pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 6 de janeiro de 2013

RHBN: Fotografia: Exposição na Caixa Cultural do Rio de Janeiro apresenta a concepção artística do fotógrafo Flávio Damm em 80 imagens P&B

Gabriela Nogueira Cunha
26/12/2012
 

  • Paris, 1989Paris, 1989
    A cena é típica. Parados em frente ao portão da escola dela, apoiados na bicicleta dele, o casal se beija. Um grupo de garotos ri da situação. A maleta de trabalho do rapaz, jogada no chão com desleixo, leva a crer que foi um encontro apressado, mas aguardado. Ninguém jamais saberá seus nomes ou, ao menos, conseguirá ver seus rostos. Eles ficaram reservados à memória do par de colegas de classe da garota que achava graça – o que fazia o casal apaixonado, em plena Paris de 1989, parecer minimamente estranho. Será que ele era mais velho do que ela? Ninguém jamais saberá. A tão corriqueira cena está hoje pendurada na parede da Galeria 2, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, em meio a uma seleção de outras 80 imagens do fotojornalista Flávio Damm.
    Damm é um fotojornalista que, por opção, só opera com luz ambiente e em formato 35 mm, nunca utiliza equipamento digital e jamais fotografa em cores. Com curadoria de Felipe Taborda, a exposição “Flávio Damm – Passageiro do Preto & Branco – Fotografias 1946-2012” permanece na galeria até 27 de janeiro de 2013. Os registros percorrem mais de 60 anos da carreira do gaúcho em dezenas de cidades espalhadas pelo globo: junto àquela fotografia do casal apaixonado na capital francesa de 1989, aparecem o Rio de Janeiro de 1998, o carnaval de 1950, Portugal em 2010, Ouro Preto em 1999.
    Paris, 2012Paris, 2012
    “Sei escrever, mas gosto de fotografar.” É assim que o jornalista escancara sua preferência pelas imagens, em entrevista à Revista de História. “O papel do fotojornalismo não é outro, se não ilustrar a própria notícia. O fotojornalista vai à guerra e cumpre a tarefa de ver por quem não viu”, conclui. A “guerra”, a qual Damm utiliza como exemplo, é uma referência à Segunda Guerra Mundial que, segundo ele, foi crucial para lhe despertar o interesse pela fotografia.
    “Eu tinha 11 anos em 1939 e lia o jornal por cima do ombro do meu pai. Um dia, quando começou a Segunda Guerra, eu perguntei pra ele: ‘quem é que faz essas fotografias?’. E ele me explicou que é um soldado, munido de câmera, que vai para a batalha. Naquele momento eu queria ser o criador da imagem, queria ser o cara que leva aquela imagem para as pessoas, queria ser o fotógrafo de guerra.” Não muito por acaso, Flávio Damm começa sua carreira como auxiliar de laboratório do fotógrafo alemão Ed Keffel, que se refugiava do nazismo em Porto Alegre.
    Na imprensa, Damm realizou seu primeiro grande trabalho em 1948, quando cobriu o retorno de Getúlio Vargas à cena política, após o Estado Novo, para a Revista do Globo. Com isso, conseguiu um convite para trabalhar numa das revistas mais conceituadas da época: O Cruzeiro. E lá ele passou 520 semanas e 330 reportagens. Números que ele sabe de cor e lembra com entusiasmo: “Viajei o mundo inteiro pela revista Cruzeiro. Fui o único fotojornalista que cobriu a coroação da rainha da Inglaterra. Fui até preso duas vezes! Uma vez pelo Perón, na Argentina, em 1951, e outra no Rio, em 66”.
    P&B
    Com mais de 65 anos de carreira, 26 livros publicados e exposições ao redor do mundo, Flávio Damm é conhecido por sua “aversão” à tecnologia digital e adoração, quase religiosa, ao preto e branco.  Para ele, a cor não passa de um acessório decorativo e não traz o fator “foto-verdade” que impregna as fotos monocromáticas. Em sua opinião, fotos coloridas passariam algo como falsidade emocional e a cor seria um facilitário fotográfico.
    “A fotografia em preto e branco exige [mais] do fotógrafo: registrar a cena, compor, transmitir o conteúdo. Exige do espectador uma leitura menos emocional: mais crítica, com mais atenção. Em P&B o leitor coloca a cor que ele quer... Sua própria emoção dele. Esta é a minha linguagem, dela não abro mão.” Photoshop? Nem pensar! Essa “mágica” não tem espaço em sua fotografia.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Summer of 42 - Music by Michel Legrand

cartas para julieta - dublado audio portugues

Stumble Upon!!!



Still life with flowers
Georges Grimprel
1873

Charge!Paixão! Posse de Genoíno! Gazeta do Povo

Paixão

Flagrante Tumblr!!!

The Economist: China's new leaders seek to present a friendlier public face, but oppose bold new demands for democratic reform

Political reform

Defining boundaries

China’s new leaders seek to present a friendlier public face, but oppose bold new demands for democratic reform


ON JANUARY 2nd front pages of many Chinese newspapers carried identical headlines. “Greater political courage”, they proclaimed, was needed in the execution of reforms. But even as they try to signal their openness to change, China’s new leaders are nervous of demands that they move faster to loosen the Communist Party’s grip. Most worryingly for them, some of the boldest calls are coming from within the establishment.
Since the leaders, headed by Xi Jinping, were installed in November the party’s propaganda machinery has been working hard to make them look reformist and open-minded. Newspapers trumpeted Mr Xi’s decision to visit the reformist mecca of Shenzhen in early December on his first out-of-town tour. Later in the month the state news-agency, Xinhua, published profiles of Mr Xi and the party’s six other most powerful men. With the articles were rare photographs, including some (above) from years past of Mr Xi with his wife, Peng Liyuan, a well known folk-singer, his daughter, who now attends Harvard, and his father, who has since died. Seldom have the official media sought to portray the party boss as a family man. The hint was that a more human touch can be expected.
Such tweaking of the leaders’ image has done little to mute demands for more radical change. For many years these have commonly surfaced, especially in conjunction with important political events, in the form of petitions and open letters issued by a few outspoken scholars and members of China’s beleaguered community of dissidents. Party officials almost invariably ignore them. But on December 25th one group issued a radical prospectus that is likely to concern the leadership; the 72 people who signed it, mainly academics and lawyers, are much closer to the party mainstream than the usual petitioners.
Their “Proposal for a Consensus on Reform” gives a stark warning of the dangers of inaction. If systemic reforms are not carried out, it says, public dissatisfaction will escalate to a “critical point” and the country will “fall into the turmoil and chaos of violent revolution”. Zhang Qianfan, a legal scholar at Peking University who organised the petition, says an Arab-style upheaval is possible, particularly if the economy were to stall. Worries about stability have increased, he says, amid growing numbers of protests around the country.
Such doom-laden language is not so different from some of the new leaders’ own rhetoric aimed at galvanising support for reform. Mr Xi himself has hinted at an Arab-style outcome if the party fails to tackle corruption. In late December he even implied that the party might fall if it fails to reform politically. This was suggested by a reference he made to a meeting in 1945 between Mao Zedong and Huang Yanpei, the leader of a Communist-leaning party. Huang told Mao that many Chinese dynasties had collapsed because of their inertia after many years in power. Mao replied that the Communist Party had found a remedy for this: democracy. Mr Xi probably did not spell out the irony of Mao’s response, but by alluding to it he implied that more democracy was now needed.
By this Mr Xi almost certainly did not mean the kind of approach called for in the recent petition. Its authors, many of whom are from leading universities and government-affiliated think-tanks, say their proposals amount to no more than implementing the country’s constitution. But this is far more radical than it sounds. As they point out, the constitution guarantees freedom of speech, assembly and publication as well as the right to demonstrate. Proper implementation, they say, would require lifting controls on the internet, on the formation of NGOs (they carefully avoid mentioning opposition parties) and on the press. Banning demonstrations should be the exception instead of the rule as it is now. The judiciary should be allowed to work independently, free of the party’s interference. Non-party-sponsored candidates should be welcome to stand for election to legislatures, which should wield real power instead of acting as “rubber stamps” for the party. And the party should implement its own charter, letting members elect their own leaders freely.
Few expect imminent progress on any of these fronts. Within a day of the petition’s appearance on websites in China, censors had begun to erase it. Searches for it on Sina Weibo, a popular microblog service, produce a message saying results cannot be displayed because of “relevant laws, regulations and policies”. In recent weeks, there have been signs of a tightening of internet curbs. Some users in China have reported greater difficulty using foreign-based “virtual private networks” which help to circumvent censorship mechanisms. On December 28th a new law was passed requiring real-name registration of internet subscribers. Some fear this will deter criticism of the government.
Mr Xi is unlikely to respond as aggressively to the petition as his predecessor, Hu Jintao, did to another high-profile appeal for political change, known as Charter 08, which was signed by several thousand people four years ago. Its drafter, Liu Xiaobo, was given an 11-year prison sentence for his pains (and, to Mr Hu’s chagrin, a Nobel peace prize). As a veteran dissident, Mr Liu was vulnerable. It would be harder for the party to arrest the signatories of the recent petition given their more conformist backgrounds.
In its new-year edition, a reformist journal, Yanhuang Chunqiu, echoed the petition’s sentiments in an editorial calling for a movement to “protect the constitution” and ensure its guarantees are carried out. But Mr Xi, whose call for political courage inspired the headlines on January 2nd, made clear his bottom line. “Stability is the prerequisite for reform”, he told fellow members of the Politburo. China’s liberals, however, see this as the party’s age-old excuse for dithering.

