto previsto para o semestre, que é de até R$ 217.599,60. Na lista de despesas, além de altas passagens aéreas – algumas onde o trecho custou mais de R$ 2 mil –, o petebista destinou R$ 3.360 para divulgação de sua atuação parlamentar.
Ato nº 9, de 2011, da mesa diretora do Senado institui uma cota de gastos aos parlamentares. O dispositivo nº 1 da Casa regulamenta que cada senador tem direito a R$ 15 mil de verbas, mais o valor correspondente de cinco passagens aéreas, ida e volta, do Estado a Brasília. Para Pernambuco, cada parlamentar tem direito a um teto mensal de R$ 36.266,60 para despesas com o exercício do mandato, que pode ser usado com aluguel de imóvel para escritório político, despesas postais, locação de transportes, combustíveis, contratação de consultorias, entre outras. A prestação de contas é feita mediante apresentação de comprovantes, sejam eles notas ou cupons fiscais. Caso haja saldo, a quantia pode ser executada pelo gabinete no mês seguinte.
Além da cota mensal para despesas, os senadores recebem um salário de R$ 26.723,13, valor igualmente pago à presidente Dilma Rousseff (PT), o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e os ministros.
Em tempos de manifestações populares nas ruas por melhorias nos serviços prestados pelo Estado, o cientista político Hely Ferreira ressalta que, embora constitucionalmente legal, moralmente as benesses aos parlamentares vão de encontro com os interesses da sociedade. “Apesar de legal, não é ético. Esses benefícios geram ainda mais uma aversão da sociedade à classe política. Enquanto os senadores têm determinados gastos, uma boa parte da população sequer tem acesso a um salário mínimo”, compara.
O professor Maurício Romão observa que a manutenção das benesses reforça o hiato entre a classe política e a população. “A manutenção é inviável e contra medidas de austeridade. Não é a toa que o povo está nas ruas cobrando melhorias”, sublinha. Para o estudioso, a solução seria cortar as regalias, com exceção daquelas em que o político utiliza para representar o Senado. “Uma medida seria adotar o modelo do Senado americano. Senadores recebem altos salários, mas as despesas são custeadas por eles próprios”, sugere.

(Publicado originalmente no Blog de Jamildo)

Sob Cabral, helicóptero realiza até "voo das babás"


 


A realidade do poder no Brasil sempre foi meio ficcional. A presença de 1 milhão de insatisfeitos nas ruas apenas tornou essa realidade um pouco mais inacreditável. Após uma semana de noticiário sobre o passe livre dos políticos nos jatos da FAB, descobre-se que também o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), governa com a cabeça nas nuvens.
Notícia veiculada por Veja informa que Cabral utiliza um helicóptero do Estado para proporcionar à família e a si próprio toda a comodidade que o dinheiro público pode pagar. O governador tem o hábito de passar os finais de semana numa casa que mantém em Mangaratiba, a 85 quilômetros da capital.
Cabral, a mulher, dois filhos, duas babás e Juquinha, o cachorro de estimação da família, alcançaram um nível de mobilidade invejável. A bordo do helicóptero oficial, voam até Mangaratiba olhando de cima para os engarrafamentos e os protestos de rua. Às sextas, seguem a família, as babás e Juquinha. No sábado, vai o governador. Aos domingos, mais duas viagens. Numa, vão os Cabral e Juquinha. Noutra, apelidada de “voo das babás”, seguem as auxiliares.
A revista reproduz declaração de um piloto: “Já levamos para Mangaratiba cabeleireira, médico, prancha de surfe, amigos dos filhos. Uma babá veio ao Rio pegar uma roupa que a primeira-dama tinha esquecido. Uma empregada veio fazer compras no mercado. É o helicóptero da alegria.”
No Rio, o apartamento de Cabral fica a escassos 10 quilômetros do Palácio Guanabara. Pelo ar, dá três minutos. É perto, muito perto, pertíssimo. Mas Cabral faz questão de utilizar o helicóptero como meio de transporte. A mobilidade aérea do governador custa R$ 312 mil por mês. Numa conta anual: R$ 3,8 milhões.
Procurado, Cabral falou por meio de uma nota da assessoria. O texto informa que o governador “usa o helicóptero do governo sempre que necessário para otimizar o seu tempo e cumprir todos os seus compromissos.”
Ironia suprema: Cabral e Cia. utilizam um equipamento do tipo Augusta AW 109 Grand New. Custou ao contribuinte R$ 15 milhões. Foi comprado em 2011, depois que o governador voou num modelo idêntico pertencente a Eike Batista.  Naquele ano, Eike frequentava a lista da Forbes como homem mais rico do Brasil. Hoje…

(Publicado originalmente no blog do jornalista Josias de Souza, Portal UOL)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

#somostodosrodoviarios: Gol contra, por Michel Zaidan Filho




Por Michael Zaidan, cientista político

Questionado sobre a paralisação dos transportes urbanos no Recife, o governador respondeu em linguagem futebolista, que não jogava no "Corner".

