pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 24 de março de 2015

MinC reafirma compromisso com mestres e griôs de tradição oral na Paraíba

  

23.3.2015 - 10:54  

 

 
Na Paraíba, rodada de encontros com gestores públicos, redes, movimentos culturais  e representantes da sociedade civil ligados à área cultural. (Foto: Escola Viva Olho do Tempo/Thiago Nozi)
 
A Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC)  esteve na Paraíba, na sexta-feira (20) e no sábado (21), para mais uma rodada de encontros com gestores públicos, redes, movimentos culturais  e outros representantes da sociedade civil ligados à área cultural.
 
Após percorrer oito cidades em pouco mais de dois meses de gestão, a SCDC participou, em João Pessoa, de reuniões com a Secretaria Estadual de Cultura, a Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e a Representação Regional Nordeste do MinC. Os representantes da Secretaria também estiveram presentes no Encontro Nacional de Planejamento da Rede Ação Griô.
 
Na sexta-feira, a secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural, Ivana Bentes, pôde conhecer diversos projetos da Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, dentre eles o do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional da Paraíba, que envolve 223 municípios, com ações voltadas para a valorização, a preservação e o fomento das culturas populares. O encontro contou com a presença do secretário de cultura da Paraíba, Lau Siqueira, e da gerente de Arte Popular e coordenadora do Centro de Referência, Mariah Marques. 
 
O secretário de Cultura da Paraíba destacou a importância da parceria com o MinC. "É muito satisfatório ver o Ministério da Cultura neste movimento de dialogar, escutar e avançar em soluções concretas. Saímos deste encontro confiantes na rearticulação da rede de Pontos de Cultura em nosso estado", afirmou Lau Siqueira.
 
Na reunião, também foram estabelecidas metas para a retomada da Rede de Pontos de Cultura da Paraíba, em uma ação articulada entre as secretarias de Educação e de Cultura. "Os Pontos são essenciais para o desenvolvimento da cultura no Brasil. Mas precisamos enfrentar os problemas vivenciados por eles, para que a rede se mantenha ativa e articulada", destacou a gerente de Identidade Cultural da Secretaria de Cultura da Paraíba e gestora da Rede Estadual de Pontos de Cultura, Mirnah Leite. "A Lei Cultura Viva garantirá uma base legal que respalde os Pontos em relação aos órgãos de controle e que permita que o trabalho flua de maneira mais unificada", avaliou.
 
Ainda na sexta-feira, a equipe da SCDC esteve com o chefe da Representação Regional Nordeste do MinC, Gilson Matias, e com o diretor-executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Maurício Burity. Na pauta, a Rede de Pontos de Cultura de João Pessoa e a criação de um Fórum Permanente de Cultura na cidade. 
 
"Esperamos cada vez mais estreitar essa relação, para que a representação nordeste do MinC possa atuar de forma articulada com a SCDC  em relação aos Pontos de Cultura", afirmou Gilson Matias. "Estamos muito felizes com esta parceria entre a Funjope e o MinC. Seguimos à risca a política cultural estabelecida pelo ministério e estamos implementando o Sistema Municipal de Cultura em João Pessoa. A Rede de Pontos de Cultura engrandece, promove, preserva e registra a cultura do nosso município", destacou Burity.
 
Encontro Nacional de Griôs e Mestres
A Roda de Conversa sobre a Política Nacional Cultura Viva e a Lei de Griôs e Mestres foi outro momento importante da agenda de sexta-feira. O debate girou em torno da regulamentação da Política Nacional de Cultura Viva. No evento, a SCDC reafirmou o compromisso com as políticas defendidas pela Rede Ação Griô para o reconhecimento e a valorização da tradição oral em diálogo com escolas, universidades e Pontos de Cultura.
 
"Existe uma cultura popular contemporânea que está vindo com muita força, fora dos grandes centros. A conexão entre o popular e o contemporâneo, a tradição e a invenção, é algo que vemos com muita força nos Pontos de Cultura, uma das políticas públicas de maior capilaridade no Brasil profundo", destacou Ivana Bentes. 
 
Um documento com as propostas da sociedade e assinado pela Comissão Nacional de Griôs e Mestres foi entregue à SCDC pela mestra Doci, gestora do Ponto de Cultura Escola Viva Olho do Tempo, que sediou a roda de conversa.
 
O Circuito Cultura Viva na Paraíba foi concluído na manhã de sábado, com a participação da 10ª Caminhada de São José, no Vale do Gramame, que neste ano teve como tema O rio Gramame quer viver em águas limpas. "O rio faz parte da cultura local e a responsabilidade de preservá-lo não pode ficar só com as instituições ambientais. A água tem impacto direto na transformação espiritual, religiosa, social e, consequentemente, cultural da comunidade. A SCDC está à disposição para que o diálogo possa envolver outras instituições", ressaltou o diretor da Cidadania e da Diversidade Cultural, Alexandre Santini.
 
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura
c/ informações da Secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural

Tijolinho Real: Voltar para onde mesmo, Luiz Felipe Pondé?

 

 
Outro dia, nos comentários a um artigo publicado por mim no blog de Jamildo Melo, do JC, observei uma coisa curiosa. A tese de que estratos da classe média e a elite não desejavam as concessões que estavam sendo feitas nos últimos anos pelos governos Lula/Dilma ao andar de baixo da pirâmide social foi solenemente rejeitada, apesar de ser um dado apontado em pesquisas sérias, assim como constituir-se - na opinião de alguns analistas - como a principal motivação da rejeição desses estratos ao Governo Dilma Rousseff.  Gosto muito do feedback ao que escrevo, mesmo que tenhamos de suportar, sobretudo aqui na província, muita agressividade. Nem assim perco a esportiva e, não raro, respondo a todos, embora algumas dessas respostas não sejam publicadas. Neste último caso, apenas em resposta ao cidadão que se identificou como Pedro, acabei escrevendo um outro artigo apenas nas respostas. 

As pessoas que nos retrucaram informaram que eram sim favoráveis a uma  sociedade mais justa, que facultasse ao andar de baixo uma educação de qualidade social, acesso a bens, tudo muito cheirozinho. Coisa para se estranhar. Muito curioso isso. O Brasil foi um país construído sob o signo da desigualdade. Erguer muros e demarcar as diferenças sempre esteve nas atitudes de nossas elites. Somos uma sociedade profundamente hierarquizada, durante séculos cindida entre senhores e escravos.Nossa classe média, como enfatiza a filósofa Marilena Chauí, é extremamente preconceituosa. Os casos de racismo e discriminação ocorrem com frequência incomum em nosso país. 

