pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : junho 2025
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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Editorial: Os tucanos não estão mortos.



Quando se discutiu uma eventual federação ou fusão do PSD com o PSDB, um dos problemas levantados foram os projetos políticos de Aécio Neves em Minas Gerais. Lula tem levantado a bola do ex-Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, naquele estado, desde já peitando o governador Romeu Zema. Lula tem tratado Pacheco como governador nos momentos em que vai a Minas entregar obras de sua gestão. Numa dessas ocasiões, em público, desafiou o governador a apresentar alguma obra executada ali pelo seu antecessor na Presidência da República, Jair Bolsonaro. Até recentemente, os tucanos se recusaram a compor uma federação com o Podemos, uma vez que não chegaram a um acordo sobre quem indicaria o nome do presidente da futura federação. 

Não precisamos informar aos leitores que, de uma maneira geral, a situação dos tucanos não é das melhores em todo o país. Perderam dois governadores de Estado, caso de Pernambuco e Rio Grande do Sul, e não se saíram bem nas últimas eleições, principalmente em São Paulo, onde tentaram se posicionar com o apresentador José Luiz Datena. Eles investiram tudo em São Paulo, até como uma forma de compensar os percalços pelo país afora. Ali também não deu certo. Mas, em todo caso, como eles dizem, há vida inteligente fora da polarização entre petistas e bolsonaristas. O que se especula, pelo menos a partir de uma reaproximação entre Tasso Jereissati e Ciro Gomes, é que aventa-se a possibilidade de Ciro tornar-se tucano e habilitar-se a uma candidatura ao estado do Ceará e, quem sabe, até à Presidência da República, sobretudo se Tarcísio de Freitas não confirmar sua candidatura, quando o cearense poderá se apresentar como o candidato da Faria Lima, contrapondo-se ao bolsonarismo e ao lulismo. 

Ciro Gomes tem reiterado que não pretende mais disputar alguma eleição presidencial, mas, como dizia o governador Paulo Guerra, lá atrás, em política não existem "nunca" nem "jamais". São palavras que não existem no dicionário da política. Por enquanto, ele se coloca como um contraponto entre o petismo e o bolsonarismo no estado. Não subestimem essas articulações entre Ciro e Jereissati.  Eles já mostraram do que são capazes no passado, quando derrotaram velhos coronéis encastelados no Palácio da Abolição.  

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247.

 


Editorial: A CPMI do INSS será instalada.



O Presidente do Senado Federal, David Alcolumbre, finalmente, leu o relatório da CPMI do INSS. Estima-se que os trabalhos devem começar no segundo semestre, provavelmente em agosto. Trata-se de uma derrota do Governo Lula 3, que não desejava a instalação da CPMI. Agora o Governo corre atrás do prejuízo, escalando um time de senadores que possa equilibrar o jogo dos debates de narrativas, definir convocações de A ou B, influir sobre o relatório final, enfim, ter um mínimo de controle sobre o andamento dos trabalhos. O presidente da Comissão deverá ser o senador do PSD do Amazonas,  Omar Aziz, que já esteve mais alinhado com o Governo no passado. 

O relator será indicado pelo PL e poderá ser o deputado federal Coronel Chrisostomo. Não se trata de uma boa composição, como os leitores podem perceber. Ambos possuem pavio curto, sugerindo que a CPMI já começa com imanente potencial de atritos, mas isso faz parte do jogo. A CPMI do INSS, quando os velhinhos estiverem presentes ao plenário externando suas agruras, tem o potencial de provocar um desgaste imenso em qualquer que seja o governo de turno. As narrativas do Governo Lula 3 no sentido de eximir-se completamente das responsabilidades sobre aqueles fatos se mostraram insuficientes para conter o desgaste da imagem do governo junto à opinião pública. 

Não vamos aqui entrar no mérito de quando começaram essas fraudes, que medidas poderiam ter facilitados o trabalho dos gatunos ou coisas do gênero. A questão é que o escândalo estourou durante o Governo Lula. Neste contexto, a narrativa, talvez concebida pela SECOM, de jogar a responsabilidade sobre o Governo de Jair Bolsonaro soou esquizofrênica, vazia, insustentável. Não colou. Que seja bem-vinda a CPMI do INSS, que ela possa ser suficiente para esclarecer a população a engrenagem nebulosa que funcionou durante anos com o objetivo abjeto de roubar pensionistas e aposentados. 

terça-feira, 17 de junho de 2025

Editorial: Líder do Governo sinaliza com possíveis retaliações.



Lula já sabia das dificuldades, mas preferiu pagar para ver. Além das conversas de negociações, supostamente, teria até liberado o pagamento de emendas parlamentares, tudo com o objetivo de não sofrer novas derrotas no Legislativo. Não deu certo. A Oposição, com o inestimável apoio de partidos da base, infligiu mais uma derrota ao Governo. Foram 346 votos a favor do veto ao aumento do IOF e 97 contra. Como se diz popularmente, uma derrota acachapante. Hoje, 17, o líder do Governo na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, observa que poderá haver retaliação contra os partidos da base que deixaram de apoiar o Governo. A Ministra da Articulação Política, Gleisi Hoffmann já havia sinalizado no mesmo sentido. 

Pessoalmente, não se conhece nenhum pronunciamento de Lula em relação ao assunto, mas o Governo já havia sido alertado em relação às dificuldades. Hugo Motta sofre uma pressão imensa da Oposição, assim como Davi Alcolumbre, embora a situação seja minimamente mais equilibrada na Casa Alta. Mesmo assim, também com apoio integral dos partidos da "base aliada", dá-se como certa a instauração da CPMI do INSS para logo após o feriado de São João. A situação é bastante delicada, uma vez que o Legislativo hoje goza de certa autonomia em relação às emendas, assim como as federações que estão se formando com esses partidos da base sinalizam para uma independência do Planalto. 

Corre-se o risco de novos vexames, como o de tentar substituir nomes e se enfrentar novas recusas, como já ocorreu em relação às mudanças no Ministério das Comunicações. Aliás, aquela reforma ministerial pomposa que se prenunciava antes, acabou em mudanças pontuais, em alguns casos experimentando "soluções caseiras". Não há muito o que se possa ser feito.  

Editorial: Câmara aprova urgência de projeto que derruba decreto do IOF.


Está todo mundo reclamando das férias do Ministro Fernando Haddad. Acreditamos que somente este editor considerou que já passava do momento do ministro tirar um descanso merecido. Sugeriram que ele jogou a bomba e se mandou. No dia de ontem, em esforço concentrado antes do recesso junino, os deputados aprovaram a urgência do projeto que derruba o decreto do IOF. Essa derrota já seria esperada, como outras tantas que devem vir por aí, inclusive com a aprovação da instauração da CPMI sobre o roubo do INSS logo após os festejos de São João. As pesquisas realizadas depois que estourou o escândalo indicam que o Governo Lula 3 pagou um ônus pesado de imagem com o episódio. Isso num momento em que a aprovação do Governo já sofria um intermitente declínio. 

O jornal Folha de São Paulo de hoje, 17, traz uma matéria tratando de mais uma derrota do Governo na Câmara dos Deputados, pedra cantada por praticamente todos os órgão de imprensa antes que se materializasse na noite de ontem. Chama a atenção na matéria a lista de partidos que votaram contra o Governo que, somados detém 11 cadeiras na Esplanada dos Ministérios. São poucas as pessoas que hoje exercem alguma ascendência sobre o líder petista. Falava-se em Gleisi Hoffmann, Ministra da Articulação, Rui Costa, Ministro da Casa Civil,  e Sidônio Palmeira, da Comunicação Institucional. Seriam nomes que Lula ainda consultaria antes de uma tomada de decisão. 

O mesmo jornal, curiosamente, traz uma matéria onde observa que Lula já não estaria disposto a seguir as recomendações de Sidônio como antes. Ajustar os passos deste terceiro mandato do presidente Lula não está sendo fácil para ninguém. O Governo começou sob um signo muito ruim, em meio a uma tormenta de instabilidade institucional, sob uma tentativa de golpe de Estado, sem base de apoio político no Legislativo e estourando as contas públicas. Quebrou na emenda, como se diz.  

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Editorial: A repercussão da prisão do ex-ministro Gilson Machado.



