pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Michel Zaidan diz não temer processo de Antonio Campos e reafirma críticas

 

Publicado em 10/04/2015 às 10:34 por em Notícias


Demorou, mas saiu

Por Michael Zaidan

Quando fui convidado pelo ex-governador de Pernambuco, ainda durante as cerimônias fúnebres da morte de meu saudoso pai, para contribuir criticamente na formulação do programa de governo e na composição de seu secretariado, disse ao ex-mandatário estadual que não imitasse o seu antecessor raivoso, me processando por críticas e reparos à sua gestão. Hoje, vejo que a promessa feita, naquela ocasião, por Eduardo Campos não se cumpriu.
Acabo de saber, através do Blog de Jamildo, que apesar de respeitar a chamada “liberdade de expressão”, o advogado, irmão do ex-governador e pré-candidato à Prefeitura de Olinda, vai ajuizar uma interpelação judicial sobre o conteúdo do artigo publicado neste Blog: “não vamos desistir de vocês”.
Vamos ver se entendi.
A família Campos tem todo direito de usar o espaço público para dizer a alto e bom som que não vai desistir de governar Pernambuco, Olinda e Recife. Mas eu não posso mais fazer críticas a essa oligarquia familiar, sob o risco de responder a uma interpelação judicial sobre o que eu disser.
Se a regra tem reciprocidade por que quando o senhor “Juninho Matuto” atacou a minha honra pessoal, com injúrias e difamação, a serviço dessa mesma oligarquia o dono do jornal (Folha de Pernambuco), onde foi veiculada a matéria, não permitiu o direito legal de resposta?-
O senhor Campos, do alto de seu saber literário e jurídico acha que pode contar com os serviços de um apaniguado para ofender, humilhar, enxovalhar a honra dos críticos da gestão do seu falecido irmão, e ele – pretenso candidato à Prefeitura de Olinda – não pode ser alvo de nenhuma crítica?
Acha mesmo o ilustre filho do escritor Renato Carneiro Campos que vai entrar na vida pública, disputando um cargo majoritário, sem receber nenhuma criticazinha, pelo menos? –
Está redondamente enganado. A administração pública obedece a princípios constitucionais: impessoalidade, legalidade e transparência.
Como compatibilizar esses princípios com a atitude, pouco republicana, de utilizar o nome da família para disputar e ocupar cargos na administração municipal e estadual?
Desde quando utilizar a tipologia weberiana ou o conceito da sociologia americana de “familismo amoral” é uma ofensa à honra de quem quer que seja, senão às pretensões de caudilhos, chefes políticos e oligarcas?
Para esses, a liberdade de imprensa é uma licença poética apenas utilizada por eles para detratar os adversários e a justiça, uma forma de intimidação dos críticos.
E olhe que a admoestação feita pelo advogado/literato estende-se ao Blog de Jamildo, dizendo abertamente que tenha cuidado com o que vem publicando (contra ele). É isso a liberdade de imprensa, em Pernambuco?
O direito de usar a mídia impressa e eletrônica para malbaratar a integridade moral dos críticos e uma forma de propagandear o interesse pela dominação familiar da política de nosso estado?
Quem disse que o irmão do ex-governador usou a sua proximidade com o governo do estado para obter recursos destinados aos convescotes literários de Olinda, não fui eu. Foi o correspondente da Folha de São Paulo (Daniel Carvalho, hoje em Brasília), em entrevista no Shopping Center Recife.
E ele disse mais: o governador retaliou a matéria por ele publicada na Folha, sobre essa privilegiada relação político/familiar. Só repeti uma informação que já vinha sendo repetida em vários lugares.
Também não afirmei que o citado advogado e pré-candidato usa o prestígio (e o poder) da família para arrecadar dinheiro junto a empresas que prestam serviço ao Estado. Só disse que não se deve fazer isso, porque é crime contra a administração pública.
Está aí o escândalo da Petrobrás, onde o irmão de Campos aparece mencionado nos depoimentos como beneficiário da bagatela de 20.000.000,00, nas obras de construção da Refinaria Abreu e Lima.
Nunca afirmei que o doutor Campos tenha sido beneficiado por essa dinheirama. Certamente, com o seu prestígio literário, jurídico e familiar, ele não deve ter dificuldades para arranjar financiadores para seus projetos editoriais e congressuais.
Também não fui eu que disse que o senhor Antonio de Campos, neto de Miguel Arraes e irmão de Eduardo Campos, já foi arrecadador de campanha eleitoral.
A informação foi prestada por um conhecido político do PSDB de Pernambuco, na época que o jornalista Eurico Andrade, da VEJA, estava colhendo informações para a matéria publicada na revista: “Uma biografia arranhada”, sobre Miguel Arraes e o escândalo dos precatórios. Se ele continuou ou não nessa importante tarefa político-literária, não posso dizer e nem disse.
Agora o que não se pode negar é a presença contínua, permanente, constante da nobre figura do advogado, da viúva e da própria família do ex-governador nos eventos políticos do estado. Nos funerais de Eduardo Campos, nos out-doors da cidade, no programação nacional do PSB, nas tratativas do lançamento de Marina Silva à Presidência da República etc.
Isso não é propriamente atitude de luto, tristeza pela morte de um ente querido. É EXPLORAÇÃO POLÍTICA DE UMA TRAGÉDIA PESSOAL PARA FINS ELEITOREIROS, que aliás rendeu muito dividendos e que o advogado espera que continue rendendo (para ele e sua família).
É crime afirmar que “o rei está nu”?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

UNESCO reprova o MEC, mas ainda é possível pedir revisão da nota.

 
 

José Luiz Gomes Escreve:

A questão de como determinados canais de comunicação tratam algumas notícias é algo bastante preocupante.Digo isso a respeito da divulgação do último relatório da UNESCO sobre as 06 metas para a educação. Não se constituiria nenhuma novidade que a emissora do plim plim encontrasse aqui uma maneira de atacar o Governo da presidente Dilma Rousseff, informando que o Brasil "deixou de cumprir" 04 das metas estabelecidas por aquele órgão, numa evidente exploração de que fomos "reprovados". Não fizemos o dever de casa. Os órgãos de imprensa menos "carregados", por sua vez, enfatizam o fato de termos "cumpridos duas" das metas estabelecidas: a universalização do acesso à educação primária (1º ao 5º ano do ensino fundamental) e a igualdade de gênero. Não penso ver aqui algum problema neste segundo ponto. Está todo mundo junto e misturado. Todos os levantamentos sugerem concluir que as mulheres estão dando um banho nos homens quando o assunto é estudar. 