A resposta do primeiro mandatário do estado de Pernambuco é sintomática da omissão e da ausência de poder público em matéria de interesse da coletividade. Alegou ele que, como havia uma divisão na base sindical da categoria dos condutores de ônibus, ele não ia interferir para não fazer o "jogo" de ninguém. E que esperava a decisão da justiça (?) do trabalho, para obrigar as empresas de transportes urbanos a colocar os veículos na rua. Cômoda esta posição. Se fosse para cumprir alguma agenda esportiva, carnavalesca ou ligada aos interesses de alguma empresa estrangeira, manifestava-se de pronto o ativismo governamental e de seu supersecretário. Como se trata de mero serviço público de interesse da população, a solução pode esperar ou a polícia toma das providências.

Isto, em relação aos transportes urbanos, o pior de todos e o que mais subsídios recebe através da Câmara de Compensação. E o que dizer da Saúde? - Será que o governador não viu a manifestação dos médicos, que atuam no SUS, por melhores salários, melhores condições de trabalho e a avaliação dos médicos estrangeiros a serem contratados pelo governo federal? - Certamente que não. Ele e sua família não se tratam no hospital "Miguel Arraes", mas nas clinicas particulares do Recife. Os médicos, como os professores da rede pública, são tratados administrativamente como maus trabalhadores que, quando não são punidos abertamente, são indiretamente através de prepostos e/ou superiores hierárquicos.

Curioso também foi o desaparecimento da imagem do governador da mídia, durante as manifestações de rua. É como se ele não tivesse nada a ver com essas manifestações. Talvez o estado seja uma ilha de excelência em matéria de serviços públicos e por isso estivesse à salvo das manifestações. Na verdade, o mandatário se escondeu atrás do secretário da Defesa Social, que permitiu a violência de seus comandados contra Diretórios Acadêmicos, contra militantes e ativistas do movimento social, jogando spray de pimenta nos olhos de pacíficos manifestantes e obrigando pessoas a se retirarem das ruas, no fim das manifestações.

O famoso caráter "pacífico" das passeatas no Recife é uma mentira, destinada a "livrar a cara" do governador, como se a responsabilidade final dessa truculência não fosse sua.

Inquietante também é a omissão do prefeito da cidade, que vem se comportando como um secretário do governador. A cidade está cheia de problemas e de manifestações públicas contra a má prestação dos serviços. No entanto, não se vê a presença do gestor municipal, para apresentar soluções para os problemas de infra-estrutura, mobilidade, drenagem, asfaltamento das ruas etc. O gerente da Prefeitura não pode se contentar em promover campanhas publicitárias em torno da cidade e do gestor. Tem de arregaçar as mangas e enfrentar o protesto dos cidadãos, de forma democrática e propositiva, pois muitas foram as promessas de campanha, e a população parece estar vivendo no pior dos mundos possíveis.

(Publicado originalmente no Blog de Jamildo)

A "inhaca" da corrupção na vida pública brasileira



A corrupção está entranhada na vida pública brasileira, certamente, como advoga bons estudiosos do problema, como um traço marcante de nossas execráveis características. O cinismo também parece ser outra característica marcante, quem sabe, como uma mera derivação. Recentemente José Sarney ocupou a tribuna do Senado para fazer um caloroso discurso contra a corrupção no país, logo ele, cuja vida pública não, necessariamente, um primor de lisura. O projeto que prevê tarifa zero para os estudantes no transporte coletivo é de autoria do Presidente daquela Casa, senador Renan Calheiro, que dispensa apresentação. Mesmo diante do clamor das ruas - que exigiam, entre outras coisas, o fim da corrupção - autoridades do Executivo e do Judiciário são flagrados cometendo deslizes, utizando verbas e equipamentos públicos em benefícios pessoais e de parentes. Refiro-me à utilização indevida dos jatos da Força Aérea Brasileira. O Plebiscito também está virando um joguinho de empurra-empurra que não sabemos onde vai parar. Isso faz lembrar um outro autor - que não me recordo o nome no momento - qu escreveu um livro denominado "O País das Alianças", onde descreve que as "transições" no Brasil nunca chegaram à rupturas radicais. Dá-se sempre um "jeitinho" de empurrar o jogo para a prorrogação. Começo a suspeitar que é o que pode estar ocorrendo em relação às reformas de base conclamada pelos gritos das ruas. Até mesmo a ameaça remota de "Golpe de Estado", passou a ocupar a agenda dos debates como uma possibilidade real. É fato que a nossa democracia - em razão de inúmeros fatores - nunca esteve consolidada, mas daí à possibilidade de os militares retomarem o poder vai um longo caminho. Alguém, aqui pela redes sociais, indagava sobre quais as motivações de algumas autoridades públicas continuarem com práticas desonestas, práticas rejeitadas cabalmente pelos manifestantes que se mobilizaram recentmente no país: cinismo? certeza da impunidade, ou a "inhaca" de uma sociedade que possui, entre as suas características, a corrupção como algo rotineiro? Eu fico com essa última possibilidade.
 

