pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 30 de janeiro de 2016

Michel Zaidan Filho: Estão nossos governantes acima da lei?




Se tivéssemos uma imprensa mais preocupada com o interesse público do que com as  imensas verbas  publicitárias da propaganda oficial, talvez não tivéssemos de aturar, no meio do caos urbano da tempestade, da falta de luz, dos raios e da falta de ônibus, comentários de cidadãos comuns sobre a inutilidade de protestar contra o descaso das autoridades públicas com a   lamentável situação da cidade. Ao invés da cobrança  e da responsabilização penal pelo descalabro sofrido pela população recifense, em meio ao vendaval que tomou conta da cidade, as TVs mostraram a imagem do Prefeito, confortavelmente sentado, pilotando o sistema de monitoração das câmeras da Prefeitura do Recife. 

Como no caso da epidemia ( hoje internacional) da   microcefalia, os principais responsáveis pela cidade (e seus problemas) viram heróis de guerra (ao mosquito) e a população, a principal responsável pela caça ao mosquito. É possível mesmo achar, como faz o imaginário popular, que nossas autoridades estão blindadas contra toda e qualquer forma de reivindicação  e que a resposta é a polícia militar e a polícia civil?- Ainda compartilham do infame pensamento de que a questão urbana (e social) é um mero caso de agitadores comunistas, que atribuem um cunho político a cada movimento da sociedade civil, cobrando, exigindo providencias em relação ao abandono em que se encontra a cidade?
                            
Da ótica conspiratória do aparelho policial, tudo que não for a favor ou em promoção da imagem pública dos nossos gestores - em época de reeleição, está proibido. Com exceção, é claro, do futebol e do carnaval. O futebol, identificado com a obra - ora sob suspeita - monumental e inútil da Arena Pernambuco. E o carnaval, com a troça que homenageará os 100 anos de Miguel Arraes - além dos hospitais, avenidas, viadutos, pontes que ganharam o seu nome. Pelo visto, em Pernambuco, vence na vida quem diz  "sim" ao nepotismo, ao patrimonialismo, à bajulação e ao puxa-saquismo "desinteressado". O resto é considerado atividade de cunho político-partidário e ilegal. 

Afinal de contas, é ou não é um crime de responsabilidade a falta de políticas públicas em relação à saúde pública, à falta de segurança nos ônibus e a superlotação carcerária e suas sucessivas revoltas, o transporte público de qualidade e barato, o funcionamento dos hospitais públicos, o fornecimento da energia elétrica? - É dos coitados dos cidadãos e cidadãs, procurando se amparar da chuva, dos raios, a ausência de ônibus e da escuridão? - Ele tiveram a má sorte de escolherem como prefeitos e governadores,  gestores que se utilizam dos cargos ora para se promoverem - com o inestimável da mídia amiga - ora  para se esquivarem do reconhecimento das legítimas manifestações críticas de seus concidadãos e concidadãs?


Daqui há pouco, vamos chegar a conclusão que a famosa "inversão das prioridades" da administração pública consiste em eleger como ações prioritárias: a propaganda, a repressão policial, o futebol (e os empreiteiros amigos), o carnaval oficioso, o pagamento das obrigações financeiras das PPPs e a família? O resto é para pagar impostos e contribuições, obedecer e dizer sim e reeleger esses virtuosos gestores. Em bom juridiquês: é o fenômeno  da sub-integração jurídica, de subcidadãos, cidadãos de segunda categoria, cidadãos sem direitos, só com deveres.



Uma sugestão, em tempo de folia, cadê a troça ou a alegoria que mostra nossas bravas autoridades na luta encarniçada contra os mosquitos? - Talvez, como cinema americano, aquilo que não se consegue vencer no  plano da realidade, se consiga no plano da fantasia. E, aliás, o que é a propaganda governista, senão uma fantasia - cara - e sem graça?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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Michel Zaidan Filho: Transparência, recursos públicos e administração.

   




Um dos imperativos da gestão republicana, insculpido num dos parágrafos da Constituição de 1988 é o ideal da transparência nos negócios públicos, em qualquer escalão da administração do Estado brasileiro. Como soe acontecer, facilmente um comando constitucional de tamanha importância para o pleno exercício de uma cidadania  e participante transformou-se num mero “slogan”, numa palavra vazia empregada sem o menor pudor pelos governantes de turno. O que era para ser uma condição sine qua non de uma boa gestão transformou-se num mero recurso publicitário caro e enganoso. Veja-se o que ocorreu com a propaganda institucional da Prefeitura do Recife exatamente sobre a “transparência”.  A assessoria de marketing do Prefeito resolveu usar a palavra para fazer propaganda da gestão de Geraldo Júlio. E conseguiu a proeza de colocar nos Outdoors da cidade um cartaz que diz ser a gestão pessebista “campeã” de transparência. 

Aí está um exemplo de como usar a preceito constitucional da “transparência” para enganar os cidadãos e cidadãs. Em matéria divulgado pelo TV GLOBO, a cidade campeã de transparência é Porto Alegre (RS), depois vem São Paulo. Nesse mesma matéria, não há nenhuma menção à Prefeitura do Recife. Este ranking foi estabelecido pelo Ministério Público Federal. A Prefeitura da cidade deve confundir transparência com excesso de propaganda (enganosa). Haja vista o avalanche de peças publicitárias, sem conteúdo informativo nenhum, que abarrota as televisões locais.

