pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: fevereiro 2015
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Neopetistas, "lobos domesticados de estômago elástico"


publicado em 25 de fevereiro de 2015 às 22:35
dirceu
Ódio sem fim ao PT
Manchete da Folha de São Paulo no dia 12 de fevereiro de 2015: “Doleiro Afirma que José Dirceu Sabia de Repasses de Desvios da Petrobrás ao PT”. Nenhum acusado por um criminoso sob delação premiada mereceria uma primeira página. Exceto se ele for do PT.
José Dirceu foi condenado e já cumpriu parte de sua pena. Aguarda sua liberdade plena para pedir a revisão criminal de seu julgamento e, eventualmente, apelar a tribunais internacionais. A sua condenação não teve sustentação nos autos, como juristas de diferentes posicionamentos ideológicos declararam.
Obviamente que Dirceu cometeu erros políticos que deveriam, em outras circunstâncias, ser julgados pelo seu partido. Foi ele quem escolheu o caminho de um partido social democrata de massas com alianças amplas para chegar ao poder.
O PT entrou no governo pedindo licença – não precisava. Vinha sustentado pelas ruas, com a identidade dos militantes dos sindicatos, dos movimentos populares e da esquerda. Mas introjetou a ideia de que tinha ganho a partir de uma artimanha publicitária, a Carta ao Povo Brasileiro. Tanto que ao primeiro sinal de golpe em 2005, Lula colocou o boné do MST e quer repetir a dose hoje com o MTST. Mas agora a nova geração de lutadores sociais não levará borrachada por ele.
NEOPETISMO
Os dirigentes neopetistas1 até poderiam ter rifado Dirceu e Genoíno para salvar a própria pele, mas não deveriam ter abandonado o partido às hienas míopes para que a sua rebeldia, história e prontidão fossem transformadas em moranguinhos2 e burocratas da estrutura do Estado.
Depois, o PT conseguiu a proeza de escolher os juízes que colocaram na cadeia dois de seus ex-presidentes: Dirceu e Genoíno. Eles pagaram pela ideologia do republicanismo periférico: aquele que considera neutras instituições forjadas pela classe dominante apenas para seu uso egoísta.
Mas José Dirceu também foi condenado pelo seu “sucesso” político. Arquiteto da chegada do PT ao poder e oriundo da luta armada, os de cima não o perdoariam jamais.
A causa disso é aquilo que Florestan Fernandes denominava a resistência sociopática da burguesia periférica a qualquer mudancismo social. A insistência na fabricação de escândalos como arma política e a tentação recorrente de derrubar o PT de um governo para o qual foi eleito legitimamente demonstram que nem mesmo as mudanças ordeiras produzidas pelo neopetismo foram assimiladas.
A perseguição atinge até mesmo executivos de empresas no exercício de seu “sagrado” direito de financiar todos os partidos em troca de favores públicos. Inconformados em suas celas, perguntam-se: “O que fizemos de errado?”. A resposta é uma só: juntaram-se ao PT. O objetivo da maioria do poder judiciário é secar as fontes de financiamento do partido infligindo o pânico nos doadores de campanha.
CAOS
No entanto, há um preço a se pagar. O PT foi a última chance da burguesia legitimar sua “dominação democrática”. A derrocada “ética” do PT e seu afastamento de práticas socialistas não ensejaram novas formas permanentes de luta na esquerda. Junho ainda não decantou e as derrotas populares de 2014 o comprovaram. O neopetismo, mistura de covardia republicana e repressão aos novíssimos movimentos sociais colaborou com aquelas derrotas.
O PT seguiu o caminho da água, o mais fácil, porque os neopetistas não são leões famintos, mas lobos domesticados de estômago elástico. Mesmo assim insultou com a sua mera presença na festa das figuras medíocres da política nacional, da elite sem berço que vê o Brasil como uma criança branca que volta de Miami carregada de brinquedos de plástico.
O único que eles temiam, e temiam porque já teve um revolver na mão, era Dirceu. Era preciso, portanto, reduzir a pedaços os seus nervos e a sua vontade. Mas não conseguiram porque o ódio não tem data de validade.
O destino de José Dirceu é um símbolo do futuro de seu partido. À sua direita o seu próprio governo; à sua esquerda, os reclamos de sua militância desorganizada, sem núcleos e perdida nas ruas desde junho. Dali ecoam cada vez menos discretamente os sons da insurreição.
Na encruzilhada, o PT hesita entre a debandada e outra revolta dos bagrinhos3. Só que os bagrinhos de hoje estão nas ruas, ocupações, na educação popular, nos mesmos lugares em que apanham sob o olhar cúmplice de dirigentes que se calam para proteger seus glúteos recostados em cadeiras irresistíveis.
NOTAS
1 O neopetismo não diz respeito a pessoas que adentraram recentemente no partido. O PT mais que dobrou de tamanho nos primeiros 3 anos de governo Lula, mas muitos jovens aderiram não apenas por oportunidade de carreira, e sim porque a imagem do PT continua incomodando as elites das classes dominantes. Por outro lado, muitos dirigentes neopetistas são antigos membros do partido que aderiram ao nepotismo, ao conservantismo e apoiam a repressão policial e judiciária de manifestantes.
2 Primeira leva em massa de militantes pagos pelo PT em São Paulo.
Alusão à imagem de revolta interna da base petista nos anos 1980.
***
Lincoln Secco é professor de História Contemporânea na USP. Publicou pela Boitempo a biografia de Caio Prado Júnior (2008), pela Coleção Pauliceia. É organizador, com Luiz Bernardo Pericás, da coletânea de ensaios inéditos Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados, e um dos autores do livro de intervenção da Boitempo inspirado em Junho Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil

(Publicado originalmente no blog da Boitempo e Viomundo)

Pacto Pela Vida. Apertem o cinto. O piloto sumiu?


 


JOSÉ LUIZ GOMES ESCREVE:

Neste domingo,dia 22/02, li uma matéria publicada no Jornal do Commércio, assinada pelo jornalista Jorge Cavalcanti, sobre os problemas de segurança pública no Estado, mais precisamente sobre o Pacto Pela Vida. Eventualmente, ainda encontramos esses rompantes de bom jornalismo na imprensa pernambucana. São exceções, mas existem e convém registrá-los. Muito interessante a matéria, sobretudo porque remonta, mesmo que anpassant, aos problemas de segurança pública encontrados no Estado antes da implantação do Pacto Pela Vida, quando o ex-governador Eduardo Campos passou a ocupar o Palácio do Campo das Princesas, no seu primeiro Governo, a partir de 2007.