Os fichas-sujas achados nas ruas e as eleições de 2014







  Se essas mobilizações de rua se refletiram nas urnas em 2014, possivelmente, politicos com o perfil de Sérgio Cabral deverão ser apeados da vida pública. Ontem o pau comeu próximo à sua residência, onde manifestantes se concentraram para protestar contra a retirada arbitrária de um grupo anterior que estava acampando naquele local, além de denunciarem algumas atitudes equivocadas do chefe do Executivo Estadual. E os equívocos não são poucos. Sérgio Cabral vive metido em estripulias, que envolvem uma proximidade demasiada entre esfera pública e privada. Ao final das eleições de 2010, era apontado como um nome forte do PMDB para concorrer ao Palácio do Planalto. Uma proeza, sobretudo se considerarmos que a agremiação partidária sempre se ressentiu de nomes competitivos. Logo em seguida, ruiu o edifício da moralidade pública, quando foi flagrado, num acidente, utilizando indevidamente, um jatinho de um empresário para deslocamento pessoal e de familiares. Logo em seguida, ainda envolvendo-se demasiadamente com empresários, foi fotografado na Cidade Luz, em noitadas, ao lado de fornecedores do Estado. A última de Cabral foi a legalização de um terreno, numa área irregular, de proteção ambiental, onde o apresentador Luciano Huck mantinha uma residência. A advogada do apresentador é filha de um empresário que explora o transporte coletivo no Estado do Rio de Janeiro e que tem fortes ligações com Cabral. Sérgio Cabral se constitui num bom exemplo de político ficha-suja achado nas manifestações de rua. Fiquem de olho nele para observarmos até onde essas mobilizações, nos parâmetros da democracia representativa, podem ser refletir nas urnas em 2014. Seu candidato ao Governo do Estado é um tal de Pezão.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Michel Zaidan Filho: Processos constituintes na América Latina

POSTADO ÀS 19:27 EM 03 DE Julho DE 2013

Por Michel Zaidan

0 professor Luis Vicente Vieira, do Departamento de Filosofia (UFPE), acaba de lançar um livro que fere diretamente a questão do dia: Processos Constituintes Na América Latina. Coordenador há vários anos de um Núcleo de Estudos sobre as democracias em nosso continente, Vieira lança uma questão inquietadora: por que olhar os processos constituintes da Europa e do Oriente Médio, para buscar inspiração para o caso brasileiro, quando temos perto de nós vários exemplos de processos constituintes verdadeiramente populares e originais? - Basta ver os exemplos da Bolívia, da Argentina, do Equador, para entender que a América Latina tem muito a nos ensinar sobre a matéria: soberania popular. No entanto, a referência ao nosso continente é sempre acompanhada de vícios e perversões caudilhescas e autoritárias, como se só houvesse democracia no Norte e no Leste.

É verdade que nunca nos sentimos latinoamericanos. Nossas afinidades políticas, economicas e culturais eram com os europeus, até a primeira guerra mundial, e depois com os americanos. Nunca com os vizinhos latinos, de quem sempre levantamos suspeitas. A diplomacia sul-sul é coisa recente entre nós, sobretudo depois da mudança da agenda da política externa norteamericana. Com o deslocamento do seu interesse para a Asia central, a America Latina ganhou uma janela de oportunidades para formular um processo de integração regional, nunca visto antes. E que de fato materializou-se com o Mercosul, que continua ainda hoje como uma união aduaneira imperfeita e base de operação para os negócios intrafirma das empresas multinacionais.

O governo Lula procurou bancar o processo de integração regional, a partir do financiamento de grandes obras de infra-estrutura. Infelizmente, os processos políticos revolucionários, as mudanças de governo e a crise economica internacional sabotaram as iniciativas multilaterais do primeiro governo petista, despertando nos vizinhos uma suspeita pela busca de hegemonia continental da diplomacia brasileira. De toda maneira, há muito o que se aprender com a experiencia constituinte e popular dos nossos parceiros latinos. O desenho, a fisionomia, a modelagem desse arremedo de consulta popular para fazer a reforma política no Brasil pode levar a uma desmoralização dos instrumentos da democracia direta (referendum, plebiscito). Se é para dar a palavra (e o poder constituinte originário)ao povo brasileiro, é melhor obedecer às vozes da rua. Fazer de conta, mudar ou usar como mera homologação das decisões do Congresso, a vontade p opular é dar um golpe na democracia e sacramentar de vez o caráter oligárquico, elitista da nossa representação parlamentar.