Mais grave é com certeza o caso do confrade de Geraldo Júlio, no governo do Estado de Pernambuco. Aí a coisa é trágica. Imagine o ponto mais agudo de uma epidemia de microcefalia (em Pernambuco: 1.700 casos), com hospitais fechados, falta de leitos ou vaga em UTI, demissão coletiva de médicos nas UPAS, falta de pagamento aos prestadores de serviço no setor de Saúde, e o nosso gestor destina a bagatela de 1.000.070,00 para compra.......das três capas dos jornais locais, no dia 23 de novembro de 2015, para quê? – Para promover campanhas de filantropia privada! Bem ao modo dessa administração de estimular a transferência de responsabilidade, dos serviços juridicamente tutelados pelo Estado, para as famílias, o mercado e a comunidade. 

Enquanto os usuários penam atrás da prestação uniforme e qualificada das ações na saúde, educação, emprego, segurança pública, cultura e lazer, a preocupação do governo é comprar flores para o seu gabinete, financiar os jornais locais, estimular a filantropia privada e pagar os compromissos financeiros da construção da Arena Pernambuco. E tome falação sobre a unidade, sobre as dificuldades do ano passado, sobre o caráter do sertanejo e nordestino e por aí vai.


Se nossas autoridades públicas querem “destravar” a situação econômica e social do Estado poderia começar passando a limpo os grandes escândalos denunciados pela imprensa nacional (não a local) aqui de Pernambuco, apurando as responsabilidades dos agentes envolvidos nesses escândalos e cuidar do povo pernambucano. As “belas” mentiras da propaganda oficial do governo municipal e estadual têm prazo de validade, tanto quanto a paciência do nosso povo. Não se governa para as próximas eleições. Se governa para atender as ingentes necessidades da maioria da população.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Leonardo Boff: A sociedade do cansaço e do abatimento social.


Um dito da revolução de 1968 dizia: 'metrô, trabalho, cama'. Agora se diz: 'metrô, trabalho, túmulo'. Quer dizer: doenças letais, perda do sentido de vida


Leonardo Boff
Arquivo RBA
Há uma discussão pelo mundo afora sobre a “sociedade do cansaço”. Seu formulador principal, é um coreano que ensina filosofia em Berlim, Byung-Chul Han, cujo livro com o mesmo título acaba de ser lançado no Brasil (Vozes 2015). O pensamento nem sempre é claro e, por vezes discutível, como quando se afirma que “cansaço fundamental” é dotado de uma capacidade especial de “inspirar e fazer surgir o espírito” (cf. Byung-Chul Han, p. 73). Independentemente das teorizações, vivemos numa sociedade do cansaço. No Brasil além do cansaço sofremos um desânimo e um abatimento atroz.
  
Consideremos, em primeiro lugar, a sociedade do cansaço. Efetivamente, a aceleração do processo histórico e a multiplicação de sons, de mensagens, o exagero de estímulos e comunicações, especialmente pelo marketing comercial, pelos celulares com todos os seus aplicativos, a superinformação que nos chega pelas mídias sociais, nos produzem, dizem estes autores, doenças neuronais: causam depressão, dificuldade de atenção e uma síndrome de hiperatividade.
  
Efetivamente, chegamos ao fim do dia estressados e desvitalizados. Nem dormimos direito, desmaiamos.
  
Acresce ainda o ritmo do produtivismo neoliberal que se está impondo aos trabalhadores no mundo inteiro. Especialmente o estilo norteamericano que cobra de todos o maior desempenho possível. Isso é regra geral também entre nós. Tal cobrança desequilibra emocionalmente as pessoas,  gerando irritabilidade e ansiedade permanente. O número de suicídios é assustador. Ressuscitou-se, como já referi nesta coluna, o dito da revolução de 68 do século passado, agora radicalizado. Então se dizia: “metrô, trabalho, cama”. Agora se diz: “metrô, trabalho, túmulo”. Quer dizer: doenças letais, perda do sentido de vida e verdadeiros infartos psíquicos.  


  
Detenhamo-nos no Brasil. Entre nós, nos últimos meses, grassa um desalento generalizado. A campanha eleitoral turbinada com grande virulência verbal, acusações, mentiras e o fato de a vitória do PT não ter sido aceita, suscitou ânimos de vindita por parte das oposições. Bandeiras sagradas do PT foram traídas pela corrupção em altíssimo grau, gerando decepção profunda. Tal fato fez perder costumes civilizados. A linguagem se canibalizou. Saiu do armário o preconceito contra os nordestinos e a desqualificação da população negra. Somos cordiais também no sentido negativo dado por Sergio Buarque de Holanda: podemos agir a partir do coração cheio de raiva, de ódio e de preconceitos. Tal situação se agravou com a ameaça de impeachment da Presidenta Dilma, por razões discutíveis.  
 
Descobrimos um fato, não uma teoria, de que entre nós vigora uma verdadeira luta de classes. Os interesses das classes abastadas são antagônicos aos das classes empobrecidas. Aquelas, historicamente hegemônicas, temem a inclusão dos pobres e a ascensão de outros setores da sociedade que vieram ocupar o lugar, antes reservado apenas para elas. Importa reconhecer que somos um dos países mais desiguais do mundo, vale dizer, onde mais campeiam injustiças sociais, violência banalizada e assassinatos sem conta que equivalem em número à guera do Iraque. Temos ainda centenas de trabalhadores vivendo sob condição equivalente à  escravidão.  
 
Grande parte destes malfeitores se professam cristãos: cristãos martirizando outros cristãos, o que faz do cristianismo não uma fé mas apenas uma crença cultural, uma irrisão e uma verdadeira blasfêmia.  
 
Como sair deste inferno humano? A nossa democracia é apenas de voto, não representa o povo mas os interesses dos que financiaram as campanhas, por isso é de fachada ou, no máximo, de baixíssima intensidade. De cima não se há de esperar nada pois entre nós se consolidou um capitalismo selvagem e globalmente articulado, o que aborta qualquer correlação de forças entre as classes.  
 
