segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Editorial: O frisson diplomático produzido pela fala da primeira-dama.
Agir guiado pelas emoções é algo bastante complicado. Mesmo quando o sujeito é instigado a tal atitude, sugere-se que respire fundo e não perca o controle da situação. Quando se trata de uma pessoa pública, aí sim é que o controle das emoções se impõe como absolutamente necessário, porque ninguém admite desvios por aqui. Aqui em Pernambuco, num determinado momento, um candidato a prefeito, ex-governador do estado, um homem público correto, perdeu a esportiva e deu bananas para os eleitores do adversário, que diziam palavras de ordem, durante uma passeata de campanha.
Este mesmo cidadão, a pretexto de defender a honra de sua esposa, entrou armado na redação de um jornal local para tomar satisfações com um jornalista, responsável pela coluna social, que havia publicado uma fala jocosa de sua esposa em relação à escultura de Francisco Brennand, exposta no cais do Recife Antigo. Quando dos debates, o opositor - que ganhou aquelas eleições, costumava pedir para que ele não ficasse nervoso. Gilberto Kassab é hoje um dos políticos brasileiros mais respeitados. Atua nos bastidores, na linha de frente, com a mesma desenvoltura. Segundo dizem, o governador Tarcísio de Freitas, provável candidato às eleições presidenciais de 2026, não dá um passo sem ouvi-lo antes. Aliás, para sermos mais preciso por aqui, a vez de Tarcísio de Freitas é nas eleições de 2030, de preferência tendo ele na vice.
No passado, porém, quando foi prefeito de São Paulo, durante uma conversa de rua, entrou num entrevero extremamente desgastante com eleitores, mostrando que mesmo homens públicos hábeis, verdadeiras raposas políticas, acabam não controlando as emoções. Esse xingamento da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, ao Secretário de Eficiência do Governo Norte-Americano, Elon Musk, era absolutamente desnecessário. Repercutiu muito mal na imprensa brasileira e internacional, sendo capaz de produzir um ônus diplomático que poderia, simplesmente, ter sido evitado. Como estamos na era dos extremos, já há um deputado que está convocando o Ministro das Relações Exteriores para que ele dê explicações sobre o assunto. Os excessos são de um lado e do outro.
Editorial: São os golpistas que desejam a anistia.
Quem leu A Festa do Bode, do escritor peruano Mário Vargas Lhosa, teve a oportunidade de conhecer os horrores praticados nos estertores da ditadura implantada na República Dominicana pelo tirano Rafael Leônidas Trujillo Molina. Curioso que, depois de morto numa emboscada, o filho do ditador deu continuidade ao seu trabalho, passando a exercer a presidência do país. O chefe do SIM - Serviço de Inteligência Militar -, Johnny Abbes Garcia, ostenta a condição de um dos maiores carrascos já produzidos pela humanidade. O livro de cabeceira do cara era um manual de tortura, que ele lia com risos sarcásticos de satisfação. Dava prazer ao cara cometer essas atrocidades. Quando Trujillo desejava resolver algum problema ou acidente de percurso no regime, ameaçava entregar o desafeto aos cuidados do seu ajudante de ordens para assuntos de tortura, o que incluía jogar o sujeito aos tubarões de uma praia conhecida.
É corretíssima a decisão do STF no sentido de não ser complacente com o que ocorreu recentemente no país, quando mais uma tentativa de atentar contra as instituições democráticas foi orquestrada. Não existe nenhuma dúvida de que um golpe de Estado foi urdido no país. Há depoimentos que confirmam isso, partindo, inclusive, de agentes públicos que estiveram no epicentro dessas tessituras. Nesta semana a Polícia Federal deve ouvir novamente aquele ajudante de ordens, desta vez apertando o cerco, depois que se verificou que o sujeito teria apagado arquivos do seu celular.
O que pode pacificar o país, na realidade, não é a leniência, mas a punição rigorosa contra aqueles que atentaram contra as instituições democráticas. O que o Brasil enfrenta hoje, em muito, pode ser atribuído à tolerância do passado, tornando golpes ou tentativas de golpe de Estado algo banalizado, sem que as pessoas atentassem sobre as suas reais consequências para o tecido social de uma nação. Aliás, quem tem entre os seus livros de cabeceiras as memórias de um torturador atroz, sequer deveria participar ou integrar o jogo de uma democracia representativa.
domingo, 17 de novembro de 2024
Editorial: A sedução do autoritarismo.