É uma hipocrisia da gota serena. Quando um jornal local mostrou jovens de famílias humildes atolados no lixo no canal do Arruda, o caso teve ampla repercussão nas redes sociais, com famílias de classe média mostrando-se indignadas com aquelas cenas. Como afirmei à época, um discurso muito fácil - e cômodo - para quem, na segunda-feira, em seus carrões, deixam os filhos nos tradicionais colégios da elite recifense, localizados na Avenida Rui Barbosa. Essa gente conta até com seus intelectuais orgânicos, a exemplo do filósofo Luiz Felipe Pondé, que, no último domingo, publicou um artigo polêmico na Folha de São Paulo, onde informa que todas as nossas mazelas atuais podem ser atribuída ao PT, que saiu de onde nunca deveria ter saído, ou seja, das portas da fábrica. O partido, segundo ele, deveria voltar às suas origens.

Esse garoto é meio complicado. Outro dia sugeriu que tinha dificuldades de "pegar mulher" por ser de direita. Achava ele que, ser esquerda, facilitaria enormemente o enlace carnal. As feministas, naturalmente, ficaram uma arara com a expressão "pegar mulher". Este último artigo do filósofo foi duramente criticado pelas redes sociais, com todo tipo de ilação que ele pode suscitar nas entrelinhas, como a volta dos gays ao armário - de onde nunca deveriam ter saído; dos negros à senzala - de onde nunca deveriam ter saído; das mulheres aos aventais das cozinhas - de onde nunca deveriam ter saído etc. 



http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2015/03/17/a-casa-grande-vai-as-ruas-o-que-eles-querem-o-de-sempre/

segunda-feira, 23 de março de 2015

Gilson Caroni Filho: Dilma tem de governar com a agenda que a elegeu

publicado em 20 de março de 2015 às 11:52

Dilma no Tuca 1
Perplexidade e hegemonia
por Gilson Caroni Filho
“O governo está inteiramente aberto ao diálogo e assume como postura central o diálogo com todas as forças sociais. E pouco importa se são forças sociais que apoiam o governo ou são forças sociais contra o governo.” (Ministro José Eduardo Cardozo). Depois de ver a bancada petista aplaudir o ajuste fiscal de Joaquim Levy, gostaria de saber se ouvirá o que pedem as forças sociais que apoiam o governo: defesa da Petrobrás, manutenção da Caixa Econômica Federal 100% pública,não à elevação da taxa de juros e às medidas de ajuste de caráter regressivo e recessivo, e o fim do fator previdenciário no cálculo para aposentadoria, sem elevação da idade
Este primeiro parágrafo pode levar alguns petistas a imaginar que ignoro as mediações políticas e a correlação de forças, enveredando  por uma lógica binária voluntarista, simplória e inconsequente.
Há certa perplexidade de alguns militantes do PT com o novo cenário político. O que estamos presenciando é a primeira ofensiva articulada e organizada da direita desde 1964. Tendo como intelectual orgânico o oligopólio midiático, não podemos subestimá-la com adjetivações fáceis do tipo “coxinha” e ignorar a organicidade do movimento dos nossos inimigos de classe.
O primeiro passo é reconhecer que se trata de uma batalha pela hegemonia, na acepção precisa de Gramsci, e que estamos perdendo feio. São inegáveis os avanços que conseguimos no que diz respeito a programas de inclusão, bem como é indiscutível que não logramos fazer nenhuma reforma estrutural. Muitos dirão que o impedimento é o caráter conservador do Congresso, o que não deixa de ser parcialmente correto, mas a questão central é que deixamos em segundo plano os novos movimentos sociais. Não criamos produção de sentido para nenhum deles. Além da fadiga natural de 12 anos de governo, não temos um discurso que seduza a juventude e outros setores da sociedade.
Não vejo outra saída que não seja o confronto de ideias, a retomada de algumas bandeiras que deixamos pelo caminho, abandonando o tom conciliatório e desfigurante da “governabilidade”, das alianças sem qualquer balizamento programático. Não nos esqueçamos de que foi com uma agenda de esquerda que vencemos uma eleição dada por muitos como perdida. E é com ela que devemos enfrentar o momento atual.
A outra opção é esperar pela conversão ética de parcela majoritária do PMDB, liderada por Eduardo Cunha. Acreditar que a mídia, já sabendo que sofrerá corte de verbas governamentais, se curvará e pedirá desculpas pelo posicionamento claramente golpista que assumiu desde a posse de Lula. Ou que o Congresso precisará de um fato jurídico comprovado para embarcar na aventura do impeachment, ignorando a natureza política daquela casa e o caráter partidarizado do STF. E, claro, orar por uma intervenção divina.
Os que viram as manifestações de sexta, 13/08, deveriam atentar para as palavras de ordem gritadas na Avenida Paulista. O mais importante de tudo foi o recado das centrais e dos movimentos sociais à presidente Dilma: ou governa com a  agenda com a qual se elegeu ou ficará refém do capital e das forças mais retrógradas. Irresponsabilidade política tem consequências de longo prazo.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

Escolha do novo Ministro da Educação será um ponto de inflexão do Governo Dilma Rousseff.






José Luiz Gomes escreve: 



Como se não fossem suficientes os problemas com a condução da política econômica e o travamento na arena política, o Governo Dilma está diante de mais um dilema: a escolha do novo Ministro da Educação. Sob certos aspectos e consoante algumas expectativas, Dilma Rousseff cometeu alguns equívocos com relação a esta pasta e já esgotou sua cota de erros. Insistiu na nomeação de Cid Gomes - que não desejava o cargo - e depois tomou algumas medidas, como o corte de verbas de custeio da pasta, o que começou a comprometer alguns programas, gerando grandes insatisfações entre a confraria de reitores das universidades públicas, até então, um núcleo de apoio ao Governo. Cid caiu depois dos entreveros com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Antes mesmo da tumultuada sessão no Plenário da Casa, ele já havia decidido  entregar o cargo. Não aceitou a determinação do Planalto no sentido de pedir desculpas aos parlamentares. 

Foi uma queda para o alto. Manteve suas posições durante a sessão, verbalizando algumas verdades sobre os membros do Poder Legislativo. Sua fala só foi interrompida depois das recomendações do corte do seu microfone. Seguiu-se uma troca de farpas e as tradicionais ameaças de processos. Nas coxias, comenta-se que foi uma atitude bastante calculada, com o objetivo de alçá-lo, num futuro próximo, a voos nacionais. Embora não houvesse uma expectativa muito positiva sobre sua gestão, é inegável que o representante dos Ferreira Gomes de Sobral encontrou os elementos para uma saída honrosa. Até uma licença para tratamento de saúde foi usada para ganhar tempo.

