pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: junho 2014
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domingo, 29 de junho de 2014

Mais de 25 mil pessoas na festa da convenção da coligação "Pernambuco Via Mais Longe".

Mais de 25 mil pessoas na festa da convenção da coligação “Pernambuco Vai Mais Longe"

Mais de 25 mil pessoas acompanham, neste momento, a festa da convenção da coligação "Pernambuco Vai Mais Longe", na casa de eventos Palladium, em Caruaru. Os candidatos Armando Monteiro (PTB), a governador, Paulo Rubem Santiago (PDT), como vice-governador, e João Paulo (PT), ao Senado, terão suas candidaturas homologadas neste domingo (29).

A chagada dos candidatos ao palco da convenção foi embalada pelos jingles de campanha de Armando Monteiro e João Paulo, que ressaltam a ligação e a preocupação dos candidatos com o povo pernambucano. A festa da convenção está reunindo diversas lideranças políticas e vários candidatos a deputado estadual e federal. A militância empunha várias bandeiras.

Crédito da foto: Alexandre Albuquerque/Divulgação

Eduardo Campos, mais um caçador de marajás?

Durante a convenção partidária que homologou a sua candidatura ao Palácio do Planalto, nas eleições presidenciais de 2014, o ex-governador Eduardo Campos voltou a falar que irá varrer a corrupção do país. Sabe o ex-governador que o problema da corrupção no país é histórico, cultural e não será resolvido com bravatas ou decretos. Embora isso produza consequências sociais danosas, a cultura do "jeitinho" e da "malandragem" está imbricada em nossa sociedade, em todos os estratos sociais. Prática condenável, execrável, mas imbricada na conduta do brasileiro, embora não possamos fazer aqui generalizações do tipo: todo brasileiro é corrupto. Em certo sentido, é um problema mais ético do que econômico. Extinguir a corrupção no país seria um propósito dos mais elevados e louváveis. O FUNDEB, por exemplo, que destina recursos públicos para o ensino básico, é a rubrica mais visada pelas quadrilhas especializadas em desvios de recursos públicos. Uma das consequências imediatas, naturalmente, está relacionada à precariedade de funcionamento dos estabelecimentos de ensino, uma das variáveis que, certamente, jogam para baixo nossos índices de desempenho em educação. Por outro lado, o Estado de Pernambuco não é um grande exemplo de lisura na condução da coisa pública. Aqui na província, tando no Executivo Estadual quanto no Municipal, pipocaram inúmeros casos de corrupção na máquina pública. Num imaginário ranking de Estados com os maiores índices de casos de corrupção do país, certamente, não faríamos feio.Confesso que gostaria muito de saber qual é a estratégia que orienta essas posturas do ex-governador e candidato à Presidência da República. Transformá-lo num novo Collor? Jovem, nordestino, de discurso fácil, paladino da moral e dos bons costumes?Não sei. Seja lá o que está por trás disso, o fato é que os resultados não estão aparecendo nas pesquisas de intenções de voto, onde o candidato continua patinando. O discurso do candidato é orientado, desde 2006, através de pesquisas qualitativas realizadas pelos seus assessores. A indignação do brasileiro com a corrupção não é algo novo, assim como o PT não a inventou. Muito menos pôde acabar com ela, entranhada na máquina pública desde a colônia, inaugurada, quiçá, com a Carta de Pero Vaz, onde ele já aproveitava para pedir um emprego para o sobrinho, numa espécie de nepotismo com muitos significados, que iam muito além de um simples emprego. No seu bojo, um familismo amoral, o tráfico de influência, o não estabelecimento de fronteiras entre o público e o privado, além de outras mazelas quem nos acompanham até hoje. Impingir à coalizão petista esse problema é um grave equívoco, embora reconheça que os acordos fechados para permitir o Lula chegar lá, o tolheram de agir com maior rigor no combate a esses desvios de conduta. Vou ser mais sincero. Além de não coadunar com essa bandalheira, a presidente Dilma Rousseff tem sido uma gestora mais rigorosa no combate à corrupção, o que minimiza ainda mais os possíveis efeitos do discurso "moralista" do candidato Eduardo Campos. A julgar pelo seus discurso na Convenção Estadual do PSB, o que ele pretende mesmo é atingir Dilma. É um tiro que vem saindo pela culatra, quando se abre a caixa-preta do seu Governo. O mais espantoso é que sua assessoria parece não ter calculado corretamente essa estratégia equivocada de apresentar o candidato como um "paladino da justiça", um novo caçador de marajás. Talvez não seja essa a intenção, mais é isso que vem ocorrendo. A comparação seria inevitável. Outro dia li com bastante atenção um artigo onde o autor falava desse desencontro no sentido de construção de um discurso para o candidato. Ás vezes, como parece ser este o caso, não há jeito. Foi assim nas duas eleições em que Lula foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso. Foi assim quando Serra enfrentou Lula. Quando esteve me Pernambuco, por exemplo, o tucano chegou a elogiar Lula, mesmo na condição de candidato de oposição. Agora é a vez de Eduardo e Aécio malharem em ferro frio. 