O Governo - e isso não é de hoje - contesta bastante os números apresentados pela UNESCO. Questiona a metodologia utilizada pelo órgão. Em momentos anteriores, já ocorreram intensos debates sobre essa metodologia. Salvo algum engano, então no IPEA, o economista Marcelo Neri  entrou na "briga", defendendo os avanços conquistados pelo Brasil nos últimos anos. Em alguns aspectos, de fato, o país avançou bastante, principalmente no ensino profissionalizante de jovens; no ingresso de alunos de estratos sociais fragilizados ao ensino superior. Incontestável isso. Segundo levantamento realizado por pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco sobre os egressos ao ensino superior no processo de interiorização das universidades públicas, para 83% deles os pais não possuíam formação superior. Como sempre afirmamos, uma verdadeira revolução. 

Mal senta na cadeira de Ministro da Educação e o filósofo Renato Janine Ribeiro já se depara com o relatório da UNESCO. Do ponto de vista estritamente republicano, penso ter sido um equívoco de Lula convocar Fernando Haddad para aquela aventura política na capital paulista. Ele vinha estruturando as políticas públicas de educação no país", atacando nossos pontos nevrálgicos, principalmente a questão da formação dos professores e o gargalo da qualidade(social) do ensino básico. Políticas de Estado, não apenas de uma coalizão de Governo. Se uma crítica pode ser feita, também ele, colocou como segundo plano o enfrentamento do alto índice de analfabetismo entre a  população adulta. No Brasil ainda há algo em torno de 13 milhões de analfabetos, 8,7% da população. Quando o senhor Fernando Freire assumiu a Fundação Joaquim Nabuco - e se discutia como a instituição iria se inserir no contexto das políticas públicas de educação do Ministério da Educação - escrevemos um e-mail para ele tratando deste assunto. 

O MEC já havia contratado doutores em educação em Brasília para atuarem na questão do analfabetismo aqui na região. Não sei de vocês sabem, mas o perfil do analfabeto brasileiro é: mulher, preta e nordestina. As regiões Norte e Nordeste concentram os maiores índices de analfabetos do país. Infelizmente, eles estão sendo esquecidos na formulação de políticas públicas para a área de educação. Ainda é cedo para saber como o professor Renato Janine Ribeiro​ irá tratar este assunto, mas nos parece tratar-se de uma pessoa com bastante sensibilidade para a questão.

O mundo obscuro da internet: onde o ódio tem vez



Facebook: um mapa das redes de ódio. Pesquisa vasculha território obscuro da internet: as comunidades que clamam por violência policial, linchamentos, mortes dos “esquerdistas” e novo golpe militar