Sua escolha foi determinada por um arranjo político complicado - e ineficiente, diga-se. Além de "queimar" Dilma Rousseff junto aos setores mais progressistas da sociedade, aqueles que, a rigor, estarão sempre com ela, uma vez que não são orientados pelo fisiologismo. Esta pasta sempre foi estratégica para o PT. Para alguns analistas, as últimas sinalizações e escolhas políticas indicavam que havia deixado de ser. Com a saída de Cid Gomes, Dilma pode retomar, de fato, a coerência do lema : "Brasil, Pátria Educadora" e nomear para a pasta alguém que permita dar continuidade aos avanços que facultaram, por exemplo, um expressivo acesso de jovens do andar de baixo ao ensino superior. 

No outro extremo, pode continuar cedendo às chantagens dos seus achacadores e nomear algum "acochadinho" para a pasta, como já se especula por aí, ligado, imaginem, ao José Serra (PSDB) e Michel Temer(PMDB). Sim, ele tem bom trânsito nessas hostes. Espero que isso não passe de um grande pesadelo. Segundo comenta-se nos bastidores, como as coisas não caminham bem, Lula teria recomendado que ela aproveitasse a oportunidade para uma minirreforma ministerial, mexendo mais um pouco no tabuleiro, já que não teria sido muito feliz nalgumas escolhas. 

Possivelmente, alguns peças estarão sendo mexidas no tabuleiro do xadrez político de Brasília e, sinceramente, não sabemos se podemos chamar isso de minirreforma. Além do imbróglio da escolha do novo ministro da educação - depois de, finalmente, ouvir o ex-presidente Lula, que estava com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato junto ao Planalto neste segundo mandato - Dilma, enfim, amanheceu decidida a reorientar algumas peças chaves do seu staff de articuladores. Articuladores que, aliás, sequer conseguem manter sob o controle do Planalto essa tal de base aliada.Depois dos entusiasmados aplausos de petistas às declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante a sua ouvida pela CPI que investiga os escândalos de corrupção na Petrobras, fica evidente que o corporativismo de alguns petistas já superam sua fidelidade ao Governo Dilma.

Dilma nunca foi muito feliz na articulação política. Além de não gostar do meio de campo da micropolítica, escolheu assessores que também não foram muito bem-sucedidos nessa tarefa, com raros momentos de interregnos durante o seu primeiro governo. Neste segundo mandato, Dilma ainda não teve a menor tranquilidade. Voando solto como um rouxinol no Planalto, o ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante, assumiu, de fato, o papel de articulador político do Governo. Uma de suas estratégias foi apear do Planalto todos os antigos colaboradores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nunca suportou a desfeita. Dizem que pedia sua cabeça a Dilma insistentemente.

Dilma não entregou, mas, a rigor, afastou seu super-ministro do conselho de articulação política, delegando a ele a tarefa de acompanhar os projetos prioritários do Governo. Vaidoso como ele, deve estar uma arara. As peças do tabuleiro político do Planalto passaram a ser mexida ao sabor das vicissitudes políticas enfrentadas, o que indica uma presidente bastante fragilizada, refém das circunstâncias políticas adversas, vítima dos seus achacadores. E isso não é nada bom. 

Embora educação tenha sido tratada pela coalizão petista como uma área estratégica - onde se pode contabilizar avanços significativos nos últimos governos - os arranjos celebrados na escalação do ministério indicavam algo contraditório, a começar pela nomeação de Cid Gomes para aquela pasta. Nem tanto pelo nome me si, mas, sobretudo, pelo que viria depois, com o anúncio de cortes de verbas e os problemas que se sucederam, colocando o slogan de "Brasil: Pátria Educadora" sob judice. 

Os arranjos para a ocupação dos cargos da pasta na gestão(?) Cid Gomes já sinalizavam para um privilegiamento de nomes ligados aos reformadores empresariais da educação. Gente demasiadamente ligada à chamada indústria da educação estavam sendo nomeados para postos-chaves, como o INEP e a Secretaria de Educação Básica, responsável, entre outras coisas, pelo currículo da educação básica. Um deles teria sido orientador de um mestrado profissional da ex-secretária de educação do Governo Cid, no Ceará. Os atores políticos são fundamentais para observamos a tendência de uma gestão.  

É neste particular que observo com muita reservas as especulações em torno do nome de Gabriel Chalita para aquela pasta, como resultados dos novos arranjos políticos celebrados em Brasília. Essa nomeação, certamente, representará um ponto de inflexão do Governo Dilma Rousseff. Aqui, a porca torce rabo. Vamos saber para onde este governo caminha, se no sentido de continuar permitindo as conquistas sociais do andar de baixo ou transformar aquela pasta numa grande orgia de caráter fisiologista, comandada pelo "acochadinho". Sob a influência do PMDB, todos sabem sabem o que pode ocorrer naquele Ministério.

Se confirmada a indicação de Gabriel Chalita para o cargo, certamente Dilma, momentaneamente, pode aplacar a ira dos seus achacadores, principalmente a turma do PMDB. Por outro lado, também é certo que queimará ainda mais seu filme junto aos setores mais progressistas da sociedade brasileira, aqueles que, por enquanto, ainda estão dispostos a ir às ruas para exigir o respeito às regras do jogo democrático. Grande dilema, doutora. 




Hélder Molina Molina: Filósofo da Casa Grande diz que trabalhadores nunca deveriam ter saído das fábricas.




Um artigo publicado pelo "filósofo" Luiz Felipe Pondé, na Folha de S. Paulo (saiba mais aqui), serviu para escancarar a mecânica do pensamento reacionário. "Temos que reconhecer: chegamos ao fim de uma era. O PT vive seu outono. Melhor voltar para o pátio da fábrica onde nasceu e de onde nunca deveria ter saído", disse ele.
O PT, como se sabe, nasceu no calor das greves de metalúrgicos do ABC, em 1980, quando o então operário Luiz Inácio Lula da Silva liderava multidões nos comícios da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo (SP). Chegou ao poder em 2002 e representa a mais bem-sucedida experiência de construção de um partido de massas, na segunda metade do século XX. Desde então, o PT governa um país continental e, hoje, acumula ainda cinco governos estaduais e mais de 700 prefeituras. Segundo Pondé, no entanto, é hora de voltar para o chão de fábrica, de onde o partido nunca deveria ter saído. Afinal, trabalhador tem que obedecer. Operário não pode ser patrão. 

Esse lógica perversa permite que algumas perguntas sejam feitas ao filósofo:
1) será que os negros deveriam voltar para a senzala, de onde nunca deveriam ter saído?


