pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Michel Zaidan Filho: Meu caro Jamildo






Escrevo esta carta para agradecer a gentileza da publicação do meu modesto comentário sobre o velório e o funeral do ex-governador de Pernambuco, a quem conheci de perto e fui várias vezes convidado por ele e seus assessores graduados para colaborar com o PSB e seu programa, tendo, inclusive,participado de evento (sobre a juventude) de campanha. Como você sabe (assim espero) sempre fui um duro crítico da família Arraes, do ex-governador Jarbas Vasconcelos (que me processou  por duas vezes, por críticas a sua gestão) e do falecido.Acredito que o Estado de Pernambuco não é mais uma capitania hereditária governada por um Cavalcanti. A Constituição brasileira garante o direito de crítica, a liberdade de expressão e o direito ao contraditório, mais ainda quando se trata da administração republicana. A gestão pública não é um negócio particular, de família, de uma oligarquia familiar ou partidária que pode fazer o que quer da fazenda pública e não dá satisfação a ninguém. Existem tipos penais, no direito administrativo e eleitoral, sobre o mau uso dos recursos públicos, a intransparência da gestão pública, a renúncia fiscal, contratos e licitações lesivos ao interesse público, o nepotismo etc.
                         Lamento muito que a imprensa de Pernambuco não tenha (ou não tenha se dado) a liberdade de fiscalizar e denunciar os crimes contra a administração pública, por interesses ou por medo. Para o seu conhecimento, foram os correspondentes dos Jornais do Sul e Sudeste (Veja, Folha de São Paulo, Piauí, Globo e Estado de São Paulo), que tiveram a liberdade de ler o   livro crítico sobre a obra administrativa do ex-governador e fazer perguntas e indagações sobre ele. Fora do aconchego jornalístico de Pernambuco, a mídia não sabe quem é o personagem, desconhece o seu perfil e sua ação político. Por isso que procuram os críticos independentes, que não recebem jetons ou contracheque, nem tem parentes e apaniguados no governo do Estado. Você não faz ideia do que os correspondentes dizem quanto a transparência e a liberdade de acesso e de crítica ao ex-governador. Ouvi coisas em que não acreditei!
                          A sua iniciativa de publicar, com erros - pois tinha lhe enviado outro texto corrigido- o meu modesto comentário sobre necrofilia política ou o banquete totêmico que terminou sendo um ato fúnebre - com o apoio do governo estadual - que é do mesmo partido- transformou o funeral em espetáculo, com carros de som na rua chamando o povo a participar da cerimônia, prometendo água mineral a quem fosse, toldos para proteger da chuva, a interdição de ruas e do próprio cemitério,de Sto. Amaro!  Você há de convir que quem transforma sua dor e seu luto em "luta política"  faz do funeral um ato político-eleitoral, aproveitando-se das circunstâncias, e está sujeito a críticas de todo tipo. Não há necessidade de pedir licença para publicar uma crítica ao despudor e a discrição.
                           Pergunto eu a você: por que a família de ex-governador não respeitou a minha dor, quando perdi o meu querido pai, e enviou insistentemente mensageiros a minha casa, para eu ajudá-lo na montagem de sua equipe e de seu  programa. Não respeitou sequer a missa de sétimo dia do falecimento do meu genitor. Tive que dizer que não permaneceria com ele e seus assessores, pois tinha que prestar essa homenagem ao meu pai.
                           Pior ainda foi a morte do meu sogro, num hospital administrado pelo IMIP, que leva o nome de Miguel Arraes. Imperícia médica, negligência, falta de equipamentos adequados na UTI,  foi isso que o coitado encontrou no hospital. E no entanto, nem sequer o Secretário de Saúde se dignou a procurar saber o que tinha havido.
                            De dor, perda e luto em família, eu entendo e respeito. Mas tem famílias que não sabem sentir essa dor, em silêncio, com discrição. Fazem da dor um trampolim para os interesses políticos do seu grupo ou da sua oligarquia. Como ateu e materialista, me solidarizo com a morte do ex-governador. Mas como ser humano, não posso aprovar essa necrofilia política, que espetaculariza a morte de parentes, com o objetivos de extrair vantagens para si e os seus.
                           Peço sua compreensão por esse desabafo, que não vai se encerrar aqui. Todos que me entrevistarem sobre o ex-governador ouvirão as minhas críticas e minha desaprovação: deslealdade e ambição, defeitos difícil de serem perdoados.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.


Nota do Editor: Nossa integral e absoluta solidariedade, professor. 