internet páginas facebook ódio policia militar
 
Fanpages de admiradores das Polícias Militares no Facebook (Imagem: Pragmatismo Político)
No dia 5 de março o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), publicou um mapa de redes de admiradores das Polícias Militares no Facebook. São páginas dedicadas a defender o uso de violência contra o que chamam de “bandidos”, “vagabundos”, “assaltantes”, fazer apologia a linchamentos e ao assassinato, defender policiais, publicar fotos de pessoas “justiçadas” ou mortas violentamente, vender equipamentos bélicos e combater os direitos humanos.
Para centenas de milhares de seguidores dessas páginas, a violência é a única mediadora das relações sociais, a paz só existe se a sociedade se armar e fizer justiça com as próprias mãos, a obediência seria o valor supremo da democracia. Dentro dessa lógica, a relação com os movimentos populares só poderia ser feita através da força policial. Qualquer ato que escape à ordem ou qualquer luta por direitos é lido como um desacato à sociedade disciplinada. Um exemplo: no sábado, dia 8 de março, a página “Faca na Caveira” publicou um texto sobre o Dia Internacional das Mulheres no qual manda as feministas “se foderem”. Em uma hora, recebeu 300 likes. Até a tarde de domingo, 1473 pessoas haviam curtido o texto.
Abaixo o professor Fábio Malini explica como fez a pesquisa e analisa o discurso compartilhado por esses internautas. “O que estamos vendo é só a cultura do medo midiático passando a ter os seus próprios veículos”, diz ele. Explore as redes.
garfo internet facebook páginas policia militar
Como você chegou a esse desenho das redes? O que ele representa?
É um procedimento simples em termos de pesquisa. O pesquisador cria uma fanpage no Facebook e passa a dar “like” num conjunto de fanpages ligada à propagação da violência. Em seguida, usamos uma ferramenta que identifica quais os sites que essas fanpages curtem. E, entre elas, quais estão conectadas entre si. Se há conexão entre uma página com outra, haverá uma linha. Se “Faca na Caveira” curte “Fardados e Armados” há um laço, uma linha que as interliga. Quando fazemos isso para todas as fanpages, conseguimos identificar quais são as fanpages da violência (bolinhas, nós) mais conectadas e populares. Isso gera um grafo, que é uma representação gráfica de uma rede interativa. Quanto maior é o nó, mais seguida é a página para aquela turma. No grafo, “Polícia Unida Jamais será vencida” é a página mais seguida pela rede. Não significa que ela tem mais fãs. Significa que ela é mais relevante para essa rede da violência. Mas a ferramenta de análise me permite ver mais: quem são as páginas mais populares no Facebook, o que elas publicam, o universo vocabular dos comentários, a tipologia de imagens que circula etc.
O que você queria ver quando pesquisou esse tema? E o que achou de mais interessante?
Pesquisei durante apenas uma semana para testar o método de extração de dados. Descobri que o Labic, laboratório que coordeno, pode ajudar na construção da cultura de paz nesse país, desvelando os ditos dessas redes, que estão aí, lotadas de fãs e públicas no Facebook. Assustei-me em saber a ecologia midiática da repressão no Facebook, em função da agenda que esses sites estabelecem.
Primeiro há um horror ao pensamento de esquerda no país. Isso aparece com inúmeros textos e imagens que satirizam qualquer política de direitos humanos ou ligadas aos movimentos sociais. Essas páginas funcionam como revides à popularização de temas como a desmilitarização da Polícia Militar ou textos de valorização dos direitos humanos. Atualmente, muitas dessas páginas se articulam em função da “Marcha pela Intervenção Militar”. Um de seus maiores ídolos é o deputado Jair Bolsonaro.
Após os protestos no Brasil, a estrutura de atenção dos veículos de comunicação de massa se pulverizou, muito tráfego da televisão está escoando para a internet, o que faz a internet brasileira se tornar ainda mais “multicanal”, com a valorização de experiências como Mídia Ninja, Rio na Rua, A Nova Democracia, Outras Palavras, Revista Fórum, Anonymous, Black Blocs. São páginas muito populares. Mas não estão sozinhas. Há uma guerra em rede. E o pensamento do “bandido bom, bandido morto” hoje se conformou em votos. Esse pensamento foi capaz de construir redes sociais em torno dele.
A despolitização, a corrupção, os abusos de poder, a impunidade, estão na raiz da força alcançada por essas redes da violência e da justiça com as próprias mãos. E não tenho dúvida: essas redes, fortes, vão conseguir ampliar seu lastro eleitoral. Vão ajudar na eleição de vários políticos “linha dura”. Em parte, o crescimento dessas redes se explica também em função de forças da esquerda que passaram a criminalizar os movimentos de rua e ficaram omissas a um conjunto de violações de direitos humanos. O silêncio, nas redes, é resignação. O que estamos vendo é só a cultura do medo midiática passando a ter os seus próprios veículos de comunicação na rede.
Você escreveu que “é bom conhecer e começar a minerar todos os conteúdos que são publicadas nelas.” Por que?
Porque é preciso compreender a política dessas redes e seus temas prioritários. Instituir um debate por lá e não apenas ficar no nosso mundo. É preciso dialogar afirmando que uma sociedade justa é a que produz a paz, e não uma sociedade que só obedece ordens. Estamos numa fase de mídia em que se calar para não dar mais “ibope” é uma estratégia que não funciona. É a fala franca, o dito corajoso, que é capaz de alterar (ou pelo menos chacoalhar) o discurso repressor.
É interessante, ao coletarmos e minerarmos os dados, notar que muitas dessas páginas articulam um discurso de Ode à Repressão com um outro pensamento: o religioso, cujo Deus perdoa os justiceiros. Isso se explica porque ambos são pensamentos em que o dogma, a obediência, constituem valores amplamente difundidos. Para essas redes, a defesa moral de uma paz, de um cuidado de si, viria da capacidade de os indivíduos manterem o estado das coisas sem qualquer questionamento, qualquer desobediência.
No lugar da Política enfrentar essas redes, para torná-las minoritárias e rechaçadas, o que vemos? Governantes que passam a construir seus discursos e práticas em função dessa cultura militarizada, dando vazão a projetos que associam movimentos sociais a terrorismo. Daí há uma inversão de valores: a obediência torna-se o valor supremo de uma democracia. E a política acaba constituindo-se naquilo que vemos nas ruas: o único agente do Estado em relação com os movimentos é a polícia.
O grafo mostra as relações entre os diversos nós dessa rede. Mas e se a gente quiser saber o que essas redes conversam? As PMs estão no centro de vários debates importantes hoje: o tema da desmilitarização. A repressão às manifestações. O assassinato de jovens pobres, pretos, periféricos. Esses nós conversam sobre essas coisas? Em que termos?
Sim, esses nós se republicam. Tal como páginas ativistas se republicam, tais como páginas de esporte se republicam. Todo ente na internet está constituindo numa rede para formar uma perspectiva comum. As ferramentas para coletar essas informações públicas estão muito simplificadas e na mão de todos. Na tenho dúvida que as abordagens científicas das Humanidades serão cada vez mais centrais, pois a partir de agora o campo das Humanidades lidará com milhões de dados. É uma nova natureza que estamos vendo emergir com a circulação de tantos textos, imagens, comportamentos etc.
Você escreveu que “os posts das páginas, em geral, demonstram o processo de construção da identidade policial embasada no conceito de segurança, em que a paz se alcança não mediante a justiça, mas mediante a ordem, a louvação de armamentos e a morte do outro.” Pode dar exemplos de como isso aparece? E por que isso é grave? Afinal, na visão dos defensores e admiradores da polícia, as posições que defendem dariam mais “paz” à sociedade.
Sábado, 8 de março, foi o Dia Internacional da Mulher. Uma das páginas, a Faca na Caveira, deu parabéns às mulheres guerreiras. Mas mandaram as feministas se foderem. O post teve 300 likes em menos de meia hora e na tarde de domingo tinha 1473 likes. A paz só será alcançada com ordem e obediência, dizem. No fundo, essas redes revelam-se como repressoras de qualquer subjetividade inventiva. Por isso, são homofóbicas e profundamente etnocêntricas de classes. É uma espécie de decalque do que pensa a classe média conectada no Brasil, que postula que boné de “aba reta” em shopping é coisa da bandidagem.
Em Vitória, onde resido, em dezembro de 2013, centenas de jovens que curtiam uma roda de funk nas proximidade de um shopping tiveram que entrar nesse recinto para fugir da repressão da polícia, que criminaliza essa cultura musical. Imediatamente foi um “corre-corre” no centro comercial. Os jovens foram todos colocados sentados, sem camisa, no centro da Praça de Alimentação. Em seguida, foram expulsos em fila indiana pela polícia, sob os aplausos da população. Depois, ao se investigar o fato, nenhum deles tinha qualquer indício de estar cometendo crime. Essa cultura do aplauso está na rede e é forte. É um ódio à invenção, à diferença, à multiplicidade. É por isso que a morte é o elemento subjetivo que comove essa rede. Mostrar possíveis criminosos mortos, no chão, com face, tórax ou qualquer outro parte do corpo destruída pelos tiros, é um modo de reforçar a negação da vida.
Essas redes conversam com outras redes não dedicadas especificamente à questão das PMs? Vi, por exemplo, que tem um “Dilma Rousseff Não”, um “Caos na Saúde Pública” e um “Movimento Contra Corrupção”. Que ligações as pessoas ali estabelecem entre esses temas?
Sim, são páginas que se colocam no campo da direita mais reacionária do país. Mas isso também é um índice da transmutação do conservadorismo no Brasil. Infelizmente, o controle da corrupção se tornou um fracasso. Essa condição fracassada alimenta a despolitização. E a despolitização é o combustível para essas páginas. Mas a despolitização não é apenas um processo produzidos pelos “repressores”, mas por sucessivos governos mergulhados em escândalos e que são tecidos por relações políticas absolutamente cínicas em nome de alguma governabilidade.
Patrícia Cornils, Outras Palavras

(Publicado originalmente no site Pragmatismo Político)

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Michel Zaidan Filho: Não vamos desistir de vocês


 
 
 
 
 
                                 0  prestigiado blog do Jamildo publicou uma notícia emblemática sobre a oligarquia pernambucana. Segundo a notícia: a fim de perpetuar o legado da família (Campos) na política regional (estadual e municipal), o dublê de tesoureiro de campanha, advogado e literato estadual - Antônio Campos resolveu declarar a sua pré-candidatura à Prefeitura de Olinda. 0 redator da notícia foi gentil nas palavras utilizadas. "Perpetuar o legado da família" significa, em outros termos, reproduzir a dominação oligárquica que vem se  mantendo no Estado de Pernambuco, pelo uso da máquina administrativa, pela grife "Arraes/Campos", pela proximidade perigosa com a administração pública, pela exposição - com finalidade político-eleitoral - da família Campos e, naturalmente, pela influência que ela exerce sobre os prepostos eleitos.
 
                                      Fosse Pernambuco um Estado - não uma capitania hereditária ou feudo familiar - onde reinasse a mais absoluta autonomia e independência dos meios de comunicação, a expressão a ser utilizada na matéria seria outra, e não um eufemismo ou uma forma de edulcoração do fenômeno oligárquico, mandonista, familiar que ora nos governa. Até quando isso vai perdurar?
 