"No gosto do povo", artigo de Fernando Lyra na revista Carta Capital

No gosto do povo


Técnica competente e política habilidosa, Dilma Rousseff está em situação confortável para a disputa eleitoral de 2014. Foto: Masao Goto Filho
Quando o presidente Lula anunciou Dilma Rousseff como sua candidata à Presidência, a reação foi de completa perplexidade. Executiva decidida e conhecida por suas opiniões fortes, Dilma nunca havia concorrido a uma eleição. Tinha uma história de vida complexa, uma reconhecida competência técnica e uma experiência de sucesso substituindo o até então insubstituível ministro José Dirceu na Casa Civil do governo. Mesmo assim, essas credenciais pareciam insuficientes, até porque ela não era uma petista histórica, suas raízes partidárias estavam no PDT de Brizola, onde exerceu diversas funções na cidade de Porto Alegre e no governo do Rio Grande do Sul, adquirindo experiência administrativa.
Primeiro veio a campanha, e ela mostrou-se uma candidata competitiva. A pupila foi boa aluna, aprendeu lições valiosas com um professor generoso. Foi bem nos debates e sua personalidade forte começou a aparecer para quem prestava atenção. Ganhou a eleição com méritos.
Elegemos então a primeira mulher presidente do Brasil. Enchemos o peito de orgulho e Dilma foi empossada sob os aplausos do mundo, ratificando o compromisso brasileiro com a modernidade e a igualdade entre o homem e a mulher.
Iniciou seu governo sob a sombra poderosa do mais popular presidente da nossa história. Poderia, sem conflito com o antecessor e padrinho, impor sua própria marca? Aos poucos essa questão foi sendo respondida. Positivamente. Dilma surpreendeu nos primeiros cem dias, na primeira crise, nas primeiras insatisfações. Os ataques éticos a membros do seu governo deram o mote para a imagem de faxineira. As tentativas de insubordinação trouxeram à tona seu estilo durão. As inquietações na ampla base foram encaradas com firmeza.
Pouco a pouco se viu que não era apenas a primeira mulher que ocupava a Presidência. Era uma ex-guerrilheira heroica e determinada. Uma estudante torturada com o espírito da anistia e da conciliação. Mas sem fugir do encontro com a história. Está aí a Comissão da Verdade, avançando, sem revanchismo e com firmeza.
Era também uma técnica competente, uma política habilidosa, capaz de administrar sem fraturas a mais extensa base aliada que já se viu neste país. Participou de pouquíssimas campanhas e exclusivamente quando sua presença provou-se imprescindível. No ciclone das recentes eleições municipais, que em muitos lugares conflitaram aliados federais em lutas sem quartel, conseguiu escapar sem uma defecção sequer. Não é pouco, é muito.
Existem questionamentos naturais quanto ao desempenho administrativo, mas vejamos… A prioridade do social continua sendo religiosamente cumprida. Algumas outras áreas ficam carentes. É a sina administrativa dos países em desenvolvimento: é simplesmente impossível para qualquer governo atender a todas as expectativas, mas educação, saúde e segurança não podem deixar de ser prioridade em nenhuma circunstância. Estamos com problemas graves a serem resolvidos. Também na infraestrutura, onde Dilma quer deixar sua marca, está sendo atrasada pela burocracia e pelo gigantismo de uma máquina antiga, concentrada no poder central. As agências reguladoras não funcionam. O serviço de telefonia, por exemplo, transformou-se em um dos piores do mundo. A burocracia continua emperrando a máquina pública.
Os recursos são mal distribuídos, mas esses males independem do presidente da vez. Só serão efetivamente combatidos, como já é lugar-comum mencionar, com uma reforma ampla e profunda do Estado.
A presidenta caiu no gosto do povo. Deu ao cargo uma dignidade diferente, com um comportamento mais parecido com os dos governantes do Primeiro Mundo. Sua popularidade, com dois anos decorridos de governo, supera em muito a votação que recebeu. Sabemos que política é mutável como as nuvens, mas, consultando os astros, sua situação para a eleição de 2014 é muito confortável.
No entanto, no meu entender, o mais importante ato do governo Dilma, até agora, foi a sua decisão de reservar os rendimentos dos royalties do petróleo para utilização exclusiva na educação. Uma tese antiga, defendida, entre outros, pelo meu amigo o senador Cristovam Buarque. Essa decisão, sim, é capaz de garantir de uma vez por todas o encontro do Brasil com seu futuro. Hoje, esse encontro parece distante. Os índices educacionais brasileiros podem até ser maquiados para aparentar melhorias, mas temos de reconhecer, mais uma vez, nossa incompetência. Pouco melhorou.
No começo de dezembro, um Cristovam Buarque indignado discursou na tribuna do Senado sobre recente pesquisa na área de educação que coloca o -Brasil em um vergonhoso 39º lugar entre 40 países. Um Cristovam indignado surpreendeu-se com a falta de repercussão de tanta vergonha. Um Cristovam indignado perguntou “se não temos vergonha na cara de sermos a sexta economia do mundo e apresentarmos índices tão baixos de educação”. Um Cristovam indignado disse “eu faço esse discurso e, amanhã, nada acontece”. E continua… “A impressão que me está passando é de que está faltando vergonha na cara da gente, mas, além de faltar vergonha, sobra burrice.”
Quero me associar a Cristovam na indignação e na vergonha. Isso tem de mudar. Tem de haver uma reforma estrutural, a federalização das escolas públicas de ensino fundamental e médio. Educação tem de ser prioridade absoluta. E não é e nunca foi. Desde os tempos do império. Mas poderá ser. A presidenta Dilma pode deixar sua marca na maior revolução da história deste país. Pode, por meio das melhorias na educação, ensinar uma nação a pensar, se reinventar e, assim, trabalhar para fazer do Brasil finalmente o país do futuro que tanto já foi cantado mundo afora.
Sonho também com uma profunda reforma política. Pareço disco arranhado, eu sei. Assim como Cristovam e a educação, há anos luto por mudanças na estrutura política do nosso país.
A reforma tributária, a reforma política, a reforma no Judiciário. Tudo isso é base, é fundação para o crescimento deste nosso Brasil. Mas nada, nada disso terá consequências se a educação não for prioridade antes.
Como é tímido o nosso crescimento na educação, quando o comparamos com o de outros países emergentes que fizeram e fazem da educação a plataforma para o seu desenvolvimento.
Caso o Congresso reconheça a importância da iniciativa e referende a reserva dos rendimentos dos royalties do petróleo para utilização exclusiva na -educação, e caso a sociedade se mobilize para cobrar e fiscalizar a sua aplicação, podemos passar da esperança à realidade e confiar que, finalmente, estamos lançando as bases de uma grande nação. Com educação de qualidade e sem máscaras.