A extrema direita, por alguma razão que ainda precisa ser melhor analisada, tornou-se sedutora, enquanto, se nos permitem, as forças, populares, do campo republicano e democrático, tornaram-se "chatas", com uma narrativa que já não acompanha as transformações sociais, econômicas e políticas das últimas décadas, tornando-se obsoletas. Há coisa mais chata, por exemplo, do que esse identitarismo exacerbado, onde livros são censurados, verbos são proibidos e é preciso fazer uma ginástica medonha para não se fugir do politicamente correto? O Jornal do Commércio no dia de hoje, 17, traz um excelente artigo do ex-governador Gustavo Krause, onde ele invoca, a partir da leitura do texto da jornalista Anne Applebaum, as possíveis razões para a ascensão da tirania pelo mundo afora, encurralando as instituições democráticas.
Seja na Nicarágua ou na Rússia, eles se integram por características e interesses comuns, como a acumulação de riquezas pessoais, desprezo pelos ritos democráticos, forjam conglomerados, perseguem implacavelmente seus opositores dentro e fora do país, num alinhamento que tem mais a ver com a corporação financeira do que a política. Afinal, segundo a autora, eles formam a Autocracia S\A. Ainda não tivemos a oportunidade de ler o livro, portanto não sabemos se a autora reserva alguns capítulos para tratar da questão das redes sociais - onde esses grupos de extrema direita nadam de braçadas, apoiando-se nelas para dá suporte ao seu projeto - o fenômeno da chamada Economia da Atenção; tampouco sobre como grupos evangélicos e católicos foram cooptados para este projeto.
É isso. A extrema direita encontrou uma maneira de se comunicar com esses grupos ou, para sermos fiéis à autora, seduzi-los, o que seria mais apropriado. Quando ocorreu, num passado ainda distante, uma ascensão meteórica das religiões de matriz neopentecostais, muita gente se debruçou para entender o fenômeno. A conclusão é que, nesses templos, os crentes passavam a serem acolhidos, reconhecidos socialmente e estimulados pela a tese da prosperidade. Uma das grandes preocupações da esquerda no Brasil é entender como suas narrativas já não estimulam a adesão de grupos evangélicos e pobres da periferia, que, em grande medida, são similares. Trata-se de um dilema que precisa ser resolvido urgentemente. O Psol, por exemplo, teve uma participação irrisória nessas últimas eleições municipais. Fiquem de olho no fenômeno Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, que já caminha para o seu quarto mandato. Nessas últimas eleições municipais, pragmaticamente - sem outras considerações possíveis, evidentemente - ele fez alianças com Deus e com o Diabo, isolando o bolsonarismo em seu principal reduto. Curioso que está ocorrendo uma espécie de migração do bolsonarismo. Santa Catarina e Mato Grosso estão se tornando redutos mais robustos.
Editorial: Governo Lula gasta mais em publicidade institucional com a Globo do que o Governo Bolsonaro.
Estamos ao término da primeira quadra do Governo Lula3. Ainda teremos mais dois anos de governo pela frente, quando teremos novas eleições presidenciais. Hoje, o cenário não é dos mais promissores para a renovação de contrato de ocupação do Palácio do Planalto pelos atuais inquilinos, mas, como advertem os marqueteiros, é muito cedo para fazermos projeções para 2026. Hoje, o Governo Lula3 se preocupa bastante com a sua imagem, chamuscada pela dificuldade em promover um ajuste fiscal que se impõe; o dragão da inflação que ronda as gôndolas dos supermercados - a tomate, que chegou a centavos, voltou a R$ 6,00 -; refregas nas eleições municipais e, principalmente, um problema crônico de comunicação com a sociedade, que, precipitadamente, alguns concluem que mudando nomes ou aumentando os recursos serão solucionados.
