pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 18 de maio de 2014

Aliança PSB/REDE: Na realidade, uma grande disenteria política.

Marina Silva saiu das urnas nas eleições de 2010 com um grande capital político. Quando, depois dos problemas com a viabilização do seu próprio partido, resolveu aliar-se com o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, igualmente, alguns analistas observaram na união um grande fato político, capaz interferir substantivamente no quadro geral das eleições de 2014. A expectativa é que Marina transferisse seu capital político para o pernambucano. Isso, naturalmente, não poderia ocorrer de forma automática, tratar-se-ia de um processo gradativo. A questão que se coloca, no entanto, é que, pelo andar da carruagem política, esse fato não vem ocorrendo. Os mais otimistas, sobretudo do PSB, acreditam que isso poderá ocorrer a partir do horário eleitoral. Temos cá nossas dúvidas. A editoria de política do JC de hoje, 18/05, traz uma matéria sobre o assunto. Embora trate-se de uma aliança que poderia, de fato, proporcionar alguns ingredientes novos no contexto da competição eleitoral das eleições presidenciais de 2014, por enquanto, como afirmou um morubixaba petista, a chapa de açaí com tapioca vem provocando é uma verdadeira disenteria política. O grau de atritos entre ambos é evidente, além de outros aspectos conjunturais que depõem contra o êxito dessa união. Nos principais colégios eleitorais, por exemplo, Marina e sua Rede defendem uma candidatura própria, contrariando acordos políticos celebrados entre o pernambucano e o senador Aécio Neves. São Paulo e Minas são um bom exemplo disso; Eduardo tenta abrir uma frente de diálogo com os ruralistas, que temem as posições ambientalistas da ex-ministra do meio-ambiente, mesmo com sua versão canhestra; O figurino da "Nova Política" não cabe em ambos. Essa história de emendar o bigode com raposas da velha política, representantes das grandes oligarquias brasileira, é conversa para boi maranhão dormir; Programaticamente, conforme já foi posto, é um samba do crioulo doido. Os problemas vão desde as questões ambientais até religiosas, obrigando o pernambucano a fazer um contorcionismo enorme para não desagradar o "rebanho". No dia de hoje, por exemplo, aparece do lado de figuras representativas do movimento LGBT, afirmando que sempre esteve do lado deles. Amanhã, certamente, vai ter que se explicar para a irmã. Aliás, não apenas para a irmã. As entidades representativas do LGBT já estão postando nas redes sociais que o "Galeguinho" nunca esteve do seu lado. Pernambuco é o Estado onde mais se cometem crimes contra esses grupos. Não sei se esse dado confere. Tenho dúvidas sobre essas estatísticas. Não seria o Estado de Alagoas o mais, digamos assim, intolerante?

O silêncio ao redor

Intelectuais que sempre fizeram o contraponto progressista reagem agora entre a indiferença e a prostração. Jorge Furtado, pergunta: quando o Brasil foi melhor?

por: Saul Leblon 

Arquivo


A impressão de que o governo fala sozinho, cercado por um jogral ensurdecedor, ora raivoso, ora repetitivo, mas de qualquer forma  onipresente,  não é  fortuita.
É isso mesmo,  se a percepção se basear  apenas na emissão veiculada pelos jornais, tevês e emissoras de rádio que  ecoam o monólogo  do ‘Brasil aos cacos’.

Mas já foi diferente?  Em 1989, talvez, quando o Jornal Nacional editou o famoso debate final da campanha, às  vésperas do voto? Ou em 2002, quando  George Soros assegurava, com exclusividade para a Folha,  que era  Serra  ou o caos?

Talvez em 2006, sob o cerco do ‘mensalão’? Ou então em 2010, quando a Folha se lambuzou na ficha falsa da Dilma e Serra convocou  Malafaia como procônsul para assuntos relativos a moral e aos bons costumes?

Então o que mudou para que o ar pareça tão mais carregado, a ponto de ser necessário, às vezes, cortar com faca o noticiário para  enxergar  além da derrocada iminente que se anuncia?

Algumas coisas.

Vivemos uma transição de ciclo econômico.

Em parte pela reversão do quadro internacional, em parte pelo esgotamento de suas dinâmicas  internas, o desenvolvimento brasileiro  terá que se repensar para retomar uma trajetória de longo curso.

Trata-se de recompor  as condições de financiamento da economia. E  depurar  prioridades  em direção à maior eficiência logística e melhor qualidade de vida.

Não é café pequeno.

A expectativa provoca arrepios nas  carteiras graúdas.

Não será  mais possível, por exemplo,  prosseguir apenas com o impulso das exportações de commodities, cujos preços triplicaram  no mundo desde 2003  --os do petróleo quadruplicaram, mas  os agrícolas cresceram mais de 50%.

Tampouco a liquidez internacional promete ser tão generosa  a ponto de dissipar as contradições internas  em um jorro de  crédito apaziguador que tudo sanciona.

Os donos do dinheiro precificam as ameaças incrustradas nesse  duplo esgotamento, que escancara a natureza paralisante da hegemonia rentista sobre  o país.

Dispostos a não ceder, operam a plenos decibéis para sufocar a evidência de que seu privilégio entrou na alça de mira de uma encruzilhada histórica.

Aconteceu antes, em 32 e 53 – quase como uma revolução burguesa à revelia das elites; foi resolvido com o patrocínio do capital estrangeiro em 55; reprimido em 64; ordenado ditatorialmente  nos anos 70 e terceirizado aos livres mercados nos anos 90.

A seta do tempo ensaia  um novo estirão.

O desafio, antes  de mais  nada,  é de natureza política.

A coerência macroeconômica da  travessia será  dada por quem reunir  força e consentimento para assumir a hegemonia do processo.

Não por acaso, na abertura do 14º Encontro dos Blogueiros e Ativistas Digitais, nesta 6ª feira, Lula  resumiu tudo isso em uma frase:

‘Sem reforma política não faremos nada neste país’. 

E ela terá que ser construída pela rua.  ‘Por uma Constituinte exclusiva’, adicionou o ex-presidente da República:  ‘Porque o Congresso que está aí pode mudar uma vírgula aqui, outra ali. Mas não a fará’.

Não é um capricho ideológico.

Trata-se de dar  consequência institucional às demandas e protagonistas que iniciaram a longa viagem à procura de um outro país, a partir das greves metalúrgicas do ABC paulista, nos anos 70/80.

 E que agregaram mais 60 milhões de brasileiros pobres a esse percurso desde 2003.

Um passaporte da travessia consiste em regenerar a base industrial brasileira.

E tampouco aqui  é contabilidade.

Para a economia gerar empregos e salários de qualidade, ademais de receita fiscal compatível com as urgências sociais e logísticas, é vital recuperar o  principal polo irradiador de produtividade em um sistema econômico.

O pressuposto  para um aggiornamento  industrial é  juro baixo,  câmbio desvalorizado e controle de capitais.

