pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 3 de novembro de 2024

Drops Político: Kamala Harris na Casa Branca.


Na terça-feira, dia 05, ocorre a tão esperada eleição americana. Nesta reata final de campanha, os candidatos à Casa Branca intensificam suas campanhas em estados que são decisivos para a definição do pleito, hoje bastante equilibrado entre Kamala Harris, do Democrata, e Donald Trump, do Republicano. As pesquisas indicam um pleito disputado voto a voto entre os dois postulantes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos últimos dias, fez questão de manifestar sua posição em favor de uma  vitória da candidata democrata, antecipando-se aos eventuais, desdobramentos ou consequências de uma eleição de Donald Trump, identificado com os grupos de ultradireita pelo mundo afora, inclusive no Brasil. 

Drops Político: Antonio Brito mantém candidatura à Câmara dos Deputados.


O deputado federal baiano, Antonio Brito, filiado ao PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, depois de conversas reservadas com o dirigente da legenda, optou por manter sua postulação à Presidência da Câmara dos Deputados. Antes do rolo compressor montado pelo paraibano Hugo Motta, com o auxílio prestimoso do atual presidente daquela Casa, Arthur Lira - o que envolve o apoio de partidos de todos os quadrantes ideológicos, do PCdoB ao PL - suas chances ficaram sensivelmente reduzidas. No início, o PT tinha simpatia por sua candidatura, mas acabou embarcando na onda Hugo Motta, que deve ser eleito com uma votação expressiva, mesmo sendo de um perfil que pode trazer algumas complicações para o Governo Lula3 no futuro. 

Drops Político: Racha na direita.


Questionado sobre o empresário Pablo Marçal, durante uma entrevista concedida à revista Veja desta semana, o ex-presidente elogiou o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo e disse o óbvio: Trata-se de um quadro inteligente, mas que cometeu alguns equívocos. Nada demais, nenhuma ofensa. Na realidade, durante o pleito, especulou-se, inclusive, que o ex-presidente Bolsonaro poderia tentar ajudá-lo, algo que acabou não acontecendo, sobretudo por ingerência de pessoas mais próximas ao seu círculo, que cobraram seus compromissos anteriores com Ricardo Nunes. Desde que lançou-se candidato à Prefeitura de São Paulo, mesmo derrotado, Marçal passou a ser apontado como um potencial candidato às eleições presidenciais de 2026. Durante essas eleições municipais, uma das manobras do ex-presidente foi a de se contrapor a essas estrelas em ascensão, uma vez que assume que será candidato, mesmo na condição de inelegível. Embora ele não tenha dirigido nenhuma ofensa ao ex-coach, este resolveu se manifestar, pedindo que ele o deixasse em paz. Muito mais do que indisposições entre ambos, a manifestação é um indicativo, na realidade, de um racha da direita que já se prenuncia dois anos antes de outubro de 2026. 

sábado, 2 de novembro de 2024

Editorial: O grande trunfo de Ronaldo Caiado para as eleições presidenciais de 2026.



Eduardo Boigues, prefeito reeleito da cidade de Itaquaquecetuba, foi o gestor que obteve o maior percentual de votos para comandar uma cidade no país. Eleito no primeiro turno com 91,7o% dos votos válidos. A cidade tinha sérios problemas de segurança pública, mas o prefeito, com sua experiência de delegado de polícia, conseguiu reverter esses índices drasticamente, ancorado em políticas públicas eficientes e um programa efetivo de investimento na guarda municipal, hoje a mais bem armada em todo o Estado de São Paulo, com uso de pistolas .40, coletes balísticos, carabinas, fuzis. 

É uma das guardas municipais mais bem armadas do país. Houve um tempo em que a cidade era tão violenta que nem os bandidos, segundo o prefeito, desejavam serem transferidos para a cidade. Curioso que ele criou uma guarda municipal com características inusitadas, como uma espécie de batalhão ambiental,  batalhão Maria da Penha. Uma verdadeira polícia municipal, evidenciando-se que a solução para o problema da segurança pública passa, necessariamente, por iniciativas locais. Evidente que uma série de outras medidas, traduzidas em políticas públicas, foram adotadas, como boas práticas de zeladoria, proibições de aglomerações e perturbações da ordem. 

Somadas, investiram o prefeito de uma popularidade que atingiu as alturas. Por outro lado, não se pode negar que boa parte dessa popularidade está ancorada no enfrentamento efetivo do problema de segurança pública, hoje a principal preocupação da sociedade brasileira. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, entrou num entrevero com o presidente Lula ao abordar, em plenária recente, ocorrida na capital federal, o problema da segurança pública no país. Alguém afirma que ele fez isso de propósito, já se anunciando como um potencial opositor ao governo, de olho no pleito presidencial de 2026. Não acreditamos. 

Ele falou como um gestor público, atendendo, inclusive, ao próprio presidente que, repetindo Getúlio Vargas para os jangadeiros do Ceará, preconizou: Conte tudo. Não esconda nada. Ele o fez literalmente, evidenciando, inclusive, o descompasso e a ausência de propostas consistentes do governo neste sentido. Cumprindo seu segundo mandato como governador, Ronaldo Caiado credencia-se para o pleito de 2026. Não esconde isso de ninguém e articula-se dentro e fora do seu União Brasil. O partido estimula o governador, de um lado, do outro lado, flerta com um eventual apoio ao projeto de reeleição do presidente Lula. Difícil antecipar como esta equação será resolvida até as eleições, mas o governador sai de Goiás com o trunfo de ter tido a competência e a energia necessária para enfrentar o problema da violência em seu estado. Uma credencial que pode entusiasmar o eleitorado, assim como ocorreu em Itaquaquecetuba. 

Editorial: Não é com ironias que o problema da violência no país será enfrentado.