                                 Imagine que um auditor fiscal, investido no cargo de governador de Estado, por obra e graça de um oligarca já desaparecido,  que continua prestando reverência à primeira viúva, assume o legado (não da família) de dívidas, de obras inacabadas, de caos no sistema penitenciário na Polícia Civil, de crise na educação pública e cujo bordão, nos meios de comunicação, vem a ser "vamos transformar". A este, pelo visto, nem foi dado o dom da retórica nem da decisão. É um governante ("poste") que não decide, não tem capacidade ou autonomia decisória. Talvez porque tenha que se submeter (não a uma administração gerencial, guiada por metas) mas a um colegiado formado pelo irmão do ex-governador, a viúva, seus dois filhos e os agregados. É possível ter uma administração mais eficiente e séria do que essa? - Totalmente subordinada aos interesses eleitorais de uma oligarquia familiar?
 
                                   Os convescotes literários, anualmente patrocinados pelo hoje pré-candidato declarado à Prefeitura de Olinda, fartamente alimentados pela proximidade com o governo estadual, tornaram-se agora um formidável ativo político para que o pré-candidato venha  manifestar  o seu interesse pela administração da cidade vizinha. É assim: fiz isso, fiz aquilo, agora chegou a vez dos olindenses retribuírem o árduo trabalho de trazer o mundo da cultura para o município. Curioso é o cartaz que o pretendente distribuiu pela cidade-patrimônio: "não vou desistir de você". Trata-se de um botim? De uma presa ou uma recompensa? - 0 que significa essa obsessão de "perpetuar o legado da família" por todo o Estado?
                                    Um estudioso de Max Weber definiria essa  obsessão por patrimonialismo. Governo patrimonialista, que acha que a administração pública é coisa sua, da sua família, da sua "entourage" familiar. Engana-se o senhor Campos e sua cunhada. A gestão pública não é um patrimônio familiar, é um patrimônio da sociedade e está sujeita a leis que falam de impessoalidade, legalidade e transparência. Não pode servir a interesses "literários" particulares.
 
                                   Quer continuar a fazer os seus convescotes em Olinda, então que use seus dotes de arrecadador (não junto a empresas que tenham negócios com o Estado e a prefeitura) e continue fazendo um circo literário para convidados "vips", deixando o povo do lado de fora, a acompanhar pelos telões os eventos programados.
 
                                    Se a famosa frase do Conde da Boa Vista: "Em Pernambuco, quem não é Cavalcanti, é cavalgado" não tem mais validade, imagine-se que  hoje não podemos trocar a palavra Cavalcanti por Campos Accioly e seus apaniguados.
 
PS. Esta decisão é já um reconhecimento de que o aliado de todas as horas (PC do B) não vai lançar candidato à eleição? - ou uma ruptura?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

"Se o andar de cima bater mais panela, só resta ao andar de baixo botar fogo no fogão"


publicado em 08 de abril de 2015 às 06:50
xô golpistas
por Raimundo Bonfim, especial para o Viomundo 
Antes e durante a campanha eleitoral do ano passado ficou evidente que o campo popular representado pelos movimentos sociais e o governo federal  vinham perdendo a batalha da comunicação. Durante os 12 anos de governos Lula/Dilma não se enfrentou a mídia monopolista e golpista, se ignorou a importância da reforma política , além de abandonadas as disputas ideológica e cultural.
As manifestações de junho de 2013 e as da Copa do Mundo de 2014 mostraram notórios sinais de disposição da mídia e da oposição de colocarem fim aos governos liderados pelo PT. Depois, nas eleições de 2014 os ataques se intensificaram.
As comparações de crescimento econômico, das políticas sociais e distribuição de renda entres os períodos FHC e de Lula/Dilma não foram os fatores principais da disputa, como ocorreram nas eleições anteriores.  Não fosse a atuação contundente do movimento político e social que extrapolou a esfera partidária, certamente o candidato Aécio teria vencido o pleito.
O principal diferencial foi o engajamento dos movimentos sociais, que certamente contribuiram para assegurar a vitória da presidenta Dilma, numa das mais acirradas disputas eleitorais do último período democrático. A vitória eleitoral foi resultado de um discurso e compromisso com uma pauta de esquerda, num duro embate com as teses neoliberais e conservadoras. E foi neste embate que mobilizamos centenas de milhares de militantes para impedir o retrocesso político, econômico e social no Brasil.
No entanto, antes mesmo da posse da presidenta, fomos surpreendidos com a composição conservadora dos ministérios (com Kátia Abreu, Levy, Armando Monteiro e Kassab, entre outros), num claro “afago” à direita. Após a posse, veio o ajuste fiscal – afetando direitos trabalhistas, previdenciários e as políticas sociais, causando uma enorme frustração nos setores populares e de esquerda que foram às ruas defender a reeleição.
A direita, que na campanha já tinha ganhado terreno com discurso conservador, elegeu como presidente da Câmara dos Deputados um legítimo representante seu, Eduardo Cunha, do PMDB.
Em pouco mais de dois meses, a Câmara dos Deputados numa velocidade sem precedente, de um lado, se colocou contra propostas progressistas como o fim do financiamento empresarial, o projeto de criminalização da homofobia, a regulamentação da mídia, entre outros.
Do outro, encampou as bandeiras de direita, como o projeto de redução da maioridade penal, estatuto da família, a antirreforma política. Nesse ponto, Eduardo Cunha tem agido em conluio com o ministro do STF Gilmar Mendes, que engaveta há mais de um ano a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) apresentada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) contra o financiamento empresarial de campanhas, mesmo já tendo alcançado a maioria de votos favorável à inconstitucionalidade.
A direita está se sentindo tão forte (no parlamento e nas ruas, com o apoio explícito da mídia) que nesse momento propala abertamente o golpe através do  impeachment ou, inclusive por meio da intervenção militar.
É tímida a reação das forças partidárias de esquerda que compõem o governo dada a gravidade da crise política. Diante da lacuna deixada pelos partidos políticos, assim como na disputa eleitoral de 2014, novamente os movimentos sociais estão indo às ruas para lutar contra o golpe, defender a democracia e enfrentar a direita.
No dia 13/03/2015, sem a participação dos partidos políticos, um conjunto de entidades e movimentos populares, sindicais e sociais, entres as quais, a CUT, CTB, CMP, MST, Levante Popular da Juventude, MAB e UNE, liderou nas ruas um amplo processo de mobilizações de massas contra o golpe, na defesa da democracia, de suas bandeiras históricas, dos compromissos de campanha que propiciaram a eleição de Dilma.
No dia 31 de março último,os mesmos movimentos sociais organizaram no país várias plenárias com a militância (a maior em São Paulo, com 3 mil pessoas). Desta vez tivemos o apoio do PT e PCdoB.
As plenárias tiveram o objetivo de fazer avaliação das mobilizações do dia 13/03/2015, animar a militância e aprovar um calendário de manifestações para os próximos meses, com destaque para o dia primeiro de maio – que se estenderá para além do movimento sindical, mas abarcará todos os movimentos sociais.
Agora o enfretamento deve ser político e tem que ser nas ruas. Esgotou-se a política de conciliação de classes, prioridade no campo institucional e alianças pragmáticas. Até porque, no cenário de crise econômica não há mais “cobertor” para os muito ricos e para os pobres. Os ricos que paguem a conta da crise, pois os trabalhadores e os movimentos sociais defendem que “direitos não podem ser reduzidos, mas ampliados”.
Estamos e continuaremos nas ruas defendendo a democracia e contra o golpe, pois, não é momento de vacilo, todas as forças de esquerda ou democrática, devem também combater o ajuste fiscal, no que penaliza os trabalhadores e direitos sociais.
Defenderemos o mandato da presidenta Dilma e, ao mesmo tempo, pressionaremos que implemente o programa vitorioso nas urnas, em especial o aprofundamento das políticas sociais, distribuição de renda e a pauta dos movimentos sociais. Que o governo encampe, ainda que seja derrotado no congresso, pautas como a regulamentação da mídia, a criminalização da homofobia, taxação das grandes fortunas e plebiscito da constituinte exclusiva.
Defendemos a retomada  das reformas agrária e urbana e a manutenção dos programas sociais. Não aceitamos corte de recursos dos programas “Mais Médicos” e “Minha Casa, Minha Vida”.
Os movimentos sociais não vão nem devem ficar em casa esperando a recomposição da base governista e assistindo o aumento da fúria direitista – que, além de pregar o “Fora Dilma” e “Fora PT”, dissemina o ódio, a homofobia, o preconceito racial, de gênero e contra os pobres.
É verdade que há falhas na articulação política do governo, mas está redondamente enganado quem achar que a troca de um ministro por outro ou a cessão de mais espaço para o PMDB vai resolver a crise política. O andar de cima está decido derrotar o de baixo, estamos diante de uma luta de classe.
Nossa articulação e mobilização serão indispensáveis e necessárias para frear a ascensão da direita. E é nas ruas que vamos ganhar essa batalha decisiva contra o golpismo, contra o fascismo, pela democracia e pelos direitos e política sociais. É hora de mobilizar milhões contra o golpe da direita e dos setores reacionários. E os movimentos sociais cumprem  novamente o papel decisivo no atual momento político brasileiro.
Por fim, reafirmo o que disse na plenária dos movimentos sociais em São Paulo: se o andar de cima insistir em continuar batendo panela só resta o andar de baixo botar fogo no fogão.
Raimundo Bonfim, é advogado e coordenador-geral da Central de Movimentos Populares do Estado de São Paulo.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Com Renato Janine, Dilma retoma o caráter estratégico da pasta da educação no governo.