Muita gente foi tomado de surpresa em relação à prisão do senhor Gilson Machado, ex-Ministro do Turismo do Governo Jair Bolsonaro. Ele passou poucas horas preso num presídio em Abreu e Lima, cidade da Região Metropolitana do Recife,  e, logo em seguida, foi liberado, ratificando sempre a sua condição de inocência em relação às acusações que lhes são imputadas pela PGR. A PRG observou nas movimentações do ex-ministro "ações sugestivas" que poderiam indicar que ele, supostamente, estaria se articulando para ajudar o tenente- coronel Mauro Cid, o que significaria obstruir ou prejudicar os trabalhos em andamentos em relação à ação 2668, onde estão arrolados os indiciados na tentativa de golpe de Estado no país. 

Acabamos de ler uma matéria sobre um vídeo que Gilson Machado enviou à revista Veja, onde concede uma entrevista àquele órgão de imprensa. Na entrevista, Gilson reafirma a sua preocupação com esta situação, assim como inclusive à situação dos 2oo funcionários de suas empresas. Gilson é muito amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas, numa entrevista concedida aos repórteres logo que deixou a prisão, reafirmou que seus contados com o ex-ajudante de ordens da Presidência da República eram apenas protocolares. O advogado do ex-ajundante de ordens ficou indignado com a decretação da prisão do militar, entre outros motivos, sob a alegação de que sua família havia viajado para os Estados Unidos. 

Na realidade, este não é o grande problema. O grande problema de Mauro Cid hoje é uma matéria da mesma revista  informando que ele supostamente havia mentido, o que pode anular a sua delação premiada. Praticamente todos os advogados dos envolvidos na tentativa de golpe estão pedindo a anulação de sua delação, o que poderia trazer, aí sim, embaraços para o andamento dos trabalhos da ação 2668. Supõe-se que Mauro Cid poderia ter usado perfis anônimos para desabafar sobre a situação em que se encontra. Esses perfis foram identificados e estão sob investigação do STF, que já solicitou à rede Meta que disponibilize tudo o que foi tratado pelo titular do perfil. 

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


Editorial: As férias de Fernando Haddad.



Outro dia publicamos por aqui uma foto do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sensivelmente abatido. Há uma artilharia pesada contra o ministro e isso está se refletindo em sue estado psicológico. Era bom que ele conseguisse viabilizar essas férias mesmo. Está precisando. Ser Ministro da Fazenda do Governo Lula 3 se constitui num fardo muito pesado. O dano é tão complicado que o ministro pode até mesmo comprometer sua carreira política. Em sondagens para uma eventual candidatura ao Senado Federal, por São Paulo, em 2026, por exemplo, se se mostra desanimado. Aliás, desanimado é um adjetivo que se encaixa bem na conjuntura vivida por Fernando Haddad. 

O Congresso tem emitidos sinais veementes que não aprovará o novo projeto de cobranças de mais impostos. Haddad serve a um governo que abomina a ideia de austeridade fiscal e, internamente, já percebeu que não conseguirá convencer os caciques da legenda petista sobre a necessidade de ajustes nas contas públicas. Perdeu a guerra internamente para os gastadores e sofre uma pressão feroz da Oposição, dos setores produtivos, do mercado, com o apoio de setores influentes da grande mídia. Os planos iniciais de Lula para transformar Haddad num eventual Fernando Henrique Cardoso, catapultado à Presidência da República depois do êxito do Plano Real, não deu certo.

O desgaste sofrido pelo ministro é enorme. Talvez tenha que voltar ao batente da sala de aula depois dessas refregas. É emblemático um diálogo mantido entre ele e o morubixaba, quando o ministro sinalizava que pretendia ajustar as contas naquele ano. Ali estava selado o seu destino dentro do Governo. Nada melhor do que a paz interior, Haddad. Essas férias, se não forem interrompidas, poderão fazer muito bem ao senhor. Boas férias! 

domingo, 15 de junho de 2025

Editorial: Os eventuais recados de Bolsonaro para Tarcísio de Freitas.



Estávamos lendo uma matéria recentemente sobre um apagão no humor nacional, depois da condenação do humorista Léo Lins, condenado a 08 anos de prisão e pagamento de uma multa astronômica, superior a R$ 1,5 milhões. A matéria prima desses humoristas é exatamente esse ambiente político nosso, marcado por lances exóticos, protagonizados por alguns atores. Esse cuidado não é para menos. Quando humoristas e chargistas passam a ser condenados por sua arte é um sinal de que os tempos estão nublados. Isso justiça usarmos o termo "eventual" na chamada do edital acima. Estamos diante da necessidade de criarmos em nossos textos, uma narrativa não comprometedora, onde termos como eventual ou supostamente estão se tornando muito comuns. São os reflexos dos tempos bicudos exercendo sua influência na linguagem. Pelo andar da carruagem política, logo teremos robôs algoritmo censurando aquilo que pode e aquilo quer não pode ser dito. Antes disso, num exercício de autocensura, alguns temas, por exemplo, já foram abolidos dessas nossas conversas diárias aqui pelo blog. É uma temeridade tratar de assuntos relativos à atuação policial, assim como as ações de grupos do crime organizado. 

Tarcísio de Freitas é hoje o nome ungido pelos setores conservadores para as eleições presidenciais de 2026. Aqui se congregam o eleitorado conservador - bolsonarista radical ou não - setores da mídia, o mercado, a Faria Lima e possivelmente amplos segmentos do Centrão. Por outro lado, esse puxa e encolhe do PL em torno de aspirar, ainda que remotamente, uma eventual candidatura de Jair Bolsonaro ou alguém indicado por ele, tem levado o governador de São Paulo a manter-se reticente acerca da necessidade de assumir que é candidato à Presidência da República em 2026. Algumas de suas atitudes alimentam a expectativa desses setores, ao passo que, em alguns momentos, outras atitudes sinalizam para o desejo de Tarcísio em esquentar a cadeira do Palácio Bandeirantes por mais quatro anos. Ele é coerente e muito correto com o ex-presidente Jair Bolsonaro. 

A Folha de São Paulo, no dia de hoje, 15, traz uma reportagem onde observa que interlocutores confiáveis entre ambos estariam fazendo uma ponte no sentido de se chegar ao ex-governador Tarcísio de Freitas a informação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro estaria disposto a apoiá-lo, desde que a sua esposa, Michelle Bolsonaro fosse indicada a ocupar a vice na chapa encabeçada por ele. Michelle tem uma cadeira praticamente assegurada como representante do clã ao Senado Federal, concorrendo pelo Distrito Federal. É quase impossível que a inelegibilidade de Jair Bolsonaro seja revertida. Sugere-se que ele já começou a trabalhar com tal hipótese. Uma condenação, igualmente, não seria improvável. Nesse contexto, talvez se entenda uma declaração recente do seu filho, Eduardo Bolsonaro, no sentido de que o próximo presidente de direita - que é o que eles esperam que ocorra com resultado em 2026 - se comprometa a indultar Jair Bolsonaro e não aceitar qualquer anulação do ato pelo STF.  

sábado, 14 de junho de 2025

Charge! Renato Aroeira via Facebook.

 


Editorial: A guerra psicológica do Irã contra Israel.



O Irã tem ou não condições de enriquecer urânio aos níveis factíveis para a produção de ogivas nucleares? As informações mais confiáveis sobre o assunto dizem que sim, sugerindo que os ataques de Israel contra o seu território não teriam sido suficientes para impedir tal possibilidade. Sugere-se que o Irã já teria transferidos as suas operações nucleares para regiões montanhosas, onde seria quase impossível uma identificação precisa sobre a localização dessas bases. Geograficamente, o Irã seria um fortaleza inexpugnável, como se sabe. Mais ou menos o que ocorre em algumas regiões da Rússia, onde o melhor general é o próprio ambiente físico. 

Por algum motivo, no entanto, os serviços de inteligência do país são sensivelmente frágeis. O Mossad, Serviço Secreto de Israel, consegue proezas dentro do seu território que são surpreendentes, numa evidência dessa vulnerabilidade. Nesse último ataque, por exemplo, foram mortos físicos nucleares, num total de seis, chefes militares importantes, como o comandante das Forças Armadas e o chefe maior da Guarda Revolucionária.  E isso ocorre desde algum tempo, sempre com as mesmas características. O espaço aéreo naquela região está sob a hegemonia do Estado de Israel, restando ao Irã, em princípio, apenas o lançamentos de mísseis de longo alcance contra o território do Estado Judeu. 