Grupos nas redes sociais estão festejando a estocada que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu no governador de Goiás, Ronaldo Caiado, durante sua fala no encontro sobre segurança pública, ocorrido recentemente em Brasília. Voltamos a repetir, Ronaldo Caiado não falou como um governador de oposição, tampouco sugeriu que teria alguma solução mágica para enfrentar o problema da segurança pública no país. Suas críticas ao SUSP foram consistentes, amparada em sua expertise do crime organizado no seu estado. Caiado fala com o currículo de quem ostenta os melhores índices de segurança pública no país. Precisava ser ouvido com muita atenção, de preferência com um caderninho de anotações. Mas, conforme enfatizamos antes, estamos diante de um diálogo de surdos. 

É quase impossível que se construa algum consenso sobre o assunto entre a União e os entes federados. Não temos nenhuma simpatia, tampouco alguma licença para defender o governador de Goiás, mas, por outro lado, fica evidente a alienação do poder central em relação ao assunto. Há décadas se sugere que o enfrentamento do problema passa pela asfixia das fontes que o alimenta. O Governo Federal faria um trabalho eficaz e eficiente se minimizasse a entrada de drogas e armas no país, fechando as fronteiras, quem sabe utilizando as Forças Armadas. Alguns entes federados estão criando batalhões de fronteiras com este propósito, por entender que o problema exige ser enfrentado no seu nascedouro. Não se pode entender que uma região como a Amazonas, que integra ou faz fronteiras com centros produtores de drogas, esteja completamente sob o domínio do crime organizado. Segundo Caiado, nem a FUNAI consegue mais realizar seu trabalho naquela área. 

Violência não é coisa que possa ser tratada com as reticências de ser governo ou oposição. Aqui em Pernambuco, foi concebido um dos programas mais eficientes no combate à violência, solenemente ignorado por se tratar de um projeto que possuía a marca dos governos socialistas que passaram pelo Campo das Princesas. 

Editorial: Bolsonaro em 2026: Candidato e imbrochável.



A revista Veja desta semana traz uma matéria sobre o futuro político do ex-presidente Jair Bolsonaro. Numa entrevista recente, concedida a revista IstoÉ, o cientista político pernambucano, Antônio Lavareda, aponta o ex-presidente como um dos grandes derrotados nessas eleições municipais. Há um relativismo aqui, uma vez que o capitão foi o principal expoente na estratégia de crescimento do seu partido, o PL, partido que apresentou um índice de evolução considerável em percentuais de prefeitos e vereadores eleitos, com escore de votação superior a todos os demais partidos. 

No frigir dos votos, no confronto direto, o capitão foi derrotado em Goiânia, mas venceu em Cuiabá, com  seu fiel escudeiro, Abílio Brunini. Dá empate. Olhando o cenário sem as paixões políticas, a rigor, acreditamos não ser possível apontá-lo como o grande perdedor dessas eleições. As faturas políticas que pesam contra ele, em processos conduzidos pela Polícia Federal, devem chegar à sua banca de advogados no início do próximo ano, permitindo que ele aproveite o Natal e o Ano Novo em paz com a família. 

Superada essas tormentas, como ele acredita que elas serão superadas, o candidato das forças do campo conservador para disputar as eleições presidenciais de 2026 será ele mesmo. As arestas estão bem aparadas em círculos que gravitam em seu entorno, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sempre apontado como um eventual concorrente ao Planalto. As gestões políticas no sentido de revogar sua inelegibilidade estão a todo vapor nas Casas Legislativas. O apoio do PL ao projeto de eleger o deputado federal Hugo Motta para a Presidência da Câmara dos Deputados entra nessas negociações. 

Editorial: Por que Lira divulgou o pleito do PT para apoiar Hugo Motta?



Acordos celebrados quase sempre sob juras de silêncio obsequioso, causou estranheza no meio político o anúncio do atual Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, acerca do acordo fechado com o PT para que o partido apoie o nome do deputado federal Hugo Motta como seu sucessor naquela Casa. O PT deseja indicar um nome como ministro do Tribunal de Contas da União. Logo que o acordo foi fechado, pensamos, de imediato, no nome do atual Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, que deve deixar o cargo nos próximos meses e constitui-se, hoje, num grande aliado do Governo Lula3. A indicação de fato, está reservada a um mineiro, mas não se trata de Rodrigo Pacheco. Está reservada a um deputado federal mineiro, apadrinhado, segundo dizem, por Fernando Pimentel, ex-governador mineiro. 

O destino de Pacheco é incerto. Uma vaga na Esplanada dos Ministérios? Uma indicação para o STF? Pelo andar da carruagem política uma candidatura ao Governo de Minas Gerais, nas eleições de 2026, está completamente descartada. A direita mineira já fez sua caveira naquele estado da Federação. Padrinho político de Hugo Motta, Lira fechou grandes acordos com as principais legendas políticas até este momento. Estima-se que a votação de Motta seja algo parecido com o número de votos que ele obteve quando candidatou-se ao cargo. 

Fora o pleito do PT, o outro acordo tornado público foi o celebrado com o PL, de Valdemar da Costa Neto, onde está prevista pautar a discussão, talvez até em CPI, sobre a anistia aos envolvidos no 08 de janeiro. Em entrevista à revista Veja desta semana, o capitão Bolsonaro, a despeito das encrencas jurídicas que terá que enfrentar no próximo ano, já se coloca como candidatíssimo em 2026. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Editorial: O pé-de-meia eleitoral de Camilo Santana.



