pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 24 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Maria Alice, mais um caso de violência contra a mulher em Pernambuco.

Maria Alice, mais um caso de violência contra a mulher em PE
Havia ainda alguma esperança de uma notícia que informasse que a jovem Maria Alice Seabra ainda estava viva. Infelizmente, na tarde de hoje, depois que o seu padrasto acompanhou a polícia nas buscas, o corpo dela foi encontrado nos canaviais da divisa dos municípios de Goiana e Itapissuma, na Mata Norte do Estado. Não há muitas informações sobre essa tragédia. A Polícia Civil promete uma coletiva para a imprensa onde, espera-se, tudo seja esclarecido à população. Nos interessam, em particular, como afirmamos em outras ocasiões, acompanhar os resultados do Pacto pela Vida. O caso de Maria Alice, por exemplo, levou a população a esquecer, temporariamente, um outro episódio de feminicídio, ocorrido recentemente, também na cidade de Goiana. Uma jovem foi assassinada, depois de sequestrada, espancada e violentada. Somente naquela semana, se os nossos números estão corretos, foram assassinadas 06 mulheres no Estado de Pernambuco. Segurança pública é um problema de toda a sociedade. Nosso torcida deve ser sempre no sentido que os atores envolvidos acertem o passo para que possamos ter algum momento de paz. Já faz algum tempo que o Pacto pela Vida enfrenta alguns problemas. Talvez fosse o momento de os atores envolvidos voltarem à mesa para rediscutirem suas estratégias. Nossa solidariedade à família.

P.S do Realpolitik: Até o final, ainda torcíamos para que a jovem Maria Alice fosse encontrada com vida. Infelizmente, como todos já sabem, isso não foi possível. Preso, o seu padrasto revelou à polícia a sequência macabra de martírio a que foi submetida a jovem, culminando com o ocultamento do seu cadáver, nos canaviais da cidade de Itapissuma, na Mata Norte do Estado. Maria Alice foi sequestrada, torturada, sofreu abuso sexual e, finalmente, morta. Foi um crime com requintes de crueldade, planejado com riquezas de detalhes. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

Todos nós poderíamos "procurar uma rola"


A 'treta' Boechat x Malafaia diz muito sobre nossos tempos. Freud e Lacan nos ajudam a entender o sentido do que disse Boechat.



Rita Almeida

reprodução
Freud funda a psicanálise a partir do mal-estar. Sua grande questão é: o que fazemos com nossos mal-estares? Lacan vai retomar o tema freudiano para dizer que nosso mal-estar é sempre o da linguagem, já que ela sempre fracassa na sua tentativa de dar conta do real. Em outras palavras, a linguagem é sempre falha, equivocada imperfeita e sempre desliza por caminhos dos quais não temos o controle. Nossos atos falhos – aquilo que dizemos sem querer dizer ou dizemos sem pensar – demonstram o quanto a linguagem escapa a qualquer controle racional. A linguagem denuncia o tempo todo nossa falha, nossa divisão e faz emergir o inconsciente. Quer dizer, por mais que relutemos em admitir, o inconsciente nos atravessa o tempo todo, ele fala por nós e a revelia de nós, jogando por terra nossa pretensão de ser um in-divíduo (um ser sem divisão). Para usar as palavras de Freud: o eu não é o senhor da nossa casa.
 
Feito este preambulo gostaria de falar sobre o que vou chamar de moda do politicamente correto, um dos modos de tentar dar conta desse mal-estar presente na linguagem. Quando o inconsciente fala, evidenciando nosso equívoco e nossa divisão, a onda politicamente correta vai tentar fazer UM reparando a falha. A tentativa é criar um modo correto, verdadeiro ou universal de melhor dizer alguma coisa, com o objetivo de evitar que o inconsciente apareça e denuncie aquilo que não queremos admitir: o fracasso da linguagem em dar conta do real.
 
O filme Minority Report dirigido por Spielberg, que já se tornou um clássico, é magnífico para retratar esta forma contemporânea que inventamos para lidar com nossos mal-estares. Obviamente que de uma forma mais radical e drástica, a proposta contida no filme é a mesma perseguida pela polícia politicamente correta, a de que seja possível lidar com o erro inventando um modo de evitar que ele aconteça. O filme se passa num futuro próximo no qual seria possível prever e evitar um assassinato antes que ele se consume. O paradoxo é que o sujeito pode ser condenado por um crime que jamais cometeu, porque foi impedido de fazê-lo por uma divisão policial chamada pré-crime. Entretanto, a suposta infalibilidade do sistema autorizaria a condenação do sujeito pela certeza de que ele irá cometê-lo adiante. Resumindo, o sujeito não é condenado pelo seu ato, mas pelo seu desejo. E o filme é brilhante nesse ponto porque está corretíssimo: o que nos põe em perigo, o que nos desconcerta, que nos tira da razão é mesmo o desejo. É o desejo que nos divide e que emerge a revelia do nosso controle. O desejo é o diabo!
 
Não por acaso o lema do pré-crime é: o que nos mantém seguros também nos mantém livres. Tal como no filme nossa sociedade também acredita em tal promessa, de que encontraremos a liberdade quando pudermos nos manter seguros do fracasso, do equívoco e, sobretudo, do desejo. O mundo ideal que buscamos prevê o apagamento ou o controle total do desejo, o que é o mesmo que apagar toda a singularidade e, consequentemente, por fim às diferenças. Visualizamos num mundo de iguais o fim de todo o conflito e a resposta para todas as nossas mazelas.
 
Lacan vai dizer que o homem tenta com a linguagem produzir laço social, e a isso ele chama discurso. O discurso seria, portanto, toda a tentativa que fazemos para recobrir com a linguagem nossa falha fundamental e constitutiva. Em outras palavras, é na medida em que não somos UM (inteiro e perfeito) que precisamos nos relacionar com o OUTRO, fazendo laço, produzindo discurso. 
 
Dentre as formas discursivas trabalhadas por Lacan destacaremos a que ele chama de Discurso Universitário para explicar a moda do politicamente correto. Toda vez que, na tentativa de fazer laço, criamos normas, regras, métodos, receitas e protocolos, estamos fazendo uso do Discurso Universitário. Muito presente no discurso religioso fundamentalista, nos livros de autoajuda, na burocracia, nos preceitos morais, na educação capturada pelos métodos e na ciência dogmática, o Discurso Universitário privilegia os enunciados universais que são criados para que todos sejam tratados de maneira unificada e universalizada, não havendo lugar para as diferenças e as singularidades. O objetivo seria encontrar uma única verdade que se aplique a todos a fim de evitar o mal-estar. 
 
Esta perseguição desenfreada por um ideal de linguagem politicamente correta, livre de qualquer equívoco, é um bom exemplo do uso do Discurso Universitário, que domina muitos grupos que militam em favor das chamadas minorias. A justificativa desses grupos é que determinadas formas de uso da língua são efeito do machismo, do racismo, da homofobia ou de outro tipo de preconceito e por isso devem ser evitadas ou banidas. É óbvio que se estamos numa sociedade machista, racista, homofóbica ou preconceituosa nossa linguagem vai denunciar isso. Mas é exatamente aí que está a beleza do inconsciente. Na medida em que o desejo ali se faz presente, por mais que tentemos poli-lo com a razão, ele sempre escapa e nos denuncia. É o inconsciente que não nos impede de sermos machistas mesmo quando tentamos fazer um discurso contra o machismo, é o inconsciente que não nos impede de sermos homofóbicos mesmo quando estamos fazendo um discurso para condenar a homofobia. É isso meus caros! Não somos unívocos! 
 
