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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Tuitadas do Jolugue

José Luiz Gomes,
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José Luiz Gomes

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PT e partido de Russomanno se unem contra PSDB para defender Lula do mensalão
No momento em que o PSDB intensifica os ataques aos petistas na campanha eleitoral por conta do julgamento do mensalão, presidentes dos principais partidos da base aliada assinaram uma nota de desagravo ao ex-presidente…

Paulo Rocha, mensaleiro graúdo, admite que houve crime, sugere que ministros estão traindo o PT e ataca a VEJA com ilação antissemita. Essa
Não deixem de ler a reportagem de Maria Lima, do Globo, com o mensaleiro, ex-deputado e dirigente petista do Pará Paulo Rocha (PA). Pela primeira vez, um réu

PF desmonta no CE grupo de tráfico que tinha políticos
A Polícia Federal desarticulou nesta sexta-feira, 21, uma quadrilha de tráfico internacional de drogas, comandada por políticos do interior do

Nota à sociedade brasileira
Partidos divulgam nota em defesa do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva

Na bica de ser julgado, ex-líder do PT se irrita com pergunta sobre prisão: ‘Ah, vai se foder!’
Ex-líder do PT na Câmara, Paulo Rocha bebeu R$ 620 mil na fonte do mensalão. Agora, aguarda na fila do cadafalso do STF. Na quinta (20), enquanto os primeiros beneficiários de valerianas eram ...

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É claro que Lula tem defeitos, só imbecis completos não vêem, mais que foi um presidente porreta só outros imbecis podem negar. Sou Lulista
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Marta Suplicy @MartaSuplicy_ 20 Sep
"Uma das marcas que quero deixar na minha gestão é uma revolução nas ferramentas de internet do MinC", diz Marta. pic.twitter.com/IbAsJKsf
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Luiz Bresser-Pereira @BresserPereira 21 Sep
Condenar réus com base em indícios razoáveis ao invés de provas razoáveis é uma violência contra os direitos civis e a democracia.
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FC Barcelona @FCBarcelona 22 Sep
GGGGGGGGGOOOOAAAALLLLAAAZZZOOOO!! XAVI! #fcblive
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CULT: Habermas clássico sai no brasil

 

"Teoria do Agir Comunicativo" relê a obra de Lukács e Adorno e ataca as limitações da Escola de Frankfurt