Muito se especula sobre se o presidente Lula será mesmo candidato às eleições presidenciais de 2026. Como, a rigor, ele próprio não estimulou o surgimento de lideranças que possam substituí-lo, essa tecla, não raro, volta a ser batida. Lula é um astro que brilha único, numa constelação de eventuais ou potenciais substitutos, alguns deles sem o cacife político do líder ou mesmo às voltas com problemas na gestão da máquina, o que os inviabilizariam para a empreitada, a exemplo de Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, hoje sequer ranqueado entre os possíveis ungidos para suceder o morubixaba petista. Haddad assumiu um ministério, para o qual não estava talhado, supõe-se com o projeto de viabilizar o seu nome para 2026. Nada está dando muito certo por ali, uma vez que o governo insiste em gastar o que não arrecada, desiquilibrando as contas públicas. 

Não menos relevante mencionarmos aqui o chamado fogo amigo, que já pode ter produzido algumas queimações antes mesmo da largada. Os baianos, que chegaram com todo o gás em Brasília depois de garantirem 75% dos votos do eleitorado daquele estado a Lula, hoje, depois da refrega da última eleição, estão com o prestígio em baixa. Nessa galeria, por outro lado, há um ex-governador que se sobressai. Chegou prestigiado à Esplanada dos Ministérios e, depois das últimas eleições no seu estado, sai fortalecido como o único que conseguiu eleger o prefeito de uma capital para o PT, Fortaleza. Camilo Santana, digamos assim, sedimenta o seu pé-de-meia eleitoral, cacificando-se para entrar na disputa caso o morubixaba resolva não se habilitar para as eleições presidenciais de 2026. 

Preocupa alguns programas de sua pasta, bastante identificado com o assistencialismo petista raiz, algo que começa a ser questionado por setores da própria legenda. Sabe-se que se Lula prenunciar que não será candidato a luta promete entre os integrantes da legenda. Por outro lado, o nome de Camilo na bolsa de apostas como um eventual postulante à Presidência da República vem desde a sua aprovação como governador do Estado do Ceará, alimentada, inclusive, por setores não petistas.   

Editorial: As repercussões do encontro de Lula com os governadores.



Alguns dos governadores não estiveram presentes à reunião ocorrida no dia de ontem, 31, onde o Planalto organizou uma plenária para tratar de uma PEC acerca do Sistema Único de Segurança Pública, o SUSP. Sempre que questionado sobre os graves problemas de segurança pública, o Governo Lula3 sempre argumenta que o plano existe. O problema reside nos arranjos para a sua implementação, o que envolve a participação dos entes federados, alguns deles reticentes ou pessimistas quanto à sua efetividade no combate ao crime organizado. Alguns governadores sequer compareceram à reunião, argumentando que o plano parte de alguns pressupostos ou princípios equivocados. 

Pelo andar da carruagem política, conforme antecipamos por aqui, será muito difícil construir um consenso entre a União e os entes federados. Apesar das boas intenções do governo, é tudo muito polêmico, a começar pelos esboços de "desobediência" de alguns governadores no tocante à diretriz do uso de câmara nos uniformes dos policiais em operação. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, por exemplo, já enfatizou que seus policiais não usarão as tais câmaras. E, por falar em Ronaldo Caiado, ele fez uma das intervenções mais aplaudidas da reunião. Caiado falou com a responsabilidade de governador de Estado, não como um homem de oposição ao Planalto. Segurança Pública é coisa séria e não permite essas indisposições ideológicas. 

Cada vez que um agente público se pronuncia sobre o avanço do crime organizado sobre o aparelho de Estado, é coisa para tirar o sono de qualquer cidadão. Caiado afirmou, por exemplo, que a região da Amazonas está completamente sob o domínio de facções do crime organizado, com um mix de produtos dos mais variados, atuando em consórcio com organizações internacionais. A operacionalização de um plano de segurança pública nacional, cujas diretrizes emanem de Brasília, segundo observaram alguns governadores presentes à reunião, não pode dá certo. Cada estado tem suas particularidades no tocante a este problema, sendo impensável que se possa estabelecer diretrizes nacionais que surtam os mesmos efeitos para todos os entes federados, dada a realidade de cada um. 

Os governadores têm razão neste sentido. Neste sagunda quadra que resta ao Governo Lula3,  ou pelos próximos dois anos, Lula vai precisar reatar o diálogo com parcela da sociedade brasileira. O diálogo das ruas, precarizado, se considerarmos os resultados das últimas eleições; o diálogo com o mercado, caracterizado por profundas desconfianças sobre as reais intenções de equilibrar as contas públicas; e, em relação à segurança pública, existe pessoas sérias à frente dos órgãos, as diretrizes propostas seguem orientações humanitárias, civilizatórias e republicanos, mas os amplos setores oposicionistas conservadores  já conquistaram mentes e corações da população de que a solução é outra. 

Charge! Jaguar via Folha de São Paulo.

 


quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Editorial: De comunistas a liberais, todos caminham para o "Centrão".



As circunstâncias políticas estão impondo uma espécie de centralização de nossa esquerda. A tendência do Governo Lula3, sem projeto consistente, tende a abraçar este projeto, principalmente depois dos resultados pífios da ultima eleição municipal. Alguns críticos apontam que, desde sempre, Lula sempre manteve esse perspectiva. Se não acompanhamos tal raciocínio, não há como deixar de reconhecer uma espécie de capitulação. O PT perdeu a narrativa, distanciou-se de suas bases, mantém uma governabilidade sensivelmente frágil, assiste de camarote o avanço das forças conservadoras. É grave o fato de governadores de Estado deixarem de participar de uma reunião sobre segurança pública por discordarem das diretrizes do poder central. 