Chama a nossa atenção os gravíssimos problemas psicológicos enfrentados pelo população de Israel, sempre argumentado em torno dos problemas de ansiedade, da tensão permanente, da necessidade de procurar ajudar médica para tratamento de transtornos psicológicos. Trata-se de uma população que não vive em paz, num país em estado de guerra permanente. É complicado. 

Editorial: Tucanos suspendem formação de federação com o Podemos.



O PT tem perdido o timing político há algum tempo. Tem caminhado à reboque das iniciativas da Oposição, nunca se antecipando aos passos dos adversários. Enquanto a Oposição já se estrutura para o lançamento de nomes competitivos ao Senado Federal em várias praças do país, o partido parte do pressuposto de que as preocupações sobre o assunto devem entrar na agenda apenas em 2026. Somente nos últimos dias, por ocasião do Encontro Nacional do PSB, Lula demonstrou uma preocupação no sentido de formar uma federação, assim como vem ocorrendo com amplos setores da Oposição. Essas federações, conforme já enfatizamos por aqui, partem de um pressuposto incômodo ao Planalto: seus líderes sinalizam para a composição de nomes que possam concorrer à Presidência da República em 2026. Afirmam que não endossam o projeto de apoio à reeleição de Lula. Isso é algo preocupantemente comum para o Governo Lula 3, que pode ser traduzido como um desembarque. 

De imediato, Carlos Siqueira, ainda na condição de presidente da legenda, já descartou a formação de uma federação com o PT, por um simples motivo. O PT não abdicaria de encabeçar essa federação. Por este mesmo motivo, os tucanos suspenderam as negociações para a formação de uma federação com o Podemos, processo que já estava bastante avançado. A Federação Progressista enfrentou problema semelhante. Em princípio, as negociações iniciais entre o União Brasil e o Progressistas previa que o ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, assumisse o comando da federação. Chegaram a um bom termo, onde, de imediato, assumiu o leme da federação o então Presidente Nacional do União Brasil, Antonio Rueda. 

Os arranjos nos estados, por outro lado, tem produzido situações inusitadas, como aqui em Pernambuco, colocando atores políticos em situações delicadas, apoiando gestões que, no plano nacional, não se coadunam com o contexto político local. Até recentemente, o Presidente Nacional do PSDB, Marconi Perillo, se pronunciou sobre um posicionamento da governadora Raquel Lyra, onde ela explicava porque deixou o ninho. Marconi Perillo enfatizou que o real motivo é que o partido não ficava nada satisfeito com a aproximação da governadora com o Governo Lula 3.   

Editorial: A liberdade de Gilson Machado.



Melhor falar de liberdade do que de prisão. A prisão do ex-Ministro do Turismo do Governo Bolsonaro, Gilson Machado, decretada pelo STF e logo depois revogada, ainda está envolta em muitos mistérios. Segundo as explicações do ex-ministro, seus contatos com o Consulado Português foram no sentido de renovar o passaporte de seu genitor, com 85 anos de idade. Nunca teria ido pessoalmente ao consulado e uma investigação sobre esses contatos provariam exatamente isso. Gilson Machado é amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro, acompanhando suas movimentações políticas sempre que possível, como nesta última incursão pelo estado do Rio Grande do Norte. 

Em princípio, nada se sabe sobre uma eventual proximidade entre ele e o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid. Como cogitou-se, essa suposta trama ou uma articulação entre ambos, com o suposto propósito de favorecer uma eventual proposta de fuga de Mauro Cid é um fato desconhecido. Mauro Cid negou veementemente qualquer tentativa de deixar o país. Como as prisões foram revogadas, supõe-se que não haveria provas indicando o contrário. A princípio, não estamos diante de mais um elemento que poderia complicar a vida do ex-ajudante de ordens da Presidência da República . A revogação do acordo de delação premiada, certamente, seria o maior desses complicadores. 

Diante do que ocorreu recentemente com a deputada Carla Zambelli, que fugiu do país, possivelmente tanto a Polícia Federal quanto o próprio STF tenham redobrado os cuidados em relação ao assunto. Possivelmente é neste contexto que se pode entender, em princípio, caso não surjam fatos novos, a decretação da prisão do ex-ministro Gilson Machado, que já voltou ao convívio dos familiares, criando musculatura para uma nova batalha pela frente: habilitar-se a uma candidatura ao Senado Federal por Pernambuco, em 2026. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Resenha: Romance Chaminés Dormentes.




O romance reconstitui, histórica e socialmente, a decadência da indústria têxtil no país, a partir de uma experiência observada na cidade-fábrica de Paulista, localizada na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco. Durante o seu apogeu, o município ostentou a condição de maior polo têxtil da América Latina, situação que o coloca como um indicador seguro para entendermos como este ciclo de industrialização se deu em todo o Brasil, pois as indústrias do Grupo Lundgren, em Paulista, se constituíam numa espécie de termômetro ou parâmetro seguro para avaliarmos o que ocorria neste setor da economia no país. Tudo, absolutamente tudo que ocorria no país em relação a essa indústria se refletia nas fábricas do município, seja as crises do setor, as novas tecnologias, os grandes movimentos grevistas. Daí se concluir, em princípio, porque o caso de Paulista torna-se emblemático para entendermos a origem, o apogeu e a decadência deste setor da economia em todo o país. 

Além de abordar o processo de decadência da indústria têxtil no município, o romance envereda pelas consequências daí decorrentes, uma vez que tudo, absolutamente tudo no município girava em torno dessa indústria, a Companhia de Tecidos Paulista. Como ficaria a cidade com o encerramento de suas atividades? O que fazer com o espólio de construções históricas do período? Qual a memória a ser preservada? a da oligarquia industrial – representada pelo clã da família Lundgren - ou a memória da luta dos trabalhadores e trabalhadoras por sua emancipação, principalmente mobilizados pela Sindicato dos Tecelões de Paulista? A indústria fechou suas portas na década de 80 do século passado, mas, já na década de 60, refletia a crise no setor têxtil que se observava no plano nacional, de onde não haveria mais retorno, exceto pelo interregno da fase do Milagre Econômico Brasileiro, decorrente da fase inicial desenvolvimentista da Ditadura Militar implantada no país com o Golpe Civil-Militar de 1964. Milagre que durou muito pouco, pois o santo era de barro. 

O que perdurou por longos 21 anos foram os danos políticos e institucionais daí decorrentes, como a supressão de direitos, liberdades civis e a perseguição aos adversários, com seus reflexos no município, elementos que são, igualmente, tratados no romance, como os torturados e desaparecidos locais, assim como o Massacre da Granja São Bento, onde guerrilheiros da VPR foram mortos pelos homens do delegado Sérgio Paranhos Fleury, depois da delação do agente infiltrado cabo Anselmo. Este foi considerado um dos maiores massacres da ditadura militar. Resultaram seis mortos, com evidências periciais de tortura. Esses fatos estão relatados no romance, trazendo, inclusive aquele que foi o último poema de Soledad Barret, dirigido a sua mãe. 

Este romance é o terceiro da trilogia sobre a industrialização têxtil no município, abarcando a origem, Menino de Vila Operária, o apogeu, Cidade das Chaminés e, finalmente, Chaminés DormentesNa primeira parte abordamos os problemas enfrentados pela indústria têxtil naquele período histórico específico, envolvendo, inclusive as sucessivas greves ali verificadas, aguçando, até o limite do possível, o conflito entre capital e trabalho. A greve de 1962 é a mais emblemática entre elas, pois ocorre num ambiente político extremamente favorável à classe trabalhadora, significando conquistas importantes, embora não duradouras, pois, logo em seguida, dois anos depois, ocorreu o Golpe Civil-Militar de 1964. 

Em 1962  estávamos no Governo João Goulart e o Dr. Miguel Arraes - como assim se referia a ele o professor João Francisco - governava o estado de Pernambuco. Papai tinha uma grande admiração pelo ex-governador Miguel Arraes. Arraes foi muito bem votado no município, elegendo-se governador do estado, a despeito das recomendações expressas da oligarquia industrial e dos clérigos católicos locais para que os trabalhadores não sufragassem o nome de Arraes. Naqueles idos, os comunistas eram bem ativos na cidade, a despeito das dificuldades inerentes. Eles conseguiram montar um aparelho que agia dentro da indústria têxtil, tomando todos os cuidados para não comprometerem os operários. Institucionalmente, através da ALEPE, moveram ações para investigar a atuação da milícia armada que atuava no município. 
 
