pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 28 de março de 2015

Renato Janine Ribeiro para a educação. Uma inflexão ética do Governo Dilma Rousseff.


José Luiz Gomes escreve:  



Ainda temos poucas informações sobre as negociações de bastidores que determinaram a escolha do nome do filósofo Renato Janine Ribeiro para o Ministério da Educação. Independentemente disso, no entanto, as repercussões estão sendo muito positivas, sobretudo quando se toma como referência o próprio PT, a academia e a base social que, tradicionalmente, sempre apoiou o projeto Dilma Rousseff. Dilma parece ter aproveitado a vacância do cargo para fazer uma minirreforma política, dizem, por orientação de Luiz Inácio Lula da Silva. Diante das circunstâncias adversas, observa-se uma reaproximação entre Lula e Dilma, que estavam um tanto quanto distanciados. O Palácio voltou a ter a presença de homens da estrita confiança de Lula, como é o caso de Edinho Silva, ex-tesoureiro de campanha de Dilma Rousseff, nas últimas eleições presidenciais, que assume a SECOM, uma área muito problemática neste início de segundo mandato de Dilma. Dizem que é o coringa do projeto Lula 2018.

Não era segredo para ninguém que o Governo Dilma vinha apanhando feio no quesito comunicação institucional. Aliás, para ser mais preciso, vinha pagando para apanhar, ao injetar milhões de recursos públicos em oligopólios de comunicação marcadamente refratários ao Governo, para não dizer "golpistas". Mas não era só isso. Em meio à turbulência política de Brasília, não raro, as mídias oficiais do Planalto ficaram literalmente paralisadas. A missão de defendê-la passou a ser assumida pelas ditos blogs "sujos" e uma militância desnorteadas, pelas redes sociais. Mal assessorada, Dilma também passou a fazer alguns pronunciamentos não necessariamente muito felizes, agravando ainda mais o quadro já cinzento.   


Por outro lado, agora já falando sobre articulação política - outra área nevrálgica do Governo -  depois de derrotas sucessivas, Mercadante - embora formalmente no cargo - já não exerce as funções de articulador político do Planalto. Seu papel agora é cobrar dos outros ministros resultados sobre as obras importantes do Governo. Este também era um desejo de Lula. As atitudes de Mercadante o tornaram uma pessoa que representava apenas a si mesmo. Tornou-se uma espécie de superministro. Um interlocutor privilegiado junto a Dilma. Pasmem os senhores, mas com uma ascendência maior do que o padrinho político da presidente. Realmente, essa situação - como diria uma colega de trabalho - não podia continuar. Penso que Mercadante não leu aquele livro sobre as regras do poder, - escrito por dois jornalistas americanos - que era o livro de cabeceira do babalorixá Antônio Carlos Magalhães. O caboclo gosta de ler, tem doutorado, mas, não surpreende que, por vezes chegue às suas mãos alguns livros "errados". 

As circunstâncias políticas não nos permitem falar em "cota" pessoal da presidente Dilma Rousseff. Ainda insisto que a indicação de Renato Janine Ribeiro para aquela pasta envolveu alguns arranjos políticos e a montagem de uma xadrez intrincado, que sinaliza, no mínimo, para uma média com setores sociais mais afinados com o Governo Dilma. Setores importantes do PMDB teria interesse na pasta, ampliando sua participação e "comprometimento" com o Governo. A indicação de um Gabriel Chalita, como se especulou, poderia representar um momento de trégua nos achaques. E eles ainda alegam que desejam mais participação para implementarem o seu programa de governo. Afinal, qual é mesmo o programa de governo do PMDB?

Se, por um lado, é mesmo complicado falarmos em "cota" pessoal da presidente Dilma Rousseff, por outro, sua indicação para aquela pasta nos permitem algumas conclusões importantes, como a retomada do caráter estratégico do órgão, assim como ocorreu nas gestões anteriores dos governos de coalizão petista. Ouso afirmar que, pela educação, pode ter fluído as políticas públicas mais socialmente estruturante desses governos. 

As mesmas observações se aplicariam ao caso da nomeação de um outro filósofo, Mario Sergio Cortella, cujo nome passou a ser especulado nos últimos dias. Cumpre esclarecer que nem os mais informados jornalistas sabiam das entabulações de conversas envolvendo o nome do filósofo Renato Janine.Sempre afirmei que a escolha do nome do futuro titular da pasta seria um ponto de inflexão do Governo Dilma. Parece que acertamos. Apesar das dificuldades do órgão, a escolha de Renato Janine Ribeiro pode significar que, de fato, o Governo Dilma pretende levar a sério o slogan: Brasil, Pátria Educadora. Um outro aspecto a ser considerado é a "cota" ética que ele empresta ao Governo, quiçá sinalizando que Dilma, igualmente, está atenta à necessidade de passar um verniz ético na administração pública. Enfim, por inúmeras razões, a indicação de Renato Janine para a pasta de Educação, conforme assinalamos, significa um ponto de inflexão no Governo Dilma.

