pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 20 de março de 2015

Michel Zaidan Filho: Que país é esse? - ou o paradoxo chamado Brasil



                                                Passei esses últimos dois dias respondendo a perguntas (da imprensa) sobre as manifestações populares de domingo. Primeiro, o equívoco de compará-las  com as manifestações "fora-Collor", dos anos noventa, em que pela primeira vez se afastou legalmente um Presidente da República, por improbidade administrativa. Segundo, a desigual comparação entre a baixa popularidade da Presidente Dilma, nesse início de mandato, e a baixa popularidade de Collor, no fim do seu mandato. Terceiro, a magnitude do protesto que infirmaria a tese de que só a classe média e alta estariam contra a Presidenta. E finalmente, a ideia  do Impeachment e a volta da Ditadura Militar.
                                                0 nosso país é uma nação paradoxal. Se vivêssemos sob um regime ditatorial como seriam possíveis tais manifestações de rua, em todo o país, criticando o governo, pedindo seu afastamento e a quebra das instituições políticas vigentes? - Se há manifestações amplas, plurais, heterogêneas, que dizem com toda liberdade o que querem, certamente não estamos nem no Egito nem na Venezuela.  Estamos num país em que, malgrado todas as mazelas institucionais, as pessoas têm o direito de externar seus descontentamento e pedir em público o fim dessas liberdades. Outra coisa é saber a razão desses protestos. São eleitoreiros? golpistas? revanchistas ou inconformados com o resultado das eleições? - Ora, até a Presidente Dilma reconheceu erros na condução de sua política anticíclica e humildemente pediu um diálogo com a sociedade para encontrar saídas para a crise econômica e política que ora atravessamos no Brasil. 

Os protestos populares não são coisa da oposição ou de ressentidos. São alimentados por problemas reais que afetam a maioria do povo brasileiro, entre os quais a corrupção é apenas um deles. Basta ver os indicadores econômicos e seu impacto sobre o bolso dos trabalhadores, sem falar no custo do ajuste fiscal. Há motivos de sobra para o descontentamento popular, sobretudo quando se comparava a esta casta de privilegiados que compõe o Poder Judiciário e o Poder Legislativo. É natural que haja uma grande indignação popular com a irrelevância de um Parlamento caro e que legisla em causa própria. Fala-se em autonomia e liberdade para votar medidas e projetos de lei. Mas a verdade é o custo, o sobrepreço que esses parlamentares fixam para cumprir suas obrigações constitucionais: fazer as leis do país.
                                                 Como disse a Chefe do Poder Executivo a corrupção é "uma velha senhora". Não nasceu ontem e  nem vive exclusivamente entre nós. Como dizia a Hannah Arendt os parlamentos modernos tornaram-se mercados, onde se viabilizam interesses e objetivos que estão longe do republicanismo. E o principal modelo é a própria democracia norte-americana, apelidada por alguns de "oligarquia financeira". A diferença é que  nos outros países ela é combatida e punida exemplarmente. Entre nós parece que a tese de que o crime compensa, se o criminoso não for pego pela Justiça, é amplamente aceita. Sobretudo, os crimes de colarinho branco, praticados pela nossa elite política e econômica. É o caso de se prestar atenção na punição que receberão os que foram denunciados e sentenciados na operação Lava-Jato. Claro que o pacote anticorrupção vem em boa hora e a ideia de se promover uma ampla reforma política, também. Mas sem o nascimento de uma nova cultura política republicana e a punição exemplar dos criminosos de colarinho branco - seja santos ou pecadores - é muito difícil combater a corrupção em nosso país. Numa sociedade onde os jogos de azar, o enriquecimento fácil, a elisão fiscal, o contrabando, a lavagem de dinheiro parecem ser estimulados abertamente, não é razoável que o cidadão comum fique satisfeito em pagar - caro - um ajuste fiscal, que deve alimentar a especulação financeira. É uma revolta compreensível essa.
                                                   Outra coisa é ir à rua pedir um golpe de Estado ou o afastamento de uma Presidenta recém-eleita, sem base jurídica ou legal para isso. Aí trata-se de  um crime de lesa-democracia, liberticida, que deve ser combatido pelas instâncias legais e judiciárias. Fazer propaganda pública - em inglês - por uma intervenção militar no Brasil não é só uma irresponsabilidade grande é um crime contra as liberdades públicas em nosso país. Se as instituições judiciárias e policiais, bem como a imprensa - não estivessem fazendo o seu trabalho, sem interferência do governo ou de partidos, seriam o caso de denunciar junto a OEA, a ONU ou ao TPI, a falta de liberdade no Brasil. Mas não é o que está acontecendo. Toda essa manifestação de descontentamento tem sido alimentada pelas informações da Operação Lava-Jato  e da ampla cobertura dos meios de comunicação de massa. A democracia não é um torneio ou um campeonato de quem é contra ou a favor, é um regime de formação racional da opinião e vontade política da sociedade. E só se faz isso com o  mais amplo direito à informação.
                                                   Infelizmente, nem o Congresso nem o ambiente econômico têm ajudado nesse momento. E isso agrava a sensação de uma crise institucional no país. Diálogo, prudência e espírito público ajudariam muito a buscar saídas para essa crise. 

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.

Tijolaço: "Vovô Metralha" matava jovens a sangue-frio, sabiam, meninos revoltados?