Desde então, Pernambuco, que era um dos Estados mais violentos do Brasil, reduziu sensivelmente suas taxas de crimes letais intencionais por cada 100 mil habitantes, um parâmetro sempre usado para mensurar os níveis de violência numa determinada região. A editoria local do JC repercute essa questão já faz algum tempo, sempre suscitando o debate sobre os rumos dessa política de segurança pública do Estado, hoje sob risco de descontinuidade, apresentando alguns indícios de fragilização, como a volta da ocorrência de elevação das taxas  de homicídios registradas no ano de 2014, algo que não ocorria desde que o PPV foi criado. Estamos observando uma tendência ascendente da violência em nosso Estado. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2015 já são contabilizados 199 mortes. Apenas na última quarta-feira, num único dia, portanto, segundo reportagem do NE-TV, da Rede Globo, foram registrados 10 homicídios na região metropolitana do Recife. Jaboatão e Cabo de Santo Agostinho merecem uma atenção especial no tocante ao assunto, embora ninguém tire a liderança de Itamaracá nesse campeonato macabro.

A matéria, de duas páginas, também traz uma entrevista com o sociólogo José Luiz Ratton. Integrando uma das assessorias especiais do ex-governador, Ratton sempre esteve identificado com as políticas do Pacto Pela Vida. Em repostas que prezam pelos conceitos acadêmicos e a polidez política, Ratton, no final, acaba admitindo os problemas do PPV, como a ausência de integração de alguns atores envolvidos( Judiciário e Ministério Público), a desarticulação entre os componentes técnico e político; assim como a ausência da liderança política, que sempre foi exercida pelo ex-governador Eduardo Campos. Os novos ocupantes do Palácio do Campo das Princesas, que sucederam o ex-governador, por alguma razão, não tiveram o mesmo empenho de se reunirem sistematicamente com os atores envolvidos, cobrar resultados, monitorar o que vinha ocorrendo. Paulo Câmara assegura que seguirá as lições do padrinho político. Vamos aguardar.

Segurança pública é um problema muito complexo e, como tal, deve ser tratado com muita cautela, discernimento e equilíbrio. Diz respeito a todos nós, competindo ao cidadão comum, tanto quanto possível, colaborar com as ações do Estado no sentido de promover a paz coletiva, assim como contribuir com críticas construtivas que possam aprimorar essas ações. Em outras oportunidades, já escrevemos bastante sobre este assunto. Em alguns casos, observa-se os egos acadêmicos inflados, sobretudo entre cientistas sociais, no que concerne a melhor maneira de enfrentar o problema ou mesmo pela ocupação de "cadeiras" nas concepções de políticas públicas para a área de segurança. Essa disputa de egos, certamente, não ajuda muito. Neste aspecto, parece haver uma convergência sobre o que pensamos e as observações do professor José Luiz Ratton, quando assinala que convém ficar atento a capilaridade dessa política, que deve envolver e integrar ações conjuntas da comunidade, dos municípios, das políticas preventivas de segurança pública, assim como as ditas políticas de "ressocialização", hoje um verdadeiro caos no Estado. 

O Governo do Estado cometeu muitos equívocos na condução de sua política de segurança pública. Durante as manifestações da juventude, as conhecidas "Jornadas de Junho', por exemplo, estivemos à beira de um Estado de Exceção, onde se delegou aos policiais operacionais um poder demasiado, excessivo, capaz de reprimir, prender, julgar, condenar. Sempre que isso ocorre, chacinas como a que ocorreu em Salvador, no último dia 06 de fevereiro, no bairro conhecido como Cabula, onde 16 jovens foram mortos pela Polícia Militar, podem se tornar comuns.Há uma testemunha ocular que assegura que os jovens estavam desarmados e rendidos. Com essas prerrogativas concedidas ao aparato repressor do Estado, os desaparecimentos físicos dos "Amarildos" da vida passam a ser lugares comuns. 

Esse é o maior problema das Unidades de Polícias Pacificadoras, no Rio de Janeiro, as chamadas UPPs, onde, no campo de batalha, a polícia recuperou e ocupou territórios, mas isso não foi acompanhado de outras políticas públicas promotoras da cidadania, que permitissem o acesso a uma escola de qualidade social, um serviço de saúde decente, espaços de convivência e lazer um pouco melhores do que os tradicionais churrasquinhos de gato na laje. O Estado precisa se fazer presente não apenas com homens armados, mas com a efetivação de políticas públicas que permitam à comunidade e o exercício da sua cidadania. Do contrário - e é isso que vem ocorrendo - vira-se um bangue-bangue diário, com os chefes do tráficos armando escaramuças constantes contra  as unidades policiais. A "guerra" que o Estado precisa vencer contra os chefes do tráfico é, sobretudo, de outra natureza.

Pontualmente, alguns possíveis equívocos conceituais também são apontados no PPV, a começar por eleger como indicador privilegiado apenas os crimes violentos letais intencionais, como os causados por assassinatos, lesões corporais graves e latrocínios. Durante o período em que se comemoraram a queda das taxas de crimes dessa natureza, outras modalidades de crimes até registraram aumento no Estado. Talvez entrássemos aqui numa longa polêmica, mas até organizações respeitadas como o Conselho Cidadão para a Segurança Pública, do México, aponta o indicador da taxa de homicídio por cada 100 mil habitantes para definir as cidades mais violentas do mundo. Por esses dados, nossa querida João Pessoa ostenta o título de quarta cidade mais violenta do mundo. Outro fato determinante para construção da opinião do cidadão comum é a chamada "sensação de segurança", quando ele ou parente próximo é atingido por um ato de violência e não há dados do "Pacto Pela Vida" que o demova da ideia de que, coletivamente, estamos mais seguros.Vamos deixar, portanto, essa discussão para os acadêmicos. Salvo engano, a Organização das Nações Unidas utiliza-se do mesmo indicador.