Esta semana o jornalista Ricardo Boechat virou notícia ao fazer uma intervenção inflamada contra o Pastor Silas Malafaia e seu já tradicional discurso de ódio contra homossexuais. Em programa ao vivo na rádio BandNewsFM, Boechat notadamente perde a paciência com uma provocação de  Malafaia no tuíter e o aconselha a “procurar uma rola”. 
 
As manifestações na internet foram imediatas e junto com aqueles que “lavaram a alma” com o desabafo do jornalista, tivemos também os que denunciaram a própria fala de Boechat como machista e homofóbica. “Procurar uma rola” foi considerado um comentário tão equivocado quanto a postura tradicional de Malafaia para com os homossexuais. Em seguida vieram as sugestões para banirmos da linguagem comentários e xingamentos deste tipo, que seriam machistas e que provocariam e ofenderiam minorias sexuais.  
 
É neste ponto que, a meu ver, a moral politicamente correta se perde na panaceia do Discurso Universitário. Quando ela tenta, tal como no filme Minority Report, criar um modo de pre-ver e pre-venir o fracasso da linguagem. O equívoco da linguagem é efeito do inconsciente. (Lembrando que o inconsciente não é aquilo que está dentro, mas aquilo que já estava lá antes de nós, o caldo cultural onde fomos mergulhados quando nascemos). Então é ótimo quando podemos escancarar e denunciar um ato falho para dizer da nossa disjunção, dos nossos equívocos. Foi isso exatamente que Freud propôs com a invenção da psicanálise: acessar o inconsciente por meio do equívoco manifesto da nossa linguagem, que aparece nos atos falhos, nos chistes e sonhos, por exemplo. Mas ao contrário do Discurso Universitário – presente nas propostas de terapia comportamental – a psicanálise trabalha pela via do Discurso do Analista. Nesse sentido ela não se dispõe de silenciar ou adestrar o equívoco, mas fazer o sujeito trabalhar no seu processo de subjetivação a partir de seus equívocos. A proposta de Freud seria, então, escutar o equívoco e lhe atribuir valor ao invés de eliminá-lo. 
 
Já proposta do discurso politicamente correto é silenciar e adestrar os equívocos. Na tentativa de evitar o conflito que emerge nessas falhas discursivas, a proposta é apagar as diferenças fazendo com que todos se submetam a um ideal de linguagem único e universal. Diante do insuportável de conviver com o desejo na sua diversidade e singularidade, a saída proposta seria um modelo único de linguagem que nos proteja das nossas diferenças e que evite os conflitos. 
 
Sendo assim, ao invés da tão sonhada liberdade, o que o Discurso Universitário consegue é tão somente inventar regras e modelos que nos aprisionam e endurecem. E como não consegue sucesso em sua proposta que é a de adestrar o desejo, pois que isso é impossível, tal discurso consegue apenas semear o medo do conflito. Sob o jugo do Discurso Universitário temos medo de que tudo o que dissermos se volte contra nós. Resta-nos afastarmos uns dos outros ou escaparmos por uma tendência muito comum nas redes sociais que é a nos relacionar apenas com nossos iguais, com nossos guetos, com nossos partidos, com aqueles que pensam como nós. Vamos progressivamente desaprendendo a lidar com nossos atos falhos e os dos outros, desaprendemos a debater, a discutir e a experienciar o conflito, tão saudável e necessário para o nosso processo de subjetivação. E se não podemos falar a partir de nossas diferenças, nos resta atacar o outro na sua diferença, com ofensas, ameaças ou em ato. Só para exemplificar um ato extremo nesta direção, temos o famoso ataque à sede de Chalie Hebdo por adeptos do fundamentalismo islâmico e cujos atos foram justificados pela insatisfação destes com as charges de humor publicadas no jornal, que teciam críticas às religiões islâmicas. Neste caso, não faltou quem defendesse que o massacre poderia ter sido evitado se os jornalistas tivessem se esquivado do tema espinhoso da crítica ao Islã. O humor é constante alvo da polícia politicamente correta, que sempre cobra dele um limite prévio, como se fosse possível fazer humor sem provocar algum tipo de mal-estar ou mal-entendido. 
 
Por outro lado, podemos sim nos manifestar contra os mal-estares da linguagem. É óbvio que podemos destacar o equívoco na fala de alguém e fazer uma crítica, mas também precisamos estar abertos a escutar quando o outro denuncia nosso equívoco. É claro que podemos achar uma piada de mau gosto, mas também podemos acha-la engraçada e nos interrogar por que ela nos provoca o riso. É claro que podemos optar por excluir um palavrão do nosso vocabulário na medida em que tomamos consciência do seu sentido implícito. É claro que podemos travar um debate cara a cara ou virtual, sempre que nossas diferenças emergirem em nossos discursos, marcados pela singularidade dos nossos desejos. Perante os equívocos da linguagem, entendo que podemos até mesmo acionar a justiça, caso os limites legais compartilhados sejam ultrapassados, por um ou por ambas as partes. O importante é que em todas essas situações partimos do equívoco, para experimentar e elaborar o conflito, para lidar com a diferença, escutá-la, se incomodar com ela e sair de nossa zona de conforto.
 
Mas o que a polícia politicamente correta pretende é tentar evitar o equívoco e o conflito antes que ele aconteça e faz isso às custas da burocratização da linguagem, do empobrecimento dos nossos laços e da chatice generalizada. E aprisionado no Discurso Universitário o inconsciente escapa pela única via que lhe resta, a violência. Esquadrinhada pelo excesso de modelos e regras de como fazer e como dizer, nos tornamos uma sociedade extremamente careta, quadrada, chata ou violenta.
 
Existe antídoto pra isso? Acredito que sim. É a lição freudiana, que é a seguinte: Não há cura para nosso mal-estar, mas por outro lado podemos atenuá-lo por meio das nossas relações com os outros. A lição lacaniana é a mesma, mas dita de outro modo: É importante que não nos aprisionemos em um determinado discurso, a saída é sempre fazê-lo girar. No caso do Discurso Universitário a saída seria dar um passo atrás em direção ao Discurso do Analista. Assim sairíamos do campo do Universal para o campo do singular, do cada um. Dito de outro modo é fundamental considerar que possa existir uma resposta para uma única situação e que não seja uma resposta Universal para todas as situações semelhantes.
 
O caso da “treta” Boechat x Malafaia, vou propor que façamos tal giro discursivo para escapar das concepções universais do que significaria “procurar uma rola” e enxerga-la no seu componente singular. Em se tratando do Malafaia e do discurso de ódio que ele representa e reproduz “procurar uma rola” poderia, sim, lhe fazer um bem enorme. “Procurar uma rola” neste caso em particular, significaria fazer com que o referido pastor se enverede para além de si mesmo, a fim de fazer laço e se permitir ser afetado pelo outro. Afinal, para “procurar rola” para além de si mesmo, é necessário admitir que não se tenha, e ninguém melhor para fazer laço do que aquele que encara sua própria castração, sua limitação. Porque quem aceita sua própria castração aceita a do outro também. 
 
Por fim, oxalá todos nós nos abríssemos para “procurar uma rola” nas nossas relações com os outros ao invés de achar que a possuímos ou que podemos compra-la e fazer uma prótese! Nesses termos, repito o conselho de Boechat: - Malafaia, meu caro, vá “procurar uma rola”! Isso faria muito bem a você assim como pode fazer bem a qualquer um de nós.