Michel Zaidan Filho: Quando a morte é uma festa



                                Esse é o título do livro  escrito pelo historiador baiano João José Reis, falando dos velórios realizados no interior do Brasil. Para não fugir à tradição, o velório e o funeral do ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República pelo PSB tem tudo para se transformar num mega-espetáculo, inclusive com carros de som convocando a população do Recife para o evento fúnebre, a ser realizar - aliás - no Palácio do Governo. A festa tem a cara de uma ato político-eleitoral, com a anuência da família do falecido. Nem bem ainda o IML tinha realizado o exame de DNA para a identificação dos despojos que corresponderiam ao corpo do ex-governador, o irmão- literato  usou de suas habilidades intelectuais para redigir uma carta aberta propondo a substituição do irmão morto pela irmã (de fé?) Marina Silva na cabeça da chapa majoritária do PSB. Não deixa de ter seu valor de curiosidade etnológica essa mistura - tipicamente nordestina e brasileira - entre negócios e luto. A morte também pode ser um grande negócio. Haja vista a venda de flores pelas floriculturas do Recife. Muitas lucram com a morte trágica e o sentimento de luto da família do ex-governador. Daí a preocupação com o funeral que deve contar com honras de Estado. Lembrem-se do suicídio de Getúlio Vargas, a morte de Tancredo Neves, a morte de Miguel Arraes e agora, a do seu neto e herdeiro político. Muita gente quer tirar proveito desse funeral. Até os adversários e ex-adversários políticos do ex-governador. Um evento desse tipo pode ser facilmente transformado - com o auxílio inestimável da mídia e do governo estadual - numa comoção popular semelhante à perda do pai primordial, do deus ancestral, das divindades totêmicas que velam pela sorte dos vivos. Não será a primeira vez  na história política brasileira. O primeiro  desaparecido ilustre que encabeça a lista é o rei D. Sebastião Diniz, morto na batalha de Al Kacequibir, na Africa, em sua cruzada contra os mouros. A espera messiânica de D. Sebastião - romanceada por Ariano Suassuna -  alimenta até hoje o imaginário político brasileiro, que vive aguardando o retorno do encantado. A transformação do messianismo religioso em messianismo político para, hoje em dia, obra de assessores de campanha política a serviço da esperteza de parentes do falecido (lembrar a carta aberta do irmão- literato)
                              Não vai ser tarefa fácil. Um líder religioso ou profano não surge assim da noite para o dia, por obra e graças de um desastre aéreo, por mais investimento simbólico-propagandístico que venha a receber. A tragédia desses líderes precisa corresponder- de verdade - a uma vida de sacrifício, de dedicação ao interesses da população, martírio, exílio e morte. Como dizia Hegel, os verdadeiros líderes históricos não passaram de caixeiros viajantes do espírito absoluto: uma vez cumprida a sua tarefa, são abandonados à sua própria e infeliz sorte. Não é bem este o caso do neto de Arraes. Nem na vida, nem na morte se vê indício de sacrifício ou abnegação por uma grande causa humanitária. Quem se lembra da foto, divulgada pela imprensa, o ex-governador tomando champagne  em seu jatinho, enquanto a população de Pernambuco sofria com a greve dos policiais do seu "Pacto pela Vida", não pode concordar   com o seu ingresso no Panteão dos deuses. A rigor esse exercício de santificação é mais da responsabilidade dos que estão vivos (bem vivos) do que do morto.
                             Em primeiro lugar, da família, que não quer perder o controle da sucessão do cabeça de chapa do PSB na disputa  presidencial. Daí a carta-aberta do irmão literato. Segundo, da ex-senadora Marina Silva, de olho em sua indicação oficial, na próxima quarta-feira, como sucessora de Campos. Do próprio PSB, em encontrar  um nome a altura de substituir o nome do ex-governador na chapa majoritária. E da coligação política local em garantir a eleição do preposto para o governo estadual. No fundo, a morte é um bom negócio. De um cenário pouco estimulante, pode se fazer uma mudança eleitoral que beneficie a candidata e a coligação estadual do PSB. Como diziam os filósofos, a morte é sempre um problema para os vivos. Eles é quem tem de ressignificar a tragédia para dar um novo sentido às suas vidas e ambições. E assim, quando o cortejo fúnebre passar pelas ruas do Recife, com o esquife dos mortos, na  triste   caminhada, onde estarão o coração, a mente, os sentimentos de muitos daqueles, que na frente das câmaras, se desesperam e choram como as antigas carpideiras,  contratadas para se  lamentar nos velórios das cidades do interior do País.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

sábado, 16 de agosto de 2014

Marina pode atropelar os tucanos?

Marina pode atropelar os tucanos?

publicada sexta-feira, 15/08/2014 às 13:42 e atualizada sexta-feira, 15/08/2014 às 13:42
O sonho dos tucanos (leia aqui) é que Marina Silva apareça forte na próxima pesquisa, mas que depois seja desidratada para abrir passagem a Aécio Neves. Falta combinar com os eleitores.
por Rodrigo Vianna
Com o olhar compungido, Marina Silva surge numa sala apertada, para o primeiro pronunciamento depois da morte de Eduardo Campos. Não fala de temas eleitorais, oferece “apenas” conforto à família do candidato morto. Não tem pompa nem pose, não quer parecer uma “estadista”…
Assisto à cena na Redação. Uma colega, menos afeita aos temas da política, pergunta: “quando será que ela começa a campanha pra valer? Precisa esperar uns dias, né?”.
Outro jornalista, mais experiente, responde rápido: “a campanha dela já começou; isso aí que você tá assistindo é o primeiro pronunciamento de campanha”.
Poucas horas depois, converso com outro colega – raposa velha em coberturas eleitorais: “o que você achou da fala da Marina?”. E ele: “importa pouco o que ela disse; importa muito mais a maneira como aquilo foi dito”.  
Marina Silva não precisa falar de política pra fazer política. Essa é a grande força da candidatura dela. Não sei se Marina surgirá na faixa dos 15%, ou acima dos 20% na próxima pesquisa DataFolha (que será divulgada entre domingo e segunda-feira). Mas sei que ela tem uma boa chance de encampar o discurso da “não-política”. Um discurso que é – claro – tudo menos “não-político”.
Eduardo Campos enfrentava enorme dificuldade para conquistar esse eleitor desesperado por algo “novo”. Aécio, então, nem se diga…
Esse era o grande nó da campanha em 2014. Um terço dos eleitores está fechado com Dilma; outra parcela (bastante barulhenta, mas que reúne pouco menos de um terço do total) se dispõe a votar em qualquer um contra o PT; só que há ainda 30% dos eleitores que não querem PT mas também não topam PSDB. Esse é o eleitor desiludido “com tudo que está aí”.
Em 1960, esse clima de “mar de lama” terminou em Janio. Em 1989, a desilusão terminou em Collor.
Em 2014, Eduardo achou que poderia ser a terceira via, com um discurso moderado, a meio caminho entre PT e PSDB. Não entendeu, talvez, que esse terço “desiludido” dos eleitores não quer meio-termo, não quer meio do caminho. Quer alguém que seja (ou pareça) outro caminho.