Na eleição na Câmara dos Deputados, de comunistas a liberais todas endossam o apoio ao candidato de Arthur Lira, Hugo Mota. É certo que os comunistas não são mais aqueles dos anos 60, que sonhavam com a utopia de uma sociedade mais justa e fraterna. Aqui em Olinda, foram eles que indicaram um bolsonarista para concorrer a vice na chapa do candidato do PT. Ao longo dos anos, eles passaram por um longo processo de decomposição ideológica. Por outro lado, cargos, comissões, pautas, propostas aceitas é a grande moeda que define as eleições na Câmara dos Deputados. Estamos todos nessa bacia semântica a qual se referia o antropólogo Gilbert Durand. Ou o PT se reinventa urgentemente e propõe uma alternativa viável politicamente a esta centrífuga conservadora ou amargaremos um longo e tenebroso inverno conservador nos próximos anos. Ainda há tempo, mas algo precisa ser feito. Comecemos por uma necessária autocrítica. 

Nestas eleições ocorreu um fato curioso. Partidos radicais, aqueles que resistiam à participarem das regras do jogo da democracia representativa liberal burguesa, estiveram participando do pleito, a exemplo do PSTU, UP, Causa Operária. O MST lançou nomes às prefeituras e câmaras municipais, saindo das urnas com bons resultados. Sugere-se que o MST já possua alguma expertise neste assunto, naquilo que a gente poderia chamar de uma bancada da terra. A CPI do MST deixou isso evidente. 

Editorial: Lula se reúne com governadores para discutir política de segurança pública.



Estamos diante de um problema de tamanha gravidade, onde seria leviano esgotá-lo apenas com um simples editorial. O presidente Lula, depois de adiar o encontro por um bom tempo, acaba de se encontrar com os governadores de Estado, além de agentes públicos vinculados à área de segurança pública, com a finalidade de discutir políticas de segurança pública no plano nacional, tendo como foco principal o combate ao crime organizado. Lula sugere uma centralização dessas políticas, uma vez que os entes federados seriam incapazes de enfrentar o problema isoladamente. Na realidade, o que Lula está propondo é que o Governo Federal volte a ser o protagonista deste enfrentamento, uma vez que os estados, principalmente aqueles administrados pela oposição, já estão tomando iniciativas neste sentido, não raro, adotando diretrizes que, a rigor, poderiam não serem as mesmas que o Governo Federal pretende implementar. 

O hiato é imenso por aqui. Repercutiu bastante nas últimas eleições municipais a votação do candidato Guilherme Boulos entre os presidiários do Sistema Prisional de São Paulo, onde ele obteve 76% dos votos. Isso ocorre porque os governos de orientação progressista, a exemplo do Governo Lula3, desenvolvem uma política de humanização do cumprimento das penas, assim como em relação à abordagem policial, o uso de câmara nos uniformes dos policiais em operação, mudanças no processo humilhante das revistas. A oposição bolsonarista deita e rola sobre o assunto, mas as razões para a votação de Boulos entre os apenados são simples e humanitárias. 

O Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, por exemplo, puniu severamente, com o afastamento da corporação, policiais que infringiram esses direitos, como aqueles que atiraram um cidadão com problemas mentais na mala de um automóvel e depois aplicaram de gás para "acalmá-lo"; ou aquele que ensinou técnicas de tortura aos formandos da corporação. Essas medidas deveriam ser reconhecidas como boas práticas de gestão, punindo servidores que transgrediram sua condição de agentes públicos. Noutros tempos, registre-se. Como vamos construir uma unidade ou convergência de pensamento entre quem age assim e quem propõe que "bandido bom é bandido morto"?  

Editorial: O PT corre algum risco com a eleição de Hugo Motta?



O deputado federal paraibano Hugo Motta, que concorre à Presidência da Câmara dos Deputados, é da mesma escola de Eduardo Cunha, aquele mesmo que infligiu um torniquete político que estrangulou o governo Dilma Rousseff, culminando com o seu afastamento do Palácio do Planalto. Os movimentos do PT sugerem que isso ficou no passado, uma vez que alas hegemônicas da legenda sinalizam para um possível apoio à eleição do paraibano. Preocupa a vaselina política que o deputado ostenta junto a setores da oposição ao governo Lula3, como no PL, com o senador Ciro Nogueira, Presidente Nacional do Progressistas,  e com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. 

Essas relações, construídas ao longo do tempo, estão muito além de serem consideradas apoios pontuais à sua eleição. Chama a atenção o aplainamento político construído por Lira para jogar a discussão sobre o PL da Anistia aos envolvidos no 08 de janeiro apenas para o próximo ano, através de uma comissão, que envolve algumas embaraços burocráticos. A proposta foi muito bem assimilada pela oposição bolsonarista, inclusive a presidente da CCJ, Caroline de Toni, que considerou razoável seus argumentos, merecendo um crédito de confiança. 

Numa entrevista recente, o senador Ciro Nogueira declarou seu apoio irrestrito ao projeto de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro. É ele ou quem ele possa indicar. Embora ostente boas condições de assumir tal postulação, Tarcísio de Freitas já declarou que o capitão é o dono do leme em 2026.  Certamente o PT desconhece todos os acordos firmados nos arranjos que podem conduzir Hugo Motta ao cargo de Presidente da Câmara dos Deputados. Depois não adianta reclamar. Soube a pouco que o deputado Elmar Nascimento, do União Brasil, acaba de retirar sua candidatura. O União Brasil vai de Hugo Motta. 

Editorial: O que Lira prometeu a Bolsonaro?



Estava relendo recentemente o romance A Festa do Bode, do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura. Num determinado momento do texto, o escritor peruano consegue, num lampejo de criatividade, colocar os poemas de amor do poeta comunista Pablo Neruda entre os livros de cabeceira do tirano Rafael Leónidas Trujillo Molina, um ditador sanguinário que aterrorizou a República Dominicana durante três décadas. Coisa de Prêmio Nobel de Literatura, uma vez que o chefe de inteligência de Trujillo,  andava com um caderninho de anotações onde estavam listadas as torturas que eram adotadas em cada país. Uma espécie de dicionário das torturas. Um gosto de leitura de pervertidos. 

