pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: novembro 2020
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domingo, 29 de novembro de 2020

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo


 

Mulheres negras na política: celebrar não é baixar a guarda

 

Mulheres negras na política: celebrar não é baixar a guarda
O Mulheres Negras Decidem promove a agenda liderada por mulheres negras na política institucional (Foto: Wendy Andrade)

 

Representatividade na política é um tema que vem ganhando espaço na agenda pública nos últimos anos. O curioso é que para os grupos não representados, como mulheres negras, quilombolas, indígenas, LGBQTI+, isso não é nenhuma novidade. Para refletir sobre isso e sobre o que significou o resultado das urnas no último 15 de novembro é preciso olhar para trás.

Existe o mito de que as mulheres negras não são eleitas porque não se candidatam. Mas, na realidade, dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que o universo de mulheres negras candidatas (16,8%) é muito similar ao de mulheres brancas (16,9%), levando em conta os cargos para as câmaras municipais em 2020.

Em 2016, grandes capitais não tinham nenhuma mulher negra eleita. Naquelas eleições, quando percebemos quem efetivamente se elegeu, tínhamos 8,4% de mulheres brancas e 5% de mulheres negras, 0,1% amarelas e nenhuma indígena (considerando dados de 2016 sobre vereadoras).

Mas em 2021 teremos algumas delas ocupando espaços de tomada de decisão e batalhando por nós: Karen Santos (PSOL), Laura Sito (PT), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Daiana Santos (PCdoB) em Porto Alegre (RS); Dani Portela (PSOL) no Recife, Carol Dartora (PT) em Curitiba, Camila Valadão (PSOL) e Karla Coser (PT) em Vitória, Tainá de Paula (PT) no Rio de Janeiro, Edna Sampaio (PT) em Cuiabá, Vivi Reis  (PSOL) no Pará.

Sabemos que essas eleições foram extremamente desafiadoras por conta do contexto da Covid-19. Falta de recurso, desemprego, isolamento foram barreiras que se acumularam na corrida eleitoral.

Ainda assim, temos aprendizados e experiências graças à sociedade civil. Essas eleições nos revelaram a força da articulação das lideranças. O Movimento Mulheres Negras Decidem, em parceria com o Instituto Marielle Franco, realizou a Pesquisa “Mulheres Negras Decidem – Para Onde Vamos” com 245 mulheres negras em todas as regiões do país. Uma das lições que tiramos dela foi que “só há uma maneira de sairmos da crise sem cometer os mesmos erros do passado, que é construindo caminhos com uma perspectiva negra e coletiva. A resposta para onde vamos pós pandemia virá das mãos das mulheres negras.”

Quando falamos de mulheres negras na política precisamos esclarecer que não se trata de uma atuação específica, que se resume apenas a questões étnicos/raciais. Mulheres negras vivem vidas interseccionais, enfrentando racismo e sexismo, muitas vezes ao lado da pobreza, da transfobia etc. Estamos falando de saber o que significa lutar por sobrevivência – ainda mais com o crescimento da violência política contra mulheres. Tratam-se de pessoas como Carolina Maria de Jesus, que sonhava com um projeto de país. “Comigo o mundo vai modificar-se, não gosto do mundo como ele é.”

 

Mulheres negras são aquelas
que carregam sonhos, legado
e ancestralidade da construção
de um país. Não é algo que
começou agora e nem que
terminará amanhã: é
continuidade. De um país
que é de todas e todos nós.

 

 

Tratar da fome, da falta de acesso à saúde e do desemprego, por exemplo, é combater o racismo, já que a população parda/preta representa mais de 55% dos brasileiros – são problemas atingem muito esse grupo -, mas também é garantir políticas públicas universais.

Dito isso, a resposta que tivemos nas urnas para os desafios das eleições de 2020 só foi possível porque foi construída coletivamente. A incidência com órgãos públicos como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre distribuição proporcional de recursos e tempo de TV e rádio para candidaturas negras foi realizada por um grupo de atores e atrizes do movimento negro (Coalização Negra por DireitosEducafro, Instituto Marielle Franco, Movimento Mulheres Negras Decidem e mais 60 organizações) para garantir uma divisão mais igualitária dos recursos. Em 2018, as mulheres negras receberam apenas 6,7% do dinheiro dos partidos destinados à campanha.

⁣Além disso, houve crescimento e fortalecimento de estratégias de financiamento coletivo e de redes de candidaturas negras. Alcançamos números históricos de visibilidade dessas lideranças, e elegemos nossas candidatas em muitas cidades.

Lélia Gonzalez, que já concorreu a cargos na política institucional, resume bem o que colocamos em prática: “Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual. Por isso mesmo, trazemos conosco a marca da libertação de todos e todas. Portanto, nosso lema deve ser: organização já!”