Voltamos a bater nesta tecla: o PT, além de como precisa saber o que irá comunicar à sociedade, que encontra-se exaurida das narrativas anteriores. Não dá mais para assegurar o voto apenas afirmando que vai salvar o país dos monstros da extrema direita, como aquele pai que contingencia a tomada do remédio do filho sob a ameaça de que, em recusa, vai chamar o papa fígado. Pelo andar da carruagem política, possivelmente a SECOM não entra nos ajustes do arcabouço fiscal. Ao contrário, fala-se em novos contratos de publicidade institucional.
Somente nesses dois anos, segundo matéria da revista Veja, assinada pelo jornalista Breno Caniato, na coluna Maquiavel, o Governo Lula3 pagou ao conglomerado da Rede Globo algo em torno de R$ 177,2 milhões, quantia superior aos 177 milhões em todo o Governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Este o que comunicar vai demandar uma profunda reflexão no partido. De repente o partido perdeu as ruas para a extrema direita, num processo muito bem urdido e articulado. Apanha feio também nas redes sociais, onde esses grupos são quase hegemônicos, nadando de braçadas à frente. Desde 2013 que esses grupos extremados minam as forças de resistências democráticas e republicanas no país. É preciso oferecer alguma coisa, para muito além das bravatas. Afinal, até os pobres hoje estão com eles. Nas periferias, com a Bíblia na mão e, em alguns casos, consorciados com facções do crime organizado. Tempos difíceis!
Editorial: Elon Musk antecipa o resultado das eleições brasileiras.
É um mote que, inclusive, sustentou esta sua última candidatura presidencial, quando concorria com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Como diria o marqueteiro Duda Lima, em recente entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, é muito cedo para as especulações em torno das eleições presidenciais no Brasil em 2026. Embora, convenhamos, os movimentos de todos os quadrantes políticos existam. Até entre aqueles postulantes que, em princípio, precisam superar uma corrida de obstáculos para se viabilizarem, como é o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, este sim, candidatíssimo.
Num cenário como este, fazer previsões sobre o assunto também seria imprudente, embora se saiba sobre os ventos favoráveis da extrema direita, um fenômeno que ocorre em todos os continentes. Não é um fenômeno brasileiro, muito menos isolado. Talvez apostando nessa onda é que o futuro assessor de eficiência do Governo Donald Trump, Elon Musk, tenha dito que o grupo de Rosângela da Silva irá perder as próximas eleições no Brasil. Elon Musk respondia a uma provocação da primeira-dama, em evento que ocorria paralelo ao G-20.
Editorial: Cid Gomes rompe com o governador Elmano de Freitas no Ceará.
O senador Cid Gomes(PSB-CE) anunciou que está se desligando do projeto do PT no Ceará. Rompe com o governador Elmano de Freitas antes mesmo do início da gestão de Evandro Leitão, que ele ajudou a eleger. Cid Gomes já comunicou sua decisão ao Ministro da Educação, Camilo Santana, hoje o principal líder político da terra de Patativa do Assaré. Cumprida essas formalidades de praxe, agora vamos aos escaninhos que determinaram essa decisão do senador.
Há algum tempo que as forças do campo progressista não se entendem muito bem no estado. Nesta última eleição municipal, por exemplo, o PDT de Ciro Gomes esteve em palanque próprio, disputando a capital do estado contra o PT, a quem considerava um mal de igual proporção ao bolsonarismo. A radicalidade de Ciro Gomes em relação ao PT se tornou tão evidente, que ocorreu um movimento de integrantes das legenda pedetista no sentido de pedir seu desligamento do partido.
O projeto de Cid Gomes em continuar no palanque das forças progressistas do estado produziu ruídos em sua relação com o irmão Ciro, ao ponto de romperem politicamente. Difícil afirmar que a decisão de sair do projeto de Elmano de Freitas vai significar, necessariamente, uma nova reaproximação entre ambos. Há um poço até aqui de mágoas e ingredientes ruidosos. Sugere-se, em princípio, que haveria alguns acordos entre o seu partido, o PSB, e o grupo ligado ao governador Elmano de Freitas. Esses acordos não estariam sendo cumpridos, daí sua decisão de deixar o projeto. O PT quer controlar tudo, queixou-se o socialista.
sábado, 16 de novembro de 2024
Drops Político: Cineastas insatisfeito com a gestão do Ministério da Cultura.
Drops Político: O desconforto de Raquel no ninho tucano.