(Publicado originalmente no Blog de Jamildo)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Em Paulista continua o descaso com o meio-ambiente



Há poucos dias, aqui mesmo pelas redes sociais, denunciávamos a situação de descaso do poder público com a Mata do Frio, em Paulista, região metropolitana Norte do Recife. Desmatamento, ocupações desordenadas, formações de lixões e especuações imobiliárias movidas à isenção de tributos municipais, num pacto sinistro entre capatalistas gananciosos e órgãos públicos que são pagos pelos contribuintes para zelar pelos interesses republicanos. O Governo do Município até tentou maquiar a situação - anunciando algumas medidas para conter a ação de degradação do local - mas, logo em seguida, evidenciando-se que a medida era epenas para sair bem nas fotos, através dos jornais, tomamos conhecimento da transferência do Parque de Diversão Mirabilância para aquela cidade, em condições extremamente favoráveis aos interesses do capital e deplorável do ponto de vista da preservação dos mananciais de mata-atlântica que ainda restam naquela cidade, bem como em relação aos supostos "benefícios' que o parque poderá trazer para o local. A cidade abdicará de receber os tributos municipais por um período de 10 anos. O Parque de Diversão será instalado na Mata do Ronca, o que irá comprometer 40% de sua cobertura vegetal. Essa lógica perversa vem sendo observada em todo o Estado, orientada por uma postura autoritária, impositiva, expansionista-desenvolvimentista, que não deixa muito margem de manobra para os órgãos fiscalizadores, caso da AD-Diper, CPRH, e muito menos em relação aos governos municipais "neo-socialistas" ou de partidos que integram a base aliada do Governo Estadual. O Governo Municipal, como afirmou o internauta Ricardo Andrade, apenas cumpre as determinações, sem esboçar nenhuma autonomia ou resistência. O governador que ponha suas barbas de molho, uma vez que o grito das ruas, apesar de difuso, vem construindo uma "agenda" que indica, em última análise, que muito coisa precisará ser revista. Posturas autoritárias, agressão ao meio-ambiente, isenção fiscal descarada para mega-empresários - um dinheiro que faz falta às políticas públicas estruturadoras - certamente, são temas que estarão presentes nos debates daqui para frente.

Michel Zaidan: Cura para a intolerância e o obscurantismo

 
 
Por Michel Zaidan

Faria muito bem aos ministros das igrejas neo-pentecostais e pentecostais do Brasil que pesquisassem mais sobre as causas da intolerância e do preconceito contra as religiões, as opiniões e as orientações sexuais dos outros, antes de buscarem na literatura médica especializada uma "cura" para a identidade gay, lésbicas ou transexuais. Pode ser que esta pesquisa revele outra doença mais grave: a ignorância e a falta de tolerância para com o outro. Poderiam começar lendo o livro da escritora e filósofa Simone de Beuavoir, a companheira inserarável de Jean-Paul Sartre.

Segundo ela, não se nasce mulher, torna-se mulher. Em outras palavras, a questão da identidade feminina é de natureza cultural, é movel e múltipla. Tem uma natureza simbólica e social muito grande. Buscar fundamentos biológicos ou fisológicos para explicar a natureza humana foi o caminho que o fascismo e o nazismo - bem como as políticas de limpeza étnica - trilharam, quando propuseram a superioridade da raça branca, cristã e ocidental sobre as outras.

Ajudaria muito aos missionários pentecostais uma leitura da obra de Freud "Tres ensaios sobre a sexualidade", para que entendessem como se dá a genese e a evolução da sexualidade humana - suas tres fases: a oral, a anal e a genital - e como se deu a especialização genetial da sexualidade, de acordo com os imperativos da revolução industrial, tanto como a criminalização e medicalização da sexualidade polimorfa (chamada pelos conservadores de "perversa"). Interessante e oportuna seria também uma leitura da obra de Hebert marcuse sobre a dessexualização que a sociedade do trabalho operou sobre o corpo dos trabalhadores, para que eles se concentrassem no trabalho.

E lessem o sociólogo alemão Max Weber sobre a "ética puritana do trabalho" e sua relação com o desenvolvimento do capitalismo. Tudo isso ajudaria muito a curar a ignorância e a falta de respeito pelos direitos civis e sociais das minorias. Sobre o modelo de família, tão apregoado pelos evangélicos, valeria apenas passar os olhos nas pesquisas de Malinoswski sobre as sociedades matriarcais das ilhas do Oceano Pacífico, sobre as transformações do código civil brasileiro e, acima de tudo, a obra "O poder da identidade", do já referido Castels que aborda as transformações do modelo atual de família, sob o impacto do movimento feminista e do movimento gay.