Promessas: imagina na campanha eleitoral !!!


 

Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Em Pernambuco, terra do “caçador de raposas políticas” – o ex-governador e candidato a presidente da Republica pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos – a disputa eleitoral tem como marca o “racha” no aglomerado de partidos políticos denominado Frente Popular, que garantiu sua base de apoio durante os dois mandatos consecutivos, de 2006 a 2014.

Com o rompimento, a polarização promete ser acirrada com o outro candidato, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Armando Monteiro, ex-presidente da Federação da Industria do Estado de Pernambuco (FIEPE) e da Confederação Nacional da Industria (CNI) e senador eleito por uma outrora e agora dividida Frente Popular, que está sendo apoiado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), ambos ex-associados da Frente.

O ex-governador Campos escolheu, como candidato, alguém de dentro da sua “entourage familiar”, o que demonstra seu interesse de criar um grupo serviçal e de irrestrita confiança, para atender a seus interesses políticos. O ungido, Paulo Câmara, foi seu ex-secretário (Administração, Turismo e Fazenda) nos dois mandatos.

Nestes dois últimos meses (maio-junho) de campanha eleitoral não autorizada, o que surpreendeu e me chamou a atenção, a ponto de escrever este artigo, foi a desenvoltura do candidato governista como criador de ilusões, devida ao número de promessas feitas em tão pouco tempo. Imaginem o que não fará até as eleições!!!.

Muito pouco é questionado sobre o por que, como membro do governo nos últimos oito anos, não fez o que agora promete na campanha eleitoral. Parece a todos que guardou para as eleições a promessa de atendimento às demandas da população, às quais não apoiou enquanto esteve no governo.  Por que agora se deve acreditar que irá cumpri-las caso eleito?

Para cada região, para cada município, para cada grupo político que coopta, ele oferece um pacote de bondades disfarçado em promessas. É triste ver o toma lá dá cá fisiológico como moeda corrente da política brasileira. No vale-tudo, onde o objetivo principal é a conquista do poder, tudo é permitido. Relato a seguir algumas das pródigas promessas feitas pelo candidato Câmara em poucos dias de campanha não oficial, já que esta somente começará a partir de 6 de julho.

1) Reunido com produtores de caprinos e ovinos da cidade de Parnamirim, Sertão do Estado (23 de maio), prometeu fortalecer o setor pecuário do município incluindo carne na merenda escolar. Afirmou que aumentará para três vezes por semana o número de fornecimento de carne. Somente agora! Porque não quando estava no governo? Disse ainda que analisará, junto com sua equipe, a implantação de uma escola técnica no município.

2) No documento em que constam às diretrizes para o seu programa de governo na área de Saúde (27 de maio), prevê investimentos de R$ 478 milhões no setor. Inclui a construção de três novos hospitais: o Hospital Geral de Cirurgia, no Grande Recife; o Hospital Geral do Sertão (HGS), em Serra Talhada; e o Hospital da Mulher do São Francisco, em Petrolina. Também se compromete a tirar do papel o projeto do Hospital Regional Mestre Dominguinhos, em Garanhuns, o que já havia sido prometido pelo governo anterior. Além disso, prometeu transformar o Hospital Professor Agamenon Magalhães, em Serra Talhada, no Hospital da Mulher do Sertão. No Recife, o Hospital Geral de Areias viraria o novo Hospital do Idoso. Sem contar com a construção de seis novas Unidades de Pronto-Atendimentos (UPA´s), estas que, depois de construídas com dinheiro público, serão entregues, como as UPA´s anteriores, sem qualquer custo, à iniciativa privada.