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

sábado, 20 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: A "rola" é o de menos... ( ou não?)


A polêmica envolvendo o jornalista Ricardo Boechat e o pastor Silas Malafaia, a julgar pela repercussão que vem alcançando pelas redes sociais, possivelmente, suscitará ainda mais as animosidades e atos de intolerância entre segmentos evangélicos e GLBT. Com um agravante: agora novos atores parecem desejar entrar nessa polêmica. Num momento bastante delicado, quando os atos de vandalismo e intolerância religiosa e de orientação sexual proliferam por todo o país. Ainda ontem foram registrados, em Uberaba, ataques ao túmulo do líder espírita Chico Xavier. A princípio, os comentários do jornalista Ricardo Boechat foram sensatos e coerentes. O que ele havia afirmado - e nisso, com o perdão dos evangélicos, ele tem razão - é que alguns líderes religiosos, com a sua conhecida verve apurada, em seus cultos, ao invés de apaziguarem os rebanhos, estavam contribuindo, isto sim, para incitar o ódio e a intolerância. O que se seguiu depois foi uma sequencia de erros, culminando com a expressão: "vai procurar uma rola, Malafaia". Malafaia é a polêmica em pessoa. Nunca vi alguém gostar tanto de aparecer. Não iria perder a oportunidade de "comentar" as declarações do jornalista Boechat e, de quebra, desafiá-lo para um duelo. Sim. Duelo. Não seria certamente um debate, como aqueles que já ocorrem na Band, a exemplo do Canal Livre. Boechat mordeu a isca. Usou o microfone da emissora para dizer umas verdades sobre esses pastores, algo que milhões de pessoas gostariam de dizer. Daí a enorme repercussão e a sensação de que Boechat "nos representa" ou "nos sentimos aliviados, de alma lavada". E isso não necessariamente pela "rola", mas pelo desvelamento de uma prática de enganação, de utilização da fé alheia, de enriquecimento ilícito. Como disse o jornalista, alguns deles atuam como verdadeiros picaretas mesmo. "Rola" é o que menos importa neste caso. Com o termo, Boechat foi bastante infeliz - apesar dos aplausos - possivelmente abrindo uma polêmica no campo jornalístico onde atua; se indispondo com os grupos GLBT que consideraram vulgar e inadequado o termo; além de apimentar o "duelo" com o Silas Malafaia. Agora a "guerra santa" ou "fogueira do inferno" ganhou alguns ingredientes novos, num momento, repito, bastante crucial.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Atentado contra Ed Soares é um atentado contra a blogosfera e a liberdade de expressão.


Pernambuco é um Estado que ainda possui alguns focos de crimes de pistolagem, sobretudo em regiões do interior do Estado ou fronteiriças. Recentemente foram a julgamento - e, finalmente, condenados - os assassinos do advogado e militante dos direitos humanos, Manuel Mattos, brutalmente assassinado, numa residência de veraneio, na praia de Pitimbu, já no Estado da Paraíba. Manuel Mattos denunciava os crimes de pistolagem que ocorriam na região fronteiriça entre os Estados de Pernambuco e da Paraíba, uma região conhecida como fronteira do medo. Ali, a violência tornou-se tão banalizada, que alguém poderia encomendar a morte de outra pessoa por apenas R$ 50.00. Certamente, isso se constitui num dos "gargalos" do Pacto pela Vida, uma vez que joga para cima as estatísticas de crimes de homicídios por causas violentas.  
Se estamos falando de Goiana, Itambé - Mata Norte, portanto - a região da Mata Sul também não fica atrás na ocorrência desses crimes de pistolagem. Fomos surpreendidos com o atentado ao blogueiro Ed Soares, que atuava na cidade de Barreiros. Ed mantinha uma atuação bastante contundente no sentido de denunciar os crimes da administração pública. Ele foi vítima de um atentado quando regressava à sua residência. Há vários indícios que apontam para um crime de pistolagem. Há alguns anos atrás, um outro blogueiro foi morto no Estado do Maranhão. Uma das primeiras peças investigativas da polícia foram as suas postagens. Queriam saber quem havia sido atingido por suas denúncias e que, supostamente, teriam interesse em assassiná-lo. Os executores do crime teriam sido presos e condenados, mas os mandantes continuam impunes, numa evidência inequívoca de que a justiça neste país só funciona para alguns.  

Depois se descobriu que Décio Sá sabia demais. Poderia ter sido morto apenas porque detinha informações valiosas. De posse de uma agenda pessoal, a Polícia Civil do Estado do Maranhão, logo em seguida, desencadeou uma operação que resultou na prisão de várias pessoas, entre políticos, agiotas e empresários. Alguns deles ocupando cargos públicos. E havia quem jurasse que ele havia sido morto em razão das denúncias sobre as putarias dos políticos do Estado com garotas de programa do Estado vizinho do Piauí. Putarias financiadas com dinheiro público, registre-se. Comenta-se que o estado de saúde de Ed Soares é bastante grave. A propósito, cadê a sua agenda? Consideramos o atentado contra Ed Soares como um atentado à blogosfera. Um atentado contra a liberdade de expressão e o direito inalienável do cidadão em fiscalizar as ações do poder público. A esfera pública no nosso Estado tornou-se algo efêmero, posto que dominada por grupos e oligarquias guiadas unicamente por interesses comezinhos, dispostas a tudo para apear os desafetos. Esse é o tipo de postagem que segue direto para a entidade que nos solicitou informações sobre o Pacto Pela Vida. Não adianta rastrear o meu e-mail, como fiquei sabendo que o fazem, porque eu tenho para mais de 10, um para cada finalidade específica. Ah! já ia esquecendo: E algumas agendas pessoais também. 


O xadrez político das eleições municipais de 2016 no Recife: De como Olinda pode interferir nas eleições do Recife




A partir de hoje e pelos próximos meses, estaremos dando início a uma série de artigos sobre as eleições municipais do Recife, em 2016. Os atores políticos já iniciaram uma intensa movimentação neste sentido e convém acompanhá-los, para não perdermos os lances principais desse xadrez político. Fizemos esse exercício nas eleições passadas, onde uma série de 30 artigos foram produzidos sobre o assunto, numa média de um a cada semana. Este ano, teremos alguns ingredientes novos, como a ausência do ex-governador Eduardo Campos, uma peça chave nos rumos daquelas eleições. Um outro fato que deve mexer bastante no tabuleiro político do Recife são as eleições de Olinda, que podem provocar algumas indisposições entre os atores da Frente Popular, principalmente entre os grêmios PSB e PCdoB. 

Naquelas eleições, as de 2012, as relações entre esses dois partidos estavam muito bem resolvidas. Num momento de dificuldade da candidatura de Renildo Calheiros​ (PCdoB), o próprio Eduardo Campos foi até a Marim dos Caetés para apoiar o aliado. Há muito tempo a relação entre os dois partidos já passou da fase do só vou se você for. Como afirmei no dia de ontem, as ações do PCdoB hoje são orientadas exclusivamente pelo mais puro pragmatismo. Portanto, eles não terão o menor pudor em chutar o tabuleiro. Luciana Santos já aparece sorridente em outdoors, informando-se tratar-se da primeira mulher a presidir o Partido Comunista do Brasil. Olha o simbolismo, gente. Agrava o quadro o esboço de uma possível candidatura do escritor Antonio Campos, irmão do ex-governador, à Prefeitura daquela cidade. Ele nega, mas, a cada negativa, fica mais evidente sua intenção de disputar aquele pleito. 