Se fôsse dizer a esse zelosos defensores da fé cristã que as pesquisas da Escola de Frankfurt mostraram que a personalidade autoritária, sobre a qual se erigiu o Estado nazi-fascista na Alemanha e na Itália, estava relacionado com esse modelo tradicional de família, com a forte repressão sexual da mulher e dos homossexuais, bem como com a acumulação de riquezas, eles con certeza enfrentariam uma crise de identidade. Desde muito tempo, sabe-se da etiologia sexual das neuroses da sociedade contemporanea. E a religião (cristã) tem uma elevada parcela de responsabilidade por isso. A misoginia e a homofobia andam de par com a religião, cuja mortificação dos sentidos e desejos vêm de longe. Dizia Nietzsche que a essencia do fanatismo religioso estava na castração ou na infelicidade dos religiosos. Quanto mais infelizes e frustrados, mais inflexíveis, rígidos e intolerantes.

Se é para ser religioso (e cristão), adotemos então a formulação feuerbachiana da essência do Cristianismo: a religião é o suspiro da criatura oprimida, é a busca da sagrada familia humana no céu. Ou seja, a sublimação dos melhores sonhos e desejos humanos. E adotemos a "ética do cuidado", da responsabilidade mútua de uns com os outros (esses outros bem diferentes de nós) e de todos com a natureza.

(Publicado originalmente no Blog de Jamildo)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Michel Zaidan: O ressentimento da política


POSTADO ÀS 13:21 EM 30 DE Junho DE 2013
Michel Zaidan
Se a unanimidade no pensamento da classe política brasileira  é a rejeição a uma grande, ampla e profunda reforma política. Os nossos nobres parlamentares temem a mudança das regras do jogo eleitoral, a ponto de colocar em questão a sobrevivência dessa elite patrimonialista acostumada a encarar o mandato como um cheque em branco, que ela pode preencher e sacar, como quiser. E isto sem dar a menor satisfação à sociedade brasileira. Não faltam estudos e projetos e a opinião de especialistas acadêmicos e do mercado eleitoral. No entanto, se depender dos nossos políticos tudo permanecerá como dantes, no quartel de abrantes. Vivem esquizofrenicamente, num mundo separado do mundo real, do mundo das ruas.

O Poder Executivo não fica atrás. Preferiu tirar partido de todas as mazelas do sistema político brasileiro, para cooptar, aliciar e comprar o apoio de partidos fisiológicos, clientelísticos, preocupados em se dar bem  no troca-troca de favores com a Presidencia da República. O único Poder que, ao seu modo, contribuiu para o aperfeiçoamento do nosso sistema político foi o Judiciário, através de instruções normativas que promoveram uma mini-reforma eleitoral. E assim mesmo enfrentando a crítica dos partidos e dos políticos. O ativismo judiciário, nesse como em outros campos, se faz sentir pela absoluta inação, o desinteresse diante da questão. Intitulada de "mãe das reformas", a reforma política é ignorada por quase todos. Pior, a população não consegue atinar para a relação entre ela e suas necessidades vitais.

No entanto, já há bastante tempo se  sabe que a democracia representativa depende da qualidade de sua engenharia institucional. Quanto piores as instituições, pior a democracia. É o caso da brasileira. Temos problemas com o abuso do Poder Economico no financiamento das campanhas eleitorais, desequilibrando a competição  eleitoral. Temos problemas com a legislação eleitoral, seja na forma de conversão de votos em cadeiras, seja no fasealmento da  vontade eleitoral do cidadão. O nosso sistema partidário é um mercado, não só frequentado pelas corporações sociais (a Igreja, entre elas), mas permeado pela compra e venda de tempo de televisão e fundo partidário. E o nosso Presidencialismo multipartidário é o mais improvável dos sistemas políticos!

Podemos perguntar é essa a melhora forma de promover uma reforma política? Com esses partidos e esses políticos? Com uma Presidente em queda de popularidade?

Certamente que não.Nenhuma uma grande mudança institucional se faz com açodamento e pressa. O recurso de buscar o apoio da população através de um Plebiscito se confronta com o fato de que essa reforma é complexa, toca na Constituição Federal, é polêmica e conta com o desafio de convencer o Congresso a acatar o resultado da Consulta Popular. Acordo que ninguém garante. Mas sério é o tempo disponível para o esclarecimento da opinião pública sobre a agenda das reformas, para que  ela se sinta suficientemente segura para escolher entre as alternativas apresentadas. O exemplo dos último Plebiscito e referendum mostrou a falta de tempo para que a sociedade formasse uma opinião política sobre os temas em questão.