3) Em sua viagem pelo Sertão do São Francisco, em Cabrobó (30 de maio), o candidato assumiu o compromisso de pavimentar a chamada Estrada da Cebola, que liga aquela cidade a Terra Nova. Garantiu ainda que será a primeira estrada a ser pavimentada, caso eleito. Também prometeu transformar duas escolas municipais em estabelecimentos de referência. Além de se empenhar para levar uma extensão da Universidade de Pernambuco (UPE) para o município e viabilizar a construção de uma escola técnica local. A bem da verdade, o Conselho Universitário da Universidade de Pernambuco (UPE) já decidiu que não vai abrir novos cursos e campus no próximo ano, por falta de professores, servidores e de investimentos em infraestrutura deficientes (laboratórios, bibliotecas, etc.).

4) Em Petrolina (31 de maio), reforçou a promessa de criação do Hospital da Mulher do São Francisco, que consta nas diretrizes para a Saúde apresentadas no dia 27 de maio. Com um investimento de R$ 84 milhões, contaria (segundo a assessoria de comunicação do candidato), com 110 leitos, e uma capacidade projetada de realizar 2,8 mil atendimentos de urgência por mês, 10 mil exames de imagem e 26 mil consultas. A proposta é realmente importante para a região, todavia o hospital e os equipamentos somente funcionam com pessoas qualificadas e motivadas. Hoje os hospitais existentes carecem de infraestrutura, manutenção e pessoal. Por que não se projeta melhoria também para esses hospitais? Será que somente novas construções atraem o voto do eleitor?


5) Durante visitas pelo Agreste Meridional, em Garanhuns (7 de junho), prometeu construir ainda um outro hospital para atender pacientes da região, o Mestre Dominguinhos, assegurando que o equipamento atenderá à demanda de alta complexidade existente na região. Além de “assegurar ações com o programa Doutor Chegou, com mutirões de cirurgias, consultas e exames; Medicamento em Casa; e a ampliação do Pernambuco Conduz, humanizando e aproximando o serviço de saúde para quem mais precisa, especialmente no interior”, conforme suas palavras. Prometeu que irá levar para o interior a qualidade que o serviço de saúde tem na Região Metropolitana do Recife (sic!). Saúde é apontada pela população com um dos maiores problemas.

6) No município de Calçado (8 de junho), no Agreste Meridional, assumiu o compromisso de, quando (se) eleito, uma de suas primeiras ações será a implantação da adutora que levará água da barragem Pau Ferro à cidade, assim como ás vizinhas Jupi e Jucati. Garantiu que esta obra será (também) uma das primeiras coisas que irá fazer em 2015.

7) No município de Arcoverde (18 de junho), prometeu a duplicação da rodovia federal BR 232 de Caruaru a até aquele município (100 km). Talvez tenha “outra Celpe” para vender, e assim levantar recursos para cumprir sua promessa.

8) Em Glória do Goitá (20 de junho), comprometeu-se a investir para ampliar o desenvolvimento da cidade. Garantiu vagas para todos os alunos que quiserem estudar em escolas de tempo integral e em escolas técnicas. Também prometeu que levará a sua equipe a proposta de construir uma segunda escola de referência, a pavimentação da PE-50 e a ampliação do hospital municipal.

9) Em viagem á região Agreste (21 de junho), passando por quatro cidades, garantiu que, se eleito, fará o recapeamento da estrada entre Serra da Capoeira e Machados, além de viabilizar a duplicação da PE-90, rodovia que liga Limoeiro a Toritama. Não se pode esquecer o Plano de Infraestrutura Rodoviária de Pernambuco – Caminhos da Integração, anunciado em setembro de 2011, que previa investimentos de R$ 1,98 bilhões em 73 rodovias do estado. O projeto visava obras de restauro, implantação, requalificação e duplicação de 1.973 km de rodovias em Pernambuco. Frustrou muitos municípios. Mas agora as promessas voltam, “requentadas”.


