pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

UFRN: O concurso de Ciência Política e a miséria do Homos Academicus


Por Alyson Freire e Carlos Eduardo Freitas
imagesOs concursos para a universidade transformam-se, muitas vezes, em profundas fontes de mal-estar institucional e pessoal. As realidades políticas de alguns departamentos convertem o que deveria ser um processo meritocrático de seleção em uma verdadeira guerra por quadros para aumentar fileiras e reforçar posições na correlação de forças departamentais. A entrada docente nas universidades é um verdadeiro campo de luta em que grupos de professores se debatem para determinar as condições e critérios de pertencimento e de hierarquia legítimos. Nesse sentido, cada aspecto do processo de seleção, dos pré-requisitos do edital, a formação da banca, a escolha dos temas até o sistema de critérios “implícitos” , constitui objeto de intensa disputa política em que projetos e visões de mundo se chocam, o que é, a priori, perfeitamente legítimo e salutar. Porém, em alguns casos, lamentavelmente, os projetos e visões dizem mais respeito às divergências pessoais e de poder do que a coisas de natureza acadêmica, institucional e teórica.
Sob a pressão de contextos altamente polarizados por razões extraintelectuais e inflacionado de rancores, em que as disputas internas de poder e vaidades sobrepujam ideais de convivência democrática e normas legais e meritocráticas, a fórmula de concurso em que o departamento controla quase que inteiramente os rumos do processo mostra-se, a nosso ver, bastante desgastada, problemática e predisposta à equívocos, violências institucionais, injustiças e a produção de mais tensão, animosidade e ressentimento entre professores e candidatos. Este é o caso no qual está imerso o concurso para Ciência Política da UFRN.
A atual fórmula de seleção controlada pelos Departamentos se esgotou em termos de sua legitimidade social e tem transformado a universidade em uma fábrica de rancores e adoecimento emocional. E, nesse sentido, conduz a imagem da própria universidade, uma instituição cuja profissão de fé é a exemplaridade, o amor ao saber e ao mérito, ao desgaste e à constante suspeita, arrastando também a honra e reputação de profissionais íntegros que se veem tragados por esse redemoinho de intrigas.
Rebaixando o que já está rebaixado
Por conta de “denúncias”, realizadas por um professor do Departamento de Ciências Sociais, o concurso para Ciência Política da UFRN tomou o rumo da polêmica. E na polêmica, como já havia dito o filósofo Michel Foucault, o que se desenrola não é uma ética da discussão orientada pela busca conjunta por uma verdade relevante e difícil, mas uma moral de extermínio do adversário. É exatamente isto o que expressam as postagens do dito professor.
Anexo9
Postagem que circula na internet com a denúncia do professor.
Denúncias, aliás, repleta de conteúdos xenófobos, racistas e que visam o assassinato da reputação alheia em que, de maneira precipitada antes do fim do certame, a integridade pessoal de profissionais é colocada em xeque e manchada com insultos baixos e mesquinhos por conta de supostos privilégios a determinados candidatos. Tal não se coaduna com o comportamento esperado e digno de qualquer docente, e que, em certa medida, ilustra porque o curso de Ciências Sociais da UFRN, seja sua graduação ou pós, encontra-se tão mal avaliado por estudantes e por institutos de avaliação – como esperar equilíbrio e excelência de um programa de pós-graduação se o seu próprio coordenador age com desequilíbrio e distribui ofensas contra os seus pares?  Na arte de viver (e na morada do saber), não há nobreza em quem não governa a si mesmo! Sob o espírito da polêmica e do ressentimento não existe crítica honesta. As “denúncias” do professor personalizam, atacando a honra e dignidade pessoal de maneira generalizante e inadvertida toda banca, um problema que é, na verdade, estrutural e sistêmico, qual seja: o dispositivo de seleção e a natureza das relações entre os professores.
Se há dúvidas sobre a lisura do processo, que os interessados judicializem o certame, apresentando as devidas provas legais. As ofensas e agressões realizadas, por sua vez, devem ser duramente condenadas, inclusive, a UFRN não deve permanecer neutra diante das acusações e seu conteúdo discriminatório, um vexame em se tratando de um profissional de Ciências Sociais.
A nosso ver, a crítica que deve ser realizada contra este concurso, além da destacada acima, deve se centrar em dois pontos principais: primeiro, nos critérios de composição da banca e no espectro restrito de temas escolhidos para avaliar o desempenho dos candidatos nas provas. No concurso em questão, não tivemos espelhado a diversidade teórica e metodológica da Ciência Política nem na formação da banca nem nos temas. Por que os professores do DCS não priorizaram o pluralismo teórico? Este, certamente, é um ponto sobre o qual se deve insistir e questionar porque a universidade, especialmente no âmbito das Ciências Sociais, notadamente um campo de saber multiparadigmático, deve se pautar pelo pluralismo e diversidade do pensamento – o expediente de convidar membros externos serve exatamente para garantir isso, e, como podemos ver na banca em questão, tal não foi feito.
No entanto, o monismo teórico ou a predileção por determinadas correntes de pensamento não constituem crimes nem, muito menos, permite ilações sobre o caráter das pessoas. Em outras palavras, abraçar uma corrente teórica e política não é sinônimo de desonestidade intelectual, que faria, inevitavelmente, seus autores, privilegiar candidatos alinhados a sua linha teórica ou ideológica. O próprio resultado final do concurso mostra, em franca contradição às acusações apressadas, que a banca seguiu critérios de desempenho na escolha dos candidatos aprovados. O problema está na suspeita e dúvida que tal monismo levanta e nas vantagens de partidas que candidatos com maior afinidade teórica irão ter na prova escrita. Nada disso impediu que se deflagrasse o “escândalo” e o mal-estar presente, porque as causas são mais profundas e as forças em questão ultrapassam a integridade e as intenções dos indivíduos. Estamos falando de um problema histórico e estrutural por conta das relações estabelecidas e dos dispositivos de seleção instituídos.
Segundo, e mais importante, a crítica deve ser dirigida ao papel que o acirramento das disputas políticas e pessoais nos departamentos tem produzido em termos de consequências sobre a vida acadêmica e sobre os processos que constituem a razão de ser desta – o Departamento de Ciências Sociais da UFRN é um flagrante e triste exemplo do estrago que o acirramento e a disputa incondicional pode produzir, mesmo com a presença e atuação de alguns professores íntegros, vocacionados e compromissados. Esse contexto anômico de relações esgarçadas de desavenças, rancores e luta por poder atravessa praticamente todo processo do concurso em menção, e é em função dele que o comportamento dos atores e as consequências que estamos assistindo ganham sentido, prejudicando até aqueles que se pautaram ética e legalmente na condução do certame. A esfera do debate qualificado sobre a vida acadêmica e o tipo de cultura científica e curso que se almejam fomentar acaba sendo submergida pela cena das acusações e guerras de boatos dos “corredores” e das redes sociais facebookeanas, as quais, aliás, servem apenas para alimentar blogs de abutres sensacionalistas, que publicou informações falsas “confundindo” currículos de candidatos, ou o vitimismo cínico dos concurseiros interessados. Este triste episódio deve servir para universidade e sua comunidade repensar suas relações e seus dispositivos de seleção.
Proposições futuras ou como a universidade pode cultivar o cuidado de si
Diante de tal quadro, urge revisar os dispositivos de seleção para a Academia. Defendemos o fim do monopólio departamental sobre o processo de seleção ou que o poder dos professores internos seja minimizado. Os concursos deveriam ficar à cargo de uma Fundação especializada e independente, seguindo o modelo de instituições como o Judiciário e a Polícia Federal. Esta Fundação ou OS, com efeito, teria, em tese, maior autonomia e distância em face das disputas internas dos departamentos, de modo que a escolha dos membros da banca – composta por quatro nomes sendo três externos e um interno ao departamento em questão – seria de responsabilidade da Fundação que teria em seu banco cadastro de diversos docentes e pesquisadores os quais seriam escolhidos mediante critérios meritocráticos, impessoais e plurais. A própria Fundação poderia exigir dos professores e pesquisadores cadastrados que formulassem questões diversas as quais poderiam ser utilizadas e adaptadas em vários concursos. A banca, por sua vez, teria a liberdade de formular e acrescentar novas questões discursivas para a prova escrita. Sendo ela responsável também, acrescida da presença de um pedagogo, pela avaliação da prova didática.
Evidentemente, esta fórmula não elimina por completo a força dos interesses políticos e subjetivos. No entanto, acreditamos que tornam o seu peso e interferência bem menores. Resulta urgente e cristalino o fato de que a universidade deve rever seus dispositivos de seleção, pois muitos departamentos não conseguem se governar devido as suas próprias desavenças e disputas internas. Em meio às lutas por poder e crenças de prestígio, todos os envolvidos com a vida universitária acabam sendo prejudicados em algum grau. A atual fórmula não é necessariamente viciada e corrupta, mas é extremamente vulnerável e frágil, e, seus resultados nos mais diversos cantos do país, provam sua fragilidade e o quanto ela tem ocasionado mal-estar, fazendo com que os concursos passem a ser cada vez mais judicializados.
Os departamentos tem fracassado sistematicamente em sua autogestão dos processos seletivos. E sua miséria organizacional e ética é a causa principal disso. É preciso enfrentar e promover este debate pelo próprio bem da universidade e de seu papel pedagógico e formador. A autonomia universitária não deve servir de caução ideológico e livre passe para se manipular e decidir, conforme a correlação de forças e interesses estranhos ao concurso e aos candidatos, o futuro, os projetos de vida e o valor das pessoas. O modelo fracassou. É o momento de pensar outro modelo em que o controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral não dependa de maneira tão absoluta das dinâmicas de poder dos departamentos. Dito de outro modo, os instrumentos de seleção docente não podem ser instrumentos e armas de poder para angariar e agraciar candidatos que assegurem a reprodução de grupelhos políticos e teóricos. A universidade não é uma sociedade de corte, portanto, é preciso eliminar os resquícios que a fazem parecer como tal.
Nesse sentido, para preservar a própria legitimidade da universidade e a ideia civilizatória que ela encarna, devemos ser realistas e críticos em relação às práticas acadêmicas vigentes, e, desse modo, reconhecer que elas tem contribuído para a deslegitimação da universidade e seus princípios éticos. Portanto, desde já, agir para prevenir a injustiça, a violência e garantir a lei, a equidade e o mérito.