19 de março de 2015 | 11:16 Autor: Fernando Brito
metralha
Meu bom companheiro Fernando Molica, colunista de O Dia, publicou ontem, em seu blog, um excelente artigo sobre o vídeo que havíamos mostrado aqui, feito pelos jornalistas da revista Trip na manifestação da Avenida Paulista de domingo.
Rerproduzo o artigo ao final, mas peço licença a Molica para trazer logo para o início a ficha do aparentemente inofensivo “Carlinhos Metralha” louvado pelos manifestante e digno até de uma esdrúxula continência por parte de um policial militar.
Carlos Alberto Augusto, vulgo ‘Carteira Preta’ e ‘Carlinhos Metralha’, o ex-delegado do Dops que discursou na manifestação, levou para a Avenida Paulista um cartaz em que dizia querer ser ouvido pela Comissão da Verdade. Pena que só diz isso agora, quando os trabalhos da comissão foram encerrados. O relatório diz que ele foi convocado a depor, mas não foi localizado. Na hora de prestar contas à história, ele tratou de não aparecer. Segue trecho do relatório sobre ele:
Carlos Alberto Augusto (1944-) Delegado de polícia. Serviu no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS/SP), sendo conhecido como “Carteira Preta” e “Carlinhos Metralha”. Integrou a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Teve participação em casos de detenção ilegal, tortura e execução. Convocado para prestar depoimento à CNV, não foi localizado. Vítimas relacionadas: Carlos Marighella (1969); Eduardo Collen Leite (1970); Antônio Pinheiro Salles e Devanir José de Carvalho (1971); Soledad Barrett Viedma, Pauline Reichstul, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva, Eudaldo Gomes, Evaldo Luiz Ferreira de Souza e Edgard de Aquino Duarte (1973).
A Pauline Reichstul, apontada no relatório como uma das vítimas do ‘Carlinhos Metralha’, era irmã de Henri Philippe Reichstul, presidente da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso.
Retomo: Carlinhos Metralha era um dos agentes do DOPS que “administrava” as delações do famigerado Cabo Anselmo. Pauline e outros cinco jovens foram executados não na “Paulista”, mas em Paulista, Pernambuco, no que ficou conhecido  como “A Chacina da Chácara São Bento”.
Pauline recebeu uma coronhada na cabeça. Os outros cinco, executados a tiros.
26 tiros, relata o jornalista pernambucano Luiz Felipe Campos, que escreveu um livro sobre o episódio: “14 na cabeça e muitos à queima-roupa. Ao cenário brutal, foram adicionadas armas ao redor dos corpos para sugerir um confronto entre guerrilheiros e militares que nunca houve. As fotos, difundindo a versão oficial de que um “congresso de terroristas” havia sido desbaratado, foi estampada nos jornais três dias depois”.
Já mortos, metralhados.
“Com muito prazer”, talvez, como disse no vídeo o “herói da Paulista”.

O ato, os golpistas e o torturador

Fernando Molica
O vídeo sobre a manifestação paulistana que foi preparado por equipe da revista ‘Trip’ é assustador demais. Não dá para achar razoável ou tolerável que organizadores de ato que diz defender a democracia aceitem a presença de entusiastas de um golpe militar e até liberem o microfone para um ex-torturador, o delegado aposentado Carlos Alberto Augusto. Admitir a participação desses sujeitos seria o mesmo que aceitar a presença de nazistas numa passeata contra a política externa de Israel. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
É razoável imaginar que organizadores da manifestação tomassem a iniciativa de expulsar do ato um grupo de petistas que fosse até lá para condenar a roubalheira na Petrobras e, ao mesmo tempo, defender Dilma Rousseff. Não seria absurdo que eles fossem convidados a se retirar de uma passeata que protesta contra o governo. A eventual presença deles poderia até ser vista como provocação.
O problema é que, pelo que vi e li sobre as manifestações de domingo, não houve qualquer tentativa de expulsão dos pregadores do golpe (o vídeo até mostra mulheres que se revoltaram com a histeria militarista, mas, pelo visto, não passou de um protesto isolado).
É simples, ato que inclui defensores da ditadura, torturadores (havia pelo menos um) e pessoas que não admitem a pluralidade (caso dos que revelam intolerância com comunistas e integrantes de outras correntes de esquerda) não pode ser chamado de democrático. Mais: quem defende a ditadura não tem o direito de dizer que é contra a corrupção. Afinal, na ditadura, casos de corrupção eram censurados ou não geravam qualquer consequência – como as mordomias no escalão federal reveladas pelo ‘Estadão’ e a negociata, publicada pela ‘Folha’, que envolveu o grupo Delfin e o Banco Nacional da Habitação (terrenos no valor de Cr$ 10 bilhões quitaram uma dívida de Cr$ 60 bi junto ao BNH). Quem defende a ditadura defende o direito de quem quer roubar sem ser punido.
Vale também ressaltar o absurdo que foi utilizar a belíssima ‘Canção do Expedicionário’ como trilha sonora da manifestação, isto representou uma ofensa aos pracinhas que foram combater ditaduras na Europa. Um combate que, aqui, acabou provocando a queda de um ditador. A ‘Canção’ (“Por mais terras que eu percorra/ Não permita Deus que eu morra/Sem que volte para lá”) é linda, deve ser o único canto de guerra que não fala em destruição, em morte, mas da vitória e da saudade da pátria amada:
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.
Por último, vale registrar: o Carlos Alberto Augusto, vulgo ‘Carteira Preta’ e ‘Carlinhos Metralha’, o ex-delegado do Dops que discursou na manifestação, levou para a Avenida Paulista um cartaz em que dizia querer ser ouvido pela Comissão da Verdade. Pena que só diz isso agora, quando os trabalhos da comissão foram encerrados. O relatório diz que ele foi convocado a depor, mas não foi localizado. Na hora de prestar contas à história, ele tratou de não aparecer. Segue trecho do relatório sobre ele:
Carlos Alberto Augusto (1944-) Delegado de polícia. Serviu no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS/SP), sendo conhecido como “Carteira Preta” e “Carlinhos Metralha”. Integrou a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Teve participação em casos de detenção ilegal, tortura e execução. Convocado para prestar depoimento à CNV, não foi localizado. Vítimas relacionadas: Carlos Marighella (1969); Eduardo Collen Leite (1970); Antônio Pinheiro Salles e Devanir José de Carvalho (1971); Soledad Barrett Viedma, Pauline Reichstul, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva, Eudaldo Gomes, Evaldo Luiz Ferreira de Souza e Edgard de Aquino Duarte (1973).
A Pauline Reichstul, apontada no relatório como uma das vítimas do ‘Carlinhos Metralha’, era irmã de Henri Philippe Reichstul, presidente da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso.

Tijolinho Real: Antonio Campos pode ser candidato à Prefeitura da Cidade de Olinda.