Sem organização e articulação cada vez mais fortes não avançaremos, pois os desafios ainda são grandes e estruturais. Por exemplo, no estado da Bahia, que tem a maior concentração de pessoas negras no Brasil, a diferença entre o grupo demográfico de mulheres negras na população e sua representação na câmara de vereadores chega a 40%, segundo dados do TSE.

Portanto, celebrar nossas vereadoras negras, quilombolas e LGBTQI+ eleitas é honrar os avanços possíveis que conquistamos por meio do voto de diversos eleitores que acreditam na potência da agenda da equidade e representatividade na política. Não haverá uma construção de democracia justa sem a energia das mulheres negras.

Ao comemorar esse cenário, não estamos deixando de lado a tarefa desafiadora de combater o racismo, o sexismo e toda forma de opressão, especialmente na política. Inclusive, estamos acompanhando nossas representantes para garantir que estejam seguras. Celebrar não é baixar a guarda. O caminho é longo, mas já está sendo iluminado.

Diana Mendes é cofundadora e coordenadora de Monitoramento e Avaliação do Movimento Mulheres Negras Decidem, para fortalecimento de mulheres negras na política. Dedica-se a aprofundar estudos e leituras em indicadores sociais e avaliação

(Publicada originalmente no site da Revista Cult)

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Os vencedores do Jabuti

 



Na noite desta quinta (26), foram divulgados os vencedores do principal prêmio da literatura brasileira. Solo para vialejo, da pernambucana Cida Pedrosa (foto), foi considerado o Livro do Ano de 2020 e também foi o ganhador na categoria Poesia. Pedrosa nasceu em Bodocó, na região do Sertão do Araripe, em Pernambuco, e tem sete livros de poemas publicados, como Claranã (2015) e As filhas de Lilith (2009). Na categoria Romance Literário, o prêmio ficou para Torto arado, de Itamar Vieira Junior; o melhor livro infantil foi considerado Da minha janela, de Otávio Junior; Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro, ganhou na categoria de ciências humanas. 130 anos: em busca da República, organizado por Edmar Bacha, José Murilo de Carvalho, Joaquim Falcão, Marcelo Trindade, Simon Schwartzman e Pedro Malan, foi contemplado com o prêmio na categoria de ciências sociais. André Vallias recebeu o prêmio na categoria de tradução por Bertolt Brecht: poesias, ao verter poemas do dramaturgo do alemão para o portuguêS.


(Publicado originalmente no site do Quatro Cinco Um )

Patativa do Assaré - Episódio Completo

Flaubert e "Salammô": Como a ficção absorve a História



 Nas suas Lições de literatura, Vladimir Nabokov afirma que, sem Gustave Flaubert (1821–1880), a Irlanda não conheceria um James Joyce e a própria França ficaria desprovida de seu Marcel Proust. O autor de Madame Bovary (1857) parece ter chegado a uma nova região possível para o romance e, chegando lá, estabeleceu as regras e alcançou o máximo de suas possibilidades, tudo ao mesmo tempo — algo semelhante ao que fazia Félix Nadar com a fotografia na mesma época.

Logo depois de lançar Bovary, considerada sua obra-prima, Flaubert tomou um rumo que até hoje deixa os leitores intrigados: ele publica Salammbô, um complexo romance histórico sobre Cartago e as Guerras Púnicas, recheado de detalhes pitorescos e cenas exóticas. Uma amostra da excelente tradução de Ivone Benedetti que a Carambaia acaba de publicar: “Com nódoas vermelhas sobre o focinho negro, alguns cães vagavam por ali. O sol a pino esquentava as cabeças descobertas. Um cheiro nauseabundo emanava dos cadáveres mal sepultos; alguns estavam desenterrados até a cintura”.

O ano de lançamento de Salammbô, 1862, é um marco na história da literatura no século XIX: Victor Hugo publica Os miseráveis, Ivan Turguêniev publica Pais e filhos (famoso pela difusão do termo “niilismo”) e Dostoiévski lança Memórias da casa dos mortos, sobre sua experiência traumática na Sibéria. Salammbô exigiu anos de pesquisa maníaca da parte de Flaubert — e o verbo “exigir” é adequado, tendo em vista que para o autor a literatura era, de fato, uma presença tirânica em sua vida, em sua mente. Flaubert passa a estudar minuciosamente arqueologia, tanto as obras clássicas sobre o tema quanto os resultados mais recentes da disciplina então em voga (a Vitória de Samotrácia, por exemplo, célebre escultura hoje no Louvre, foi descoberta em 1863, em Edirne, na Turquia).

De forma deliberada, Flaubert escolhe a primeira Guerra Púnica como tema, bem menos conhecida do que a segunda (célebre por conta de Aníbal e seus elefantes). Dentro desse tema pouco utilizado, Flaubert aproxima ainda mais o foco e escreve sobre uma obscura revolta de mercenários, articulando a narração ao redor de três personagens: a princesa Salammbô, filha do general Amílcar, e Mâthos, o mercenário que se apaixona por ela. Com esse gesto, Flaubert desvia a atenção do leitor da tarefa de se preocupar com a precisão histórica do relato: se você não conhece a Cartago de Amílcar, a Cartago de Flaubert é tudo que você precisa conhecer.