2) será que as mulheres deveriam voltar para a cozinha, de onde nunca deveriam ter saído?
3) será que os gays deveriam voltar para o armário?
4) será que os palestinos deveriam aceitar a opressão imposta por Benjamin Netanyahu?
A ordem social expressa por Pondé é avessa ao conceito de igualdade. Lembra até o pensamento da ex-colunista Danuza Leão, que disse que Paris perdeu a graça depois que ela descobriu que seu porteiro também podia visitar a cidade-luz (relembre aqui o caso).
Aliás, mais uma pergunta: o porteiro de Danuza deveria voltar para a guarita, de onde nunca deveria ter saído?
Esse tipo de discurso, tão ou mais do que o repúdio à corrupção, é o que alimenta a pregação do ódio a um partido político. Como expressou o cientista político André Singer em entrevista publicada neste fim de semana, há um fenômeno a ser estudado no Brasil: a rejeição da elite ao povo brasileiro.

Héder Molina é professor universitário. Em seu perfil do Facebook.

Efeito coxinhas: Crescem as apostas sobre o nome de Gabriel Chalita para a educação. Kassab poderia ir para a articulação política.

Não se constitui novidade para ninguém os problemas enfrentados pelo Governo Dilma Rousseff na articulação política. O caso é tão grave que Dilma não consegue uma coordenação que envolva, tão somente, a fidelidade e o compromisso da sua base aliada. Em seu pronunciamento da na tumultuada sessão da Câmara Federal, o ex-ministro da Educação, Cid Gomes, chegou a lembrar uma máxima engraçada, sugerindo que os infiéis deixassem de achacar o Governo e largassem o osso. Oposição é oposição, situação e situação. A rigor, a articulação política da presidente Dilma Rousseff sempre foi muito ruim, com raríssimos lampejos de lucidez, que proporcionaram raros momentos de tranquilidade à presidente. Dilma não gosta do meio-de-campo da micropolítica e delegou essa tarefa a assessores que também não foram bem-sucedidos. O último a cair é o também ex-ministro da educação, Aloísio Mercadante. Mercadante anda arestado com muita gente do próprio PT, a começar pelo morubixaba Luiz Inácio Lula da Silva, que teria feito gestões junto a Dilma para substitui-lo. Prestigiado e com trânsito livre no Planalto, matreiramente, Aloísio Mercadante tomou algumas medidas maquiavélicas, apeando antigos auxiliares de Lula e tornando-se um dos poucos interlocutores com acesso direto à presidente Dilma. Muito bobinho o menino. Esse escudo estava afundando Dilma na articulação política. Desta vez o problema ainda era mais grave, se considerarmos as dificuldades inerentes em outras áreas, como a economia. Aloísio não perde o cargo, mas fica de fora do conselho político e, portanto, das articulações. Diante das circunstâncias políticas desfavoráveis, finalmente, Dilma parece ter resolvido ouvir Lula, que estava com o prestígio mais baixo de que poleiro de pato neste segundo mandato da presidente. Especula-se que o nome do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, poderia assumir o papel de articulador político do Planalto. Num outro lance curioso deste xadrez político, outra pedra a ser mexida pode ser a de Gabriel Chalita, que pode vir a ser indicado para a pasta da educação. Do ponto de vista das expectativas das forças progressistas, seria um desastre. Do ponto de vista da realpolitik, infelizmente, pode ser um nome com bom trânsito entre os tucanos e conta com o aval do vice-presidente, Michel Temer, que anda meio amuado com o Planalto. Seria uma forma de fazê-lo voltar a comandar a tropa de fisiologistas da legenda, ou, mais precisamente, satisfazer o apetite da legenda, o que poderia significar um momento de trégua.

domingo, 22 de março de 2015

Tijolinho Real: A fase Darcy Gonçalves de Marta Suplicy


Penso que a ex-ministra da Cultura do Governo Dilma Rousseff, Marta Suplicy, já entrou na fase Dercy Gonçalves, aquele momento em que se fala pelos cotovelos. Não seria surpresa, afinal, a cidadã já atingiu 70 anos de idade e, a rigor, sempre foi uma "desbocada" mesmo. Nunca teve papas na língua e, por vezes, comete algumas incontinências, como naquele momento em que comprou uma briga com a comunidade gay após fazer insinuações sobre a vida afetiva do então concorrente à prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab. Perdeu aquelas eleições e alguns pontos preciosos junto à comunidade LGBT. Quem não se lembra, também, do "relaxa e goza", expressão que ficou famosa em todo o país até os dias de hoje. Deixou o ministério da Cultura atirando e, quando foi anunciado o seu sucessor, o sociólogo Juca Ferreira, não economizou "elogios" ao novo titular da pasta. Durante os protestos contra o Governo Dilma, viu ali uma excelente oportunidade para atacar a presidente, o que levou o chargistaRenato Aroeira a retratá-la num "panelaço", numa inspiração, como sempre cheia de talento, do carioca. Dizem que ela anda flertando com os tucanos e estaria de malas prontas para uma possível migração partidária. A rigor, não há mais clima para a sua permanência no PT. Sua nova agremiação partidária deve ser mesmo o PSB. Ontem, durante a festa de seu aniversário de 70 anos, só compareceram os figurões do PSDB e do PSB. Ninguém do PT teria sido convidado, numa demonstração inequívoca dos arranjos políticos que estão em curso. Essa sua vinculação aos tucanos está sendo encarada como uma guinada inadmissível para uma pessoa que sempre militou nas hostes de esquerda. E o pior é que está se unindo a eles para, possivelmente, enfrentar antigos companheiros nas urnas, a exemplo do atual prefeito da cidade, Fernando Haddad, que pode ser candidato ao Governo do Estado. Sejamos francos, a despeito de discordar dessa sua guinada, na realidade, ela nunca perdoou o partido por tê-la apeado da disputa das eleições de 2010, que elegeu Haddad prefeito.

Tijolinho Real: Não é tarefa fácil controlar as ações do aparelho policial.


Não apenas o aparelho de Estado, mas a sociedade através dos canais competentes - precisa ter um controle rígido sobre as ações da polícia. Isso não e muito fácil de ser exercido, haja visto os abusos, a despeito da atuação do Ministério Público e das Corregedorias setoriais. Segurança Pública, como afirmamos em artigo, é um problema de toda a sociedade. Se um elo falha, os bons resultados almejados estarão irremediavelmentecomprometidos. Um bom exemplo são as UPPs instaladas no Rio de Janeiro, onde o Estado calculou - assim como numa guerra - que bastava ocupar militarmente as favelas antes dominadas pelos chefes do tráfico de drogas. Não foram realizados investimentos em obras e políticas públicas estruturadoras que, de fato, demarcassem a presença efetiva do Estado. O resultado e que essas favelas se tornaram um palco de guerra, com violações claras dos direitos humanos. Outro caso são as inexistentes políticas de "ressocialização" dos apenados, abandonados nos cárceres, entregues à própria sorte, sem qualquer assistência do Estado. Faço essas observações para retomar aqui uma discussão que está ocorrendo em São Paulo sobre a atuação da sua polícia de elite, a Rota ( Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). A Rota é a polícia que mais mata no Estado. Está no DNA da Rota matar. Nos parece que, pela fala do atual secretário de segurança pública do Estado, haverá, a partir de agora, um acompanhamento mais rigoroso da atuação dessa tropa, numa tentativa de coibir possíveis excessos. O secretário terá um trabalho duro pela frente. Não é fácil realizar um monitoramento dessas ações. Para que se tenha uma ideia, até recentemente, um ex-secretário da pasta estava sendo grampeado pelos próprios companheiros, que desejavam seu afastamento da pasta. Aqui em Pernambuco, mesmo acompanhado por sua assessoria de imprensa, um ex-secretário, durante uma entrevista, esqueceu que era secretário de segurança e pronunciou-se como analista social. Caiu logo em seguida.
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sábado, 21 de março de 2015