Na literatura, essas viagens são perfeitamente possíveis. Na política, no entanto, convém permanecer de atenções redobradas em relação aos blefes. Com o desmonte da celeridade da votação da PEC da anistia na Comissão de Constituição e Justiça - uma espécie de pedido de vistas  proposto por Arthur Lira, sob o argumento de ampliar essa discussão e corrigir alguns eventuais usos políticos da proposta inicial - o Presidente da Câmara dos Deputados mata dois coelhos com uma cajadada só. Agrada ao Planalto, que não vê com bons olhos essa anistia aos participantes do 08 de janeiro, assim como faz sinalizações ao PL do presidente Jair Bolsonaro, que passaria a contar com a hipótese de tornar-se elegível para 2026. 

Segundo alguns analistas, o PT esperneia em público, mas, no fundo, até torceria por uma anistia ao ex-presidente, uma vez que seria retomada aquela polarização política das eleições de 2022, onde o "medo" do retrocesso poderia favorecer a legenda. Todos os demais pré-candidatos ao Planalto nas eleições de 2026 costuram um perfil menos radical em relação ao de Jair Bolsonaro. Setores conservadores sinalizam que temem a radicalidade e a incapacidade de "incorporar" do bolsonarismo ou de Jair Bolsonaro em particular.   

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Editorial: Lira define apoio, "desconversa" anistia e sinaliza para o Planalto.


Elmar Nascimento, deputado federal baiano que disputa a Presidência da Câmara dos Deputados, pensou, por alguns momentos, que pudesse contar com o apoio do atual Presidente da Casa, Arthur Lira, para o seu projeto. Ali, como se sabe, a sucessão é um jogo político dos mais intrincados. Com nomes em disputa já consolidados, eis que surge o nome de Hugo Motta, deputado federal pelo Republicanos da Paraíba, como franco favorito a vencer o pleito, depois dos arranjos e negociações realizados no dark room, onde tudo é possível.  Elmar Nascimento chegou a afirmar que a postura de Lira é a de um líder do Governo Bolsonaro. 

E, por falar em Jair Bolsonaro, ele esteve na Casa, onde se prepara um longo debate sobre a anistia aos envolvidos no 08 de janeiro. Ele também se encontra neste cipoal e, uma anistia, poderia favorecê-lo no projeto de candidatar-se ao Planalto em 2026. Numa única manobra, Lira define o apoio, adia o açodamento da Comissão de Constituição e Justiça sobre o tema anistia e, assim, amplia as negociações em relação a um apoio efetivo do Planalto ao nome de Hugo Motta. Afinal, o Planalto já estava mobilizando a sua tropa de choque contra o projeto de anistia. A manobra de Lira visa ganhar tempo e, naturalmente, apoios. O PL de Bolsonaro e os votos do Planalto em sua alça de mira. Ele já se assegura que não ficará ao relento depois que sair do cargo. Especula-se até mesmo uma vaga na Esplanada dos Ministérios.  

Havia um dirigente político que, maquiavelicamente, para não se comprometer e para não desapontar seu interlocutores, sempre que estes pleiteavam alguma coisa, usava a expressão: "Veremos". O que não queria dizer sim ou não. Se ele atendesse ao pleito, tudo ok. Se ele não atendia o pleito, também não poderia ser cobrado, uma vez que não havia se comprometido. Com a manobra ardilosa, ganhava tempo, deixava o seu interlocutor sempre na expectativa. Elmar acreditou no apoio de Lira até o ultimo minuto. Veremos, Elmar! 

Editorial: O PT na segunda divisão?




A ressaca produzida pelos resultados preocupantes obtidos pelo PT nas últimas eleições municipais de outubro estão provocando algumas reflexões desagradáveis, colocando em franca oposição algumas alas da legenda, principalmente aquelas que estão na condução do leme, que se sentiram, naturalmente atingidas, rebatendo publicamente algumas dessas afirmações, entre as quais a de que o partido corre um sério risco de rebaixamento. Em São Paulo, em particular, afloraram as críticas daqueles que nunca foram, a princípio, favoráveis à candidatura de Guilherme Boulos. Ora por interesses paroquiais, ora por considerar que o nome deveria ser outro, preferencialmente da própria legenda. Se não alguém da legenda, uma esquerda do tipo Tabata Amaral poderia ter aparado as arestas ou resistências da Faria Lima, segundo concluem.  

O vice-presidente nacional da legenda, o deputado federal Washington Quaquá, por exemplo, observou os limites ideológicos impostos por uma candidatura com o perfil de Guilherme Boulos, incapaz de furar a bolha do centro do espectro político. Para variar, aqui a observação é nossa, o PT ainda se deu ao privilégio de formar uma chapa puro-sangue. Se o PT foi mal nessas eleições, o PSOL foi pior ainda. A esquerda tradicional, pelas inúmeras razões apontadas por aqui nessas discussões, perdeu o feeling político das ruas.  É curioso como, numa entrevista concedida à revista Veja desta semana, a Presidente Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, começa a introduzir no dicionário do partido um conjunto de palavrinhas que seriam amplamente abominadas no passado. 