LUIZ REPA
Se um leitor pouco disposto a escalar as duas montanhas, isto é, os dois volumes da Teoria do Agir Comunicativo, indagasse sobre um atalho para chegar ao âmago da obra, a melhor proposta seria saltar de pára-quedas sobre os topos, ou seja, começar a leitura por seus capítulos finais.
Os capítulos que encerram os dois tomos – “De Lukács a Adorno – Racionalização como Reificação” e “Consideração final – De Parsons a Marx através de Weber” – apresentam o essencial do projeto: reconstruir a Teoria Crítica e atualizar o diagnóstico de época, a análise das sociedades capitalistas modernas mais avançadas.
O impacto da obra não poderia ter sido maior quando lançada em 1981. Jürgen Habermas, o ex-assistente de Theodor W. Adorno no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, o centro institucional da Teoria Crítica desde os anos 1930, erguia uma crítica severa a seus antecessores – principalmente Adorno e Max Horkheimer – a fim de mostrar que a Teoria Crítica se encaminhara para um beco sem saída e que o diagnóstico de época proposto por eles perdera seu prazo de validade.
Vale lembrar que o diagnóstico de Adorno e Horkheimer, cristalizado na expressão “mundo administrado”, já havia significado uma considerável divergência em relação ao de Marx. Para eles, as tendências que, de acordo com Marx, levariam a uma sociedade emancipada não se comprovaram. Eles deixam de projetar uma crise sistêmica do capitalismo, dadas as possibilidades de intervenção e administração estatal sobre a economia.
Tampouco consideram plausível a intensificação da luta de classes entre proletariado e burguesia, uma vez que são visíveis não a pauperização e a homogeneização da classe trabalhadora, mas antes a diferenciação social interna nessa mesma classe e uma melhora notável no padrão de vida de grande parte da população.
Além disso, contrariando o teorema de Marx, o desenvolvimento das forças produtivas, da técnica e da ciência foi colossal desde os meados do século XIX, mas não acarretou conflitos estruturais com as relações de produção. Em vez disso, a ciência e a técnica se tornaram instrumentos privilegiados de dominação. Por fim, toda consciência crítica se vê acuada diante da fabricação consciente de ideologias, a qual Adorno identificou com o conceito de “indústria cultural”.
Não por acaso, tal diagnóstico se dá nos termos de uma crítica da razão, assim como em Habermas. A explicação disso se encontra em Max Weber e em Georg Lukács: a modernização capitalista pode ser vista, segundo esses autores, como um processo de racionalização crescente, isto é, um processo pelo qual a sociedade se estrutura e se reproduz segundo critérios tidos por racionais. É por isso que a crítica filosófica da razão coincide com uma crítica social da realidade moderna.
É nesse contexto que surge o conceito-chave de razão instrumental, a qual teria se imposto no processo de modernização, na racionalização e no esclarecimento científico do mundo, cujas origens remontam, porém, às relações mitológicas do homem com a natureza. Seguindo esse padrão de racionalidade, só é possível decidir racionalmente sobre os melhores meios para alcançar determinados fins; sobre os próprios fins não há fundamentação racional. Enfim, o mundo administrado seria o contexto de ofuscamento em que predomina a racionalidade instrumental e reificadora.
Para Habermas, no entanto, a crítica da razão instrumental só ganha sentido pleno se acompanhada de uma ampliação do conceito de racionalidade. Só é possível criticar o predomínio da racionalidade instrumental se o critério da crítica é um conceito de razão que vai além da relação meios e fins.
Para tanto, ele desenvolve, recorrendo a diversos autores da filosofia da linguagem, o conceito de racionalidade comunicativa. A relevância prática e social desse conceito é atestada, por sua vez, por uma teoria do agir (ou da ação, para usar um vocabulário mais técnico) comunicativo. Nesse tipo de ação social, a linguagem como tal implica uma lógica intersubjetiva em que os agentes têm de se relacionar entre si como sujeitos ao mesmo tempo iguais e diferentes.
Uma vez que ninguém pode disponibilizar a linguagem a bel-prazer, a ação comunicativa não seria de modo algum episódica. Aos olhos de Habermas, toda vez que realizamos um ato de fala, ou seja, fazemos um proferimento para um outro, não podemos escapar à lógica intersubjetiva segundo à qual reivindicamos necessariamente, da perspectiva do outro, uma pretensão de validade para o que proferimos. Isso se aplica às manifestações mais banais, como simples constatações, até os enunciados mais complexos.
Assim, erguemos com nossos atos de fala cotidianos pretensões de validade como verdade, correção normativa e veracidade. Nossos atos de fala podem ser aceitos ou rejeitados no que concerne à referência verdadeira aos estados de coisa descritos, à relação correta com o conjunto de normas pressupostas na interação ou, simplesmente, à relação veraz dos agentes com seus respectivos mundos subjetivos.
O reconhecimento da validade do que é dito é importante para o prosseguimento da interação. Ele significa um acordo, geralmente implícito, que orienta a ação de cada um dos agentes envolvidos. No entanto, esse acordo só poderia motivar cada um a agir em confiança mútua porque cada um dá implicitamente a garantia recíproca de que há razões para a validade que foi associada ao ato de fala.
Assim, no caso de contestações ou dúvidas, os agentes passam a argumentar para sustentar ou rejeitar a validade do que foi dito.