O PPV também previa algumas ações indispensáveis para o seu êxito, como observa Ratton, para falarmos apenas de seu planejamento interno, como estatísticas precisas, geografia das áreas de maior incidência de criminalidade, estabelecimento de metas, planejamento constante das ações e monitoramento dos resultados. De olho no Planalto e tendo o Pacto Pelo Vida como uma plataforma política nacional, o ex-governador Eduardo Campos monitorava sistematicamente os seus resultados, cobrando - às vezes esmurrando a mesa e gritando com os subordinados - o cumprimento das metas traçadas, como a diminuição de crimes num determinado bairro ou área. Segundo comenta-se, isso causava uma pressão imensa no pessoal da Polícia Militar e Civil, que se sentiam na contingência de intensificar diligências, elaborar inquéritos às pressas e encaminhá-los ao judiciário. Como, em razão da pressa, os inquéritos eram inconsistentes, acabavam voltando. 

Registro aqui uma observação do presidente do SINPOL, Áureo Cisneiros, onde ele argumenta sobre um erro estatístico. Os dados dos inquéritos encaminhados acabavam alavancando os números positivos do PPV, embora eles posteriormente fossem devolvidos. Publicamente, também se falava bastante nas políticas de valorização, premiação, qualificação e valorização do agente público envolvido na execução dessa política de segurança. A julgar pelos problemas encontrados na área, possivelmente, pode-se concluir por muita cobrança e condições de trabalho muito aquém das exigências. O déficit de agentes penitenciários no Estado é hoje de aproximadamente 6 mil homens. A Polícia Civil apresenta outro "rombo" e encontra-se sucateada.



Durante um bom tempo, o Estado de Pernambuco foi apontado como um dos poucos que podia se orgulhar de ter uma política de segurança pública. Estados que adotaram o mesmo procedimento - mesmo com os equívocos apontados - conseguiram reduzir sensivelmente seus índices de violência, como Rio de Janeiro e São Paulo, até bem pouco tempo. Políticas públicas bem planejadas são decisivas no enfrentamento desse problema. Qualificação dos agentes públicos envolvidos, condições de trabalho decentes, tecnologias operacionais atualizadas. Os problemas do PPV, em grande medida, podem ser atribuídos à desarticulação dos elos dessa cadeia. Aqui, se cochilar o cachimbo cai. E nos parece que caiu.

Outro gravíssimo problema no Estado são os crimes de pistolagens no interior, quase sempre cometidos por grupos muito bem organizados, alguns deles ceifando a vida de agentes públicos em pleno exercício de suas funções. Pernambuco ainda ostenta algumas zonas de exclusão, onde impera a lei do mais forte, onde o poder de Estado permanece profundamente comprometido ou contingenciado por arranjos políticos. O mais recente deles envolve a morte de 3 conselheiros tutelares e uma avô materna de 64 anos, em Poção, agreste do Estado, quando retornavam de uma audiência da Vara da Infância em Limoeiro. O crime tem todas as características de crime de execução, assim como outros que já ocorreram, e que ainda não foram devidamente elucidados. 

O governador Paulo Câmara enfrenta um inferno astral logo no início do seu Governo. O sistema carcerário está aos frangalhos, com rebeliões e insatisfações dos agentes penitenciários - que já se encontram em indicativo de greve, algo que pode se estender para a Polícia Civil, que reivindica a equiparação de um índice de periculosidade com os delegados de policia. É como se a vida de um delegado valesse mais do que a de um agente.Também aqui, essa questão é bem complexa. Há de se observar, por exemplo, a lentidão da Vara de Execuções de Penais, o que leva a muitos presos que já cumpriram suas penas continuarem encarcerados, acarretando as superpopulações nas unidades prisionais. Mais um elo dessa cadeia que precisa ser urgentemente repensado. O Estado é responsável pela integridade física daqueles que cumprem pena, mas, não raro, eles são entregues à própria sorte, como observou outro dia o professor Michel Zaidan Filho.

Torço que o governador Paulo Câmara volte a agendar suas reuniões com o seu staff de segurança; cubra, através de concurso e formação adequada, o déficit de agentes civis, penitenciários e militares existentes no Estado; enfrente o problema do banditismo rural de forma republicana; aprimore as   políticas públicas adjuntas,de caráter preventivo, que possam minimizar a delinquência. Enfim, que ganhe essa batalha para o Estado. 







quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Governo Dilma e o PT perderam a batalha da comunicação. Agora, é tentar evitar o impeachment