(Postado originalmente por Carta Potiguar)

Crônicas do cotidiano: Arraes dá uma aula de política a Manuel Correia de Andrade.


José Luiz Gomes


Ainda quando dirigia o CEHIBRA/FUNDAJ, o geógrafo Manuel Correia de Andrade nos recebeu para uma longa entrevista. Era uma manhã chuvosa, de uma Terça-Feira, no bairro de Apipucos, aqui no Recife. Uma mesa de móvel antigo, empilhada de livros, e ele sempre escrevendo, um ofício a que se dedicava com uma disciplina invejável. A condição de geógrafo e historiador facultava a Manuel Correia de Andrade escrever sobre determinado assuntos com um conhecimento de causa assombroso. Ao falar sobre a vegetação de restinga de Mossoró(RN) ou mesmo sobre os cactos que crescem encravados nas rochas da Serra das Russas(PE), por exemplo, descrevia o ambiente como um nativo da região. Esse era um dos aspectos que mais nos aproximavam dos seus livros.

Não é tarefa das mais simples esquadrinhar as pessoas ideologicamente, mas talvez não estaremos cometendo algum equívoco se o identificássemos como uma pessoa de centro-esquerda. Sempre foi ligado ao (P)MDB, embora mantivesse o diálogo e transigisse com setores mais conservadores do espectro político. Como política é a arte do possível, foi esse trânsito que permitiu sua intercessão no sentido de que os microfones da Fundação Joaquim Nabuco fossem devolvidos ao professor Michel Zaidan Filho. 

A entrevista abordou várias questões relativas ao cenário político em Pernambuco, na década de 80. Um "mote" e aquela figura simpática ia desdobrando os assuntos, entremeando outros tantos, sem, contudo, perder o fio da meada. Mais do que uma entrevista, tornou-se um papo agravável sobre o idealismo petista da década de 80. Experiente, ele já antevia os rumos que o partido tomaria num futuro próximo. Manuel Correia de Andrade deixou dezenas de livros escritos, alguns clássicos, como A Terra e o Homem no Nordeste, escrito a pedido de Caio Prado Júnior.

Suas reflexões sobre os problemas fundiários da região Nordeste levaram o então governador Miguel Arraes a convidá-lo para integrar o seu governo. Arraes lia os seus livros e o convidou ao Palácio do Campo das Princesas para colaborar com a sua gestão. Essa talvez tenha sido uma das primeiras experiências administrativas do professor Manuel Correia de Andrade. Confessou que não se sentiu muito entusiasmado com o convite formulado pelo Dr. Arraes, sobretudo em razão da inexperiência em lidar com a classe política. Na primeira conversa entre ambos, fez questão de externar isso para ele. 

Depois de pigarrear e coçar o queijo - um velho hábito das raposas políticas - Arraes o convenceu, dizendo apenas o seguinte: Quando os políticos se dirigirem à sua sala e você precisar negar algum pleito, negue, mas ofereça um cafezinho.





Tijolinho do Jolugue: Dilma deverá entregar Ministério da Saúde ao PMDB. Que tragédia!


 



A presidente Dilma Rousseff está mesmo propensa, dentro da reforma ministerial que se aproxima, a entregar o Ministério da Saúde ao PMDB. Eles estão festejando como moscas varejeiras em carne de porco em estado de decomposição. Não vejo analogia melhor para descrever o atual cenário político de Brasília. Pelo andar da carruagem política, este talvez seja mesmo um dos últimos cartuchos da presidente Dilma para tentar salvar o seu  mandato que, embora constitucionalmente legítimo, sofre uma assédio sem precedentes. 

Mesmo sem um fundamental amparo jurídico, as urdiduras no sentido de retirá-la do poder continuam a todo vapor. Seus algozes haviam dado uma trégua, mas, logo em seguida, voltaram à carga com toda força. As margens de manobra da presidente Dilma diminuem sensivelmente. Enquanto o PMDB festeja a possibilidade de comandarem um ministério como o Ministério da Saúde, seus operadores, nas coxias, obtém o apoio do PSB na eventualidade de um pedido de impeachment. As condições não são nada favoráveis e há pouco tempo para uma reação suficiente para abortar essas investidas.

O PMDB é aquele partido que, como se dizia nos gibis de antigamente, é capaz de tirar doces de criancinhas. Entregar uma pasta ao comando do partido é um salvo conduto ou uma concessão para aquilo que conhecemos muito bem. Mesmo nesses tempos de vacas magras, ainda são polpudas as verbas destinadas àquele ministério. Meu Deus! Aonde chegaremos, dona Dilma Rousseff? 

A charge que ilustra essa postagem é do Renato Aroeira.

Tijolinho do Jolugue: PSB apoia o golpe contra Dilma. Qual a surpresa?




Não entendo porque algumas pessoas ainda se surpreenderam com a atitude dos dirigentes do PSB no sentido de apoiarem um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Outro dia escrevíamos uma postagem perguntando o que atores políticos como Roberto Amaral e Luíza Erundina ainda faziam nessa agremiação política, hoje bastante descaracterizada em termos de alinhamento ideológico com o campo de esquerda. Em seu projeto de tornar-se presidente da República, o ex-governador Eduardo Campos foi o grande responsável pela decomposição ideológica da legenda. Basta observamos o cenário político pernambucano de hoje para compreendermos isso.

Aqui ele "juntou" atores políticos de um quadrante ideológico ao outro. Desde alunos aplicados, da primeira fila do macielismo - da fina flor do tradicionalismo oligárquico do Estado - até aos "comunistas" do PCdoB. O comando da Secretaria de Cultura do Estado traduz um bom exemplo do que estamos falando. As alianças políticas entre o PSB e o PSDB, em vários Estados da Federação, ocorrem desde tempos remotos. Em certos contextos, as conversas com setores do PMDB também prosperam bastante, como é o caso de Pernambuco. De forma que seria pouco provável que eles seguissem a orientação do princípio da legalidade, do respeito constitucional a um mandato obtido com a vitória nas urnas, dentro dos parâmetros e uma democracia representativa. 

Isso apenas seria possível na época em que um homem com a estatura política do Dr. Miguel Arraes comandava a legenda. Vão longe aqueles tempos em que o filósofo Walteir Silva dirigia o partido no Estado. Quando Lula se sentiu "acossado" pelos urubus voando de costa, na época em que explodiu o escândalo do Mensalão, Arraes foi uma das principais vozes políticas a emprestar solidariedade ao presidente. Grato, quando o neto Eduardo Campos assumiu o Governo do Estado, não faltou apoio do Planalto à sua gestão. 25% dos recursos do PAC foram destinados ao Estado de Pernambuco. 

O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Comunistas calmos e tucanos em polvorosa.




O Ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, do PCdoB, segundo se comenta em Brasília, pode se tornar um soldado da linha de frente, no sentido de viabilizar politicamente a sobrevivência do mandato da presidente Dilma Rousseff. Poderia fazer uma dobradinha com Gilberto Kassab, segundo dizem, um hábil articulador político. Seria o time dos sonhos do ex-presidente Lula, que esteve recentemente com Dilma Rousseff tratando dessas questões. Em declarações pelos jornais, o ministro Rabelo já mandou o seu recado: a presidente Dilma teria subestimado a política, daí o agravamento da crise. Já comentamos aqui, em outras ocasiões, que essas lideranças do PCdoB têm se orientado por um pragmatismo político capaz de fazer corar o mais renhido direitista. 

A "conversão" dessa gente é algo surpreendente. Aqui pela província, passamos a ficar muito atento às declarações do vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, acerca do posicionamento da legenda em torno das próximas eleições municipais. O PCdoB do Recife faz dobradinha no Palácio Antonio Farias com o PSB. Todos sabem que a relação entre os dois partidos já passou daquela fase do só vou se você for. Uma das possíveis razões dessas animosidades poderia ser a postulação da candidatura do irmão do ex-governador, Antônio Campos(PSB), à prefeitura de Olinda, nas próximas eleições municipais. Na época de Eduardo Campos, Olinda sempre foi respeitada como um território dos "comunistas". Noutros tempos, se estivéssemos na década de 60, poderia ser chamada de uma "Moscouzinho". 

Indagado a respeito dos reflexos dessa candidatura sobre a relação que o partido mantém com os socialistas no Recife, Luciano Siqueira informou que não via como a postulação de Antonio Campos, em Olinda, poderia trazer alguns problemas em termos da composição das duas legendas no Recife. Independentemente disso, PCdoB e PSB, poderiam caminhar juntos no Recife. Em Olinda dá-se como certa uma nova candidatura de Luciana Santos(PCdoB). A despeito do desgaste de uma gestão de 16 anos na Marim dos Caetés, os comunistas não desejam abandonar a sua bastilha. Não será uma eleição fácil para ninguém. A disputa, mais uma vez, promete bastante. Há quem especule sobre a possibilidade de o PT, finalmente, sair em raia própria e lançar o nome da deputada estadual Teresa Leitão. Ainda no plano das possibilidades. 

Pragmaticamente, só posso entender essa declaração de Luciano Siqueira no seguinte contexto: ele acredita numa possibilidade concreta de continuar como inquilino do Palácio Antonio Farias, na condição de vice do prefeito Geraldo Júlio, mantendo a aliança PCdoB/PSB. Nessa perspectiva, para Luciano, a reeleição de Geraldo Júlio é algo ainda que se encontra no plano de uma viabilidade. Já em Olinda, penso, ele deve supor que a candidatura do escritor Antonio Campos não passará da fase das preliminares. Não teria possibilidades de lograr êxito, seria apenas para tentar introduzir o irmão do ex-governador no cenário político-eleitoral. Uma candidatura olímpica, incapaz de causar algum dano aos planos dos comunistas em Olinda. 

Ideologia? que Ideologia? trata-se apenas de uma questão de conveniência e análise da correlação de forças em jogo.Simples assim. Durante esta semana, neste tabuleiro político, os responsáveis pelas mexidas mais significativas talvez tenha sido mesmo os tucanos. Através de uma nota, o partido determinou aos seus membros que ocupam cargos comissionados na gestão de Geraldo Júlio que desembarcassem da nau socialista. Pelo que sabemos, até o momento, a Secretária de Combate ao Crack e Outras Drogas, vereadora Aline Mariano(PSDB), ainda não se desligou do secretariado de Geraldo Júlio. Os tucanos parecem mesmo dispostos a concorrerem em raia própria às eleições de 2016. Há uma Resolução da legenda no sentido de lançamento de candidaturas próprias em cidades com mais de 200 mil habitantes. 

A questão maior talvez seja mesmo como se chegar a um consenso sobre esses nomes, uma vez que o ninho está muito embolado em algumas praças, inclusive no Recife. Também nesta semana, o ex-governador e ex-prefeito Joaquim Francisco desligou-se do PSB e, segundo se informa, seu destino será mesmo o PSDB. Comenta-se que Joaquim pretende disputar as próximas eleições municipais do Recife. Não sei se isso já teria sido combinado com o deputado estadual Daniel Coelho, que advoga para si a prevalência da postulação. Na ribalta há um longo tempo - observando a água bater nas pedras e decifrando a mensagem das espumas - Joaquim não faria tal movimento se não o calculasse bem. Raposas políticas dão o bote no momento certo. 

É esperar para ver como eles irão se arrumar no ninho. Os socialistas não apostavam muito na possibilidade de uma candidatura própria dos tucanos, uma vez que eles integravam a base de apoio do prefeito Geraldo Júlio, apesar da oposição de algumas dessas aves na Casa de José Mariano. Hoje, entre os socialistas, o quadro é bem mais complexo do que em outras épocas. Quando ainda eram vivos, os caciques Sérgio Guerra e Eduardo Campos contornavam as divergências no centro e na periferia. Soldavam as alianças independentemente dos amuos pontuais. Eduardo Campos escalou dois técnicos para gerirem os destinos do Recife e do Governo do Estado e o meio de campo político ficou bastante comprometido. Esse "vácuo" político será motivo de muitas disputas daqui para frente. As raposas estão assanhadas. Dentro e fora das hostes socialistas.

Aproveito o artigo semanal para lamentar a postura do vereador André Régis(PSDB), que pediu vistas de uma proposta de moção de desagravo em relação ao processo movido pelo governador Paulo Câmara contra o professor titular da UFPE, Michel Zaidan Filho, encaminhado pela vereadora Marília Arraes. Doutor em direito, André argumentou que era preciso ouvir a outra parte, no contexto do direito ao contraditório. É curioso que um ator político que exerce a função de vereador na Casa de José Mariano demonstre tanta desinformação sobre o cenário político pernambucano. Ele já deveria saber que, aqui na província, os governantes de turno respondem às críticas com difamações, políticas de erosão de imagem, práticas persecutórias, perseguições, processos e "vias de fato", como se diz lá pelas terras dos menestréis. Contratam áulicos para destratarem seus críticos nos jornais, tarefa que talvez devesse ser exercida por ouvidores independentes, movidos pelo espírito democrático e republicano. Penso que o cidadão André Régis precisaria melhorar os seus argumentos.  

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Michel Zaidan Silva: O julgamento do mito





 
Nos idos dos anos 90 do século passado, quando ainda era coordenador da Pós-graduação de Ciência Política, o hoje vereador André Régis (PSDB) foi nosso aluno de Mestrado. Depois, tive o prazer de participar da banca examinadora de seu doutorado em Direito, na Universidade Federal de Pernambuco. Voltei a encontrá-lo quando de seu retorno dos EUA, nas andanças de entrevistas e debates políticos nas emissoras de TV aqui em Pernambuco. Nessa época, Régis era muito próximo ao deputado (menudo) Bruno Araujo (PSDB), que às vezes convidava para os nossos debates na Universidade Federal. Já era uma pessoa de centro-direita, sempre crítico da política e do pensamento de esquerda. Mas sempre me teve muita consideração. 

Foi exatamente durante este período, que ele escreveu o artigo, publicado no Jornal do Comércio, sobre a trajetória política de Miguel Arraes, vaticinando como seria conhecida pela posteridade a biografia do ex-governador. Foi também a época do escândalo dos precatórios que arrastou não só o nome do velho chefe político, mas também o do neto, apontado como principal responsável pela operação intermediada pelo ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta.
 
Do que mais me lembro era a atitude acrimoniosa de André em relação ao clã da família Arraes, contraposta à política da Frente por Pernambuco, liderada pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos. De um lado, o atraso. Do outro, a modernidade. De um lado, a oligarquia atrasada; do outro o perfil gerencial, competente para tirar o Estado do isolamento e da decadência econômica. Quando disse ao meu antigo aluno - retornado dos EUA, que o seu candidato moderno estava me processando por críticas à sua gestão, ele se horrorizou e disse: "isso não é possível", é uma demonstração de autoritarismo insuportável. Voltei a participar de outros debates com Régis e ele sempre manifestou suas críticas ao grupo político de Arraes, pelo menos até a última eleição, quando o PSDB aliou-se ao PSB e foi comer na mão da oligarquia tão criticada. Na época, me perguntava como iria se comportar o já vereador tucano, amigo do deputado Bruno Araujo, assim como Priscila Krause, Mendocinha e outros.
 
Qual não foi minha surpresa quando li no Blog do Jamildo que a proposta de moção de desagravo apresentada pela vereadora Marília Arraes (PSB) tinha sido questionada por André Régis, em nome do "contraditório", de "ouvir o outro lado"! Ora, se essa atitude não é uma mera atitude de proteger o senhor governador das críticas (que o vereador fazia antes ao grupo político de Arraes) é de uma incoerência moral e política a toda prova. 