(Publicado originalmente no site O Escrevinhador, do Jornalista Rodrigo Vianna)

Michel Zaidan: A Herança política de Eduardo Henrique de Accioly Campos







É muito cedo para fazer a autópsia da obra administrativa e política do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Henrique de Accioly Campos. Mas uma coisa pode se dizer: ela não se compara com a do avô, nem em qualidade nem em extensão. Neste caso, o mero sobrenome da família Arraes não garante a continuidade da obra do velho Miguel Arraes de Alencar. As obras são dessemelhantes e de duração muito diferente. Além, é claro, da história de vida de cada um. Arraes era um político da geração pós-45, banhado no nacional-desenvolvimentismo, injustamente classificado como "populista". O neto é da era da globalização e dos gerentes do mercado, políticos ironicamente designados como "salesmen", vendedores de ativos públicos, receitas, reservas ambientais e vantagens locacionais a empresas estrangeiras. O velho Arraes nunca foi a favor da guerra fiscal e da desrregionalização da economia brasileira. Pelo contrário, sempre defendeu as políticas de desenvolvimento regional integrado e reforma agrária. Causa espanto a aproximação do neto com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e caterva. Porque o seu avô foi hostilizado até o fim pelo governo tucano e seus aliados em Pernambuco (Marco Maciel, Jarbas Vasconcelos, Sérgio Guerra etc.) Se herdou alguma coisa do velho certamente não foi o sentimento do mundo e as duas mãos, como ele disse uma vez. Foi o caráter oligárquico, autoritário, centralizador e familista do avô.
                      A propósito, a repórter do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, perguntou o que eu achava da continuidade desse legado pelas mãos do filho mais velho de Eduardo Campos, João Henrique. Sinceramente, a se confirmar a informação, seria o carimbo decisivo da reprodução de mais uma oligarquia familiar em Pernambuco: do avô para o neto: do neto para o filho. Ocorre que o herdeiro de Eduardo Campos é um ilustre desconhecido. Não sei, se como o pai, fez política estudantil. Mas sei que por imposição paterna ia se transformando em presidente da juventude socialista-familiar. O que provocou uma rebelião da prima: Marília Arraes, que chamou o tio de "coronel". Coronel?
                       De toda maneira, se o filho de ex-governador vai mesmo seguir a carreira política do pai;, "carregando a sua bandeira" e "os ideais político" do seu ilustre genitor, deveria prestar atenção em alguns conceitos muito importantes da ciência política: "familismo amoral", "nepotismo", "publicização das políticas sociais", "socialização das perdas" e "privatização dos lucros", "propaganda enganosa", "Estado de exceção episódico", "transferência de responsabilidades para a sociedade civil", "terceiro setor", "guerra fiscal ou a destruição do pacto federativo", "entropia" e "parceria-público-privado" ou "capitalismo sem risco". Ia acrescentar "ambição política" e "deslealdade", com disse a repórter da TV Globo.
                        Em resumidas contas, o rapaz é jovem, tem muito tempo de aprendizagem pela frente, e pode aperfeiçoar a sua formação política. Espírito público e tirocínio político não são transmitidos geneticamente. Aprende-se com a boa educação republicana, com os bons exemplos, com oportunidades e a punição exemplar de condutas não recomendáveis. E são muito ajudados por instituições sólidas e boas. O Brasil precisa muito de renovação política. Mas esta não se confunde com renovação da faixa etária, de membros de uma mesma família no poder. A juventude é uma promessa, não é um destino ou condenação. Vamos apostar nela.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Michel Zaidan: A morte de Eduardo Accioly Campos

Em Pernambuco, a disputa pelos votos de Miguel Arraes.

publicado em 15 de agosto de 2014 às 12:03

eduardo_arraes
por Luiz Carlos Azenha, de Recife
Resumindo conversas com gente de Pernambuco, disseram-me algo assim: “Fora daqui, ninguém imagina os ecos da existência do Miguel Arraes. Nem os que reconhecem a imensa contribuição dele à política nacional”.
O que queriam me explicar, obviamente, era a ousadia de Eduardo Campos ao romper uma aliança razoavelmente estável com o PT, eleger o prefeito do Recife e sair candidato ao Planalto pelo PSB, partido no qual ingressou junto com o avô, em 1990.
Dizem os petistas, nas redes sociais, que foi “trairagem”. Que Campos surfou nos investimentos maciços feitos no estado por outro pernambucano, o ex-presidente Lula.
Os três, aliás, se conheceram quando Arraes retornou de quase 15 anos de exílio na Argélia, em 1979. Lula estava lá. Campos, em uma foto, aparece bem atrás do avô.
Arraes teve oito filhos. A filha Ana, hoje no TCU, foi eleita deputada federal duas vezes. Mas ninguém teve o sucesso do neto, que aprendeu todos os macetes da política com o avô.
Estamos aqui no campo da tradicional política brasileira: personalista e baseada em clãs.
A fortíssima devoção dos pernambucanos a Arraes, aliás, “Doutor Arraes”, tem relação com benefícios diretos concedidos a eles num tempo em que os latifundiários reinavam absolutos no estado. Brincou um amigo: o Arraes inventou o Fome Zero, era o programa Chapéu de Palha, de benefício aos sertanejos. No imaginário popular, foi um “pai” — e pai a gente nunca esquece.
Antes de fazer toda sorte de concessão aos grandes negócios, Eduardo Campos tratou de retomar na prática a trilha do avô. Os adversários atribuem à marquetagem, mas o fato concreto é que alguns bairros simbólicos do Recife, como a ilha de Deus, foram tirados da miséria por ele.
Quanto às concessões, apoiadores de Campos apontam as que foram feitas por Lula a banqueiros e empreiteiras. Jogo empatado?
Campos provavelmente venceria a eleição presidencial em Pernambuco por boa margem. O jovem ambicioso — um “trator” nos bastidores, dizem — queria fazer o que o avô nunca conseguiu. Para os apoiadores, percebeu a guinada à direita do PSDB e antevia a demolição do Centrão de Sarney. Decidiu marcar posição como alternativa “moderna” ao PT.
Embora o avô Arraes, por propaganda da direita, tenha entrado na História como um vilão radical, contam-me que só foi eleito pela primeira vez governador de Pernambuco por saber costurar alianças, uma característica que o neto teria herdado.
O fato concreto é que, quando Eduardo Campos for sepultado, no mesmo jazigo do avô, o ciclo político de uma dinastia terá sido encerrado em Pernambuco, pelo menos no curto prazo.
Marina Silva, embora apoiada por familiares de Campos, tem menos chances de vencer Dilma em Pernambuco que o candidato do PSB. Do ponto-de-vista meramente eleitoral, a disputa agora é pelo espólio político de Miguel Arraes e o ex-presidente Lula obviamente será a chave para o PT reconquistar uma parcela dele. Não duvido que o PT, a essa altura, esteja tentando atrair o PSB ou parcelas do PSB de volta à coalizão governista.
Por outro lado, como já escrevi anteriormente, por motivos reais ou imaginários há um profundo desencanto com a política, parte do qual pode ser atribuído à campanha diuturna da mídia corporativa para promover o antipetismo, especialmente durante o julgamento do mensalão.
Minhas observações pessoais, não estatísticas, indicam que o antipetismo chegou aos grotões e contaminou parcela considerável dos que se beneficiaram da ascensão social despolitizada promovida pelos governos Lula-Dilma. Disso deriva o risco real e concreto de um segundo turno muito difícil para Dilma Rousseff.
Vamos ver se o horário eleitoral gratuito, com Lula comandando o canhão, tem o poder de evitar isso.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A vantagem de Dilma a partir do horário eleitoral passa a ser imensa