Fernando Lyra, ex-ministro da Justiça, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco.

Revista IstoÉ: Renan, o indestrutível

Renan, o indestrutível

Seis anos depois de deixar a presidência do Senado acossado por denúncias de corrupção, Renan Calheiros manobra nos bastidores e se torna favorito para comandar o Congresso

Josie Jeronimo

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SEMPRE NO TOPO
Só uma catástrofe pode tirar a vitória de Renan
Há seis anos, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deixou a presidência do Senado pela porta dos fundos. Acusado de ter despesas pessoais pagas por uma empreiteira, Renan teve suas contas devassadas, perdeu musculatura política e não lhe restou outra saída senão renunciar ao posto. Conseguiu, porém, evitar a cassação do mandato em plenário e, agora, é considerado nome certo para comandar o Congresso até 2014, ano da corrida presidencial. Convencido do seu amplo favoritismo, Renan procurou fugir dos holofotes nos últimos dias. Só uma catástrofe tira a sua vitória. Como maior bancada do Senado, o PMDB tem a prerrogativa de indicar o novo presidente. Além de não possuir adversários em condições de derrotá-lo no interior do partido, Renan conta com a simpatia de legendas da oposição, como o PSDB, partido que ajudou a fundar na década de 1980. No apagar das luzes de 2012, senadores da chamada ala rebelde do PMDB até ensaiaram lançar uma candidatura alternativa. Foram cogitados os nomes dos senadores Luiz Henrique (SC) e Waldemir Moka (MS), mas
eles recuaram, cientes da falta de votos para superar Renan. “Só entro na disputa se tiver a certeza da vitória”, blefou Luiz Henrique, praticamente jogando a toalha.
A recuperação de Renan e sua volta ao comando do Senado, seis anos depois de ser defenestrado da principal cadeira do Congresso, confirmam a máxima de que a Casa é uma espécie de associação entre amigos. O político disposto a atender aos anseios do “clube” se credencia politicamente até ser alçado ao poder. Na lógica desse modelo, só pode alcançar o posto máximo do Senado quem for capaz de conciliar os interesses – muitas vezes escusos e nem sempre salutares para a democracia – de todos. Conhecedor dos meandros e subterrâneos do Legislativo, Renan soube trilhar esse caminho com desenvoltura. Com a eleição de José Sarney (PMDB-AP) para a presidência da Casa, ele se rearticulou e voltou a ter o comando do PMDB e de partidos da base aliada. A retomada da força política de Renan ficou clara durante a CPI de Carlinhos Cachoeira, quando o governo precisou de seu partido e ele atuou para evitar maiores transtornos para aliados do Planalto durante as investigações. Teve êxito na iniciativa.
RENAN-04-IE-2251.jpg PODER
Com a eleição de Sarney para a presidência do Senado,
Renan voltou a ter o comando do PMDB
Embora torçam o nariz para sua eleição, porque sabem que terão de negociar cada votação importante numa mesa de cacife muito alto, integrantes do governo chegaram à conclusão de que Renan é um mal necessário. Concluíram também que o Planalto não tem como atropelar uma bancada experiente como a do PMDB no Senado para fazer valer sua vontade. O Palácio do Planalto até tentou emplacar Eduardo Braga (PMDB-AM) na cadeira de presidente, nomeando-o líder do governo. Não deu certo. O outro plano era trabalhar nos bastidores pelo nome do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Mas Lobão não quis deixar a Esplanada. “Ele quer ficar no ministério. Renan e Lobão já conversaram sobre o assunto e meu pai declinou da candidatura em favor do Renan”, conta o senador Lobão Filho (PMDB-MA). A saída do Executivo foi deixar o jogo correr sozinho. Bom para o indestrutível Renan, acostumado a altos e baixos em sua trajetória.
O gráfico do poder político de Renan sempre se moveu em ritmo de montanha-russa, desde que ele saiu da Assembleia Legislativa de Alagoas para o topo no Congresso. Quando foi eleito presidente do Senado, em 2005, o peemedebista estava longe de ser uma figura de currículo ilibado. Pesava em suas costas o passado de braço direito e líder de governo na curta gestão Fernando Collor, em 1990. Durante o impeachment do ex-presidente alagoano, Renan traiu Collor e ajudou a alimentar as denúncias contra o ex-tesoureiro Paulo César Farias. A estratégia de desvinculação da imagem funcionou. Em 1998, Renan saiu das páginas dos escândalos e deu a volta por cima ao ser nomeado ministro da Justiça no fim do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Sua passagem pelo ministério, porém, durou pouco mais de um ano. A saída foi precipitada por conflitos com a cúpula da Polícia Federal.
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Em 2003, Renan conseguiu se livrar dos antigos estigmas políticos e ganhou espaço no governo Luiz Inácio Lula da Silva, amparado pelo PMDB. Com a bancada do partido nas mãos, tornou-se líder natural e o principal interlocutor do PMDB no Congresso junto ao governo. Assim, pavimentou o caminho que o levou até o comando do Legislativo, em 2005. O tiro que derrubou Renan da presidência do Senado, em 2007, partiu do campo pessoal e ricocheteou nas relações da vida pública. Ele foi acusado de pagar pensão alimentícia a sua ex-amante Mônica Veloso, com quem teve uma filha, com recursos da empreiteira Mendes Júnior – empresa ativa no mercado de licitações de grandes obras governamentais. A denúncia de uso do cargo público para favorecimento próprio foi desdobrada em outras. Ao Conselho de Ética do Senado, ele teve que se explicar sobre a utilização de laranjas na compra de empresas de comunicação em Alagoas. Precisou justificar também o fato de sua família ter vendido a peso de ouro uma fábrica de refrigerantes para uma firma que, meses depois, obteve uma série de benefícios fiscais do governo. As apurações foram arquivadas na Casa, depois de sua absolvição em plenário, mas se transformaram em dois inquéritos contra o senador. Graças à ajuda de habilidosos advogados, os processos tramitam lentamente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para se esquivar das denúncias que pesam contra ele e ainda carecem de explicação, Renan repete um mantra. Diz ter sido vítima de uma campanha de adversários que usaram “problemas pessoais” para atingi-lo. Por isso, hoje ele prefere manter a discrição. A atuação legislativa é planejada no sentido de evitar estardalhaços. Renan ajuda a acompanhar projetos de relevância ou de grande importância para o governo, mas evita relatorias de temas de apelo midiático que o obriguem a ter contato frequente com veículos de comunicação. Tomou horror a jornalistas. Atende todos que o procuram, mas usa a habilidade com as palavras para conversar durante muito tempo sem dizer nada. “Renan mente em off” tornou-se um bordão nos corredores do Congresso para resumir a rejeição do parlamentar ao contato com a imprensa. Aos mais próximos, Renan tem repetido que está “preparado emocionalmente” para ver ressuscitado seu histórico de escândalos. Para o político alagoano, tudo vale a pena quando a recompensa é a volta ao poder.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Charge!Paixão!

Paixão

Igarassu: prefeito Mário Ricardo encontra desfibriladores novos em banheiro de hospital



 

Durante visita à Unidade Hospitalar de Igarassu (Hospital e Maternidade Municipal), o novo prefeito da cidade, Mário Ricardo (PTB) ficou chocado com a situação encontrada no local.

A estrutura física do prédio está comprometida, apenas 20% dos serviços estão em funcionamento, vários equipamentos estão abandonados, como dois desfibriladores novos armazenados dentro do banheiro, além de camas hospitalares sucateadas. Outro grave problema é que há quatro anos a Unidade de Saúde não interna um paciente,  como também a maternidade que foi reformada em 2006, está desativada e não recebe as pacientes da região. O gestor municipal registrou ainda, a presença de mofos e infiltrações nas paredes do espaço destinado a saúde.