 


Há alguns dias escrevemos um artigo sobre o significado da indicação do filósofo Renato Janine Ribeiro​ para o Ministério da Educação e o que isso significava, igualmente, nos rumos do Governo Dilma Rousseff. Ontem, por ocasião de sua posse naquele ministério, se ainda havia algumas dúvidas, estas foram dissipadas. Há um colega nosso - velho amigo da militância virtual - que possui informações privilegiadas sobre os bastidores do Palácio do Planalto. Essas fontes - que o digam os jornalistas do Washington Post, quando estourou o Escândalo Watergate - são muito importantes. Outro dia, graças a uma fonte no Estado do Maranhão, noticiamos, em primeira mão, os estragos que a agenda de Décio Sá estavam produzindo nos meios políticos daquela Estado.

Se há alguma inquietação nossa, ele sempre nos informa a respeito, com precisão cirúrgica. É capaz de antecipar "frituras" de ministros quando os jornalistas que cobrem o Planalto ainda estão procurando o óleo nas prateleiras dos supermercados. O discurso da presidente Dilma Rousseff não deixa dúvidas de que ela retoma o caráter estruturante da pasta da educação nos governos de coalizão petista. Ouso afirmar que foi por ali onde passaram as políticas públicas mais estruturantes dos governos Lula/Dilma. Afinal, o que há de mais estruturante do que a educação? Procure saber porque alguns beneficiários do Bolsa Família estão deixando o programa espontaneamente. 

Daí as nossas ponderações sobre o possível "relaxamento" dessa prioridade, assim que foram anunciados o corte de verbas de custeio para a pasta. Contingenciado por dificuldades econômicas e políticas nesse início de Governo, também achávamos improvável que ainda houvesse margem de manobra da presidente para uma escolha desse porte, a rigor, com menos ingerência de sua base de sustentação política. Havia grandes interesses em jogo para a escolha da pasta da educação. Até setores do PMDB estavam de olho nela, mas Dilma despartidarizou a escolha, embora tenha negociado outro ministério para o partido. Dilma jogou muito bem nesse xadrez político. Afinal, como já informamos, por ali escoa as políticas públicas de caráter mais estruturantes do Governo.

Nenhuma "governabilidade" compensava se ela  tivesse que renunciar a isso. O custo seria muito alto, principalmente entre a base de apoio social mais identificada com o petismo. Essa base está com ela em qualquer circunstância - apesar das críticas -  e ela sabe disso. A todo custo, setores conhecidos da imprensa tentaram jogar o futuro ministro contra a presidente, principalmente a partir de algumas críticas do então professor ao Governo. Em entrevista, Janine teria reconhecido os avanços sociais dos governos petistas, mas lamentava sua fragilidade ética, que seria um outro legado que eles pretendiam imprimir na esfera pública. Dilma não quis nem saber mais nada sobre este assunto. Não pediu nenhuma explicação a ele. 

E Renato, por sua vez, elogiou a postura da presidente: sem revanchismo, demonstrando grandeza. Papo encerrado. Agora vamos trabalhar. Em sua fala, Renato enfatiza alguns aspectos gerais da educação; informa que sua gestão será balizada pelo Plano Nacional de Educação e já convoca as universidades a se engajarem no processo de formação dos professores. Quando você isola as variáveis que estão envolvidas nas causas do nosso desempenho escolar, ainda sofrível, a formação dos professores ganha uma relevância nada desprezível. Penso que vem daí a sua preocupação com o tema.Outro aspecto que possivelmente também será revisto em sua gestão diz respeito à desfederalização do ensino básico. Também é certo que os reformadores empresariais da educação estarão com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato. E isso é muito bom. Muito bom trabalho, professor.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Heitor Scalambrini Costa: As denúncias de Roldão



Tijolinho Real: Reinaldo Azevedo, o embola bosta?