 


Hoje fomos surpreendidos com alguns outdoors afixados nas proximidades da cidade, onde o advogado e escritor Antônio Campos, irmão do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, saúda os olindenses pelo aniversário de 480 anos da Marim dos Caetés, completados recentemente. Não faz muito tempo, nas coxias, ouvi rumores de que ele poderia se candidatar à prefeitura daquela cidade. Nega, como seria óbvio, mas não descarta a missão de liderar um processo de captação de recursos para cidade, que enfrentasse os problemas de sua periferia, segundo ele, abandonada. Com este ato, se confirmado, estaria em jogo a continuidade do projeto político da família Campos. Olinda é um reduto eleitoral muito cobiçado por partidos e políticos. Lembro que, antes da reeleição de Renildo Calheiros​, o PCdoB, num encontro nacional, colocou a cidade como a prioridade das prioridades. Observa-se aqui, muito provavelmente, nessas movimentações, talvez uma articulação envolvendo PCdoB/PSB, algo que não seria improvável, dada as boas relações mantidas pelas duas legendas, tanto no Recife quanto em Olinda. Não há muita coisa a comentar, exceto, o desgaste evidente da atual gestão do prefeito Renildo Calheiro, o que ocorre em função, sobretudo, das demandas da população que não foram atendidas no curso desses 12 anos de gestão comunista da cidade.

Efeito Coxinhas: Ricardo Coutinho critica "ressaca eleitoral".


 
 

Quando éramos mais ativos no microblog Twitter, trocávamos muitas impressões sobre o cenário político com o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho. O "Mago", como é conhecido, nunca fugiu às discussões. Nessas últimas eleições, num debate com o senador Cássio Cunha Lima(PSDB) - candidato da oposição - com muita calma, listou para ele as obras do seus três anos de governo e pediu, depois de um longo suspiro, que Cássio fizesse o mesmo. Ele teria todo tempo do mundo. Não precisava apressar-se. Cássio, mas sobretudo a população do Estado, se deram conta de que não havia obras a serem listadas. O que se viu, em seguida, foi uma peça de pura retórica de embromação, um discurso que não convencia nem o seu autor. Há quem advogue - inclusive eu - que aquele debate foi decisivo nas eleições paraibanas do ano de 2014.Publicamos um longo artigo num jornal local tratando do assunto. Cássio perdeu as eleições ali. Nos últimos dias, em meio ao pandemônio em que se transformou a capital federal, o governador Ricardo Coutinho(PSB) fez um pronunciamento corajoso em defesa da presidente Dilma Rousseff. Através de sua página, informou que já era hora da oposição curar-se dessa "ressaca eleitoral" que parece não ter fim. A ressaca, aqui, pode ser traduzida como uma não aceitação às regras do jogo democrático. Dilma foi eleita pela vontade das urnas, não recaem sobre ela qualquer responsabilidade em relação às irregularidades com verbas públicas realizadas na estatal Petrobras. Trata-se de uma gestora de mãos limpas. Constitui-se um ato de insanidade um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Essa é a razão pela qual Teori sequer leu as bobagens protocoladas pelo PPS, no sentido de que ela fosse investigada. O momento agora, segundo Ricardo, é o de utilizar os expedientes já previstos no Estado Democrático de Direito para punir os infratores consoantes seus mal-feitos e deixar a presidente trabalhar. Esse slogan já foi utilizado pelo "Mago", penso que quando governou a cidade de João Pessoa. Apesar de ser uma manifestação organizada pelos seus opositores, o Planalto não pode ignorar o recado das ruas. Talvez precisássemos construir aqui uma espécie de pacto de governança, se houvessem lideranças políticas capazes de articulá-lo. Um novo pacote anticorrupção não vai resolver nada. O problema real não é este. 

O PT deveria ser mais Cid Gomes

Diante dos achacadores, é hora de o partido repensar seu papel na sociedade
por Mauricio Moraes publicado 19/03/2015 11:34, última modificação 19/03/2015 13:20
Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Cid Gomes e Eduardo Cunha
Cid Gomes e Eduardo Cunha: o embate terminou em vitória do presidente da Câmara
 
Eis que Cid Gomes, nosso agora ex-ministro da Educação, está aí para provar que a política no Brasil pode até matar de raiva, nunca de tédio. Reafirmando a tradição língua-solta familiar, Cid disse e redisse mera verdade: há de 300 a 400 achacadores no Congresso. E eles são rápidos. Minutos após a declaração bombástica, Cid teve a cabeça pedida pelo PMDB. E caiu. Desta vez, os achacadores venceram.
O fato de a demissão de Cid ter sido anunciada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), achacador-mór do País, é reveladora do atual estado de coisas. De repente, a grande política cedeu o protagonismo aos coadjuvantes.
PT e PSDB, que conduziram o debate político nas últimas décadas, vivem hoje na retaguarda do PMDB. O governo Dilma Rousseff se tornou refém da tropa de Eduardo Cunha. Já os tucanos perderam o juízo ao embarcar na onda golpista capitaneada pelo baixo clero. É a vez dos achacadores (que estão espalhados por toda a base, PP, PR e PQualquerCoisaQueCaibaNaCoalizão).
Eles sempre existiram. Mas desde a redemocratização parecem ter encontrado um clube perfeito que responde pelo nome de Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Claro que há gente boa no PMDB (raríssimos, como Pedro Simon), mas a agremiação ilustra como o sistema político brasileiro é disfuncional e esquizofrênico (e como, mais que nunca, precisamos de uma reforma política abrangente, com financiamento público e menos achaques).
Não sei se alguém se viu na tarefa de explicar a um estrangeiro como um partido supostamente aliado, como o PMDB, se tornou um dos maiores entraves ao governo no Congresso. Difícil de entender esse tal presidencialismo de coalizão, agora em piripaque. A atual crise, no entanto, longe de apenas espalhar confusão, traz certa luz à política brasileira, mostrando quem é quem nessa história.
Cid cometeu sincericídio (e há quem diga que ele tivesse suas razões particulares para falar o que falou). Não era de se esperar que Dilma o segurasse. Dirigindo-se aos “oportunistas” que integram a base mas só fazem atravancar a administração, foi sincero e direto: “Larguem o osso ou saiam do governo”.
Mas eles não largarão o osso tão cedo. Ou alguém acha que Cunha e cia iriam jogar a toalha justamente quando é mais fácil (e lucrativo) achacar o governo – ou seja, em momento de crise?
Por isso não acho que a tese do impeachment prospere do jeito que se propagandeia. Primeiro porque o grande capital (por mais que odeie Dilma) não irá jogar o Brasil no buraco negro da instabilidade econômica, correndo o risco de ver o risco-país disparar e a economia se esfarelar em ritmo supreendente. Segundo, é muito mais lucrativo achacar o governo de plantão do que liderar a administração e ficar sob os holofotes. Por que será que o PMDB nunca tem candidato próprio?
Como já disse o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (que a seu favor só tem o fato de ser opositor assumido), a questão não é tirar Dilma do Planalto – o objetivo é sangrar o governo e o PT (deixando o caminho mais fácil para os achacadores).
Na narrativa hegemônica, oposição e inconformados estão contra a corrupção na Petrobras e no resto do País. Gente como Agripino Maia (DEM), que desfilou sorridente no 15 de março pedindo lisura nas contas públicas quando ele mesmo é acusado de cobrar mais de 1 milhão de reais em propinas no Rio Grande do Norte. Ou como o primo de Beto Richa (PSDB), preso acusado de fraudar licitações dois dias depois de berrar Fora Dilma. (É claro que a manifestação foi legítima, mas não apontar suas flagrantes contradições é pedir demais).
É inegável que a corrupção está nas mais diversas esferas, inclusive no meu Partido dos Trabalhadores. Falta honestidade e decência à grande mídia, mas achar que escândalos como o atual são apenas produto de conspirações da imprensa tem em si um pouco de inocência.
O PT precisa seriamente se repensar como partido e no que pode oferecer à sociedade em termos programáticos (porque é ainda o mais bem sucedido experimento democrático deste país). Talvez o PT e Dilma tenham de ser mais Cid Gomes – cobrar lealdade dos aliados e retomar a pauta política. No decorrer dos últimos 13 anos cedemos à tal governabilidade e demos as mãos a alguns achacadores (Cândido Vaccarezza e sua reforma política vendida que o digam).
Longe de sentir qualquer palpitação no peito, confesso que tive certo entusiasmo (sonhático e inconsequente, admito) com a bravata do PMDB de que deixaria o governo se o ministro da Educação não caísse. Por um momento pensei em como Dilma seria mais feliz não tendo de aturar Eduardo Cunha como suposto aliado. E como o País seria tão melhor não tivesse tantos achacadores na coalizão de governo.
Foi um devaneio, eu sei. A vida em Brasília é dura e não se governa sem maioria (leia-se, não se governa sem o PMDB). O episódio kamikase de Cid Gomes, no entanto, é uma oportunidade para se mexer nas peças do governo e para reafirmar a necessidade da reforma política. De resto, é dedo cruzado, jogo articulado e resistência. E boa sorte em 2015.