Segundo Habermas, na prática comunicativa cotidiana, as argumentações – ou, no seu vocabulário, os discursos – são raras, porém explicitam todas as dimensões de racionalidade inscritas na ação comunicativa. Essas dimensões se referem a todos os procedimentos que devem possibilitar um consenso entre os participantes, tais como máxima liberdade de expressão, máxima igualdade de direitos e inclusão de todos os possíveis concernidos.
Se esses procedimentos não são reciprocamente pressupostos pelos participantes, eles próprios não consideram que participam de uma discussão efetiva. A racionalidade e – o mais importante para a Teoria Crítica – os potenciais de emancipação não se encontram nos consensos alcançados, os quais são sempre falíveis, mas nos procedimentos da discussão livre e igualitária.
Por isso é também um equívoco tomar Habermas como um filósofo do consenso, já que estão em jogo para ele as possibilidades libertadoras da discussão.
Segundo Habermas, esse potencial de emancipação não pode ser subestimado, visto que nenhuma socialização é possível sem recurso à linguagem (e nenhuma linguagem natural pode ser privada de seu uso comunicativo), que nenhuma tradição cultural independe da linguagem, que nenhuma norma pode se impor somente à força, mas depende também de consensos considerados legítimos.
No caso das sociedades modernas, a ação comunicativa se torna ainda mais estrutural, já que não existe nelas um saber capaz de predeterminar todas as esferas da vida, como era o caso das visões míticas e religiosas do mundo nas sociedades tradicionais.
Isso significa que o processo de racionalização não representou apenas o desenvolvimento da ciência e da técnica, como enfatizaram Adorno e Horkheimer, mas também uma dependência cada vez maior de todos os contextos de interação social em relação a procedimentos argumentativos.
Analisado dessa forma, o processo de racionalização implica também a dependência da legitimação do poder em relação aos procedimentos democráticos, o que significa dizer que o capitalismo tem de lidar sempre com a democracia de massa. E esta, por sua vez, com uma esfera pública que remete, em princípio, ao potencial de discussões cada vez mais abertas e livres.
Com isso, Habermas pode absorver o conteúdo de verdade do diagnóstico de Adorno e Horkheimer, sem concordar com o esgotamento dos potenciais emancipatórios.
Ele concorda com os seus antecessores sobre a caducidade das perspectivas revolucionárias de Marx, mas não conclui daí que a emancipação tenha desaparecido do horizonte. O lamento pela revolução perdida cede lugar à atenção pelas ambivalências modernas e pelas conquistas democráticas.
Trata-se de pensar em formas de vida emancipadas no plural, ligadas a movimentos sociais com demandas que não se vinculam mais – ou pelo menos não diretamente – à transformação das relações de trabalho. As formas de vida emancipadas têm de ser analisadas no contexto de um novo conflito, que está no centro do diagnóstico habermasiano: o embate entre o mundo da vida e o sistema.
Nesse diagnóstico, as patologias e os conflitos modernos podem ser reportados na maior parte a uma tendência de colonização sistêmica do mundo da vida.
Isso quer dizer que os sistemas dinheiro e poder (economia capitalista e burocracia estatal) se autonomizam em relação aos contextos de interação comunicativa e passam a penetrar os âmbitos do mundo da vida (a esfera privada da família e das amizades e a esfera pública), cuja reprodução depende do uso comunicativo da linguagem.
Como os sistemas dinheiro e poder se reproduzem por meio de ações estratégicas e instrumentais, a monetarização e a burocratização das relações sociais que eles acarretam levam inevitavelmente a distúrbios e reações de resistência do mundo da vida. Levam em geral a formas distorcidas de comunicação, de maneira que os participantes sofrem uma coerção sistemática para considerar os outros e a si mesmos como objetos manipuláveis.
Por outro lado, os novos movimentos sociais (o feminista, o estudantil, o ecológico etc.) representam reações do mundo da vida à invasão sistêmica, lutando por formas autônomas de convívio social. Dessa maneira, a teoria da ação comunicativa tem de ser lida como uma teoria sobre um novo tipo de conflito estrutural, relativamente desligado das classes sociais e atravessando a sociedade por inteiro.
As três décadas que nos separam da aparição da Teoria do Agir Comunicativo permitem uma visão mais clara tanto de sua fecundidade quanto de seus limites históricos.
De um lado, a teoria da ação comunicativa estimulou teóricas feministas, como Seyla Benhabib, Nancy Fraser e Iris Young, a repensar os conflitos em que se envolvem os movimentos sociais. Além disso, como demonstra a obra de Andrew Arato e Jean Cohen, ela serviu de base para o desenvolvimento de um conceito de sociedade civil que se diferencia tanto do mercado como do Estado. Também possibilitou novos impulsos para um modelo de democracia deliberativa que serviria de alternativa às ideias de democracia representativa e participativa.
Por outro lado, a crise do Estado de Bem-Estar Social, já observada em 1981, intensificou-se a tal ponto que dificilmente se pode tirar da ordem do dia a premência das questões materiais e distributivas. Soma-se a isso a diminuição do espaço de ação política que os Estados nacionais sofrem por conta da globalização econômica. Conflitos pouco analisados na obra de 1981, como os ligados ao fundamentalismo religioso, aparecem de maneira significativa mesmo em sociedades supostamente racionalizadas.
A obra posterior de Habermas aborda todos esses problemas, o que demonstra sua disposição incomum de atualização contínua.
Luiz Repa é professor de filosofia na Universidade Federal do Paraná.
Teoria do Agir Comunicativo
Jürgen Habermas
Trad.: Paulo Astor Soethe e Flávio Beno Siebeneichler
WMF Martins Fontes
730 págs. (vol. 1), 824 págs. (vol. 2)
R$ 135 (caixa)
 