Muita gente já entrou em polêmica com o blogueiro da revista Veja, Reinaldo Azevedo. Reinaldo era editor da Revista Primeira Leitura. Salvo pela linha editorial, já então bastante tendenciosa, devo afirmar que, em termos de alguns conteúdos, tratava-se de uma publicação de bom nível. Pouco tempo depois, a revista entrou em processo falimentar. Eles honraram o compromisso com os assinantes, oferecendo a possibilidade de devolução do dinheiro pago. Por essa época, poderia não concordar com Reinaldo Azevedo em muitos aspectos, mas a forma como foi conduzida a crise da revista Primeira Leitura nos causou uma boa impressão do sujeito. Logo em seguida, ele passou a ser colunista da Revista Veja. Penso que aqui, de fato, começou sua descida ao inferno. Contingenciado pela linha editorial da nova publicação e aliado às primeiras indisposição com o público, ele deixou cair de uma vez a carapaça e passou a assumir posições marcadamente de direita, tornando-se uma espécie de intelectual orgânico de nossa elite, assim como Pondé, Olavo de Carvalho e Diego Mainardi. Agora foi o teólogo Leonardo Boff que entrou nesse polêmica, afirmando que o blogueiro bem que poderia ser comparado ao besouro embola bosta. Na nossa infância, esses besouros eram muito comuns, principalmente nas casas onde havia a criação de porcos. Trata-se de uma espécie sanitarista, destas que ajudam bastante a natureza. Eles possuem um hábito curioso: se alimentam de fezes de animais. No processo reprodutivo, costumam depositar seus ovos dentro de torrão de fezes e empurrá-los até um local seguro, onde cavam um buraco e o enterra. Quando os ovos eclodem, já encontram o primeiro alimento. Há quem afirme que Leonardo Boff nunca foi tão feliz ao estabelecer essa comparação.

Fernando Da Mota Lima: A herança das utopias




Se é possível falar em debate público nas redes sociais, ele está restrito a questões políticas imediatas ou conjunturais. Há questões de fundamento que, sei, não podem ser razoavelmente discutidas nessas vitrines moventes. Se no entanto teimamos em ignorá-las, continuaremos repetindo nossos erros e brigando em torno dos efeitos alheios às causas. Um exemplo: a esquerda, da qual procedo e dentro da qual formei minha concepção da realidade histórica, continua cegamente presa a ideais utópicos e a projetos políticos que foram profundamente abalados pela história do século 20. As utopias de esquerda (comunismo) e direita (nazi-fascismo) resultaram em Estados totalitários e conflitos armados sem precedente histórico. O custo social disso tudo é inominável. Há pouco li um livro obrigatório para quem deseja conhecer líderes da esquerda como Stalin. Refiro-me a Stalin – the court of the red tsar, de Simon Montefiore. Também recomendo este de Orlando Figes: The Whisperers. Eduquei-me politicamente aprendendo que Stalin era o grande benfeitor da humanidade. Hoje sei que foi um dos maiores tiranos da história. Seus crimes e os horrores que praticou para converter um país feudal e autocrático em uma grande potência são simplesmente inomináveis. Não conheço um intelectual ou militante de esquerda do Brasil que tenha feito publicamente um exame dos nossos erros e ilusões, dos enganos e crimes que cometemos, como agentes ou cúmplices omissos, da história de horrores do século 20, que se estende para o presente. Não falo da direita porque todo mundo sabe, pelo menos via cinema e a mídia de massa em geral, dos horrores que praticou. Além disso, o ideário dela nunca enganou às pessoas inspiradas por autênticos ideais humanistas. É por isso que miro a esquerda neste comentário que ou será ignorado ou servirá para que alguns dogmáticos e cegos intransigentes atirem pedras no meu telhado de vidro. No entanto, é preciso enfrentar essa história, se de fato queremos saber o que significam a história da revolução cubana, nosso bolivarianismo novamente em ascensão e a degradação do PT.

Fernando Da Mota Lima é professor da UFPE.

(Publicado originalmente em seu perfil da Rede Facebook, hoje, 06/04)

Tijolinho Real: Afinal, por que o Governo do Estado não concede o reajuste aos professores?



Estamos acompanhando, com muita atenção, a gestão do senhor Paulo Câmara (PSB), governador do Estado de Pernambuco. Sobretudo nos últimas dias, aconteceram algumas situações emblemáticas para entendermos para onde caminha a gestão do Estado sob o seu comando. Pouco tempo depois da morte do ex-governador, Eduardo Campos(PSB), especulou-se que o Estado de Pernambuco estava quebrado, com um rombo superior a 8 bilhões nas contas. Isso só veio à tona, naturalmente, a partir das circunstâncias políticas provocadas pela morte do ex-governador. Naquele momento, as autoridades fazendárias do Estado trataram de informar que o quadro não seria assim tão cinzento. Mas, a julgar pelo andar da carruagem política, pode-se concluir que, de fato, as finanças não vão muito bem por aquelas bandas do Palácio do Campo das Princesas. 

Sob a ameaça da decretação de uma greve da categoria dos professores, o Secretário de Administração informa que o Estado já estaria no limite do comprometimento com a folha de pagamento - algo em torno de 46,66% - com a observância da Lei de Responsabilidade Fiscal - impossibilitado, portanto, de assumir qualquer compromisso de recomposição salarial da categoria. Penso que estamos diante de um impasse. O mais interessante disso é a "circularidade" da elite neo-socialista tupiniquim, o que lhes faculta conhecer, em minúcias, as contas do Estado. Tanto o atual governador, assim como o Secretário da Fazenda são oriundos do TCE e passaram pela área fazendária da administração estadual. Outros dois fatos nos credenciam a imaginar que as contam não "fecham".  Outro dia alguém reclamava dos possíveis atrasos dos repasses dos recursos do Funcultura, o carro-chefe da política cultural do Estado. A Polícia Civil está abastecendo suas viaturas na base do "pendura".

Isso é muito grave. Somente nos últimos três meses foram registrados quase mil homicídios no Estado, índice que compromete sensivelmente as metas do Pacto pela Vida. Vários fatores estão contribuindo para que essa política de segurança pública - para sermos fiéis a José Luiz Ratton - seja solapada neste início de Governo do senhor Paulo Câmara. Depois de anos registrando indicadores positivos, o PPV começou a dar sinais de cansaço. Faltam liderança, recursos, engajamento de outros setores da sociedade, investimentos em capital humano. Não poderia dar noutra coisa. O "sucateamento" da Polícia Civil é apenas a ponta do iceberg. 

Melhor seria que o Governo do Estado assumisse logo o problema e comunicasse à sociedade pernambucana que o Governador Paulo Câmara herdou uma herança maldita, de uma máquina pública combalida onde, o que, de fato, funcionava a contento era a publicidade institucional, cujas verbas para a área eram, registre-se, bastante generosas. A rigor, o problema não é da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao constranger os gestores com as despesas de pessoal, ela, na realidade, mira os investimentos em políticas públicas que atendam as demandas da sociedade. Até aqui, tudo bem. O problema é quando você olha para a contabilidade pública como um todo e, em particular, nas prioridades estabelecidas pela gestão ou, mais particularmente ainda, passa um olhar sobre as rubricas da folha de pagamento, onde o comprometimento com as despesas dos chamados cargos comissionados (DAS) ainda é bastante expressiva. Percebendo que o grande número de cargos de confiança na máquina - além de contradizer o discurso de meritocracia - poderia arranhar seu projeto presidencial, o ex-governador Eduardo Campos, nos últimos meses de governo estava reduzindo esses números. 