Não há dúvida de que as manifestações de rua apontam para um enorme fosso  entre o Parlamento e a rua. Contudo, não menos inoportuno e incerto é usar um  problema tão sério e antigo como esse, como forma de buscar legitimidade e apoio na população. Se não fôr mera manobra  diversionista, é uma aventura cara,arriscada e pode não resultar em nada.

domingo, 30 de junho de 2013

Michel Zaidan: Um novo contrato social?

 

Por Michel Zaidan

O clamor das ruas - que ainda continua - pelo visto inspirou a contratação de um novo pacto social. A presidenta Dilma convocou os governadores e prefeitos para um grande acordo federativo e subfederativo para a implentação de uma plano de execução da pauta das manifestações populares: melhoria do transporte público, melhoria da saude e educação, e estabilidade fiscal. É de se lembrar que o autor da famosa obra sobre o contrato social (Rousseau) era partidário da democracia direta e era contrário à representação e ao pluralismo das formas de organização. Tendo ou não conhecimento da obra de Rousseau, a presidenta da República teve de enfrentar a reação dos parlamentares e do próprio judiciário, quanto à sua proposta de reforma política. Despretigiado como anda, o nosso Poder Legislativo protestou que estava sendo alijado do processo e lembrou que a iniciativa legiferante é uma prerrogativa do Congresso, sobretudo em que stões de emenda constitucional.

A preocupação de Dilma é que a reforma política se arrasta no Congresso e não há vontade política entre os parlamentares para "cortar na carne", ou seja, fazer uma mudança nas regras do jogo que coloque em questão os interesses dos próprios políticos. A idéia é reforçar a extensão e profundidade da reforma com um referendo popular, que obrigue os membros da Casa legislativa a fazer as mudanças necessárias. O que poderia não acontecer,se a reforma ficasse nas mãos dos atuais parlamentares.

De toda maneira, a palavra-de-ordem do momento é "ouvir as vozes da rua", como disse o ministro-presidente Joaquim Barbosa. Havendo ou não uma nova Constituinte (exclusiva ou não), a idéia de buscar a legitimação das medidas nas manifestações populares - é uma desconfiança em relação à representação parlamentar existente - e a necessidade de uma nova refundação da República brasileira. Fica a questão do apoio dos governadores e prefeitos, já que esse arremedo de consulta popular não pode prescindir do assentimento e participação dos entes federativos. Esse é um problema tão sério, como o da representação política. O Brasil não é um cantão suiço, que possa ser governado através de assembléias populares. É uma imensa federação desigual e diferente, que clama, aliás, por políticas de regionalização do oraçmento. É possível que os governadores e prefeitos aproveitem para se fazer ouvir também suas vozes, sobretudo quando se discute a repartição dos royalites dos campos de Petróleo - que segundo os especialista não deveriam ser gastos em custeio e sim em investimentos ligados a indústria petrolífera.

Mas a situação fiscal e financeira do Estado brasileiro é tão grave que infelizmente a presidenta não pode se dar ao luxo de dispesar esses recursos no financiamento das políticas sociais - o foco dos protestos sociais. Diante da imensa renúncia fiscal realizada em favor da FIFA (500.000.000) e das empresas envolvidas nas obras da mini-copa (189.000.000), o governo não tem como não utilizar esses recursos futuros para atender aos reclamos da população. Mais anida agora que os contratos de partilha das jazidas do Pré-sal foram atingidos pela crise mundial e adiados.

Uma coisa é certa: se vamos ter um novo contratro social neste país, ele passa por uma nova forma de representação político-parlamentar (sob o controle da sociedade) e uma mudança drástica de prioridades na administração pública do Brasil. Afinal, o que é mais importante a Copa ou o hospital?

sábado, 29 de junho de 2013

O que dizem as pesquisas pós-manifestações.