A condição da governadora Raquel Lyra no ninho tucano sugere-se insustentável. Não existe a possibilidade de este grupo que dirige o PSDB hoje migrar para uma posição governista. Todo o trabalho desta gestão tem sido conduzido no sentido de trilhar um caminho próprio, de preferência apresentando-se como alternativa de terceira via, se contrapondo à polarização. Raquel, por outro lado, em cada novo movimento, deixa claro sua intenção de estreitar os laços com o Governo Lula. A tendência é que as especulações sobre a sua saída do ninho se confirmem.
Drops Político: Edinho Silva nas amarelas da Veja desta semana.
Drops Político: O desrespeito à primeira-dama pelas redes sociais.
Drops Político: A transparência da gestão do município de Jaboatão dos Guararapes.
Drops Político: Paulista pretende retomar protagonismo turístico no Litoral Norte.
A Ilha de Itamaracá, no passado, exerceu um grande fascínio turístico sobre os visitantes que vinham conhecer o Estado de Pernambuco. Ao longo dos anos, por inúmeros problemas, foi perdendo esta condição. A praia de Maria Farinha, localizada na cidade de Paulista, no passado, também foi bastante festejada, atraindo visitantes ilustres, a exemplo de Jorge Amado e sua esposa Zélia Gattai. Vejo com bons olhos o interesse da nova gestão em transformar novamente o litoral norte num grande atrativo de turismo náutico. Há muito tempo que essa questão é discutida, mas nunca materializada. Não é tão simples. Um balneário como a ilhota de Coroa do Avião, em Igarassu, por exemplo, quando a visitamos pela última vez, estava caótica, com muita sujeira, banheiros com esgotos escorrendo para o mar. Neste caso, se as ações não forem realizadas em conjunto e articuladas, de nada adiante incrementar Maria Farinha.
Drops Político: Carmén Lúcia vota pela manutenção da prisão de Robinho.
Drops Político: Faleceu Gilberto Marques Paulo, ex-prefeito do Recife.
Faleceu hoje, 16, o ex-prefeito do Recife, Gilberto Marques Paulo, que padecia do mal de Alzheimer há alguns anos. Nossas condolências à família. Gilberto Marques Paulo, mesmo ligado politicamente a segmentos mais conservadores do nosso espectro político, sempre foi um gestor muito leve, de fácil trato, agregador, com bom trânsito em amplos segmentos da política pernambucana. Se estivesse em pleno gozo de suas faculdades mentais, certamente lamentaria profundamente o nosso cenário político hoje, bastante polarizado, que está nos conduzindo aos subterrâneos da política. Os extremos só se resolvem quando um polo destrói o outro.
Drops Político: Argentina manda prender refugiados do 08 de janeiro.
Contrariando algumas previsões dos bolsonaristas mais radicais, que apostavam que o governo do patriota Javier Milei iria ignorar um pedido do Governo Brasileiro em relação aos refugiados do 08 de janeiro, o Governo da Argentina determinou a prisão dos refugiados que se encontram irregularmente naquele país. O número de refugiados, que considerávamos bem menor, é bastante expressivo. Algo em torno de 60 pessoas. O mesmo raciocínio vale para as previsões estapafúrdias que eles estão fazendo em relação as atitudes do presidente americano Donald Trump. Convém não ser tão otimista em relação ao assunto e considerar a autonomia do nosso Poder Judiciário.
Editorial: Seriam os Lundgren simpatizantes do Nazismo?
De antemão, já respondendo por aqui aos leitores que nos questionaram sobre o assunto, recomendaríamos a leitura do nosso romance Menino de Vila Operária, vencedor do Prêmio José Lins do Rego de Literatura, na categoria romance, no ano de 2022, onde, determinados capítulos, abordamos essa questão do ponto de vista teórico e ficcional. Há até um personagem, Seu Pedro, que jura que havia uma cadeia de túneis existentes na cidade de Paulista, ligando a Casa Grande, as Fábrica, a Igreja de Santa Izabel e o Porto Arthur, por onde o ilustre Adolph Hitler, em pessoa, havia visitado a cidade. Seu Pedro é um personagem que acompanha toda a nossa trilogia de romances sobre a industrialização têxtil na cidade-fábrica, que aborda o início das atividades da indústria local, o apogeu e o posterior declínio. Os dois romances seguintes são Cidade das Chaminés e Chaminés Dormentes, que podem ser adquiridos ou lidos gratuitamente pela plataforma da Amazon. O Menino de Vila Operária pode ser adquirido aqui mesmo pelo Blog ou pela Estante Virtual, onde há dois exemplares ainda disponíveis.