(Publicado originalmente no site da Revista Carta Capital)

quinta-feira, 19 de março de 2015

Efeito coxinhas: A queda para o alto de Cid Gomes, ex-ministro da Educação.




Ainda repercute, em todo o Brasil, a fala do hoje ex-ministro da Educação do Governo Dilma Rousseff, o cearense Cid Gomes, no dia de ontem, no plenário da Câmara dos Deputados. O Planalto ainda tentou evitar sua fala, mas o presidente da Casa, Eduardo Cunha, insistiu. Parecia desejar que ele se retratasse diante dos seus comandados. Seria uma forma de humilhá-lo. Cid não baixou a crista, foi altivo e disse um monte de verdades, antes de ter o microfone cortado. Cid sai maior do que entrou no Governo. Na realidade, em razão de não admitir retratar-se, ele chegou ao plenário já na condição de ex-ministro da Educação. Volto a insistir, não havia uma grande expectativa em torno de sua gestão naquele ministério, embora, em, resposta ao repórter Fernando Castilho, do JC, um comentarista tenha elencado alguns fatos curiosos - e bem-sucedidos - de "cases" de educação em Sobral, reduto político da família Ferreira Gomes. Sua indicação foi resultado de alguns arranjos políticos contingenciados pelas dificuldades de Dilma neste início de mandato. Comenta-se pelas coxias que Cid até teria recusado o cargo, mas Dilma insistiu. Ouso até inferir que, neste contexto, o PT já não observava a área de educação como estratégica, haja visto os problemas que se avolumavam naquela pasta. Aliás, não apenas naquela pasta.  

Eita início de Governo complicado: Economia moribunda; travamento político; um escândalo de proporções gigantescas - onde já começam a surgir os indícios de generalização para outras empresas estatais; uma oposição que não consegue curar-se da "ressaca eleitoral" - ainda não aceitaram os resultados das eleições; os coxinhas nas ruas;uma presidente fragilizada, refém de seus achacadores. Não nutro grandes simpatias pelos Ferreira Gomes, mas, neste caso, não há como deixar de reconhecer os méritos de Cid. A princípio, pode-se pensar que ele cometeu uma espécie de sincericídio. Mas não é verdade. Seu propósito, na realidade, foi atingido. A estratégia em jogo é a de uma projeção política, quem sabe, até mesmo no plano nacional, depois de passar pela Prefeitura de Fortaleza. A presidente e o PT devem muito aos Ferreira Gomes. Os arranjos políticos celebrados pelo PT naquela arena política foram importantes para a vitória de Dilma Rousseff nas últimas eleições, além de viabilizar a eleição de um governador do partido, Camilo Santana, ex-secretário de de Governo de Cid. Durante todo o tempo em que esteve no plenário, Cid mantinha sob seus cuidados, uma pasta com uma indicação do nome de Eduardo Cunha. O que teria aquela pasta? Um dossiê sobre os envolvimentos do deputado em possíveis casos de corrupção? Há quem informe que Mercadante deve assumir o cargo. Ele é ex-ministro da pasta e hoje atua na Casa Civil. Apesar do prestígio ainda alto no Planalto, se Dilma finalmente resolver ouvir Lula, ele volta para a Av. Paulista para complicar ainda mais a vida de Marta Suplicy. 