10) Na cidade de Vertentes (22 de junho), integrante do pólo de jeans do estado, que também inclui os municípios de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, afirmou que isentará do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) as lavanderias de jeans. Diminuir impostos é uma promessa recorrente entre candidatos. E por que não o fez como secretario da Fazenda?  Naquela região não se pode ainda esquecer o grave problema ambiental causado por estas industrias, cuja solução caminha a “passos de tartaruga”.


Paulo Câmara segue o figurino de seu criador e mentor, hoje candidato à presidência da Republica, que percorre o Brasil afora prometendo ações e realizações, mostrando Pernambuco como exemplo de sua “gestão moderna e eficiente”.


Esta tecla repetida insistentemente, de que Pernambuco difere do governo federal e de outros estados da federação na área da gestão, é uma falácia. De que, aqui, os “meninos de ouro” comandados pelo candidato Campos têm “capacidade de tirar do papel e transformar em realidade” e que “o modelo de gestão prima pela meritocracia, com indicações de pessoas técnicas para cargos públicos chaves e valorização do serviço público com metas e cobranças”, conforme o candidato Câmara mais uma vez repetiu na sabatina promovida pela TV Jornal (29 de maio). Basta um mínimo de seriedade e honestidade para comprovar como o governo de Pernambuco não difere administrativamente em nada de outros estados do país e do governo federal. Como exemplo recente, citemos as obras prometidas para antes da Copa e que não foram entregues.

Como visto, promessas não faltam, e não faltarão, até o dia da eleição. Câmara já fez três grandes promessas em poucos dias, além de várias outras acima relatadas: duplicar uma estrada federal, a BR-232, de São Caetano até Arcoverde (100 km), instituir o bilhete único na área metropolitana e construir três novos hospitais regionais e seis UPA´s.

Candidatos com o texto do seu marqueteiro prometem resolver todos os problemas. O eleitor acredita, vota e desanima, ao ver que foi enganado. Não devemos esquecer que somos nós, os eleitores, que escolhemos aqueles que irão nos governar. Portanto, “olho neles”. Cabe ao eleitor/cidadão valorizar seu voto, não se deixando iludir com candidaturas que vendem ilusões.




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Júlio Cesar, o herói devolvido.