O PT precisa se recolher aos aposentos e realizar aquele encontro consigo mesmo. Não se trata apenas de um conjunto de teses de dentro para fora, bem como moldar-se à plataforma da centro-direita unicamente. Precisamos aqui de uma profunda autocrítica, onde seja possível entender o ambiente político onde se opera neste momento, um ambiente pantanoso, repletos de escaramuças de toda ordem, onde a extrema-direita já opera com desenvoltura, fazendo barba, cabelo e bigode nas periferias mais empobrecidas, com a ajuda inestimável dos grupos evangélicos neopentecostais, em alguns casos consorciados com facções do crime organizado, como já se verifica em algumas praças do país. No Complexo de Israel, segundo a imprensa noticiou, contrariando a Constituição Federal, que estabelece um Estado Laico, de ampla liberdade religiosa, religiões de matriz africana estão sendo proibidas de realizarem seus ritos. Isso é muito grave. 

Charge! Pedro Vinício via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 29 de outubro de 2024

Editorial: Raquel Lyra: A estrela sobe.

Crédito da Foto: Hesiodo Goes, Folha de Pernambuco. 


Sempre enfatizamos por aqui, quem poderia soerguer o ninho tucano seria o grupo jovem de governadores saídos das urnas das eleições de 2022. Sugere-se que a velha guarda da Mangueira tucana parece que não pensa assim. Tanto isso é  verdade que as velhas raposas continuam dando as cartas na legenda, inclusive com pretensões presidenciais. Em São Paulo, depois de um cisma em torno do apoio ao nome do atual prefeito, Ricardo Nunes, eleito no dia de ontem, 27, os tucanos ficaram sem nada, não conseguindo eleger um único vereador na capital, depois de pagaram um grande mico com a candidatura do apresentador José Luiz Datena. 

Dos três governadores eleitos naquela eleição no ninho tucano, Eduardo Leite e Eduardo Riedel, apenas Raquel Lyra pode ser considerada uma vitoriosa nessas eleições municipais, pois Pernambuco foi onde o partido mais cresceu em número de prefeituras, passando de 5 para 32 prefeitos eleitos. Se considerarmos a eleição de prefeitos aliados ao seu grupo político, este número pode ser ampliado sensivelmente. Superada as dificuldades iniciais, a governadora começa a ver reconhecido os seus méritos, habilitando-se a voos políticos para além das fronteiras do estado, como uma da estrelas mais reluzentes do ninho tucano. 

Apesar de tucana, Raquel tem um bom trânsito com o Palácio do Planalto, para desconforto dos tucanos de bico fino, que desejavam um distanciamento maior. Política tem algumas coisas engraçadas. Estão aconselhando o morubixaba petista a se aproximar mais do centro, como se restasse a Lula outra opção ou se ele já não estivesse construindo este caminho há algum tempo. A feijoada política tem tantos ingredientes que permitiram, por exemplo, que Raquel Lyra apoiasse um nome como o de Mirella Almeida, prefeita eleita de Olinda depois de uma disputa acirrada com o PT, e o Ministro da Pesca, André de Paula, aliado de Raquel, do PSD, partido da prefeita eleita, assegurasse que ela receberia o apoio necessário do Planalto. 


Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Editorial: Lula não tem um prefeito para chamar de "seu".



Há, no meio político, quase que uma absoluta certeza de que o morubixaba petista tentará uma reeleição em 2026. Hoje as circunstâncias não são favoráveis, mas as forças do campo dito progressista não possuem outra opção, até mesmo por capricho do líder petista, que não estimulou a formação de nomes que pudessem sucedê-lo. Dentre os principais postulantes ao Palácio do Planalto nas eleições de 2026 - podemos aqui tratá-los de pré-candidatos, obviamente - Lula foi o único que não conseguiu fazer um prefeito para chamar de "seu", que seria Guilherme Boulos, em quem apostou todo o seu capital político. Ronaldo Caiado(UB-GO) fez de Sandro Mabel prefeito de Goiânia; Tarcísio de Freitas(PP-SP) fez de Nunes o prefeito de São Paulo; Ratinho Junior(PSD-PR) fez de Eduardo Pimentel prefeito de Curitiba. 

O ex-presidente Jair Bolsonaro(PL) também não esteve bem, mas, a rigor, ainda se encontra inelegível e arrestado com o seu partido, enredado numa divisão interna. A vitória de Evandro Leitão em Fortaleza, única capital onde o PT venceu, pode perfeitamente ser creditada ao Ministro da Educação, Camilo Santana. Em Belém, aí sim, travou-se uma batalha renhida entre bolsonaristas e petistas, onde o Planalto empreendeu todos os esforços para que a cidade não caísse nas mãos do famoso delegado Eder Mauro, bolsonarista roxo.  Lula participou das festividades do Círio de Nazaré, assim como o prefeito do Recife, João Campos, em seu processo de nacionalização, também esteve por aquelas bandas. Valeu o esforço. Igor Normando, foi eleito com o apoio do clã Barbalho. Mas Belém está longe de ser comparada a São Paulo. O Planalto acusará essa refrega na capital paulista. 

Ficamos por aqui imaginando o que se passou pela cabeça do candidato Guilherme Boulos nesta reta final de campanha do segundo turno. Ocorreu, por parte do candidato, um esforço incomensurável para reverter a situação, francamente desfavorável. Até o eleitorado do empresário Pablo Marçal ele tentou conquistar, incorporando um vocabulário novo no dicionário petista: empreendedorismo. Não haveria hipótese de o eleitor de Marçal migrar para o voto em Boulos, pelo que se constatou. 

Editorial: Raquel Lyra sai vitoriosa das eleições municipais.


Especula-se, desde algum tempo, que a governadora Raquel Lyra(PSDB-PE) poderá mudar de partido a qualquer momento. Uma das possibilidades seria ingressar no PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, partido que obteve o maior número de prefeituras nessas eleições municipais. Com o partido enfrentando dificuldades em todo o país - apesar de ter ampliado sensivelmente o número de prefeitos da legenda nessas eleições - a governadora pernambucana passou a ser um trunfo dos tucanos. Aqui ela esteve bem, ampliando o número de prefeituras tucanas no Estado, inclusive em cidades com grande proporção de eleitores, distribuídas em zonas eleitorais que são determinantes numa eleição majoritária. 