Quem precisa de proteger a liberdade de expressão e de crítica aos políticos em Pernambuco, por não concordar com a sua calamitosa gestão, é a Justiça, os operadores do Direito, a imprensa (não calada), os partidos democráticos (que não comem na mão do governador), e os políticos que têm um pingo de vergonha, os que não vão mudar de opinião ou de princípios porque o seu partido se tornou aliado do Poder que tanto nos infelicita.Lamento muito que o parlamentar que tinha tudo para ser diferente dos políticos fisiológicos, clientelistas ou transformistas, como o senhor Raul Jungmann, tenha cedido à tentação de agradar, ajudar, contribuir para o silenciamento da crítica em nosso Estado.
 
Quer ele saber os motivos da atitude autoritária e intolerante do senhor Paulo Saraiva Câmara, basta ler os artigos publicados nesse mesmo blog sobre os malfeitos, a situação falimentar da administração pública (no IML, nas escola públicas, nas UPAS, na segurança pública, nos imensos buracos), as denúncias da Polícia Federal sobre a construção da malfadada Arena Pernambuco. Quem sabe, ele volta a ser o crítico dessa oligarquia política em nosso Estado.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

Michel Zaidan Filho: A conjuntura política, hoje, no Brasil

 
 
 
 
 
Os meus leitores pedem que se faça uma análise de conjuntura no Brasil, hoje. Pois bem: a primeira coisa é definir o que é uma “conjuntura”. Conjuntura é uma atualização da estrutura. Ou seja, o momento atual do estrutura, como a estrutura se apresenta num dado momento. A conjuntura não tem autonomia absoluta em relação à estrutura, que continua sendo determinante para se entender a lógica dos acontecimentos políticos e econômicos. A margem de manobra dos atores, na esfera da conjuntura, é relativa. Ou seja, ela determinada pelas limitações da estrutura. Achar que essa margem é ilimitada e que os atores podem fazer o quer quiser é incorrer numa espécie de voluntarismo e suas consequências práticas no campo social e político.

Como atualização da estrutura, a conjuntura apresenta sempre algo novo, diferente. Isto porque a correlação de forças e interesses no tabuleiro político varia. Quando a política de alianças sofre uma mudança, a sociedade experimenta uma sensação de turbulência, de insegurança ou crise. As conjunturas são determinadas, em primeira instância, pelas alianças políticas em jogo. No regime presidencialista a mudança, a variação dessas alianças tem um impacto imediato sobre as instituições políticas, que não gozam de nenhum sistema amortecedor ou para-choques, como no regime parlamentarista. Podemos dizer então que o nosso modelo político (presidencialista imperial) é um modelo altamente suscetível à crise. Basta haver uma mudança brusca do sistema de alianças, e o Poder Executivo se sentir isolado ou incapaz de aprovar no Congresso sua agenda legislativa. Ou o congresso se colocar contra a agenda do Poder Executivo.

O regime multipartidário que nós temos (32 legendas e outras tantas em formação) também não ajuda muito. A atual legislatura é composta de 28 partidos, com 75 parlamentares evangélicos, que obedecem à ordens de suas Igrejas, somando os parlamentares das bancadas do Boi (os ruralistas) e da Bala.(Indício de uma grave crise de representação parlamentar evidenciada pelos movimentodas ruas, em 2013). A presidência da República possui uma base instável e volátil que não chega a 200 votos na Câmara dos deputados (o que leva o detentor do cargo a empregar meios – não necessariamente republicanos - para assegurar o apoio de legendas e partidos fisiológicos – verbas, cargos e obras- para ter governabilidade) Três legendas Te, sido são particularmente infiéis ao governo: PTB, PROS, PP. Sendo que o PMDB é uma partido dividido e em vias de desembarque da coligação dominante, em função de seus próprios interesses políticos. E o PT tem apresentado muitas restrições aos pacotes de ajuste fiscal, aumento de impostos, corte ou redução de direitos dos trabalhadores e aposentados.

A Presidente Dilma, em razão das políticas anticíclicas do primeiro mandato, baseadas na redução de impostos, o crédito subsidiado, administração do preço das tarifas públicas, no endividamento do setor público, no estímulo à demanda interna, num ambiente de crise internacional e queda do preço das comodities, foi obrigada a adotar uma política contracionista (pró-cíclica) em relação à economia. Tendo que enfrentar um déficit nas contas públicas muito grande, que a impede de cumprir a meta do superávit primário, que ajude a pagar os juros da explosiva dívida pública (37% do PIB), que custa o serviço de 17% do orçamento da União e é remunerada por uma taxa de juros de 15% + taxa de indenização, foi obrigada a assumir uma agenda que não é a sua, nem da campanha eleitoral, nem do seu partido, nem da sua base. Corte nos gastos públicos, reforma da Previdência, congelamento de salários, aumento de impostos, redução de benefícios e direitos, esta agenda pertence aos adversários (do fundamentalismo fiscal), que produz desemprego, queda do salário real, queda da arrecadação, retração das atividades econômicas, altas taxas de juro, recessão e aumento de impostos. Onde os principais beneficiados são os agentes do mercado financeiro, sobretudo os portadores de títulos da dívida pública interna e os exportadores ligados ao agronegócio, por causa da desvalorização do real e o aumento do dólar.

A crise externa ajuda a piorar este cenário. O Mercosul está em fogo morto, com crise em vários desses países. A china desacelerou sua economia e desvalorizou o yuan. E para piorar, o Banco central americano cogita aumentar as taxas de juros, provocando uma revoada dos investimentos para os títulos do tesouro americano.

É inegável que a crise política, com a desagregação da base de apoio ao governo aumenta o potencial de negatividade da crise econômica, levantando dúvidas nos agentes econômicos sobre a capacidade do governo honrar compromissos e pagar dívidas. Há um círculo vicioso entre a crise política e a crise econômica. Ambas se alimentam mutuamente. Há quem defenda que a Presidente deveria retomar no meio da crise as políticas anticíclicas de estimulo às atividades econômicas do país. Como se diz: se é para cair, tem de cair em pé, fazendo a política própria do partido, sem frustrar mais ainda suas bases. Outros, chantageiam. Embora não sejam apoiadores do governo, querem que ele se mantenha para fazer a política favorável aos seus interesses. E há aqueles que torcem abertamente pelo “quanto pior, pior”. Ou seja, querem o impedimento, a renúncia ou o afastamento da Presidenta. Mas não há unidade entre estes. Nem mesmo no maior partido da Oposição.

Esse cenário também se caracteriza pelo avanço da judicialização do Política, quando os juízes federais tomam a cena e se tornam os fiéis da balança; e os movimentos sociais se dividem entre a conspiração e o golpe, assumindo posições filofascista e os que emprestam um apoio crítico ao governo, mesmo discordando da agenda econômica da Presidenta.

Diferentemente das crises econômicas que são cíclicas: têm começo, meio e fim, a crise política depende do florescimento de um novo grupo, uma na hegemonia para passar. A sensação que se tem é que há um esgotamento de um ciclo econômico e um ciclo político no Brasil. Mas ainda não apareceram indícios da emergência ou formação de um novo ciclo.
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Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Crônicas do cotidiano: As mãos de Paulo Freire.



José Luiz Gomes


Paulo Freire é um educador pernambucano, do país de Casa Amarela. Suas atividades profissionais começaram ali no SESC daquele bairro do Recife. Escrevemos vários textos sobre Paulo Freire, mas confesso que, ao lê-los, hoje, não mais nos sentimos à vontade em republicá-los, por inúmeras razões. Ora porque eles já não traduzem a atualidade do pensamento do educador pernambucano, ora porque, como tudo que escrevemos, estão impregnados de impressões pessoais, como as nossas reações à leitura dos seus livros mais importantes, assim como a impressão que Paulo nos passou naquela aula de encerramento dos alunos do curso de alfabetização de adultos, da Usina Catende.

Mas, como circulamos muito pelo bairro de Casa Amarela, as lembranças são inevitáveis. Outro dia, através das redes sociais, ficamos sabendo que a casa onde o educador residiu em Jaboatão dos Guararapes será transformada num centro cultural. Até bem pouco tempo, estava abandonada pelo poder público.  Não sabemos qual foi o destino dado à sua residência de Casa Amarela. Um dos aspectos que mais nos instigam em Paulo Freire é o seu papel de agitador cultural no Movimento de Cultura Popular, criado pelo prefeito Miguel Arraes, lá pelos idos da década de 60. Não raro relemos o Memorial do MCP apenas para recordar "daqueles tempos". Havia até um livro sobre "educação de adultos", elaborado por duas professores militantes do MCP. Por alguma razão, Paulo não gostava do livro.