29 de junho de 2014 | 04:15 Autor: Miguel do Rosário

Brasil Chile  Mineirão 005
O título é o mesmo de um livro de Marcelo Mirisola. Sempre achei um belo título, por se tratar de uma expressão exótica, dessas que, aparentemente, nunca usaremos numa situação normal.
Mas eis que, finalmente, encontro oportunidade de usá-la.
Faço-o neste brevíssimo prefácio para um texto de Mario Magalhães, que esteve no jogo de Brasil e Chile, e produziu comentários argutos sobre tática de jogo, o nervosismo dos atletas, e a homogeneidade racial da torcida. 
E, especialmente, sobre o heroi da partida.
O texto de Magalhães me inspirou até um haikai:
Julio Cesar, querido.
Nosso heroi, enfim,
devolvido.
*
Meninos, eu vi: aqui no Mineirão, um povo anistiou seu herói
Por Mário Magalhães, em seu blog.
Em meio a hits do Skank e do Michael Jackson, e antes de os alto-falantes tocarem aquela música do filme ‘Meu Malvado Favorito 2′, o Mineirão ouviu a voz de Lulu Santos cantando “Assim Caminha a Humanidade”.
As caixas ecoaram:
Ainda vai levar um tempo
Pra fechar o que feriu por dentro
Natural que seja assim
Tanto pra você
Quanto pra mim.
Eram 11h, e a delegação brasileira só chegaria ao estádio meia hora mais tarde.
Portanto, Júlio César não ouviu a linda canção de Lulu.
O goleiro fora demonizado na Copa de 2010 com um dos malvados (não) favoritos da torcida nacional, atrás somente de Felipe Melo, o vilão tresloucado.
Poucos se lembraram de que Júlio não falhou sozinho no gol fatal holandês. Ele caiu em depressão, os clubes europeus o desprezaram, e a antiga revelação rubro-negra acabou num time canadense. Para a Copa em casa, Felipão e Parreira apostaram nele.
Às 12h11, quando Júlio César e seus companheiros de posição desgraçada, os que batalham “onde a grama não cresce”, entraram em campo para se aquecer, provavelmente ele não avistou um cartaz entre os poucos milhares de torcedores chilenos aqui: “Mineirazo: Hoy hacemos historia”.
Se a equipe de Alexis Sánchez fizesse história eliminando o Brasil, sucumbiria o sonho de Júlio César de dar a volta por cima.
Os três goleiros foram saudados pelo público: “O campeão voltou, o campeão voltou…”.
Alguns poucos torcedores do Atlético tentaram puxar o coro: “Puta que pariu, é o melhor goleiro do Brasil: Vítor!”.
Sendo ou não, o coro em prol do reserva da seleção não pegou.
O goleiro chileno Bravo pisou no gramado às 12h16 e saudou seus compatriotas nas arquibancadas.
Com exercícios na grande área que aparece à esquerda na transmissão da TV, os brasileiros aceleravam. Então, às 12h23, eles pararam.
Graças ao convite de um amigo generoso, eu estava na terceira fila grudada ao campo, na altura da marca do pênalti e no lado oposto ao dos bancos de suplentes. Tuitei em menos de 140 toques o que acabara de ver:
“Em tuas mãos: no aquecimento, Vítor se aproxima de Júlio César e lhe conta, apontando com um dedo, os segredos do gramado do Mineirão”.
Quando o telão e o locutor anunciaram as escalações, o brasileiro mais aplaudido foi Neymar. Em seguida, na escala de decibéis, equivaleram-se David Luiz, Fernandinho e Fred. Foi pelo menos o que eu ouvi.
Felipão, que afiançara o desacreditado Júlio César, foi muito aplaudido. Certamente, não por esse motivo.
Com o sol da uma da tarde, o prejuízo inicial foi do arqueiro do Brasil, virado para a luz mais intensa e cegante.
Pouco depois de David Luiz abrir o placar, aos 17 min, Bravo reuniu seus companheiros. Conferenciou, orientou, motivou.
O chileno se preparava para bater os tiros-de-meta, e uma parcela da torcida mostrava que aprendeu a provocação trazida pelos mexicanos, brindando-o com um sonoro “puto!”.
No empate chileno, aos 31 min, o gol de Sánchez foi rebatido com gritos de “Brasil!”.
Breves, como quase sempre, com uma audiência sem calça puída de frequentar os velhos estádios de futebol _ou, vá lá, as novas arenas.
Logo escutei um resmungo de um espectador contra Júlio César.
No intervalo, como antes do jogo, o gramado foi regado. É ótimo para a bola correr. Mas não sei se os goleiros aprovam a medida ou a julgam temerária.
Como eu não paro de fazer anotações, mais por vício que por virtude, dois sujeitos com a camisa do Brasil me peitaram, indagando se sou olheiro. Queriam dizer espião de outra seleção. Não respondi, e eles deram de ombros: “Se fosse, a gente ia rasgar tudo”.