Além dos redutos eleitorais das mesorregiões do Estado, Dr. Miguel Arraes tinha uma preocupação efetiva com a Região Metropolitana do Recife, que comporta cidades estratégicas, com grandes colégios eleitorais, a exemplo de Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista. Neste segundo turno, por exemplo, travou-se uma frente de batalha pela conquista das cidades de Olinda e Paulista. A Marim dos Caetés, depois de todo o esforço de forças tradicionais da esquerda pernambucana, Mirella Almeida, do PSD, sagrou-se vitoriosa com o apoio da governadora Raquel Lyra, que se empenhou pessoalmente em sua vitória. 

Em Paulista, a despeito do franco favoritismo da candidatura de Ramos, Raquel Lyra também encharcou  a blusa, realizando carreatas com o prefeito eleito pelas ruas da cidade das Chaminés. Ramos, do PSDB, chegou a abrir uma vantagem expressiva sobre o candidato socialista, Júnior Matuto, mas, mesmo assim, a governadora não baixou a guarda. Depois de um começo difícil, as coisas vão se ajustando e a governadora está conseguindo arrumar a casa e ampliar seu capital político. Se alguém vai precisar rever seus planos para 2026, possivelmente, não será governadora tucana. Os tucanos de bico fino, que já faziam um esforço tremendo para não perder o seu passe, redobrarão os esforços para mantê-la no ninho. 

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


sábado, 26 de outubro de 2024

Editorial: A arrancada de Boulos na reta final de campanha em São Paulo.


Sempre que as forças do campo progressista conseguiram chegar ao Edifício Matarazzo, em São Paulo, isso se deu numa disputa bastante renhida, com definição nos momentos finais da contenda. Foi assim com Marta Suplicy, foi assim com Luíza Erundina. A experiência de Luíza Erundina como prefeita de São Paulo tratou-se de uma experiência emblemática, produzindo até mesmo alguns trabalhos acadêmicos, como uma dissertação de mestrado do cientista político Cláudio Gonçalves Couto, hoje professor da Fundação Getúlio Vargas. À época, Erundina foi cobrada pela militância da legenda a transformar São Paulo numa republica socialista, o que, convenhamos, não seria assim tão simples. 

Boulos, por exemplo, tratou de afugentar toda espécie de estigmas associadas à esquerda em suas falas e plataformas programática e de comunicação com o eleitor paulistano. Se submeteu até a um convite com cara de arapuca promovido pelo empresário Pablo Marçal. Uma vaselina o fez transitar, sem quaisquer constrangimentos, pelos corredores da Faria Lima. Aliás, a geografia do voto em São Paulo mostra exatamente que ele mantém algumas dificuldade principalmente junto a um eleitorado mais pobre, residente na periferia, o que demandou um grande esforço de concentração de campanha do candidato nesta reta final. 

A diferença de votos entre ele e o prefeito Ricardo Nunes já chegou a 22 pontos e hoje está reduzida a 10, segundo o Paraná Pesquisas, o que significa uma arrancada espetacular de sua campanha. Estima-se que nãos seja suficiente, porém, para ele atingir a linha de chegada em primeiro lugar. A probabilidade de o PT fazer um prefeito de capital estaria melhor em outras capitais, a exemplo de Fortaleza, onde a disputa está equilibradíssima entre Evandro Leitão e André Fernandes. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Editorial: PT: Onde foi que eu errei? Chamem o Ricardo Antunes.



A revista Veja desta semana traz uma longa matéria de capa abordando as cartas do jogo que já está sendo jogado entre os principais atores políticos, de olho nas eleições presidenciais de 2026. A engrenagem que mói neste momento, envolve desde mudanças programáticas - com reflexos nas políticas públicas - até a luta interna pelo controle das agremiações políticas. O ex-presidente Jair Bolsonaro tem enfatizado que o candidato da direita às eleições presidenciais de 2026 é ele mesmo ou alguém do seu clã familiar, à exceção, claro, de Michelle Bolsonaro. Nos bastidores, o clã Bolsonaro trava uma batalha pelo controle da legenda do PL, onde poderia reunir melhores condições DE viabilizar tal postulação. 

A inelegibilidade, curiosamente, passou a ser tratada como um detalhe irrelevante. O PT também se movimenta, antecipando-se ao encontro de 2025, diante da necessidade de rever algumas correções de rumo desde já. Embora percebamos que aquela autocrítica necessária deveria ter outra pauta, não deixa de ser curioso o elenco de argumentos levantados pelo atual presidente nacional da legenda, apontando os pontos em que o partido precisa rever para se adequar às mudanças atuais, inclusive no mundo do trabalho. 

Como gato escaldado tem medo de água fria, as recentes falas do morubixaba petista sinalizam que essas mudanças já estão em curso desde já. Recentemente, Lula anunciou que irá liberar uma linha de crédito para os beneficiários do programa Bolsa Família abrirem um negócio próprio, o que se constitui numa revolução copernicana nas políticas públicas tradicionais da legenda. Entrincheirado em seu reduto da UNICAMP, o sociólogo Ricardo Antunes tornou-se o acadêmico brasileiro mais respeitado no que concerne às mudanças no mundo do trabalho. Embora crítico do PT desde a década de 80 - quando afirmava que o partido não era tão popular como se dizia, posto que formado por intelectuais de classe média e uma elite sindical - não custa convidá-lo para este debate da legenda. Conviver com quem pensa diferente pode ser de bom alvitre, principalmente para uma legenda que precisa realizar uma autocrítica profunda e não apontar apenas as mudança externas como o fator determinante de sua debacle. 