Vejo uma saída possível, a partir de outro lugar social, daqueles que vêm debaixo, da sociedade organizada e dos movimentos sociais que possuem outro ethos e outro sonho de Brasil e de mundo. Mas eles precisam estudar, se organizar, pressionar as classes dominantes e o Estado patrimonialista, se preparar para eventualmente propor uma alternativa de sociedade ainda não ensaiada mas que possui raízes naqueles que no passado lutaram por um outro Brasil e com projeto próprio. A partir daí formular outro pacto social via uma constituição ecológico-social, fruto de uma constituinte exclusiva, uma reforma política radical, uma reforma agrária eurbana consistentes e a implantação de um novo design de educação e de serviços de saúde. Um povo doente e ignorante nunca fundará uma nova e possível biocivilização nos trópicos.
 
Tal sonho pode nos tirar do cansaço e do desamparo social e nos devolver o ânimo necessário para enfrentar os entraves dos conservadores e suscitar a esperança bem fundada de que nada está totalmente perdido, mas que temos uma tarefa histórica a cumprir para nós, para nossos descendentes e para a própria humanidade. Utopia? Sim. Como dizia Oscar Wilde:  “se no nosso mapa não constar a utopia, nem olhemos para ele porque nos está escondendo o principal”. Do caos presente deverá sair algo bom e esperançador, pois esta é a lição que o processo cosmogênico nos deu no passado e nos está dando no presente. Em vez da cultura do cansaço e do abatimento teremos uma cultura da esperança e da alegria.
 
Leonardo Boff, colunista do JB on line e escritor


Créditos da foto: Arquivo RBA

(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A desigualdade revisitada

A desigualdade é uma das caras do poder, seja ele qual for, de batina, de farda, de terno e gravata ou terninho, de posição social ou econômica.


José Carlos Peliano*
EBC
A questão da desigualdade é milenar, bafeja tempos imemoriais de acordo com a situação e as condições de cada época histórica. Só para lembrar, Cristo já dizia que os “últimos serão os primeiros”. Este alerta foi um dos letreiros mais brilhantes de sua passagem por aqui.
 
Em sua mensagem a providência de todos no sentido de tirar do pé da escada os despossuídos e desvalidos e os levarem para junto aos demais nos degraus de cima. Seja no reino dele, seja no mundo dos homens.
 
A teologia da libertação de saudosa memória, para começar este texto pelo âmbito religioso, já pregava a emancipação dos pobres dos grilhões da estrutura social e econômica anacrônica, conservadora e reacionária.

A mensagem mais perturbadora de Cristo “amai o próximo como a ti mesmo” é a antítese da desigualdade, pois ela conclama a aproximação fraterna, livre e desimpedida de iguais, seres humanos que dependem do trabalho para construir suas vidas e um mundo melhor.



Ainda persiste as sementes de suas mensagens e ensinamentos pelos rincões brasileiros, embora abafada pela sanha da máquina do sistema e pela própria alta administração da Igreja em Roma que silenciou padres, bispos e teólogos.

No fundo, no fundo, a desigualdade é uma das caras do poder, seja ele qual for, de batina, de farda, de terno e gravata ou terninho, de posição social ou econômica. Não é à toa que a maioria esmagadora dos revolucionários vieram de baixo, dos despossuídos. Eric Hobsbawm foi um dos que tratou desse assunto em seu livro imperdível Os Bandidos.

O poder do estado se assenta de um lado na legislação que limita, impõe e pune e de outro lado nos aparatos judiciais, policiais e militares. O cidadão já nasce e entra na vida fragilizado diante de um poder constituído e visível que só permite ações dentro do regramento social e da conduta civil legal.

Não que se sustente a esbórnia geral e irrestrita, caso em que estaríamos à beira da barbárie, mas que o cidadão se valha da insubordinação civil para protestar e defender direitos porventura cerceados ou impedidos.

O poder dos sistemas econômicos por sua vez vem da hierarquia estabelecida na sociedade pelas classes e estamentos sociais e nas unidades produtivas pelas classificações ocupacionais e estruturas salariais. Tipo cada macaco no seu galho.

Das relações entre o poderes do estado e dos sistemas econômicos se estabelecem as posições sociais dos indivíduos ou grupos e suas respectivas porções de riqueza entre ativos físicos e financeiros. Essa tessitura social e econômica é que sustenta nas comunidades, classes e grupos as bases e fundamentos dos regimes.

Uma armadura complexa que domina o dia a dia das sociedades e das economias é difícil de ser rompida ou alterada para a redução dela mesma, isto é, para a melhoria da desigualdade dela nascida, reproduzida e mantida.

Apesar do fracasso econômico das experiências socialistas conhecidas, os seus regimes conseguiram melhorar consideravelmente a situação social dos cidadãos ao reduzir a desigualdade.

Dirão os críticos que a turma dirigente manteve privilégios, o que não é verdade em todos os casos, mas mesmo assim a maioria da população conseguiu obter o básico para viver, trabalhar, estudar e cuidar da saúde. Recentemente, por exemplo, relatório da ONU apontou Cuba como o país com os melhores níveis alcançados no mundo em saúde e educação.

O fracasso econômico das experiências socialistas contrasta com a pujança econômica do capitalismo. Ao revés o fracasso social do capitalismo contrasta com condição social do socialismo. A desigualdade no capitalismo sobrepuja a do socialismo.

Talvez seja uma questão de peso e medida. A combinação dos sucessos de um e de outro, tendo em conta seus respectivos fracassos, pode apontar, se é que seja possível, para alguma solução conciliatória. Que embora há séculos sendo procurada ainda não rendeu frutos. Só o futuro dirá.