Grosso modo, esse é o  tripé que afronta o outro, da  alta finança, baseado em arrocho fiscal, câmbio livre e juro alto.

Todo o círculo de interesses que orbita em torno do cassino  está  mergulhado até o pescoço na guerra preventiva contra o risco de uma reciclagem subjacente à eleição de outubro.

Essa é uma singularidade  que distingue e radicaliza a presente disputa sucessória  --feita em condições internacionais adversas--  a ponto de tornar o ar quase irrespirável.

Por trás dos ganidos emitidos pelo colunismo isento (ideológicos são os blogueiros)  há um cachorro grande a soprar seu bafo sobre o cangote da sociedade.

O capital rentista.

Ele lucrou,  limpo, acima da inflação, 18,5% em média, ao ano, no segundo governo FHC.

Faturou  11,5%, em média, no segundo governo Lula.

E, já impaciente, entre 3,5% e 5% agora, sob a gestão Dilma.

Estamos falando de massas de forças nada modestas.

Diferentes modalidades de  fundos  financeiros  somaram  um giro acumulado de R$ 2,4 trilhões no Brasil em 2012.

O valor equivale a mais da metade do PIB em direitos sobre a riqueza real  --sem triscar o pé no chão da fábrica.

Não é um país à parte. Mas se avoca   mordomias  equivalentes às desfrutadas pelas tropas de ocupação.

Entre elas, rendimentos sempre superiores  à variação do PIB, portanto, em detrimento de fatias alheias. E taxas de retorno inexcedíveis  -- dividendos  permanentes de dois dígitos, por exemplo--   a impor um padrão de retorno incompatível com a urgência do novo ciclo de investimento que o Brasil reclama.

Não se mantém uma tensão desse calibre sem legiões armadas.

Pelotões de estrategistas, exércitos de consultores, artilharias  acadêmicas, bancadas legislativas, cavalarias midiáticas  e aliados  internacionais  operam  a  seu serviço. 

O conjunto  entrou  em prontidão máxima.

Um pedaço da hegemonia que vai ditar  o novo  arranjo macroeconômico  será decidido nas eleições de outubro.

O embate  escorre do noticiário especializado (isento como uma nota de três reais)  para os espaços onde os cifrões são traduzidos em duelos entre o bem e o mal, entre  corruptos e salvadores da pátria,  intervencionistas e liberais, desgoverno  e eficiência.

Daí  são mastigados para o varejo do martelete conservador.

Nesse ambiente de beligerância em que o governo  parece falar sozinho, a explosão de demandas  que buscam  carona na  visibilidade  da Copa do Mundo, apenas reafirma uma transição de ciclo, incapaz de ser equacionado por impulsos corporativos ou bandeiras avulsas, ainda que justas  (leia mais sobre esse tema no blog do Emir).

‘Não vai ter Copa’  figura como o arremedo de uma unidade tão frágil quanto a aritmética subjacente à ideia de que os males do país se resolvem com os  R$ 8 bilhões financiados às arenas do torneio  --que serão pagos, ressalte-se.

No evento da sexta-feira, em São Paulo, Lula lembrou aos blogueiros que desde que começaram as obras  da Copa, em 2010, o governo investiu  R$ 825 bi em saúde e educação.

E, todavia, a escola pública e o SUS persistem com as lacunas sabidas.

O buraco  é mais amplo.

O Brasil se confronta com o desafio de realizar  grandes reformas  que lhe permitam  erguer as linhas de passagem entre o inadiável  e o viável  num novo ciclo de crescimento.

Menos que isso é  dar  à edição conservadora  suprimentos  para martelar  a ideia de uma sociedade  em decomposição.

Durante muito tempo a percolação desse veneno  teve na comunicação do governo um filtro complacente.

Agora se sabe que essa inércia escavou também um corredor contagioso no ambiente cultural, a ponto de tornar adicionalmente  opressivo  o ar desta sucessão presidencial.

Um pequeno exemplo ilustra  os demais.

Em entrevista recente à televisão portuguesa, o cantor Ney Matogrosso esboçou um cenário de terra arrasada  para descrever o Brasil. https://www.youtube.com/watch?v=DqJ0kF1_oL0. De sobremesa, soltou agudos de visceral rejeição à política, aos políticos e  ao PT.

O problema não é um  cantor  deblaterar contra o governo.

O problema é a ausência de contraponto  ao redor, num momento em que interesses graúdos se empenham em vender a tese de que a melhor saída para o Brasil é andar para trás.

Em diferentes capítulos  da história do país,  o prestígio de seus  intelectuais e artistas  foi decisivo no repto ao cerco asfixiante  com o qual o conservadorismo  tentava, como  agora, legitimar, ou impor,  a receita de arrocho subjacente as suas propostas para os impasses nacionais.

Antes tarde do que nunca, o PT e suas maiores lideranças correm contra o tempo para corrigir o gigantesco erro político que foi subestimar  o papel  de uma mídia  plural na luta pela ampliação da democracia  brasileira .

Passa da hora de acordar também para a necessidade de reativar o diálogo com círculos intelectuais e artísticos, cujo protagonismo  foi  igualmente subestimado por uma concepção   mecânica e economicista de desenvolvimento.

O sequestro  da opinião pública pelo denuncismo conservador   --que radicalizou um clima de indiferença e prostração semeado pelo próprio recuo do PT no ambiente intelectual -- evidencia o  tamanho do equívoco cometido.

Leia, abaixo, a manifestação do cineasta Jorge Furtado (diretor do recém  lançado ‘Mercado de Notícias’ e Urso de Prata em Berlim, em 1990, com ‘Ilha das Flores’)  sobre  esses acontecimentos, que marcam e vão marcar o ar pesado da disputa eleitoral de 2014.

'A mim não enrolam' , diz o diretor gaúcho que questiona em  seu blog a tese de que o Brasil  nunca esteve tão mal: pior em relação a quando e, sobretudo, para quem, argui. http://casacinepoa.com.br/)

O desafio do campo progressista é expandir essa argúcia solitária. 

A íntegra do texto de Jorge Furtado:

"Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados.

Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior, reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.

Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira. 
 
Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?

Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior. 
 
Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa "voltar ao 'normal '", como se normal talvez fosse ter os pobres desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares, pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades, se "normal" fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar. Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para quem?

A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964 e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos cortiços, vivia-se muito mal.

A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes, o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?"