A princesa, contudo, não é apenas uma figura de mediação entre os dois lados da batalha, representados pelo general Amílcar (o poder estabelecido) e o mercenário Mâthos (a “nova política”). Com Salammbô, a mulher, Flaubert joga com os limites do visível e do invisível, do sacro e do profano; cada aparição sua é tão enigmática quanto rica em detalhes, levando a narração adiante e também contribuindo para a sensação de um tempo suspenso, mítico, religioso: “Salammbô tirou os brincos, o colar, os braceletes e a longa samarra branca; soltou a faixa que lhe prendia os cabelos e durante alguns minutos sacudiu-os brandamente sobre os ombros, para se refrescar, espalhando-os”.

É preciso deixar claro que Salammbô não é um romance histórico “tradicional”, nos moldes de Walter Scott, o autor de Ivanhoe (1820). Flaubert desprezava intensamente as fórmulas prontas, as ideias feitas, os clichês e as facilidades em geral — um anacronismo como “literatura de entretenimento” poderia definir vasto campo de elementos que ele recusava. Como romance, Salammbô não quer ser informativo — quer, pelo contrário, dar vazão a uma experiência com a linguagem e sua capacidade de criar o “tempo histórico”, de dar forma à abstração do “passado” e da “tradição” (três superstições modernas que só podem existir por escrito). Em um célebre ensaio sobre Flaubert, Michel Foucault mostra como o autor de Salammbô cultivou uma nova vertente do fantástico, o “fantástico de biblioteca”. O “quimérico”, escreve Foucault, “nasce da superfície negra e branca dos signos impressos”, o “imaginário se aloja entre o livro e a lâmpada” e, para sonhar, “não é preciso fechar os olhos, é preciso ler”. “O imaginário não se constitui contra o real para negá-lo ou compensá-lo”, conclui, “ele nasce e se forma no entremeio dos textos”. Isso quer dizer que Flaubert não é refém dos textos do passado e de sua extensa pesquisa bibliográfica para a composição de Salammbô — é a documentação que serve ao romance, e não o contrário.

Disso tudo emerge a noção fundamental de que a liberdade de leitura deve ser equivalente à liberdade de escrita. Existe uma dissonância operando em Salammbô que reverbera até hoje: Flaubert realizou, sim, uma pesquisa rigorosa para seu romance e, ao mesmo tempo, incluiu uma série de elementos “fantasiosos”, “deslocados” e “inventados”. Para Flaubert, a literatura não é um espelho da realidade ou do passado; ela é uma performance da linguagem que absorve elementos míticos, religiosos e históricos — e Salammbô mostra isso como poucos romances até hoje fizeram.

(Publicado originalmente no site do Suplemento Pernambuco)


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Uma história sobre a revolução de um título

 


Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimiga. Seja a cuidadora de sua enfermeira. Vá a uma prisão e recrie a cena central de 
A revolução dos bichos.

Paul B. Preciado, em Um apartamento em urano (Zahar).

 

O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), criado em 1961 por um grupo de empresários do Rio de Janeiro e São Paulo e por oficiais que orbitavam em torno da Escola Superior de Guerra (ESG), foi (não só) disseminador de propaganda anticomunista e grupo de extrema-direita no Brasil, mas um núcleo golpista com agenda política própria. Ao lado dos militares, protagonizou o processo de ocupação da estrutura do Estado após (aquele!) março de 1964, funcionando regularmente até 1973.

A historiadora Heloisa Starling (UFMG), coautora de Brasil: uma biografia (Companhia das Letras)conta que o IPES sempre foi “uma organização de ingresso controlado e vida dupla”. Publicamente, se apresentava enquanto instituição de orientação política conservadora que se voltava para a realização de estudos e debates sobre o contexto sócio-histórico brasileiro. Reunia empresários e diretores de empresas multinacionais que tinham influência e atuação no país, dirigentes das principais associações de classe empresariais, militares, jornalistas e intelectuais. “Todos eram ostensivamente envolvidos em atividades de produção intelectual e de divulgação que contemplavam desde a edição de livros e filmes até a realização de palestras e pesquisas sobre a realidade brasileira”, pontua.

“O IPES agiu contra Goulart com uma política de duas vertentes. A primeira consistiu na preparação e execução de um bem orquestrado esforço de desestabilização do governo, que incluiu custear uma vigorosa campanha de propaganda anticomunista, bancar diversos tipos de manifestações públicas antigovernistas e escorar inclusive financeiramente grupos e associações de oposição ou de extrema direita. A segunda traçou estratégias de planejamento e de diretrizes para subsidiar um novo projeto de governo e de desenvolvimento para o país, aberto ao fluxo do capital internacional e vocação autoritária. Era um núcleo de conspiração golpista com agenda política própria; seus membros estavam estrategicamente informados e muito bem posicionados entre os conspiradores que derrubaram Goulart e durante o processo de ocupação da estrutura do Estado após março de 1964”, conclui Starling.

O instituto realizava edições, traduções, publicações e distribuía livros, revistas e folhetos. Comprava edições inteiras de livros publicados por outras editoras e tornava-as comercialmente viáveis, patrocinava feiras de livros com “literatura democrática” e tinha objetivo de atingir públicos variados. Um dos livros foi o Animal farm, conhecido pelo público brasileiro por A revolução dos bichos, de George Orwell (1903-1950). O livro é agora relançado pela Companhia das Letras com tradução de Paulo Henriques Britto e com o título de A fazenda dos animais.

Em conversa com Emilio Fraia, editor da Companhia das Letras, ele explica que essa nova edição pretende lançar luz sobre como A fazenda dos animais se tornou A revolução dos bichos quando lançado pela primeira vez no Brasil, em pleno 1964.

“Nossa ideia é contar esta história, abrindo um capítulo novo na trajetória brasileira deste livro tão importante — e pensamos que essa atualização/contextualização ganharia força se ao livro fosse devolvido o seu título original, A fazenda dos animais. A operação, a princípio, pode gerar alguma resistência (o título está há mais de cinquenta anos entre nós)”. Nas palavras de Fraia, o interesse é o de pensar o livro a partir de uma perspectiva diferente, a começar pelo título. “Como editor, espero que isso possa oxigenar a recepção da obra, sugerir novos caminhos críticos e de leitura”.

*

A história do livro é das mais conhecidas: os animais da Fazenda do Solar estão cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, se revoltam e tomam posse do lugar no intento de instituir um sistema cooperativo e igualitário. Não demora para que alguns bichos passem a usufruir de privilégios, fazendo com que o sistema de opressão que antes era elaborado pelos humanos passasse a existir de forma ainda mais forte e contraditória. Escrito durante a Segunda Guerra, A fazenda dos animais é uma grande sátira sobre governos autoritários, dispositivos de poder e suas formas sistemáticas e burocráticas de operação, ainda que tenha sido por tanto tempo considerado crítica fajuta ao regime soviético. 

Orwell sempre foi crítico ferrenho de qualquer tipo de totalitarismo. Teve várias decepções com o regime soviético e mesmo tendo continuado a ser socialista — acreditava, na verdade, que o mito soviético “atrapalhava” o socialismo ocidental –, acabou por ver seu livro verter-se em propaganda contra o socialismo.

Pernambuco conversou com Marcelo Pen, professor e doutor em teoria literária e literatura comparada pela USP e autor do posfácio desta nova edição, que explicou um pouco sobre o episódio um tanto orwelliano, diga-se, de como A fazenda dos animais tornou-se A revolução dos bichos e foi instrumentalizado como arma ideológica no Brasil.

Pen conta sobre quando notou o longo intervalo entre o lançamento do original, em 1945, e o lançamento da edição brasileira em pleno 1964. “Me pus a ler sobre a história da recepção dessa obra, no exterior e aqui: o papel da CIA e do serviço secreto inglês, a atuação da viúva do Orwell, o filme de animação e a atuação do IPES/Ibad, aqui no Brasil etc etc”, ele comenta. Até mesmo a CIA ajudou a divulgar o livro e a espalhar a ideia de que toda revolução descamba em um regime de horrores. Àquela altura, Marcelo havia notado que nada dessa história de manipulações era novidade; os fatos haviam sido contados e documentados fartamente, mas ainda se encontravam muito dispersos.

O livro foi traduzido pelo capitão Heitor de Aquino Ferreira, auxiliar mais próximo do general Golbery do Couto e Silva e seu discípulo de vida – foi também secretário de Golbery de 1964 a 1967 e de Ernesto Geisel de 1971 a 1979. Os arquivos do IPES, que possuíam dados de cerca de 400 mil brasileiros, serviram de base para Golbery criar o Serviço Nacional de Informações (SNI), em junho de 1964. Golbery coordenava a elaboração de diretrizes, projetos e difusão de doutrina do IPES. E Heitor considerava A fazenda dos animais um livro eficiente como propaganda anticomunista; o traduziu e enviou para a Editora Globo, de Porto Alegre. O IPES se encarregou de comprar parte da edição. Mais tarde, em 1966, o instituto bancou também a publicação de 1984.

É interessante pensar que os fatos sobre esse contexto não foram escondidos: foram esquecidos, deixados de lado. O público passou a receber A revolução dos bichos como “a” grande obra de Orwell e já não se pensava mais no título ou mesmo no fato de que se trata de uma versão da obra, historicamente e politicamente elaborada, por sinal, no contexto da ascensão do regime ditatorial brasileiro.

 

Nova edição

A fazenda dos animais faz parte de um projeto de reedição pela Companhia das Letras junto com outra obra de Orwell, 1984, que ganhou nova e belíssima edição pela editora. A ideia, segundo Fraia, é dar ao leitor opções variadas para estas obras emblemáticas. “Até o fim deste ano, aliás, teremos: 1984 nas edições especiais, Penguin, trade [tipo de brochura] e graphic novel (adaptada por Fido Nesti); A revolução dos bichos nas edições trade graphic novel; e A fazenda dos Animais nas versões especial e Penguin”, diz.

“Acho que os leitores lerão a nova e ótima tradução do Paulo Henriques Britto e seguirão lendo A revolução dos bichos, na tradução do Heitor Aquino Ferreira. Novas edições com o título A revolução… fariam sentido hoje em dia? Não sei. Mas a tradução do Heitor, além de muito boa, é parte da história do livro, e a partir dela podemos pensar em aspectos importantes relacionados à política e literatura, tradução e política”, conclui Fraia. 

A obra de Orwell ainda será retomada por outras editoras nos próximos meses. A L&PM vai publicar A fazenda dos animais em 2021, também seguindo a ideia de manter o título original de Orwell, com tradução assinada por Denise Bottmann. A editora Autêntica também vai lançar o livro, com tradução de Fabio Bonillo, e a Antofágica encomendou uma versão da fábula em português a Rogerio Galindo, que será publicada em 2021, ainda sem uma decisão sobre que título vai estampar a capa do livro.

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A partir de seus escritos, Orwell sempre pareceu almejar que as histórias viessem à tona, que os fatos não fossem ocultos ou escamoteados. A importância desta nova edição reside não só na possibilidade de elaboração de novas chaves de leituras críticas para nós – afinal, um livro que critica a opressão burocrática, em contextos sócio-históricos atravessados por autoritarismos e totalitarismos, faz com que Orwell seja leitura importante nesses tempos em que vivemos no Brasil –, também esboça lição valiosa: se, como aponta este aforismo foucaultiano, “a política é a guerra continuada por outros meios” – e se esses meios se elaboram pelo tensionamento conflitivo do discurso político –, resgatar a história desse título e de seu apagamento é investir contra a instrumentalização de narrativas – substância essencial do projeto literário do autor – em tempos em que a verdade, conceito-chave ao pensamento e às práticas democráticas, vem tornando-se algo cada vez mais fragilizado.

Ao realizar uma arqueologia da criação orwelliana e dos movimentos políticos que sua obra traça, a nova edição nos aponta os perigos daquilo que passa despercebido e a impossibilidade de se “esquecer” por decreto.

(Publicado originalmente no Suplemento Pernambuco)

 

Itamar Assumpção tem vida e obra celebrada em museu virtual

 Redação

Itamar Assumpção tem vida e obra celebradas em museu virtual
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Itamar Assumpção em 1987; museu virtual em homenagem ao artista abre hoje (Foto: Manoel Soares/Agência O Globo)

 

[Música] Museu Virtual Itamar Assumpção

Nesta sexta-feira (20) acontece a abertura do Museu Virtual Itamar Assumpção (MU.ITA) em homenagem ao cantor, compositor, escritor, instrumentista, ator e produtor paulista. Com direção geral de Anelis Assumpção, filha do artista, o museu conta com um acervo de mais de dois mil itens do músico, exibidos em uma mostra permanente. Além disso, o projeto também terá exposições de curta duração de artistas contemporâneos, loja exclusiva e um espaço dedicado a trabalhos relacionados a religiões de matriz africana, a Sala Serena. A curadoria é assinada por Anelis, Frederico Teixeira e Ana Maria Gonçalves.

O museu traz uma perspectiva preta e afrofuturista para a história de Assumpção, principal nome da vanguarda paulista, e situa o seu legado em meio a trajetória de outros artistas e pensadores negros como Elza Soares, Jimi Hendrix e Abdias Nascimento. Na plataforma, ainda é possível ouvir todos os discos do músico, recentemente disponibilizados nas plataformas de streaming. O museu será também o primeiro no Brasil a disponibilizar traduções para o iorubá. Para celebrar a abertura, Anelis faz uma live hoje às 21h30 cantando músicas do pai. A transmissão acontece pelo site do museu.


[Cinema] Cine África

Até a próxima quinta (26) dá para assistir aos curtas-metragens da mostra Quartiers Lointains – Afrofuturismo, parte da programação do Cine África, exibido pelo Cine Sesc. Com curadoria de Claire Diao (Burkina Faso/França), a mostra exibe filmes que trazem a diversidade de narrativas que surgem da África em torno do universo do afrofuturismo. E daí se as cabras morrem? (Sofia Alaoui, França, Marrocos), Este foi para o mercado (Jim Chuchu, Quênia), Ethereality (Kantarama Gahigiri, Suíça, Ruanda), Hello, rain (C. J. Obasi, Nigéria) e Zumbis (Baloj, República Democrática do Congo, Bélgica) são os títulos em cartaz. Veja a programação completa e assista aos curtas pelo site do Sesc Digital.

[Dança] Dançadoras de Histórias

Nesta sexta (20) e na próxima (27), às 19h, a Ouvindo Passos Companhia de Dança apresenta o espetáculo Dançadoras de Histórias em parceria com o Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo. As apresentações buscam valorizar as ancestralidades e oralidades negras por meio do corpo como peça central das conexões e atribuições de sentido entre as pessoas. As coreografias são criadas a partir de atividades de improvisação, inspiradas nas narrativas da arte educadora Beth Castro. Grátis, no Facebook da companhia.

[Bate-papo] Diálogos de Bastidores

Nesta sexta (20), às 19h30, os guitarristas Lupa Santiago e Ricardo Silveira participam de uma conversa sobre música, guitarra e produção musical no Brasil e no mundo. Promovido pelo Sesc 24 de Maio, o bate-papo faz parte da série Diálogos de Bastidores, que une músicos de gerações diferentes, mas que tocam o mesmo instrumento, para trocar ideias sobre o ramo. Grátis, no Youtube.

[Bate-papo] Programação Mês da Consciência Negra

A partir desta sexta (20) até o dia 30/11, o Sesc Rio apresenta uma série de lives em consonância com o Dia da Consciência Negra. Há conversas sobre reconstrução da identidade negra, cuidado com cabelos crespos, mercado editorial para autores negros, diálogos sobre o continente africano, entre outros temas. Veja a programação completa no site do SESC Rio.

[Música]  Encontros Tropicais

Neste sábado (21), às 20h, a cantora Iza e o maestro Letieres Leite, com sua Orkestra Rumpilezz, recebem Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Larissa Luz, BNegão, Mateus Aleluia, ChicoCorrea, João Milet Meirelles e Lazzo Matumbi para celebrar a música preta brasileira. O espetáculo acontece no Museu do Ritmo, em Salvador, e será transmitido pelo Youtube da Devassa e pelo canal Multishow.

[Música] Orquestra Ouro Preto

Também neste sábado (21), às 20h30, a Orquestra Ouro Preto homenageia Fernando Brandt e Milton Nascimento com um repertório cheio de clássicos de Brandt interpretados por Milton. Estão no repertório canções como “Travessia”, “Milagre dos Peixes”, “Encontros e Despedidas”, “Canção da América” e “Maria Maria”. Com regência do Maestro Rodrigo Toffolo e participação da cantora Mariana Brandt, a apresentação acontece na Igreja Nossa Senhora do Carmo (sem plateia) e transmitido pelo Youtube da orquestra.

[Webinário] Encontro Paulista de Museus

A partir de segunda (23) até a próxima sexta (27) acontece a 11º edição do encontro, que neste ano trabalha o tema “Museus, Sociedade e Crise: do luto à luta” . Na programação diária de painéis e debates, discussões sobre o papel do público no futuro dos museus, a sustentabilidade e acessibilidade das instituições, entre outros temas. Na quarta (25), o público é convidado a responder à pergunta “O que você espera encontrar nos museus hoje?”. Grátis, no Youtube do SISEM-SP.

[Arte visuais] Linhas da Vida

A partir desta segunda (23) a mostra reúne trabalhos de diferentes períodos da artista japonesa Chiharu Shiota, cujas obras tratam de temas relacionados à memória, vida e a morte por meio de objetos do cotidiano e fios de lã. Grátis, no CCBB Brasília no Google Arts and Culture. Para os brasilienses, a mostra acontece presencialmente no CCBB até 6/12. É preciso reservar ingressos pelo Eventim.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)


Charge! Benett via Folha de São Paulo


 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

A privatização da água e o discurso da escassez

 


Eis a tática dos especuladores: amplificar a crise hídrica, culpando o consumidor doméstico. Alegar que, por se tratar de produto escasso e de alto valor, sua gestão deve ser “desestatizada”. Omitir, sempre, o consumo desenfreado do agronegócio

Por Flávio José Rocha1

Soa cada vez mais alto o alarme da escassez da água no planeta. O seu som estridente alcança a população global de forma cada vez mais efetiva. Mas, afinal, o que é verídico nestes acordes catastróficos que ouvimos sem cessar nos últimos anos? Será real que logo não teremos água suficiente para todas as pessoas e estaremos envoltos em guerras já anunciadas por artigos, matérias de jornais, reportagens televisivas, documentários e postagens nas redes sociais? É óbvio que há escassez em algumas regiões do planeta. Sempre houve e haverá, e isso não negamos. Não há dúvida, no entanto, que há interesses econômicos por parte daqueles que amplificam o som alarmante da questão da escassez da água. O alarme soa tão ensurdecedor que já começa a abafar qualquer ruído que se contraponha a ele e questione as saídas apontadas para favorecer o Mercado da Água. Criar pânico facilita o convencimento dos que não veem outra possibilidade a não ser abraçar algumas soluções oferecidas diante da iminente sede que se aproxima. Não por coincidência, estas soluções são apresentadas por algumas das pessoas que alertam sobre a escassez propondo tornar a água uma mercadoria como outra qualquer e administrada pela lógica de mercado.

Refletindo sobre a Ideologia da água e privatização dos serviços de saneamento, José Eduardo de Campos Siqueira (2005, p. 40) menciona que “De maneira mais ou menos sutil, introduz-se, como consequência lógica, a justificação da mercantilização da água, na medida em que a escassez lhe agrega, necessariamente, valor econômico.” Vale lembrar que “o argumento da escassez remonta, principalmente, às formulações malthusianas que legitimam a desigualdade e a miséria como forma corretiva de crescimento populacional.” (FLORES; MISOCZKY, 2015, p. 242-243). Como vemos, o argumento não é novo, mas o seu alvo sim: a água.

O discurso da escassez é utilizado para amedrontar a população mundial e apresentar a privatização da água como solução mais eficaz para evitá-la. Em sua defesa, afirma-se que há muito desperdício no planeta e, ao pagar (e pagar caro) pela água, haverá menos gasto. Aqui vale ressaltar que não sou contra negócios privados. Porém, com a água não é possível negociar o seu valor como Bem Comum, pois dela não dependem apenas os seres humanos, mas toda e qualquer espécie do nosso planeta.

A escassez é real em várias partes do globo, como já afirmamos anteriormente. O que apontamos aqui é que existe uma amplificação da crise fazendo confundir falta de acesso (fato que acontece com várias populações das periferias urbanas e populações rurais) com a sua escassez. É mais uma tática dos defensores da privatização e mercantilização da água. No discurso propagado pelos neoliberais sobre este tema, não há referências ao fato de que 70% da água doce no planeta são gastos pelo agronegócio. A grande mídia, muitas vezes, manipula o discurso sem tocar em exemplos de mananciais que sofreram grandes perdas de volume por causa do agronegócio, a exemplo do Mar de Aral, na Ásia Central, e do Mar Morto, em Israel, que não recebem a mesma quantidade de água dos rios que neles deságuam como antes. No entanto, abundam campanhas contra o desperdício direcionadas para os usuários domésticos, incutindo até mesmo nas mentes das crianças a culpa por um banho mais demorado. Não que não devamos economizar água, longe disso. O problema é a culpabilização apenas do consumidor doméstico quando ele não é o vilão nesta história, utilizando esta narrativa como uma cortina de fumaça para esconder quem realmente está colocando as nossas reservas hídricas superficiais e subterrâneas em perigo pela exploração descontrolada.

Há um outro aspecto com a ampliação do discurso sobre a escassez que beneficia o Mercado da Água. Anunciada como uma mercadoria escassa, o seu valor cresce exponencialmente. Assim, ressaltam Flores e Misoczky (2015, p. 2420, “o conceito de escassez é um conceito muito caro às concepções teóricas que legitimam as relações capitalistas em termos de apropriação da natureza.” Se um elemento natural é abundante, ele perde a sua aura de mercadoria valiosa, já que é necessário que a sua procura supere a sua oferta para tornar-se mais caro e lucrativo. Como bem afirma Erik Swyngedouw (2004, p, 39), “sem a escassez, soluções ou mecanismos baseados no mercado simplesmente não funcionariam. Se necessário, portanto, a ‘escassez’ será eficientemente produzida, socialmente projetada.”

Muitos não sabem, mas está em tramitação no Senado o Projeto de Lei (PL) 495/20172, de autoria do Senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e que tem como relator o Senador José Serra (PSDB-SP), que cria os mercados de águas no Brasil. Leis como esta podem criar os chamados Especuladores da Água, situação já vivenciada em países como a Austrália e os Estados Unidos3. Essas leis foram aprovadas com a justificativa de que promoveriam uma “gestão eficiente dos recursos hídricos”. Não por coincidência, vejam o que diz a ementa deste PL: “Altera a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, para introduzir os mercados de água como instrumento destinado a promover alocação mais eficiente dos recursos hídricos.”

Palavras como gestão são repetidas como mantra quando se fala de água em nossos dias. A gestão reivindicada pelos privatistas da água não é a comunitária ou a que coloca os seres vivos como prioridade, mas a que está alicerçada em princípios técnico-mercadológicos. Já os termos recursos hídricos e água são defendidos pelos neoliberais como coisas separadas. A justificativa para esta diferenciação é que água é quando não é utilizada, o que não acontece com os recursos hídricos que são classificados como bens econômicos e por isso podem ser precificados. Sim, parece sem sentido, e é, já que a água, mesmo quando não captada para algum uso, regula a temperatura, mantém os ecossistemas (alguns estudiosos já falam em fluviofelicidade ou hidrofelicidade como resultado apenas de estarmos próximos aos rios e lagos). E assim, como afirma Siqueira (2005, p. p. 40), “a escassez geral ou abstrata surge como ideia determinante e geradora de um novo modelo global de gestão a ser adotado por todos os países em todas as situações.” Estes argumentos favorecem o entendimento sobre a água como algo a ser mercantilizado até mesmo onde existe em abundância como em países da Europa ou em estados do Sul do Brasil.

O medo de não poder usufruir deste líquido essencial pode nos colocar em genuflexão diante do Mercado da Água como um fiel diante de uma divindade que nos salvará da iminente catástrofe. O pânico se apossa de mentes que, distante de uma reflexão mais aprofundada, aceitam os remédios prescritos para a doença sem a devida atenção para as contraindicações. Mas o remédio somente remedia a situação, sem realmente curá-la. Para lidar com a escassez é preciso investigar se a sua causa é natural ou resultado das intervenções humanas e isso não interessa aos que querem irrigar as suas contas bancárias.

Há mudanças no Mercado da Água atualmente que devem nos deixar atentos. Se antes as privatizações se davam na forma do repasse total da estatal para o poder privado, isso já não interessa às transnacionais do setor, dado o quão complicado é o elemento natural água com a imprevisibilidade climática, seu transporte e tratamento, as questões políticas, culturais e até mesmo espirituais que a envolvem. Sendo assim, veremos cada vez mais a presença das transnacionais da água através do Capital Misto e das Parcerias Público-Privadas, as famosas PPPs, nas empresas públicas de saneamento. Estas permanecerão oficialmente estatais, mas serão administradas como uma empresa privada e não orientadas como prestadoras de serviço público, função para a qual foram criadas. Agregue-se a este fato que, não sendo oficialmente as donas das empresas, as transnacionais da água não serão responsabilizadas caso haja crises como a que foi vivenciada pelo estado de São Paulo nos últimos anos, embora possam continuar a impor o seu modelo de gerenciamento e lucrar com os repasses dos dividendos4. Este fato pode ser claramente entendido observando o caso da Sabesp, como é relatado por Schapiro e Marinho (2018, p. 1428) que afirmam: “No limite a Sabesp revelaria um caso de uma privatização funcional, isto é, uma colonização da empresa pelos interesses privados sem que tenha havido uma mudança estrutural de controle.”

Baseado nas premissas acima, devemos primeiro desconfiar de todas as notícias que divulgam uma guerra iminente pela água em todo o planeta. Em seguida, devemos nos perguntar se o discurso propagado de que somente a eficiência do setor privado será capaz de nos prevenir da Guerra da Água provocada por sua possível escassez no planeta é verdadeiro ou esconde os interesses para privatizá-la. Não esqueçamos de que o Brasil é a “Arábia Saudita da água” e possibilitar que as transnacionais controlem as nossas águas, é colocar a soberania do país em perigo sem a garantia de que as populações mais vulneráveis corram o risco de ter cada vez menos acesso a um direito humano inegociável.

Bibliografia:

FLORES, Rafael Kruter; MISOCZKY, Marcia Ceci. Dos antagonismos na apropriação capitalista da água à sua concepção como Bem Comum. In Revista Urbanização e sociedade UFBA. V. 22 Nº 73. Abril-Junho. 2015, p. 242-243. Acessível em https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-92302015000200237

SCHAPIRO, M. G. e MARINHO, S. M. M. Conflito de interesses nas empresas estatais: uma análise dos casos Eletrobrás e Sabesp. Revista Direito & Praxis. Rio de Janeiro, Vol. 9, N. 3. 2018. p. 1424-1461. https://orcid.org/0000-0002-6762-2731.

SILVA. Flávio José Rocha da. Vendo água privatizada. João Pessoa: Edições do Autor. 2020. https://issuu.com/abatalhapelasfolhassagradas/docs/vendo__gua_privatizada

SIQUEIRA, José Eduardo de Campos. Ideologia da água e privatização dos serviços de saneamento. In DOWBOR, L. e TAGNIN, R. A. (Orgs). Administrando a água como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Editora Senac. 2005. p. 37-46.

SWINGEDOUW, Erik. Privatizado o H2O: transformando águas locais em dinheiro global. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V. 6, N. 1. 2004. p. 33-53. DOI: https://doi.org/10.22296/2317-1529.2004v6n1p33


1 Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP com Pós doutorado no Instituto de Energia e Ambiente da USP.

2 Conheça o PL 495/2017 que pretende criar os mercados de água no Brasil acessando o link https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/131906

3 Atualmente grupos que defendem o Rio Colorado denunciam como as suas águas estão sendo vendidas por especuladores de outros estados daquele país. Veja reportagem do Colorado Newsline em https://coloradonewsline.com/2020/09/12/water-speculators-could-face-more-obstacles-based-on-work-by-new-group/

4 “Em 2014, por exemplo, a Sabesp ao pagar o valor aproximado de 500 milhões de reais, a título de dividendos, acabou por distribuir cerca de 60% do seu lucro líquido para os seus acionistas” (SCHAPIRO; MARINHO, 2018, p. 1444)

(Publicado originalmente no site Outras Palavras)