No caso do Brasil, a melhoria da desigualdade é evidente desde 2003 para cá. A maioria dos indicadores aponta para essa direção nos estudos efetuados pela margem direita e pela esquerda do rios brasileiros.

Estudo recente feito por pesquisadores do IPEA, cobrindo o mais vasto período de tempo até hoje abordado, aponta que a desigualdade no país oscilou de pior no período da ditadura e melhor nos governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Já nos anos recentes pesquisa minha** mostra que nos últimos quatro governos do país a desigualdade reduziu de forma acentuada. Programas como o PAC (Programa de Aceleração Econômica), Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, PRONATEC, PROUNI e outros contribuíram para o resultado, além de aumentos reais do salário mínimo.

Brasileiros antes na marginalidade, subocupados, sem formação profissional, enfim o contingente fora do mercado, passaram a movimentar a economia pelo aumento da renda familiar. Exemplos são inúmeros.

Dado divulgado esses dias mostra outra forma de comprovar a redução da desigualdade no país. A ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) anunciou que, nos últimos dez anos o transporte aéreo de passageiros cresceu em contraposição ao rodoviário interestadual, que recuou.

Aeroportos cheios de passageiros que nunca voaram na vida, coisa que perturbou inúmeras socialites, é sinal evidente que eles passaram a poder comprar bilhetes aéreos porque suas rendas melhoraram de nível.

Os números mostram que, enquanto em 2004 o transporte rodoviário respondia por 69% e o aéreo por 31% dos passageiros transportados, em 2014 a relação se inverte de 40% para 60% respectivamente. Em números absolutos o aéreo pula de 30 milhões para 83 milhões e o rodoviário despenca de 67 milhões para 54 milhões. Ajudou nessa revirada o sistema de crédito de corte mais popular.

Duas lições para o país. Uma que a desigualdade aumentou no período da ditadura, outra que a saída pelo desenvolvimento é a alternativa, quando inegavelmente a desigualdade reduz. Já a austeridade só tende a piorar as coisas como no Brasil atual e na Europa dos últimos anos.

É simples entender o bê-a-bá da desigualdade. Se a situação econômica permite criar empregos ou mantê-los e melhorar os níveis de renda do trabalho ou mantê-los, bola para frente. Se, ao revés, os empregos são destruídos e os níveis de renda reduzidos, pare a bola.


*colaborador da Carta Maior
** http://tomemnota.blogspot.com.br/2014/11/movimentos-das-distribuicoes-de-renda.html
(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)

Michel Zaidan Filho: Um ano politicamente perdido e com muitas incertezas na economia


 

Foi solicitado que se fizesse uma análise do ano político de 2015 e, se possível, algumas projeções para o ano de 2016. A primeira coisa a dizer é que o ano começou em 2014, ou seja, na campanha eleitoral de 2014. E segundo, o ano não acabou. Com ou sem recesso do Poder Legislativo, por causa da votação da LDO e do processo do "Impeachment", o fato é que prolongamos a agonia política e a incerteza econômica para dentro de 2016, com todas as consequências sociais, políticas e econômicas que essa constatação traz consigo.O primeiro ano do segundo mandato da Presidente Dilma Rousseff foi um cabo de guerra com o Presidente da Câmara dos Deputados, com os partidos de Oposição no Congresso e, pasmem, com próprios aliados.  

Ou seja, a Presidente teve sua agenda de governo ditada pelos adversários e mesmo assim não conseguiu o apoio que precisava para aprová-la. A começar do ex-presidente Lula, alijado da equipe de governo, desde o primeiro momento. Uma Presidenta sem os traquejos e meneios típicos de um bom articulador político, sem articulador político, e com um Congresso hostil a si, só podia produzir uma situação de impasse permanente, alimentado pelo revanchismo daqueles que nunca se conformaram com a derrota nas eleições de 2014.
 
A aliança com partidos como PTB, PR, PMDB, PRB teria que produzir os frutos nefastos que, cedo ou tarde, apareceriam: defecções, traições, chantagem, desagregação partidária e derrotas, muitas derrotas no Congresso. Nunca o tal "Presidencialismo de Coalizão" se mostrou tão fraco e duvidoso, como nessa legislatura. Talvez tenha alcançado o seu limite de validade; e os partidos não se deram conta disso. Aliado ao fato da péssima qualidade da composição atual do Legislativo: 75 evangélicos, 27 partidos, e uma aliança com mais de 10. Resultado: alto grau de fragmentação política e uma dificuldade ainda maior de se obter uma maioria parlamentar. Dificuldade com a progressiva desagregação da base aliada da Presidenta, incluindo aí os membros do próprio partido do governo. 
 
A frente econômica atuou como um agravante da crise política, sendo por ela também retroalimentada. Se a Presidenta gozasse do apoio dos agentes econômicos (internos e externos), um céu de brigadeiro no ambiente externo e uma alavancagem do setor privado através de subsídios, créditos facilitados e renúncia fiscal, haveria quase uma unanimidade em torno dela. Infelizmente, as consequências da política anti-cíclica adotada por ela no primeiro mandato contribuíram muito para acabar com o otimismo  e as expectativas desse setor, que de aliado - no primeiro mandato - passou a oposição. O presidente da FIESP, Paulo Skaf declarou o seu apoio ao processo de Impeachment. 

O pacote fiscal preparado para o enfrentamento da crise, bem como os ministros da área econômica, aumentando impostos, cortando direitos e benefícios, alongando o prazo para o gozo da aposentadoria produziram um efeito paradoxal: recessão e inflação. E uma alta taxa de juros, comemorada pelos setores especulativos e rentistas da economia brasileira. Quase nenhuma medida desse pacote mexeu com os privilégios e ganhos do andar de cima. Enquanto os eleitores da Dilma tiveram que arcar com o custo do ajuste. E preciso dizer também que o início do processo de Impeachment ajudou a piorar a situação dos indicadores econômicos do país, lançando uma dúvida no horizonte da economia brasileira. Sem apoio político, a Presidenta teria condições de enfrentar a crise?
 