Publicado em 24 de fevereiro de 2015 às 11:48
chavez
por Luiz Carlos Azenha
No dia em que Hugo Chávez foi derrubado, na Venezuela, em 2002, um episódio foi decisivo. Uma falsa notícia disseminada pelos meios de comunicação locais, que repercutiu em todo o mundo e deixou os próprios venezuelanos em choque. Mesmo eleitores de Chávez, aqueles que acompanhavam a crise à distância, ficaram sem ação.
A falsa notícia era de que chavistas haviam atirado contra uma manifestação de oposicionistas que estava a caminho do Palácio Miraflores. Havia imagens para comprovar. Lá estavam eles, sobre a Ponte Llaguno, disparando suas armas. As imagens viriam a ser desmentidas, mais tarde, pelo documentário A Revolução Não Será Televisionada.
Na verdade as emissoras venezuelanas haviam suprimido um dos ângulos do episódio. Por este ângulo, era possível ver que os chavistas, na verdade, eram alvo de franco atiradores e disparavam aleatoriamente. Eles não atiravam contra uma passeata, que nem havia passado por perto daquele lugar.
Porém, a falsa notícia já havia feito o estrago. Chávez salvou-se por vários motivos: apoio popular, lealdade entre os militares e um esquema que permitiu a ele comunicar-se indiretamente com a população. Além, é lógico, das besteiras feitas por Pedro Carmona, o empresário escolhido para substituí-lo, que ao assumir fechou o Parlamento!
Através da rede CNN, partidários de Chávez conseguiram superar o bloqueio informativo para dizer que o presidente não havia renunciado. Fizeram o mesmo através de meios comunitários para levar a mensagem aos morros de Caracas, onde ainda vive a grande maioria dos chavistas. Os morros desceram para diante do Palácio Miraflores para defender Chávez, que acabou reinstalado no poder.
O episódio deixou marcas profundas no chavismo. A partir de então, uma das prioridades do governo foi equilibrar o jogo no campo das comunicações. Ao contrário do que diz nossa imprensa, nunca houve censura na Venezuela.
Houve, sim, investimento em desenvolver meios através dos quais o governo pudesse falar diretamente à população. Além de um acerto de bastidores com o principal empresário do ramo, Gustavo Cisneros, que comandava então a principal emissora golpista.
O Brasil, obviamente, nunca enfrentou um episódio tão dramático. No auge do assim chamado escândalo do mensalão, com várias CPIs instaladas ao mesmo tempo, o ex-presidente Lula decidiu ir às ruas se defender. Politicamente, virou o jogo. Obteve a reeleição, mas nunca saiu da defensiva. Já são 13 anos de noticiário desequilibrado, que poupa tucanos e criminaliza petistas.
Lula optou, sempre, pela composição. O quadro econômico positivo permitiu que ele elegesse a sucessora, que se reelegeu pela menor das margens.
Hoje, além do desgaste natural de três mandatos no Planalto, o projeto petista na economia dá sinais de esgotamento e o escândalo na Petrobras detonou a boa vontade da população com aqueles que promoveram a ascensão social de milhões de brasileiros. O desgate do PT ficou óbvio nas eleições mais recentes, quando as bancadas do partido encolheram.
Como escreveu Valter Pomar, petista histórico, o governo Dilma enfrenta a “tempestade perfeita”, também por conta dos próprios caminhos que escolheu:
Implementar mesmo que parcialmente o programa dos derrotados na eleição contribui para confundir e desorganizar as forças que venceram as eleições presidenciais de 2014, facilita as operações de sabotagem implementadas pela oposição de direita e também por setores da base do governo, não ajuda a bloquear eventuais tentativas de interromper nosso mandato, além de criar um ambiente favorável aos que desejam nos derrotar nas eleições de 2016 e 2018.
É nestas circunstâncias que o governo Dilma e o PT poderiam tirar proveito, mais que nunca, de um esquema de comunicação que permitisse a eles falar diretamente à população, sem passar pelos intermediários da grande mídia corporativa.
Este esquema não existe. De maneira um tanto caricata, isso ficou demonstrado num episódio recente envolvendo o ministro da Justiça. José Eduardo Cardozo, todo pimpão, deu uma entrevista à TV Veja, crente de que estava abafando. Passaram-se alguns dias e lá estava ele, denunciado na capa da revista à qual deu a credibilidade de sua presença física! O governo Dilma continua hoje sendo o principal financiador da mídia que pretende não só derrubá-lo, mas salgar a terra por onde passaram petistas.
O partido vai enfrentar uma eleição de vida ou morte em São Paulo, em 2016, quando Fernando Haddad tentará se reeleger para dar sustentação a um eventual retorno de Lula em 2018.
Por causa da própria incompetência e mediocridade no campo das comunicações, o PT e Dilma estão perdidos diante da grande revolução que se deu nos últimos anos com o surgimento e fortalecimento das redes sociais. Mesmo a blogosfera, aos poucos, vai ficando com cheiro de naftalina. A comunicação instantânea e pessoal, especialmente via Facebook e whatsapp, equivale a um tsunami.
O governo e o PT não estão preparados para esta disputa, que pressupõe que ambos deveriam estar em um dos polos da geração de conteúdo bombardeado e contra-bombardeado nas redes sociais. Esta disputa exige competência e rapidez, que são a antítese do comportamento que vemos vindo do Planalto ou de petistas com posições de poder.
Exige uma atitude guerrilheira, como a demonstrada pelo senador Roberto Requião, armado com sua conta no twitter, um blog dinâmico e a TV 15, que transmitiu ao vivo os acontecimentos recentes no Paraná.
Enquanto isso, a oposição nada de braçada, agora que conta com alguns milhares de militantes digitais dispostos a disseminar qualquer informação para minar as bases do governo.
Recentemente, fui procurado pela minha diarista, que estava assustada: “É verdade que a Dilma vai confiscar a poupança?”.
Respondi que havia acabado de publicar um desmentido do Ministério da Fazenda. Um desmentido, aliás, chocho, que duvidava da própria veracidade dos boatos que pretendia desmentir.
Segundo a minha diarista, o boato era tema de discussão dentro do ônibus, com a maioria dos presentes desancando a presidente. Há dezenas de outros relatos a respeito no Facebook. Deixam claro que foi um boato de forte circulação via whatsapp. Que pode ter chegado a milhões de pessoas.
É esse tipo de boato, que toca diretamente a vida das pessoas — o confisco, afinal, é uma ameaça! — que vai minando aos poucos o que resta da credibilidade do governo com aqueles que ainda não foram convencidos pelo Jornal Nacional de que o mundo vai acabar por culpa de petistas. Vai criando, silenciosamente, o caldo de cultura que alimenta a campanha do impeachment.
Leiam o relato de Maria Luiza Quaresma Tonelli, no Facebook:
A diarista que presta serviços em minha casa me perguntou hoje se eu estava sabendo sobre “um negócio muito grande que vai acontecer nas ruas”. Perguntei: quando? Ela: no dia 15 de março. Então falei para ela que se trata de uma manifestação que estão organizando para tirar Dilma da presidência da república. Perguntei para ela como ficou sabendo disso e ela disse que as duas filhas e um genro receberam o “convite” pelo WhatsApp e que hoje no ônibus o assunto era esse. Disse que muitas pessoas falavam no ônibus coisas assim: “precisamos tirar Dilma de lá, ela quer acabar com a gente”. “Dilma é uma ladra”. Outros diziam: “Lula também”. Daí para pior.
Enfim, é assustador o poder e a capacidade da direita em atingir a classe trabalhadora com propaganda contra um governo que justamente beneficiou a classe trabalhadora, que majoritariamente é conservadora e despolitizada. Por isso não é capaz de pensamento crítico e cai no moralismo barato da oposição. Tem gente que diz que a massa trabalhadora não tem tempo para ficar vendo TV nem no Facebook, por isso não há perigo de ser influenciada pela extrema direita. Concordo. Mas pelo tal do WhatsApp a oposição está fazendo um trabalho e tanto. Vamos aguardar o dia 15 para ver qual será o tamanho da coisa.
A batalha da comunicação, em nossa modesta opinião, está perdida. Talvez só mesmo uma grande derrota eleitoral seja capaz de provocar o despertar dos burocratas.
PS do Viomundo: Recentemente, o prefeito Haddad deu uma entrevista à rádio Jovem Pan, que só repercutiu de fato depois de ir parar nas redes sociais! Sinal dos tempos.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Michel Zaidan Filho: Fragmentos de uma memória afetiva