(Resenha publicada na Revista Cult)

domingo, 23 de setembro de 2012

A primeira crônica de Nelson Rodrigues sobre Pelé.

A primeira crônica de Nelson Rodrigues sobre Pelé

ACHEI UMA CRÔNICA DE NELSON RODRIGUES SOBRE PELÉ, DATADA DE 25 DE MARÇO DE 1958, NUM SANTOS 5 X 3 AMÉRICA, NO MARACANÃ.
O JOGO ERA VÁLIDO PELO TORNEIO RIO-SÃO PAULO. TUDO INDICA QUE É A PRIMEIRA CRÔNICA DE NELSON SOBRE PELÉ. UMA RARIDADE, PORTANTO. ACOMPANHE:
 
 
Depois do jogo América x Santos, seria uma crime não fazer de Pelé o meu personagem da semana. Grande figura, que o meu confrade Albert Laurence chama de “o Domingos da Guia do ataque”. Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.
O que nós chamamos de realeza é, acima de todo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. E o meu personagem tem uma tal sensação de superioridade que não faz cerimônias. Já lhe perguntaram: — “Quem é o maior meia do mundo?”. Ele respondeu, com a ênfase das certeza eternas: — “Eu”. Insistiram: — “Qual é o maior ponta do mundo?”. E Pelé: — “Eu”. Em outro qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe no que diz uma tal carga de convicção, que ninguém reage e todos passam a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável Pelé.
Vejam o que ele fez, outro dia, no já referido América x Santos. Enfiou, e quase sempre pelo esforço pessoal, quatro gols em Pompéia. Sozinho, liquidou a partida, liquidou o América, monopolizou o placar. Ao meu lado, um americano doente estrebuchava: — “Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!”. De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, ele recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: — sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: — a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável.
Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, certeza, de otimismo, que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que a sua maior virtude é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível em qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim, amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau.

O Brasil em campo com Nelson Rodirgues

 
Mais uma obra de referência para a literatura esportiva. No ano do centenário de Nelson Rodrigues, a coletânea de crônicas organizada por sua filha, Sonia Rodrigues, “O Brasil em Campo” (Editora Nova Fronteira) é leitura obrigatória. Desde as crônicas organizadas por Ruy Castro, seu biógrafo, Nelson Rodrigues não tinha uma de suas maiores paixões, o futebol, tão bem explorado. São 71 crônicas sobre esporte, 58 delas nunca publicadas em livro.
 