Uma das poucas desvantagens de ver futebol no estádio ocorre em momentos como o dos 9 min do segundo tempo. O árbitro Howard Webb anulou um gol de Hulk, e eu não soube se o inglês acertou ou nos garfou.
Lance controverso, o telão não o repetiu.
O bis só é exibido quando serve para referendar o árbitro, como no gol legal de David Luiz.
Não demoraria para o meu pai telefonar e chamar o juiz de “um tremendo sem-vergonha”.
Uma filha também ligou, porém disse ter ficado na dúvida.
Sim, amigos, o celular, incluindo o 3G, funcionou muito bem. Num estádio belíssimo, de assombrar a quem, como eu, já cobriu confronto de Copa em cancha com dimensões fora das especificações da Fifa (nos Estados Unidos, em 1994).
Bola que rola.
Sem mais nem menos, um menino de uns dez anos, bem na fila de trás, explicou para o pai por que Júlio César é “ruim”: joga no Toronto.
Ele não aprendeu sozinho. Há quatro anos o Brasil malha o jogador que viveu seu auge vestindo luvas na Internazionale de Milão.
Aos 18 min da segunda etapa, o camisa 12 salvou, e o Mineirão se curvou: “É… Júlio César! É… Júlio César!”.
A trilha sonora era só a do futebol, mas foi como se continuasse a canção de Lulu:
Ainda leva uma cara
Pra gente poder dar risada.
O tempo regulamentar acabou, e os torcedores chilenos gastaram o gogó, sobrepujando os brasileiros, mais quietos.
O contra-ataque, uma vez mais, foi com o “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor…”.
Parece ladainha de procissão, e não grito de guerra.
O estádio ficou de pé ao cantar novamente o hino nacional, e principiou a prorrogação.
“Sai do chão, sai do chão, quem é pentacampeão”, berraram milhares de torcedores, sem contagiar a maioria, que permaneceu inerte.
A despeito da combatividade maior dos visitantes, eles estavam em franca minoria entre os 57.714 presentes. Foram sufocados pela massa brasileira.
Um antropólogo se divertiria no Mineirão. Todo mundo já sabe, mas a impressão é de estarmos numa festa da corte nos tempos da escravidão: quase só aparecem convidados de pele clara. Testemunhei raros negros na plateia.
No Brasil do ex-esporte bretão, o lugar de negros e mestiços é como jogador e massagista, e não com ingressos da Copa de 2014.
Daniel Alves errava e se escondia. Marcelo errava, mas chamava o jogo. Quase ao nível do campo, eu não acreditava na impulsão de Medel, zagueiro-mola, um nanico que ganhava as bolas no alto. E contemplava a ousadia de quem cultiva a bola no pé, como os chilenos. Torcia para Neymar resolver na frente e Júlio César nos salvar atrás.
Duas filas à minha frente, um cidadão na cadeira destinada a deficientes pulava e caminhava sem nenhum constrangimento físico.
O futebol, de fato, obra milagres.
No último lance do primeiro tempo da prorrogação, Alexis Sánchez chutou para fora, e um cidadão surtou:
“Esse goleiro é vagabundo!”.
Referia-se, nonsense, a Júlio César.
Mudança de lado e, aos 5 min, o estádio vociferou “Eu acredito!”.
Novos tempos do futebol, com menos palavrões. Clima de vôlei, não de várzea.
No finalzinho, bola no travessão de Júlio.
Não entrou, e os brasileiros se uniram numa prece:
“É… Júlio César! É… Júlio César!”.
Vieram os pênaltis, e todo mundo já sabe: Brasil 3 a 2, com duas defesas do goleiro canarinho.
Assim é o futebol: jogo tecnicamente mais ou menos, uma seleção sem brilho, Neymar solitário, mas um épico de maltratar os corações cá nas Minas Gerais.
Na terra onde jogam ou jogaram Fred, Jô e Bernard, a torcida gritou o nome de Júlio César.
Olhei para trás e reconheci o menino, ao lado do pai.
Com carinho, disse-lhe: “O Júlio César joga no Toronto, mas é fera”.
O garoto, simpático, prosseguiu sorrindo.
Com a prece transformada em ovação, o estádio tremia _no espírito, e não no concreto: “É Júlio César!”.
O herói acenava, mas a multidão não o deixava partir.
O público branco do Mineirão não tem a cara mestiça brasileira, mas hoje falou por um povo. Quatro anos depois, Júlio César foi anistiado.
Ele teve tempo para isso. Barbosa, bode expiatório da derrota de 1950, não ganhou a chance da Copa redentora.
Ao contrário da música de Lulu Santos, a história de Júlio César teve _até agora_ final feliz.
Olhei para o campo, e ele ainda estava lá.
Enchi o peito e me pus a aclamá-lo: “Bravo! Bravo! Bravo!”.
Mais longe, o chileno Bravo acenava para seus conterrâneos.
Bravo jogou muito bem, mas hoje seu nome cairia melhor no oponente.