Por Renato Rovai

agosto 11, 2014 16:34


A presidenta Dilma vem desde junho de 2013 atravessando um deserto. Antes de junho do ano passado, vivia-se uma letargia controlada. Sabia-se que as coisas não iam tão bem quanto alguns governistas achavam, mas ao mesmo tempo imaginava-se que o risco de que ela viesse a ser derrotada em seu projeto de reeleição era baixo. Depois de junho, tudo mudou.
A popularidade da presidenta caiu pela metade, deu uma leve subida depois, mas estacionou num patamar baixo. Aí entrou o período do #ImaginaNaCopa e o Brasil era pintando em verso e prosa pela mídia tradicional como um dos piores países do mundo. O catastrofismo imperava no noticiário. Iríamos passar um vexame terrível.
A Copa foi bem sucedida do ponto de vista organizativo e não fosse os 7 a 1 contra a Alemanha, que reacendeu o nosso complexo de cachorro vira lata, o governo teria lucrado uns pontos no seu índice de aprovação.
A Copa mal acabou e voltaram os discursos de ruína econômica. O nosso problema passou a ser a volta da inflação e do desemprego. A primeira já dá indícios de estar controlada. Por conta do discurso de que estava em disparada, parece que até o remédio utilizado foi forte. Corre-se o risco de perda de crescimento. E o desemprego no Brasil é muito baixo e não há nenhuma chance de se tornar um problema concreto em curto espaço de tempo.
Com tudo isso, a presidenta Dilma manteve-se num patamar próximo de 38% dos votos totais nas pesquisas eleitorais. Tomando porrada todo dia e com uma comunicação bem desarticulada de defesa de sua gestão. Daqui a oito dias começa o horário eleitoral e Dilma terá mais de 11 minutos três vezes por semana para mostrar o que fez. E mais uma batelada de inserções de 15 e 30 segundos durante a programação todos os dias.
Em condições normais de temperatura e pressão isso poderia não ser assim algo tão importante. Mas como a presidenta contou pouco a história do seu governo, como sua comunicação durante esses três anos e meio foi perto de desastrosa e como a mídia tradicional vem socando-a sem dó e nem piedade quase todos os dias, isso pode fazer muita diferença.
Dilma não fez um governo melhor do que o de Lula, mas tem muito o que mostrar. Fez programas importantíssimos como o Pronatec e o Minha Casa Minha Vida, só para citar dois. Além de ter criado o Mais Médicos.
Dilma precisa de 43 a 45% dos votos totais pra ganhar no primeiro turno. Ou seja, precisa ampliar em uns 15% seu eleitorado. Pode parecer pouco, mas não é. Terá que mudar a opinião de muitas pessoas,  principalmente de São Paulo, onde precisa  chegar perto dos 40% dos votos no estado. Se conseguir isso, acaba com a eleição no dia 5 de outubro.
A Globo, a Veja e outros parceiros da mídia tradicional vão fazer de tudo para que isso não aconteça. Mas pesquisas que forem feitas depois da primeira semana do horário eleitoral serão o termômetro de muita coisa. Inclusive das doações e do reposicionamento ou não de alguns setores empresariais. Mesmo aqueles que hoje torcem o nariz pra presidenta mudarão suas cartas caso passem a achar que sua reeleição é inevitável. E aí, o jogo ficará muito mais difícil para a oposição. Muito mais difícil.