A segunda parte do romance aborda as consequências da queda das atividades da indústria têxtil no município, pois existia um padrão de interdependência bastante acentuado entre essa indústria e os moradores locais, uma relação que extrapolava o caráter estritamente produtivo, atingido outras esferas, como a moradia - existia uma vila operária – os roçados da companhia, que produziam alimentos para a população local. Registre-se, igualmente, que a oferta de bens culturais na cidade também estava condicionados à indústria têxtil da família Lundgren. Na realidade, a cidade tornou-se absurdamente dependente dos ditames da oligarquia industrial. Quando se discutia, por exemplo, sua transformação em cidade, um dos grandes questionamentos dizia respeito à necessidade de uma mini reforma fundiária. 

Na terceira e última parte do romance, abordamos o quadro de ebulição política que exista no país naquele momento, no início da década de 60, de muita agitação política, sindical e estudantil, em torno das reformas de base que país reclamava, que envolvia questões relativas à reforma agraria, educação de adultos, entre outras, e como tal momento se refletia no município. Historicamente, como se sabe, tais reformas foram abortadas pelo golpe de classe articulado pelas forças conservadoras consorciadas com os militares, produzindo longos dias de trevas para o país. Como é dado a quem escreve a liberdade de criação e de invenção, abrimos espaço, durante a narrativa, para uma oficina literária, com o intuito de estimular a leitura entre os moradores, e até mesmo para a organização de um curso de alfabetização de adultos ofertado na Vila, cuja primeira aula foi ministrada pelo educador Paulo Freire. 

Como existia a paranoia entre os militares de que os cubanos estavam insuflando os agricultores no estado, criamos o personagem fictício de um professor cubano, que foi quem conseguiu articular a presença de Paulo Freire no município. Por muito pouco o filósofo francês Jean-Paul Sartre, que estava em  Pernambuco à época, também não esteve presente. Se ele foi tomar o famoso licor de pitangas, porque não atenderia a um pedido de Arraes para prestigiar o lançamento de um projeto de alfabetização de adultos da Vila Operária? Estamos procedendo algumas revisões no texto, mas a primeira versão já se encontra disponível em nosso perfil da Amazon.  

Editorial: Mauro Cid presta novo depoimento à Polícia Federal.



Depois do que ocorreu com a deputada Carla Zambelli, que fugiu do país depois de condenada, a Polícia Federal e o STF acenderam o alerta máximo sobre os nomes indiciados pela tentativa de golpe de Estado no país. A revista Veja desta semana traz uma longa matéria sobre o tenente-coronel Mauro Cid, logo após o seu depoimento durante  interrogatório no STF. A revista afirma que ele mentiu numa de suas afirmações, caiu numa pegadinha armada pelos advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro, onde titubeou acerca da utilização das redes sociais, depois de proibido de fazê-lo, consoante o acordo de delação firmado. O pior disso tudo é que os advogados do ex-presidente podem pedir a anulação da delação premiada concedida ao militar, assim como, segundo ainda a revista, a Procuradoria-Geral da República também estaria cogitando pedir a anulação da delação premiada, o que implicaria em ampliar, substantivamente, a condição do ex-ajudante de ordem. 

Hoje, 13, aqui no Recife, numa operação da Polícia Federal, foi preso o ex-Ministro do Turismo do Governo Jair Bolsonaro, Gilson Machado. A PF suspeita da possibilidade de ações no sentido de retirar um passaporte português para o ex-ajudante de ordens da Presidência da República. A prisão do militar chegou a ser decretada e, logo em seguida, revogada, mas ele prestou um longo depoimento à Polícia Federal. Mauro Cid já teve um outro problema com essa delação, ao fazer confissões que foram vazados e publicados pela imprensa. Ele negou veementemente qualquer iniciativa de obter esse passaporte, mas sabe-se lá o que teria a dizer o ex-Ministro do Turismo. Pelo andar da carruagem, ele poderá perder os benefícios inerentes a uma delação premiada. 

Não temos informações acerca da situação do ex-Ministro Gilson Machado, após a decretação de sua prisão. Não se sabe, exatamente, o que a PF tem contra ele. É preciso aguardar os informes dos próprios órgãos de investigação acerca deste caso. Aqui no estado, o ex-ministro se movimenta no sentido de credenciar o seu nome como candidato ao Senado Federal, nas eleições de 2026. Se o seu depoimento contradizer o que tem sido afirmado pelo ex-ajudante de ordens, não seria improvável a decretação de uma nova prisão contra o militar e praticamente a anulação de seu acordo de delação premiada. 

Editorial: Bolsonaro escala seus nomes para a disputa nos Pampas.


Enquanto o Governo Lula 3 anda às turras, numa batalha feroz para ver seus projetos de ajustes fiscais serem aprovados no Legislativo - sem o apoio até mesmo de partidos da base - Bolsonaro, assim que deixou a sala de audiências do STF já anunciava a sua nova incursão pelo estado do Rio Grande do Norte na próxima semana. Na sede do PL, em Brasília, escala os nomes do seu staff político que deverá entrar na disputa pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul e, principalmente, ao Senado Federal pelo estado. A recomendação do Planalto, a partir de sinais emitidos pelo próprio Lula, é de apenas tratar das eleições de 2026 no próximo ano. Poderá ser um pouco tarde. 

Um levantamento publicado pela revista VEJA, a partir de uma pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, aponta que a Oposição continua adubando as bases, aparando as arestas, tudo dentro do propósito de construir as condições de competitividade suficientes para a formação de uma bancada de senadores robusta, com a capacidade de hegemonizar o controle sobre a Casa Alta. Estão se movimentando em todo o Brasil. O PT elege seu novo presidente agora em julho, num clima de acirramentos e divisões internas. Constituiu um grupo exclusivo para tratar das eleições, mas sugere-se que as cosias estão em banho maria. 

Enquanto isso, a Oposição se movimenta. Bolsonaro inicia um périplo pelo Nordeste na próxima semana e já bateu o martelo sobre os nomes do PL que deverão disputar o Governo e o Senado Federal pelo Rio Grande do Sul: Os deputados federais Luciano Zucco e Sanderson. Segundo o levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, já repercutido por aqui, a Oposição possui nomes competitivos nos maiores colégios eleitorais do país. Se tomarmos como referência apenas o estado do Rio Grande do Sul, não surge no horizonte nenhum nome efetivamente competitivo das hostes governistas. Prancheta e mapa na mão, PT. 

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Resenha: Menino de Vila Operária.



O romance Menino de Vila Operária recebeu o sinal verde de três editoras antes de vencer o nosso primeiro Prêmio Literário, em 2022. A primeira edição está esgotada e uma segunda edição do texto apenas em 2027, cinco anos depois, de acordo com as regras do concurso, pois os direitos autorais estão com a editora. Até recentemente, fizemos algumas mudanças pontuais no texto original, mas nada que alterasse seu sentido mais amplo. Coisa de quem escreve, que nunca fica plenamente satisfeito com o resultado do trabalho. Sempre há a possibilidade de um enxugamento, de uma lipoaspiração. No texto original, aquele que foi publicado, tivemos que fazer uma ginástica tamanha para incluir, já no final do texto, um episódio abjeto que ocorrera na Comunidade Quilombola de Cuieira, onde um delegado de polícia, a serviço da ditadura do Estado Novo, promoveu um verdadeiro massacre na comunidade. Tivemos que arranjar, de última hora, um jogo do nosso time de várzea, o glorioso Monte Castelo Futebol Clube, onde, na comunidade, o líder quilombola local faz uma explanação sobre aqueles episódios repugnantes, movidos pela intolerância religiosa.   

Segundo Graciliano Ramos, precisamos submeter o texto a um processo de lavagem, enxágue e enxugamento, preferencialmente sob um sol de 40 graus, como fazem as lavadeiras do litoral alagoano. O velho Graça era tão exigente no processo de escrita que nunca ficou satisfeito com o texto de Caetés, seu primeiro romance publicado. Nem mesmo quando críticos literários do porte de um Antonio Candido apontaram qualidades no livro. Humilde, recebia as ponderações positivas, mas sempre emendava, ranzinza, que o livro não prestava. Em relação a Vidas Secas, foram tantas as reconsiderações e cortes procedidos pelo autor, que sua esposa, em determinado momento, teria comentado que, caso ele continuasse os cortes não ira sobrar mais nada. 