Cid Gomes: "Prefiro ser chamado de mal educado que de achacador"

publicado em 18 de março de 2015 às 18:32
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O ministro da Educação, Cid Gomes (à dir.), durante sessão em que foi convocado na Câmara
18/03/2015 – 19h34
Cid Gomes pede demissão após falar sobre deputados “achacadores” na Câmara
O presidente da Casa, Eduardo Cunha, anunciou que vai processar o ex-ministro por declarações ditas nesta quarta-feira no Plenário.
Após pedir para deputados “oportunistas” da base do governo “largarem o osso” e atacar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em comissão geral, Cid Gomes pediu demissão do Ministério da Educação nesta quarta-feira (18). A presidente Dilma Rousseff aceitou o pedido.
O então ministro foi convocado pelos deputados para esclarecer declaração dada por ele na Universidade Federal do Pará no mês passado de que haveria “uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior [o governo], melhor”. Segundo Gomes, tais “achacadores” se aproveitariam da fragilidade do governo para benefício próprio.
Durante sua fala no Plenário da Câmara hoje, o agora ex-ministro afirmou que os parlamentares da base aliada que não votam de acordo com a orientação do Planalto devem “largar o osso” e ir para a oposição. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição.
Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo”, declarou.
Gomes ressaltou que o governo “teoricamente” deveria ter maioria na Câmara pela quantidade de deputados que compõem as bancadas da base aliada e têm suas legendas no comando de ministérios.
Processos
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, informou que vai processar o ex-ministro por declarações feitas durante a sua convocação. Em determinado momento da comissão geral, Gomes apontou para o presidente e disse: “Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser como ele, acusado de achaque, que é o que diz a manchete da Folha de S.Paulo”.
Cunha anunciou a disposição de entrar com uma ação individual contra o ex-ministro. “Não vou admitir que um representante do Executivo agrida parlamentares e reafirme agressões, inclusive chegando ao ponto de querer dominar [a sessão]”, comentou.
O procurador da Câmara, deputado Claudio Cajado (DEM-BA), por sua vez, prometeu entrar com um processo extrajudicial e dois judiciais contra Gomes por prevaricação e ato deimprobidade administrativa. Cajado quer que o ex-ministro reconheça a autoria da fala em que se refere a deputados como “300 ou 400 achacadores”, indique quem seriam tais parlamentares e quais os malfeitos imputados a eles.
Cajado minimizou a defesa de Gomes, que disse hoje que as declarações sobre “achacadores” refletem a sua opinião pessoal, não sua posição como autoridade. “O senhor foi ao Pará como ministro, participar de um ato oficial, usando avião da FAB [Força Aérea Brasileira]. Não pode se furtar de ter dito [o comentário contra o Congresso] investido na função de ministro”, criticou Cajado.
Saída

Vários parlamentares criticaram as declarações de Gomes e cobraram sua saída do ministério. O líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), foi um deles: “O ministro desrespeitou o Parlamento de forma pueril, porque aponta o dedo, faz acusações e não dá nomes”.
“Só há duas opções: ou o ministro se demite do cargo, ou a presidente Dilma o demite. Ou, então, os 400 deputados da base assumem que são achacadores e, aí, o ministro fica no cargo”, comentou o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), autor do requerimento para convocar Gomes.
O líder da Minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), cobrou uma posição de Dilma Rousseff sobre a base aliada após as críticas do ex-ministro aos “oportunistas”. “Com a palavra, a partir de agora, a presidente da República sobre o que pensa da sua relação com a base e com o Parlamento brasileiro”, declarou.
A sessão foi encerrada após Cid Gomes ter se retirado do Plenário. Ele tomou essa decisão depois de ser chamado de “palhaço” pelo deputado Sergio Zveiter (PSD-RJ) e ter o microfone cortado por Eduardo Cunha.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

quarta-feira, 18 de março de 2015

Efeito coxinha: os achacadores pedem a cabeça de Cid Gomes. Dilma entrega.


Não havia uma grande expectativa sobre como seria a gestão de Cid Gomes no Ministério da Educação. Reunia todos os ingredientes de uma gestão burocráticas, sem muitas novidades no horizonte. A composição dos primeiros nomes de sua equipe, aliás, indicava o fortalecimento dos reformadores empresarias da educação, conforme alertamos em artigo. Uma tendência que preocupava os setores mais progressistas da educação. O grande problema, porém, é que o PT, com este gesto, passava o recibo de que a educação, infelizmente, deixava de ser uma área estratégica do seu Governo. Numa outra vertente, quiçá observando o vácuo de articuladores políticos do Governo Dilma, Cid parece ter se estimulado a entrar nesse meio de campo. Não existe vácuo de poder, já nos ensinavam os grandes estudiosos do assunto. Cid bateu pesado no pessoa da Câmara dos Deputados. Afirmou que ali existiam, pelo menos, uns 300 achacadores. Os Ferreiras Gomes, definitivamente, não tem papas na língua. São muito sinceros e a sinceridade desmedida, não raro, traz sérios problemas. Convocado a se explicar, reafirmou sua convicção sobre os ilustres parlamentares, estes mesmos que pediram sua cabeça à presidente Dilma Rousseff. As coisas estão feias lá por Brasilia. Foi o próprio presidente da Casa, Eduardo Cunha, quem anunciou a saída do ministro da Educação. Se estivéssemos num regime parlamentarista, ele seria o nosso primeiro-ministro. A questão é que não estamos. Quem demite ministro é a presidente da República. Ou será que não?
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Efeito coxinhas: Convocações das manifestações do dia 15 animaram o Clube Militar

Para alguns analistas, nossa democracia nunca esteve consolidada. Nos últimos anos observamos alguns avanços importantes, mas, a julgar pelo que ocorreu no último dia 15, é certo que muita gente ainda não fez a lição de História. Num ato insano, havia até mesmo alguns cartazes pedindo uma intervenção constitucional das forças armadas. Imaginem. O pesquisador José Álvaro Moisés costumava discutir os conceitos de democracia política e democracia econômica. Há um hiato evidente entre ambas e, para alguns analistas, reside ai um dos fatores de nossas fragilidades. Sempre se fala que o problema maior de nossa sociedade são as dificuldades de construir um país com maior justiça social. Até concordamos com essa tese, mas feitas as contas, observando o nosso sistema político corroído, vejo mesmo é que muita coisa ainda precisa ser feita em termos de aperfeiçoamento de nossas instituições da democracia. A democracia política, portanto, será fundamental para assegurar os avanços redistributivos e estruturadores no campo econômico, diminuindo o abismo que ainda separa o andar de cima do andar de baixo. Vamos avançar, sim, se mantivermos o aparato legal intacto, garantirmos o Estado Democrático de Direito. Qualquer coisa fora disso mergulhará o pais nas trevas de um profundo retrocesso, capaz de tolher as mais essenciais liberdades individuais. O que precisamos é de um país onde os militares deixem de se assanhar e entendam a necessidade de se subordinarem ao poder civil, respeitando a Constituição. Já ia esquecendo. E também de coxinhas mais consequentes.
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Efeito Coxinhas: Teori rejeita pedido de investigação de Dilma Rousseff