(Publicado originalmente no site Tijolaço)

sábado, 28 de junho de 2014

Os Sarney deixam a vida pública. Já vão tarde. Não deixarão saudades.

Depois do velho morubixaba, agora foi a vez de Roseana Sarney, governadora do Estado do Maranhão, anunciar que deverá deixar a vida pública de onde, aliás, eles nunca deveriam ter entrado. O fato é que o clã enfrenta uma grave crise de renovação naquele Estado. Pela primeira vez, em mais de 50 anos, eles podem perder a hegemonia do controle político. A correlação de forças políticas hoje em jogo levanta concretamente a possibilidade de um êxito dos grupos que fazem oposição ao clã. A rigor, além de Roseana, não há outros herdeiros do mesmo sangue. Zequinha Sarney, por razões conhecidas, não entra nessa galeria. Desta vez, nas próximas eleições, devem disputar o Governo do Estado com um tal de "Lobinho", filho de Edson Lobão, Ministro das Minas e Energias, fiel escudeiro da família. Mais uma oligarquia que deve cair de podre. O Maranhão é um dos Estados mais fragilizados socialmente da Federação. 50 anos de domínio político do grupo não foram suficientes para reverter esse quadro. Aliás, o propósito nunca foi esse. Espírito público, naquela concepção republicana de servir ao público, não entre no receituário político dos Sarney. Interessa apenas o pleno exercício do poder político, aliado à liturgia e às benesses inerentes. Montaram uma engenharia de poder quase inabalável, com influência em diversas instituições, além do controle da informação, posto que possuem concessões de rádio, TV e jornais. Um poder sem limites, perceptível em cada esquina das ruas daquele Estado. Por uma dessas ironias do destino, foi justamente o PT quem permitiu uma sobrevida ao grupo liderado por José Sarney. Vamos ver como as coisas se arranjam nessas eleições. Seria de bom alvitre que o clã fosse apeado da vida política daquele Estado. A res publica agradeceria. Já vão tarde. Não deixarão saudades.

O legado de Michel Foucault

O legado de Michel Foucault

Por Revista Fórumjunho 26, 2014 12:26
O legado de Michel Foucault

Há trinta anos, morria filósofo-ativista que recusou papel de líder, mas estimulou a transgredir “verdades” fabricadas e eternizadas pelo poder
Por Bruno Lorenzatto, do Outras Palavras 
“Mostrar às pessoas que elas são muito mais livres do que pensam, que elas tomam por verdadeiro, por evidentes, certos temas fabricados em um momento particular da história, e que essa pretensa evidência pode ser criticada e destruída.”
(Michel Foucault)
Há trinta anos, em junho de 1984, morria em Paris Michel Foucault. Um pensador do século XX que inventou certo modo radical de pensar, que atravessa este início de século: suas reflexões permanecem fundamentais para os movimentos de contestação política e social; para todos aqueles que desejam “saber como e até onde seria possível pensar de modo diferente”.
Foucault participou teórica e praticamente dos movimento sociais que poderíamos chamar de vanguarda de seu tempo, sobretudo durante as décadas de sessenta e setenta: a luta antimanicomial (sua experiência num hospital psiquiátrico foi uma das motivações que o levou a escrever História da Loucura); as revoltas nos presídios franceses (junto com Gilles Deleuze criou o GIP – Grupo de Informação sobre as Prisões, que buscava dar voz aos presos e às outras pessoas diretamente envolvidas no sistema prisional; com base nessa experiência escreveu Vigiar e Punir); o movimento gay (uma das motivações para sua História da Sexualidade).
O pensador francês também escreveu artigos para jornais e revistas no calor da hora sobre acontecimentos importantes, deu conferências e entrevistas em diversos países, inclusive no Brasil. Contrapunha seu papel de intelectual ao “intelectual universal”, isto é, uma espécie de líder que pensa pelas massas e as dirige para a “verdadeira” luta. O filósofo via a si mesmo como um “intelectual específico”, aquele que em domínios precisos contribui para determinadas lutas em curso no presente. Parafraseando Deleuze, Foucault foi o primeiro a ensinar a indignidade de falar pelos outros.
Ele dizia que suas pesquisas nasciam de problemas que o inquietavam na atualidade: evidências que poderiam ser destruídas se soubéssemos como foram produzidas historicamente; por isso fez da ontologia (o estudo do ser, um modo de reflexão geralmente desligado da realidade histórica, uma vez que busca princípios – as ideias, para Platão; o cogito, para Descartes; o sujeito transcendental, para Kant – que antecedem e, por assim dizer, fundam a história) uma reflexão em cujo cerne está o presente e, portanto, a investigação histórica.
Através de estudos transdisciplinares (e não entre disciplinas, pois trata-se de colocar em questão os limites entre elas), Foucault deu forma a uma crítica filosófica que recorre sobretudo à pesquisa histórica, para questionar as maneiras pelas quais certas verdades e seus efeitos práticos vieram a se formar e se estabelecer no presente.
Questionava assim os sistemas de exclusão criados pelo Ocidende quando do início da época moderna (na cronologia de Foucault, desde fins do século XVIII):
- o saber médico e psiquiátrico – a patologização e a medicalização como formas modernas de dominação sobre seres economica e socialmente inconvenientes, os loucos;
- o nascimento das ciências humanas e da filosofia moderna como saberes que atestam a invenção do conceito de homem, transformando o ser humano, ao mesmo tempo, em sujeito do conhecimento e objeto de saber: o grande dogma da modernidade filosófica;
- a prisão e outras instituições de confinamento (tais como a escola, a fábrica, o quartel) não como um avanço nos sentimentos morais e humanitários, mas como mudança de estratégia do poder, que visa o disciplinamento e a docilização dos corpos;
- a sexualidade como dispositivo histórico de objetivação (o indivíduo como objeto de saber e ponto de aplicação de disciplinas) e subjetivação (o modo segundo o qual o sujeito se reconhece enquanto tal) do corpo, através dos quais se implica uma verdade essencial do homem. Não deixa de ser notável o fato de o Ocidente ter inventado um ritual singular segundo o qual algumas pessoas alugam os ouvidos de outras (os psicanalistas) para falarem de seu sexo.
Às suas pesquisas, ele chamou ontologias do presente: um modo de reflexão, segundo Foucault iniciado por Kant, em que está em jogo o vínculo entre filosofia, história e atualidade. A tarefa de pensar o hoje como diferença na história. Mas se a questão para Kant era a de saber quais limites o conhecimento deve respeitar (os limites da razão), em Foucault a questão se converte no problema de saber quais limites podemos questionar e transgredir na atualidade, isto é, “dizer o que existe, fazendo-o aparecer como podendo não ser como ele é” (2008, p. 325).
Nesse sentido, o filósofo procurava dar visibilidade às partes ocultas que formam o presente e os fragmentos de narrativas que nos constituem lá mesmo onde não há mais identidade, onde o “eu” se encontra fracionado pela história plural que o engendrou. De modo que esse questionamento histórico-filosófico não nos conduz à reafirmação de nossas certezas, de nossas instituições e sistemas, mas ao afastamento crítico dessas instâncias e de si próprio como exercício ético e político. Como indica Deleuze (1992, p. 119): “a história, segundo Foucault, nos cerca e nos delimita; não diz o que somos, mas aquilo de que estamos em vias de diferir; não estabelece nossa identidade, mas a dissipa em proveito do outro que somos”.
A história (não a narrativa histórica ou a escrita da história, mas as condições de existência dos homens no decorrer do tempo, que lhes escapa à consciência), não é da ordem da necessidade; ela diz respeito à liberdade, à invenção; pertence à ordem mais da casualidade do que da causalidade; é feita mais de rupturas e violência do que de continuidades conciliadoras. Esse modo de conceber a história se opõe à imagem tranquila que a narrativa histórica tradicional criou: a história do homem como a manifestação de um progresso inevitável – o lento processo de realização de uma utopia –, que seria alcançado após o iluminismo pela aplicação dos métodos racionais. Como se a ciência, o pensamento e a vida estivessem continuamente mais próximos de verdades que aos poucos são reveladas como o destino final do homem.
Se os estudos de Foucault mostram que os seres humanos não dominam os acontecimentos que constituem o solo de suas experiências, eles atestam ao mesmo tempo que, no espaço limitado do presente, as pessoas dispõem da possibilidade de questionar o que muitas narrativas apresentam como necessário, assim como as formas de poder e dominação que se pretendem absolutas.
Os procedimentos de Foucault postulam, tal como Nietzsche descobrira no final do século XIX, que é possível fazer uma história de tudo aquilo que nos cerca e nos parece essencial e sem história – os sentimentos, a moral, a verdade etc. Essa descoberta indica que, mesmo esses elementos aparentemente universais ou imunes à passagem do tempo, se dão como contingências históricas, como coisas que foram criadas em um dado momento, em circunstâncias precisas.
Trata-se, assim, para Foucault, de pensar a história de determinadas problematizações: a história de como certas coisas se tornam problemas para o pensamento, dignas de serem pensadas por um ou outro domínio do saber e, através de formas de racionalização específicas, verdades são fabricadas. De maneira que suas pesquisas mostram que nossas evidências são frágeis e nossas verdades, recentes e provisórias.
(Publicado originalmente na Revista Fórum)