Penso que timidamente. E, pior, as "acomodações políticas" na máquina tiveram continuidade na gestão atual, quando, na realidade a tesoura deveria ter sido amolada. Não sei se alguém já teve a curiosidade de pesquisar - possivelmente na academia - os resultados concretos dessa política de isenção fiscal do ponto de vista dos benefícios para a população. Renúncia fiscal e fundiária, registre-se. Essas empresas se instalam em zonas exclusivas - não raro com comprometimentos ambientais e sociais - e sequer empregam mão-de-obra local, dadas as carências de formação e as "reservas de mercado" para os patrícios. Em certo sentido, trata-se de uma política predatória, onde o Estado renuncia aos recursos que poderiam ser utilizados em políticas públicas estruturadoras. Em educação, por exemplo. 

Mas, no nosso caso, são os reformadores educacionais da educação quem está dando as cartas das políticas educacionais. Outro dia alguém lembrou num comentário a uma postagem nossa, na rede social Facebook, que se tratava de um modelo de gestão inspirado no empresário Gerdau, que deu tão certo em Minas quanto em Pernambuco. Aparecem alguns números "pontuais" - como aqueles alunos que viajam aos Estados Unidos para fazerem "imersão" no idioma inglês- mas, quando se abre a caixa-preta, percebe-se os reais problemas. 

No geral, na rede pública, a maioria dos alunos não passam da conjugação do verbo To Be. É certo que a Lei de Responsabilidade Fiscal deveria ser respeitada. O problema é que, em alguns casos, ela serve apenas para ser utilizada para se tentar justificar a má gestão da máquina; negar pleitos justos de algumas categorias - caso da categoria dos professores; além de permitir que alguns gestores deixam - pasmem - de cumprir outras medidas constitucionais igualmente importantes. No Estado, por exemplo, há um déficit de aproximadamente 6 mil agentes penitenciários, alguns deles com os cursos de formação já concluídos. Na Paraíba, a Justiça está "obrigando" o Estado a fazer a contratação de pessoas concursadas, mas   que ainda não foram chamadas. Não faltam recursos mesmo é para as licitações das casas famosas de buffet do Recife, que cobram os olhos da cara, para oferecer banquetes para a elite política, econômica e diplomática. Dizem que aqui não pode haver cortes. Imagina se esses estômagos sensíveis suportariam ingerir uma rabada com caninha de engenho?  

PS do Realpolitik: Não se entenda, aqui, que o corte do custo desses buffets seriam suficientes para honrar os compromissos de recomposição salarial da categoria dos professores. Evidentemente que não. A questão maior mesmo está relacionada com essa famigerada política de isenção fiscal, de resultados bastante duvidosos, cuja conta acaba sendo paga pelos servidores do Estado. Ainda no governo de Eduardo Campos, recursos de programas como o Chapéu de Palha estavam sendo contingenciados para honrar pagamentos da construtora que ergueu a Arena da Copa, um investimento a cada dia mais inviável.    

domingo, 5 de abril de 2015

Luciano Martins: Novos ídolos mostram pobreza intelectual da lumpenburguesia

publicado em 02 de abril de 2015 às 13:11

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VOZ DAS RUAS’
Os novos ídolos da imprensa
Uma das tarefas mais difíceis da observação da imprensa é interpretar a narrativa subjacente ao conjunto de textos e sua organização nas páginas dos jornais. Como os diários procuram abranger o máximo de temas que seus editores consideram importantes para compor a agenda pública, supõe-se que basta entender o contexto de cada caderno especializado para montar o quebra-cabeças proposto a cada dia.
Nesse modelo clássico de observação, bastaria analisar os editoriais para identificar a opinião de cada veículo e ler os artigos para circunscrever a amplitude de interpretações que a imprensa tolera em suas páginas. O resto estaria explícito ou implícito na hierarquia que vai das manchetes até as notas curtas, ou até mesmo nos temas que foram deixados de fora.
O mesmo processo serviria para observar o noticiário da televisão, pois os dois meios se complementam e os principais diários costumam esperar o fim do Jornal Nacional, da TV Globo, para concluir suas edições. No entanto, a homogeneização da mídia tradicional exige que o observador leia todos os jornais de circulação nacional e acompanhe o noticiário de maior audiência para entender a lógica do jornalismo praticado no Brasil.
As grandes empresas de comunicação estabeleceram, nos últimos anos, uma relação de parcerias que eliminou a concorrência entre elas, enquanto o propósito político comum unificou os discursos e as narrativas, fazendo com que os jornais ficassem muito parecidos entre si.
Se já não havia uma diversidade aceitável em cada um deles, agora fica ainda mais patente que os principais meios de comunicação do país atuam como uma só redação, um só corpo editorial orientado por uma visão de mundo dominante e conservadora. Essa característica fica escancarada na forma como os conteúdos de um jornal são complementados e referendados pelos demais, em sequências nas quais uma declaração, um boato ou uma anedota percorre todo o campo midiático, acabando por se afirmar como verdade incontestável.
Seguindo esse roteiro, é possível identificar claramente na narrativa comum e mutuamente referente dos três diários de circulação nacional uma agenda política que tem como eixo central a manutenção de um quadro de crise em torno da presidente Dilma Rousseff, ao mesmo tempo em que se procura minar a reputação do ex-presidente Lula da Silva.
Abominações políticas
Faz sentido: não é conveniente dar guarida aos manifestantes que pedem o impeachment da atual presidente, se Lula continuar com chances de voltar ao Planalto em 2018. Por isso, a imprensa busca dar consistência ao discurso desses atores recentemente inseridos na cena pública após os protestos do dia 15 de março passado. Repórteres, editores e âncoras de programas de entrevistas procuram tornar compreensíveis e palatáveis as ideias politicamente toscas expressas por tais protagonistas, apresentando-os como exemplos da razão nacional.
Essa ação tem sido mais intensa na Folha de S.Paulo e na TV Cultura de São Paulo – e, por extensão desta, na revista Veja –, mas se repete em entrevistas e artigos nos outros jornais, nos quais se procura apresentar um engenheiro, um adolescente de traços orientais e um jovem negro como representantes da “voz das ruas”.
Lidos no original, os discursos dos personagens que a imprensa selecionou para representar esse movimento exemplificam com clareza o que a filósofa Marilena Chauí chamou, há três anos, de “abominações” (ver aqui).
É difícil analisar diretamente as visões de mundo expressadas por esses novos ídolos da mídia, porque, como verdadeiras aberrações do pensamento político, escapam aos paradigmas clássicos. Mas pode-se ler a versão revista e palatável de suas ideias, que a imprensa procura apresentar ao público.
Na edição de quinta-feira (2/4), o Estado de S.Paulo assume, em editorial, a crença de tais personagens, de que há uma orientação “bolivariana” no poder Executivo – o que soa quase como achincalhe à inteligência do leitor mais exigente. Na Folha de S.Paulo, um articulista recomenda que os movimentos que organizam os protestos simplifiquem e unifiquem suas bandeiras, e afirma que eles representam “o que a rua quer”.
Esses personagens não representam as ruas. São a expressão da pobreza intelectual que caracteriza a lumpenburguesia, essa extração das classes médias urbanas composta pelos abastados abestados, analfabetos políticos que desprezam a democracia e repudiam a mobilidade social, da qual são beneficiários.
É com essas excrescências que a imprensa produz diariamente seus quitutes.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