Algumas considerações sobre a pesquisa Datafolha registrando queda de popularidade de Dilma Rousseff.
Foi uma bela queda, mas Inês não é morta.
O que ocorreria se o Datafolha incluísse em sua pesquisa a avaliação sobre outros personagens da política: Geraldo Alckmin, Antônio Anastasia, Sergio Cabral, PT, PSDB, Aécio Neves, Congresso, STF? Todos registrariam queda similar. Foi o mundo político que desabou, não apenas um personagem ou outro. Obviamente, o personagem maior - a presidente - está exposta a desgaste maior.
Esta semana, pesquisa similar ao da Datafolha – contratado por um grupo de empreiteiras – revelou o seguinte:
  1. Queda de Dilma e Alckmin, Dilma um pouco mais, Alckmin um pouco menos.
  2. Queda expressiva tanto do PT quanto do PSDB. Incluindo aí o presidenciável Aécio Neves.
  3. Quem ganha são apenas Marina Silva, que sobe um pouco e Lula, que sobe mais – tanto na avaliação pessoal quanto do seu governo.
Chama atenção, no entanto alguns aspectos da pesquisa Datafolha:
  1. Mesmo tendo desabado, os índices de Dilma ainda são positivos. A maior parte dos que saíram do campo do ÓTIMO e BOM migrou para REGULAR. Agora, são 25% de RUIM e PÉSSIMO – um salto expressivo, ante os 9% da última pesquisa. Mas são 43% de REGULAR e 30% de ÓTIMO e BOM.
  2. O Datafolha omitiu a aprovação pessoal de Dilma. Como existe proporcionalidade entre a nota e a aprovação, analistas estimam que possa estar entre 55% e 58%.
  3. Em relação aos passos pós-crise, dois pontos a favor de Dilma. Em relação ao comportamento de Dilma frente aos protestos, 26% avaliaram como RUIM e PÉSSIMA contra 32% de ÓTIMA ou BOA e 36% de REGULAR. E 68% aprovaram a ideia do plebiscito.
Em suma, a bola continua com Dilma. Passado o impacto emocional das passeatas, sua maior ou menor aprovação dependerá de seus próximos passos. Se conseguir reestruturar seu governo e dar provas maiúsculas de melhoria de gestão e de interlocução, supera o momento. Se não conseguir, seu governo irá se arrastar até as eleições.

(Blog do Luis Nassif)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Aos 93 anos, Antonio Cândido diz qu o socialismo é uma doutrina triunfante

Para colocar ainda mais lenha no aceso debate político-ideológico que se trava no Blog da Tribuna, vamos publicar os principais trechos de uma instigante entrevista concedida à jornalista Joana Tavares, do Brasil de Fato, pelo crítico literário, professor, sociólogo, militante Antonio Candido. Com extraordinária lucidez e precisão, ele explica a sua concepção de socialismo, que diz ser uma doutrina trunfante, partindo para uma tese surpreendente e inovadora. A entrevista nos foi enviada por Sergio Caldieri, diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro.
Brasil de Fato – O que o senhor lê hoje em dia?
Antonio Candido – Eu releio. História, um pouco de política… mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno.
Brasil de Fato – O senhor é socialista?
Antonio Candido – Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “O senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.
Brasil de Fato – Por quê?
Antonio Candido – Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.
Brasil de Fato – O socialismo, como luta dos trabalhadores?
Antonio Candido – O socialismo como caminho para a igualdade. Não é a luta, é por causa da luta. O grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo. Portanto, ele é uma doutrina triunfante. Os países que passaram pela etapa das revoluções burguesas têm o nível de vida do trabalhador que o socialismo lutou para ter, o que quer. Não vou dizer que países como França e Alemanha são socialistas, mas têm um nível de vida melhor para o trabalhador.
Brasil de Fato Para o senhor é possível o socialismo existir triunfando sobre o capitalismo?
Antonio Candido – Estou pensando mais na técnica de esponja. Se daqui a 50 anos no Brasil não houver diferença maior que dez do maior ao menor salário, se todos tiverem escola… não importa que seja com a monarquia, pode ser o regime com o nome que for, não precisa ser o socialismo! Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas. Não tenho cabeça teórica, não sei como resolver essa questão: o socialismo foi extraordinário para pensar a distribuição econômica, mas não foi tão eficiente para efetivamente fazer a produção. O capitalismo foi mais eficiente, porque tem o lucro. Quando se suprime o lucro, a coisa fica mais complicada. É preciso conciliar a ambição econômica – que o homem civilizado tem, assim como tem ambição de sexo, de alimentação, tem ambição de possuir bens materiais – com a igualdade. Quem pode resolver melhor essa equação é o socialismo, disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser… o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.
Brasil de Fato – O que o socialismo conseguiu no mundo de avanços?
Antonio Candido – O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. E não há verdade final fora da moderação, isso Aristóteles já dizia, a verdade está no meio. Quando eu era militante do PT – deixei de ser militante em 2002, quando o Lula foi eleito – era da ala do Lula, da Articulação, mas só votava nos candidatos da extrema esquerda, para cutucar o centro. É preciso ter esquerda e direita para formar a média. Estou convencido disso: o socialismo é a grande visão do homem, que não foi ainda superada, de tratar o homem realmente como ser humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso para os que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo.

Hábeis, raposas políticas se antecipam ao clamor das ruas.