Antonio David rebate o antipetismo de esquerda

publicado em 21 de março de 2015 às 09:23

Lula no abc
por Antônio David, especial para o Viomundo
Se as opiniões minha e de Henrique expressas em artigos têm pouco relevo na conjuntura nacional, que dirá de posts no facebook. De todo modo, tomei a liberdade de seguir adiante na polêmica com Henrique. Se o faço, é porque parto do pressuposto de que nossas posições, em si mesmas desimportantes e talvez pobres, expressam correntes de pensamento que, essas sim, têm importância na conjuntura política brasileira. Vista dessa ângulo, a polêmica talvez seja útil para que a esquerda consiga lidar com dilemas e impasses candentes.
Como em meu primeiro artigo, optei por dividir o raciocínio em tópicos, para facilitar a leitura – sob pena de ter repetido um mesmo assunto em vários tópicos. Em cada tópico, abro com os argumentos de Henrique para, em seguida, expor meu ponto de vista.
1) Alvo
Henrique: “O PT, penso, é o que existe de relevante na esquerda brasileira, por isso ele é, por excelência, o alvo prioritário de qualquer crítica”; “o PT não é apenas ‘uma parte’. Ele é, como já disse, o que há de relevante”; “O PSOL é ainda marginal no cenário político geral – apesar de ter algum destaque episódico no Congresso Nacional”.
Antes de comentar, deixo claro o pressuposto de que eu parto: penso que, se o PT tem sido capaz e apto a cumprir certas tarefas, que são da maior importância (ponto ignorado por Henrique), há outras tarefas que o PT tem sido incapaz de cumprir e que, na minha opinião só podem ser cumpridas por uma esquerda à esquerda do PT (dentro e/ou fora do PT), desde que não seja antipetista, ou seja, não encare o PT como inimigo nem como entrave. Portanto, parto do pressuposto de que é necessário existir uma esquerda forte, grande e influente à esquerda do PT - e, com isso, eu me afasto do fanatismo petista, para o qual o PT é suficiente.
Sendo assim, a questão central que na minha opinião deveríamos enfrentar é: por que não existe uma esquerda relevante à esquerda do PT? por que, afinal, a esquerda à esquerda do PT é tão fraca na sociedade brasileira?
Que o PT seja alvo da crítica, é desejável e necessário. Mas quando o PT se torna, nas palavras de Henrique, o “alvo prioritário” (na verdade, é nítido e notório que Henrique e a corrente de pensamento do qual ele faz parte tornaram o PT o alvo exclusivo), deixa-se de fazer a crítica da esquerda no seu conjunto, na sua totalidade (o que não equivale a uma soma de críticas particularizadas, ou a criticar PT + “oposição de esquerda” + movimentos sociais etc., mas a criticar o conjunto tomando-se os elementos em relação mútua).
Por exemplo: se, como diz Henrique, “o PSOL é ainda marginal”, deveríamos, mais do que constatar o fato, procurar entender as razões disso. Mas Henrique foge dessa questão. Ele se limita a constatar o fato – como se isso fosse suficiente -, matizado pela palavra “ainda”: “se o PSOL é ainda marginal /…/”. Ora, empregar a palavra “ainda” pode ser uma boa maneira de apaziguar a consciência, mas não contribui em nada para tocar na ferida que deve ser tocada. Ao contrário, só mascara aquele que é, insisto, o debate central que deve ser feito. Se a esquerda é marginal, não é porque ainda não teve tempo de tornar-se relevante. As verdadeiras razões devem ser investigadas. Henrique insiste em evitar esse debate.
A recusa de Henrique não surpreende. Ela segue o padrão na esquerda brasileira. Em meu artigo, escrevi:
De minha parte, eu faria as seguintes perguntas: Será que a política e a organização que o PT têm hoje não são exatamente fruto do esforço levado a cabo de fazer “política para os pobres”? Será que o PT poderia ter chegado onde chegou e ter feito o que fez sem exatamente a política e a organização que assumiu? Será que o PT poderia ter o “mérito” que Henrique parece reconhecer e, ao mesmo tempo, ter outros méritos, aqueles que Henrique reclama? Em suma, será que o PT poderia ser o PT da “política para os pobres” e, ao mesmo tempo, o PT tal como Henrique reivindica?
/…/
Se Henrique tivesse enfrentado o impasse que tais perguntas evocam, ele teria sido obrigado a fazer uma crítica totalizante da sociedade brasileira e da esquerda brasileira como um todo. Ele possivelmente seria obrigado a enfrentar questões como: Qual é a natureza e o real tamanho da pobreza no Brasil? Qual é o perfil e quais são as divisões no interior da classe trabalhadora no Brasil? Que tipo de política de massas a sociedade brasileira permite? Quais são as blindagens do Estado brasileiro? Teríamos de recorrer a toda uma tradição de pensamento crítico, infelizmente um tanto marginalizada, como Caio Prado Jr., Florestan Fernandes, Raymundo Faoro.
Essas são as questões de fundo que merecem ser discutidas. No “campo majoritário” do PT, na “esquerda” do PT, na “oposição de esquerda”, cada grupo responderá de uma maneira. (Sob o risco de desagradar gregos e troianos, penso pessoalmente que cada um terá alguma razão em sua resposta). O ponto a ser destacado, porém, é que essas respostas não são motivo de debate, nem entre os grupos, e desconfio que nem mesmo no interior de muitos grupos – nem as respostas, nem as perguntas. Não há reflexão em torno dessas questões. O que há é caricatura de debate, mera demarcação de espaço e reafirmação de posições com vistas a alimentar a coesão interna do grupo, sempre ameaçada pelo fantasma da reflexão.
2) Antipetismo
Henrique: “Quanto a desqualificações sobre um suposto antipetismo da minha parte, acho que Antônio escorrega dos bons argumentos em que vinha se focando para o lugar-comum do ‘nós contra eles’. Demonstra com isso que um certo espectro de seita continua a rondar o petismo, como um pesadelo sobre a cabeça dos vivos, como diria Marx”; “Antipetismo, como utilizado por ele, é apenas uma forma mais demagógica e ao mesmo tempo menos deselegante de associar alguém a posições extremistas, ou seja, ignorantes”.
Não ficou claro, lendo os comentários de Henrique, se ele nega a existência do antipetismo de esquerda (o qual, segundo entendi, não teria realidade, sendo apenas uma “forma demagógica”) ou se ele nega fazer parte dessa corrente de pensamento. Se ele nega a existência do antipetismo de esquerda, ele nega algo assumido pela própria “oposição de esquerda”. Em entrevista ao Roda Viva, Marcelo Freixo (que não é antipetista) declarou: “saí do PT, mas não sou antipetista”. Trata-se da exceção que confirma a regra: pois, que motivo teria Freixo de sentir-se obrigado a declarar não ser antipetista que não o fato de o antipetismo ser a regra na “oposição de esquerda”?