O lançamento do seu primeiro livro também enfrentou inúmeras dificuldades. Até o original que fora encaminhado ao editor chegou a ser extraviado. Coube a Jorge Amado e Rachel de Queiroz juntar os papéis perdidos, em sua casa de Alagoas, com a ajuda de sua esposa, para reenviá-lo ao editor Augusto Frederico Schmidt. Graciliano, depois de tantos aborrecimentos, havia desistido da publicação, que não saía há três anos, jogando suas anotações fora. Começara a ponderar se tal publicação não saía em razão da pouca qualidade do texto. Na realidade, o mercado editorial, já naquela época, enfrentava algumas dificuldades. Hoje se sabe que, na realidade, Frederico Schmidit havia perdido os originais que lhes fora enviado, ficando constrangido em admitir este fato ao escritor alagoano. 

Cumprida essa etapa, onde acaba passando algo que talvez nos arrependêssemos depois, a grande expectativa que se forma é em função da recepção do público e da crítica. Para nossa felicidade, o texto foi muito bem recebido pelo público, o que, afinal, é o mais importante. Ainda apresenta algumas falhas - que poderiam ter sido evitadas - mas isso faz parte do aprimoramento do processo de escrita. Ernest Hemingway escrevia 100 páginas, para afirmar, no final, que apenas cinco delas prestavam. Isso não quer dizer que desprezamos as considerações da crítica, sejam de caráter positivas ou negativas. Assim, também ficamos felizes com tais ponderações, que já começam chegar, através de pareceres dos editores que aprovaram a publicação do livro. 

"A obra é uma narrativa poética sobre a vida de um menino de classe trabalhadora, que vive numa vila operária. O conteúdo se destaca pela profundidade emocional e pelas descrições vividas, que nos permitem mergulhar na história do personagem. Além disso, o autor demonstra uma capacidade de expressão notável ao abordar os mais variados temas e sentimentos como a solidão, desigualdade social e luta pela emancipação. Portanto, acredito que este livro tem potencial para tocar os corações, tendo em vista a força de sua narrativa e qualidade de sua escrita. Sem dúvida será um sucesso de vendas" Prof. Dr. Rafael Ferreira. Na condição de professor universitário, cientista político e pesquisador, textos científicos, ensaios, relatórios de pesquisa nos são familiares. 

Neste caso, entretanto, procuramos usar uma linguagem mais prosaica para tratar de um assunto bastante sério: o processo de industrialização têxtil na cidade-fábrica de Paulista, localizada na Região Metropolitana do Recife, que, a rigor, se confunde com o processo de industrialização têxtil do Nordeste brasileiro, quiçá do país, uma vez que as indústrias têxteis do grupo Lundgren, ali instaladas, no período do seu apogeu, transformar-se-iam nas maiores do Brasil. O Parque Têxtil de Paulista, igualmente neste período, foi considerado o maior da América Latina. Entremeado a esse processo de industrialização, seus reflexos na vida cotidiana dos trabalhadores e trabalhadoras, o que implicou em inúmeras inferências – não menos importantes – sobre aspectos relativos à organização econômica, social, cultural e política da cidade, a partir da relação estabelecida entre a companhia e os seus operários, abrigados na vila operária. 

Menino de Vila Operária”, trata-se, portanto, de um romance histórico, memorialista, regionalista, com traços autobiográficos. O primeiro de uma série, uma vez que estamos escrevendo outros dois romances sobre o mesmo tema, abarcando, não apenas o momento de surgimento - tratado neste primeiro tomo - mas, igualmente, os momentos subsequentes, de apogeu e declínio da industrialização têxtil naquele município. O livro está dividido em três partes: Na primeira parte, fazemos um retrospecto histórico, que vai desde a chegada do comendador Herman Theodor Lundgren ao Recife até o momento dos seus investimentos no distrito, quando a cidade é transformada numa espécie de feudo, em razão do controle econômico, político e social ali imposto pela família, transformando a região numa cidade-fábrica. 

A família tornou-se dona de tudo - parafraseando o sociólogo Gilberto Freyre numa referência ao domínio absoluto dos senhores de engenhos na Zona Canavieira do Estado de Pernambuco - das terras, das matas, das águas, da vila operária, das fábricas, das máquinas, do porto, da ferrovia, do campo de aviação. O mais curioso é que o monopólio do uso da força era exercido por eles através de uma milícia armada que impunha o temor para assegurar os interesses da família. Sobretudo na primeira parte do romance tratamos dessas questões, o que, como disse antes, reconstitui este recorte importante da História Regional. Na segunda parte, a partir de uma experiência pessoal e familiar, reconstituímos como era a vida na Vila Operária, uma das maiores da América Latina, chegando a ter, no seu apogeu, mais de seis mil habitantes. 

Aqui, de fato, entramos nos aspectos mais "romanceados" ou ficcionais do romance, embora muito marcado pelas memórias reais – e sofridas - da infância do autor. Importante ressaltar, neste segundo momento, os elementos do padrão de relações estabelecidas entre a oligarquia industrial e os operários que residiam na Vila Operária. Embora marcadamente biográfica, esta segunda parte é mais solta, inventiva, ficcional em alguns momentos. A terceira parte é uma continuação da segunda, pois aborda o processo de fundação do nosso clube de várzea, o Monte Castelo Futebol Clube, time representante da Vila Operária em competições locais. Ao longo do texto, várias questões importantes vão sendo postas, tratadas amiúdes, como as atrocidades cometidas por essa milícia armada, que agia à revelia da lei, sem a interdição do aparelho de Estado; o já incipiente processo de degradação ambiental do município; a hegemonia econômica e política do grupo sobre a cidade e seus moradores; a luta sindical dos operários, assim como as dificuldades de o grupo Lundgren admitir a possibilidade de organização sindical ou sujeitar-se à legislação trabalhista incipiente, que começa a entrar em vigor na vigência do Estado Novo; as indisposições políticas do grupo com a interventoria do Estado Novo, representada por Agamenon Magalhães, amigo pessoal de Getúlio Vargas e um dos atores mais representativos do regime; uma eventual- e não menos polêmica - simpatia da família Lundgren pelo regime nazista; entre outros temas não menos importantes. 

No seu diário Tempo Morto & Outros Tempos, o sociólogo Gilberto Freyre deixa escapar, entre outras inconfidências, que gostaria de escrever uma história dos meninos no Brasil. Amigo fraternal de José Lins do Rego, alguns estudos chegam a sugerir que o paraibano poderia ter se inspirado nesta proposta para escrever o seu Menino de Engenho. É igualmente suspeita a proximidade de publicação de Casa Grande & Senzala(em 1934) e Menino de Engenho( em 1933). É como se eles houvessem combinado algo. Em última análise, Gilberto também escreveu um texto tratando dos meninos, se considerarmos que Casa Grande & Senzala sobre um Brasil menino, pois trata de nossa origem colonial. Lemos Menino de Engenho mais de uma dezena de vezes, sempre com o mesmo encantamento. Neste aspecto, este editor foi até mais sortudo do que o escritor paraibano. Menino de Engenho foi recusado por três editoras e o autor teve que bancar a primeira edição, com tiragem de dois mil exemplares, vendidas rapidamente. O nosso “Menino” foi premiado em concurso e publicado por uma grande editora.

O historiador Durval Muniz de Albuquerque, fez uma ponderação importante, durante uma palestra na Fundação Joaquim Nabuco,  sobre essa questão do resgate histórico. Há algumas memórias que precisam ser esquecidas. Quem tem fixação por resgate é o corpo de bombeiros e o SAMU. No nosso terceiro romance sobre o processo de industrialização no município, em seus capítulos finais, fazemos algumas considerações sobre este assunto. Qual é a memória que, de fato, precisa ser resgatada no município? Na nossa opinião é a memória dos trabalhadores e trabalhadoras, não alfabetizados ou semialfabetizados, deslocados de zonas do interior de estados como Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, que chagam à cidade no afã de encontrarem torneiras que, invés de água, jorravam leite; paredes de rapadura e montanhas de cuscuz. O que encontravam, na realidade, era um grande sofrimento, submetidos a turnos de até 12 horas de trabalho, dependentes de um emprego que pagava baixos salários e reféns da moradia no Vila Operária. Ao perderem o emprego, também perdiam suas casas. 