De forma, quando olhamos para frente (2016), temos a angustiante impressão que os problemas de 2015 vão continuar no ano novo. Muitas das questões que poderiam ter sido resolvidas neste ano tumultuado e cheio de confusões, ficarão para o próximo ano. A crise econômica pode até arrefecer com o desfecho da crise política. Mas o "imbróglio" do sistema político brasileiro, a sua baixa e precária sustentabilidade, a falta de representatividade e a extrema fragmentação do campo político e a ausência de saudáveis relações entre os poderes vão continuar. Não há no horizonte próximo nenhum indício de que essas crises não voltem a se manifestar no cenário político brasileiro.
 
P.S.: DOIS FATOS RECENTES TRAZEM ALGUM ALENTO PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA: A JUDICIALIZAÇÃO DA CRISE POLÍTICA E O DESFECHO DA REUNIÃO DO STF EM RELAÇÃO AO RITO DO IMPEACHMENT E AS MANIFESTAÇÕES DE RUA A FAVOR DO MANDATO DA PRESIDENTA DILMA. OS DOIS MOSTRAM À SACIEDADE QUE ESTE CONGRESSO NÃO MERECE A MENOR CONFIANÇA DA POPULAÇÃO.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD -UFPE. 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Michel Zaidan Filho: A política e a amizade. A política da amizade?


Os gregos – que eram sábios – separaram como ninguém o espaço da pólis (política) do espaço do óikos (casa). Fizeram isso para não contaminar o espaço da política com os interesses comezinhos da luta pela sobrevivência. Como dizia o filósofo, um homem que precisa dedicar grande parte de seu dia ao trabalho, não era livre. Só os que podiam se dedicar inteiramente aos negócios públicos, desinteressadamente, podiam ser chamados de cidadãos. Essa desconfiança da mistura entre política e interesses se manifestou, mais tarde, no pensamento da Hannah Arendt que chamou os parlamentos modernos de praças de negócio, comandadas pelos simples interesses: e não pelo bem comum. 

Daí pensar a dignidade da política, como uma ”vita contemplativa”, distanciada do vil interesse material. Seu primo, Walter Benjamin foi mais além: negou-se terminantemente a conceder à política moderna qualquer propósito sensato, concebendo-a como um mero discurso estratégico, submetido sempre à uma vontade de poder. Foi preciso recorrer à linguagem e aos atos retóricos para pensar a política como a arte do diálogo, da comunicação, do entendimento mútuo, a serviço da libertação (Habermas). Hoje, a inevitável judicialização da política acabou com as belas promessas do discurso político e entregou aos juízes a decisão sobre o certo e o errado do mundo político, deslocando a sua racionalidade para o interior das cortes.

É possível salvar a política, na concepção do “bom e justo governo da cidade”, como queria Aristóteles? Ou será que ela é uma atividade decididamente comprometida com meros imperativos de poder, sem pretensão de validade ética ou cognitiva? – É possível pensar uma política da amizade, da boa-fé, do entendimento ou do diálogo entre pessoas de boa vontade?

Aqui, sobressai o nome de Platão e de sua obra “O banquete”. Só é possível resgatar a dimensão da amizade, da boa vontade e da boa-fé entre os políticos, os as pessoas políticas (zoon politicom), se for possível pensar na reerotização das relações humanas, de um modo geral. Enquanto banirmos essa razão sensível dos nossos negócios, a política continuará a serviço de interesses estratégicos ou materiais, com muito pouco margem de manobra para a dimensão da amizade, do acordo, do diálogo e do entendimento. Nem só do pão e do dinheiro vive a criatura humana. Vive-se também, e sobretudo, de respeito, auto orgulho, de atenção. A política do interesse tem que permitir a política do reconhecimento, se quisermos reabilitar o discurso político e a nossa confiança nos políticos. Senão Thomas Hobbes, Maquiavel, Nietzsche e Foucault terão dado a sua última palavra sobre isso. E aí não teremos salvação.


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador no Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