A partir dessa postagem, estaremos publicando no blog uma série de comentários acerca do que estamos chamando de "efeito coxinhas", ou seja, uma análise das repercussões - no Governo e na Oposição - das manifestações do último dia 15, que reuniu dois milhões de pessoas em todo o país, pedindo, entre outras coisas, o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Dilma Rousseff, de fato, enfrenta um problema de turbulência no início do seu segundo mandato. A economia não vai bem; a política está paralisada; o escândalo de corrupção na Petrobras se avoluma e complica-se a cada dia. Por outro lado, não há como envolver Dilma nessas falcatruas. Hoje, pela manhã, lembrei a um cidadão que se apresentou como Pedro, em comentário a um artigo nosso publicado no Blog de Jamildo Melo, que Dilma, de fato, tem as mãos limpas. Ainda na condição de ministra de Lula, já comprava brigas feias no Governo em torno dos famigerados "aditivos" que, além de representar um mecanismo de desvios de verbas públicas, atrasavam investimentos públicos fundamentais para a população. Até mesmo obras como a transposição das águas do Rio São Francisco foram atingidas por esse expediente. Esse parece ser o mesmo raciocínio da turma do STF, que não deram a mínima por um pedido de investigação da presidente protocolado pelo PPS, através do Deputado Raul Jungmann. O açodamento foi tão grande que esqueceram de assinar a petição. Mas, se assinassem, a postura de Teori não seria outra. Há uma turma ensandecida pedindo a cabeça da presidente, mas não há argumento para isso. Durante as manifestações do último dia 15, havia muitas faixas pedindo a volta dos militares, numa clara demonstração de desrespeito ao Estado Democrático de Direito. Eu não sei se chamo isso de burrice ou falta de responsabilidade, uma vez os padrões de conscientização política observados eram extremamente precários. Penso tratar-se de pessoas que não dimensionam corretamente o que isso representou para o país. O que precisamos e lutar diuturnamente para fortalecer nossas instituições democráticas, deixando um legado de consolidação democrática para os nossos filhos. Deveríamos, isso sim, ampliar as conquistas sociais obtidas nos últimos anos, permitindo a diminuição do hiato politico entre democracia política e econômica. Fotos tiradas das manifestações na Bahia, por exemplo, parece mostrar um país de 500 anos atrás, evidenciando a necessidade de ampliar as pontes entre o andar de cima e o andar de baixo. Enquanto os coxinhas brancos ( e amarelos) desfilavam tranquilamente, os negros observavam nas arquibancadas.

Efeito Coxinhas: Vaccari e Cid Gomes podem cair


Recentemente, o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, prestou um longo depoimento na Câmara dos Deputados, precisamente numa comissão criada para investigar as denúncias de desvios de recursos públicos na estatal. Instigado pelos deputados de oposição, em certo momento de sua fala, insinuou que havia repassado recursos oriundo de propinas de empreiteiras para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Um outro delator, Paulo Roberto Costa, antes, já havia descido aos detalhes do enredo, inclusive informando o nome do hotel onde o tesoureiro encontrava-se com os operadores do esquema. À época, Vaccari não negou os encontros, mas disse que eram encontros sociais. Não vejo muita razão para acreditar que Barusco esteja mentindo. Até recentemente, foram repatriados de suas contas no exterior, aproximadamente algo em torno de R$ 160 milhões de reais. Barusco fala de R$ 300 milhões como quem estivesse fazendo as continhas das despesas com o churrasco no final de semana. Pouco provável que esteja mentindo. Passaria em qualquer detector de mentiras. O PT, naturalmente, esperneou e ameaçou processar Barusco. Hoje, no entanto, diante do pandemônio em que está se transformando o caldeirão politico de Brasília, seus dirigentes já recomendam o afastamento dele do cargo, torcendo que vá para bem longe. De preferência numa cidadezinha do interior mineiro, longe dos holofotes. Cid Gomes, o Ministro da Educação, é outro que passou a ser ameaçado pela guilhotina do Planalto. Sua indicação sempre levantou muitas controvérsias, mas, nos bastidores sabe-se que atendia às conveniências políticas para tentar salvar o segundo mandato de Dilma. Um lance de pragmatismo e nada mais. Em certos aspectos, confesso que o Cid até tem nos surpreendido. Na defesa intransigente do Governo Dilma, por exemplo. Parece assumir a condição de um homem da Casa Civil ou da Articulação Política. Mas, dadas as contingências, parece que falou demais. Ao se referir aos parlamentares informou que a Câmara dos Deputados teria, pelo menos, uns 300 achacadores. A turma não gostou, ameaçou processá-lo, e o PT parece disposto a pedir sua cabeça a presidente Dilma Rousseff. Nas coxias, comenta-se que até Lula teria entrado no circuito. Seria uma forma de fazer uma concessão - mais uma - aos seus algozes. Estamos vivendo, de fato, um ambiente político muito turno. Agora talvez fique mais simples entender porque o economista Marcelo Neri foi afastado da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Estratégico para o PT, hoje, seria salvar o pescoço. É tempo de murici, moçada.
Nota do editor: Depois de mais um depoimento tumultuado na Câmara Federal, o ex-governador do Ceará, Cid Gomes, foi demitido do cargo. Os achacadores pediram sua cabeça, sob a chantagem de abandonarem a base aliada do Governo Dilma Rousseff. Dilma entregou. Cid caiu em pé, de cabeça erguida, reafirmando sua posição sobre a dinâmica de funcionamento daquela Casa e de seus representantes. Cometeu sincericídio.

A Casa-Grande vai às ruas. O que eles querem? O de sempre.


A Casa-Grande vai às ruas. O que eles querem? O de sempre.