Diante desta situação, o novo prefeito da cidade, Mário Ricardo que desde o início da semana vem realizando vistorias nos órgãos públicos de Igarassu, assumiu o compromisso de mudar a situação.  A prefeitura já iniciou um mutirão de limpeza, os aparelhos de ar condicionado  serão relocados para suprir a deficiência da unidade, os equipamentos novos estão sendo retirados do banheiro e serão testados. “Aguardamos a visita no próximo dia 10, do secretário estadual de saúde, Dr. Antônio Figueira, vamos mostrar o abandono do local e fazer um planejamento em conjunto com para mudar esse quadro deplorável que nos foi deixado”, frisou o trabalhista.


ASCOM PMI

Revista Cult: Literatura brasileira é coisa de branco?

Literatura brasileira é coisa de branco?

É o que sugere o impactante estudo de Regina Dalcastagnè
Regina Dalcastagnè, autora de "Literatura Brasileira Contemporânea - Um território contestado"
RONALDO BRESSANE
Regina Dalcastagnè, professora da Universidade de Brasília (UnB), em uma pesquisa de 15 anos, chama a atenção para uma estatística espantosa: o campo literário brasileiro é dominado por autores homens, brancos, de classe média, moradores de Rio e São Paulo, professores ou jornalistas. O mesmo acontece com os personagens de seus livros – e temos que nossa literatura mais parece ser ambientada na Suécia que no Brasil. Em exaustiva pesquisa quantitativa que analisou 258 romances brasileiros publicados entre 1990 e 2004 pelas editoras mais expressivas do setor – Companhia das Letras, Rocco e Record –, o texto final do livro, “Personagens do romance brasileiro contemporâneo”, revela em números tendências impressionantes da nossa literatura atual. Quase três quartos dos romances publicados (72,7%) foram escritos por homens; 93,9% dos autores são brancos; o local da narrativa é mesmo a metrópole em 82,6% dos casos; o contexto de 58,9% dos romances é a redemocratização, seguida da ditadura militar (21,7%). Além de o protagonista ser, na maior parte das vezes, representado como artista ou jornalista, os negros surgem quase sempre como marginais e as mulheres, como donas-de-casa ou prostitutas.
DUAS PERGUNTAS PARA A AUTORA
CULT – Por que seu estudo se ateve apenas a livros de grandes editoras? Além disso, sua pesquisa parou em 2004, e já estamos em 2012…
Regina Dalcastagnè – Pensamos em preparar um projeto com foco nas editoras menores, mas precisaríamos de uma rede de apoio em todo o país para levantarmos todas, sem falar nas di_ culdades para a aquisição de todos os livros. Em tempo: já estou com nova equipe montada para prosseguir a pesquisa junto às grandes editoras, com um recorte de 2005 a 2014.
Autores egressos de pequenas editoras para as maiores não mudariam o resultado da sua pesquisa?
Creio que, somando os autores que saíram de editoras menores para as grandes, nossos resultados seriam os mesmos. Ressalto que nossa pesquisa foi realizada sobre “os romances publicados pelas grandes editoras” – livros e autores que “costumam ser” referendados pelo campo literário brasileiro (jornalistas, críticos literários, editores, professores etc.) – ou seja, é apenas um recorte representativo do que “se considera ser” a literatura brasileira contemporânea.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Maranhão: O Estado do medo

O Estado do medo

26 de dezembro de 2012
Autor: Marco Antonio Villa
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Em meio ao processo do mensalão, as diversas operações da Polícia Federal ou a turbulenta relação entre os poderes da República, o Brasil esqueceu do Maranhão. Na fase final da guerra contra Canudos, em 1897, os oficiais militares costumavam dizer que não viam a hora de voltar para o Brasil. Quem hoje visita o Maranhão fica com a mesma impressão. É um estado onde o medo está em cada esquina, onde as leis da República são desprezadas. Lá tudo depende de um sobrenome: Sarney. Os três poderes são controlados pela família do, como diria Euclides da Cunha, senhor do baraço e do cutelo. A relação incestuosa dos poderes é considerada como algo absolutamente natural. Tanto que, em 2009, o Tribunal Regional Eleitoral anulou a eleição para o governo estadual. O vencedor foi Jackson Lago, adversário figadal da oligarquia mais nefasta da história do Brasil. O donatário da capitania – lá ainda se mantém informalmente o regime adotado em 1534 por D. João III – ficou indignado com o resultado das urnas. A eleição acabou anulada pelo TRE, que tinha como vice-presidente (depois assumiu a presidência) a tia da beneficiária, Roseana Sarney.
No estado onde o coronel tudo pode, a Constituição Federal é só um enfeite. Lá, diversos artigos que vigoram em todo o Brasil, são considerados nulos, pela jurisprudência da famiglia . O artigo 37 da nossa Constituição, tanto no caput como no §1º, é muito claro. Reza que a administração pública “obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” e “a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”. Contudo, a Constituição maranhense, no artigo 19, XXI, § 9º determina que “é proibida a denominação de obras e logradouros públicos com o nome de pessoas vivas, excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas consagradas notória e internacionalmente como ilustres ou que tenham prestado relevantes serviços à comunidade na qual está localizada a obra ou logradouro”.
Note, leitor, especialmente a seguinte passagem: “excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas e consagradas notória e internacionalmente como ilustres”. Nem preciso dizer quem é o “mais ilustre” daquele estado – e que o provincianismo e o mandonismo imaginam que tenha “consagração internacional.” Contudo, a redação original do artigo era bem outra: “É vedada a alteração dos nomes dos próprios públicos estaduais e municipais que contenham nome de pessoas, fatos históricos ou geográficos, salvo para correção ou adequação nos termos da lei; é vedada também a inscrição de símbolos ou nomes de autoridades ou administradores em placas indicadores de obras ou em veículos de propriedade ou a serviço da administração pública direta, indireta ou fundacional do Estado e dos Municípios, inclusive a atribuição de nome de pessoa viva a bem público de qualquer natureza pertencente ao Estado e ao Município”. Quando foi feita a mudança? A 24 de janeiro de 2003, com o apoio decisivo de Roseana Sarney. Desta forma foi permitido que centenas – centenas, sem exagero – de logradouros e edifícios públicos recebessem, em todo o estado, denominações de familiares, especialmente do chefe. Para mostrar o desprezo pela ordem legal, em 1997 foi criado o município de Presidente Sarney, isto quando a Constituição Federal proíbe e a estadual ainda proibia. Quem criou o município? Foi a filha, no exercício do governo. Mas a homenagem ficou somente na denominação do município. Pena. Os pobres sarneyenses – é o gentílico – vivem em condições miseráveis: é um dos municípios que detêm os piores índices de desenvolvimento humano no Brasil.
Como o Brasil esqueceu o Maranhão, a família faz o que bem entende. E isto desde 1965
Como o Brasil esqueceu o Maranhão, a família faz o que bem entende. E isto desde 1965! Sabe que adquiriu impunidade pelo silêncio (cúmplice) dos brasileiros. Mas, no estado onde a política se confunde com o realismo fantástico, o maior equívoco é imaginar que todas as mazelas já foram feitas. Não, absolutamente não. A governadora resolveu fazer uma lei própria sobre licitação. Como é sabido, a lei federal 8.666 regulamenta e tenta moralizar as licitações. Mas não no Maranhão. Por medida provisória, Roseana Sarney adotou uma legislação peculiar, que dispensa a “emergência”, substituída pela “urgência”. Quem determina se é ou não urgente? Bingo, claro, é ela própria. Não satisfeita resolveu eliminar qualquer restrição ao número de aditivos. Ou seja, uma obra pode custar o dobro do que foi contratada. E é tudo legal. Não é um chiste. É algo gravíssimo. E se o Brasil fosse um país sério, certamente teria ocorrido, como dispõe a Constituição, uma intervenção federal. O que lá ocorre horroriza todos aqueles que tem apreço por uma conquista histórica do povo brasileiro: o Estado Democrático de Direito.
O silêncio do Brasil custa caro, muito caro, ao povo do Maranhão. Hoje é o estado mais pobre da Federação. Seus municípios lideram a lista dos que detém os piores índices de desenvolvimento humano. Muitos dos que lá vivem lutam contra os promotores do Estado do medo. Não é tarefa fácil. Os tentáculos da oligarquia estão presentes em toda a sociedade. É como se apresassem para sempre a sociedade civil. Sabemos que o país tem inúmeros problemas, mas temos uma tarefa cívica, a de reincorporar o Maranhão ao Brasil.
Fonte: O Globo, 25/12/2012

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

RHBN: Elas no comando, mas de que?