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

Michel Zaidan Filho: Nas mãos de Deus




                                                       Nunca houve um divórcio tão perfeito entre o mundo da fantasia organizada dos governantes deste país e a realidade das ruas. Enquanto os ministros de estado,  o governador em exercício e o ex-governador de Pernambuco apareciam se confraternizando, bebendo champagne e dando declarações de que tudo estava na maior harmonia, de que a população está muito satisfeito com a Copa, com o custo de vida, com a prestação dos serviços públicos etc.,  aqui fora (do reino da fantasia) o mundo real pegava fogo. Fomos surpreendidos em plena mesa redonda, na UFPE, com a presença de integrantes do governo do estado, com a notícia da suspensão das atividades letivas em função do caos social que se instalou no estado de Pernambuco, com a paralisação das polícias civil e militar. Num minuto, a imagem de um estado governado pela  paz e a concórdia mudou através das imagens divulgadas pelas redes de Televisão do Brasil inteiro, de saques a mão armada, em plena luz do dia e arrastões de multidões desenfreadas nas lojas de eletrodomésticos e supermercados da região metropolitana do Recife.                                                       0 que dizer desse descompasso entre a fala oficial e as ruas?

                                                        Em primeiro lugar, que o famoso "pacto pela vida" expôs a sua fragilidade social. É um pacto pela segurança jurídica e militar de cidadãos-consumidores (privados) e o comércio de um modo geral. Naturalmente a segurança vai muito mais além da proteção dos bens de consumo privados e da rede de lojas que os vende através de módicas e longas prestações. Um  conceito ampliado de segurança teria  a ver com certeza com o déficit de cidadania republicana da maioria das pessoas, não só dos cidadãos consumidores. Segurança envolve educação, saúde, transporte público, saneamento  e esgotamento sanitário, renda e emprego, lazer e respeito ao direito das minorias. Só um governo preocupado exclusivamente em proteger bens e a vida dos cidadãos consumidores do país, se empenharia em garantir segurança para o comércio e os automóveis, condomínios etc. O problema da segurança é o problema dos direitos que a maioria da população não tem, chama-se exclusão social. Não podemos dividir a sociedade em duas metades:  a que tem acesso irrestrito a bens e produtos - inclusive através  do crédito - e aquela outra parte que não tem, mas que ter (como todo mundo), em função da persuasiva propaganda da televisão que diz: ser cidadão é ter uma televisão LED, ser cidadão é ter uma fogão de 8 bocas, ser cidadão é ter um carro importado e morar à beira-mar de Boa Viagem.

                                                        Em segundo lugar, está o modelo de inclusão social patrocinado pelo "neo-desenvolvimentismo" de Dilma Rousseff, a chamada nova classe média dos 18 milhões de novos consumidores e o "american way life" difundido pelo PT no Brasil. Ao invés de investimentos maciços na qualidade de vida do cidadão brasileiro,  como aliás foi prometido pela Presidente depois da manifestações de junho de 2013, foi o discurso de que a realização da Copa do Mundo vai redimir o país da miséria, por certo com o apoio das tropas federais nas capitais-sede do Mundial de Futebol. Esse modelo de inclusão social pode ser muito bom para as montadoras internacionais de carros no Brasil e a indústria de bens de consumo duráveis eletro-eletrônicos. Mas para que não pode comprá-los por que não tem crédito, emprego, renda ou alguma garantia para oferecer, é péssimo. Causa uma espécie de frustração ou complexo de inferioridade social muito grande. Na primeira oportunidade, esses marginalizados pela cidadania do consumo vão querer usufruir de todos esses bens. É um direito que eles têm.

                                                        Em terceiro lugar, entregar a uma corporação policial o monopólio legal da violência para que ela possa chantagear a sociedade, quando lhe convém é um imenso risco. Quem vai garantir que isso não se repita daqui a trinta, quarenta ou cinquenta dias? - Quando a corporação (detentora do poder de polícia) ameaça e faz a paralisação  é uma senha explícita para que os que querem consumir e não podem, avancem sobre as gôndolas dos supermercados e os showroons  das lojas de eletrodomésticos para o saque, o aresto, a predação etc.  Quem é mais criminoso. neste caso?

                                                       E não venha se dizer que tudo isso não passa da inveja e o preconceito da classe média tradicional em relação aos novos cidadãos-consumidores criados pelo "neo-desenvolvimentismo" de Dilma. Há muita gente boa que não apoia nem os saques nem a paralisação da polícia, mas que também não comunga com esse modelo de inclusão social. E isto porque acha muito importante aperfeiçoar a rede de serviços públicos (o SUS, a escola pública, o transporte público etc.) que o estado brasileiro tem e que anda sucateada pelo descaso dessas mesmas autoridades que estão comemorando, com champagne, a proximidade dos jogos da Copa do Mundo em nosso país.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco

PSB X PSDB: Em Pernambuco vão mesmo para o pau. Eduardo deverá lançar nome em Minas Gerais.

O PSB está prestes a romper acordos mantidos com o PSDB em algumas praças. Os indícios são cada vez mais evidentes. O jogo é simples. Quando resolveram celebrar os acordos - alguns deles não combinados com Marina - Aécio e Eduardo, cada qual, se imagina cruzando o rubicão rumo ao segundo turno com a presidente Dilma Rousseff, de preferência contando com o apoio do outro. Uma situação onde a Teoria dos Jogos até que poderia oferecer subsídios para análise. Aécio Neves vem se consolidando como o nome mais provável a disputar a Presidência da República com Dilma na eventualidade de ela não liquidar a fatura já no primeiro turno. Pouco provável que a polarização entre PSDB/PT seja quebrada. Essa situação vem provocando muitas inquietações no staff do candidato socialista, Eduardo Campos.Nas alterosas, sua penetração é irrisória. Justamente num dos colégios eleitorais mais importantes do país. Os acordos celebrados entre ambos preconizam que o PSDB pernambucano apoiaria o nome de Paulo Câmara, ao passo em que o PSB apoiaria, em Minas, a candidatura de Pimenta da Veiga, do PSDB. O pernambucano calculou os riscos, mas encontra-se numa situação imperiosa. Seus assessores já teriam informado que, diante das circunstâncias, melhor correr os riscos. Eduardo Campos já teria comunicado essa possibilidade a gente próxima ao senador mineiro, que prefere aguardar os rumos dos acontecimentos. Caso se confirme a candidatura do PSB ao Governo mineiro, o nome mais provável é o do Deputado Júlio Delgado, embora a Rede preferisse outro nome. Aqui em Pernambuco, tudo indica que a porca vai torcer o rabo. Já não existe a liderança de Sérgio Guerra, que conduzia o partido sob rédeas curtas, consoante os interesses do Palácio do Campo das Princesas. Suas lideranças emergentes, entre eles o Deputado Estadual Daniel Coelho, estão dispostos a descerem do barco da candidatura de Paulo Câmara, criando alguns embaraços na quadra pernambucana para a relação entre os dois grêmios partidários. Bruno Araújo, outra liderança tucana no Estado, já afirmou que pau que dá em Chico, dá em Francisco, numa alusão ao fato de que, caso o PSB quebre os acordos em Minas, eles estão livres para fazerem o mesmo na Província. Não sei muito bem em que essas pesquisas estão ajudando Eduardo Campos, mas ele se orienta muito pelos seus resultados. Já teria pesquisas em mãos indicando que uma possível candidatura de Daniel Coelho seria mais danosa ao senador Armando Monteiro do que em relação à candidatura de Paulo Câmara. Essa candidatura tiraria menos votos do candidato do Campo das Princesas. Tirar votos de quem não os tem?