PUBLICADO EM 17/03/2015 ÀS 14:45 POR  EM NOTÍCIAS

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Por José Luiz Gomes
(Cientista Político)
Independentemente das controvérsias sobre o número real de participantes dos protestos contra o Governo Dilma, no dia de ontem, na Av. Paulista – principal reduto dos tucanos – o fato é que, para o bem ou para o mal, não se pode negligenciar o recado das urnas. Os protestos ocorreram praticamente em todo o país, principalmente nas grandes capitais, com um número expressivo de participantes. Aqui, pelas redes sociais, observo que alguns internautas estão tentando desqualificar as manifestações a partir de alguns fatos curiosos – como uma pauta difusa; carregada de preconceitos; algumas reivindicações bem particulares; outras ilegais, posto que fere a Constituição Federal- como o pedido de intervenção militar -; aparições mais ousadas, como aquela mulher que ficou nua ou a outra que mostrou os seios. Até o educador pernambucano, Paulo Freire, entrou nessa história. Um cartaz pedia seu impeachment do currículo de ensino básico, além da prisão de um certo Karl Marx de Garanhuns, uma cidade maravilhosa do Agreste pernambucano.
De fato, ocorreram algumas situações hilárias e folclóricas. Mas, como já advertíamos em postagens anteriores, o Planalto precisa ficar bastante atento às manifestações de ruas, seja contra ou a favor. Mesmo com todo o apoio da mídia golpista, não se pode desprezar uma manifestação desse porte. A cobertura da Rede Globo de Televisão ao evento foi de um esmero “impecável”, como já se imaginava que fosse. O canal aberto fez chamadas sistemáticas logo cedinho e o canal fechado, Globo News, dedicou horas de cobertura ao evento, transmitindo-o quase que simultaneamente. Quase que a totalidade do tempo do Programa Fantástico foi dedicado ao tema.
À noite, tratei de observar o termômetro das ruas e a estimativa de um milhão de pessoas na Av. Paulista já havia se consolidado no imaginário coletivo. Para o militante petista e apoiadores de Dilma essa desqualificação pode até servir para massagear o seu ego. Para o Governo Dilma, a encrenca é bem mais acentuada, exigindo-se uma ampla negociação política para “tocar” ou salvar o seu mandato, além dos cuidados com a retaguarda de comunicação, como sugere Miguel do Rosário, no seu Tijolaço. O Governo, no seu entendimento, apanha feio e oferece a outra face, além de estar cometendo erros sucessivos de avaliação.
O desgaste é inegável. Como afirmou o cientista político Michel Zaidan Filho, tudo que de ruim poderia acontecer está ocorrendo neste início de mandato. Dilma está acuada pela oposição e isolada dentro de sua própria base de apoio, diante de um verdadeiro travamento político. Sua articulação política é tão frágil que a presidente anda às turras com o PMDB e setores do PT. Outro dia, em depoimento à CPI da Petrobras, Eduardo Cunha arrancou aplausos de petistas. Consultado, seu padrinho político, o Lula, fez algumas recomendações, mas penso que ela as ignorou. Há quem informe que a personalidade de Dilma Rousseff passou a constituir-se num problema grave na atual conjuntura política. Além de não avançarmos na regulação econômica da mídia, o Governo Federal injeta milhões de recursos em mídias que o massacra diuturnamente, a exemplo do que ocorreu no dia de ontem, onde a emissora do plim plim, paralelo às imagens dos manifestantes, tecia análises política as mais tendenciosas possíveis sobre o seu Governo. Isso sem que a população tivesse acesso ao contraditório através dos canais oficiais do Governo na blogosfera ou nas redes sociais.
Voltando à arena da articulação política, ela nunca foi muito feliz por aqui. Além de não gostar desse meio de campo, da micropolítica, também não foi feliz na escolha dos seus assessores. A “trinca” que hoje responde pela área não tem se saído melhor do que os seus anteriores. O resumo da ópera não é dos melhores. Um Governo que perdeu a guerra de comunicação; desarticulado politicamente; com uma economia que não vai bem das pernas; com gente do partido envolto num escândalo de dimensões gigantescas. Pouco provável que o ex-gerente da estatal, Pedro Barusco, estivesse mentido ao afirmar que repassou algo em torno de R$ 300 milhões ao tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Dilma tem as mãos limpas. Nunca compactuou com esses malfeitos. Juridicamente, não há razão nenhum para um pedido de impeachment. Estamos aqui, então, diante de um grande impasse. Como resolver, então, essa crise política? Só esperamos que, comprovada alguma irregularidade, depois de cumpridas todas as tramitações jurídicas necessárias, Vaccari não se transforme num novo Delúbio.
E aí temos que entrar no grande pleito dos manifestantes do dia 15: eles querem a cabeça da presidente Dilma Rousseff. Essa história de corrupção é apenas o pano de fundo que, pelo nível de alguns manifestantes, passa a ser cueca mesmo. Está aqui um fenômeno muito bem-sucedido de fomentação de ódio. Ódio contra um partido. Ódio contra uma presidenta da República. Ódio que se dissemina como um câncer em estado de metástase. Nem mesmo o acirramento de ânimos da campanha de 2014 externaram a dimensão do problema, mas o ovo da serpente já estava aquecido. Para setores poderosos, Aécio Neves, o candidato do PSDB, ter perdido aquelas eleições deve ter provocado uma grande frustração em segmentos da elite e da classe média. Essa classe média, definitivamente, como afirmou o chargista Renato Aroeira, não gosta de Dilma. Desde então, eles não permitem que Dilma governe. A presidente já fez várias concessões a esses grupos, mas, nem assim, eles parecem estar satisfeitos. Não aceitam as regras do jogo democrático. Desejam derrubá-la. Querem sua degola e estão ensandecidos, assim como piranhas na carne fresca e urubus na carniça.
Embora não se aplique, no caso, um pedido de impeachment, muito menos uma intervenção militar, se faz necessário que o Planalto encontre uma saída política para enfrentá-los. Talvez precisássemos aqui de um grande negociador, alguém com bom trânsito, um bombeiro para apagar esse incêndio. Não temos. Outra alternativa, como sugeriu Renato Aroeira, seria uma saída pela esquerda como último recurso. Mas, mesmo aqui, Dilma deve uma boa explicação para ter mexido em direitos trabalhistas, ter adotado um receituário neoliberal de ajuste fiscal; ter convidado um assessor do adversário para assumir a pasta da Fazenda. Já dizia um estudioso do assunto que um dos grandes problemas deste país são as conciliações. Tudo parece ser resolvido com uns tapinhas nas costas ou são eternamente protelado. A rigor, se o Planalto tivesse dado ouvido às reivindicações das “Jornadas de Junho”, possivelmente, no mínimo, já teríamos um arcabouço institucional melhor preparado para enfrentar esses solavancos.
Quando a rapaziada vai às ruas, o Governo se arvora em afirmar que adotará as medidas para atender ao pleito dos manifestantes. Foi assim em Junho de 2013. Está sendo assim em 2015. Nenhuma mudança significativa na agenda de políticas públicas. Pelo contrário, até cortes foram anunciados no MEC, até então um ministério estratégico para o PT. Nenhuma avanço na reforma política que pudesse permitir ao presidente ser menos refém das chantagens do Legislativo; nenhum avanço na regulação econômica da mídia – que combatesse os oligopólios – promotores de um massacre diário da presidente. Assim não dá, doutora. Estamos aqui pra emprestar-lhe total e irrestrito apoio e solidariedade, mas é necessário que se tenha a dimensão correta do problema.
Naturalmente, não se pode comparar essas duas manifestações. Há uma distância enorme entre ambas. As Jornadas de Junho foram de caráter cívico, legalistas, rigorosamente preocupadas com o rumos do país, propondo uma nova agenda de governança. Essas últimas podem ser traduzidas muito mais como arroubos de uma classe média e de uma elite insatisfeitas com as concessões ao andar de baixo. Perdeu-se ali, durante as Jornadas de Junho, uma grande oportunidade de se passar este país a limpo; de construir pontes entre os diversos segmentos sociais; de atender aos pleitos dos movimentos sociais; de montar um arcabouço de engenharia política capaz de resistir a essas intempéries. Esses urubus voando de costa, em nome de uma ressaca eleitoral, estão tentando parar o governo, atentar contra o Estado Democrático de Direito. Muito grave isso.
(Publicado ontem, dia 17, no blog de Jamildo, do Jornal do Commércio)