Se Henrique é ou não antipetista, isso tem pouca ou nenhuma importância, assim como tem pouca ou nenhuma importância o fato de eu me localizar no campo petista. O que tem importância é o lugar de onde Henrique fala. O ponto é que a negativa de Henrique em assumir que ele fala de um lugar onde o antipetismo é, no mínimo (e sendo generoso), um assunto mal resolvido, a ponto de o “alvo principal” (na verdade, o alvo exclusivo) da crítica ser o PT, é apenas um sintoma de sua dificuldade em fazer a autocrítica, que ele tanto reclamou em seu artigo.
3) Responsabilidade
Henrique: “Imputar responsabilidade pelo projeto em curso, em seus aspectos positivos e negativos, ao PSOL e outros grupos marginais na conjuntura, é apenas uma fixação de Antônio e uma maneira dele e de outros petistas de expiação de uma culpa cristã que não deveriam ter. Se tudo o que o PT fez foi correto, então não há do que se justificar”.
Na ânsia de buscar “a responsabilidade dos atores”, Henrique parece ter assumido um tipo de pensamento binário, do qual não conseguiu escapar ao responder meu artigo: pois, para ele, se eu não imputo a responsabilidade pelos impasses da atual conjuntura ao PT, logo eu a imputo ao PSOL. Mas Henrique leu apressadamente meu artigo e não entendeu o que eu escrevi. Na verdade, na exata contramão, o que eu disse é que, se há responsabilidade, ela é coletiva e histórica (ou seja, não faz sentido fulanizar a responsabilidade, como Henrique fez em seu artigo e, de maneira ainda mais profunda, na resposta ao meu artigo). Tal responsabilidade só pode ser encontrada olhando-se não para o PT isoladamente, nem para o PSOL isoladamente, nem para nenhum “ator” isoladamente, mas para o conjunto, caso contrário se produzirá não uma crítica, mas uma caricatura.
Para tanto, caso queira deixar de lado as caricaturas e exercer a crítica, Henrique terá de abrir mão da fixação de querer encontrar aqueles que, em sua opinião, devem “se justificar” – como se em processos históricos houvesse culpados. Aliás, não posso deixar de declarar meu estranhamento diante do fato de Henrique citar Marx, pois só quem raciocina à maneira dos teólogos (cristãos ou não) tem como centro de suas preocupações “a responsabilidade dos atores” ou aquilo do qual alguém deve “se justificar”.
4) Projeto petista
Henrique: “Antônio volta à pecha de antipetista várias vezes ao longo de seu texto. Com isso, ele faz exatamente aquilo que criticamos: culpa a ignorância alheia daqueles que ‘não entendem’ que o projeto petista de poder era necessário para, o que ele implicitamente aponta, a redução da pobreza”.
Depreende-se dessa frase que eu teria afirmado que o “projeto petista de poder” seria “necessário”. Eu não disse isso e não penso dessa maneira. Mas, se eu não disse isso e não penso dessa maneira, por que Henrique atribui essas ideias a mim? Aqui novamente, Henrique parece cair num pensamento binário: se você não sustenta que o “projeto petista” não era necessário, logo você sustenta que ele era necessário. Não há outra possibilidade. Não há espaço para reflexão. Ou era, ou não era. Ou é A, ou é B. Se você não está do lado A, então está do lado B.
Afinal, o “projeto petista” era necessário? O que eu disse e insisti em meu artigo (pois este é o ponto central para mim) é que isso é uma questão que deveria ser motivo de reflexão e debate. O que significa dizer que essa pergunta não pode ser respondida com um simples “sim” ou um simples “não”. Responder “sim” ou “não” é a morte do pensamento. Onde Henrique enxerga um “sim” implícito (“o que ele implicitamente aponta”) eu enxergo uma incapacidade de escapar de um esquema binário que reduz o pensamento a mero instrumento de narrativas maniqueistas.
Na contramão dessa atitude, eu penso que (e foi para defender essa tese que eu escrevi o artigo) a esquerda deveria refletir sobre essa questão, pois ela remete a impasses herdados de nosso passado colonial e que persistem no presente. Não são quaisquer impasses, mas impasses estruturais. No entanto, a reflexão em torno dessa questão é sistemática e deliberadamente evitada. Ao invés de debater, há na esquerda uma polarização entre duas respostas: “sim” (fanatismo petista) e “não” (fanatismo antipetista de esquerda).
O que significa “criticar”? Exercer a crítica, no assunto em questão, é exatamente ir buscar as condições nas quais esse “projeto” nasceu: se abordarmos essa questão de maneira crítica, ao invés de responder com um “sim” ou com um “não”, teremos obrigatoriamente de fazer a crítica da sociedade e da esquerda como um todo, o que é algo infinitamente mais complexo do que falar que Zé Dirceu e Genoíno sufocaram a democracia interna no PT (caricatura de crítica). Se eles fizeram o que fizeram (caracterizem como queiram), nada disso explica por que o “projeto petista” surgiu e se estabeleceu. Se explicações como “Zé Dirceu foi autoritário” fossem suficientes, poderíamos jogar o Caio Prado Jr. no lixo (aliás, a esquerda tem feito isso) e a palavra “crítica” não precisaria existir. Temos de buscar as respostas nos impasses históricos da sociedade brasileira. Henrique vai na contramão. Voltarei a isso no tópico seguinte.
Lamentável é que, enquanto eu escrevi um artigo para defender exatamente que devemos refletir sobre essa questão, Henrique atribui a mim uma resposta a essa questão (ou seja, o exato oposto do que eu disse!), e não qualquer resposta, mas um simples e medíocre “sim”, como se eu tivesse dito: “tudo o que o PT fez foi correto”. Mas há males que vêm para bem. Pois o fato de Henrique abordar meu artigo dessa maneira apenas reforça e atesta o que eu disse no próprio artigo: de que na esquerda as questões centrais são sistematicamente evitadas e de que, em seu lugar, há apenas demarcação de posição.
5) Indivíduo e história
Henrique: “Voltando ao tema do dirigismo: tanto Antônio quanto praticamente toda a militância do PT resolveu ‘esquecer’ como José Dirceu, José Genoíno, entre outros, tomaram as rédeas do partido ainda nos anos 90. Como então petista ‘de esquerda’, estava lá quando eles eram alvos privilegiados no debate interno – um dos argumentos é que eles teriam sufocado a democracia interna por um projeto de poder. Hoje, para todas as correntes internas, eles são ‘guerreiros do povo brasileiro’. Comigo não”.