Curioso o contorcionismo desses políticos diante das mobilizações de ruas. Como naquela frase célebre do dramaturgo Nelson Rodrigues, apesar das últimas declarações pontuais, Lula mantém um silêncio ensurdecedor. O comportamento de Lula vem estranhando muitos caciques da legenda. com obserevou o jornalista Josias de Souza, Lula já veio à boca do palco para defender José Sarney, afirmando que o morubixaba era uma pessoa especial e que, portanto, não poderia ser tratado como um cidadão comum, susceptível aos rigores da lei. Padrinho político de Dilma Rousseff, atacada pelas ruas, por setores da base aliada e da oposição, inusitadamente, Lula silenciou. Alguns sugerem que o seu comportamento denota a velha manha de sobrevivência dos animais políticos. Diante dos fatos, estaria esperando a poeira assentar para definir qual seria a melhor estratégia para o discurso que pretende formatar e as forças que precisam arregimentar quando precisar subir novamente no banquinho. No calor das manifestações, Dilma o teria procurado para pedir conselhos. Segundo consta, Lula não teria acrescentado muita coisa. Aproveitou a oportunidade para pedir a cabeça de Guido Mantega, que hoje está com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato. Uma outra razão da discórdia poderiam ser os erros gerenciais de Dilma Rousseff e seu diálogo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre uma Constituinte exclusiva. Lideranças do partido teriam ficado bastante magoados com a atitude. Afora essas questões de varejo, no grosso, o que vem ocorrendo é que os políticos estão procurando mecanismos de sobrevivência diante das manifestações populares. Ontem o senador José Sarney ocupou a tribuna daquela Casa para fazer um discurso anti-corrupção, no calor do debate que torna essa prática uma crime hediondo. Sarney, certamente, estaria naquela lista negra, que pretendo publicar no blog, dos fichas-sujas achados nas manifestações de rua. Não é suficiente, imaginem que o projeto de lei que trata da questão da gratuidade do transporta coletivo para os estudantes é do presidente daquela Casa, Renan Calheiros.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Quando a rua se torna a arena

POSTADO ÀS 10:53 
Michel Zaidan, cientista político

Entre os antigos romanos, a palavra arena era designada como lugar de jogos e manifestações diversionistas destinadas ao povo. Mas também como lugar da luta, da disputa entre gladiadores e escravos. Por uma dessas transformações semânticas produzidas pela História, a palavra "arena" foi apropriada pelos governantes como o palco de jogos e competições esportivas internacionais. o que ninguém previu é que o  povo brasileiro iria invadir as ruas das metrópoles brasileiras para protestar contra a má saúde, a má educação, o péssimo transporte público e o  mau uso do dinheiro público. A repercussão desse movimento foi tão grande que tomou o espaço nos telejornais nacionais  que seria dedicado aos jogos. Até o treinador da seleção brasileira foi convocado  a dar sua opinião sobre os protestos populares, apoiando as manifestações.

Os gestores, pegos de surpresa, passaram a decantar as virtudes da participação popular e da democracia participativa. O fundamental é entender o significado dessa nova arena da participação popular, apartidária, multifacetada, composta por inúmeros grupos sociais. Desde as manifestações dos "caras pintadas" pela demissão de Collor, não se via algo semelhante na cena política brasileira. E os governantes apostaram  no "nacionalismo dos tolos" como forma de anestesia da consciência social. A cifra astronômica gasta pelo Brasil (85.000.000.000) para a realização da Copa da Confederações foi o alvo preferencial  das multidões. Questionando a absurda quantia comparada com o descalabro das políticas públicas na área da Saúde, da Educação, do Transporte Público.

Hoje o mundo entende que o povo brasileiro não se contenta só com carnaval e futebol e que ser cidadão não é só torcer pela seleção brasileira, mas lutar pela melhoria dos serviços públicos no Brasil. O conceito de cidadão de chuteira foi substituído pelo cidadão vox e cidadão ludens, o cidadão que vocalize direitos e tem consciência de direitos. O grande negócio dos jogos, o milionário patrocínio das grandes empresas multinacionais, o espírito mercenário de nossos atletas e o próprio governo brasileiro foram obrigados a fazer uma reflexão sobre a mudança do patriotismo de nossos cidadãos.

Isso sem falar na alienação da soberania política do país em função da malfada lei da Copa, com todo o aparato de segurança na cidade à disposição das seleções estrangeiras, como se nós fôssemos uma colônia ou um protetorado de algum país estrangeiro. Se os governadores e a Presidente da República não se dão o devido respeito de autoridades públicas constituídas legitimamente pelo voto popular, o povo é quem deve lhes ensinar, nas ruas, o que é soberania, independência, direitos.

É de se esperar agora que ante a expectativa da opinião pública internacional e da ONU, nossos gestores aprendam quais são as prioridades da administração pública: cuidar do povo, através de políticas públicas estatais, permanentes e universais. Até a propaganda mais convincente cede diante do clamor das ruas. Até quinta-feira, Pernambuco!

(Publicado originalmente no Blog de Jamildo)