Confirmada sua entrada no pleito, possivelmente o município terá uma das disputas das mais renhidas. Não necessariamente pelo capital político de Antonio Campos - um escriba nunca testado nas urnas -mas, sobretudo, em razão do desarranjo que ele poderá proporcionar na correlação de forças locais, a partir de acordos mantidos - e até então preservados - que colocam a cidade como reduto dos comunistas. Ontem, os tucanos de alta plumagem do Estado deliberaram por uma provável candidatura de Daniel Coelho (PSDB) à Prefeitura do Recife, nas eleições de 2016. Construir consensos em política é uma coisa bastante complicada, mas, aparentemente, pode-se afirmar que as arestas estão temporariamente aparadas no ninho tucano. 

O PT ainda não curou-se de sua "ressaca". Isso leva anos. As ações orquestradas pelo ex-governador Eduardo Campos em relação ao partido conseguiu a proeza de fragilizar bastante a agremiação no Estado. Matreiramente, Eduardo deu corda para que o partido se enforcasse, salvando, naturalmente, umas boas fatias de queijo do reino. O partido está com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato em Pernambuco. As sondagens sobre os possíveis cargos federais a serem ocupados pelos ex-parlamentares da legenda continuam nas gavetas do Palácio do Planalto ou sob os auspícios da ABIN. Adormecem nos gabinete de Brasília.

O partido enfrentará alguns problemas estruturais nas próximas eleições municipais. Ainda não foi calculado, mas, certamente, o chamado "efeito coxinha" deverá pesar nas próximas eleições, sobretudo nos perímetros urbanos, onde a classe média faz um barulho enorme. A rejeição ao partido é grande entre alguns estratos sociais. Um outro aspecto diz respeito às dificuldades de ampliar ou mesmo manter algumas políticas sociais inclusiva em áreas estratégicas, em razão da crise econômica. Crise econômica que, inclusive, vem obrigando o governo Dilma a investir contra conquistas da classe trabalhadora, uma outro foco de problemas. Não sei se a nossa economia se recupera até outubro, mas alguns analistas juram que não. 

Pelas últimas pesquisas, a erosão do capital político do PT chega a 12% da população, apesar de todo massacre da mídia. Este número cai para 8% aqui na região Nordeste, ainda o maior reduto eleitoral da legenda. A questão é saber para quem o PT irá falar nas próximas eleições, frente ao quadro esquizofrênico em que se transformou esse segundo mandato de Dilma Rousseff. Quando deveria se aproximar, o partido se afasta de suas tradicionais bases de apoio no movimento social. Em seu último Congresso, os mais radicais foram obrigados a engolir goela a dentro o receituário proposto por Joaquim Levi, o ministro da Fazenda. Certamente muito longe de suas históricas aspirações. Em resumo, o s militantes e o partido, oficialmente,  se veem na contingência de apoiar um governo que não seria o seu.  

Esse cenário econômico adverso, portanto, terá reflexos nas próximas eleições municipais, atingindo, sobremaneira, o Partido dos Trabalhadores. Um atenuante é que o eleitorado costuma observar as eleições do município com um foco bastante localizado. Mas, mesmo assim, o PT não deixou um bom legado quando passou pelo Palácio Antonio Farias. João da Costa saiu da Prefeitura do Recife com uma avaliação nada alvissareira. João Paulo, por sua vez, seu padrinho político, herdou parte deste espólio negativo. Os petistas mais otimistas asseguram que ainda é expressivo o capital político de João Paulo. Por inúmeras razões, tenho lá minhas reservas.  

A gestão de Geraldo Júlio só vai bem mesmo nas pesquisas de avaliação de gestão, realizadas pelos grandes jornalecos.  Basta ver a reação da população a essas pesquisas, quando elas são publicadas nas redes sociais. Como gestão municipal é "cotidiano", proliferam exemplos nas redes sociais de obras inacabadas, promessas não cumpridas, comprometimento da gestão com o capital (caso do Projeto Novo Recife), mobilidade urbana caótica, descaso com o meio ambiente etc. Não vai muito bem a gestão de Geraldo Júlio. Criou-se uma grande expectativa em torno de sua gestão e os resultados não corresponderam às expectativas criadas. Hoje ele se apressa para entregar algumas obras, para ter o que mostrar nos guias eleitorais, credenciando-se a um segundo mandato. Se tivermos uma oposição competente, ele não se reelege. Mas, como a nossa oposição não é necessariamente competente, essa possibilidade até existe. 

Tijolinho do Jolugue: Gracilaino Ramos e o ato de escrever


Gostaria muito de participar de uma oficina literária com o escritor Raimundo Carrero. Embora ele realize essa oficina com regularidade, na secção pernambucana da União Brasileira de Escritores, nunca tivemos essa oportunidade. Circunstâncias que fogem ao nosso controle, sempre nos impedem de participar. Mas ontem, pelas redes sociais, tivemos a oportunidade de conversarmos com ele. Nos instigavam seus comentários sobre o escritor alagoano, Graciliano Ramos. Aliás, tudo que se refere a Graciliano Ramos, nos interessam bastante. Temos por ele uma grade admiração, seja como escritor, seja como homem público. Quem o leu, sabe do esmero que ele usa na escrita. Como prefeito, honrou a função como poucos. Um homem com um notável espírito público, na verdadeira acepção da palavra. Jamais admitiu um parente sem o instituto republicano do concurso público e multou o próprio pai, que mantinha animais soltos nas ruas. Um dos primeiros livros que li de Graciliano Ramos foi "Infância", onde há alguns relatos sobre como tomou gosto pela literatura - através de um amigo que abriu sua biblioteca para ele - e as agruras da puberdade, onde era obrigado pelo pai a tomar banho em rios infestados de cobras, aqui em Pernambuco, salvo algum engano, na cidade de Bonito. Nos bastidores do "campo literário", para usarmos um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu, comenta-se que, numa referência jocosa a José Lins do Rego, o velho Graça teria dito: "mas se até José Lins era escritor..." Justamente José Lins, que, na sua posse na Academia Brasileira de Letras, num ato raro, "desancou" o seu antecessor na cadeira, afirmando tratar-se de um "escritor" sem livros. Mas, o que, de fato, nos impressionou nisso tudo - e isso vem sendo trabalhado por Raimundo Carrero, nesta última oficina - é o conjunto da produção de Graciliano Ramos sobre o ato de escrever. Corri para ter acesso às obras Linhas Tortas e Conversas com Graciliano, ambas da editora Record, onde o escritor narra suas impressões sobre o ato de escrever. Há alguns anos atrás, o escritor Raimundo Carrero lançou uma publicação que é uma espécie de reflexão também sobre o ato de escrever. Hoje esse livro estaria esgotado, mas consegui um dos últimos exemplares. Nos tem sido muito útil, sobretudo para aquele "encontro consigo mesmo".

Tijolinho do Jolugue: MP pede absolvição dos acusados da morte do médido Jaime Gold

A morte do médico Jaime Gold, quando pedalava em sua bicicleta na Lagoa Rodrigues de Freitas, no Rio de Janeiro, causou uma grande indignação na população carioca, sobretudo nos seus estratos mais aquinhoados, formados pela classe média alta e pela elite. Por circunstâncias bem conhecidas, esses estratos sociais exercem uma pressão bem mais consistente junto ao poder público. Por isso mesmo, as teses do alemão Habermas sobre os fóruns da sociedade civil perdem consistência quando se questiona sobre os atores que, de fato, teriam vez e voz nesses fóruns. Os canais de acesso às esferas do poder público não são distribuídos equanimamente. Ontem, aqui pelas redes sociais, evidenciou-se as reações distintas do público, para um mesmo ato criminoso, praticado por pessoas de estratos sociais distintos. 