Essa História, a História dos trabalhadores e trabalhadoras está resgatada em nossos três romances sobre o tema. Uma pena que alguns desses personagens já não estejam entre nós, como meus pais; os melhores amigos de infância, como Dunda, Larry e Gera; o sapateiro Cícero; o barbeiro Português; Dona Tile e Biu Boião; Tonha da Porca; Biu Doceiro; o alfaiate Borba; Mané-Vê-Dois; Severino Bucho-Azul e Totonho Papa-Figo, a quem dedicamos dois livros infanto-juvenil. Cumpridos os prazos regimentais, estamos em negociações para uma segunda edição do texto. Expirado este prazo, o texto será disponibilizado em nosso perfil na plataforma da Amazon. Salvo melhor juízo, apenas na Estante Virtual ainda é possível encontrar os dois últimos exemplares da primeira edição. 

Editorial: André Fernandes dá "bronca" em Hugo Motta.



Assim que saiu a decisão do Supremo Tribunal Federal, que decretou a prisão e perda do mandato da deputada federal Carla Zambelli, o Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, antecipou-se em afirmar que decisão judicial era para ser cumprida, possivelmente ignorando uma apreciação do caso pelo plenário da Casa que preside. Pelo menos foi isso que se passou. Num discurso inflamado, o deputado federal do PL, eleito pelo estado do Ceará, André Fernandes, cobrou um reposicionamento de Hugo Motta em relação ao assunto, exigindo que a decisão de cassar o mandato da deputada seja apreciado pelo plenário da Câmara dos Deputados. 

Durante sua fala contundente, o parlamentar lembrou, inclusive, a relação de Hugo Motta com a Oposição, que já foi melhor antes de sua eleição para a Presidência da Casa. André Fernandes fez outras cobranças, como a pauta do PL da Anistia, afirmando que se sentia traído. Voltamos aqui, mais uma vez, a bater na tecla da relação entre o Legislativo e o Judiciário. O mais preocupante neste aspecto é que não há, no horizonte próximo, uma perspectiva de que essa contenda possa ser superada. O STF, por exemplo, aprecia, neste momento, com tendência de aprovação, a regulação das redes sociais, o que deve render amplas discussões daqui para frente, principalmente em razão da contraposição da Oposição em relação ao assunto. 

Habilmente, sem comprometimento, Hugo Motta voltou atrás e afirmou que a cassação da deputada Carla Zambelli será apreciada pelo plenário da Casa. Ratificou que não age sob pressão e que racionou apenas que o salário da parlamentar seria cortado de imediato, conforme determinou o Supremo Tribunal Federal. Tudo sugere que estamos tratando aqui de um recuou estratégico. 

Editorial: Embates entre Governo e Oposição dizem muito sobre dificuldades de gestão.



Ontem, 11, foi um dia bastante agitado na Câmara dos Deputados. Quando não tem sido, afinal, diante das indisposições entre Governo e Oposição? O clima está tão pesado que está se tornando inútil convocar ou convidar integrantes do Governo para prestar esclarecimentos no Legislativo. Eles estão abandonando seus assentos ou as sessões estão sendo interrompidas pela absoluta impossibilidade civilizatória de chegarem ao seu final. Desta vez foi o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não conseguiu dialogar com membros da Oposição durante uma sessão na Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados. O presidente da comissão, o deputado Rogério Correia, resolveu encerrar os trabalhos antes de sua conclusão. 

Há pouco tempo situação semelhante ocorreu com a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que abandonou o recinto depois de se sentir ofendida. A situação está sensivelmente complicada em áreas estratégicas da gestão, uma vez que as agendas são absolutamente distintas e é quase impossível um denominador comum ou a construção de um consenso mínimo entre ambas as partes. Segurança Pública, Meio Ambiente, Economia são áreas nevrálgicas que nos vem à memoria neste momento. Fernando Haddad encontra-se numa situação delicada, como aquele pai de família que fica raspando o tacho para não cortar a mesada do filho, que costuma exceder os limites de gastos. 

Perdeu a batalha dentro do Governo para os "gastadores" e encontra-se numa situação delicada, uma vez que sua única alternativa é aumentar os impostos. Na primeira vez que propôs um ajuste fiscal, alguns ministros do governo ameaçaram até pedir afastamento dos seus cargos. Se não é o IOF são outros penduricalhos, mas não esboça um único gesto no sentido de cortar na pele. Tem arrecadado bastante, o que é bom, mas o que adianta se estupora tudo? Seja para as finanças pessoais, seja para as finanças públicas, o que sai é mais importante para o seu equilíbrio das contas do que o que entra. Não concordamos com tudo que foi exposto pela Oposição, assim como a forma como foi dito, mas é um fato que a situação não está boa para parcelas significativas da sociedade brasileira. 

Os preços estão aumentando nas gôndolas dos supermercados, há uma projeção de espiral inflacionária crescente pela frente, cosias do gênero. O Governo deverá sofrer notas derrotas com o novo pacote em substituição ao IOF. Até partidos da "base" a exemplo do União Brasil e Progressistas já sinalizaram que votarão contra. Hugo Motta pede que o Governo faça um gesto.  Ninguém suporta mais essa gastança de dinheiro público diante do quadro temerário em que se encontra nossas finanças. O Governo Lula 3 assumiu a gestão com  R$ 54 bilhões de superávit. No primeiro ano, o rombo já superava os R$ 200 bilhões. Em 2027 teremos um grande problema pela frente, seja qual for o resultado que as urnas apontarem.   

Charge! Aroeira via Brasil 247

 


quarta-feira, 11 de junho de 2025

Resenha: Totonho Papa-Figo.


Numa de suas famosas aulas-espetáculo, o dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, relata alguns fatos curiosos envolvendo as pessoas esquisitas que moravam em sua saudosa Taperoá, no Sertão do Cariri  paraibano. Ariano conclui que, geralmente, nessas cidades do interior, sempre existe um louco, um ateu, um gaiato ou coisas assim. Até recentemente, descobrimos que o Rio Taperoá cortava a cidade de Cabaceiras, também no Sertão do Cariri, onde meus pais nasceram. Na cidade de Paulista, localizada na Região Metropolitana do Recife, todas essas figuras esquisitas se faziam presentes. Distrito industrial, praticamente formado por operários e operárias que para ali se dirigiam para trabalharem na indústria têxtil local, as características inerentes às cidades de interior acabavam ali aflorando. 

Durante a vigência da Ditadura do Estado Novo, que mantinha uma relação orgânica com setores conservadores da Igreja Católica, a presença de evangélicos na cidade era rara. Na realidade, a oligarquia industrial que controlava tudo na cidade, se identificava com o Catolicismo Tradicional e também não gostava de evangélicos, sendo registrado o afastamento de alguns deles das operações nas suas fábricas de tecido ao assumirem sua identidade religiosa. Essas perseguições, explica, em parte, porque a cidade de Abreu e Lima, à época um distrito de Paulista, tornou-se um grande reduto evangélico. Proibidos de atuarem na capital e adjacências, os evangélicos se deslocaram para aquele distrito, antes um local de hospedagem e um verdadeiro prostíbulo a céu aberto, salvo da ira divina em razão da presença dos crentes na cidade.  

O interventor do Estado Novo em Pernambuco, Agamenon Magalhães, mantinha uma relação curiosíssima com o parlamentar, sindicalista e líder evangélico Antonio Torres Galvão. O Estado Novo não tolerava evangélicos e os praticantes de religiões de matriz africana. Mesmo em tais circunstâncias, num ato de extremo raposismo político - uma vez que ele era desafeto da oligarquia industrial na cidade - aliado de Torres Galvão, Agamenon permitiu ao líder evangélico suas movimentações de evangelização na cidade, o que facultou a presença de alguns pregadores pela Vila, transmitindo a palavra de Deus. Numa dessas ocasiões, após um desses cultos, por alguma razão, deixaram o microfone ligado e um cidadão com o nome de Sóstenes, apossou-se do microfone e fez um discurso longo, dirigindo um monte de impropérios contra os pregadores, praguejando contra tudo e todos, inclusive contra aquele lá de cima. Somente assim ficamos sabendo que Sóstenes era ateu. 