Henrique tem razão: há quem diga que Zé Dirceu é um herói. Henrique parece se colocar entre aqueles que dizem o oposto: que Zé Dirceu é um vilão. (Não surpreende, afinal, Henrique está a procurar aqueles que devem “se justificar”). De minha parte, não penso de Zé Dirceu nem uma coisa, nem outra. Entre o fanatismo petista que atribui a Zé Dirceu a marca de herói, e o fanatismo antipetista que atribui a ele a pecha de vilão, eu prefiro perguntar pelas raízes sociais do PT, do chão histórico sobre o qual o PT nasceu e se tornou o que é.
Aqui talvez resida o núcleo da divergência entre mim e Henrique. Ao abordarmos processos históricos, em geral nós somos muito empiristas e imediatistas. Somos inclinados a explicar um fenômeno histórico da mesma maneira como explicamos um fenômeno prosaico do nosso cotidiano. Se eu jogar um copo no chão, o copo quebrará. Eu terei sido “o responsável”. Nesse caso, eu posso afirmar com certeza que, se eu não tivesse jogado o copo no chão, o copo não teria quebrado. A quem raciocine da mesma maneira diante de fenômenos históricos: se o PT é o que é, é culpa do Zé Dirceu. Ele optou. Ele quis. Ele fez. Se ele tivesse agido de outra maneira, teria sido diferente. Será que podemos raciocinar dessa maneira?
De minha parte, prefiro pensar que, se Zé Dirceu tem suas responsabilidades, elas não determinaram o rumo que o PT tomou – determinaram, sim, episódios, mas não o sentido geral; que o sentido geral é dado pelas condições histórico-estruturais nos quais o PT surgiu, e que os episódios (nos quais os homens têm responsabilidade) só podem ser compreendidos se enquadrados ou situados nos níveis conjuntural e estrutural; que o PT não é expressão da vontade (maldosa e vilã) dessa ou daquela pessoa, mas de uma parte da sociedade brasileira, que se expressaria de qualquer maneira com ou sem Zé Dirceu; de que se Zé Dirceu e seu grupo tornaram-se majoritários e hegemônicos, não foi porque “sufocaram a democracia interna”, mas porque havia base real na sociedade para tanto; que se o indivíduo Zé Dirceu não tivesse existido, outro teria cumprido o papel que ele cumpriu, porque o PT, tal como o conhecemos, é expressão de algo que existe na sociedade e tem força real na sociedade; que, enfim, se Ivan Valente, Luciana Genro e cia tivessem, por meios quaisquer, ganho a direção do PT, hoje o PT não seria o PT tal como o conhecemos, mas provavelmente algo muito próximo do PSOL, pois a política de ambos expressa algo que, na sociedade brasileira, corresponde ao que é o PSOL tal como o conhecemos.
Em suma, prefiro pensar que, a despeito de os homens (e mulheres) fazerem a história, eles e elas não fazem como querem, mas de acordo com as condições que lhe são dadas, e que, em se tratando da macro-história, da longa duração, as condições são tais que limitam o querer humano, de sorte que, enquanto o querer de alguns se realizaria mesmo se eles não tivessem existido (pois outros cumpririam o mesmo papel), o querer de outros não se realiza mesmo quando eles se engajam inteiramente no projeto que têm em vista.
6) Manifestações em curso (2015)
Henrique: “Fale-se sim em impeachment. Impeachment é a maneira como o brasileiro aprendeu a demonstrar insatisfação”; “Movimentação oposicionista sempre existiu”; “Tudo o que está aí sempre existiu”; “Há golpistas no Brasil? Sem dúvida. Desde quando? Desde sempre. Então, o que mudou?”.
“O brasileiro” é como “o cidadão”: uma pluralidade recortada e atravessada por conflitos, tensões e divisões. E não me consta que, no Brasil, haja passeatas pelo impeachment do presidente todos os meses. Nada mudou, exceto este pequeno ponto.
7) Fanatismo
Henrique: “A narrativa messiânica do petismo diz tudo o que precisamos saber, e há doze anos ela vai e volta com mais ou menos intensidade: a mídia, a burguesia, o capital internacional, manipulam a cabeça de nossos ignorantes compatriotas, que se deixam levar por campanhas sórdidas quando, na verdade, eles nada têm do que reclamar”.
É verdade. Concordo. E vou além: tenho dificuldade em saber o que é pior: se a narrativa messiânica do petismo, ou se a narrativa messiânica do antipetismo – que, assim como a primeira e assim como o ponto de vista de Henrique, também “diz tudo o que precisamos saber”. Duas formas de fanatismo que hegemonizam a esquerda brasileira. Ambas igualmente representam o asilo da ignorância.
8) Moral
Henrique: “A insatisfação se alastrou, fruto do agravamento das condições econômicas, de uma campanha eleitoral que mentiu para a população e do intoxicante ambiente político, que ‘a nossa moral e a deles’ não permite vislumbrar. Porque o governo Dilma cometeu erros de gestão, não cortou a corrupção da Petrobras na própria carne e teve que lidar com a gastança e com o ‘neodesenvolvimentismo’ do governo Lula com uma conjuntura muito mais desfavorável (nesse caso, ponto para ela)”.
Ótimo. Deveríamos então discutir: Por que não consegue cortar na carne? Por que o ambiente político é ‘intoxicante”? Por que não permite vislumbrar? É por causa da “moral”? O problema é de ordem “moral”?!
PS. O emprego do termo “gastança” mereceria resposta, mas me abstenho de fazê-la.
9) Autocrítica
“Antônio acredita que, para ter legitimidade, minha análise deveria eliminar qualquer suspeita sobre o passado. Não concordo, mas acho uma cobrança justa, desde que Antônio a aplicasse para todos os seus interlocutores e a si mesmo, e não apenas àqueles que discordam das suas posições. Antônio não apenas fez parte de uma corrente da esquerda do PT e depois do PSOL, como foi um dos seu principais dirigentes”.
Mas foi exatamente isso que eu fiz aberta e publicamente em meu artigo: uma autocrítica. O próprio Henrique reconhece: “estou de acordo com ele quando analisa a saída do PT dele, minha e do grupo ao qual fazíamos parte. Atabalhoada, voluntarista, resultando em um verdadeiro salto no escuro”. Qual é a dúvida? Aliás, me parece contraditório Henrique ter afirmado isso e, ao mesmo tempo, afirmar: “a minha autocrítica e a autocrítica do PSOL, no entanto, não são coisas que convergem”.
PS. Uma correção: nunca fui “um dos principais dirigentes” de corrente alguma.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