Repórteres da grande mídia combinam pauta contra Lula

Não é fácil cobrir política no Brasil, segundo repórter de um dos grandes veículos de mídia que cobriram a palestra que o ex-presidente Lula deu a centenas de blogueiros na última sexta-feira. Informações que tal repórter me deu sem saber com quem falava serão úteis para a compreensão da manchete sobre o evento que ganhou as capas dos grandes jornais de sábado (17/05).
A grande imprensa compareceu em peso ao hotel Braston, no centro velho de São Paulo, onde está acontecendo o 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais. Havia repórteres de vários grandes meios de comunicação – O Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, G1, UOL, Terra, IG… Só não foi visto repórter da Veja.
O corredor que dá acesso ao salão de convenções na sobreloja do hotel estava intransitável. Por ali, misturavam-se os participantes do evento e a imprensa. Esta, porém, tinha uma porta de acesso exclusiva ao salão, que desembocava em um cercadinho feito para os repórteres.
Salvo um ou dois incidentes entre blogueiros menos pacientes com as manipulações midiáticas e repórteres, a imprensa foi bem recebida. Porém, esses “operários da notícia” estavam tensos e este blogueiro descobriu que não era por medo do público que ali estava, mas devido à pressão que um desses “operários” – que, por razões óbvias, não será identificado – insinuaria que todo repórter de política sofre quando tem que cobrir Lula.
Para extrair sinceridade de um dos membros da imprensa que ali estavam, a solução foi este que escreve dissimular a razão de sua presença no local fingindo que participava de outro evento no salão de convenções contíguo àquele em que Lula palestraria. Travou-se, então, o seguinte diálogo com um dos repórteres:
Blogueiro — O que está acontecendo aí?
Repórter – O Lula vem falar.
Blogueiro – Quem é toda essa gente?
Repórter – São blogueiros aliados do PT; Lula vem falar pra eles.
Blogueiro – Lula é sempre notícia, né?
Repórter – Notícia cabeluda. Dá um trabalho danado.
Blogueiro – Por quê?
Repórter – A gente tem que achar a “pauta certa”…
(…)
Infira você, leitor, qual é a “pauta certa”.
A palestra em questão foi excelente. Lula estava inspirado, como sempre. Enquanto encantava a plateia com suas tiradas engraçadas, fiquei pensando o que a imprensa poderia encontrar para comprometê-lo. A presença maciça de repórteres em mais um encontro do ex-presidente com blogueiros certamente se destinava a encontrar algo que pudesse servir para a mídia tentar desgastá-lo publicamente.
Ao fim da fala de Lula, achei que ele não oferecera matéria-prima para que os robôs teleguiados pela grande mídia pudessem usar. E não havia mesmo. Por isso, foi preciso inventar.
Após Lula falar, participantes do Encontro de Blogueiros relataram uma cena inusitada presenciada por vários deles: repórteres de vários veículos distintos reuniram-se para discutir que pauta comum todos entregariam às suas respectivas redações.
Um repórter sugeria distorcer, omitir ou destacar este ponto, outro contestava aquela ideia e dava outra. Alguns dos blogueiros que presenciaram a cena aproximaram-se do grupo de repórteres inquirindo-os sobre se era comum fazerem aquilo, reunirem-se e combinarem o que iriam divulgar sobre o que haviam presenciado.
A interpelação dispersou os repórteres, que foram se reunir em outra parte. O resultado dessa reunião, porém, começou a ser visto no mesmo dia nos portais G1, UOL etc., e ganhou maior repercussão nos jornais de sábado (17). Abaixo, uma das manchetes principais de primeira página que decorreram de uma distorção criminosa da fala do ex-presidente.
Chega a ser inacreditável que a mídia tenha pinçado e distorcido uma frase de Lula dessa forma. O ex-presidente disse o seguinte:
Nós nunca reclamamos de ir a pé (ao estádio). Vai a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. A gente está preocupado? Ah não, porque agora tem que ter metrô até dentro do estádio. Que babaquice que é essa?
O que Lula disse foi que, no Brasil, nunca ninguém pediu que estações de metrô fossem construídas dentro de estádios de futebol e que agora estavam cobrando alguma coisa que nunca foi pedida no Brasil. E emendou dizendo que brasileiro, para ver futebol, não mede esforços.
As palavras do ex-presidente, da forma como foram expostas, dão a entender que ele acha que o povo não merece ter estação de metrô dentro de estádio de futebol, o que seria não só uma “babaquice”, mas um desperdício de recursos públicos, pois o povo não vai a estádios todo dia, mas usa metrô todo dia e por certo os locais para construir estações devem ser mais adequados.
Pode-se construir estação de metrô em um hospital, em shoppings e em terminais rodoviários ou de trens porque são locais de grande afluxo diário de pessoas, mas não faz sentido construir dentro de um estádio de futebol. Durante a Copa até seria útil, mas e depois?
O que fica desse episódio é a confirmação de um procedimento da velha mídia que todo mundo conhece, mas que nem todos devem se lembrar. Em 2006, por exemplo, quando foi apreendido o dinheiro dos “aloprados”, aconteceu a mesma coisa – repórteres e policiais armaram um cenário com o dinheiro apreendido que fez seu volume físico parecer maior.
Infelizmente, mais uma vez se confirma que a luta para agradar as chefias leva jovens repórteres a praticar toda sorte de trapaças com a notícia. E que esta é “tratada” para dizer aquilo que os patrões desses jovens querem que seja dito, obviamente em prejuízo do direito do público a receber fatos em vez de versões e interpretações subjetivas como essa de que trata o post.
*
Palestra no 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais

Lula, Alexandre Padilha e Fernando Haddad com blogueiros em Sã Paulo (16/05/2014)

Foi um grande prazer palestrar ao lado dos blogueiros Iroel Sánchez, de Cuba, e de Osvaldo León, do Equador. Abaixo, resumo da palestra “A mídia na América Latina”, que proferi na sexta-feira para centenas de blogueiros e ativistas digitais no hotel Braston, em São Paulo.