Elas no comando, mas de quê?

Retrospectiva: partindo do cenário político na América do Sul, pesquisadora relembra a mudança da identidade social da mulher no século XX. Será que por estarem no poder elas precisam governar para as minorias?

Nashla Dahás
30/12/20
  • Maria Antonieta com a rosa, por Élisabeth Vigée-Lebrun (1783), em exposição no Palácio de Versalhes.Maria Antonieta com a rosa, por Élisabeth Vigée-Lebrun (1783), em exposição no Palácio de Versalhes.
     Em fins do século XIX, Freud previu três destinos para as mulheres: a timidez neurótica e infeliz, a homossexualidade, e o caminho mais normal, a resignação. De lá pra cá, foram tantas as transformações na ciência, nas relações de gênero, de classe, e de trabalho, no entendimento sobre o sexo e os sexos, nos padrões ocidentais de comportamento, nas percepções sobre o bem e o mal. Vivendo, adaptando-se, entregando-se às possibilidades abertas pelo mundo democrático, e negociando com os novos mecanismos de controle do corpo e do pensamento, as mulheres executaram um movimento para fora dos seus lugares tradicionais na casa, no trabalho, na rua ou na cama. Mas isso não ocorreu sem que todo o resto se movesse também.
    Talvez, Freud se surpreendesse com as conquistas do movimento feminista: diferenças biológicas entre homens e mulheres não significam diferenças de talento, capacidade de trabalho e de grandeza intelectual. Isso não tem nada de novo, como já mostraram as trajetórias de Catarina da Rússia e Maria Antonieta no século XVIII e Margaret Thatcher no XX. Possivelmente, nascidos entre a casa grande e a senzala, como já assinalava Gilberto Freyre, os povos latino-americanos, produtos de uma combinação inédita entre o meio e uma cultura híbrida, antes de tudo comemoraram a chegada de mulheres ao poder. Michele Bachelet no Chile, Cristina Kirchner na Argentina e Dilma Roussef no Brasil aparecem na nossa cultura como se tivessem necessariamente o compromisso com a transformação da vida dos excluídos, das minorias, dos pobres. A lógica desse pensamento é bastante parecida com aquela que coloca sobre os ombros de Barack Obama fardos tão impossíveis como a intenção de promover a paz entre Israel e Palestina. 
    Em grande parte, tal sectarismo é tributário do mítico maio de 1968, quando a diferença foi alçada a categoria de valor mais importante seja na vida política e social, seja para o indivíduo. Aos poucos, a diversidade foi sendo enquadrada institucionalmente, e com a participação dos movimentos feministas, negros, indígenas e homossexuais tornou-se a forma mais comum de identificar o outro e a si mesmo.
    Dois anos de governo Dilma
    Após dois anos de governo, é possível dizer que a presidenta brasileira está longe de reconstruir os alicerces da política no Brasil: personalismo, paternalismo e predomínio de interesses privados em projetos supostamente nacionais. O fato de José Sarney ter assumido a presidência temporária enquanto Dilma está fora do país parece um bom exemplo. Nos anos de 1970 Sarney integrava a ARENA- Aliança Renovadora Nacional – partido de sustentação da ditadura militar que, na mesma época torturava a guerrilheira “Wanda”, hoje presidente. Ao que tudo indica a memória das mulheres poderosas não tem nada de diferente de qualquer outro ser político do século XXI, ela está à venda.

    Foto da ficha de Dilma Rousseff no DOPS de São Paulo, tirada em janeiro de 1970.Foto da ficha de Dilma Rousseff no DOPS de São Paulo, tirada em janeiro de 1970.
    E eis um novo elemento a ser considerado caso Freud quisesse abrir, hoje, outros caminhos para o futuro feminino: o mercado. A transformação do sonho da liberdade e da onipotência sobre o destino em mercadoria tem sido acompanhada por uma subjetividade tirânica, inalcançável e também neurótica, embora profundamente encantadora. Ava Gardner, Marylin Monroe, Betty Grable e Sandra Dee, as pin-ups americanas que estamparam os maços de cigarro, calendários e pôsteres durante a Segunda Guerra, seriam apenas o começo de um mecanismo que cria padrões de beleza e comportamento específicos para as mulheres atribuindo-lhes um valor de acordo com a proximidade ou afastamento desses modelos. Já em 1913, o escritor austríaco Robert Musil deu ao seu Homem sem qualidades Leona, a amante de beleza aristocrática que deixava os homens boquiabertos, tomados de um desejo muito diferente do que “lhes inspiravam as atrevidas cantoras com penteados de dançarina de tango”. Ao descrever sua intimidade, revela, contudo, uma peculiaridade da bela moça: era incrivelmente comilona, vício que há muito saíra de moda. Nela, os instintos da personalidade ligaram-se não ao coração, mas ao tractus abdominalis, como conta o autor.
    Talvez não esteja na política stricto sensu, na reivindicação prática de uma agenda confusa que aponta para liberdade, antiviolência e legalização do aborto, o melhor exemplo de amadurecimento das mulheres em suas relações sociais. Muito arriscadamente, afirmo que está no campo afetivo das pequenas relações humanas, das contínuas contingências, o espaço para a discussão dos limites da natureza humana e da matéria bruta da poesia. Espaço único onde é possível estabelecer relações inéditas e proposições práticas para a vida em sociedade. A construção e o combate às ideologias e conceitos não tem garantido a compreensão do uso sentimental e cotidiano que deles é feito; garante a afirmação retórica da igualdade entre homens e mulheres e a conquista de leis afirmativas e exclusivamente protetoras do sexo feminino, mas não assegura a descoberta de modos de viver e conviver mais honestos e plurais.
    Da mácula de Eva, ambiguamente sedutora e responsável pelas origens do pecado, à associação natural com a feitiçaria em tempos de inquisição, passando pelas teses biológicas de superioridade masculina na era da razão, a privação ao âmbito doméstico durante a modernidade, a falta de voz, e a condenação da sexualidade desde sempre impostas pela boa educação de cada época. As mulheres compartilham desde muito tempo uma identidade histórica marcada por experiências universais de exclusão, violência e subserviência, assim como enfrentam hoje dificuldades ligadas a uma rotina velha conhecida dos pater famílias, acostumados a diferentes relações de trabalho, ao compromisso com a qualidade da vida familiar, e com a marginalidade das ruas.
    Em todos os casos, os processos que levaram ao desaparecimento as históricas situações de opressão estiveram ligados aos sentimentos, às paixões que levaram padres a largar a batina, a miscigenação pelo desejo mais forte do que o mais português dos preconceitos. Não são poucos os exemplos de coragem para enfrentar a vida moderna, de amor à causa revolucionária diante das torturas mais humilhantes, ou o respeito por si mesma, não como um lesbianismo narcisista, mas como uma capacidade de se apaixonar, de ter e querer dar prazer a partir das sensações, de uma ética profundamente individual, mais do que a partir das tradições culturais e dos padrões contemporâneos. Aliás, a atual liberdade em relação ao homoerotismo tem menos de ruptura do que falta de uma discussão histórica mais ampla, que aborde as relações femininas entre si e com a sociedade de uma perspectiva menos preocupada com demarcações de classe, gênero ou raça. O historiador Ronaldo Vainfas, por exemplo, trata do cotidiano íntimo das mulheres que, no Brasil colonial, experimentavam relações homossexuais por diversas razões como o puro desejo, a coisificação na relação com os homens, o dia a dia de mexericos, trocas de segredos, alcovitagens entre damas, escravas e mulheres livres, ou ainda a curiosidade de senhoras às vésperas do casamento.
    Marcha das vadias
     