Sinopse (da Editora):

“Nelson Rodrigues e o futebol. Pode parecer mera repetição, mais do mesmo, mas não é! Brasil em campo é uma antologia em que se conjugam ironia, versatilidade, repetição — com muito estilo — e belíssimos chutes a gol de um dos maiores cronistas esportivos do país!
E não é só isso. Nas crônicas aqui reunidas, percebe-se que, a partir do chute inicial, com belos e inesperados dribles na pauta de sua coluna, Nelson passa a bola para questões políticas, culturais e acaba chegando ao mais fundo da alma brasileira. Porque esse é seu espaço por excelência de discussão do humano e de suas verdades.
Mas Brasil em campo é ainda, sobretudo, o retrato de uma paixão. Paixão pessoal, coletiva, brasileira.
Talvez essa seja mesmo a palavra que grite mais alto nas páginas deste livro, como um torcedor em final de campeonato ou quando sente que seu time foi garfado pela arbitragem.
Paixão é o sentimento que todos os brasileiros devotam a esse esporte e com Nelson não foi diferente. Sabidamente apaixonado por futebol e pelo seu time, o Fluminense, Nelson elege esse esporte como nosso maior traço de união, fazendo dele uma verdadeira metáfora do Brasil e dos brasileiros”.
Na primeira crônica da antologia organizada por sua filha, um texto inédito de Nelson Rodrigues sobre a Seleção Brasileira na Copa de 1958, na Suécia:

No Brasil, o futebol é que faz o papel da ficção
Por Nelson Rodrigues (O Globo, s/d)

“Ontem, o Wilson Figueiredo faz-me o apelo dramático: — “Não misture o Brasil com o escrete!” Segundo o caro confrade, há todo um abismo entre a pátria e a seleção. Deixo o telefone numa amarga perplexidade. E das duas uma: — ou é o colega que não enxerga o óbvio ou sou eu que vejo uma relação. Falsa. Mas com uma pertinácia bovina reafirmo: — o escrete é o Brasil; é a pátria dando botinadas.

Confesso, porém, que sou um brasileiro obsessivo e repito: — um brasileiro delirante, que precisa ver o Brasil, por todas as partes. Há pouco, numa exposição em Bruxelas, premiaram uma das nossas marcas de fósforo. Pois bem. A partir de então, uma caixa de fósforos passou a ser, aos meus olhos, um símbolo nacional, dos mais válidos e incisivos. Era a pátria em palitos. De uma outra feita, houve um concurso de gado, em Uberaba. Selecionaram um dos animais e lhe enfiaram pelo pescoço uma fitinha, com uma medalha pendurada. E a vaca premiada foi, por um momento, o Brasil, a pátria viva.

Agora é a vez do escrete. E não importa que o Wilson Figueiredo proteste, com escândalo e irritação: — “Futebol é clube e não pátria!” Lá fora, quando se quer conhecer um povo, o sujeito recorre à ficção. Mas no Brasil, não. O nosso romance é ralo, é escasso de grandes símbolos nacionais. Quer-se um Tartarin e não temos um Tartarin, quer-se um Peer Gynt e não temos Peer Gynt, um Karamázov e não há um Karamázov. É verdade que temos um Paulo Francis, ressentido como um Raskólnikov de galinheiro. Mas o Paulo Francis ainda não está impresso.

Eis a verdade: — no Brasil, o futebol é que faz o papel da ficção. O sujeito quer um herói de botas e penacho? um supertipo? ou mau-caráter, em dimensão gigantesca? Encontraremos tudo isso e muito mais nos clássicos imortais ou nos amistosos caça-níqueis. Lembro-me de uma pelada a que assisti, faz tempo. Um dos adversários era o brioso Rosita Sofia. E o outro devia ser o Manufatura, ou Mavilis, sei lá. De repente, a coisa começou a crescer em campo. Tudo adquiriu um dramatismo inesperado e colossal.

E me doeu não ser um Camões, ou um Sófocles, ou um Tolstói. Eu via, ali, todo um material abundantíssimo para uma Guerra e paz.