Intolerância: Pai, afasta de nós esse cálice


Intolerância: Pai, afasta de nós esse cálice

PUBLICADO EM 28/12/2015 ÀS 12:30 POR  EM NOTÍCIAS

Por José Luiz Gomes, cientista político, especial para o Blog
Em nossa mensagem aos amigos(as), nesta data do ano, pedi que fizéssemos uma reflexão sobre o problema da intolerância, que parece ter tomado conta do país, do Norte ao Sul. Praticamente todos os dias estão sendo registradas cenas como aquela protagonizada pelos jovens de classe média do Leblon que agrediram o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda. Os petistas e simpatizantes do partido estão sendo agredidos nas ruas, nas livrarias, nos saguões de aeroportos, nos restaurantes. A presença de várias etnias superlotando esses saguões de aeroportos, nessa época do ano – numa evidente demonstração das oportunidades sociais proporcionadas pela Era dos Governos de Coalizão Petista – pouco consegue aplacar a ira de alguns segmentos sociais sobre a suposta associação do partido aos casos de corrupção investigados no país.
Dada a enorme repercussão do episódio nas redes sociais, muita coisa já foi escrita sobre o assunto, com Rolezinho programado – onde mais de 8 mil pessoas já confirmaram presença – além da solidariedade da atual presidente Dilma Rousseff, e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Da solidariedade dos amigos e admiradores, o compositor Chico Buarque não pode se queixar. Até nessas horas – ou sobretudo nelas – o status social do indivíduo conta bastante. Pierre Bourdieu inquieta-se na tumba, dizendo: eu tinha razão. Um internauta observou, não sem alguma razão, que a assessoria da presidente Dilma não teve a mesma agilidade em informá-la sobre a necessidade de manisfestar solidariedade às famílias daqueles 05 jovens chacinados, na periferia do Estado do Rio de Janeiro, por integrantes da Polícia Militar. Até o fez, mas não com a mesma agilidade com que manifestou solidariedade ao cantor.
Há também alguns exageros por aqui, como a conclusão de que o ato poderia representar a gota d’água para o fechamento desse círculo em torno das mobilizações que pedem o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Nada nos sugere – muito menos isso – que 2016, seja um ano sem as conhecidas turbulências econômicas políticas que marcaram o ano de 2015. Infelizmente. Um outro exagero são as chamadas “carteiradas”, do tipo: Você sabe com quem está falando? Chico é um compositor, um cantor e escritor consagrado. Quem são seus agressores? filhinhos de papai, playboys do Leblon. Essas carteiradas aproximam o compositor muito mais do antropólogo Roberto DaMatta do que propriamente do seu pai biológico, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda.
Não seria de bom alvitre criticar a intolerância que recrudesce no país, usando do mesmo expediente, o que contribui, isto sim, para o agravamento do problema, remetendo-o às consequências previsíveis. Falta muito pouco, pois todas as condições estão dadas, para as agressões físicas começarem a ocorrer entre petistas e não-petistas, como bem observou o senador Cristovam Buarque, numa carta endereçada ao cantor. Isso se restringirmos essa disputa entre petistas e não-petistas, pois, se ampliarmos essas manifestações de caráter fascistas para outros segmentos sociais – como homossexuais e grupos religiosos – elas já atingiram esse estágio. Isso é tão sério que alguns grupos na internet postaram alguns vídeos com supostas ilações sobre a homossexualidade de um dos agressores do cantor, numa manobra para desqualificá-lo pela condição de sua opção sexual.
Repetiu-se com Chico essa onda de agressividade e intolerância dirigida àquelas pessoas diretamente vinculadas ou simpatizantes do PT. Absurdo a proporção que isso vem assumindo no Brasil, dando razão àqueles observadores que afirmam que o monstro do fascismo já está solto entre nós. Antes que nos crucifiquem – um pouco antes da data – desejo informar que não compactuo com os possíveis equívocos do PT na condução da máquina pública, tampouco recebo qualquer tipo de remuneração para defendê-lo, como, normalmente, os comentadores costumam sugerir.Aliás, aqui não há uma defesa do PT, mas dos princípios da convivência democrática que deve prevalecer na relação entre as pessoas.
Na realidade, nossa preocupação é com essa “onda de intolerância” que tomou conta do país, que pode nos conduzir a índices de violência intoleráveis. Como poderemos conviver sem a aceitação do outro, intransigentemente rejeitando opiniões diversas da nossa ou deixando de se orientar por princípios ou regras que nos conduzam à construção de consensos? Seria a volta da barbárie, do Estado Hobbesiano. Pai, afasta de nós esse cálice fascistoide.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Crônicas do cotidiano: Michel Maffesoli no Museu do Homem do Nordeste



José Luiz Gomes da Silva


No dia 05 de novembro de 2013, o sociólogo francês Michel Maffesoli esteve no Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, proferindo uma palestra intitulada: "Pós-modernidade e o retorno das emoções coletivas". Maffesoli elegeu o Brasil como um grande laboratório de suas pesquisas. Há quem afirme que, sem o Brasil, o sociólogo não teria atingido o status intelectual que ostenta dentro e fora da academia, daí a importância desse objeto de estudos para a sua sólida produção acadêmica. Maffesoli se insere dentre da mais conceituada estirpe de brasilianistas franceses. Na sua opinião, a cultura da sociedade brasileira sempre o colocou como um país pós-moderno, que não experimentou a transição das categorias da modernidade. 


Instigado a pronunciar-se sobre os movimentos de rua que sacudiram o país a partir de junho, que ficariam conhecidos como as "Jornadas de Junho", afirmou que se tratava de um "Maio de 1968 pós-moderno". "Coxinhas" "Black Bloc", "Mídia Ninja" "Partido Pirata" e todas as tribos estiveram presentes em sua palestra, como sempre. Numa conferência como a do professor, vários links poderiam ser gerados, como, de fato, pelo pronunciamento da platéia, isso foi verificado. Houve um momento em que o professor, perguntado como se mantém informado sobre o Brasil, disse que mantinha seus "espiões" aqui, que sempre o abastece com informações atualizadas sobre o que está ocorrendo com o país. 

Supõe-se que esses "espiões" estejam infiltrados na academia, onde os fundamentos teóricos do sociólogos são replicados através de núcleos de estudos, fundados, por vezes, por ex-orientandos seus. Como diria os cronistas esportivos, o estádio veio abaixo. Há duas razões para o riso. Um deles, naturalmente, diz respeito à onda de espionagem reinante, orquestrada sobretudo pelos EUA, envolvendo, inclusive, autoridades brasileiras, o que vem gerando alguns constrangimentos diplomáticos. Outra razão é que no dia de ontem, uma longa matéria de um jornal do Sudeste aponta a existência de um agente do serviço de espionagem francês em Alcântara, onde ocorreu aquele acidente com a plataforma de lançamento de foguetes, que matou dezenas de cientistas brasileiros que trabalhavam no projeto. Aliás, nossos mais bem-preparados cientistas no assunto. 