 Glória
 

Tive, ontem, que cumprir um dos rituais dessa nossa breve vida, mais triste que uma pessoa pode ter: velar e sepultar o corpo de uma jovem professora de 57 anos, do departamento de História da UNICAP e da FUNESO. Na capela da Universidade jesuítica, onde o corpo foi velado em meio a uma grande comoção popular, me veio a memória uma passagem de um teólogo reformado que perguntava, indignado, porque  prosperam os ímpios enquanto os bons desaparecem? - Pergunta difícil de entender, para quem não acredita em Deus e na salvação da alma. Embora o filósofo alemão diga que nós somos  seres para a morte e a  nossa   essência seja o tempo ou a historicidade, nós nunca nos conformamos com a morte. Menos ainda daqueles a quem veneramos, cultuamos e admiramos, como o vulto pálido, esquio e pequenino, que estava naquele esquife mortuário. Parecia uma santa. Estava perto disso. Uma pessoa simples, generosa, plural, tolerante, despojada, batalhadora e totalmente dedicada aos seus (amigos, familiares, alunos e colegas). O vulto mortuário correspondia de fato à lembrança e à memória dos que a conheceram. Arrostou muitas injustiças e perseguições. Sobretudo a arrogância e a prepotência daqueles que foram ajudados por ela. Desdobrou-se em muitas para dar conta de proteger ou auxiliar os que precisavam de sua ajuda e de seu conforto. Alimentou famintos, iluminou a muitos que procuraram suas luzes, abriu portas e caminhos para vários outros. Sempre fiel e dedicada aos seus amigos, nunca esqueceu de prestigiá-los. E enfrentou com dignidade os ataques dos que não tinham um terço do seu valor, como pessoa e professora. Glória Medeiros faleceu quando se preparava para uma seleção de Doutorado, na Universidade Católica. Deixou órfão uma legião imensa daqueles que lhe queriam muito bem e lhe eram gratos. Temos que velar e preservar essa memória de dignidade e honradez  deixada pela nossa companheira.

Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e o coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Antonio Lassance: Pior que o presidencialismo de coalizão é o parlamentarismo de negócios.

  

Eduardo Cunha é o síndico do parlamentarismo de negócios. Ele comanda o "nightmare team" que amedronta o presidencialismo de coalizão brasileiro.


 
Antonio Lassance (*) PMDB Nacional / Flickr


Com sua eleição para a presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está com o queijo e a ratoeira na mão.

Sua vitória acachapante derrotou governo e oposição.

Ambos, governo e oposição, torciam pelo menos por um segundo turno naquela eleição - nem isso veio. Cunha não apenas levou a melhor. Mostrou que é mais forte do que todos imaginavam.

O feito de Cunha é notável. Derrotou os dois principais partidos que, desde 1994, encabeçam os embates presidenciais e que presidencializaram as disputas de muitos governos estaduais e das capitais.

Cunha é, agora, o bode no meio da sala. Ele é o capitão da nau dos descontentes. É o fio-terra de uma legião de insatisfeitos famintos por um síndico do parlamentarismo de negócios

Juntando os descontentamentos mútuos, Cunha conseguiu operar milagres como o de unificar o PMDB e atrair PP e PRB, além de partidos nanicos, mas com caninos tão afiados quanto o de grandes partidos.

Seus 267 votos são mais da metade dos 513 deputados. É um "nightmare team" que amedronta o presidencialismo de coalizão brasileiro.

Passado o Carnaval e a quarta-feira de cinzas, o governo tem no máximo até o final de março para bater o martelo. Quer conviver com Cunha ou quer mandá-lo pentear macacos?

O governo vai suportar o cheiro de enxofre desse inferno ou preferirá enfrentar as dunas movediças do Congresso Nacional com emoção e correndo o risco de capotar?

A situação não tem outra descrição possível se não a do clichê de "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".

Neste momento, tudo o que Cunha quer é ser governo. Está doido para ser governo. Não suporta ficar longe do governo. Só não se ajoelha e reza pedindo para ser governo porque isso não cairia bem a quem agora é o cardeal supremo da Câmara.

A base que apoiou Cunha treme como em uma crise de abstinência. Corre atrás do primeiro que apareça como um fornecedor confiável para os seus pleitos.

E Cunha tem muitas faturas para pagar. Precisa de espaço no governo e de poder de barganha para comandar a gestão de inúmeros interesses privados. Precisa saldar seus compromissos e não dá para fazer isso só com a presidência da Câmara.

Enfim, o quadro que se configura, como nunca antes na história do país, é de que, pela primeira vez, se gestou uma grande coalizão parlamentar na Câmara não orientada pelo Executivo, mas pela própria Casa.

A Câmara organizou-se como um condomínio fechado e interessado em defender seus próprios interesses. Ela tem Eduardo Cunha e não tem medo de usá-lo.

Quando Dilma fechou as portas do governo para Cunha, anos atrás, não as fechou apenas para ele. Fechou para muitos que agiam de maneira muito similar.

O bambolê com que o então deputado Henrique Eduardo Alves a presenteou, anos atrás, para que Dilma aprendesse a ter mais jogo de cintura, sumiu.

Dilma tentou usar um ferrolho para um tipo de política. Na verdade, foi Lula quem tentou usar um ferrolho para esse tipo de política. O ferrolho se chamava e se chama Dilma Rousseff. Da mesma maneira como Dilma tentou usar um ferrolho na Petrobrás com o nome de Graça Foster. Simples assim.

Mas as soluções simples são, em geral, contraproducentes quando os problemas, esses engenhosos senhores que dominam a Terra, resolvem encontrar atalhos.

O que aconteceu? Quando Dilma fechou as portas do Executivo para uma grande parcela de sua própria base, desagradando partidos (inclusive o próprio PT), centralizando a gestão e, sobretudo, contrariando inúmeros interesses, esses interesses resolveram, diante do ferrolho no Executivo, ir bater às portas do Congresso.

Passaram a dominar uma parte importante da agenda parlamentar. Fizeram aprovar projetos que contrariavam o Executivo, com a graciosa, mas nunca gratuita, ajuda de muitos parlamentares.

Com o Congresso mais endinheirado de toda a história do País, de agora em diante, uma parte mais relevante da agenda política nacional pode sair de dentro da Câmara, e não do Palácio do Planalto, que cada vez se parece mais com um Corpo de Bombeiros tentando apagar incêndios.

Se a paz entre o Planalto e Eduardo Cunha vier a ser selada, o preço a ser pago será, ainda assim, muito caro.

Não são apenas cargos que estão em disputa. É toda uma gama de interesses do capitalismo brasileiro que encontra agora um porto seguro para aportar e invadir as nossas praias.