“Boa tarde, blogueiros e ativistas digitais.
Quiero saludar a los compañeros de Cuba, Iroel Sánchez, y de Ecuador, Osvaldo León. Es muy placentero tenerlos en nuestro país y saber de sus experiencias y de la realidad sobre los medios de otras partes de nuestra Latino América.
Cabe-me a missão de compor o lado brasileiro desta mesa amparado pelas viagens de negócios que faço pela América Latina há cerca de duas décadas e relatar o que vi em relação à mídia da região.
Seja nos periódicos argentinos Clarín ou La Nación, seja nos bolivianos El Deber ou El Mundo, seja nos chilenos El Mercúrio ou La Tercera, seja nos brasileiros Folha de São Paulo ou Globo, seja nos equatorianos Últimas Notícias ou El Comercio, seja nos venezuelanos El Universal ou El Nacional, seja nas grandes redes de TV, enfim, em qualquer braço dos grandes impérios de mídia que há muito dominaram a comunicação nesta parte do mundo o que se vê é sempre a mesma coisa.
Da Argentina ao Brasil, passando por Uruguai e Paraguai, os grupos de mídia (quase sempre dominados por uma família) ajudaram a implantar ditaduras ferozes que cometeram toda sorte de crimes que se possa imaginar. Mas não é só.
A mídia latino-americana, sob o guarda-chuva da infame Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), atua em conjunto, como em uma sinfonia, para defender a desigualdade social que mantém quase meio bilhão de pessoas vivendo em sociedades que priorizam os interesses de poucos em prejuízo da grande maioria.
Um exemplo dessa sinfonia macabra que reúne a mídia latino-americana sob um mesmo guarda-chuva antidemocrático foi visto em 2007. Naquele ano, uma manifestação reuniu 40 lideranças dos movimentos sociais em São Paulo para protestar contra a presença em nosso país do dono da RCTV venezuelana, Marcel Granier.
O magnata dono do veículo que mais atuou no golpe de Estado tentado pela direita na Venezuela em 2002 foi convidado pelos donos da mídia brasileira. Granier palestrou no Hotel Meliá Mofarrej em um “ato em defesa da liberdade de imprensa”, organizado por diversas entidades dos magnatas da comunicação. Impedidos “democraticamente” de entrar no recinto, os manifestantes protestaram no hall e em frente ao hotel.
Pior do que isso é olhar, por exemplo, para um império de mídia como o Grupo de Diários América, dono de outros jornais de países sul-americanos como El Nacional, da Venezuela, El Tiempo, da Colômbia, El Mercúrio, do Chile, e La Nación, da Argentina.
É uma afronta à democracia desses países que um mesmo grupo estrangeiro controle veículos de comunicação em vários países simultaneamente.
Em certo aspecto, aliás, o que posso testemunhar do que vi ao longo de dezenas de viagens a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Paraguai, Uruguai e Venezuela é que nesses países a mídia ainda é pior, mais desonesta, mais antidemocrática do que a que temos hoje no Brasil, talvez por em vários desses países estar encontrando resistência maior do que a que encontra em nosso país.
Nesse aspecto, sobressai a Venezuela. Se, no Brasil, achamos que a mídia é ruim, antidemocrática, capaz de toda sorte de manipulações, os grupos de mídia venezuelanos são controlados por criminosos. Ainda são. Bandidos que com suas ações nefastas causaram incontáveis mortes estimulando manifestações que sabiam no que terminariam.
Há muito material disponível na internet sobre as atrocidades da mídia Venezuelana e não só em 2002, quando se viu mais um golpe de Estado midiático na América Latina. Com a diferença de que foi no século XXI. Mas, para encerrar minha participação neste debate, sugiro a quem não conhece que assista ao documentário Puente Llaguno.
Trata-se de uma ponte em Caracas em que ocorreu um massacre de cidadãos que tentavam impedir a tentativa de golpe de Estado de 2002 na Venezuela. Apesar de os manifestantes pró Hugo Chávez terem sido cercados e fuzilados naquela ponte por franco-atiradores, com ciência de veículos de comunicação como a RCTV, a mídia, enquanto o golpe se desenrolava, invertia os fatos.
A mídia latino-americana ainda é um Kraken, espécie de polvo gigante que ameaçava navios, segundo o folclore nórdico. Seus tentáculos espalham-se por toda região, controlados por uma só cabeça, uma cabeça ianque, com interesses ianques, com métodos ianques. Nosso papel, aqui, é cortar os tentáculos dessa monstruosidade.
Muito obrigado pela atenção”
(Publicado originalmente no blog da cidadania)

sábado, 17 de maio de 2014

IBOPE sem surpresas? Com 43% Dilma venceria no primeiro turno.


Hoje foi divulgada mais uma pesquisa de intenções de voto, desta vez realizada pelo Instituto IBOPE. Trata-se da primeira pesquisa realizada pelo Instituto em 2014. Não há surpresas em relação à pesquisa realizada em novembro de 2013, ou seja, a presidente Dilma Rousseff(PT) apresenta uma folgada dianteira em relação aos demais concorrentes, Aécio Neves(PSDB) e Eduardo Campos(PSB). Outro dia, em conversa mantida no blog, comentávamos sobre o timing de cada candidato. Apesar de não gostar de povo, o que mantém Aécio Neves no jogo - em algumas pesquisas até mesmo levantando a possibilidade de um segundo turno -, certamente, é o apoio de fortes setores conservadores que se contrapõem ao Governo de coalização petista. Entram aqui setores da mídia, grande empresariado etc. O PSDB perdeu o timing e nunca mais o encontrou. Representa um passado que o eleitor comum não deseja que volte. Também não é confiável para realizar as mudanças de rumo que o eleitorado aponta como necessárias. Eduardo Campos, como já afirmamos em outra oportunidade - ocasião em que um coelho lançou suas garras contra mim - meteu-se numa enrascada. Não consegue construir um discurso convincente e, quanto mais ataca Dilma, apenas facilita a vida de Aécio na eventualidade de um segundo turno. Hoje já se pergunta para onde deve pender o seu pêndulo, considerando-se essa possibilidade. Hoje nos parece ser seu grande objetivo, ou seja, vender o seu passe em troca de uma possível participação no governo eleito. Nos estritos limites do jogo da competição eleitoral, caso essa situação se materialize até outubro, apesar das animosidades, o vitelo está sendo cevado no Planalto para receber o "Galeguinho" pródigo. Dilma enfrenta algumas dificuldades pontuais - sobretudo no quesito econômico - mas o eleitorado deposita nela uma confiança e uma credibilidade que os outros dois candidatos não possuem. Se as eleições fossem hoje, venceria no primeiro turno com 43% dos votos. Aécio ficaria com 15% e Eduardo Campos 7%.

Nota do Editor. Na realidade, trata-se de uma pesquisa de março de 2014. Peço perdão pelo equívoco.

Autor de reportagem de Veja contra Gushiken é contratado da Secom

publicado em 13 de maio de 2014 às 12:35


por Conceição Lemes
Em 13 de setembro de 2013, o Partido dos Trabalhadores perdeu uma de suas figuras históricas e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um amigo querido e companheiro de mais de 30 anos de luta sindical e política: Luiz Gushiken.
Ele participou da fundação do PT, foi seu presidente, três vezes deputado federal e ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-PR) até julho de 2005.
Naquele momento, em meio às denúncias do mensalão, deixou o cargo.
Mas já no começo do julgamento da  Ação Penal 470 (AP 470), o próprio Ministério Público Federal (MPF) pediu a exclusão do nome de Gushiken do processo. A defesa do ex-ministro, no entanto, pediu para que o nome de Gushiken fosse mantido, para que sua inocência fosse provada e publicada pela Justiça.
A matéria que começou a assassinar a reputação de Gushiken e a derrubá-lo da Secom foi publicada emVeja, edição de 6 de julho de 2005: Ação entre amigos, do repórter Ronaldo França (na íntegra ao final).