A possibilidade de sabotagem nunca foi totalmente descartada. Maffesoli, certamente, não lê uma das nossas mais comentadas revistas nacionais, mas a polêmica em torno de duas de suas reportagens desta semana, certamente o interessariam no contexto de suas abordagens. Uma delas diz respeito ao "coxinha" que está ganhando rios de dinheiros e gastando em baladas para a rapaziada bem-nascida, ostentando carrões e champanhes caríssimos, acompanhados de algumas beldades. É luxo só. É lixo só. Se existia algum fundo do poço, a publicação chegou lá. O sociólogo, durante a palestra, informou que teve a curiosidade de investigar a etimologia da palavra "luxo". 

O senso-comum, de imediato, associaria o termo à luxúria, ao prazer. Não é bem assim. A origem da palavra está associada à luxação, contusão, portanto, a uma situação disfuncional. Embasado nesse raciocínio ele vai observar a ampliação do fosso que separa a elite do povo, consolidando uma dicotomia que vem produzindo uma série de problemas sociais. Embora a abordagem da revista semanal à qual fizemos alusão parece desejar anunciar às elites que elas precisam tomar cuidado com o cerco da periferia pobre e marginalizada - bem ao estilo de sua linha editorial - o fato é que as atitudes de nossas elites e os "amortecedores sociais" têm sido insuficientes para "viabilizar" esses contingentes sociais, dotando-os de uma educação de boa qualidade para os seus objetivos e padrões, assistência médica, acesso à inclusão produtiva etc. Se medidas não forem adotadas para minimizar esse "fosso" - um problema histórico no país - corremos um sério risco do agravamento das convulsões sociais. 

As mobilizações de rua já expuseram isso, mas nada, absolutamente nada, é conduzido ou pensado avaliando concretamente essa situação, na observação do sociólogo, "disfuncional". São projetos de mobilidades pensados para quem tem carro, intervenções habitacionais do tipo "higienistas" - como lembrou um colega de trabalho - isolando os empobrecidos em conjuntos habitacionais longe dos grandes centros urbanos, corroendo suas possibilidades de "afetos sociais" e estratégias de sobrevivência etc. Eu não vou me alongar muito porque, nesses momentos, costumo escrever com o coração. O Brasil, no entanto, precisa de espiões com a agudeza de análise e a sensibilidade social de Maffesoli. 

Na década de 70/80 brasilianistas americanos que vinham estudar o Brasil foram "taxados" de espiões da CIA. Um dos mais reputados deles, Thomas Skidmore, quando questionado sobre o assunto, costumava afirmar que não havia sido a CIA que o matriculou na disciplina. Havia decidido estudar o Brasil, porque as outras disciplinas oferecidas não dispunham de vagas.

P.S.: Escrita logo após a exposição do sociólogo, peço perdão por alguns dados que podem não estar atualizados, assim como algumas referências hoje "caducas". 



O xadrez político das eleições municipais de 2016, em Recife: Acordos em Brasília podem "ajustar" as relações entre PT e PCdoB no Recife e em Olinda.




Os socialistas tupiniquins sempre afirmam que não acreditam numa candidatura própria dos tucanos no Recife. A afirmação decorre de uma possível aliança entre socialistas e tucanos, no plano nacional, o que poderia refrear as ambições locais de alguns líderes da agremiação. Aliás, um outro fator adverso a essa candidatura é que alguns tucanos integram o Governo do senhor Geraldo Júlio(PSB). Se, no ninho tucano, esta possibilidade de uma candidatura própria continua uma incógnita, arranjos políticos celebrados entre os petistas e os comunistas, no plano nacional, certamente, terão reflexos nas alianças entre as duas legendas, nas eleições municipais de 2016, tanto em Recife quanto em Olinda, hoje praticamente uma disputa em quadra ampliada. 

O PCdoB foi um dos principais fiadores das articulações com o propósito de segurar o mandato da presidente Dilma Rousseff. A questão ainda está longe de ser definida, mas o esforço empreendido pela legenda na defesa da presidente caiu como chuva em tempos de insegurança hídrica no Planalto. O esforço na defesa da presidente Dilma empreendido pela legenda foi, sem dúvida, maior do que o esforço do PT, hoje uma legenda que apresenta uma profunda crise de identidade, já com algumas fraturas expostas. Aliás, é voz corrente não apenas na academia, mas também para diversos setores sociais, a conclusão de que o PT acabou. Foi "engolido" pelas contingências políticas de um presidencialismo de coalizão - onde precisou juntar-se a tudo quanto não presta da política nacional -; abandonou o trabalho de base e sucumbiu ao aparelhamento da máquina; seus membros se envolveram em casos de corrupção, desfazendo a utopia da "ética na política"; enfim, tornou-se mais do mesmo. 

Está ocorrendo um caso emblemático em todo o Brasil. O partido acusa a saída de lideranças, sobretudo jovens, da agremiação. Essa tendência parece ser nacional. Uma das justificativas - de certa forma esquizofrênica - é que há partidos que hoje defendem melhor Dilma do que o próprio PT. Pelo menos o PCdoB confirma essa hipótese. Por falar em defesa da presidente, a Deputada Federal do PCdoB, Luciana Santos, foi às ruas defender o mandato da presidente Dilma Rousseff, aqui no Recife. Luciana Santos, aliás, é um dos principais trunfos dos comunistas para continuarem a administração da Marim dos Caetés, cidade que já governam por 16 anos. 

O desgaste é evidente é até já se anunciou uma possível ruptura do PT com a gestão de Renan Calheiros. Atores políticos relevantes - como é o caso do vereador Marcelo Santa Cruz e do vice-prefeito Arantes - não seguem a orientação do executiva municipal da legenda. Agora, diante dos arranjos em Brasília, é bem possível que as coisas se acomodem e a nossa Deputada Teresa Leitão, mais uma vez, veja uma possível candidatura ser  preterida em torno do apoio ao projeto dos comunistas de tornarem a cidade uma bastião comunista. Continua sendo a prioridade das prioridades para a legenda comunista. 