Mundo, mundo, vasto mundo, como diria o poeta Drummond. Se a presidenta se chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução.


(*) Antonio Lassance é cientista político.
 
(Publicado originalmente no site Carta Maior)

Imperdível: O convite do professor Weber para que Joaquim Barbosa compareça ao ato em defesa da Petrobras.

 

publicado em 23 de fevereiro de 2015 às 11:05
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Prezado colega Joaquim Barbosa,
Você cobrou a exoneração do Ministro da Justiça por ter recebido advogados das construtoras, alegando no seu Twitter: “Reflita: vc. defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, vc. vai recorrer à Política?”
Permita-me ponderar, caro colega da UERJ, a Política com P maiúsculo, conforme você bem escreveu, é a mais nobre das atividades humanas, pois é a partir dela que se constrói uma sociedade rumo ao eldorado ou rumo ao abismo.
É conveniente deixar claro que todos nós queremos a punição de corruptos, o fim da corrupção e a repatriação dos bilhões evadidos. No entanto, esse problema da Petrobras & construtoras está indo muito além disso. Já extrapolou as decisões (aplaudidas) de um único juiz e passou a ser uma questão de Estado.
Explico: (1) Países ricos são aqueles que têm autonomia tecnológica, isto é, dominam o conhecimento que transforma a natureza em riqueza, desde os projetos de engenharia até o produto final. (2) Dentre as grandes empresas sediadas no Brasil, praticamente apenas a Petrobras & construtoras têm autonomia tecnológica. As outras grandes empresas, por serem mundiais, produzem bens aqui mas não desenvolvem a tecnologia no Brasil. (3) Quem domina a tecnologia tem o poder das decisões econômicas e a primazia dos melhores lucros.
A Petrobras é responsável por cerca de 10% dos investimentos realizados no País, cujo efeito multiplicador no crescimento da economia é exponencial. São razões de estado, portanto, que deveriam levar o governo a interceder politicamente no show de horrores que está provocando paralisação de setores produtivos da economia, desemprego e redução do PIB.
O que a Petrobras e construtoras têm de perene são as suas máquinas, equipamentos, outros bens materiais, o petróleo, trabalhadores e tecnologia, sinônimo de conhecimento, que nada têm a ver com os desvios de dinheiro provocados por meia dúzia de dirigentes ironicamente colocados em liberdade “premiada”.
Digo, por experiência própria vivenciada no poder executivo estadual, que a corrupção pode ser totalmente debelada sem prejudicar as (únicas) grandes empresas nacionais que desenvolvem tecnologia de forma autônoma.
Infelizmente, ao contrário do que se esperava, a forma seletiva de divulgação de passos inconclusos e não julgados do processo ‘lava-jato” está acarretando mais malefícios do que benefícios, até porque as tais delações (absurdamente) premiadas saíram dos bafos de bandidos confessos.
Mas isso agora é o de menos. O pior é ver os negocistas e golpistas de plantão se aproveitando de todo esse caldeirão de manchetes cientificamente encomendadas para enlamear, não os corruptos, mas a empresa Petrobras e as construtoras visando à enfraquecê-las para desnacionalizá-las.
Reflita, caro Joaquim, (i) com tantas instituições há décadas sugando bilhões de dólares da nossa economia sem qualquer reação do judiciário, ministérios públicos e imprensa; (ii) com um processo criminoso de privatizações que aniquilou empresas e inteligências brasileiras sem que houvesse um só pio desses órgãos; (iii) e o que vemos agora é a exploração malévola para destruir o que de melhor nos resta na engenharia brasileira.
Se o problema fosse realmente punir corruptos, eles não estariam em liberdade premiada. O alvo é realmente quebrar as últimas grandes empresas nacionais de engenharia; e logo a engenharia, um dos ramos do conhecimento que mais cria postos de trabalho em todas as áreas.
Isso é muito triste para um país que já tem mais de 70% do seu PIB controlado por não residentes. Será que você e o voluntarioso juiz Moro conseguem enxergar que existe algo que vai muito além dos “argumentos/métodos jurídicos” a que você se refere?
Nenhum “argumento/método jurídico” pode estar acima dos interesses da sociedade, nem pode ser usado para, por consequência, desgraçar a vida de milhares de famílias inocentes que dependem do funcionamento pleno das empresas nacionais que geram conhecimento e riquezas.
Lecionei durante 36 anos na Faculdade de Engenharia da universidade a qual você pertence, a UERJ. Sabemos o quanto é árduo a formação de engenheiros desenvolvedores de tecnologia. E o que temos visto em todo esse episódio do “petrolão” é a lubrificação dos dutos que podem, mesmo que não houvesse intenção, levar o nosso petróleo gratuitamente para alhures e destruir o que nos resta de tecnologia própria nas empresas de energia e construção civil-mecânica.
Acredite, caro Joaquim, os abutres já estão a grasnar: “entreguem tudo às empresas estrangeiras”; e, se elas tomarem conta do pedaço que nos resta, adeus à soberania e à tecnologia nacional. E isso, acredito, nem você nem o juiz Moro querem. Certo?
Seria muito bom que juristas de escol colocassem os seus saberes para impedir a alienação de riquezas e patrimônios nacionais.  Que achas da ideia? Se você puder convide o juiz Moro e apareçam em dois atos em defesa da Petrobras e Soberania Nacional: dia 24/02, terça-feira, às18h, na Associação Brasileira de Imprensa, e no dia seguinte, 25/02, quarta-feira, às 17h, no Clube de Engenharia.
O que está em jogo são os destinos soberanos do Brasil. Quebrem-se os políticos e dirigentes corruptos, mas não a grande estatal e a engenharia nacional.
Cordialmente.
Weber Figueiredo da Silva, D.Sc.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Michel Zaidan Filho: Charada ao sabor dos interesses governistas




 Artista plástico que confeccionou a alegoria do Galo da Madrugada diz que olhos azuis foram uma charada. Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem.



                        Indagado sobre o significado dos "olhos azuis" da alegoria carnavalesca, público-privada, "O Galo da Madrugada", o artista plástico responsável pela confecção da fantasia respondeu que era uma charada, um enigma carnavalesco a ser decifrado pela imaginação dos foliões. Charada de fácil decifração esta, considerando as relações mais do que promíscuas entre produtores e artistas pernambucanos com o prefeito e Governo do Estado.