No dia seguinte, sabe-se lá por qual motivo, Sóstenes amanheceu com a boca inchada, alimentando o imaginário social da Vila, onde alegava-se tratar-se de um castigo divino. Talvez não haja outra cidade com tantas pessoas esquisitas como Paulista. O elenco, com algumas exceções, estão presentes em todos os nossos romances ambientados na cidade, como o Menino de Vila Operária, Cidade das Chaminés e Chaminés Dormentes, que trata da origem, apogeu e declínio do ciclo de industrialização têxtil no município.  Algumas dessas personalidades são emblemáticas, a exemplo de Roberto do Diabo, que estabeleceu um grande conflito com os coronéis da oligarquia industrial, por ocasião da criação do primeiro sindicato dos tecelões na cidade.  Soube recentemente que tal  pendenga virou até tese de doutorado. Este editor ganhou um concurso de redação no colégio com uma redação sobre o assunto. A briga entre Roberto do Diabo e o coronel Frederico é um tema bastante explorado nos nossos romances. 

Algumas dessas figuras "esquisitas" assumiram um status próprio em nossos textos, a exemplo de Severino Bucho-Azul e, agora, Totonho Papa-Figo. Outra figura que está no prelo é a de Mestiço, um ex-combatente da Primeira Guerra Mundial, que andava pelas ruas da cidade, impecavelmente vestido com suas roupas de militar, uma espada, fazendo discursos na praça pública contra os políticos locais. Não tinha família e morreu assassinado de forma trágica, num episódio que nunca foi devidamente esclarecido. Mas, neste momento, vamos falar de Totonho Papa-Figo. Totonho Papa-figo era a personificação perfeita do “homem do saco”, uma lenda urbana que possui algumas variações de acordo com as regiões do país, mas uma possível origem comum, ou seja, uma figura deformada por alguma doença, que andava com um saco para sequestrar crianças com o objetivo de alimenta-se do seu fígado, que, segundo acreditava-se, poderia lhes trazer a cura.

As crianças são puras e, porquanto rezava a lenda, possuíam essa condição sanativa. Totonho morava sozinho, numa casinha da zona rural, bastante modesta. Era uma pessoa reclusa e, quando saía, não deixava de estar trajando roupas bastante surradas, um saco nas costas e um porrete numa das mãos, sempre acompanhado de vários cachorros. Também não era chegado ao asseio, o que o deixava com uma aparência estranha. Comentava-se na Vila que Totonho comia de tudo que encontrasse pela frente, como cachorros, gatos, calangos, sapos  e, naturalmente, fígado de criancinhas desavisadas. Os garotos de uma certa idade nem tanto, mas os menores temiam muito aquele velhinho, sempre com as mesmas vestes, de porrete na mão e saco nas costas, a assustar as crianças locais. Quando os meninos o viam nas ruas cortavam caminho e se escondiam para não cruzarem com ele. Quando, no início da década de quarenta foi construído um hospital para tratamento de pessoas portadoras de hanseníase no distrito, aí sim é que essa lenda tomou corpo, pois supunha-se que Totonho poderia estar a sequestrar crianças para levar os seus fígados para os leprosos do local comerem. Para completar o enredo, havia registros de crianças desaparecidas misteriosamente na Vila. Este é o nosso segundo texto de literatura infanto-juvenil. Estamos encantado com a experiência. 

Editorial: Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2026.



A seleção brasileira já nos proporcionou grandes alegrias no passado. A melhor seleção de todos os tempos é brasileira, aquela que atuou na Copa de 1970, com uma constelação de craques que ficarão em nossas memórias para sempre, a exemplo de Pelé, Gérson, Tostão, Rivelino, Jairzinho, Carlos Alberto Torres, Piazza e Clodoaldo. Durante muitos anos, mantivemos intacta, guardada com todo o zelo, uma coleção da revista Placar com a trajetória de todos esses craques. Como todo brasileiro, éramos apaixonados por futebol. Tínhamos o nosso time de várzea, que disputava o campeonato local, revelador de grandes astros dessa modalidade, a exemplo do Nego Tom, a nossa preciosidade dona da grande área, assim como Romário e Maradona. 

Nego Tom, que chegou à cidade vindo da Zona da Mata Sul do estado, foi um grande achado para o nosso time à época, carente de um centroavante com as suas características. Com a sua chegada, estruturamos o nosso time e conseguimos grandes proezas, como aplicar uma goleada de 4X0 no time da indústria têxtil local, representante do capital. Uma desforra que guardamos na memória até os nossos dias. No nosso primeira romance, Menino de Vila Operária, em seus capítulos finais, contamos a História do nosso time. No dia de ontem, 10, ficamos felizes com a vitória da seleção brasileira contra o Paraguai,  classificando-se para a disputar a Copa do Mundo de 2026. 

Felizes, mas sem aquele entusiasmo de outrora, quando reuníamos os amigos para tomar uma cerveja, de camisa verde e amarela, acompanhando em conjunto os jogos da seleção brasileira. As decepções foram tantas que deixamos de nutrir grandes expectativas em torno deste tema. A gestão do nosso futebol tolha qualquer expectativa positiva sobre os rumos do nosso escrete canarinho. Infelizmente. De qualquer maneira, parabéns ao Vini e ao técnico Carlos Ancelotti, que hoje comanda a nossa seleção. É a sua primeira vitória no comando da seleção. 

Editorial: Bolsonaro se compromete em depoimento.



O sociólogo Gilberto Freyre costumava afirmar que o Brasil era um país surreal, onde tudo seria possível, até mesmo um evento de carnaval agendado para uma Sexta-Feira Santa. É neste contexto que, apesar de uma tendência que indica hoje uma eventual condenação do núcleo duro da tentativa de golpe no país, ouvidos nos últimos dias no STF em inquérito, sabe-se lá como essa elite golpista se movimenta nos bastidores para evitar o desfecho de uma condenação iminente. A proposta do PL da Anistia, por exemplo, a despeito da narrativa, na realidade, nunca foi pensada para libertar o pipoqueiro do domingo no parque do 08 de janeiro, que é como a Oposição se refere àqueles episódios. Em todo caso, assistir em cadeia nacional, os artífices de mais uma tentativa de golpe de Estado no país em seus depoimentos comedidos, perfeitamente ensaiados, arrependidos, simpáticos, portando-se como inocentes defensores das instituições democráticas, já é um ganho. 

O ex-presidente Bolsonaro, com o espontaneísmo que é sua marca, resolveu falar e, de alguma forma, se comprometeu em sua narrativa, quando admitiu a reunião com os chefes militares para discutir a tal minuta, embora tenha ressaltado que isso não passou do plano das discussões, das possibilidades em estudo. O mais esteve dentro de um script perfeitamente previsível. Nenhum dos depoentes contrariou o Ministro relator - pelo contrário, ele foi convidado até para ser vice numa chapa em disputa pelo Planalto - seguiram à risca as recomendações dos seus advogados, participando de uma espécie de Escolinha do Professor Raimundo, onde os advogados realizaram perguntas previamente programadas, de acordo com as enrascadas legais onde eles estavam metidos, e eles respondiam conforme o que havia sido acordado. Curioso é que ninguém é golpista nessas horas, evidenciando como os indivíduos adequam seus discursos de acordo com as circunstâncias ou conveniências. Houve momento até de arrependimento. De coisas ditas sem pensar, como reflexo de um momento de instabilidade emocional do sujeito. 

Seja lá qual for o desfecho do julgamento dos envolvidos em mais uma tentativa de abolição violenta do Estado de Democrático de Direito no país, a Oposição afia as suas garras para as eleições de 2026, onde pode adquirir a musculatura suficiente para produzir, como resultado, um reequilíbrio de forças entre os Três Poderes da Republica. Neste sentido, a eleição para o Senado Federal tornou-se a grande aposta dos oposicionistas. Enquanto eles já aparecem com nomes na condição de francos favoritos em alguns estados da Federação, o Governo Lula 3 apenas despertou para esta realidade. Talvez continue assim até outubro de 2026.  

terça-feira, 10 de junho de 2025

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247.

 


Editorial: O dilema do PL em Pernambuco.



Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas, repercutido em matéria da revista Veja, o senador Humberto Costa é um dos poucos candidatos do centro-esquerda com chances de assegurar a sua reeleição ao Senado Federal em 2026. Aqui em Pernambuco, quando nos referimos aos candidatos ao Senado Federal, vale o preceito bíblico que observa que muitos serão os chamados e poucos os escolhidos. Há uma profusão de candidaturas para as eventuais formações de chapas em formação para concorrer ao Palácio do Campo das Princesas, hoje polarizadas em dois nomes: o da governadora Raquel Lyra(PSD-PE), que tentará a reeleição, e a do prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), que deverá concorrer pelo PSB. 

Conforme já informamos antes, a candidatura de João Campos, a julgar pelas expectativas em torno do seu nome formada pelos líderes do partido, trata-se de algo que já não lhes pertence. Ele sairá candidato ao Governo do Estado de Pernambuco em 2026. Por enquanto é assim que a centrífuga política vem funcionando no Estado, sobretudo num contexto em que, nacionalmente, as eleições para o Senado Federal se tornaram a grande batalha entre as forças do campo progressista de centro-esquerda e a as forças conservadoras de centro-direita. Aqui em Pernambuco, por exemplo, esses grupos de centro-direita já estão diluídos, ora em torno de uma candidatura, ora em torno da outra, uma vez que as cerimônias ideológicas já foram abandonado há algum tempo, em nome do pragmatismo político. 

Lula, por exemplo, poderá ter dois palanques no estado, conforme ele já insinuou. O PT encontra-se igualmente cindido. Enquanto uma ala participa da gestão municipal, a outra apoia politicamente a governadora Raquel Lyra. O dilema que se apresenta é em relação ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele tem defendido que o nome a ser lançado será o do seu ex-ministro e fiel escudeiro, Gilson Machado, enquanto o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, conta com as bençãos da direção nacional da legenda. E, por falar em Anderson Ferreira, a relação da família Ferreira com o Palácio do Campo das Princesas voltou a um estágio de lua de mel. Em São Paulo, Guilherme Derrite, precisou desfiliar-se do PL e abrigar-se no PP para assegurar seu nome na disputa ao Senado Federal em 2026.  

Charge! Renato Aroeira via Facebook.

 


Editorial: O primeiro dia de julgamento dos indiciados pela tentativa de golpe.



Logo mais, a partir das 09h:00, teremos a retomada do julgamento dos réus da ação 2668, que trata da recente tentativa de um golpe de Estado no país. No dia de ontem, 09, foram ouvidos o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem da Presidência da República no Governo Jair Bolsonaro, e o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin. A imprensa hoje destaca as contradições apontadas pelo advogado de Jair Bolsonaro em relação ao depoimento do ex-ajudante de ordem, que confirmou que Jair Bolsonaro tinha, sim, conhecimento da tal minuta do golpe. Não apenas tinha conhecimento, como sugeriu mudanças no texto, de acordo com o militar. 

De fato, o depoimento de Mauro Cid começou com muita firmeza, passando segurança, mas, a partir de um certo momento, ele pareceu inseguro em suas respostas, argumentando não ter certeza sobre alguns fatos e não se lembrar de outros. Alexandre Ramagem foi muito seguro em suas respostas, passando muita convicção sobre o que estava afirmando. Não titubeou em nenhum momento e ainda esclareceu alguns pontos importantes sobre a dinâmica interna dos órgãos de inteligência no país, como a ausência de mecanismos efetivos de controle sobre as ações dos seus agentes. 

Acreditamos que aqui estamos diante de um problema generalizado das agências de informações em todo o mundo, justificando o controle dessas agências pelo Poder Legislativo e os serviços de contra-espionagem. Eles operam em ambiente bastante tênue entre o legal e o republicano e a extrapolação desses limites. Outro gravíssimo problema é o aparelhamento desses órgãos pelos governos de turno para bisbilhotarem a vida dos seus desafetos, principalmente num país como o nosso, carente de práticas republicanas de gestão da máquina pública. 

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


Editorial: O julgamento de Jair Bolsonaro.



Neste momento, a TV Justiça começa transmitir, ao vivo, os interrogatórios dos réus envolvidos na ação 2668, ou seja, os indiciados na tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito no país. A defesa do general Braga Netto entrou com um pedido de não transmissão do interrogatório, mas o pedido foi rejeitado pelo relator, o Ministro Alexandre de Moraes. O interrogatório começa com o tenente-coronel Mauro Cid, pelo fato de ele ter colaborado com as investigações. Os demais envolvidos, seguirão a ordem alfabética. No início, o Ministro relator informa como se segue o interrogatório, inclusive enfatizando o direito dos réus em se manterem em silêncio, respeitando-se o direito de não produzirem provas contra si. 

A expectativa maior, naturalmente, está relacionada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Há muitas especulações em torno de como será o seu comportamento diante do interrogatório. Especulações ficam sempre no plano das especulações por aqui, antes de submetê-las ao crivo das checagens. O importante é que o interrogatório está sendo transmitido ao vivo, o que permite que os telespectadores possam tirar suas próprias conclusões. Durante o final de semana, o ex-presidente submeteu-se a uma espécie de plantão do ENEM, ou seja, trancou-se com seus advogados no Palácio dos Bandeirantes, onde se preparou para o depoimento. 

Apesar das circunstâncias adversas, o ex-presidente ainda alimenta suas expectativas em relação às eleições presidenciais de 2026. Continua com o seu eleitorado fiel, aparecendo bem nas pesquisas de intenção de voto e contando com o apoio de fiéis escudeiros, que outorgam ao capitão a total liberdade de conduzir ou coordenar o processo eleitoral no campo da centro-direita, ou seja, na hipótese de uma não reversão da inelegibilidade, caberá a ele a escolha do ungido, que poderá ser alguém do próprio clã familiar. Hoje, o mais provável seria o nome de Eduardo Bolsonaro.  

Editorial: Paraná Pesquisas aponta que direita sai na frente na batalha pelo Senado Federal.


No dia de ontem, 08, tivemos a oportunidade de ler uma matéria da revista Veja tratando das eleições para o Senado Federal, em 2026, onde enfatiza-se a relevância que esta eleição vem assumindo para o Governo e para a Oposição, uma relevância possivelmente maior do que mesmo a eleição presidencial. A matéria destaca os dois pronunciamentos recentes dos atores mais relevantes deste tabuleiro político, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Bolsonaro fez um apelo aos seus eleitores, durante sua passagem por Fortaleza, para que eles lhes dessem 50% da bancada de deputados e senadores. Com isso, ele acredita que pode mudar o Brasil. Lula, durante o encontro do PSB que conduziu o prefeito do Recife João Campos à Direção Nacional da legenda, diagnosticou, com precisão, o que a Oposição pretende se obtiver a maioria na Câmara e no Senado Federal, principalmente no Senado Federal, traduzido na perspectiva de fustigar o STF. 

O Governo sugere que será feito um mapeamento, clivando os postulantes nos estados que alcancem melhores condições na disputa, apoio a candidaturas da base aliada que reúnam melhores condições na disputa, entre outras coisas. Pesquisa do Instituto Paraná Pesquisa, citada pela revista, aponta uma folgada dianteira de candidatos do centro-direita na disputa. Romeu Zema em Minas Gerais; Derrite e Eduardo em São Paulo; Cláudio Castro no Rio; Michele e Ibaneis em Brasília; Ratinho Júnior no Paraná;  Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Pelo campo do centro-esquerda governista, apenas Humberto Costa em Pernambuco e Renato Casagrande no Espírito Santo aparecem com as candidaturas consolidadas e com chances de êxito.  

Numa manobra que tem tudo a ver com aquele pleito, as placas tectônicas já começam a se acomodar no maior colégio eleitoral do país. Guilherme Derrite, deputado federal que ocupa a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, deixou recentemente o PL para filiar-se ao Republicanos. O arranjo teria como objetivo deixar o PL livre para indicar um nome da família Bolsonaro para a disputa da outra vaga ao Senado Federal. Derrite emite sinais de que pode deixar o cargo que ocupa no Governo de Tarcísio de Freitas. Existem algumas miudezas em discussão sobre as motivações de uma eventual afastamento dele do cargo. Como afirmamos, são apenas miudezas - como o excesso de câmaras do subordinado - mas são apenas miudezas. O jogo é mais pesado e a direita sabe de suas prioridades.