    Não se trata de descobrir raízes de determinados comportamentos, ou soluções do passado para os enfrentamentos de hoje, mas de tentar entender as relações humanas do presente de maneira mais transversal, evitando estereótipos, preconceitos e marcas específicas da informação de cada época. Por exemplo, a imagem de sexo frágil que há muito recaiu sobre a mulher, contrasta profundamente com a Marcha das Vadias que em 2012 comandou passeatas de mulheres de todas as idades com seios à mostra e crachás de putas. Os grupos feministas que se vestiam de forma masculinizada e defendiam o ódio ao falo são bastante diferentes da estética mercadológica que hoje vende uma identidade homossexual feminina e descolada. Todos, sem exceção, são representações dos modos como esses diferentes grupos se relacionaram com a sociedade, com homens, com a família, com a imprensa, com a política, com o amor, etc., embora o pensamento contemporâneo sempre muito individualista e especializado tenda a compreender as imagens por si, cristalizando generalizações equivocadas e reforçando uma perspectiva evolucionista ou retrógrada conforme os interesses em jogo.
     
     
    Se ser livre hoje é ser vadia, será preciso entender como o termo que estigmatizou a mulher rebaixando-a, na prática, ao lixo, à mercadoria descartável, pode ajudar a reconfigurar as experiências femininas em sociedade, recriando novos limites para o que é importante, bonito, patológico, obsceno, saudável, erótico, etc. 

Le Monde Diplomatique Brasil: O elogio das revoluções.

A VOLTA DA HISTÓRIA
Elogio das revoluções
Quando, em 17 de dezembro de 2010, o jovem Mohamed Bouazizi se imolou na Tunísia, ninguém poderia imaginar que seu gesto iria iniciar uma revolta em mais de dez países. Essa característica imprevisível das revoluções obrigou os dominantes a reavaliar todos os cenários sobre o “fim da história”
por Serge Halimi
(Cairo, Egito, 2011 - Dois jovens passam em frente de camiseta com a inscrição "Revolution Youth - I love Masr - 25th of january" - Revolução Jovem - Eu amo o Egito - 25 de janeiro")
Duzentos e vinte e dois anos após 1789, o corpo da Revolução ainda se mexe. François Mitterrand, no entanto, havia convidado Margaret Thatcher e Joseph Mobutu para verificar “o enterro do defunto” durante as cerimônias do bicentenário. Como o ano da comemoração foi também o da queda do muro de Berlim, Francis Fukuyama aproveitou para anunciar o “fim da história”, isto é, a eternidade da dominação liberal sobre o mundo e o término, a seu ver definitivo, de uma época revolucionária. Mas a crise do capitalismo financeiro abala de novo a legitimidade das oligarquias no poder. O ar fica mais leve, ou mais pesado, de acordo com as preferências. Mencionando “esses intelectuais e artistas que incentivam a revolta”, o jornal Le Figaro se lamenta: “François Furet parece ter se enganado: a Revolução Francesa não acabou”.1
Como muitos outros, entretanto, o historiador em questão não poupou esforços para afastar a lembrança e a tentação próprias à Revolução. Outrora entendida como a expressão de uma necessidade histórica (Marx), de uma “nova era da história” (Goethe), uma epopeia iniciada pelos soldados do ano II, cantados por Victor Hugo – “E víamos esses imponentes pés-descalços marchar sobre um mundo maravilhado” –, da Revolução só se mostrava o sangue em suas mãos. De Rousseau a Mao, uma utopia igualitária, terrorista e virtuosa teria esmagado as liberdades individuais, dando à luz ao monstro frio do Estado totalitário. Em seguida, a “democracia” foi recuperada, vencedora, radiante, calma, de mercado. Herdeira de revoluções ela também, só que de outro caráter, à inglesa ou à norte-americana, mais políticas que sociais, “descafeinadas”.2
Também se tinha decapitado um rei do outro lado do Canal da Mancha (ver o artigo da página XX). Mas a resistência da aristocracia tendo sido menos vigorosa que na França, a burguesia não sentiu necessidade de estabelecer uma aliança com o povo para validar sua dominação. Nos meios favorecidos, tal modelo, sem “pés-descalços” nem “sans-culottes”, parece mais distinto e menos arriscado que o outro. Presidente do patronato francês, Laurence Parisot não traía o sentimento de seus representados ao declarar a um jornalista do Financial Times: “Eu adoro a história da França, mas não gosto muito da Revolução. Foi um ato de uma violência extrema, da qual sofremos ainda hoje. Ela obrigou cada um de nós a tomar partido”. Ela complementava: “Nós não praticamos a democracia com tanto sucesso quanto a Inglaterra”.3
“Tomar partido.” Esse tipo de polarização social é nefasto, quando o desejável seria, sobretudo em tempos de crise, se mostrar solidário com a sua empresa, com o seu patrão, com a sua marca – cada um mantendo seu devido lugar. Pois aos olhos daqueles que não a apreciam nem um pouco, o principal problema da revolução não é a violência, um fenômeno tristemente banal na história, mas, coisa infinitamente mais rara, a reviravolta da ordem social por ocasião de uma guerra entre abastados e proletários.
Em 1988, em busca de um argumento contundente, o presidente George Bush atacaria seu adversário democrata, Michael Dukakis, um tecnocrata perfeitamente inofensivo: “Ele quer nos dividir em classes. Isso é bom para a Europa, mas não para a América”. Classes, nos Estados Unidos! Imagina-se o horror de uma acusação como essa! A tal ponto, que vinte anos mais tarde, no momento em que o estado da economia norte-americana parece impor sacrifícios tão desigualmente repartidos quanto o foram os lucros precedentes – um verso da Internacional reivindica a devolução do que foi injustamente apropriado (“le voleur rende gorge” [o ladrão restitui aquilo que roubou])... –, o atual inquilino da Casa Branca achou prudente acalmar o descontentamento popular: “Uma das lições mais importantes a tirar dessa crise é que nossa economia só funciona se estivermos todos juntos. [...] Não temos como ver um demônio em cada investidor ou empresário que tenta realizar um lucro”.4Ao contrário do que imaginam certos adversários republicanos, Barack Obama não é um revolucionário...
“A revolução é acima de tudo uma ruptura. Aquele que não aceita essa ruptura com a ordem estabelecida, com a sociedade capitalista, não pode aderir ao Partido Socialista.” Assim falava Mitterrand em 1971. Desde então, as condições de adesão ao Partido Socialista (PS) tornaram-se menos draconianas, visto que não reprovaram nem os dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), nem os da Organização Mundial do Comércio (OMC). A ideia de uma revolução também recuou em outras frentes, inclusive nas formações mais radicais. A direita então se apropriou da palavra, aparentemente ainda portadora de esperança, para fazer dela um sinônimo de restauração, de uma destruição das proteções sociais conquistadas, até mesmo arrancadas, contra a “ordem estabelecida”.
Ao mesmo tempo, critica-se a violência das grandes revoluções. É chocante para alguns, por exemplo, o massacre dos guardas suíços na tomada do Palácio das Tulherias, em agosto de 1792; o da família imperial russa em julho de 1918, em Ecaterimburgo; ou o extermínio dos oficiais do exército de Chiang Kai-shek após a tomada de poder pelos comunistas chineses em 1949. Mas seria então mais coerente não ter ocultado a fome no Antigo Regime, sob o pano de fundo dos bailes de Versalhes e do dízimo extorquido pelos padres; centenas de manifestantes pacíficos de São Petersburgo abatidos em um “domingo vermelho” de janeiro de 1905 pelos soldados de Nicolas II; ou os revolucionários de Cantão e Xangai jogados ainda vivos, em 1927, nas caldeiras das locomotivas. Sem falar da violência cotidiana da ordem social que se queria derrubar.
O episódio dos revolucionários queimados vivos não somente marcou aqueles que se interessam pela história da China mas também ficou conhecido pelos milhões de leitores de A condição humana, de André Malraux. Pois, durante décadas, os maiores escritores e artistas apoiaram o movimento operário celebrando as revoluções, os amanhãs que cantam. Incluindo aí, é verdade, a minimização das decepções, das tragédias, das madrugadas lívidas (polícia política, culto à personalidade, campos de trabalho, execuções).
Faz trinta anos, no entanto, que só se fala nisso; é até mesmo recomendado para ter sucesso na universidade, na mídia e brilhar no mundo acadêmico. “Quem fala em revolução fala em irrupção da violência”, explica o historiador Max Gallo. “Nossas sociedades são extremamente frágeis. A responsabilidade maior de quem tem acesso à opinião pública é a de prevenir contra essa irrupção”.5Furet estimava, por sua vez, que toda tentativa de transformação radical era totalitária ou terrorista. Ele concluía que “a ideia de outra sociedade se tornou quase impossível de ser pensada”.6Podemos imaginar que tal impossibilidade não contraria a maior parte de seus leitores, protegidos das tempestades por uma existência agradável de jantares e debates.