Um playboyzinho de classe média e um esquálido menor em situação de vulnerabilidade social. Muito interessante - e trágico - isso. Pressionado, o governador Luiz Fernando, conhecido como Pezão - acionou seu aparato de segurança do Estado para apresentar imediatamente à população os responsáveis pelo crime. O que se seguiu foi uma sequência de erros da Polícia Civil do Estado e declarações infelizes do governador. Impressionante o número de menores apresentados como tendo sido os autores do crime, num quadro bastante complicado. Um deles, por exemplo, sequer estava no local do crime. Como isso seria possível? Há seis testemunhas que asseguram que ele estava num outro local no momento em que ocorreu o crime. 

Um outro foi detido e o Estado falhou clamorosamente na preservação de sua integridade física. Foi brutalmente espancado na prisão, num ato até curioso para o mundo do sistema prisional. Salvo briga de facções criminosas ou rebeliões, detentos que são acusados de assassinatos não costumam serem espancados. Normalmente isso acontece com estupradores. Diante desses fatos, o MP pediu a absolvição dos menores "acusados" da morte do médico. Muito estranho isso. Os verdadeiros assassinos devem ser encontrados e responder pelos seus atos, consoante a legislação em vigor, mas o aparelho de Estado deve atuar de forma republicana e transparente.


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Tijolinho do Jolugue: Intolerância já fez várias vítimas.


 


Pelo andar da carruagem política, se o nosso quociente de tolerância - que já é frágil - não for imediatamente resgatado, vamos perder a conta das vítimas da intolerância religiosa, com nítidos reflexos na opção sexual de cada um. Nos últimos dias, o país foi sacudido por uma onde de mobilizações de grupos evangélicos e LGBT, cada qual defendendo suas posições, para alguns, de forma radical. Isso colocou mais lenha na fogueira da "guerra santa" que se trava entre esses grupos. O resultado, não poderia ser outro. Cenas explícitas de intolerância religiosa ou de opção sexual -que, no final, tem a mesma matriz de um preconceito religioso. Eles estão ocorrendo em todo o país, em algumas situações, com vítimas fatais, como foi o caso do jovem Rafael Barbosa, um homossexual morto por apedrejamento. No Rio de Janeiro, uma menina de 11 anos foi atingida por uma pedrada, quando saia de um culto de candomblé.

Há um verdadeiro incitamento ao ódio, e as consequências podem ser dantescas. Pastores evangélicos, que exercem grande liderança junto aos fiéis, não se cansam de pregar seus valores em preservação da família e dos "bons costumes", mobilizando seus adeptos pelas redes sociais. Os grupos LGBT não deixam por menos, quando seria prudente que defendessem apenas a sua liberdade de opção sexual. A guerra santa também chega ao parlamento, onde existem deputados que se engalfinham sobre essas temáticas,  a exemplo do Deputado Jean Wyllys, e o pastor Marcos Feliciano, que também é deputado. O parlamento bem que poderia dar a sua contribuição, isto sim, para equilibrar esse meio de campo. 

P.S do Realpolitik: o túmulo de Chico Xavier, na cidade de Uberaba, onde ele nasceu, é a nova vítima dessa guerra santa. Acaba de ser vandalizado. 

Tijolinho do Jolugue: IPEA divulga perfil da populção de jovens vulneráveis do país



 


Bastante curiosos esses dados sobre as pesquisas sociais no país. Era um assunto que nos interessam bastante, mas, em razão das dificuldades com as ciências exatas, não avançamos muito nesses estudos. O conhecimento que nos foi facultados pelo "sistema", nessas disciplinas, apenas nos permitiram passar raspando no ponto de corte do PIMES( Programa Integrado do Mestrado em Economia e Sociologia), numa cadeira de Metodologia da Pesquisa Social, ministrado pelo professor José Carlos Wanderley. Ainda lembro que nos ajudou bastante uma pesquisa sobre o perfil da "produção" do Programa desde a sua criação. A pesquisa alcançou grande repercussão à época. Muitos companheiros nossos não sobreviveram aos números frios apresentados pelo professor. 

Depois, num raro lampejo de lucidez institucional ( ou pessoal?) alguém nos recomendou fazer um curso de Indicadores Sociais, afirmando ser a "nossa cara". Era um curso de aperfeiçoamento, ministrado por professores da Fundaj e da UFPE. Um curso muito bom, uma vez que avançava nos estudos do tema em várias áreas de construção desses indicadores, como habitação, saúde pública, mobilidade urbana, educação entre outros. Muito bom o curso, volto a repetir. Guardo suas apostilas até hoje. 

Desde então, sempre sou instigado a comentar sobre este tema, seja pelas redes sociais ou aqui pela blogosfera. O último relatório da UNESCO sobre a educação no mundo, por exemplo, suscitaram várias postagens aqui no blog. A UNESCO nos reprovou em 04 itens, entre eles, no alto índice de analfabetismo entre a população adulta. O Brasil ainda possui algo em torno de 13 milhões de analfabetos entre a sua população adulta, um índice considerado demasiadamente alto, até mesmo para os padrões latino-americanos. Mesmo anpassant, verifico que, se nós cruzarmos esses dados, vamos encontrar algumas coisas curiosas, mas não necessariamente surpreendentes. 

Fiel à tradição escravocrata do país, como costumo dizer para os meus alun@s, em todos os indicadores sociais que tomarmos como referência, a população negra vai aparecer em clara desvantagem em relação à população, digamos assim, embranquiçada. Sabemos que alguém vai afirmar tratar-se de uma obviedade.Mas, as obviedades também precisam serem ditas. De tanto repetidas, talvez elas possam incomodar os ouvidos mais sensíveis. Pois muito bem. O perfil do analfabeto adulto no Brasil é basicamente este: reside nas regiões Norte e Nordeste, é mulher, negra e pobre. Ontem, o IPEA tornou público alguns dados sobre a população de jovens em situação de vulnerabilidade social do país: são oriundos de famílias de extrema pobreza, não estudaram ou abandonaram a escola,  são negros, excluídos socialmente e produtivamente. Um dos Estados onde mais ocorrem incidências de assassinatos de jovens negros no Brasil, entre 18 e 22 anos, é o Estado de Alagoas. Para ser mais preciso, e já chegando os números, Alagoas é considerado o Estado brasileiro mais vulnerável para essa população.

Ali, na zona da mata, nas antigas terras de quilombos, a população de jovens negros está sendo dizimada, assim como ocorria séculos atrás, com seus ancestrais, embora que, como escravos, isso possivelmente ocorria em outras faixas etárias. Em razão desses altos índices de assassinatos, o Governo Federal, em parceria de dois ministérios - educação e cultura - desenvolve ali o projeto Juventude Viva, algo que propus estudar, num seleção de curso, mas foi rejeitado sob a alegação de que não tinha nada a ver com o objetivo de uma determinada instituição federal que, curiosamente, tem seu foco de atuação na região e desenvolve um PDI tentando articular suas ações justamente nas áreas de cultura e educação.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Tremei, res pública! Prefeitos envolvidos em desvios de verbas da merenda escolar perderão o mandato


Desvios de verbas públicas deveria ser um crime punido com o máximo de rigor. Nossa legislação a esse respeito, apesar dos avanços dos últimos anos, ainda é muito branda, permitindo uma série de artifícios que facilitam a vida de gatunos que se apropriam do erário. Dinheiro e um bom advogado conseguem a proeza de livrar essa gente dos rigores da lei. A nossa "justiça" é injusta, na medida em que oferece condições de defesa absurdamente desproporcionais. Ainda ontem estava lendo, aqui mesmo pelas redes sociais, o caso de um pedreiro injustamente condenado. Ele teria passado 05 anos no presídio - até ser comprovada a sua inocência - onde teria sido espancado, estuprado e contraído o vírus da AIDS. Não há mais reparação possível. Acabaram com a vida do rapaz. As verbas para a educação sempre foram muito visadas nas verdadeiras engrenagens, muito bem montadas, de desvios de verbas públicas. Ate recentemente, o FUNDEB era a rubrica onde ocorriam os maiores problemas. Isso entre tantas outras.Já denunciamos, outro dia, que crianças da rede pública de ensino, até da capital, estão deixando de receber a merenda em função de contas bloqueadas por superfaturamento. Todos conhecem os problemas estruturais ligados à merenda escolar. Em muitos casos, constitui-se na única refeição para alguns alunos. Passou a ser ofertada até nos meses de recesso escolar em razão desses problemas. Finalmente, o Senado Federal aprovou uma lei que puni com a cassação do mandato os gestores públicos envolvidos no desvio da merenda escolar. Somos otimistas em relação a isso, mas trata-se de mais uma lei "deslocada" de nossa realidade. Ninguém faz ideia de quantos prefeitos estão envolvidos nessas falcatruas. E, entre este universo, quem, de fato, será alcançado pela lei.
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terça-feira, 16 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Dona Magdalena, uma biografia


Uma das matérias que mais repercutiram nos jornais pernambucanos, do último domingo, foi o lançamento da biografia da Dona Magdalena Arraes, escrita pelo chargista e jornalista Lailson de Holanda e pela historiadora Valda Colares. O livro integra um projeto da CEPE - Companhia Editora de Pernambuco - de publicar a biografias de personalidades pernambucanas. Dona Magdalena não foi apenas a esposa do ex-governador Miguel Arraes de Alencar. O livro procura destacar seu protagonismo na vida política do país, em particular no Estado de Pernambuco. Dona Magdalena foi uma espécie de âncora, de porto seguro para o Dr. Arraes. Sua preocupação com os rumos da política do Estado ficam evidente numa longa conversa que mantivemos com João Roberto Peixe, sobre a criação do Partido dos Trabalhadores no Estado. Segundo Peixe, quando conversavam com Dona Magdalena no Palácio do Campo das Princesas, ela sempre externava sua opinião no sentido de manter a união das esquerdas pernambucanas. A criação do PT, raciocinava ela, contribuiria para fragilizar o campo de esquerda no Estado. Lamentei não ter encontrado uma foto de Alcir Lacerda - que foi durante muito tempo uma espécie de fotógrafo oficial dos Arraes - onde, num dos raros momentos de descontração do casal, Dona Magdalena aparece tomando banho numa praia pernambucana, sempre acompanhada do Dr. Arraes.

Tijolinho do Jolugue: ACM Neto, herdeiro do carlismo, agora é socialista





Por vezes, sou surpreendido imaginando qual o futuro de pessoas como Roberto Amaral e Luíza Erundina num partido como o PSB, mesmo sabendo o quanto é complicado estabelecer uma clivagem ideológica das agremiações partidárias brasileiras. Aliás, ideologia - aqui para nós - está com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato, quando se estar em jogo justamente os partidos políticos.Neste aspecto, sinceramente, não vejo problema nenhum em atores políticos como ACM Neto desejarem entrar no PSB. Quem poderá vetá-lo e sob que argumento? Aqui na província, por exemplo, o ex-governador Eduardo Campos foi uma espécie de avalista de uma sobrevida às viúvas do macielismo. Qual o dilema, portanto, em especial para os neo-socialistas tupiniquins, em aceitar nos seus quadros o herdeiro do carlismo? 

Os principais integrantes da legenda na Bahia, como é o caso da senadora Lídice da Mata, já informaram que, se ACM Neto entrar por uma porta, ela sai pela outra. Em seu blog, Roberto Amaral já externou sua opinião a esse respeito, em consonância com os companheiros baianos da legenda. Carlos Lupi esteve aqui no Recife até recentemente. Propôs que o PSB, ao invés de abraçar o diabo do PSDB, via PPS, junte forças com o seu PDT. Claro que o que move Lupi, possivelmente, também não é nenhuma preocupação de natureza republicana,mas, essencialmente pragmática. Tanto é assim que, logo em seguida, teria sido procurado pelo atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio, que quis saber que conversa era aquela de uma possível candidatura pedetista à Prefeitura do Recife, em 2016.

Tijolinho do Jolugue: O estranho mundo do FBI




Esse mundo da espionagem é mesmo bastante interessante. Com a saúde bastante debilitada, Mark Felt, que ocupou a vice-diretoria do FBI,  revelou ser ele o "Garganta Profunda", a fonte secreta que forneceu informações importantes sobre o escândalo Watergate, que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, acossado ante a iminente inevitabilidade de um pedido de impeachment, depois da série de reportagens publicadas pelo Jornal Washington Post, assinadas pelos jovens repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward. ( foto acima)

Os repórteres mantiveram um silêncio obsequioso sobre o assunto durante anos. Depois da revelação do próprio Felt, eles conformaram ser ele mesmo o  "Garganta Profunda". Neste caso em particular, como em relação às investigações recentes sobre a corrupção na FIFA, o FBI, a Polícia Federal Americana, não foi acionada por motivações de corte republicano. Felt foi preterido na indicação à diretoria do órgão, em nome de uma pessoa que gozava da confiança de Nixon. Neste último caso, o da FIFA, já se percebe uma nítida intenção de prejudicar a realização da próxima Copa do Mundo, programada para ocorrer na Rússia, em 2018. As relações entre os dois países azedaram nos últimos meses.

Agora é um agente da CIA, que se ultimando numa UTI de um hospital, delirando ou não, informa que foi encarregado pela agência para tirar a vida da atriz Marilyn Monroe. De fato, existem, até hoje, alguns mistérios sobre a morte da atriz, uma frequentadora das hostes do poder americano, na época da hegemonia da família Kennedy. Hoje se sabe que Marilyn era amante do ex-presidente Jonh Kennedy, embora houvesse rumores de que também saia com Bob Kennedy, seu irmão. Nunca ficou descartada a possibilidade de um homicídio em relação à sua morte, embora a versão do suicídio tenham sido amplamente divulgada.



Tijolinho do Jolugue: A corrida ao Palácio Antonio Farias já começou


 


Muito natural que já ocorram uma movimentações em torno das eleições para a Prefeitura do Recife, em 2016. Afinal, já cruzamos o cabo da boa esperança. Em visita ao Recife, o dirigente nacional do PDT, Carlos Lupi, o Lupinho, para os íntimos, já sinalizou que o partido pode lançar candidatura própria nas próximas eleições para o Palácio Antonio Farias. Nas eleições passadas, escrevemos uma série de 30 artigos sobre aquelas eleições, que culminou com a vitória de Geraldo Júlio, do PSB, avalizado pelo ex-governador Eduardo Campos. O último deles, muito antes das eleições, publicado no site de uma instituição federal local, previa a vitória inevitável do candidato socialista, o que nos causou alguns problemas, sobretudo entre companheiros petistas. 
 