(Publicado originalmente no blog do Rovai, Revista Fórum)

domingo, 10 de agosto de 2014

No dia dos pais, Flávio Dino é atacado por morte do filho

Michel Zaidan: Histórias edificantes sobre os políticos de Pernambuco



                                        Quando me encontrava, ainda, na Coordenação do programa de Pós-graduação de Ciência Política, recebi uma demanda do professor Jocildo, do Depto. de Economia, da parte do então candidato a deputado federal Armando Monteiro Neto. Em resumo, tratava-se de armar um palanque na universidade para que o candidato apresentasse seu programa político. Argumentei ao meu interlocutor armandista que só faria o debate com um deputado ou político que representasse o contraditório. Pensei inicialmente no meu amigo, já falecido, Edson Mororó Moura, mas ele não aceitou. Então a professora Tânia Bacelar sugeriu o nome de Sérgio Guerra, vinculado nessa época ao PSB. O debate se realizou na Centro de Ciências Sociais Aplicadas. E foi interessante  ouvir o contraponto da visão moderna, empresarial, de mercado do deputado pessebista vis-a-vis ao programa de defesa da caprinocultura e da cotonicultura  pernambucanas, defendida por Armando Monteiro Neto. Frise-se, que antes dessa troca de opiniões sobre a economia do Estado, tive a oportunidade de ler, como mediador do debate, uma pesquisa realizada pelo nosso Programa sobre o perfil dos chamados "empresários modernos" da FIEP, que de modernos tinham muito pouco, porque também viviam de olho nos recursos do BNDES.
                                      Passado esse evento, Armando Monteiro candidatou-se a Presidente da CNI. Foi quando a revista Carta Capital publicou um imenso dossiê sobre a vida empresarial do candidato, dizendo tratar-se de um membro de tradicional família de usineiros de PE e de empresários pouco eficientes e dizia que, costumeiramente, a CNI era alvo das oligarquias políticas do NE, ao contrário da FIESP que era onde se encontravam os empresários modernos, competitivos do Brasil. Armando Monteiro ganhou, como previsto, a eleição para a CNI. E na condição de presidente da entidade e deputado federal apresentou um projeto de lei reduzindo os direitos trabalhistas dos operários brasileiros, como condição do aumento da competitividade da indústria nacional!
                                      Trocando o PMDB, pelo qual se elegeu deputado, pela legenda do PTB, passou a fazer parte da base política de ex-governador do Estado, sendo eleito senador   na legenda do PSB. Agora se apresenta como candidato ao governo do Estado, ao lado de Paulo Rubem e João Paulo Lima, contra o candidato do ex-governador e seu partido. O que mais chama a atenção não é o troca-troca de legenda ou aliados de acordo com as conveniências políticas do momento, facilitada pela frouxidão da legislação partidária brasileira. O que surpreende a todos é como um representante do empresariado mais atrasado do Brasil  fale em nome dos trabalhadores de Pernambuco!   Desde quando usineiros, patrões, empresários ou homens de negócios defendem os interesses da classe trabalhadora? - Só num regime fascista ou corporativista que prevê a proibição da luta de classes e prega abertamente a colaboração das classes sociais, é possível entender o significado de uma tal candidatura.
                                       Um coisa é certa: os trabalhadores terão muito pouco a ganhar com essa candidatura. Se com o  "pau mandado"  do ex-governador e sua agenda gerencial do Estado, definitivamente ninguém ganha nada; com essa mistificação eleitoral - reforçada com o apoio de João Paulo e Paulo Rubem, muito menos. Não há nesta candidatura nenhum programa coletivo, de interesse público. Muito menos, trabalhista. Trata-se unicamente de um  projeto político-eleitoral de natureza pessoal. Apenas isso.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Sem limites para linchar reputações, imprensa rejeita direito de resposta