Editorial: O último debate.



Aguarda-se, para logo mais, na TV Globo, às 10h,  o último debate entre os postulantes às prefeituras municipais, nos pleitos que ficaram para ser definidos no segundo turno. As atenções se voltam, naturalmente, para o que ocorre na capital paulista, onde há uma disputa que antecipa a queda de braço das eleições presidenciais de 2026. De um lado, Guilherme Boulos, apoiado pelo Palácio do Planalto. Do outro, Ricardo Nunes, que conta com o apoio das forças que fazem oposição ao Governo Lula3. Contraditoriamente, estão entre essas forças um partido aquinhoado com três ministérios na Esplanada dos Ministérios, dando a dimensão da complexidade desse jogo político. 

Alguns puristas da base aliada de Lula estão sugerindo que, por ocasião da reforma ministerial que se impõe, o PT possa reavaliar esta situação. Não é tão simples. Como diria o cancioneiro, se fosse largo todo mundo cabia. Se fosse raso, ninguém se afogava. O morubixaba petista, em nome de uma temerária governabilidade, precisou entrar num arranjo nebuloso com essas forças do centro-direita do espectro político. Agora, diante do fortalecimento dessas forças  nessas eleições municipais, qual seria a sua margem de manobra?  Possivelmente ainda mais reduzidas. 

Lula investiu todo o seu capital político nas eleições em São Paulo. O PT investiu o capital financeiro que foi possível para eleger Guilherme Boulos prefeito de São Paulo. Se há alguma coisa sobre a qual o psolista não pode se queixar é da falta de apoio financeiro. Pela última pesquisa do Instituto Datafolha, ainda há 14 pontos de diferença entre ele e o prefeito Ricardo Nunes,  que concorre à reeleição. Conforme observa o jornalista Josias de Souza, Boulos teria que escalar um Everest até o próximo domingo. Lula tem evitado as aparições em público junto ao candidato nesta reta final de campanha. E o motivo não seria o recente acidente doméstico de que foi vítima, conforme especulam órgãos da grande imprensa. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Editorial: Onde o PT errou em São Paulo?



Estávamos ouvindo recentemente algumas considerações do  diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, onde ele faz algumas ponderações sobre o segundo turno dessas eleições municipais, considerando a hipótese de o PT não levar nenhuma das capitais onde disputa o segundo turno. Outra questão, esta bem anterior, ainda no primeiro turno, o CEO do Instituto - se não ele um pesquisador do órgãos, pois não temos certeza absoluta - apontava uma eventualidade de o PT ter cometido seu primeiro erro na eleição de São Paulo ao escolher Marta Suplicy como vice de Guilherme Boulos. 

À época, o morubixaba petista, Luiz Inácio Lula da Silva, fez gestões pessoais para, literalmente, arrancar a filha pródiga da influência de Ricardo Nunes - onde ocupava a Secretaria de Relações Internacionais - e trazê-la de volta ao PT. Sugeriu-se que, além de agregar à chapa uma expertise administrativa que faltava ao psolista, Marta Suplicy poderia angariar a simpatia do eleitorado empobrecido e periférico da metrópole, algo que não ocorreu como se supunha, se considerarmos a elitização do eleitorado que se identifica com a candidatura de Guilherme Boulos. O PT corre um sério risco de sofrer mais uma de suas refregas nas disputa de capitais. 

O argumento do representante do Paraná Pesquisas é que o PT poderia ter negociado com outras forças - inclusive da Faria Lima - a indicação de um vice na chapa de Boulos. Ficamos aqui imaginando, no contexto dessas novas acomodações movidas por essa nova correlação de forças, o que o PT prometeu a Marta Suplicy à época. Mais ainda: Numa eventual derrota, como a filha pródiga será acomodada no Planalto. 

Editorial: O PT já se prepara para a "ressaca" das eleições municipais de 2024.


Ressaca é uma coisa complicada. Exige muita água de coco, descanso e alguns cuidados suplementares para a sua recuperação. Um sal de Andrews, de vez em quando, também pode ajudar. A ressaca política, então, além de um balanço para se entender onde foram cometidos erros que possam ter afugentado o eleitorado, impõe as "acomodações de poder", oriundo da nova correlação de forças que entra no jogo. A minirreforma que está sendo preparada na cozinha do Palácio do Planalto, de certo, tenta se antecipar a essas mudanças, onde o PT sofreu uma de suas refregas mais significativas. 

Neste sentido, o encontro que a legenda pretende realizar em breve, possivelmente, será o momento de lavar as roupas sujas em casa, conforme recomenda o bom costume daqueles que preferem que seus defeitos não sejam expostos. Um campo minado, um ambiente repleto de escaramuças será o que o Planalto encontrará pela frente. Mais do que antes, terá que engolir muitos sapos, administrar, inclusive, os blefes, os acordos pontuais, nada que se possa assegurar confianças efetivas consoantes os acordos para 2026, quando esses partidos, depois da capilaridade conquistada nessas eleições municipais, almejam, naturalmente, terem seus próprios postulantes ao Palácio do Planalto. 

Se tomarmos apenas como o exemplo o PSD, de Gilberto Kassab, um dos vencedores dessas eleições, o acordo que vale para Belo Horizonte, não é o mesmo que se aplica para a sucessão na Câmara dos Deputados e, muito menos para as eleições presidenciais de 2026, quando o "bruxo" já trabalha o nome do governador Tarcísio de Freitas para o pleito. O mesmo raciocínio se aplica ao União Brasil, outro grêmio partidário que sai fortalecido dessas eleições e já vislumbra horizontes promissores para 2026, estimulando as pretensões do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que recentemente trocou umas rusgas com o governador petista da Bahia, Jerônimo Rodrigues, envolvendo a questão da segurança pública.