                         Quando o jornalista Bruno Albertim  ocupou o cargo de Secretário de Turismo da Prefeitura do Recife, disse ele que o principal produto turístico daquela secretaria era o carnaval do Recife, já apelidado por muitos como o "maior do mundo".  Se o antigo folguedo popular  da cidade  Mauricéa é ou não o maior do mundo, uma coisa é certa: ele tornou-se uma das propagandas mais eficientes para vender o Estado e o município ao mundo.


                          A  engenhosa e cara operação simbólica para transformar os festejos momescos no "principal produto turístico" de Pernambuco é o resultado de uma sinergia de esforços e ações público-privadas, que conta naturalmente com o interesse da mídia em co-patrocinar o evento. De forma que, às vezes, se torna muito difícil distinguir o que é público do privado, o que é oficial do espontâneo, do popular. O Carnaval é um desses festejos pagãs, carregados de simbolismo (daí a estética do grotesco) que foi convenientemente domesticado pelas nossas elites em vista de seus objetivos e interesses. É uma empresa? É uma válvula de escape? É um rito pagão? Ou uma forma de angariar consenso popular através do rico patrocínio público da folia carnavalesca? - Talvez seja tudo isso e algo mais.


                        Se houve algum princípio de inversão ou transgressão simbólica na organização do carnaval, nas últimas décadas, é que se transformou de coisa marginal e suja em um megaespetáculo televisivo, por onda posam e desfilam celebridades oriundas  de uma cultura de massas barbarizada, que junta crime, violência, pornografia, futilidades e denúncias de corrupção praticadas por agentes públicos. A quem serve o carnaval, afinal de contas?

                        Ao invés de uma revolta simbólica contra os poderes dominantes, através de alegorias grotescas e demoníacas, a folia momesca tornou-se um instrumento de marketing e venda dos mais diversos apetrechos. Mais o pior negócio é o estado de  euforia, brilho, felicidade e satisfação que supõe provocar no imaginário do povo, tendente a torná-lo mais receptivo e tolerante às desgraças e descalabros do Poder Público e da própria estrutura social, quando se for a folia.

                        Como povo parcialmente socializado pela ética puritana do trabalho, o "ethos carnavalesco" nos faz diferente das sociedades de índole cristã reformada. E há muitos estrangeiros que admiram esse espírito dionisíaco e bacante, sobretudo nas mulheres. Mas não nos deixemos enganar: a saudosa maloca da música de um Adoniran Barbosa deu lugar a um arremedo televisivo de barraco de escola de samba,  povoada de atrizes mais ou menos brancas e arremediadas, loucas para convencer o distinto público da novela das oito de que vale a pena ser brasileiro, carioca, pernambucano e recifense. Afinal de contas, se não temos o melhor prefeito e governador do mundo, temos o maior bloco carnavalesco do planeta. E isso é pouco?

Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Michel Zaidan Filho: Galomaquia pernambucana






                     Os intelectuais e artistas de Pernambuco gostam de falar de animais em seus escritos. Lembro o famoso ensaio do poeta e cronista Mauro Mota sobre o homem na fala dos bichos.  Os ensaios de Gilberto Freyre sobre a permanência do cavalo na cultura pernambucana. Ou os admiráveis poemas de João Cabral de Melo Neto sobre o “cão sem plumas” ou os “galos que tecem o amanhã”.  Como em tudo, há galos e galos. Galos operários e tecelões que preparam com o seu canto um novo amanhã para os mais pobres e humildes. E o galo de “olhos azuis” (como os do ex-governador), festejado pelas elites políticas e econômicas do nosso estado.

                    Dizia o humorista Millôr Fernandes, durante o regime militar, que a coisa mais sem graça que existe é o artista oficial ou a favor. Para ele, o papel da arte era fazer a crítica aos poderes dominantes. Um artista oficial ou oficioso, com contracheque ou holerite da secretaria de Turismo ou da Cultura, seja do Estado ou da Prefeitura do Recife, convenhamos, não tem muita graça. Os políticos daqui têm o costume de utilizar os folguedos populares (e seus artistas) como vantagem comparativa para vender o Estado e seus ativos econômicos (incluindo as mulheres) aos estrangeiros que nos visitam. Até um movimento contra- cultural, que nasceu nas margens, como o Manguebeat foi aprisionado nas malhas dessa armadilha político-institucional que responde pelo nome de “pernambucaneidade” ou “Nação-Pernambuco”. Há um verdadeiro aparelho cultural responsável por essa engenhosa (e rendosa) operação simbólica: a Fundação Joaquim Nabuco, o Museu” O paço do Frevo”, o museu “O cais do sertão”, a Fundação de Cultura da cidade do Recife, várias secretárias municipais e estaduais que cuidam da cultura e do turismo, a FUNDARPE e, claro, os meios de comunicação de massa. Há também várias fundações particulares que se beneficiam enormemente da construção dessa mitologia pernambucana. É um negócio milionário, onde os artistas da terra devem ficar com as migalhas, quando recebem seus pagamentos...

                       Contudo, o mais trágico é a mudança que se opera num folguedo popular: de um rito alegórico de inversão dos poderes existentes num arremedo de cultura cívica, destinado a vender a administração municipal ou estadual ou as garrafas de cerveja de uma empresa multinacional, como a AMBEV. É o caso de se perguntar:  “Que rei sou?” , pois o reinado alegórico dos de baixo contra os de cima transformou-se num megaespectáculo televisivo para o mundo, onde as celebridades das colunas sociais eletrônicas procuram se apresentar (ou se vender). O povo mesmo fica nas arquibancadas vendo a corte passar. Triste carnaval esse do Galo oficial, que anuncia não a madrugada dos que não tem pão nem água, mas dos que se comprazem em desfilar na rua, sob o patrocínio de uma ditadura africana que pode gastar 10 milhões de reais numa Escola de Samba do Rio de Janeiro (por acaso, a vencedora do desfile desde ano).