Efeito coxinhas: Governo Dilma: Uma rara oportunidade na educação


Como se não fossem suficientes os problemas com a condução da política econômica e o travamento na arena política, o Governo Dilma está diante de mais um dilema: a escolha do novo ministro da Educação. Dilma cometeu alguns equívocos com relação a esta pasta e já esgotou sua cota de erros. Insistiu na nomeação de Cid Gomes - que não desejava o cargo - e depois tomou algumas medidas, como o corte de verbas do orçamento da pasta, o que começou a comprometer alguns programas, gerando grandes insatisfações entre a confraria de reitores das universidades públicas, até então, um núcleo de apoio ao Governo. Cid caiu depois dos entreveros com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Antes mesmo da tumultuada sessão no Plenário da Casa, ele já havia decidido a entregar o cargo. Não aceitou a determinação do Planalto no sentido de pedir desculpas aos parlamentares. 

Sua escolha foi determinada por um arranjo político complicado - e ineficiente - além de "queimar" Dilma Rousseff junto aos setores mas progressistas da sociedade, aqueles que, a rigor, estarão sempre com ela, uma vez que não são orientados pelo fisiologismo. Esta pasta sempre foi estratégica para o PT. Para alguns analistas, as últimas sinalizações e escolhas políticas indicavam que havia deixado de ser. Com a saída de Cid, Dilma pode retomar, de fato, a coerência do lema : "Brasil, Pátria Educadora" e nomear para a pasta alguém que permita da continuidade aos avanços que facultaram, por exemplo, um expressivo acesso de jovens do andar de baixo ao ensino superior. No outro extremo, pode continuar cedendo às chantagens dos seus achacadores e nomear algum "acochadinho" para a pasta, como já se especula por aí, ligado, imaginem, ao José Serra (PSDB). Espero que isso não passe de um pesadelo. Segundo comenta-se nas coxias, como as coisas não caminham bem, Lula teria recomendado que ela aproveitasse a oportunidade para uma reforma ministerial.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Michel Zaidan Filho: Procedimento investigatório à la carte


 
 
 
                                                  O  presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), foi à sessão da CPI da Petrobras para acusar a Procuradoria da República de que a investigação sobre os envolvidos pelo Propinoduto da estatal está sendo feita à la carte, ou seja, com nomes escolhidos a dedo pelo Procurador da República, Rodrigo Janot. Por isso os deputados da base aliado do governo não estariam sendo investigados. Em outras palavras, haveria uma clara partidarização do trabalho investigatório do Ministério Público Federal, tendo em vista criminalizar a oposição à Presidente Dilma. A acusação é tão grave que desmoraliza, inclusive, a própria CPI como instrumento isento de apuração das responsabilidades criminais. A partir de agora, as sessões serão dominadas pelo espírito de corpo daqueles que são contra o governo e dos que são favoráveis a ele. Mais séria, é contudo, a acusação de parcialidade na ação do Ministério Público Federal. Se a suspeita contaminar os órgãos judiciários e policiais da União, não será possível apurar mais nada contra ninguém, de uma forma totalmente insuspeita. Ao que se sabe, estuda-se uma possibilidade de ajuizar-se uma ação de injúria contra o deputado carioca, apesar de sua imunidade parlamentar. É aquela história: quem não deve, não teme. Não existe cidadão acima de qualquer suspeita. Todos são imputáveis, falíveis e apenáveis. Até o papa.
 
                                                   De toda maneira o título desse artigo tem a ver com o silêncio que vinha se mantendo sobre os parlamentares e  políticos de Pernambuco na lista de Rodrigo Janot. As pessoas se perguntavam quando ia aparecer o nome desses parlamentares e o pedido de investigação sobre eles. E aí apareceu. Além dos primeiros nomes constantes na primeira lista, finalmente veio à baila os nomes do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o ex-senador Sérgio Guerra e o atual senador Fernando Bezerra Coelho. Pelo menos a menção aos nomes foi ecumênica, atingindo o PSB, PT, PP e PSDB, para evitar que se acusasse de seletiva a escolha dos nomes.  Segundo os depoimentos colhidos pela polícia federal, o senador Sérgio Guerra (PSDB) teria recebido 10.000.000 para evitar a abertura de uma CPI sobre a PETROBRAS. Maior ainda foi a quantia entregue pelo seu Paulo Roberto Costa ao senador de Petrolina para que ele a repassasse ao ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com o objetivo de financiamento da campanha pela sua reeleição, em 2010. A quantia mencionado foi a bagatela de 20.000.000 de reais! Pelo que estaria sendo aberto um novo procedimento investigatório sobre as ações do senador petrolinense, quando estava a frente do Porto de Suape.
 
                                                    Segundo a jurisprudência criminal, a responsabilidade civil e penal de um determinado cidadão cessa, quando ele morre. É verdade. Mais a investigação sobre o ilícito e seus desdobramentos políticos, bem como os beneficiados - vivos e vivíssimos - podem e devem responder por ele. No caso de Pernambuco, é notório que esses recursos injetaram uma força inaudita no palanque político da situação. Recursos advindos do pagamento de propinas na contratação das obras da refinaria Abreu e Lima, que passou do preço de 2.500.000.000 para 18.000.000.000!. Dinheiro pago pelo senhor Paulo Roberto da Costa, através do senhor Fernando Bezerra Coelho, quando gestor do Porto de Suape, segundo o depoimento do delator, conforme inquérito realizado pela Polícia Federal. Ora, a ser verdade essa delação "premiada", temos de convir que a política de Pernambuco está envolta em brumas suspeitas de financiamento ilegal, desde 2010, pelo menos. Dificilmente, as eleições, as campanhas e os fatos políticos posteriores ficaram imunes ao contágio da contravenção  financeiro-eleitoral. 
 
                                                    Se não for para fazer uma investigação seletiva e partidária sobre o propinoduto da Petrobras, chegou a hora de passar a limpo essa história. Quem deve, que pague ou devolva o dinheiro desviado.0 que não é possível aceitar é a tese de que a morte redime os pecados dos políticos e os que foram beneficiados pelo esquema fiquem aí distribuindo cargos, pensões e prebendas aos familiares, parentes e apaniguados, fazendo pouco da justiça. Ou ainda pensando que o crime compensa para certas camadas sociais no Brasil.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE