pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Michel Zaidan Filho: Impressões de leitura sobre o neopentecostalismo
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domingo, 8 de dezembro de 2019

Michel Zaidan Filho: Impressões de leitura sobre o neopentecostalismo




Li, com muito interesse e acuidade, o artigo de Magali Nascimento Cunha sobre “a hegemonia neopentecostal” no Brasil. As cifras apresentadas por ela são impressionantes e sua influência social, cultural e política considerável. Pergunta ela: o que têm em comum o pastor Waldomiro, o bispo Edir Macedo, seu cunhado R.R. Soares, Silas Malafaia e o casal Hernandez?


Naturalmente, a crença em comum numa espécie de teologia fundamentalista e fundada numa religião da prosperidade que faz os incautos, crédulos e desesperados a se agarrar a uma pregação religiosa de natureza retributiva (ganhas na medida em que tu dás) e   na Lei de Talião (do Velho Testamento). Sem esses componentes, estes ramos populares do Cristianismo reformado não teriam prosperado no Brasil, depois do recuo das pastorais e comunidades eclesiais de base da Igreja católica. Perdeu-se uma Igreja dos oprimidos, dos pobres e humildes, nas periferias miseráveis das grandes cidades. A imensa vala aberta pelas políticas neoliberais em nosso país só deixou como alternativa a pregação desses pastores fundamentalistas e individualistas, inspirados no modelo americano do American Dream”.  

Neste ponto, o livro do bispo da Igreja metodista “Educação Religiosa e Petismo”,  Geoval Jacinto da Silva  parece ser muito esclarecedor sobre o sentido da recepção abastardada e conservadora do  pentecostalismo trazida por missionários norte-americanos ,entre nós. Tal recepção deixou para trás os conteúdos dogmáticos originais e tornou-se um mero canal de “self-made man”, através de uma ética puritana, abstemia e diligente, que coloca toda a responsabilidade das desigualdades sociais nas costas do “crente”, rejeitando a pobreza, a solidariedade e qualquer tipo de crítica social. A cultura ética e individualista desse ramo pentecostal e neopentecostal faz recair sobre os ombros de cada indivíduo a culpa pela sua desgraça, como uma nova espécie de pegado original, e o sentido do apelo religioso é para que trabalhe, trabalhe e acumule bens, sem se preocupar com os outros ou o Estado.  Ser virtuoso é ser rico, próspero e bem sucedido na vida. Ser pecaminoso é ser pobre ou miserável.


Não foi à-toa que os milhões de votos que deram a vitória a Jair Bolsonaro saíram desses círculos cristãos, avessos a qualquer discurso socializante ou mesmo protetivo em relação aos mais pobres. Esta teologia da prosperidade casou à perfeição com a ideologia neoliberalismo desse governo dos ricos, demonizando os partidos de esquerda e toda ética da solidariedade.

Imagine-se o uso instrumental pelo governo de um discurso religioso como esse? Que junta fundamentalismo e individualismo e se aproxima perigosamente do darwinismo social.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia. 




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