Escrevendo uma postagem aqui no blog, sobre a suposta condição de fundador do PT atribuída a Hélio Bicudo, tese não confirmada. Eis que encontro a assinatura de Paulo Freire na histórica reunião do Colégio Sion, em 10 de fevereiro de 1980. Quando assumiu a prefeitura de São Paulo, ainda filiada ao PT, Luíza Erundina entregou a Paulo Freire a secretaria de educação do município. Há muitas historietas sobre Paulo. Numa delas se afirma que ele abandonou uma dessas reuniões chatas e improdutivas de trabalho para pegar um cineminha com a esposa. Nessas historietas, há sempre um toque de bom humor e bastante de sua sensibilidade, o que o tornaria um dos mais respeitados pensadores do campo da pedagogia. Aliás, essas experiências pessoais foram fundamentais para estruturar suas reflexões sobre o ato de educar. A questão do diálogo, por exemplo, tão presente em seus ensaios, foi o resultado, segundo ele afirmou, de uma longa conversa mantida com um operário - noite a dentro - numa localidade de Jaboatão dos Guararapes. 

Conta Paulo Freire que enfrentou duas situações, aparentemente constrangedora, quando esteve no Chile e na África. No Chile parece não haver problemas no fato de dois homens se darem as mãos e, na África, durante um passeio pelo campus de uma universidade, depois de uma conferência, viu-se diante de um embaraço. Um professor segurou as suas mãos enquanto ambos passeavam pelo campus. "Pedi a Deus para que alguém de Casa Amarela não nos visse naquela situação". Na primeira oportunidade, colocou as mãos no bolso, de onde não mais as tirou. 

Eis que antes de voltar ao Brasil, Paulo adoece, possivelmente vitimado por alguma dessas doenças tropicais. Humanamente muito bem tratado pelos médicos e enfermeiras africanos, que não se cansavam de pegar em suas mãos, acariciá-las e desejar-lhes melhoras. Conta. Depois disso, relata, em suas reflexões, concluiu que deveria haver alguma coisa de errado numa sociedade onde as pessoas se recusavam a receber uma manifestação de carinho, traduzida num caloroso aperto de mão, num abraço fraterno ou, brasileirissimamente, um tapinha nas costas.


P.S: A leitura dessa crônica contrasta radicalmente com o clima de intolerância, agressividades e preconceitos que estamos vivendo hoje no Brasil. No último domingo, jovens de classe média agrediram adolescentes negros que se dirigiam às praias da zona sul carioca. Em viagem por Salvador, João Pedro Stédile, uma das principais lideranças do MST, foi vítima de hostilidades.

Tijolinho do Jolugue: Marília Arraes propõe moção de desagravo em favor de Michel Zaidan


 
 
Hoje ficamos sabendo, aqui pelas redes sociais, que a vereadora Marília Arraes, representante do PSB na Casa de José Mariano, propôs uma moção de desagravo em relação ao processo movido pelo governador do Estado, Paulo Câmara, contra o cientista político e professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, Michel Zaidan Filho. A res publica aqui no Estado parece que tem donos e eles não aceitam serem contrariados em seus interesses. O professor Michel Zaidan não está sozinho em sua cruzada pelo direito de exercer sua cidadania, externar sua opinião, apontar possíveis equívocos na condução da coisa pública. Conta com solidariedade dos familiares, dos amigos, de uma legião de ex-alun@s e admiradores. 

Creio ser essa a primeira iniciativa institucional no sentido de se contrapor a essas atitudes de criminalizar a liberdade de expressão aqui em Pernambuco. Nós aqui do blog, gostaríamos muito de parabenizar a iniciativa da vereadora Marília Arraes, torcendo que a mesma conte com apoio da maioria dos vereadores daquela Casa - seja de situação ou oposição - e que iniciativas como estas possam surgir de outras instituições, como a OAB, a AIP, movimentos sociais e sindicais, entidades de pesquisa e ensino, UFPE, partidos políticos. No momento, registramos apenas uma nota de repúdio do Movimento de Base do PT, publicada aqui no blog. 

Tijolinho do Jolugue: Saída de Luciano Cartaxo do PT revelam os estertores da política paraibana.

 


Às vezes, uma mexidinha no tabuleiro político constitui-se em fatos dos mais elucidativos para entendermos o que, de concreto, está em jogo em algumas quadras. Recentemente, o prefeito de João Pessoa, do PT, Luciano Cartaxo, deixou o partido para filiar-se ao PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, um hábil articulador político. Tão hábil que a presidente Dilma Rousseff espera contar com o seu concurso para ver se salva o seu pescoço de um impeachment. A eleição de Cartaxo se deu numa quadra bastante inusitada. Luciano Agra, que era ligado ao governador Ricardo Coutinho, vinha fazendo uma excelente gestão. Pleiteava ser indicado pelo PSB, como candidato à reeleição, com o apoio de Ricardo. 

Mas Ricardo tinha outros planos. Apoiar a reeleição de Agra, praticamente certa, seria credenciá-lo ao Palácio da Redenção num futuro próximo. Agra morreu no ano passado, mas, quem sabe, se ainda estivesse movido pelo combustível do poder talvez ainda estivesse vivo. Com o apoio de Agra, Luciano Cartaxo infligiu uma derrota acachapante a Estelizabel Bezerra, a candidata indicada pelo governador Ricardo Coutinho. Apesar da experiência, Ricardo imagina que eleição era algum concurso de bumbum. A atitude de Cartaxo, naturalmente, foi muito mal recebida pelos companheiros do partido, cuja militância deu o sangue por sua eleição. A maioria dos companheiros entregaram os cargos na Prefeitura de João Pessoa.

Nós, que acompanhamos de perto aquele processo, podemos, de fato, afirmar que a militância petista fez a grande diferença naquelas eleições. Possivelmente em nome do interesse público e da origem de ambos - Ricardo Coutinho antes de ingressar no PSB havia sido um histórico militante do PT -  prefeito e governador, estabeleceram um bom link. Na eleição para governador do ano passado, quando Ricardo Coutinho tentava a reeleição, Cartaxo o apoiou. Comenta-se, à boca miúda, que o seu apoio foi decisivo.Política é como as nuvens - mudam constantemente, como ensinava uma raposa mineira -  o novo cenário que que começou a se desenhar para 2016 começou a incomodar o ator Luciano Cartaxo, que deve tentar uma reeleição. 

Ele começou a desconfiar de algumas movimentações dentro do próprio partido, numa espécie de aproximação demasiadamente perigosas com o atual governador Ricardo Coutinho. Um outro lance dessa jogada, segundo alguns analistas, seria uma aproximação com o grupo liderado pelo senador Cássio Cunha Lima. Os cassistas comemoraram a decisão do prefeito. Para a boca do palco, no entanto, a explicação dada pelo prefeito para sair da agremiação não convenceu muita gente: sua insatisfação com as denúncias de corrupção envolvendo alguns petistas.  Interessante observar que é a bancada petista ligada à Igreja que mais incomodava ao prefeito Luciano Cartaxo.

Em política, corrupto e traidor são dois adjetivos que desagradam bastante os eleitores, mas, segundo dizem, a pecha de traidor ainda é mais danosa do que a pecha de corrupto. Fazia algum tempo que não acompanhávamos - como em outros tempos - as movimentações políticas no Estado vizinho. Já fomos bem mais regulares. Essa mexida no tabuleiro, entretanto, suscitou alguns desdobramentos, como as declarações do senador Cássio Cunha Lima de que o atual governador Ricardo Coutinho, teria oferecido dinheiro para que ele retirasse a candidatura nas eleições passadas. 

Ricardo o desmente e emenda que nunca ofereceu dinheiro a ninguém, muito menos a vagabundo. Ao contrário, quando ainda estavam em lua de mel,, Cássio o infernizava, pedindo dinheiro para saldar dívidas de campanhas com um certo operador. Segundo fui informado, durante aquelas eleições que elegeu Cássio governador, motoboys recolhiam contas de água e luz pela periferia de João Pessoa e as devolviam pagas, com o compromisso do beneficiário em votar em Cássio, num flagrante crime eleitoral. O gerente dessa operação irregular chegou a jogar, pela janela de um prédio, mais de R$ 300 mil reais para evitar um flagrante.

Hoje, o senador Cássio Cunha Lima, que coordenou a campanha presidencial do senador Aécio Neves, nas últimas eleições presidenciais, é uma das vozes mais ativas da Câmara Alta em defesa do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Foi exatamente com este vestal que o prefeito Luciano Cartaxo foi se juntar, cometendo, como informou um parlamentar petista, uma espécie de suicídio político.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Para onde caminha Jarbas Vasconcelos?





O Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB), esteve, recentemente, num café da manhã, oferecido por empresários, numa espécie de federação, que atende pelo nome de Lide. Entre os políticos, talvez tenha sido mesmo o principal convidado.A imprensa deu ampla cobertura ao evento trazendo, depois, alguns aspectos da fala do parlamentar pernambucano, hoje muito identificado com as articulações em torno de um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Aliás, o deputado, quando questionado sobre este assunto, percebe-se, na fala sua fala, a condição de inevitabilidade de um possível pedido de afastamento da presidente. Quanto às suas perspectivas políticas, responde, sempre, que a sua prioridade é viabilizar o impeachment da presidente Dilma, como se não houvesse outros projetos a realizar na sua condição de representante de Pernambuco na Câmara Federal.

Um outro aspecto observado nas falas de Jarbas Vasconcelos é um desejo indisfarçável de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja preso, por suposto envolvimento da Operação Lava Jato. Não vou reproduzir aqui o que saiu publicado, uma vez que o deputado pode contestar, mas é como se ele achasse "engraçado' ver o Lula preso. Uma das piores coisas que pode acontecer ao indivíduo é quando ele perde o "eixo", aquele conjunto de regras e princípios que orientam as nossas vidas. Quem já viveu uma situação como esta sabe do que estamos falando.Sinto que é um pouco isso o que vem ocorrendo com o senhor Jarbas Vasconcelos. Tornou-se um político de conveniências, cuja bússola é guiada pelo mais puro pragmatismo, muito longe daquele Jarbas pautado por algumas regras basilares, que o ajudaram a tomar algumas decisões importantes no passado.

Durante a Ditadura, implantado com o golpe civil-militar de 1964, então pertencente aos quadros do MDB autêntico, Jarbas Vasconcelos foi uma das vozes mais ativas no enfrentamento do cerceamento das liberdades individuais aqui em Pernambuco, juntamente com Miguel Arraes, Fernando Lyra, Marcos Freire, Egídio Ferreira Lima, entre outros. Acredita-se que, por razões de espaço político, afastou-se do grupo mais ligado ao Dr.Miguel Arraes, acentuando-se bastante o grau de animosidade entre ambos. Essa relação azedou-se de uma tal maneira que o Dr. Arraes morreu e não reconciliou-se com o desafeto. 

Jarbas, em seu primeiro mandato como prefeito do Recife, ainda conseguiu ser eleito com a bandeira de esquerda, compondo um secretariado com alguns nomes de atores políticos oriundos dos movimentos sociais.  Mas, logo em seguida, antes mesmo do término do seu segundo mandato, costurou uma aliança com as forças políticas conservadoras e reacionárias do Estado, que ficou conhecida como União Por Pernambuco. Daí, então, ele apenas radicalizaria essa tendência, afinando o bico com os tucanos e tornando-se um dos críticos mais ácidos dos governos de coalizão petista. Depois de um desses "cozidão" realizado em sua residência, que contou com a presença do ex-governador Eduardo Campos - onde selou-se a paz entre ambos - Jarbas afinou o discurso anti-petista, apresentando a candidatura presidencial do ex-governador como aquela que apearia o PT do poder. 

Votou no Deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados. Talvez percebendo seu equívoco, hoje prega abertamente o seu afastamento do cargo. Sempre com um olho no padre, outro na missa, um pé em Brasília, outro na província. Jarbas poderia receber o apoio não apenas de setores do partido, mas das hostes do PSDB, para presidente da Câmara Federal, na eventualidade do afastamento de Eduardo Cunha. A reconciliação com o ex-governador Eduardo Campos facultou o ingresso do seu afilhado, Raul Henry, na chapa encabeçada por Paulo Câmara(PSB), além de se tentar introduzir o Jarbinhas na Câmara de Vereadores do Recife, algo que não se viabilizou. 

Com a morte de Eduardo Campos, criou-se um vácuo de lideranças políticas no Estado, o que suscitou a possibilidade de Jarbas Vasconcelos tentar retomar a condição de liderança política que exerceu no passado, postulando uma candidatura às próximas eleições municipais de 2016, quiçá, com o concurso dos tucanos. O quadro está tão embolado no ninho tucano que preferimos nem especular sobre este assunto agora. Vamos deixar para o nosso artigo de monitoramento das próximas eleições municipais do Recife, sempre publicado nas quintas-feiras. O PT publicou uma nota de repúdio às declarações do deputado Jarbas Vasconcelos. 

Outro quadro que evidencia bastante estranheza é a relação do deputado com o prefeito Geraldo Júlio(PSB). Dizem que o deputado trava bonitinho todas as vezes em que é instigado a tratar deste assunto. Por outro lado, se desmancharia em elogios ao governador Paulo Câmara, a quem elogia a capacidade de diálogo. Paulo Câmara faz política. Um ofício que o prefeito Geraldo Júlio parece ter esquecido, segundo se conclui das considerações do deputado Jarbas. Infelizmente, nosso blog ainda não atinge um número expressivo de comentários, o que sentimos muita falta. Leio bastante esses comentários, tomando o cuidado de sempre responder religiosamente aos nossos comentadores. 

Nos comentários publicados no Blog do Jamildo, observei que alguns leitores foram bastante contundentes no tocante à situação enfrentada pelo deputado Jarbas Vasconcelos. Algumas coisas procedem, outras nem tanto. É verdade que ele pertence ao baixo clero da Câmara? É. Mas também não se pode subestimar que ele aparece como bem cotado na eventualidade de um afastamento de Eduardo Cunha(PMDB). Apontado como um dos principais artífices das manobras pelo impeachment, o ex-ministro Moreira Franco(PMDB), esteve presente num desses "cozidões", o que significa dizer que o peemedebista pernambucano não está assim tão "isolado" no PMDB. Também procede a observação de que sua carreira política no Estado quase atingiu o fundo do poço, assim como coube a Eduardo Campos emprestar-lhes uma sobrevida. Por outro lado, também não se pode desprezar seu 'capital" político no Estado, um trunfo com o qual ele poderá contar na eventualidade de desejar mesmo ocupar o vácuo de liderança deixado na província com a morte do ex-governador. 

   

Tijolinho do Jolugue: Revoada no ninho tucano.










Recentemente, o ex-governador, ex-ministro e ex-prefeito do Recife, Joaquim Francisco, entregou uma carta ao governador Paulo Câmara, informando sobre o seu desejo de desligamento da legenda socialista. O " eduardismo" proporcionou alguns arranjos inusitados na política pernambucana. Por uma dessas circunstâncias, o matuto de Macaparana tornou-se suplente de senador na chapa que elegeu o petista Humberto Costa. Joaquim estava, segundo dizem, bastante insatisfeito na legenda socialista. Com o currículo político acumulado, sempre achou que poderia dar uma contribuição maior ao partido. 

De fato, com a morte do ex-governador Eduardo Campos, Joaquim Francisco ficou escanteado na agremiação. Seu nome sequer foi lembrado na composição do secretariado de Paulo Câmara ou mesmo de Geraldo Júlio, onde poderia agregar à gestão a sua experiência de um ex-prefeito. Na nossa última postagem sobre o assunto, parecia ainda não estar muito bem definido os rumos partidários que Joaquim Francisco tomaria, mas é dado como certo que o seu abrigo será no ninho tucano. Só Deus sabe como as coisas irão se arranjar por ali daqui para frente. 

Ontem o partido soltou uma nota, pedindo aos seus membros que ocupam cargos na gestão de Geraldo Júlio, que largassem a nau socialista. Uma mexida radical no tabuleiro, com a qual os socialistas não contavam nos seus planos, uma vez que,  no raciocínio socialista,participando da gestão, como eles, os tucanos, poderiam cogitar de uma candidatura própria? Até o momento, a vereadora Aline Mariano, que ocupa a Secretaria de Combate ao Crack e Outras Drogas, não se pronunciou sobre o assunto. 

A nota é realmente para valer. Há uma determinação da legenda tucana no sentido de disputar em raia própria a prefeitura de cidades com mais de 200 mil habitantes. O problema agora é afunilar o processo de escolha de candidaturas, construindo o consenso sobre os nomes que entrarão na disputa, o que não se constitui numa tarefa nada simples. Em Caruaru já existiria um nome, mas sabe-se que, também insatisfeito com a legenda socialista, João Lyra Neto entabula conversas com alas tucanas. Em Jaboatão seria mais simples: será o nome escolhido pelo atual prefeito tucano, Elias Gomes; No Recife... bem, é aqui que a porca torce o rabo. 

Fala-se no nome do Deputado Estadual, Daniel Coelho, um tucano ascendente. Especulou-se, igualmente, uma composição com o PMDB de Jarbas Vasconcelos, numa reedição de uma nova União por Pernambuco, com o patrocínio de grãos tucanos de projeção nacional, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Para complicar ainda mais este cenário, entrou em cena o nome do ex-governador Joaquim Francisco, que entra na legenda com ares de candidato. É bicada para todos os lados. Vamos acompanhar os fatos e observar como eles irão de ajeitar no ninho. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Editorial: Por enquanto, somente notícias ruins.


Nesses momentos de crise, seria mesmo improvável que ouvíssemos notícias alvissareiras. Os jornais escritos do último domingo, por exemplo capricharam na tinta: aumentos de preços, desemprego, arrochos contra servidores públicos, proibição de novos concursos, índices crescentes de violência. É um cardápio de deixar o indivíduo prostrado no sofá, deprimido, sem apetite para o almoço em família. As redes sociais também não ficam muito atrás. Na última sexta-feira, postamos aqui no blog uma notícia de que os alun@s da escola de referência Ginásio Pernambucano estariam fazendo uma mudança de turno em razão da ausência de fornecimento da merenda escolar. O Estado, pelo que informava a nota, não havia pago aos fornecedores. 

Ontem, domingo, foi a vez de uma unidade da UPA - a de Caxangá, até então muito elogiada - externar todo o descalabro em que se encontra a gestão de saúde do município do Recife. Os médicos dessa unidade, num ato coletivo, entregaram seus cargos, entre outras razões, pelo falta de insumos básicos para atenderem aos pacientes. No apogeu da crise do sistema universitário, creio que no segundo Governo do senhor Fernando Henrique Cardoso, a Universidade Federal de Pernambuco chegou ao fundo do poço. No Núcleo de Educação Física, por exemplo, os alun@s eram contingenciados a levarem papel higiênico de casa, para atenderem às suas necessidades básicas. 

Sabemos que é bastante constrangedor estarmos falando sobre isso numa segunda-feira, mas são fatos. Dizem que a situação de nossa gloriosa UFPE estaria de volta a esses tempos nefastos. Isso para ficarmos apenas nos banheiros do Núcleo de Educação Física. Aqui na província, um certo governador, insiste na sua política de não abrir o jogo sobre a real situação financeira do Estado. Teme se indispor com os parentes do seu padrinho político. Gostaríamos muito de saber até quando ele irá segurar essa onda. Fala-se num rombo de 08 bilhões de reais deixados de herança pelo ex-governador. É aqui que, mais uma vez, se recomenda tomar muito cuidado com as atitudes desses governantes, que respondem às críticas dos cidadãos com processos judiciais. 

Nós não vamos entrar aqui nem no mérito do homem cordial, de Sérgio Buarque de Hollanda, aquele que não conhece a fronteira que separa a res publica dos negócios de família. Começamos a suspeitar que essa gente foi mesmo muito escolada na "maquiagem", na supressão dos reais problemas enfrentados pela população através de uma poderosa engrenagem de publicidade institucional. De um mês para outro, por exemplo, os assaltos a bancos mais do que dobraram no Estado:  18 em agosto; 38 em setembro. E o Pacto pela Vida, governador?





domingo, 20 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue; Joaquim Francisco: cobra que não anda não engole sapo



Por vezes comentamos sobre o assunto aqui pelo blog, mas, certamente, os danos que o "eduardismo" provocou na política pernambucana, em seus múltiplos aspectos, mereceria um esmiuçamento da academia. Estão aí os bonecos de fantoches a tocarem a nossa cidade e o Estado, totalmente perdidos, algo semelhante a uma nau sem rumo. E o pior é que essas verdades não podem ser ditas, sob pena de sermos perseguidos e processados. Eles não poupam nem a academia, investindo contra os seus professores, a exemplo do que ocorre com o professor Michel Zaidan Filho. 

No campo estritamente político, o ex-governador Eduardo Campos fez um estrago danada nas forças políticas do Estado, sem escolher ideologia, de um quadrante ao outro, cooptando forças políticas da escola do "macielismo", aos incautos petistas, que entraram em suas armadilhas e hoje já não encontram as saídas. Mais ou menos o que ocorre com aquela arapuca preparada para pegar peixe, bem conhecida de todos. O ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito do Recife, Joaquim Francisco, foi um desses atores que, depois de militar durante anos nas forças políticas conservadoras do Estado, converteram-se ao "socialismo".

Por questões pragmáticas apenas, Joaquim Francisco nunca esteve muito satisfeito na legenda. Reclamava que o seu currículo exigiria um tratamento melhor do partido. A carta onde comunica o desligamento da legenda já teria sido entregue ao governador Paulo Câmara. Há algumas especulações sobre o novo grêmio partidário que abrigará o matuto de Macaparana. Por outro lado, crescem os rumores de que ele poderá disputar as próximas eleições municipais do Recife, em 2016. Como ele mesmo costuma dizer, cobra que não anda não engole sapo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Alunos do tradicional Ginásio Pernambucano ficam sem merenda.


Política não é feita apenas de gestos, mas de algumas situações emblemáticas, que podem ter um grande significado na cabeça do eleitorado. Não é de desconhecimento de ninguém a situação profundamente preocupante das finanças do Estado. Só quem se nega a falar sobre o assunto é o governador, enredado num processo complicado, uma vez que foi eleito com o beneplácito do finado e, pior, em tese, deveria conhecer em profundidade a real situação das contas públicas estaduais, uma vez que, além de oriundo do Tribunal de Contas do Estado, controlava as áreas de finanças públicas no Governo de Eduardo Campos.  Pois bem, por falta de pagamento ao fornecedor, no dia de ontem, no turno da tarde, os alunos do  tradicional Ginásio Pernambucano ficaram sem merenda. Que situação!

Tijolinho do Jolugue: Luciano Cartaxo deixa o PT. Traidor?




Ainda estamos conversando com as nossas fontes em João Pessoa, mas já podemos antecipar que a jogada do prefeito da capital, Luciano Cartaxo, do PT, é de altíssimo risco. Cartaxo, acaba de anunciar sua saída do PT e filiação ao PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab. É bastante intrincado o quadro político que se desenrola na cidade de João Pessoa. Em João Pessoa, o ninho de víboras, tão característico do campo político, nunca esteve tão evidente. É cobra mordendo o próprio rabo. Nas eleições municipais de 2012, numa aliança com Luciano Agra - já falecido - Luciano Cartaxo(PT) infligiu uma grande derrota à candidata do governador Ricardo Coutinho(PSB), Estelizabel Bezerra. Cartaxo tornou-se o único prefeito de capital aqui no Nordeste eleito pelo PT. 

Apesar das regras de convivência impostas pelo cargo que ambos ocupam, o fato é que Ricardo Coutinho nunca digeriu muito bem essa derrota. Agora, com a bola inflada com a morte de Eduardo Campos, parece que a ideia de retomar o controle da capital do Estado tornou-se uma ideia fixa para o governador. Num ambiente como este, o sujeito passa a desconfiar da própria sombra. É o que parece que está ocorrendo com o prefeito Luciano Cartaxo, que passou a desconfiar das movimentações dos próprios companheiros de partido, quiçá, articulando com o governador uma manobra para apeá-lo do poder. De uma certa forma, no plano apenas da correlação de forças, a manobra de Cartaxo visa antecipar-se às escaramuças dos seus possíveis adversários. A questão é saber como ela será vista pelos eleitores. Na política, a pecha de traidor é bem pior do que a pecha de corrupto. Vá entender.

Observa-se, igualmente, uma aproximação do prefeito Luciano Cartaxo com o PSDB, mas precisamente com o grupo ligado ao senador Cássio Cunha Lima. Comenta-se, à boca miúda, que os cassistas comemoram bastante a decisão do prefeito. 


Crônicas do cotidiano: José Lins do Rego e as rodas literárias das Alagoas.




José Luiz Gomes



As aulas de Teoria da Literatura, ministradas pelo poeta Marcos Accioly, eram bastante concorridas. As salas do Centro de Artes e Comunicação da UFPE ficavam abarrotadas de alunas, algumas delas mais interessadas no poeta do que no professor. Sabíamos disso pelas inscrições que ficavam registradas nas portas e carteiras, todas em alusão aos seus poemas. Didaticamente, Marcos também conduzia muito bem suas aulas, entremeando a teoria com as suas experiências pessoais e de viagens, o que deixava o ambiente menos anuviado. 