Quase nove anos já se passaram.
Quem diria o mesmo Ronaldo, cuja reportagem deu início à queda de Gushiken, está trabalhando desde o final de fevereiro na própria Secom.
No expediente  da Secretaria, aparece como secretário adjunto de imprensa. Em outra área do portal, é apresentado como assessor especial da Secretaria Executiva.

Segundo informação da Secom ao Viomundo, ele foi contratado para cuidar, até julho deste ano, das ações do governo para a Copa do Mundo.
A Copa do Mundo, todos nós sabemos, é uma das prioridades do governo da presidenta Dilma Rousseff.
Daí uma pergunta óbvia: como alguém que disse que o PT “sucumbiu à praga do patrimonialismo que sufoca o Estado brasileiro” pode agora defender um governo do PT  justamente no local que  ajudou a detonar?
Independentemente da duração do trabalho e da qualificação do jornalista, essa contratação é estranha.
É mais do que um deboche. É um desrespeito à memória de Gushiken. É  tapa na cara da família. É bola nas costas da militância, que sua a camisa e amassa barro. E um emblema de como Dilma, a direção do  PT e o governo lidam com a Comunicação e estão reféns da mídia tradicional.
*****
Ação entre amigos
Ronaldo França
No fim de 2002, no momento em que se preparava para assumir um cargo no ministério do recém-eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o hoje ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, fez uma transição particular.
Vendeu sua participação na empresa Gushiken e Associados, especializada em consultoria previdenciária, a dois antigos colaboradores, Wanderley José de Freitas e Augusto Tadeu Ferrari. A companhia mudou de nome e passou a se chamar Globalprev Consultores Associados.
A mudança foi concretizada em 6 de dezembro de 2002, conforme contrato arquivado na Junta Comercial de São Paulo. Era a reta final da troca de governo. A partir de então, a Globalprev começou a viver uma história de sucesso sem igual em sua história. Já em 2003, passou a fechar contratos com fundos de pensão de estatais, desbancando alguns dos mais tradicionais concorrentes do mercado.
A empresa aportou na Previ, na Petros, na Portus, na Capaf e no Cifrão. São, respectivamente, os fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, da Petrobras, da extinta Portobrás, do Banco da Amazônia e da Casa da Moeda. Juntos, detêm um patrimônio de 96 bilhões de reais.
Os contratos da Globalprev chamam atenção porque os fundos de pensão são justamente uma área sob forte influência do ministro Luiz Gushiken. Formado em administração de empresas, foi um deputado federal atuante no setor.
Participou ativamente da CPI sobre o assunto e de todas as discussões sobre regulamentação dessa área nos últimos anos. Era, por assim dizer, o especialista do PT no assunto. Formado o governo, fez as indicações para os postos-chave. Esteve por trás da nomeação de alguns presidentes de fundos, como Wagner Pinheiro, na Petros, e Sérgio Rosa, na Previ.
Gushiken também exercitou sua influência para nomear o titular da Secretaria de Previdência Complementar, do Ministério da Previdência Social, Adacir Reis, que foi assessor de seu gabinete no Congresso.
Apesar de sua influência no setor, quando ainda estava à frente da empresa, Gushiken não tinha tantos clientes quanto seus sucessores conquistaram.
Os fundos de pensão para os quais trabalhava se limitavam ao do Banrisul, o banco estadual do Rio Grande do Sul, onde, por sinal, o governo era petista, e ao da Coelba, companhia elétrica da Bahia. Seu mercado estava principalmente nos sindicatos e em prefeituras, por todo o Brasil. Seu carro-chefe eram cursos com o objetivo de explicar aos trabalhadores a regulamentação e a estrutura dos fundos.
A virada se deu no começo de 2003. A empresa foi contratada pela Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, o segundo maior do país, com patrimônio de 25 bilhões de reais. O contrato de consultoria atuarial (investigação e aconselhamento em problemas relacionados com o cálculo do valor dos seguros) vigorou por dois anos e foi renovado neste ano, sem concorrência, o que é permitido pelo estatuto da Petros. Além desse, a Globalprev conquistou outros dois negócios na Petros.
Um deles está sendo argüido pelo Conselho Fiscal do fundo. Trata-se do contrato no qual a Globalprev figura como subcontratada da Trevisan Associados. O processo de contratação está sendo questionado porque, das três empresas que se qualificaram para concorrer, apenas uma, a Trevisan, aceitou realizar todos os cinco serviços solicitados.
As outras duas ou não se interessaram por todos os serviços requeridos, ou não apresentaram proposta. Assim que venceu a concorrência, a Trevisan subcontratou a Globalprev. Há quase dois anos o Conselho Fiscal solicita os documentos para analisar o processo, o que só deverá ocorrer agora, neste mês.
Não foi só. Em parceria com as empresas PricewaterhouseCoopers e Kiman Solutions, a Globalprev foi contratada pela Petros para gestão do fundo de pensão dos funcionários da Sanasa, a companhia de saneamento do município de Campinas.
Há indícios de favorecimento no ofício em que o secretário-geral da Petros, Newton Carneiro da Cunha, indicado por Gushiken, propõe a contratação do grupo de empresas integrado pela Globalprev. Ele defende a contratação sem tomada de preços em virtude de “notória especialização” da parceria formada pelas três companhias. “Notória especialização”?
Essa é a primeira vez que a Globalprev participará da gestão de um plano como esses, segundo afirmou a VEJA o sócio Tadeu Ferrari. “É um projeto piloto, coisa pequena, mas que pode se transformar num bom produto para nós”, diz.
Outras empresas do ramo, inclusive multinacionais, já prestam esse tipo de serviço, mas a Globalprev estará entrando agora no ramo. É difícil entender que uma companhia que nunca executou uma tarefa específica como gerir um fundo de pensão possa ter notória especialização.
Na Previ, o maior fundo de pensão do país, com patrimônio de 70 bilhões de reais, a empresa que foi de Gushiken ganhou terreno. Passou a ministrar cursos sobre o funcionamento de fundos de pensão aos funcionários.
Na semana passada, descobriu-se que, após a mudança de governo, a publicidade estatal nas revistas editadas pela firma do cunhado de Gushiken, Luís Leonel, mais que dobrou.
O ministro afirma que nada tem a ver com o assunto. “Nunca recebi ou dei encaminhamento a nenhuma solicitação envolvendo os interesses da Editora Ponto de Vista”, esclareceu, em nota à imprensa. Gushiken disse também que jamais intercedeu junto aos fundos de pensão em favor da Globalprev ou de seus sócios.
Pode ser que o crescimento das empresas de alguma forma ligadas ao ministro seja fruto da proximidade natural de seus parentes ou antigos colaboradores com os homens que hoje ocupam postos com poder de decisão sobre publicidade ou comandam grandes fundos de pensão.
Afinal, eram próximos antes e freqüentavam os mesmos ambientes. Além disso, é praxe no país que os grupos políticos que chegam ao poder sejam generosos com seus aliados, incluindo aí amigos e parentes. Angustiante é a constatação de que o PT, depois de passar anos na oposição combatendo essa prática, sucumbiu à praga do patrimonialismo que sufoca o Estado brasileiro.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

João Lyra Neto: A estrela sobe.