terça-feira, 17 de março de 2015

Tijolinho Real: Quem, afinal, é este Karl Marx de Garanhuns.



 


Garanhuns é uma cidade muito gostosa do Agreste Pernambucano. De clima agradabilíssimo, num passado recente era o principal reduto da burguesa recifense nas suas férias de inverno. Sobretudo por questões de logística, esse posto hoje é ocupado por uma outra cidade do Agreste - bem mais próxima do Recife - Gravatá. Tenho ótimas lembranças do local, principalmente do Hotel Fazenda Alvorada, para mim, com raízes fincadas no campo, um verdadeiro paraíso na terra. Tenho grandes amigos daquela cidade - alguns deles virtuais - outros de carne e osso mesmo, a exemplo de Rafael Souto Maior - com quem fiz o mestrado na UFPE - Marlon César Pessoa Neves, com quem trabalhei junto no Governo do Estado - e o maior deles, o professor Michel Zaidan Filho, um amigo de todas as horas e lugares. Michel é natural de Garanhuns. 

Aconteceram algumas situações graves e outras engraçadas nessa manifestação do último dia 15 de março. As graves já comentamos em outras postagens. Entre as hilárias, um cidadão que ostentava um cartaz pedindo a prisão de um certo Karl Marx de Garanhuns. Confesso que fiquei curioso para conhecer esse tal Karl Marx. Na cidade, entre esses nossos amigos virtuais, que prefiro não citar o nome, existe um cidadão radical, que possui um jornalzinho de circulação restrita à cidade. Se veste como guerrilheiro e usa uma boina com as cores da bandeira de Cuba. É, certamente, o suspeito mais provável. Peço encarecidamente, aos amigos da cidade, que nos ajudem a descobrir a verdadeira identidade deste cidadão. 

Nota do editor: Agora caiu a ficha. Um pouco tarde, é verdade. O tal Karl Marx a que o cidadão faz alusão é o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que nasceu na cidade. Na realidade, Lula nasceu no então distrito de Caetés, hoje transformado em cidade. Mesmo assim, a comparação é equivocada, uma vez que Lula nunca foi comunista. Penso que, sequer, possui alguma familiaridade com a obra do filósofo alemão.  

Tijolinho Real: Cassaram Paulo Freire... de novo!


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Na década de 60, um pernambucano do país de Casa Amarela, ligado ao SESC, começava uma trajetória no campo da educação que o tornaria famoso no mundo todo. Como diretor do Departamento de Extensão da Universidade do Recife e através da experiência com o Movimento de Cultura Popular - criado na época em que o Dr. Arraes era prefeito do Recife - desenvolveu um método de alfabetização de adulto revolucionário. Posto em prática, experimentalmente, na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 45 dias, foram alfabetizados 300 camponeses, o que levou o Governo do então presidente João Goulart a pensar em ampliar a experiência para todo o país, com um projeto de alfabetizar 2 milhões de pessoas.

Infelizmente, com a deposição de Jango, o projeto foi abortado e Paulo Freire foi exilado no Chile, onde continuou aperfeiçoando e aplicando o seu método no Governo socialista de Salvador Allende. Nunca mais parou de refletir e produzir sobre o tema educação. Paulo possui inúmeros livros publicados. É hoje o pensador brasileiro mais lido e aplicado na Europa e nos Estados Unidos. A Biblioteca de Stanford, segundo Marcelo Rubens Paiva, dedica um andar apenas para os seus livros. Ainda no segundo Governo Arraes, visitou a Usina Catende, onde centenas de camponeses também foram alfabetizados com o seu método. Paulo ministrou a aula inaugural e tivemos a oportunidade de questioná-lo sobre algo que nunca havia entendido muito bem. Ele não gostava do livro de Educação de Adultos, concebido por duas companheiras do MCP, que, no nosso entendimento, atendia a todas as etapas do seu método. Isso nos facultou uma farta ( e fértil) troca de impressões com Carlos Alberto Torres, um dos maiores especialistas no assunto.  

O último cargo público que ocupou foi o de Secretário de Educação de São Paulo, no Governo de Luiza Erundina, até então filiada ao PT. Nas manifestações do dia de ontem, 15, numa demonstração do caráter reacionário da mesma, havia um cartaz que pedia pela sua exclusão do currículo de ensino da educação básica. Pelas redes sociais, o professor Fernando Magalhães, teve o cuidado de reproduzir um discurso de Jango sobre as reformas de base e o quanto a elite brasileira se opunha a essas reformas. 1964 e 2015 estão mais próximo do que se imagina.