Um outro aspecto importante dessas aulas de Teoria da Literatura era a presença dos escritores pernambucanos, da velha e da nova geração, que discutiam suas obras com o alunado. Tornamo-nos amigos de alguns deles e voltávamos a nos encontrar, sempre aos sábados, na tradicional batida de maracujá, preparada pelo livreiro Tarcísio Pereira, na Livro 7. Desse grupo, aquele com o qual mais nos afinamos, Gilvan Lemos, morreu recentemente. Recife sempre foi uma cidade muito pródiga em termos de "rodas ou círculos literários". Sempre tivemos preferência pelo termo "rodas". Em sua época de estudante da Faculdade de Direito do Recife,  o escritor paraibano, José Lins do Rego, participou de algumas delas. 

Como já afirmamos em momentos anteriores, literatura, boemia e Flamengo eram as paixões do escritor paraibano. Não era mesmo do "eito" nem das "leis". Suas notas na Faculdade de Direito do Recife não passavam de um "simplesmente", o que significava que ele era aprovado "no limite". Era o que a gente poderia chamar de média mínima nos currículos atuais. O que nos intriga é que há uma intensão de trazer para o Recife a condição de berço literário de José Lins do Rego, menosprezando a importância de outros círculos ou rodas literárias na sua formação de escritor, como a de Maceió, nas Alagoas, onde ele escreveu e publicou quatro dos seus principais livros, inclusive o "Menino de Engenho"

Gilberto Freyre sempre fez questão de se colocar como uma espécie de mentor literário do escritor paraibano, José Lins do Rego. O curioso é que, no contexto dessa estratégia de consagração utilizada pelo sociólogo de Apipucos - como bem definiu o professor Diego Fernandes, no seu livro Contando o Passado, Tecendo a Saudade - possivelmente em razão do prestígio intelectual de Gilberto Freyre, José Lins nunca o contestou. Ao contrário, penso que até o estimulava. Pelas rodas de conversas regadas aos licores de pitanga e pela correspondência trocadas entre ambos - hoje exposta no Museu José Lins do Rego, em João Pessoa - não se pode minimizar o estímulo, os conselhos, as orientações de Gilberto ao discípulo. 

Portador de uma visão holística dos fatos sociais e detentor de uma inteligência singular, não foram poucos os atores sociais - bem conceituados dentro e fora da academia - que pediram conselhos ao mestre de Apipucos, como o historiador dos "flamingos", José Antonio Gonçalves de Mello e, de certa forma, o historiador do cangaço, Frederico Pernambucano de Mello que, dentro da perspectiva buourdieusiana de "legitimação", até recentemente voltou para a academia para cumprir os ritos acadêmicos.

Talvez em razão disso, como adverte Diego Fernandes, as rodas literárias do Recife também aparecem como determinantes na carreira literária José Lins, ao passo que outras rodas literárias, como as de Alagoas, são propositadamente minimizadas. A verdade é que, aqui no Recife, no apogeu da boemia, o escritor paraibano farreou bastante. Passava com um "simplesmente" pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, como já afirmamos, e caia na gandaia, até as altas horas, em redutos tradicionais do Recife daqueles tempos, na companhia de grandes nomes de nossa literatura e, certamente, de algumas "mariposas".Eita vidão, José Lins! 


Mas, como adverte o autor, não se pode ignorar a estadia do escritor na terra dos menestréis, inclusive no tocante à sua formação de escritor. Ali, nas rodas literárias, que se reuniam em bares conhecidos da orla de Maceió, José Lins trocou ideias com Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, gente importante para a sua formação literária, e alguns atores responsáveis pela publicação de seus livros, que apresentaram seus originais aos editores da época. A despeito do enorme sucesso de crítica e público que alcançaria, a primeira edição de "Menino de Engenho" foi bancada pelo próprio escritor. Somente depois - bem depois - já consagrado como um escritor em ascensão - é que José Olympio e Monteiro Lobato entraram na jogada.

Tijolinho do Jolugue: Não encontrei o nome de Hélio Bicudo entre os fundadores do PT



Creio que muita gente conhece a história de formação do Partido dos Trabalhadores, na década de 80. O partido unia correntes do chamado "novo sindicalismo", remanescentes de grupos que lutaram contra a ditadura militar, setores progressistas da Igreja Católica, intelectuais de esquerda, movimentos sociais. A fundação do PT e a composição desses grupos suscitaram muito interesse acadêmico. Várias teses e dissertações foram produzidas sobre o assunto, a esmagadora maioria apontando a "novidade política" do partido no contexto do sistema partidário brasileiro. 

Aqui e ali, algumas ponderações críticas, no contexto da própria academia, como os trabalhos do sociólogo Ricardo Antunes, da UNICAMP, apontando que setores da "classe média tradicional" tiveram um papel importante na construção do PT, diluindo a tese de um "partido dos trabalhadores". Vá la que seja. Vale como ponderação. Com o intuito de emprestar maior credibilidade ao pedido de impeachment da presidente Dilma, assinado pelo professor Hélio Bicudo, a imprensa está alardeando que o cidadão foi um ex-fundador do PT.

Na academia, o PT foi nossa "cachaça". Estudamos o partido desde a sua certidão de nascimento. Tivemos a curiosidade de observar as assinaturas da histórica reunião do dia 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion. Estavam lá as assinaturas de Paul Singer, Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Hollanda, Paulo Freire, Raul Pont, Paulo Skromov. Não encontrei a assinatura do senhor que atende pelo nome de Hélio Bicudo. 

#SomosTodosZaidan: A condição humana


Michel Zaidan Filho
Este é o título de uma das mais famosas obras do escritor francês, André Malraux, ex-ministro da Cultura da França, que trata do massacre de militantes comunistas na Indochina, provocado pela traição de Chiam Kai Shek, líder da China nacionalista. 0 título dessa obra quer definir a essência da condição humana: a solidão. Tratando dos militantes que foram dizimados pelas tropas de Formosa, dizia o escritor que, apesar da causa que os unia, os bravos militantes morriam…sozinhos.
A triste constatação é a mesma feita por Aldous Huxley, quando afirmou que os cristãos entravam de mãos dadas na arena romana, mas morriam sozinhos.Essas considerações vieram à baila a propósito dos processos movidos pelos políticos de Pernambuco contra seus críticos.E aqui a principal lembrança é a dos processos do ex-governador (Jarbas Vasconcelos), hoje Deputado Federal, que apareceu beijando o filho nas redes sociais. Este rancoroso político moveu dois processos e uma interpelação judicial contra mim. Um em cada mandato.
Durante esse tormentoso período, vinha recebendo o apoio moral de um famoso advogado, participante assíduo de comissões federais, ora do Congresso ora do poder Executivo.Qual não foi a minha surpresa diante da reação desse ilustre operador do Direito, quando ingenuamente recorri à sua rica banca de advocacia: disse ele que jamais advogaria contra os amigos e familiares e que, ademais, não via nada de errado ou reprovável no programa de privatização do governo estadual.
Que procurasse, portanto, outros advogados.Foi quando me dei conta de que estava sozinho.De que não adianta esperar nada desses amigos de ocasião para me defender do autoritarismo do mandatário de Pernambuco. Ainda bem, que o então Presidente da OAB assumiu o patrocínio da causa e suspendeu a ação.Agora é diferente.O atual responsável pela administração do Estado é um técnico desconhecido, parente em 5. Grau do governador falecido e recrutado por ele do Tribunal de Contas do estado.
Não se trata de um político, banhado pela aura de bom administrador e popularidade, mas de um auditor que não audita, não controla, não fiscaliza sequer as contas da gestão em que deteve o cargo de Secretário da Fazenda.Não consegue explicar a situação falimentar das contas públicas do Estado, nem o rombo de 8 bilhões de reais herdados de seu benfeitor.
É um gestor que responde às críticas e cobranças de seus concidadãos e concidadãs com processos, sem ao menos indicar a razão, o motivo dessas interpelações. Dessa vez, não estou sozinho. Há um intenso e participativo movimento (Flashmob) de amigos, pessoas, advogados, professores, gente de boa vontade (veja a hashtag: SOMOSTODOSZAIDAN) que promete encher os corredores do Fórum Joana Bezerra, no dia 11 de novembro.
A Câmara Municipal do Recife se comunicou, avisando de uma moção de desagravo contra o governador. Gabinete de deputados, da Assembleia, também. Agora, a situação mudou.Não sou eu o culpado pelo descalabro administrativo do Estado de Pernambuco. Não me beneficiei com isso, nem politicamente, nem economicamente. Como dizia o filósofo, quem aceita o cargo, aceita também os encargos.
Pesados encargos estes, de explicar aos eleitores o sentido da imensa fraude política e eleitoral em que resultou essa malfadada campanha eleitoral coordenada pelos mortos-vivos para oprimir, assustar, perseguir os que teimam em viver honestamente e com liberdade em seu lugar.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD -UFPE