Sem limites para linchar reputações, imprensa rejeita direito de resposta

publicada terça-feira, 05/08/2014 às 23:03 e atualizada terça-feira, 05/08/2014 às 23:03
Por Felipe Bianchi, para Barão de Itararé*
Histórias como a do padre paulistano Júlio Lancellotti e a do ex-ministro do Esporte Orlando Silva, que tiveram suas reputações colocadas em xeque mesmo considerados inocentes após os julgamentos de seus respectivos casos, mostram o quão prejudicial pode ser a falta de espaço e voz para que os cidadãos se defendam de ofensas, calúnias e difamações veiculadas na mídia.
Para Lancellotti, pároco da Igreja São Miguel Arcanjo, no tradicional bairro da Mooca, em São Paulo, “com a mesma rapidez que a imprensa constrói e consagra uma história ou um cidadão, ela os destrói”.
O seu caso remete ao ano de 2007, quando a polícia civil de São Paulo abriu inquérito a fim de apurar uma denúncia de extorsão feita pelo padre: ele era forçado a pagar enormes quantias em dinheiro a um ex-detento da Fundação Casa sob ameaça de ser denunciado à imprensa por abuso sexual.
No dia 23 de maio de 2011, Anderson Batista e Conceição Eletério, casal responsável pelo esquema de extorsão, foram condenados pela Justiça a partir de imagens registradas em câmera que flagrou abordagem violenta ao padre. Mas para Lancellotti a repercussão deste fato nos meios de comunicação foi bem mais discreta que o “apedrejamento” promovido contra ele anteriormente, sem que pudesse fazer uso do direito de resposta.
“Quando denunciei o esquema e sofri acusações de pedofilia”, recorda Lancellotti, “a imprensa fez um acampamento em frente à minha casa e instalou um verdadeiro inferno”. Ele descreve os artifícios usados pelas equipes de reportagem, ansiosas por flagrá-lo em situação constrangedora:
“Chegaram a colocar um adesivo em cima da campainha de minha casa, de forma que ela não parasse de tocar e eu tivesse que sair, irritado, para desligá-la”, lembra, acrescentando que “também sacudiam o portão e jogavam restos de lanche”. Mesmo com sua absolvição, Lancellotti, conhecido por ser um histórico defensor dos moradores de rua, salienta que a cicatriz do “linchamento midiático” que sofreu é irreversível.
Em relação ao direito de resposta, ele afirma que, “para não ser injusto”, um ou outro veículo o procurou para escutá-lo, mas até mesmo cartas de personalidades renomadas brasileiras, em sua defesa, foram ignoradas pelos grandes jornais. “Quanto ao direito de resposta propriamente dito, acredito que é uma ilusão. Buscá-lo na Justiça é complicado e, até lá, a grande mídia publica o que ela quer e do jeito que bem entende”, dispara.
O caso do soteropolitano Orlando Silva, por sua vez, ilustra como a ausência do direito de resposta também atinge o mundo da política, no qual “os meios de comunicação guardam interesses próprios, tanto econômicos quanto ideológicos”.
Em 19 outubro de 2011, a revista Veja publicou reportagem de capa acusando o então ministro do Esporte de receber propina, em plena garagem do Ministério, em Brasília, referente a um esquema de corrupção envolvendo uma organização não-governamental.
A única fonte da revista era João Ferreira Dias, ex-cabo da Polícia Militar com histórico de denúncias vazias contra figuras públicas, além de envolvimento em diversas ocorrências criminosas – em 2013, inclusive, foi preso por receptação em Samambaia, no Distrito Federal.
Ignorando a “ficha suja” da fonte e sem nenhuma evidência das acusações feitas, os grandes meios de comunicação amplificaram a denúncia da revista Veja, repercutindo ostensivamente o caso. A pressão resultou na derrubada do ministro apenas 11 dias após a reportagem em questão.
“Eu passei todos aqueles dias sabendo que não teria saída, já que aquilo havia se tornado um massacre. Então usei esse período para erguer minha voz contra essa operação, denunciado a manipulação grotesca da qual fui vítima”.
Seu gabinete até tentou fazer uso do direito de resposta, mas o benefício depende da interpretação de cada juiz e Orlando Silva não obteve sucesso. “Enviamos textos, respondemos reportagens e pedimos o direito de resposta na Justiça, mas não fomos atendidos”, relata.
Em 11 de junho de 2012, a Comissão de Ética da Presidência da República decidiu arquivar o processo contra ele. O motivo: falta absoluta de provas. Diferentemente da acusação, a absolvição não ganhou manchetes e grandes chamadas de capa – “ela foi praticamente escondida”.
“O que mais dói é que até a minha companheira, atriz com passagem por diversas companhias de teatro, foi envolvida em boatos sobre expressão de tráfico de influência praticada por mim, por conta de um patrocínio da Petrobras, que já dura mais de dez anos, à companhia em que atua. Beira a requintes de crueldade”.
O primeiro caso do período eleitoral e a chiadeira da Folha
Na edição impressa da Folha de S. Paulo do dia 2 de agosto, o jornal publicou texto de autoria do candidato ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, após determinação da Justiça Eleitoral.
O direito de resposta foi solicitado por conta de uma reportagem em que o deputado federal José Augusto Maia alegou ter recebido oferta de propina em troca de apoio à coligação que lançaria a candidatura de Câmara. A matéria traz ainda duas outras fontes, mantidas em condição de anonimato, que confirmam a versão de Maia.
Irritada com a concessão da Justiça Eleitoral, a Folha produziu no mesmo dia da publicação do texto uma segunda matéria escutando fontes ligadas, principalmente, aos proprietários de grandes meios de comunicação, como a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
Elas criticaram o direito de resposta sob o argumento de que este “cercearia a liberdade de expressão” e de que “a sociedade deixa de ser informada” (pelo motivo de o acusado ter direito à defesa nas mesmas linhas que o atacaram).
Uma terceira reportagem foi publicada no dia seguinte (3 de agosto), em que Celso Schröder, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), além de um ministro, cuja identidade não foi revelada, defendem a importância de que o direito de resposta tenha regras definidas para que não comprometa a autonomia do jornalismo, mas também não cometa injustiças com quem se sente ofendido ou caluniado. Na legislação eleitoral, porém, essas definições já existem e foram levadas em conta no caso específico da Folha.
Constituição e as regras do jogo
O artigo 5º da Constituição Federal assegura “o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”. A lacuna em relação ao tema foi deixada pelo fim da Lei de Imprensa, criada em plena ditadura militar (1967) e extinta pelo Supremo Tribunal Federal em 2009. Desde então, a Justiça é obrigada a julgar caso a caso os pedidos de direito de resposta, deixando o tema amplamente aberto à interpretação.
O Projeto de Lei (PL 6446/2013) apresentado pelo senador Roberto Requião em 2011 busca preencher esse “vazio legal” em relação ao tema, já tendo passado pelo Senado e tramitando, atualmente, na Câmara dos Deputados. De acordo com a deputada Luciana Santos, relatora do Projeto, há pouca esperança de que ele seja votado no curto espaço de tempo que a Câmara dispõe até as eleições, no dia 5 de outubro, mas é grande a expectativa de que se confirme maioria para aprová-lo. O texto do Projeto de Lei garante ao ofendido o direito de se manifestar na mesma periodicidade, dimensão e intensidade da agressão sofrida – ou seja, de forma proporcional à ofensa.
Na avaliação da deputada, a dificuldade em aprovar leis que envolvam os interesses da imprensa, mesmo quando tratam de direitos democráticos, é que todo debate que se faz sobre mídia no Brasil é boicotado e tachado como tentativa de censura. “Há interesses econômicos, ideológicos e políticos”, argumenta.
A disputa eleitoral, em sua visão, escancara a polarização em relação ao papel que a mídia cumpre. A recifense afirma que “é uma ilusão imaginar que os veículos de comunicação são imparciais, como mostra a história recente do país”. “A informação forma conceitos, reflete comportamentos, influencia a tomada de decisões e é, por isso, que a comunicação deve ser tratada como um direito humano”, opina. “O direito de resposta é mais um dos direitos que devem ser básicos ao cidadão”.
Direitos (de resposta) para todos
Mas e quando o ataque não é contra apenas um indivíduo, atingindo grupos sociais inteiros – negros, indígenas, homossexuais ou até mesmo casos de machismo e discriminação de gênero? Bia Barbosa, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, lembra o caso do programa Tardes Quentes, produzido pela RedeTV!.
“Em 2005, já havia, tanto no Ministério Público Federal (MPF) quanto entre organizações que lutam pelos direitos humanos, a ideia de denunciar o programa recheado de pegadinhas preconceituosas apresentado por João Kléber”, conta. “Levamos o caso à Justiça e, até de forma surpreendente, a decisão foi favorável a nós”.
Ela relata que a juíza Rosana Ferri Vidor exigiu direito de resposta imediato para os grupos ofendidos, além de que o programa parasse de produzir conteúdos como os considerados ofensivos.
A RedeTV! descumpriu a ordem judicial e, por isso, teve seu sinal cortado, permanecendo fora do ar por 24 horas. Para Barbosa, a desobediência da emissora escancara o cenário dos meios de comunicação no Brasil: “O desrespeito à lei é sistemático, como se fosse opcional e as empresas estivessem acima dela”.
O fato de o canal ter passado um dia inteiro fora do ar virou notícia e, para ter o sinal restabelecido, os proprietários da RedeTV! tiveram que assinar um termo de ajustamento de conduta prevendo a veiculação de 30 programas, a serem indicados por organizações de direitos humanos, em substituição ao Tardes Quentes.
“Foram 30 edições do ‘Direitos de Resposta’, nome que faz trocadilho com a questão do direito de resposta e a luta pelos direitos que consideramos atacados pela emissora”, explica. “O programa reuniu especialistas e representantes de movimentos sociais para discutir um tema a cada edição, sendo que quase toda a equipe, da apresentadora aos roteiristas, era voluntária”.
Além disso, a jornalista também lembra que foi lançado um chamado público informando o caso e fazendo um convite para que os cidadãos enviassem vídeos relacionados aos assuntos debatidos no programa. “Em 15, dias, recebemos mais de 400 colaborações”, lembra. “Usávamos um blog bastante simples para nos comunicarmos, já que as redes sociais ainda não eram tão populares em 2005”.
Na avaliação de Bia Barbosa, os resultados foram extremamente positivos: a audiência média do Direitos de Resposta era equivalente à do programa de João Kléber, chegando até a superá-la. “Outra vitória foi termos mostrado que é possível falar de direitos da população, inclusive do direito de resposta, de forma atrativa ao público”, acrescenta.
Os próximos capítulos
Apesar do PL do Direito de Resposta regulamentar o artigo da Constituição que garante ao ofendido o direito de se defender, há ainda alguns obstáculos a serem superados. De acordo com a deputada Luciana Santos, uma das emendas que serão votadas juntas ao projeto defende interesses de empresas como a Rede Globo, propondo que o direito de resposta seja praticado por um terceiro no caso do rádio e da televisão – ou seja, um jornalista da empresa concederia a resposta publicamente, e não o ofendido.
Já o direito de resposta em nome de grupos sociais, como no caso do programa Direitos de Resposta, que substituiu e igualou a audiência do Tardes Quentes, na RedeTV!, não aparece no Projeto de Lei do senador Roberto Requião. Para Bia Barbosa, porém, a prioridade é que ele seja aprovado de forma a garantir, de uma vez por todas, o direito de resposta. “Depois, sim, devemos aprimorá-lo a fim de ampliar a lei”.
Fruto do esforço de diversas entidades que compõem o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o Projeto de Lei da Mídia Democrática , engloba, entre diversas propostas para a promoção da democracia na comunicação, a questão do Direito de Resposta – incluindo, em sua proposição, o direito de resposta coletivo.
O PL é de Iniciativa Popular, ou seja, necessita cerca de 1,3 milhão de assinaturas para ser encaminhado ao Congresso Nacional, e serve como instrumento de pressão por parte das organizações que lutam pela democratização da comunicação no país.