Michel Zaidan Filho: Religião e barbárie



Estava assistindo o noticiário internacional e fiquei surpreso como os movimentos políticos de inspiração muçulmana (fundamentalista) estavam em franca expansão na África e no Oriente Médio, no rastro da destruição dos governos da Síria, Iraque, Iêmen, Líbia, Tunísia, Quênia, Nigéria. E me lembrei do nosso país, particularmente do avanço da proposta de redução da maioridade penal na Comissão de Constituição e Justiça, da Câmara dos Deputados. Imaginei como um projeto inconstitucional e equivocado como esse passou 20 anos para ser aceito na CCJ! Então me dei conta de outro projeto de autoria de um deputado pernabucano, ligado à Assembléia de Deus, sobre o estatuto da família, e do ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos, na Câmara, o pastor Marcos Feliciano, homofóbico e intolerante. Fiquei pensando com os meus botões: o que fazer com essa turma, com a intromissão solerte dos neo-penteconstais e pentecostais no política brasileira, graças à alianças espúrias com governos de centro e de centro-esquerda, que lhe garantam a tal de governabilidade? - Em primeiro lugar, é a barbárie mesma. O anti-iluminismo. 0 ataque a todas as conquistas democráticas das inúmeras minorias (e maiorias) perseguidas e ignoradas  durante muito tempo pelo legislador brasileiro. Será que esse pessoal está também estimulando a deposição da Dilma e pedindo a volta da Ditadura Militar nas ruas? - O que fazer para conter essa avalanche obscurantista, anti-democrático e avesso aos direitos dos vários grupos  multiculturais?
 
                                 0 conceito de Estado de Direito Democrático inclui o direito à liberdade de expressão, como de reunião e confissão religiosa. Mesmo das igrejas fundamentalistas e antidemocráticas. E é melhor que elas se manifestem claramente à luz do dia, do que conspirarem contra o Estado às escuras. Mas é imperioso para a manutenção dos valores da democracia a preservação da laicidade do Estado brasileiro. Permitir que essas igrejas, seus pastores ou sacerdotes queiram ditar as regras das políticas públicas no Brasil é condenar uma imensa maioria de pessoas que professam os mais diversos credos (ou nenhum credo), a ficar à margem da sociedade ou se converterem a ferro e fogo ao evangelho obscurantista dessa grei. Quando Cristo separou o seu reino do reino secular de César, estava deixando claro que não era um messias terreno ou político. O que lhe custou o desprezo dos hebreus (e sua condenação). Na verdade, em face da babel cultural religiosa dos nossos dias, o caminho a seguir é aquele definido pelo filósofo alemão como "o patriotismo da Constituição". Nenhum grupo cultural ou religioso pode impor sua hegemonia sobre as demais culturas e sub-culturas num mesmo espaço geo-político. Todos serão respeitados, mas terão um tratamento isonômico do Estado. Viva a liberdade de expressão, desde que ela não se transforme no alimento venenoso da intolerância, da discriminação e do ódio.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEDP-UFPE

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Tijolinho Real: A esquerda caviar dos pós-comunistas.

O caboclo morre e ainda deixa de ver muito coisa pela vida. Talvez faça algum sentido essa história de reencarnação. Por via das dúvidas, já recomendei que gostaria de ser enterrado com um protocolo para entregar ao Chico Xavier, solicitando, tão depressa quanto possível, a nossa volta ao torrão. Uma das maiores decepções nossa ocorreu no circuito acadêmico. Ali se formam núcleos ditos de "esquerda"; capazes de produzir teses; realizar eventos; atrair multidões às suas palestras; orientar - ou seria doutrinar - incautos; sempre orientando-se pela defesa intransigente do combate às desigualdades, das injustiças sociais. Os padrões de relações internas desses núcleos, entretanto, diferem bastante dos discursos. São capazes de cometer injustiças, discriminam, solapam companheiros, se apropriam indevidamente de ideias. 

Para eles, na realidade, "esquerda" torna-se apenas uma linha de pesquisa, o que proporciona a formação de redes, captação de recursos e intercâmbio - principalmente junto à academia francesa, cujos intelectuais são muito sensíveis aos problemas da exclusão em países latino-americanos e africanos.Isso vem a propósito da decomposição ideológica - e moral - a que foram submetidos os comunistas brasileiros, principalmente as correntes dissidentes do PPS e do PCdoB. Salva-se aqui, naturalmente, as honrosas exceções de um Gregório Bezerra, Cristiano Cordeiro, Carlos Prestes, entre outros. 

Hoje esses "comunistas" agem por puro oportunismo e fisiologismo. Como afirma o filósofo Renato Janine - futuro ministro da Educação - O que temos é uma ex-esquerda que age e pensa mais à direita. A esquerda perdeu o conteúdo. Ontem os jornais do Estado trouxeram uma notícia curiosa sobre um dos representantes ilustres desse pós-comunismo. O PPS compôs a base de apoio ao candidato Paulo Câmara(PSB) nas últimas eleições. Nos parece que ainda não foi contemporizado com a sua parte do latifúndio governista, mas uma rearrumação no secretariado do governador, favoreceu o partido, abrindo uma vaga para este cidadão assumir uma cadeira de Deputado Federal.

Até então, ele havia assumido uma vaga de vereador na Casa de José Mariano. Mesmo convocado à Câmara Federal, segundo o jornal, ele continuou recebendo os proventos de vereador do Recife, numa prática absolutamente pouco condizente com a sua postura de homem público e de parlamentar. O cidadão coloca-se como um paladino da moralidade. aliás, a moralidade pública, a rigor, constitui-se no principal eixo de sua plataforma política. Nos últimos anos, esteve envolvido em praticamente todas as lutas da sociedade recifense no tocante a essa questão, cobrando satisfações do poder público, acionando os órgãos de controle e fiscalização do Estado. Penso que, numa dessas - caso da Ocupação do Cais José Estelita - ele chegou a ser expulso pelos líderes do movimento. Na realidade, se analisarmos direitinho, a figura nunca foi lá grande coisa, mas, com essa atitude o seu prestígio caiu de uma vez. Está mais baixo de poleiro de pato, como costuma dizer o padre Reginaldo, eterno pároco do Morro da Conceição.