Esse arranjo também deve influir nas eleições do Recife, onde, pelas últimas pesquisas de intenção de voto, o ex-prefeito da cidade, por dois mandatos, João Paulo, aparece em segundo lugar na disputa, com 25% das intenções de voto. Como já dissemos em outra ocasião, é uma verdadeira bala de prata ou último cartucho do ex-prefeito. Não será uma tomada de decisão muito fácil. Os militantes terão que esperar as inúmeras consultas ao seu astrólogo. afinal, se ele perder essas eleições, pode encerrar sua carreira política. O vice-prefeito do Recife, que é do PCdoB, Luciano Siqueira, continua observando a água do mar bater nas pedras e tentando decifrar a mensagem das espumas. Não emite o menor sinal para onde deve caminhar em 2016. Se é que vai caminhar. 

O que não se pode negar é que o prefeito Geraldo Júlio, naquilo que pode, tentar facilitar as decisões do seu vice. Nas entrevistas concedidas, não deixa de apontar os equívocos do PT na condução da máquina pública federal, enfatizando que os problemas do Recife estão diretamente relacionados. Reproduzindo um pouco dessa confusão da legenda socialista em relação ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff - onde membros da legenda já se pronunciaram contra - ele, o prefeito, levanta a bandeira do impeachment. Não sem um certo exagero, alguns viram nessa atitude uma espécie de suicídio político.Logo, Luciano Siqueira terá que tomar uma decisão a esse respeito.  


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pezão, Dilma e Chico




O governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, em função das dificuldades financeira da máquina pública, anunciou que irá parcelar o 13º dos servidores públicos do Estado. A medida, anunciada aos apagar das luzes do ano de 2015, certamente, além de pegar de surpresa os servidores, levará os mesmos a planejarem o ano de 2016 no espírito das vacas magras, cortando "gorduras" aqui e ali no orçamento familiar. Todos nós sabemos das dificuldades de financiamento da máquina pública em todos os níveis. Que o gestor público adote medidas de austeridades nos gastos, também é compreensível. O que torna essa compreensão bastante difícil são as "prioridades" estabelecidas por esses governantes no que concerne às despesas da máquina. 

Alguns negócios do Estado com a iniciativa privada estão absolutamente blindados, não sendo afetados por nenhuma medida de austeridade. No caso do Rio de Janeiro, o governador Pezão resolveu assumir a conta de energia da Supervia, além de ter adotado medidas de isenção fiscal vultosas a grandes empresas que se instalaram no Estado. De acordo com o jornalista Cid Benjamin, um escândalo de proporções gigantescas. Aqui no Estado, faltam recursos para concluírem as UPAs e mantê-las em funcionamento, mas os compromissos com a construtora da Arena Pernambuco - um verdadeiro elefante branco - são regiamente honrados. E olha que isso representa uma verdadeira sangria aos cofres públicos. Como diria aquele sanfoneiro que deixou de receber o seu cachê - citado ontem aqui pelo cientista político Michel Zaidan - é nesta "pisada" que os neo-socialistas "tocam" o Estado. Ainda no Governo do ex-governador Eduardo Campos, recursos do programa Chapéu de Palha também foram contingenciados para honrar os compromissos com a PPP da Arena da Copa. 

Dilma parece ter ouvido os conselhos aqui do blog e resolveu cancelar o tradicional descanso de final de ano, normalmente reservado para a Base de Aratu, na Bahia. Não se pode ter sossego com um conspirador como Eduardo Cunha(PMDB) por perto. Ela alegou motivações econômicas, mas penso que sua preocupação seja mais política mesmo. Ontem Cunha foi recebido pelo pessoal do STF. Desejava uma reunião às portas fechadas, onde os ministros daquela corte pudessem "desenhar" para ele como seria o rito de tramitação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A imprensa foi convidada, impedindo as conversas de alcovas que, certamente, levaram Eduardo Cunha a pedir a audiência com os ministros. 

E Chico Buarque, em gente? As agressões sofridas pelo cantor e compositor Chico Buarque, alcançaram enorme repercussão aqui pelas redes sociais. Repetiu-se com Chico essa onda de agressividade e intolerância dirigida àquelas pessoas diretamente vinculadas ou simpatizantes do PT. Absurdo a proporção que isso vem assumindo no Brasil, dando razão àqueles observadores que afirmam que o monstro do fascismo já está solto entre nós. Outro dia publicamos um artigo num blog local, logo depois do fracasso das manifestações pró-impeachment. O que li nos comentários de impropérios e agressividades não estavam em nenhum gibi. Os "coxinhas" destilavam ódio nas suas expressões, numa evidência de que, se estivesse por perto, seria, certamente, agredido até fisicamente. Essa engrenagem odiosa, estimulada por alguns setores irresponsáveis e inconsequentes da mídia, precisa ser contida urgentemente. 

Os petistas estão sendo agredidos nas aeroportos, nas ruas, nas livrarias, nos restaurantes e, pasmem, até mesmo nas repartições públicas. Identificar-se ou professar a defesa do Governo Dilma Rousseff pode ser hoje motivo para o indivíduo sofrer constrangimentos e hostilidades. Este blog não recebe um centavo de patrocínio de qualquer órgão público, mas, a julgar pelas ilações, o editor já teria comprado um apartamento em Paris. A referência,naturalmente, diz respeito às observações dos filhinhos de papai que agrediram Chico, acerca de um suposto apartamento que o cantor mantém em Paris, perfeitamente compatível com os rendimentos que recebe como cantor, compositor e escritor. Pai, afasta de nós esse cálice fascistoide.