Do ponto de vista ficcional, estamos livres das amarras para nos guiarmos por evidencias factuais sobre aquilo que estamos narrando. Do ponto de vista teórico, não podemos fugir às evidências históricas que confirmem aquilo que estamos afirmando. Pesquisamos sobre o assunto em textos ensaísticos e teses de acadêmicas, onde os pesquisadores se debruçaram em exaustivas pesquisas sobre o assunto. Não há evidência de uma eventual simpatia da família Lundgren em relação aos nazistas, fato negado veementemente pelos herdeiros do espólio industrial deixado pelos comendadores, como as Lojas Pernambucanas.
Arquivos do DOPS, por exemplo, pesquisados por Susan Lewis, em sua tese de doutoramento, não deixam evidências sobre este fato. O que ocorreu, segundo a autora, é que, num determinado momento, depois do namoro da ditadura do Estado Novo com o fascismo, quando seus mentores já perfilavam ao lado das forças aliadas, todo e qualquer cidadão estrangeiro que trabalhasse ou residisse no país, seus passos passaram a ser monitorados pelos agentes de inteligência e informação à época. Principalmente os engenheiros alemães que trabalhavam na companhia.
Por outro lado, para aqueles que advogam eventuais alinhamentos ou simpatias - também há trabalhos acadêmicas defendendo tal hipótese - há, igualmente, motivos de eventuais especulações em torno do assunto. Os dois encontros do Partido Nazista ocorrido no Nordeste aconteceram exatamente em Paulista e Rio Tinto, onde o grupo mantinha suas indústrias de tecido. Os Lundgren mantinham um arsenal de armas considerável, apreendido por um promotor indicado por Agamenon Magalhães com o propósito de garantir a presença do aparelho de Estado naquela quase-cidade. Centenas de armas e milhares de munições. Inclusive metralhadoras sofisticadas, que foram utilizadas, algum tempo depois, pelas volantes que perseguiam o bando de Lampião pela Caatinga nordestina.
Como tantas armas entraram na cidade? Com que propósito? Apenas para armar a milícia mantida pelo grupo? Os Lundgren tinham uma relação estreita com um general que era considerado um facínoras fascista. Nelson Werneck Sodré se recusa, em prefácio de livro, a mencionar o seu nome, dada as atrocidades por este cidadão cometidas. O general ficou incumbido da prisão do escritor alagoano, Graciliano Ramos. Certa vez, Agamenon Magalhães, sempre ele, peitou esse general, depois que ele prendeu alguns desafetos dos Lundgren, inclusive Torres Galvão e sindicalistas do então Sindicato dos Tecelões de Paulista, sob o argumento dos Lundgren de que esses senhores estavam prejudicando os interesses de suas fábricas na cidade.
Em despacho, sua intenção era a de matá-los. Só estaria aguardando ordens superiores. Agamenon Magalhães mandou sua polícia buscar seis homens ligados aos Lundgren, e, em resposta ao general, afirmou que também já havia encomendado os seus caixões. Caso não fosse libertado Torres Galvão e os demais presos sob sua custódia, eles só sairiam do Campo das Princesas mortos. Depois da queda de braços, a própria família Lundgren pediu que o "Seu" general retrocedesse em sua decisão.
Editorial: O ENEM dos professores proposto pelo MEC.
Hoje não há mais dúvidas de que o Ministro Camilo Santana desponta como um dos mais cotados nomes para uma unção na sucessão do morubixaba petista. Na realidade, Camilo já chegou à Esplanada dos Ministérios com o prestígio em alta, depois de uma gestão de governador muito bem avaliada em seu estado, o Ceará. Mesmo disputando uma vaga ao Senado Federal, Elmano de Freitas deve a ele a sua eleição. Agora, por ocasião das eleições municipais, Camilo entrou de sola na campanha de Evandro Leitão, conseguindo elegê-lo prefeito, numa disputa acirradíssima com o bolsonarista André Fernandes. Fortaleza foi a única cidade onde o PT conseguiu fazer um prefeito de capital.