Essa história de "campo social", para usarmos uma linguagem do sociólogo francês, Pierre Bourdieu, é, na realidade, um grande problema. Mas, vamos em frente. Pelo andar da carruagem política, o PSDB parece fechado em torno do nome de um Coelho. Tudo indica que o Deputado Estadual, Daniel Coelho(PSDB), será mesmo candidato à Prefeitura da Cidade do Recife, nas próximas eleições municipais. Penso que já está na hora de voltarmos a acompanhar, com mais assiduidade, este assunto. Vamos jogar o xadrez político de 2016, num ano de bastante combustão. João da Costa, que andava sumido, voltou a dar o ar de sua graça. Que o matuto de Angelim não seja subestimando nas costuras internas da agremiação. João Paulo, ex-prefeito da cidade, foi um nome hoje lembrado por alguns internautas ligados à legenda petista. 

Sem mandato e sem ocupar alguma diretoria ou escritório de representação estadual de alguma instituição federal, João voltou a estudar. Por enquanto, era o melhor que poderia fazer. O esboço de uma provável candidatura de Antonio Campos, em Olinda, balançou um tabuleiro que, talvez, precise ser rearrumado na combalida base de sustentação do prefeito Geraldo Júlio, em Recife. Os movimentos do PCdoB, hoje, atendem a uma lógica estritamente pragmática. Talvez por isso mesmo o esboço de uma candidatura socialista em Olinda seja de difícil equacionamento.


Tijolinho do Jolugue: Mais uma vítima do transporte público na RMR

 

O transporte público na região metropolitana do Recife é ruim. Parece que estamos todos de acordo quanto a isso. Poderia passar uma tarde demonstrando aqui porque o nosso transporte público é tão ruim. Parte dessa responsabilidade, certamente, pode ser creditada ao poder público, que não toma medidas para contornar esses problemas; que não exige das operadoras do setor que seja dado um tratamento digno e decente aos usuários; que não melhora as condições de mobilidade ou desatravanca o trânsito, que vem se tornando caótico; que não investe em políticas de infraestrutura que poderiam minimizar esses problemas; que não adota medidas eficazes de combate à violência nos coletivos.

O resultado, no final, é que temos um transporte público caro e ruim, susceptível a todo tipo de ocorrências, como estas recentes, onde dois jovens estudantes, em pouco mais de um mês, tornaram-se vítimas fatais desse conjunto de desmandos, que o poder público parece assistir passivamente. Nos dois casos em particular, há de de registrar a falha humana dos dois condutores. Mesmo assim, embora atenuante, essa circunstância é reflexo, igualmente, da crescente precarização do trabalho dos rodoviários. Trata-se de uma categoria que, praticamente todos os anos, passam alguns dias parados, reivindicando a melhoria das suas condições de trabalho. Capital e poder público sempre empurram o problema com a barriga, tratando alguns questões pontuais, mas deixando de realizar o enfrentamento dos problemas estruturais do setor de transporte urbano público. 

Esses profissionais trabalham sob muita tensão, sobretudo num trânsito caótico como o nosso. Nos dois casos específicos, também não se pode desconsiderar, infelizmente, a responsabilidade dos condutores. A jovem que morreu na Várzea, Camilla Mirela Pires, ficou com a bolsa presa pelo lado de fora da porta. Porta reaberta, carro em movimento, a jovem caiu, vindo a ser atropelada. Uma sequência de erros macabra. No caso do jovem, Harlynton Lima, estudante da UFRPE, depois de insistir para que o condutor do veículo abrisse a porta, resolveu pendurar-se nela. Num movimento brusco do veículo, ele não conseguiu segurar-se e caiu. Não entendo como o condutor deu partida no ônibus com o jovem pendurado, pedindo para subir no coletivo. Uma falha imperdoável. Nossos sentimentos à família desses dois jovens, com o apelo ao poder público e à sociedade civil para que, juntos, possamos tornar o transporte publico do Recife mais "humanizado".

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Lincoln Secco: Maior erro do PT foi seguir estratégia lulista de conciliação permanente

Autor de 'História do PT' diz que foi erro reabilitar protagonista do escândalo do mensalão

