Por enquanto a discussão é paroquial, se limitando ao estado do Ceará, onde haveria negociações em curso envolvendo o PDT de Ciro Gomes e atores políticos de proa do bolsonarismo, a exemplo do deputado federal André Fernandes e do capitão Wagner. São dois bolsonaristas raízes que, durante os pleitos no estado, brigam pelo espólio político do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ciro Gomes tem uma rixa antiga com o PT no plano estadual e federal. Algo irreconciliável, o que o fez se aproximar, contingencialmente, de atores políticos que fazem oposição ao petismo no estado. Isso já ocorre desde as últimas eleições municipais. O ex-governador sofre um patrulhamento ideológico visceral, em razão de sua histórica vinculação ao campo de esquerda e progressista, tendo, inclusive, ocupado cargos em Brasília em governos petistas.
O Brasil perdeu a oportunidade de eleger o melhor presidente que nunca tivemos, outro pedetista histórico, Leonel de Moura Brizola. Há discordâncias sobre o ex-governador Ciro Gomes, mas, por outro lado, é inegável que se deixe de destacar sua passagem limpa como homem público e o seu preparo sobre o país. Seria um ator estratégico num pleito presidencial, uma vez que ainda detém os seus percentuais de votos, que gira em torno de 10 e 12% do eleitorado. Em princípio, a despeito das conversas, a possibilidade de uma candidatura é remota, uma vez que o ex-governador parece que perdeu a tesão pela disputa depois da última eleição presidencial.
Mas, sobretudo no dicionário da política, não existem as palavras nunca nem jamais, conforme ensinava o ex-governador Paulo Guerra. Se dependesse de Ciro, o PDT deixava de apoiar integralmente o Governo Lula 3. Ao que se sabe, no entanto, é que o Governo vem mantendo interlocuções no sentido de não permitir mais esta sangria, num contexto de uma base de apoio sensivelmente fragilizada.
P.S.: Contexto Político: Estamos diante de uma equação política não muito simples de resolução. Na realidade, em princípio, Ciro Gomes poderia voltar a candidatar-se ao Governo do Ceará, nas eleições de 2026. Poderia ser reeditada uma velha aliança política, muito bem-sucedida no passado, envolvendo um conjunto de forças políticas, do centro para a esquerda, capitaneada por Tasso Jereissati e o próprio Ciro Gomes, que desbancou do Governo do Estado velhas oligarquias ali encasteladas. Desta vez, Tasso Jereissati, do PSDB, que está realizando uma fusão com o Podemos, é quem está estimulando uma nova candidatura de Ciro, o que significa que ele pode deixar o PDT. O ajustamento dessas fusões ou federações a nível nacional, geralmente, produzem alguns ruídos nas quadras políticas estaduais. No Ceará não foi diferente. O Podemos está na base de apoio do governador Elmano de Freitas, do PT, enquanto o PSDB faz oposição. O comando da nova legenda no estado, no entanto, deve ficar mesmo com Tasso Jereissati. As sondagens sobre uma nova eventual candidatura de Ciro ao Governo do Ceará começaram a ser especuladas depois de uma palestra que ele proferiu na Assembleia Legislativa do Estado. A aproximação com personagens de proa do bolsonarismo no estado é algo até natural em tal conjuntura. Estão unidos por uma indisposição visceral com o Governo do PT no estado e no plano nacional.
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