Embora haja críticas à sua gestão na pasta, ele credencia-se pelo seu capital político. Um dos gargalos que ele deve enfrentar é a possibilidade de cortes de verbas para a educação, no contexto do arcabouço fiscal, proposto por Fernando Haddad, que está sendo analisado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A base mais renhida do petista já o informou que, se ele seguir as orientações da equipe econômica, estará dando um tiro no pé, sepultando qualquer possibilidade de as forças do campo progressista continuaram como inquilinas do Palácio do Planalto.
A extrema direita voltaria, com um projeto amargo de 20 anos de poder, onde não sobrarão pedra sobre pedra. Na medida em que as dificuldades aumentam, reduzem-se as chances de Lula recandidatar-se. Depois do terceiro mandato - que, convenhamos, não vai muito bem - não há a hipótese de que ele deixe a vida pública com uma derrota. A nova investida do MEC é o ENEM dos professores, um concurso a nível nacional, cujas notas poderão ser utilizadas pelos Estados e Municípios para a contratação de docentes. Falta ainda combinar com os dirigentes estaduais e municipais.
Editorial: As deficiências na formação do professor brasileiro.
Essa discussão não é nova. Há deficiências claras na formação do professor brasileiro. Até hoje, por alguma razão, há um número expressivo de professores em sala de aula sem possuírem a formação adequada para o exercício da atividade. Há alguns anos argumentava-se em torno da ausência desses profissionais - com a devida formação - em algumas praças do país. Esse problema se arrasta há décadas, comprometendo, naturalmente, a formação dos discentes. Nos cursos de Pedagogia, por exemplo, essencial na formação de professores, se diz, por exemplo, que os formandos são capazes de fazer uma explanação brilhante sobre a influência das ideias do sociólogo Pierre Bourdieu sobre a educação brasileira, mas não seriam capazes de elaborar um plano de aula.
Discute-se muito os problemas, mas as soluções ficam sempre num plano bastante idealizado, comprometido pela ideologia, quando muito. Até recentemente, o MEC anunciou que fará uma espécie de ENEM dos Professores, com o propósito de realizar um concurso público unificado com o objetivo de contratar novos docentes. Ainda existem muitas especulações em torno deste assunto, como, por exemplo, como os Estados de Municípios poderão utilizar essas notas para a contração dos seus novos docentes. Naturalmente, assim como ocorre com as diretrizes nacionais em relação à segurança pública, haverá resistências pelos entes geridos pela oposição. O país está bastante cindido e isso não é nada promissor.
Pelo andar da carruagem política, infelizmente, o mais provável é que tenhamos um longo período de obscurantismo pela frente, onde o pernambucano Paulo Freire, que nunca teve nada a ver com isso, muito ao contrário, voltará a ser responsabilizado pelas graves mazelas da educação brasileira e banido das dependências do Ministério da Educação. Lula venceu as eleições, mas não levou. Haddad, sem alternativa, estará entregando os anéis e os dedos ao mercado. Tempos difíceis.
Editorial: PSOL pede arquivamento do PL sobre anistia.
Depois do que ocorreu no último dia 11, governo e oposição consideram encerradas as discussões em torno da anistia aos envolvidos nos episódios do 08 de janeiro. A inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, cheio de entusiasmo com a vitória do aliado republicano para a Casa Branca, sugere-se que deve permanecer. O Governo Lula3 está mobilizando todos os seus recursos políticos para punir os envolvidos na frustrada tentativa de golpe de Estado, assim como apear o ex-presidente das disputas eleitorais pelos próximos anos, conforme já ficou definido pelo TSE. Os arranjos políticos permanecem. O PL vai continuar negociando o apoio ao próximo presidente da Câmara dos Deputados a partir da "liberação" do capitão para se candidatar as eleições presidenciais de 2026.