 
Lula em exposição em Milão neste mês. / Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Autor do livro "História do PT" (Ateliê Editorial), o professor da USP e historiador Lincoln Secco, diz que o partido que governa o país há pouco mais de 12 anos é mais burocrático e menos militante. Filiado a essa legenda, Secco afirma que a maior falha dos petistas foi desenvolver a estratégia lulista: a conciliação permanente.
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Pergunta. Como o senhor definiria o PT hoje? De esquerda, de centro-esquerda?
Resposta. Esquerda e direita são localizações no espaço político. Se você considerar os grandes partidos brasileiros, o PT é a esquerda que o país conseguiu ter. É a nossa esquerda institucional que aceita a ordem. Não é uma esquerda anticapitalista.
P. O que diferencia o PT dos demais partidos?
R. Basta olhar para a parcialidade com que a grande imprensa trata o PT para ver que há diferenças dele em relação aos demais. Você imaginaria alguém se preocupando com o congresso do PMDB? Ali não há tendências ideológicas, só conflitos de lideranças. O mesmo vale para o PSDB. O PT hoje é um partido que possui um jogo de lideranças ao lado da velha disputa de tendências ideológicas. Ele continua inovador: tem 50% de mulheres na direção e proibiu a reeleição por mais de duas vezes dos deputados.
P. Por que o partido se afastou de suas bases (sindicatos, igreja)?
R. Houve mudanças na própria base social do PT. Ela foi desmontada nos anos 1990. As duas instituições citadas sofreram com a terceirização e automação (no caso dos sindicatos mais importantes do PT, bancários e metalúrgicos) e com o ataque do papado à teologia da libertação (no caso das comunidades eclesiais de base). Ao lado disso, o PT cresceu em importância no Estado nos anos 1990, ocupando prefeituras, Governos estaduais e aumentando a bancada de deputados. O resultado só poderia ser um partido mais burocrático e menos militante.
P. Há quem defenda sua refundação. Isso é possível?
Os escândalos ligados ao PT estão todos os dias na televisão. Quase não há críticas ao governo do PSDB em São Paulo
R. Não. Desde o I congresso já se falava em refundação. A história não gira para trás. Hoje, tanto as alas esquerdistas quanto as de direita estão atreladas aos cargos públicos que o partido têm. O PT é grande demais para mudanças bruscas.
P. O senhor vê alguma diferença no tratamento da mídia dos Governos petistas com relação aos seus antecessores?
R. Há pesquisas conclusivas sobre isso em inúmeras teses universitárias. O laboratório de mídia da UERJ mostrou isso. É claro que quem está no governo é sempre mais atacado pela imprensa e com razão. Considerando o período que o PSDB esteve na presidência (1995-2002), ainda assim a grande imprensa foi mais desfavorável a [Luiz Inácio] Lula. Os escândalos ligados ao PT estão todos os dias na televisão. Quase não há críticas ao governo do PSDB em São Paulo. O mensalão petista levou os líderes do PT à cadeia, já o chamado “mensalão mineiro” prescreveu. Aliás, o nome escolhido não foi “mensalão tucano”. Enfim, os próprios jornalistas que trabalham em reportagens e precisam sobreviver nesta imprensa sabem que seus patrões são parciais.
P. Quais as principais falhas dos governos do PT?
R. A maior foi a estratégia lulista. A da conciliação permanente. Ela foi útil para eleger Lula em 2002, mas ao contrário do que a direção petista acreditou, a reeleição de Lula se deu num ambiente de polarização social e política e a de Dilma Rousseff também. Lula fez um governo mais à esquerda depois da crise de 2005. No entanto, o lulismo adotou a tática de ser pragmático enquanto a oposição se tornou radical e ideológica. O outro erro foi a corrupção. Apesar da corrupção ser um ente do jogo político estabelecido e de eu achar injusto condenar o José Dirceu sem provas, ou só julgar empresários que doam ao PT e não a outros partidos, considero que foi um erro não ter sido radical numa reforma política que diminuísse a influência do poder econômico nas eleições. Hoje, isso é impossível. Mas quando Lula tinha altíssima popularidade era possível. É hipocrisia achar que uma empresa doa dinheiro a um partido por ideologia por isso teria que ser radical no ambiente exterior para ser também no interior. Não adianta punir seu tesoureiro se o modo de arrecadação continua o mesmo. Você o substitui e o próximo também vai para a cadeia. O PT poderia ter punido exemplarmente o seu tesoureiro Delúbio Soares, por exemplo. Eu o cito porque ele é réu confesso. Fez “caixa dois”. O PT o expulsou e, depois, o aceitou de volta. É um equívoco. Eu sei que não dá para exigir que líderes de esquerda sejam todos como o presidente [José] Mujica, mas precisam ao menos ter um comportamento público melhor do que os da direita. É sua obrigação. Não adianta dizer que todos fazem igual.
P. Quando surgiu o mensalão houve quem decretasse a morte do PT. O que não ocorreu. Mas quais os efeitos desse escândalo, na sua opinião?
R. Foi a maior crise da história do PT. Destruiu seu discurso sobre ética na política, que era forte nos anos 1990 e dirigido à própria classe média e abateu seus líderes históricos, exceto Lula. O PT só não acabou por causa de suas políticas públicas que lhe permitiram manter o apoio da classe trabalhadora.
P. Com a crise da Petrobras e a operação Lava Jato, reaparecem algumas pessoas que dizem acreditar no fim do PT. O PT caminha para seu leito de morte?
R. Em condições normais, o PT será superado quando surgir uma esquerda melhor do que ele. Ele representa uma opinião pública enraizada na sociedade civil, milhões de simpatizantes, movimentos sociais e a maior central sindical do Brasil. Como poderia acabar? Só uma ruptura institucional, como impeachment poderia derrubá-lo. O que pode acontecer no curto prazo é uma derrota eleitoral em 2016 e em 2018. Isto poderia fragmentá-lo e levá-lo a uma situação como a do PRD no México. Mas não seria um “fim”.
O PT montou seu governo sobre um pacto social-rentista que melhora a vida dos muito pobres e garante superlucros ao sistema financeiro
P. No mensalão, o partido não excluiu seu tesoureiro, ao contrário. Agora, no caso Petrobras, também não. Por que o PT não pune quem se envolve com corrupção?
R. O PT só pode ser eleitoralmente competitivo se arrecadar recursos como os demais partidos. Portanto, se ele pune um, a justiça condena o próximo. É uma situação sem saída. Para muitos antigos petistas é um absurdo você ver dirigentes outrora socialistas se corromperem. Mas também é absurdo eles serem punidos pelo que todos os demais políticos fazem. Só que esta não pode ser uma desculpa para o PT. Ele precisaria ser radical agora, mas não vai ser. Como eu disse antes, ele não foi radical quando tinha apoio social para isso. Por que seria agora? A ideologia do lulismo diz o contrário: ele só tinha apoio porque não era radical. Eu posso responder: então porque, agora, com um governo que faz tudo o que o grande capital quer, ele não tem apoio?
P. Por que há uma forte onda antipetista atualmente? O senhor acredita em um confronto entre classes?
R. O antipetismo sempre existiu, especialmente em São Paulo. Aumentou em 2006, quando as políticas sociais de Lula incomodaram a classe média tradicional. E agora por causa dos efeitos retardados da crise econômica mundial. Veja que nada tem a ver com corrupção. Esse é o discurso que justifica o antipetismo. No auge do mensalão, Lula foi reeleito. Só que agora, ao lado do antipetismo há a fragmentação da base social petista porque a presidenta fez um ajuste fiscal contra sua própria base, atacando direitos sociais e trabalhistas. O PT montou seu governo sobre um pacto social-rentista que melhora a vida dos muito pobres e garante superlucros ao sistema financeiro. A classe média não ganha nada com isso. Há uma base material para sua insatisfação associada ao seu histórico medo da aproximação com os pobres. Com a economia em recessão e com uma nova classe trabalhadora gerada pelo próprio PT, é difícil manter a melhoria contínua de direitos sociais. Ela também acaba se inclinando para o antipetismo.
P. Em outras situações, alguns líderes defenderam que o partido poderia não ser cabeça de chapa em uma eleição presidencial. Desde a redemocratização do país, isso não ocorreu até hoje. Isso é possível na próxima eleição?
R. Seria um erro do PT e acredito que seja difícil acontecer. Não há no Brasil algo como a concertacción no Chile. O Brasil não tem partidos historicamente estruturados e ideologicamente bem definidos. O PT é uma exceção. Na direita, o PSDB é o que mais se aproxima disso, mas jamais se aliaria ao PT.
P. A oposição tem chamado o PT de traidor do trabalhador. Essa discussão ocorre principalmente com a votação do pacote de ajuste fiscal. Por outro lado, os opositores, e boa parte da base governista, tem apoiado o projeto da terceirização. Quem, afinal, seriam os defensores e os inimigos dos trabalhadores?
R. A oposição é que não é (risos). O governo, de fato, cometeu estelionato eleitoral. A Dilma enganou as bases sociais do PT. É absurdo ela jogar a conta da crise no colo da classe trabalhadora. Tinha que fazer ajuste? Tinha. Então por que não taxar também as grandes fortunas e, especialmente, os bancos? Ela cometeu um erro que vai ficar na sua biografia. Será o Felipe González do PT. No PT o líder espanhol foi sempre visto como sinônimo de transformismo pelas alas mais à esquerda. O PT está numa situação difícil. Não pode apoiar essas medidas, mas não pode fazer oposição à presidenta.
O governo, de fato, cometeu estelionato eleitoral. A Dilma enganou as bases sociais do PT.
P. O PT é hoje um partido de líder único?
R. O PT teve que transferir a liderança de Lula para Dilma porque seus principais líderes foram derrubados pelos escândalos de 2005. Só que Dilma não é uma “petista histórica”, não tem base organizada no partido. Isso dificultou a substituição do Lula.
P. Por que há tantas correntes diferentes dentro do PT?
R. É o resultado de sua história. Desde a fundação o PT em 1980 admitiu a formação de correntes internas para se diferenciar do centralismo dos partidos comunistas. Mas na maior parte do tempo isso jamais inviabilizou a formação de uma maioria em torno do Lula.
P. Na sua opinião, Lula será candidato em 2018? Se não for ele, quem seria?
R. Difícil prever. Depende de como estará a avaliação do governo e do próprio Lula. Se ele estiver bem, será o candidato. Caso contrário vai apoiar outro nome. O PT tem ministros, governadores e até o prefeito de SP. Se ele for reeleito em 2016 se torna uma alternativa. Os que dizem que o PT será derrotado em 2018 tem só um wishful thinking (desejo). É até provável uma derrota petista, mas a oposição teria que ter um programa alternativo. E não tem.

(Publicado originalmente no El País)