Publicado originalmente no site O Escrevinhador, por Rodrigo Vianna

Michel Zaidan Filho: O que têm a ganhar os trabalhadores com a próxima eleição?

 

                                        Não bastasse a crise de representação política de nosso sistema partidário e eleitoral, evidenciada pelas "jornadas de Junho" do ano passado, os candidatos em disputa pela cargo do governo estadual estão muito longe de "representar" os interesses dos trabalhadores pernambucanos. Um, por ser oriundo da burocracia estadual, ungido pelo ex-governador de PE, seu primo em quinto grau. O outro, por ser empresário e a favor da redução (ou eliminação dos direitos trabalhistas). Trata-se, sem dúvida, de uma disputa de interesses políticos, mas não necessariamente republicanos ou de interesse público ligado à massa trabalhadora do nosso Estado. Neste caso, como em muitos outros, as siglas partidárias não significam absolutamente nada. Houve uma espécie de erosão semântica no nome das legendas que abrigam as pretensões políticas de uns e outros. Senão, vejamos. O auto-denominado "Partido Socialista Brasileiro" (PSB)  foi capturado por uma oligarquia familiar, tradicional do Estado de Pernambuco. O presidente deste partido, aqui em Pernambuco, era o professor e filósofo Walteir Silva. Uma pessoa de uma integridade política e pessoal acima de qualquer dúvida. O Dr. Walteir Silva teve a sua legenda praticamente ocupada pela família Arraes e seus correligionários íntimos. 0 PSB tornou-se um patrimônio dessa família, passado de avô para neto o controle da legenda, como uma espécie de latifúndio partidário para exploração de interesses familiares. É de se perguntar o que tem de "socialista", "operário", "trabalhista", uma legenda política que foi capturada por uma oligarquia familiar? - No que tem de "novo" é a  proximidade ideológica com o PSDB, ou seja a agenda gerencial do Estado brasileiro. Mas aí é que não tem nada a ver mesmo com o interesse da massa trabalhadora: privatização, Estado mínimo, publicização dos serviços públicos, demissão dos servidores públicos etc.
                                            E o chamado "Partido Trabalhista Brasileiro" dos Patrões e Empresários?- Esse é uma piada semântica. Seu representante é de uma família de tradicionais usineiros do Estado. Como empresários distinguiram-se em discutir como utilizar recursos do BNDES para suas empresas pouco eficientes e competitivas. Sempre que convidados a discutir publicamente suas teses na Universidade, enviaram prepostos ou se desculparam por não poder ir.  Acho que só o deputado petista João Paulo Lima, por ingenuidade e não por má-fé, acredita no espírito trabalhista desse candidato. As desconfianças começam com a legenda "PTB", entregue pela ditadura militar a Ivete Vargas, para não cair nas mãos do herdeiro de Getúlio - Leonel Brizola, que teve de criar um novo partido - o PDT. De lá para cá, a história do PTB  é a de uma autêntica legenda de aluguel, que passa de mão em mão, desfigurada, sem nenhuma relação com o movimento trabalhista brasileiro, a não ser com o "pelego"  Paulinho da Força Sindical, aluno aplicado do outro superpelego Luis Antonio Medeiros.
                                           É preciso abrir os olhos dos trabalhadores pernambucanos para o embuste eleitoral que se avizinha. Muitos falarão em nome dos trabalhadores, mas provavelmente nunca trabalharão um único dia na vida. Vivem do trabalho e da ignorância dos outros. 