Hábil, Lira vai responder com o veremos. Não nega, mas também não confirma e assegura os votos do partido para o seu apadrinhado, Hugo Motta. Quem ouviu muito isso foi o Elmar Nascimento. Deu no que deu. Diante dos novos cenários provocados pelas explosões de Brasília, o PSOL está entrando com um pedido de arquivamento da PL sobre a anistia. Numa de nossas postagens anteriores, discutimos essa questão por aqui. Trata-se de um desserviço às instituições da democracia. Nós não temos uma democracia consolidada, sujeita aos solavancos autoritários recorrentes, em alguns casos, motivados por essas passagens de pano. Com golpe de Estado não é coisa que se brinque.
Vamos ver o resultado dessa queda de braço entre governo oposição em torno deste assunto. O STF já se manifestou em torno do assunto, advogando que se trata de um assunto sobre o qual não haverá complacência. Houve um período em que a oposição estava mais entusiasmada em torno do assunto.
Editorial: O que diz a caixa-preta do celular de Francisco?
Durante a semana, tivemos acesso a uma matéria onde se informa que a Polícia Federal pode rever o acordo de delação premiada celebrado com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. O motivo? Peritos do órgãos teriam verificado que o ex-ajudante de ordens poderia ter apagado algumas mensagens do seu aparelho de celular. A data de 11 de outubro, quando ocorreram aquelas explosões na Praça dos Três Poderes, em Brasília, pode ser elencada entre as datas importantes para entendermos o desenrolar de alguns fatos emblemáticos para o país, no contexto de uma instabilidade política que começou a ser construída a partir das chamadas Jornadas de Junho, quando os grupos de extrema-direita tomaram as ruas dos movimentos populares, num movimento planejado e orquestrado, produzindo consequências nefastas para as nossas instituições democráticas até os nossos dias.
Francisco Wanderley Luiz é reflexo deste momento delicado que o país atravessa, em pleno ativismo político desses grupos extremistas, praticamente hegemônicos em suas redes sociais, com apoios efetivos em segmentos sociais, independentemente da classe, pelo que se depreende, pois temos agora o fenômeno do pobre de direita, além de segmentos religiosos, seja entre os protestantes, seja em núcleos conservadores da Igreja Católica. Alguém tem alguma dúvida de que Francisco utilizava algumas horas do seu dia para trocar mensagens nessas redes sociais com parceiros de grupos afins?
O rapaz passava por um momento de transtorno mental. Cometeu suicídio, fato que merece a nossa atenção. Existe uma matéria onde atribui-se à sua esposa a informação de que o quadro de saúde mental teria se agravado quando o Jair Bolsonaro perdeu as eleições presidenciais de 2022. Não gostamos muito da expressão, mas, por outro lado, não há como negar que Francisco é reflexo desse caldo laboratorial instaurado no país por esses grupos de extrema-direita. Isso é real. Antes trata-se de uma teoria da conspiração. Se Francisco agiu sozinho ou em conjunto é outra questão. Se havia ligações orgânicas suas com extremistas, outra questão. Mas não restam dúvidas sobre o efeito dessas pregações de ódio sobre a sua atitude.
Editorial: Setores do PT já veem Fernando Haddad como um neoliberal.
Casa onde falta comida, todos brigam e ninguém tem razão. Esta parece ser a situação enfrentado pelo Governo Lula e pelo PT neste momento. As indisposições entre amplos setores da legenda e a área econômica do governo são evidentes. Recentemente foi a vez do ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva tecer alguns críticas à gestão de Gleisi Hofmann à frente da legenda. Gleisi insiste na tese de que o próximo dirigente do partido seja um nordestino. Edinho Silva tem o apoio do núcleo duro da legenda para conduzir os destinos do país pelos próximos anos. Tudo está muito incerto em relação ao PT.
Fernando Haddad chegou à Esplanada dos Ministérios com as credenciais de um eventual candidato à Presidência da República, posto que contava com o apoio de Lula para este projeto. Hoje, alinhado às diretrizes do mercado, talvez por imposição circunstancial - como se evidencia em sua proposta de zerar o déficit público - o pupilo de Lula encontra-se completamente chamuscado pelas bases da legenda, que já o trata como um neoliberal. Embora formado em economia, sugere-se, a rigor, que descascar esses abacaxis da área econômica não tem sido tarefa simples para Fernando Haddad. Ainda mais quando se depara com as cobranças de uma militância que desconhece completamente essas nuances.