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador,cientista político,professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE

O dia em que Haddad deu uma aula para Sheherazade e Marco Antonio Villa

  

Abafada pelo feriado de carnaval, a entrevista que o prefeito deu à rádio Jovem Pan, na semana passada, escancarou a falta de preparo, gafes e ironias dos entrevistadores, que criaram um ambiente propício para que Haddad confrontasse a narrativa da mídia tradicional. Confira os principais momentos
Por Redação
Na última quinta-feira (12), véspera de Carnaval, o prefeito Fernando Haddad (PT) concedeu uma entrevista à rádio Jovem Pan que, no mínimo, deixou os entrevistadores incomodados. Ofuscado por conta do feriado, o “bate-papo”, que mais pareceu um interrogatório da oposição, se transformou em um ambiente perfeito para que o petista se saísse por cima e colocasse os jornalistas – no caso, Rachel Sheherazade, Marco Antonio Villa e Joseval Peixoto – expostos ao ridículo.
Com ironias que beiravam o desrespeito e uma clara falta de conhecimento acerca dos temas tratados, Villa, Sheherazade e Peixoto ficaram um tanto quanto irritados, principalmente diante da tranquilidade que o prefeito passava ao longo das respostas. “O senhor nos convenceu de que é um bom debatedor”, disse Joseval ao final da entrevista de mais de uma hora e meia de “sangria” do prefeito.
Para ilustrar o que foi a entrevista, selecionamos cinco momentos, entre outros inúmeros, em que Haddad buscou desconstruir os ataques dos jornalistas, que acabaram se portando mais como candidatos da oposição em um debate de campanha eleitoral.
1º. Tempo até o trabalho: Barueri não é São Paulo, Sheherazade 
Logo no início da entrevista, Rachel Sheherazade comenta com Joseval Peixoto o quanto demorou para chegar ao trabalho naquela manhã. A jornalista reclamava que, por conta do trânsito, havia levado quase duas horas para chegar da sua casa em Barueri até os estúdios da Jovem Pan, na avenida Paulista.
“Aproveitando que o prefeito tá aqui: onde eu morava não tinha esse trânsito”, provocou a folclórica apresentadora do SBT, ressaltando que normalmente levava uma hora para chegar ao trabalho e que, naquela manhã, um acidente teria provocado um trânsito maior.
“Você vem de Barueri? Uma hora até aqui é razoável, não?”, respondeu prontamente o prefeito, lembrando que Barueri já é uma outra cidade e que a locomoção até a capital passa por rodovias que não são de competência da prefeitura. “Tem que mudar pra cá. Aqui se vive bem, posso garantir”, completou.
2º. Rejeição: “Você está errado” 
Logo na primeira pergunta, Villa vai à lona na tentativa de nocautear Haddad. Sem se basear em nenhum dado concreto, o jornalista, que também é historiador, afirmou que a alta taxa de rejeição do prefeito é algo inédito e questionou o que estava errado: os eleitores ou a sua gestão. Haddad respondeu: “Você”.
“Quem? Os eleitores”, disfarçou o entrevistador. “Não. Você está errado”, insistiu Haddad, brincando ainda com o fato de Villa ser historiador e não ter consultado dados das gestões anteriores. Tanto Kassab quanto Marta Suplicy, que antecederam o petista na prefeitura, apresentaram taxas de rejeição igual ou superiores à do atual prefeito com o mesmo tempo de governo.
3º. Ciclovias, sempre as ciclovias 
Ainda que aprovadas pela maior parte da população, Villa resolveu atacar as ciclovias implantadas pelo prefeito e, pelo tom da pergunta e pela maneira como conduziu esse tópico, chegou a ser ironizado pelo prefeito.
Com frases como “Tem mais gente andando no deserto do Saara do que nas ciclovias”, “prejudicou todo mundo” e “O carro está sendo tirado da vida das pessoas”, o historiador pareceu apenas reproduzir os argumentos daqueles que perderam suas vagas de estacionamento para as bikes. Haddad não perdoou e foi enfático.
“Você quer mesmo que eu responda?”, brincou o prefeito, que seguiu dando uma aula de como todas as grandes metrópoles do mundo estão se mobilizando, já há anos, para implantar o transporte individual não motorizado como modal de expressão. “O futuro do transporte público é ciclovia, isso no mundo inteiro”.
Não satisfeito, Villas seguiu com ataques e gafes, como quando, para justificar seu argumento de que a capital era muito acidentada para bicicletas, citou, de maneira infeliz, a cidade de Campos do Jordão. “E se o senhor fosse prefeito de Campos de Campos do Jordão? O senhor faria ciclovias?”, questionou, ao que Haddad respondeu de maneira simples. “Eu estou falando de megalópoles”.
4º. Matéria mentirosa serve de base para pergunta 
Depois de demonstrar irritação entre uma pergunta e outra, Villa passou a bola para Sheherazade, que foi pouco feliz ao fazer um questionamento baseado em uma matéria da Veja São Paulo. No último final de semana antes do carnaval, a revista publicou uma matéria de capa em que acusava a prefeitura de um suposto superfaturamento na construção das ciclovias.
O caso, no entanto, foi desmentido poucos dias depois pela prefeitura, mas a jornalista insistiu com a questão.
“Me desculpe ser tão sincero: mas a Veja errou e errou feio”, disse Haddad, explicando que, ao contrário do que a publicação afirmou, foram construídos 156 km de ciclovias a um custo médio de R$180 mil por quilômetro. “Está tudo planilhado e disponível para quem quiser ver”, assegurou, esclarecendo que o que a revista fez, na verdade, foi pegar uma obra de intervenção urbana na Faria Lima – que inclui uma ciclovia – somar e dividir pelo número de quilômetros.
“O senhor tem medo de uma CPI?”, insistiu Sheherazade. “Que CPI, o que! Eu não temo nada. Criei uma controladoria geral do município que já botou muito corrupto na cadeia. Eu desbaratei a maior quadrilha de corrupção da história de São Paulo: a máfia do ISS”, lembrou.
5º. A gafe do Plano Diretor: “Ah, foi o senhor?”
No final da entrevista Villa foi além e mostrou, se não for falta de conhecimento, ao menos confusão ao falar sobre o Plano Diretor.
Em um determinado momento, Haddad falava sobre sua amizade com Gabriel Chalita (PMDB) e sobre as alianças com partidos opositores, como o PSDB, que era o partido anterior de Chalita. Quando citou o que considera picuinhas de oposição, como quando o PSDB se colocou contra o Plano Diretor que a prefeitura conseguiu aprovar no ano passado, Villa escorregou e resumiu bem como foi toda a entrevista.
“Aprovou agora um Plano Diretor na Câmara. Você vai vetar?”
“Mas fui eu quem mandei para a Câmara”, afirmou o prefeito.
“Ah, foi?”, confundiu-se o jornalista.
“Aprovou em julho do ano passado”, sepultou Haddad.