Os limites do sufrágio
A fobia das revoluções e seu corolário, a legitimação da ordem estabelecida, encontra outros disseminadores além de Gallo e Furet. Pensemos aqui na escolha das mídias, incluindo o cinema. Há trinta anos elas determinam que, excluindo a democracia liberal, só existem regimes tirânicos e conivência entre si. Confere-se mais destaque ao pacto germano-soviético, muito mais visível que outras alianças contra a natureza, como os acordos de Munique e o aperto de mão entre Adolf Hitler e Neville Chamberlain. O nazista e o conservador tinham em comum pelo menos o ódio das frentes populares. E esse mesmo temor de classes inspirou os aristocratas de Ferrare e os mestres das forjas do vale do Ruhr quando favoreceram a chegada ao poder de Benito Mussolini e do Terceiro Reich.7Relembrar isso ainda é permitido?
Nesse caso, vamos mais longe… Ao mesmo tempo que refutava brilhantemente uma revolução do tipo soviética, qualificada por um de seus amigos de “blanquismo ao molho tártaro”, uma personalidade tão respeitada pelos professores de virtude como Léon Blum refletiu sobre os limites de uma transformação social, na qual o sufrágio universal seria o único talismã. “Não temos certeza”, prevenia em 1924, “que os representantes e dirigentes da sociedade atual, no momento em que seus princípios essenciais parecem seriamente ameaçados, não estejam saindo eles mesmos da legalidade”. De fato, as transgressões desse tipo não faltaram desde então, do pronunciamiento de Francisco Franco, em 1936, ao golpe de Estado de Augusto Pinochet, em 1973, sem esquecer da derrocada de Mohammad Mossadegh no Irã, em 1953. O chefe socialista enfatizava, no entanto, que “a República nunca foi proclamada, na França, por meio de voto legal sob a forma constitucional. Foi instaurada pela vontade do povo insurgido contra a legalidade existente”.8
Atualmente usado para desqualificar outras formas de intervenção coletiva (como as greves nos serviços públicos, comparadas ao ato de fazer reféns), o sufrágio universal teria se tornado o alfa e o ômega de toda ação política. No entanto, as questões que Blum colocava a esse respeito não envelheceram nem um pouco: “Seria hoje o sufrágio universal uma realidade plena? A influência do patrão e do proprietário não pesam sobre os eleitores com a pressão da força do dinheiro e da mídia de massa? Todo eleitor é livre do voto que dá, livre pela cultura de seu pensamento, livre pela independência de sua pessoa? E, para liberá-lo, não haveria necessidade justamente de uma revolução?”.9Entretanto, em três países europeus – Holanda, França e Irlanda – o veredito das urnas driblou as pressões conjuntas do patronato, das forças do dinheiro, da mídia por um tratado constitucional. Por essa mesma razão, ninguém o levou em conta.
“Nós perdemos todas as batalhas, mas temos as mais belas canções.” Essa frase, cujo autor seria um combatente republicano espanhol procurando refúgio na França após a vitória de Franco, resume, à sua maneira, o problema dos conservadores e sua dolorosa pedagogia da submissão. Dito de modo simples, as revoluções deixam na história e na consciência humana vestígios permanentes, mesmo tendo falhado ou sido deturpadas. Elas encarnam esse momento tão raro no qual a ideia de fatalidade desaparece e o povo ganha a vantagem.
Daí o seu sucesso universal. Pois, cada um à sua maneira, os rebeldes de Potemkin, os sobreviventes da Longa Marcha, os barbudos de Sierra Maestra ressuscitaram o gesto dos soldados do ano II, que inspirou o historiador britânico Eric Hobsbawm a fazer a seguinte reflexão: “A Revolução Francesa revelou a força do povo de um modo que nenhum governo jamais se autorizou a esquecer – fosse apenas pela lembrança de um exército improvisado de conscritos não treinados, mas vitorioso sobre a potente coalizão das mais experientes tropas de elite das monarquias europeias”.10
Não se trata apenas de uma “lembrança”: o vocabulário político moderno e a metade dos sistemas jurídicos do mundo se inspiram no código que a Revolução inventou. E se pensarmos no terceiro-mundismo dos anos 60, ou mesmo nas revoltas árabes, podemos nos perguntar se uma parte de sua popularidade na Europa não vem do sentimento de reconhecimento (nos dois sentidos do termo) que ele fez nascer. O ideal revolucionário, igualitário, emancipador das Luzes parecia então renascer no Sul, em parte, graças aos vietnamitas, argelinos, chineses e chilenos que tinham passado pelo Velho Continente.

O combate continua
O império declinava, antigas colônias assumiam seu destino, a revolução continuava. A situação atual é diferente. A emancipação da China ou da Índia, sua afirmação sobre a cena internacional provocam em lugares diversos curiosidade e simpatia, mas elas não remetem a nenhuma esperança “universal” ligada, por exemplo, à igualdade, ao direito dos oprimidos, a outro modelo de desenvolvimento, à preocupação de evitar as restaurações conservadoras nascidas do saber.
Se o entusiasmo internacional que a América Latina provoca é maior, é devido ao fato de a orientação política ser, ao mesmo tempo, democrática e social. Uma esquerda europeia justificou ao longo de vinte anos a prioridade que concedeu às demandas das classes médias, teorizando o fim do “parênteses revolucionário” e o apagamento político das categorias populares. Os dirigentes da Venezuela ou da Bolívia remobilizam, ao contrário, essas últimas, provando-lhes que seu destino é levado em consideração, que seu destino histórico não está fechado; que, em resumo, o combate continua.
Por mais desejáveis que sejam, as revoluções são raras. Elas pressupõem ao mesmo tempo uma massa de descontentes prontos para a ação; um Estado cuja legitimidade e autoridade são contestadas por uma fração de partidários habituais (devido a imperícia econômica, negligência militar, ou a divisões internas que o paralisam e fragmentam); e, enfim, a preexistência de ideias radicais de questionamento da ordem social, extremamente minoritárias de início, mas que servirão de suporte a todos aqueles cujas antigas crenças e lealdade foram dissolvidas.11
A historiadora norte-americana Victoria Bonnell estudou os operários de Moscou e de São Petersburgo às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Como se trata do único caso no qual esse grupo social foi o ator principal de uma revolução “exitosa”, sua conclusão merece ser relembrada: “O que caracteriza a consciência revolucionária é a convicção que as reclamações somente podem ser satisfeitas pela transformação das instituições existentes e pelo estabelecimento de outra organização social”.12De todo modo, essa consciência não aparece de modo espontâneo, sem mobilização política e ebulição intelectual anterior.
Tanto é assim que, em geral, a reivindicação dos movimentos populares é, de início, defensiva. Eles têm a intenção de restabelecer um contrato social que julgam ter sido rompido pelos patrões, os proprietários de terras, os banqueiros e os governantes. O alimento, o trabalho, a moradia, os estudos, o projeto de vida. Não se trata (ainda) de um “futuro radioso”, mas “da imagem de um presente livre de aspectos mais dolorosos”.13É somente depois, quando a incapacidade dos dominantes em preencher as obrigações que legitimam seu poder e seus privilégios se tornam evidentes, que vem à tona, às vezes, a questão de saber “se os reis, os capitalistas, os padres, os generais, os burocratas, continuam a ter utilidade social”.14Podemos então falar de revolução. A transição de uma etapa para outra pode acontecer de modo rápido – dois anos em 1789, alguns meses em 1917 – ou então nunca acontecer.
Há cerca de dois séculos, milhões de militantes políticos ou sindicais, historiadores, sociólogos, examinam as variáveis que determinam o resultado: a classe dirigente está dividida e desmoralizada? Seu aparelho repressivo está intacto? As forças sociais que aspiram mudanças estão organizadas e capazes de se entender? Em nenhum outro lugar esses estudos foram mais alimentados que nos Estados Unidos: trata-se, em geral, de compreender as revoluções, entender as contribuições que trouxeram, mas também de esconjurá-las.
A credibilidade desses trabalhos revelou-se... aleatória. Em 1977, por exemplo, havia sobretudo preocupação com a “ingovernabilidade” das sociedades capitalistas. E, por contraste, perguntava-se: por que a URSS é tão estável? Nesse último caso, as explicações multiplicavam-se: a preferência dos dirigentes e da população soviética pela ordem e a estabilidade; a socialização coletiva fortalecendo os valores do regime; a natureza não cumulativa dos problemas a ser resolvidos, deixando o partido único livre para suas manobras; os bons resultados econômicos que contribuem para a estabilidade desejada; a progressão do nível de vida; o status de grande potência etc.15.
Já imensamente célebre na época, o cientista político de Yale, Samuel Huntington, só precisava concluir a partir dessa colheita de índices concordantes: “Nenhum dos desafios previstos para os próximos anos parece ser qualitativamente diferente daqueles que o sistema soviético já conseguiu resolver”.16
Todos sabemos a continuação dessa história...
Serge Halimi é o diretor de redação de Le Monde Diplomatique (França).