E, no entanto, não há em toda a já vasta obra de Guimarães Rosa uma única e mísera pelada. Todo o seu monumento romanesco não inclui uma vaga e lírica botinada. Nada. O ficcionista ainda não desconfiou que os nossos descobridores, os nossos argonautas de cristal, os nossos lusíadas, os nossos mares — estão no futebol. Toda a experiência vital e romanesca do Guimarães Rosa vai se enriquecer quando ele descobrir o Maracanã.

Amigos, aí é que está: — o sujeito que quiser conhecer o Brasil terá de olhar o escrete. Não há nada mais Brasil do que Pelé. E repito: — todo o Brasil estava no goal que Pelé marcou, de cacetada, contra o País de Gales. Também a desgraça venta no futebol. Pior do que Canudos foi a vergonha épica de 50. No Maracanã inaugurado, o uruguaio Obdulio Varela venceu, no palavrão, o escrete e toda a nação.

A ressurreição nacional data de 58. Que era o brasileiro antes da Jules Rimet? Um humilhado, um ofendido. No seu amargo cotidiano, sofria desfeitas da mulher, da criada e, até, do caçula. Pois bem. A vitória de 58 mudou até as nossas reações domésticas. O brasileiro já entra em casa dando patadas. Agora é ele quem ofende, é ele quem humilha. E toda essa nova e triunfante disposição vital nós devemos ao escrete.

Eu queria dizer, ainda, que o Brasil também está no arremesso lateral de Djalma Santos, o negro. É um grave, um transcendente arremesso lateral. Amigos, imaginemos a cena. A bola está no chão. E vem Djalma Santos. Ele se curva. Apanha a bola e a carrega, a mãos ambas, como diria o Eça. Não é um esforço leve e frívolo. Não. Djalma Santos parece estar suspendendo um piano. Ele ergue a bola. Balança o corpo. E aí é que está o sortilégio: — o seu arremesso lateral é solene, forte, herói — como um tiro de meta. É uma bomba. Amigos, pode-se ligar a potencialidade manual de Djalma Santos à nossa epopeia industrial”.

Em outra crônica inédita, Nelson Rodrigues, como sempre, fala de outro personagem fundamental de suas histórias: o torcedor brasileiro.

Narciso às avessas, que cospe na própria imagem
Por Nelson Rodrigues (Revista Manchete Esportiva, 17/5/1958)

Hoje, o meu personagem da semana é uma das potências do futebol brasileiro. Refiro-me ao torcedor. Parece um pobre-diabo, indefeso e desarmado. Ilusão. Na verdade, a torcida pode salvar ou liquidar um time. É o craque que lida com a bola e a chuta. Mas acreditem: — o torcedor está por trás, dispondo.

Escrevi acima que o torcedor não é um desarmado e provo. De fato, ele possui uma arma irresistível: — o palpite errado. Empunhando o palpite, dá cutiladas medonhas. Vejam o primeiro jogo com os paraguaios. Vencemos de cinco e podia ter sido de dez. Fizemos do adversário gato e sapato. Ora, para uma primeira apresentação foi magnífico ou, mesmo, sublime. Mas quando saí do Maracanã, após o jogo, vejo, por toda parte, brasileiros amargos e deprimidos. Mais adiante, esbarro num amigo lúgubre. Faço espanto: — “Mas que cara de enterro é essa?” O amigo rosna: — “Estou decepcionado com o escrete!” Caio das nuvens, o que, segundo Machado de Assis, é melhor do que cair de um terceiro andar. Instantaneamente, vi tudo: — o meu amigo era ali, sem o saber, um símbolo pessoal e humano da torcida brasileira. Símbolo exato e definitivo.

Em qualquer outro país, uma vitória assim límpida e líquida do escrete nacional teria provocado uma justa euforia. Aqui, não. Aqui, a primeira providência do torcedor foi humilhar, desmoralizar o triunfo, retirar-lhe todo o dramatismo e toda a importância. Atribuía-se a vitória não a um mérito nosso, mas a um fracasso paraguaio. Os guaranis passavam a ser pernas de pau natos e hereditários. Dir-se-ia que, por uma prodigiosa inversão de valores, sofremos com a vitória e nos exaltamos com a derrota.