Machado de Assis usa uma expressão muito engraçada num dos seus livros, salvo engano - como era costume do bruxo - ao citar um outro autor de sua cabeceira.: "Aos vencedores, as batatas"". Não se pode dizer que o atual governador, João Lyra Neto, seja um vencedor, dentro dos limites impostos pela realpolitik. Foi literalmente "fritado" nos estertores da cozinha do Palácio do Campo das Princesas. Teve seu nome preterido em favor do ex-secretário da Fazenda Estadual, Paulo Câmara. Faltou até mesmo diplomacia na condução do processo. Lyra foi apenas comunicado que não seria o escolhido. Como era natural, houve um  estranhamento, dizem, superado em razão das circunstâncias. Assumiu o Governo com um monte de bombas prestes a explodir em seu colo. A primeira delas, a greve da Polícia Militar, ele desarmou muito bem. Dialogou, tomou medidas rápidas, resolveu o problema. Só leio elogios sobre a sua postura durante o período. Com trânsito fácil junto ao Palácio do Planalto, seu pedido de socorro foi prontamente atendido pela presidente Dilma Rousseff. Não sabemos o que virá pela frente, mas algumas categorias de servidores e da iniciativa privada encontram-se em equilíbrio instável, com um alto grau de insatisfação. Entre eles, rodoviários, policiais civis, professores, profissionais de saúde, entre outros. Há alguns setores do PSB que cogitam a possibilidade de substituição do nome de Paulo Câmara, caso ele não se credencie como um candidato competitivo. Neste caso, sobe a estrela do atual governador João Lyra Neto. Traquejo, caneta, capilaridade, bom trânsito. Credenciais não lhes faltam.

Zygmunt Bauman: de Londres para Abreu e Lima.




Ainda muitas inquietações pelas redes sociais sobre os episódios de saques e arrombamentos de lojas que ocorreram na cidade de Abreu e Lima, durante a greve da Polícia Militar. Escrevemos muito sobre o assunto, pois temos algumas ligações afetivas com o município. Até recentemente, a cidade era apenas um distrito de Paulista e conhecida como maricota, penso que em razão das muitas casas de sem-vergonhices existentes no local. Que Deus nos perdoe, Liêdo Maranhão. Feliz ou infelizmente, a cidade já se livrou do pecado da carne. Hoje é um dos maiores redutos evangélicos do Brasil. Para ser mais preciso, a maior densidade de população evangélica da América Latina. Pode ter se livrado da ira divina, mas permanece submetida ao julgo dos homens públicos negligentes e corruptos. Naquele dia fatídico, logo cedinho, a população da cidade foi acordada com uma lavagem de roupas sujas entre suas lideranças políticas. Uma birra entre o ex-prefeito e o atual, onde não faltaram acusações de malversação de recursos públicos.No dia anterior, mais um atropelamento com morte num de seus distritos, a Matinha, fato que ocorre com certa frequência. Trata-se de um trecho bastante perigoso. O Município é cortado ao meio por uma rodovia federal. Há engarrafamentos quilométricos no local. Certamente algumas medidas precisam ser tomadas pela esfera pública para preservar a integridade das pessoas que por ali transitam. Antes que condenem a população - como fez hoje uma rede de televisão, tratando-os como bandidos, de forma generalizada - quero afirmar que a sua população é constituída de gente ordeira e trabalhadora. Um dos aspectos mais importantes dos saques ali ocorridos é que podemos tirar algumas lições fundamentais para comerçarmos a entender sua complexidade, quiça, antecipando-se a outros episódios em gestação. Em termos de arrombamentos e saques, já foi possível observar, por exemplo, uma possível generalização para os municípios vizinhos e há relatos até mesmo em cidades do interior do Estado. A mudança de "agenda pública" já foi reivindicada pela população desde as manifestações de Junho de 2013. O poder público, em todos os níveis, solenemente, ignorou-as. Alguém já teve a curiosidade de checar a quantas andam os indicadores sociais de educação, saúde, habitação de nossa antiga maricota? Os governantes estão brincando com fogo. Há, na cidade, alguns indicadores que podem contribuir para essas situações de convulsão social. Há um número expressivo de pessoas morando em condições sub-humanas; é grande o comércio de entorpecentes na cidade; Assim como Goiana, ali também é registrada uma presença grande da exploração de sexual de crianças e adolescentes; apesar do forte comércio varejista e da presença de empresas de porte, é alto o índice de desempregados, portanto, sem acesso ao consumo. Em 2011 ocorreram saques e depredações em Londres. Tivemos a curiosidade de reler um texto do festejado filósofo Zygmunt Bauman sobre o assunto. Lembrei também das aulas da professora Danielle Perin Rocha Pitta, antropóloga, quando ela favava sobre a questão da  felicidade em nossa sociedade ocidental. Numa sociedade centrada na supervalorização do "ter", possivelmente as pessoas mais felizes, em tese, são aquelas que têm acesso aos bens materiais. Bauman classificou o movimento de Londres, na Inglaterra, como um "motim dos consumidores excluídos". Se acompanharmos sua linha de raciocínio, suas observações estabelecem um vínculo quase orgânico entre Londres e Abreu e Lima, nossa querida maricota. Se não, vejamos. Impõe-se como necessário uma mudança cultural, acompanhada de reformas sociais. Ao estabelecermos o vínculo entre riqueza e felicidade, esgarça-se o espírito comunitário, sobresaindo-se a inveja, a arrogância e outros adjetivos do gênero. Faz muito tempo que se deixou de comprar carro apenas para se locomover. Na realidade, trata-se de um símbolo de status e, portanto, de diferenciação. Em Abreu e Lima existe uma abismo de desigualdades sociais. O que ocorreu na cidade - mesmo considerando-se a participação de gente de bem e de crianças - foi uma explosão de frustrações acumuladas. Uma anomia proporcionada pela sociedade de consumo, aliada à ausência do poder público em mudar a agenda de suas prioridades - corrompidas e direcionadas para grupelhos - para atender às demandas legítimas da população. O brasileiro comum é um povo honesto. Não duvido nada que a população da cidade vá atender aos apelos de Dona Irene e se dirigir às Lojas da Eletroshopping para apanharem os seus carnês e efetuarem os pagamentos das prestações.

Nota do Editor: Conforme antevemos na postagem, logo nas primeiras horas da manhã de hoje, dia 16, a população da cidade, sem qualquer coação, começou a devolver os produtos saqueados durante o dia anterior.