Ilustração: Corbis / Latinstock

(1) Le Figaro, Paris, 9 abr. 2009.
(2) “Em resumo, o que a sensibilidade liberal exige é uma revolução descafeinada, uma revolução que não tem o gosto de uma revolução”, resume Slavoj Zizek. Robespierre: entre vertu et terreur (Roberpierre: entre a virtude e o terror). Paris: Stock, 2008. p.10.
(3) Financial Times Magazine, Londres, 7-8 out. 2006.
(4) Coletiva de imprensa de 24 mar. 2009.
(5) Le Point, Paris, 25 de fev. 2009.
(6) François Furet. Le passé d’une illusion: essai sur l’idée communiste au XXe siècle, (O passado de uma ilusão: ensaio sobre a ideia comunista no século XX). Paris: Robert Laffont–Calmann-Lévy, 1995. p.572.
(7) Em 1970, os cineastas Vittorio De Sica, em O jardim dos Finzi-Contini, e Luchino Visconti, em Deuses malditos, abordaram esse tema.
(8) Léon Blum. L’idéal socialiste (O ideal socialista). ,La Revue de Paris, maio 1924. Citado por Jean Lacouture. Léon Blum. Paris: Seuil, 1977. p.201.
(9) Ibidem.
(10) Eric J. Hobsbawm. Aux armes, historiens: Deux siècles d’histoire de la Révolution française, (Às armas, historiadores: dois séculos de história da Revolução Francesa). Paris: La Découverte, 2007. p.123.
(11) Jack A. Goldstone. Revolution. Belmont: Wadsworth Publishing, 2002 ; e Theda Skocpol. Etats et révolutions sociales. (Estados e revoluções sociais). Paris: Fayard, 1985.
(12) Victoria Bonnell. The Roots of Rebellion: Workers’ Politics and Organizations in St. Petersburg and Moscow, 1900-1914 (As raízes da rebelião: organizações e políticas dos trabalhadores em São Petersburgo e Moscou). Berkeley: University of California Press, 1984. p.7.
(13) Barrington Moore. Injustice: The Social Bases of Obedience and Revolt(Injustiça: as bases sociais da obediência e da revolta). White Plains (Nova York): Sharpe, 1978. p.209.
(14) Ibidem, p.84.
(15) Seweryn Bialer. Stalin’s Successors: Leadership, Stability, and Change in the Soviet Union (Sucessores de Stalin: liderança, establidade e mudança na União Soviética). Cambridge University Press, 1977.
(16) Samuel Huntington. Remarks on the meaning of stability in the modern era (Observações sobre o significado de estabilidade na era moderna). In:, Seweryn Bialer e Sophia Sluzar (coord.). Radicalism in the Contemporary Age(Radicalismo na idade contemporânea). v.3 Strategies and Impact of Contemporary Radicalism (Estratégias e impacto do radicalismo contemporâneo). Boulder (Colorado): Westview Press, 1977. p.277.
27 de Setembro de 2011
Palavras chave: Revolução, manifestações, pressão popular, 2011, Líbia, Egito, Europa, sociedade, América Latina, jovens, democracia, contemporaneidade, governos, povo, eleições, rebeldes, redes sociais, rede, violência, levantes, história, militantes, juventude, popular, ocupação

Igarassu: Mário Ricardo inicia gestão com visitas as secretarias


No primeiro dia de trabalho da gestão municipal de Mário Ricardo (PTB), nesta terça-feira (02.01), o novo prefeito de Igarassu chegou cedo à sede da prefeitura, às 6h50 e de lá percorreu todas as secretarias da cidade. O objetivo das reuniões foi de conversar com os servidores e interagir com os funcionários a respeito da conduta que será aplicada na nova administração municipal.

Durante visita à Secretaria de Saúde, uma surpresa, Mário Ricardo se deparou com as portas fechadas do prédio público e acabou fazendo a reunião de improviso no meio da rua, localizada no centro do município. O gestor sabe das dificuldades que estão sendo encontradas na cidade, porém acredita no trabalho em conjunto para deixar Igarassu no rumo do desenvolvimento de Pernambuco.

CRÉDITO : IVANILDO PEDRO

Chris Huggins - (81) 9106.1098 / 8754 1887
Assessora de Comunicação Prefeitura Municipal de Igarassu

Armando Monteiro: "É tempo de muito trabalho no Recife"





PTB dará contribuição à gestão Geraldo Julio assumindo Secretaria de Saneamento

Otimista com a nova fase administrativa iniciada no Recife, com a posse do prefeito Geraldo Julio (PSB), o presidente estadual do PTB, senador Armando Monteiro, afirma que a cidade deve contar desde já com uma grande intervenção do poder público municipal. “E isto não se dá apenas com as obras que virão, mas sobretudo com o ordenamento urbano”, explica.

Para Armando, com a contribuição do conjunto de forças que ajudaram a Frente Popular a conquistar a Prefeitura do Recife (PCR), o prefeito Geraldo Julio vai inaugurar um novo tempo de muito trabalho na cidade. “O Recife precisa desta visão, da intervenção do poder público municipal, para ordenar os espaços de convivência. E isto é possível se fazer com um olhar mais atento”, afirma Armando, elogiando o perfil técnico e a capacidade de trabalho do prefeito eleito.

Demonstrando satisfação por ter participado ativamente da discussão em torno de um projeto para o Recife que colocasse a cidade em sintonia com o desenvolvimento de Pernambuco, Armando reforça que o PTB dará sua contribuição à administração de Geraldo Julio e lembra o nome do novo Secretário de Saneamento, o petebista João Batista.

“Independentemente de qualquer julgamento, que não me compete fazer, eu sentia que o Recife precisava estar também vivendo este novo tempo de Pernambuco. É como se houvesse um certo descompasso. E com João Batista, o PTB tem um companheiro que vai contribuir para que Recife viva este novo momento administrativo”, reforça.

Crédito da foto: Andrea Rêgo Barros/PSB