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco

terça-feira, 5 de agosto de 2014

429 anos de João Pessoa: Festa das Neves sem Bagaceira não presta.






Começou a Festa das Neves e eu já estou reclamando. Reclamando sim, da falta da Bagaceira. Prefeito Luciano, o senhor que gosta tanto de manter as tradições, bote de volta a Bagaceira na Festa da Padroeira, faça isso antes que o arcebispo acabe com tudo como é do seu desejo. O senhor não tem culpa do que fizeram com a festa,mas levará consigo os louros de ter retornado à Ladeira da Borborema o encontro dos boêmios com as putas e intelectuais de nossa cidade.

Quiseram modernizar a festa acabando com a alegria dos pobres, dos cornos e das mulheres infiéis, numa demonstração inequívoca de preconceito. É interessante notar como os políticos adoram os pobres na hora de pedir o voto e ficam alérgicos ao cheiro de grude depois que tomam posse. Sempre foi assim e assim foi com a "Bagaceira" da Festa das Neves. Acabaram com a única coisa boa que tinha na festa.

E como era boa! Eu mesmo fazia ponto na barraca de Zilda, velha conterrânea que se mudou para cá depois que suas carnes  já não atraíam mais a exigente clientela do cabaré de Estrela. Fixou residência no Baixo Róger, por trás da linha do trem e fez vida novamente, só que desta vez conquistando os clientes pelo estômago. Seu tempero sertanejo ficou famoso. Sua buchada de bode na "Bagaceira" da Festa das Neves atraia para o gueto da santa desde os cabeceiros grosseiros do porto, às mocinhas intelectuais da província, aquelas que recitavam versos vestindo blusa de saco e exibindo tufos de cabelos em seus suvacos brancos.
Além disso tudo, era bom demais mijar na Ladeira da Borborema, aquela que Mané Caixa D`água, num rasgo de genialidade poética, recitou: "Ladeira da Borborema/tu és mais arta do que eu/mas eu posso subir in tu/e tu num pode subir neu". Os rios de mijo desciam buscando a Rua da Areia e de lá subia aquele cheiro de mijo com cerveja que perfumava mais do que extrato da Avon.
Foi ali que Zé Alan Abrantes mijou no capacete de um soldado, arrancou as divisas de um sargento e chamou para a briga um guarda noturno da Prefeitura, sendo levado pra cadeia e solto antes de chegar, graças a intervenção de Mundinho de Nezinho.
Pois muito bem, acabaram a "Bagaceira", a festa definhou e para fechar o firo apareceu o arcebispo Dom Pagoto pregando o fim de tudo.


Escrito pelo Jornalista Tião Lucena

Nota do Editor: Nossa Senhora das Neves é a padroeira da cidade de João Pessoa, que acaba de completar 429 anos de fundação. Dom Aldo Pagotto é o arcebispo da cidade, que já manifestou a intenção de acabar com os aspectos profanos da tradicional festa, muito popular entre os pessoenses. Pelo que pudemos apurar, há uma grande insatisfação por parte de segmentos da população em relação às medidas de Dom Aldo, um arcebispo conservador, que lembra o nosso Dom José Cardoso. 

A história do massacre palestino, por um judeu lúcido: o filho do general.

4 de agosto de 2014 | 10:38 Autor: Fernando Brito

heart
Miko Peled é um ativista da causa de um Estado Palestino.
Com características muito especiais.
Peled é judeu.
E filho de um dos mais importantes generais das Forças de Defesa Israelense (IDF), eufemístico nome de seu exército, Mattityahu “Matti” Peled, um dos integrantes do Estado-Maior israelense na Guerra dos Seis Dias, quando Israel conquistou os territórios da Cisjordânia, Gaza, Golan e o Sinai.
O próprio Peled chegou a ser militar.
Sua família e ele foram atingidos pela tragédia: uma sobrinha, de 13 anos, morreu num ataque de homens-bomba.
Neste vídeo, mencionado por Ricardo Mello em sua coluna na Folha, Miko Peled conta a história da qual ele e seus pais participaram.
Reproduzo porque é preciso que as pessoas, como ele, retomem a lucidez.
Porque, como Peled diz com sabedoria, não há mais lugar no mundo para regimes racistas e segregacionistas.
Mas estes, quanto mais agonizam, tornam-se mais brutos e selvagens e, claro, provocam reações iguais e contrárias, em bora, como Peled tragicamente exemplifica com os efeitos de um foguete palestino e uma bomba israelense, ambos sejam desproporcionais.
Assista o vídeo.
É a prova de que quando a guerra é insana, é muito mais valente quem pensa na paz do que aqueles que atiram.
(Publicado originalmente no site Tijolaço)