Um raio xis dos grupos que se manifestam contra a Copa

publicado em 16 de maio de 2014 às 10:48

Ato contra uma Copa que recusa o povo
por Beatriz Macruz e Caio Castor, especial para o Viomundo
Com um nome/sigla que fazia referência às mobilizações de indignados que começaram na Espanha 15 de maio de 2011, o ato “15M – Dia Internacional de Lutas Contra a Copa”, articulado pelo Comitê Popular da Copa (articulação horizontal e apartidária de movimentos sociais, organizações, coletivos e indivíduos) teve início, em São Paulo, às 17 horas da tarde de ontem, com a saída planejada para às 18 horas, da praça do Ciclista, na Av. Paulista, em direção ao Estádio do Pacaembu. Nas outras onze cidades brasileiras eleitas para sediar jogos da Copa, os coletivos locais ligados ao Comitê também realizaram diversas mobilizações.
“A gente tem um tipo de organização que não podemos chamar de trabalho de base, preferimos dizer que é uma construção coletiva”, define Vanessa Santos, integrante do Comitê em SP, ao discorrer sobre a articulação entre os inúmeros grupos que assinam o manifesto do 15M – “Copa sem povo: tô na rua de novo”. “Não sou eu quem tem que falar sobre moradia” exemplifica, “nós fazemos uma construção junto com os movimentos de moradia, por exemplo”.
Pluralidade à esquerda
De fato, durante a concentração para o ato, era possível observar bandeiras e representantes de diversos movimentos de moradia, como o Movimento de Moradia na Região do Centro e a União de Movimentos de Moradia de SP; bem como a Escola de Samba Unidos da Lona Preta (do MST); e um punhado de organizações estudantis, tais como a ANEL, o Coletivo RUA, e muitos Centros Acadêmicos. Além disso, diversos indivíduos e coletivos autônomos, entre eles o Movimento Passe Livre e a Fanfarra do MAL.
Até mesmo os organizadores dos protestos que ficaram conhecidos como “Se não tiver direitos, não vai ter Copa” decidiram somar na mobilização do 15M. Para Rafael Padjal, que participou da construção destes atos, e também é membro do coletivo Território Livre, as mobilizações anteriores tinham, em sua maioria, pautas muito semelhantes a esta articulada pelo Comitê. “O Território Livre é o único que destoa, porque somos os únicos que pedimos o cancelamento da Copa — com a perspectiva de que seria uma demonstração de força do povo, e uma derrota para o governo”.
Rafael explica que a maioria das pautas defendidas pela frente “Não vai ter Copa” são vinculadas a direitos, como moradia, saúde, educação. “Essencialmente todos os grupos estão discutindo a mesma coisa, as diferenças são pequenas. O que separou estas duas frentes [do “Não vai ter Copa” e do Comitê] foi a vontade de ir para a rua antes, ou não; de acompanhar a juventude radicalizada que não saiu das ruas desde junho passado”, esclarece.
Para o jornalista e membro do coletivo Desentorpecendo a Razão, Pedro Nogueira, as diferenças são mais profundas: “o Comitê começa fazendo a pergunta certa: Copa para quem? Porque, na verdade, já não teve Copa, já vai ser uma Copa restrita, que não existe para a grande maioria dos brasileiros. O Comitê está junto dessas pessoas, dos removidos, junto com aqueles que estão sofrendo as maiores atrocidades por conta da Copa, e por isso conseguiu dialogar com muitos coletivos e movimentos autônomos, em uma demonstração de força do movimento popular”.
Recusa
Enquanto a noite caía e a concentração do ato atingiu seu ápice, com inúmeros grupos, palavras de ordem e baterias, parecia mesmo que a tônica e a força do 15M de fato eram a pluralidade de pautas e propostas poíticas – que se revelaram também extremamente populares; sempre à esquerda.
Neste momento, o filósofo Vladimir Safatle, que acompanhava tudo junto de grupos do PSOL (partido ao qual se filiou em setembro de 2013), comentou que a recusa da população à Copa é inacreditável: “a gente está há um mês da Copa e você não vê casa pintada, bandeira, essas coisas que você sempre via em todas as Copas, e esse ano a Copa é no Brasil, e você não vê. O povo brasileiro demonstrou uma consciência dos seus interesses absolutamente admirável.”
20 minutos
Já eram 19 horas quando o ato virou a esquina e começou a descer a Av. da Consolação e parou o tráfego desse lado da via, tocando e cantando animadamente sua recusa, contando com aproximadamente 7.000 pessoas, segundo os organizadores – ou 1.200, segundo a Polícia Militar de SP.
Menos de vinte minutos depois, três quadras abaixo pela Consolação, estouraram as primeiras bombas. A manifestação caminhava devagar, sem nem tempo de ser “violenta” ou “pacífica”, quando a Polícia tentou conter seu andamento, cercando-a pelas laterais, o que desencadeou um tumulto entre policiais e alguns manifestantes, seguido por forte repressão e correria.
Ao som das hélices de helicóptero, sob a fumaça das bombas de gases lacrimogênio e pimenta, os manifestantes tentaram retomar o ato, caminhando até a quadra seguinte, porém a repressão seguiu forte, provocando a dispersão quase completa do ato. Um grupo maior se deslocou para a Rua Augusta, e tentou subir de volta até a Paulista, onde foram recebidos por mais viaturas e balas de borracha. Um grupo menor tentou chegar até a Av. Pacaembu, seguindo o trajeto previsto originalmente, mas se dispersou no caminho. Grupos menores caminhavam a esmo na região do bairro da Bela Vista e da Praça Roosevelt, seguidos de perto por viaturas policiais. A Polícia MIlitar não informou o número de agentes participantes da ação.
Ao longe, ainda era possível ouvir o grito de ordem “não vai ter copa”. Enquanto isso, o Comitê Popular da Copa contabilizou ao menos 5 feridos por conta da repressão. Sete pessoas foram detidas para averiguação, ainda antes de o ato começar, e liberadas ao longo da noite. Em pouco tempo, já não havia mais nem sinal das viaturas e batalhões que tomaram as ruas. As pautas e a recusa, todavia, seguem as mesmas – assim como a sistemática falta de disposição ao diálogo por parte do Estado.
Ou ainda, nas palavras de Safatle, vinte minutos mais cedo: “Há um esgotamento da política, que se manifesta em várias coisas; quando a sociedade não consegue acreditar que o futuro vai ser melhor do que o presente, ela entra em um processo brutal de recusa, e a Copa apareceu como um sintoma muito forte deste processo. É preciso lembrar que desde 2011 estamos numa era de revolta, que não para mais. Essa pressão popular é fundamental, porque há uma tarefa atual: a tarefa de ultrapassarmos a democracia parlamentar, em direção à uma democracia real e direta. Como isso vai ser feito? É uma história que só começa a ser contada agora.”

(Publicado originalmente no site Viomundo)