E, no entanto, vejam vocês: — o escrete visitante, que nos parecia de vira-latas, acabara de vencer e desclassificar a “Celeste” e bater a enfática Argentina. Mas, para cuspir na vitória brasileira, o nosso torcedor fingiu ignorar a real capacidade, a indiscutível classe do adversário. Veio o segundo jogo, no campo careca e esburacadíssimo do Pacaembu. Houve um empate, que teve para o Brasil o gosto de uma semiderrota. Desta vez, porém, nada 22 de choro, nada de vela. Por toda parte, só se viam caras incendiadas de satisfação.

Com o olho rútilo e o lábio trêmulo, o torcedor patrício lavava a alma: — “Eu não disse?” Os pernas de pau não eram mais os paraguaios, eram os brasileiros. E está-se vendo esta vergonha: — um escrete, que começou vencendo, já é vítima de uma negação frenética. Há gente torcendo para que ele apanhe de banho na Suécia.

Eis a verdade, amigos: — tratam do craque, tratam da equipe e esquecem o torcedor, que está justificando cuidados especiais. Que estímulo poderá ter um escrete que é negado mesmo na vitória? A seleção não tem saída. Se vence de cinco, se dá uma lavagem, o torcedor acha que o adversário não presta. Se empata, quem não presta somos nós. Durma-se com um barulho desses!

Há uma relação nítida e taxativa entre a torcida e a seleção. Um péssimo torcedor corresponde a um péssimo jogador. De resto, convém notar o seguinte: — o escrete brasileiro implica todos nós e cada um de nós. Afinal, ele traduz uma projeção de nossos defeitos e de nossas qualidades. Em 50, houve mais que o revés de onze sujeitos, houve o fracasso do homem brasileiro.

A propósito, eu me lembro de um amigo que vivia, pelas esquinas e pelos cafés, batendo no peito: — “Eu sou uma besta! Eu sou um cavalo!” Outras vezes, ia mais longe na sua autoconsagração, e bramava: — “Eu sou um quadrúpede de 28 patas!” Não lhe bastavam as quatro regulamentares; precisava acrescentar-lhe mais 24. Ora, o torcedor que nega o escrete está, como o meu amigo, xingando-se a si mesmo. E por isso, porque é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem, eu o promovo a meu personagem da semana.

sábado, 22 de setembro de 2012

Lula: seus passos nessas eleições significam que ele já jogou a toalha.


Os caminhos que o líder máximo do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva vem trilhando nessas eleições municipais são elucidativos para entendermos o drama vivido pelo partido. Na semana passado, em encontro reservado com algumas lideranças da agremiação, Lula antecipou o tamanho da encrenca. O PT enfrenta dois grandes problemas nessas eleições. O primeiro diz respeito à fadiga de material e, o segundo, o julgamento do mensalão, variáveis com as quais, nos parece, o partido não teria calculado o tamanho do estrago que poderia causar às suas pretensões de continuar na gestão de cidades importantes ou ampliar seu número de prefeitos em relação ao pleito anterior, alicerçando os projetos de 2014. Não veio e possivelmente não virá ao Recife, mas foi até Manaus pedir votos para a senadora Vanessa (PCdoB), que enfrenta um dos seus urubus voando de costa, o ex-senador Arthur Virgílio. Manaus enfrenta uma eleição bastante equilibrada. Depois do fracasso do “esforço final” em São Paulo, Lula agora concentra esforços na região do ABC, um estratégico cinturão, fundamental para os planos do partido em manter-se no poder. Ter selado as pazes com Eduardo Campos é um indício claro de que Lula, pelo menos no momento, reconhece que não reúne as condições ideais para um embate aberto com o líder do PSB. Informe do Estadão, assegura sua presença em Juazeiro(BA) para pedir votos para Issac Carvalho(PCdoB), enquanto o que se esperava -  e seria natural - que ele pedisse votos para o candidato do PT, Joseph. Eu arrisco um palpite. Não se espantem se ele vier ao Recife... pedir votos para Geraldo Júlio. Pay Attention, PT!!!