De antemão, já respondendo por aqui aos leitores que nos questionaram sobre o assunto, recomendaríamos a leitura do nosso romance Menino de Vila Operária, vencedor do Prêmio José Lins do Rego de Literatura, na categoria romance, no ano de 2022, onde, determinados capítulos, abordamos essa questão do ponto de vista teórico e ficcional. Há até um personagem, Seu Pedro, que jura que havia uma cadeia de túneis existentes na cidade de Paulista, ligando a Casa Grande, as Fábrica, a Igreja de Santa Izabel e o Porto Arthur, por onde o ilustre Adolph Hitler, em pessoa, havia visitado a cidade. Seu Pedro é um personagem que acompanha toda a nossa trilogia de romances sobre a industrialização têxtil na cidade-fábrica, que aborda o início das atividades da indústria local, o apogeu e o posterior declínio. Os dois romances seguintes são Cidade das Chaminés e Chaminés Dormentes, que podem ser adquiridos ou lidos gratuitamente pela plataforma da Amazon. O Menino de Vila Operária pode ser adquirido aqui mesmo pelo Blog ou pela Estante Virtual, onde há dois exemplares ainda disponíveis.
Do ponto de vista ficcional, estamos livres das amarras para nos guiarmos por evidencias factuais sobre aquilo que estamos narrando. Do ponto de vista teórico, não podemos fugir às evidências históricas que confirmem aquilo que estamos afirmando. Pesquisamos sobre o assunto em textos ensaísticos e teses de acadêmicas, onde os pesquisadores se debruçaram em exaustivas pesquisas sobre o assunto. Não há evidência de uma eventual simpatia da família Lundgren em relação aos nazistas, fato negado veementemente pelos herdeiros do espólio industrial deixado pelos comendadores, como as Lojas Pernambucanas.
Arquivos do DOPS, por exemplo, pesquisados por Susan Lewis, em sua tese de doutoramento, não deixam evidências sobre este fato. O que ocorreu, segundo a autora, é que, num determinado momento, depois do namoro da ditadura do Estado Novo com o fascismo, quando seus mentores já perfilavam ao lado das forças aliadas, todo e qualquer cidadão estrangeiro que trabalhasse ou residisse no país, seus passos passaram a ser monitorados pelos agentes de inteligência e informação à época. Principalmente os engenheiros alemães que trabalhavam na companhia.
Por outro lado, para aqueles que advogam eventuais alinhamentos ou simpatias - também há trabalhos acadêmicas defendendo tal hipótese - há, igualmente, motivos de eventuais especulações em torno do assunto. Os dois encontros do Partido Nazista ocorrido no Nordeste aconteceram exatamente em Paulista e Rio Tinto, onde o grupo mantinha suas indústrias de tecido. Os Lundgren mantinham um arsenal de armas considerável, apreendido por um promotor indicado por Agamenon Magalhães com o propósito de garantir a presença do aparelho de Estado naquela quase-cidade. Centenas de armas e milhares de munições. Inclusive metralhadoras sofisticadas, que foram utilizadas, algum tempo depois, pelas volantes que perseguiam o bando de Lampião pela Caatinga nordestina.
Como tantas armas entraram na cidade? Com que propósito? Apenas para armar a milícia mantida pelo grupo? Os Lundgren tinham uma relação estreita com um general que era considerado um facínoras fascista. Nelson Werneck Sodré se recusa, em prefácio de livro, a mencionar o seu nome, dada as atrocidades por este cidadão cometidas. O general ficou incumbido da prisão do escritor alagoano, Graciliano Ramos. Certa vez, Agamenon Magalhães, sempre ele, peitou esse general, depois que ele prendeu alguns desafetos dos Lundgren, inclusive Torres Galvão e sindicalistas do então Sindicato dos Tecelões de Paulista, sob o argumento dos Lundgren de que esses senhores estavam prejudicando os interesses de suas fábricas na cidade.
Em despacho, sua intenção era a de matá-los. Só estaria aguardando ordens superiores. Agamenon Magalhães mandou sua polícia buscar seis homens ligados aos Lundgren, e, em resposta ao general, afirmou que também já havia encomendado os seus caixões. Caso não fosse libertado Torres Galvão e os demais presos sob sua custódia, eles só sairiam do Campo das Princesas mortos. Depois da queda de braços, a própria família Lundgren pediu que o "Seu" general retrocedesse em sua decisão.
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