Assume um técnico, professor de ética pública e filosofia da USP, que já dirigiu a CAPES. Há quem informe que ele poderá dar prioridade às áreas de ciências humanas, em razão de suas origens. Certo mesmo é que os reformadores empresariais da educação que estavam se consolidando no órgão, certamente, terão um contraponto pela frente. Ponto para Dilma Rousseff. Bola dentro, presidente. 

Tijolinho Real: A "cota" ética que Renato Janine Ribeiro empresta ao Governo Dilma Rousseff


Ainda temos poucas informações sobre as negociações de bastidores que determinaram a escolha do nome do filósofo Renato Janine Ribeiro para o Ministério da Educação. Independentemente disso, no entanto, as repercussões estão sendo muito positiva, sobretudo quando se toma como referência o próprio PT, a academia e a base social que apóia o projeto Dilma Rousseff. Dilma parece ter aproveitado a vacância do cargo para fazer uma minirreforma política, dizem, por orientação de Luiz Inácio Lula da Silva. Diante das circunstâncias adversas, observa-se uma reaproximação entre Lula e Dilma, que estavam um tanto quanto distanciados. O Palácio voltou a ter a presença de homens da estrita confiança de Lula, como é o caso de Edinho Silva, ex-tesoureiro de campanha, que assume a SECOM, uma área muito problemática neste segundo mandato de Dilma. Dizem que é o coringa do projeto Lula 2018. Por outro lado, depois de derrotas sucessivas, Mercadante - embora formalmente no cargo - já não exerce as funções de articulador político do Planalto. Seu papel agora é cobrar dos outros ministros resultados sobre as obras importantes do Governo. Este também era um desejo de Lula. As atitudes de Mercadante o tornaram uma pessoa que representava apenas a si mesmo. Tornou-se uma espécie de superministro. Um interlocutor privilegiado junto a Dilma. Pasmem os senhores, mas com uma ascendência maior do que o padrinho político da presidente. Realmente, essa situação - como diria uma colega de trabalho - não podia continuar. Penso que Mercadante não leu aquele livro sobre o poder, que vivia na cabeceira do babalorixá Antônio Carlos Magalhães. As circunstâncias políticas não nos permitem falar em "cota" pessoal da presidente Dilma Rousseff. Ainda insisto que a indicação de Renato Janine Ribeiro para aquela pasta envolveu alguns arranjos políticos e a montagem de uma xadrez intrincado, que sinaliza, no mínimo, para uma média com setores sociais mais afinados com o Governo Dilma. Isso é possível concluir pelo perfil do filósofo. As mesmas observações se aplicariam ao caso da nomeação de um outro filósofo, Mario Sergio Cortella, cujo nome passou a ser especulado nos últimos dias. Sempre afirmei que a escolha do nome do futuro titular da pasta seria um ponto de inflexão do Governo Dilma. Parece que acertamos. Apesar das dificuldades da pasta, a escolha de Renato Janine Ribeiro pode significar que, de fato, o Governo Dilma pretende levar a sério o slogan: Brasil, Pátria Educadora. Um outro aspecto a ser considerado a "cota" ética que ele empresta ao Governo, quiça sinalizando que Dilma, igualmente, está atenta à necessidade de passar um verniz ético na administração pública. Enfim, por inúmeras razões, a indicação de Renato Janine para a pasta de Educação, conforme assinalamos, significa um ponto de inflexão no Governo Dilma.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Tijolinho Real: Renato Janine Ribeiro e o novo ministro da Educação

Como disse o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, o Governo Dilma nos brinda com uma excelente notícia: Renato Janine Ribeiro é o novo ministro da Educação. Doutor em Filosofia, Renato Janine Ribeiro é professor de ética pública na USP. Prefiro não antecipar nada, por enquanto, acerca dos arranjos políticos que determinaram a escolha do seu nome para aquela pasta. Habitué dos caderno "Mais" da Folha de São Paulo - que já não o edita mais - li muitos dos seus artigos. Gosto muito de suas ideias, embora, salvo algum engano grotesco, sobretudo em razão das afinidades construídas no CEBRAP, era uma pessoa muito próxima a Fernando Henrique Cardoso. 

Tijolinho Real: Mário Sérgio Cortella para o Ministério da Educação? Seria um bom nome. Porém...


O filósofo Mário Sérgio Cortella foi seminarista antes de optar pela carreira acadêmica. Fez mestrado e doutorado em educação, tendo exercido o cargo de Secretário de Educação da Cidade de São Paulo, na gestão petista de Luiza Erundina. Seu mestrado foi orientado por Moacir Gadotti e o doutorado por Paulo Freire, na PUC-Rio. Com essas credenciais, certamente, ele seria um bom nome para ocupar o Ministério da Educação. Soma-se a isso suas fortes vinculações com os movimentos sociais que deram sustentação ao projeto de governo da coalizão petista. Como já afirmamos em momentos anteriores, a escolha do futuro ministro da pasta pode se constituir num momento de inflexão do Governo Dilma. Nos dois mandatos de Lula e no primeiro Governo Dilma, a pasta era estratégica para o PT. 

Poderíamos passar esse post todo enumerando os grandes avanços conquistados na área, a despeito de intermitentes problemas que ainda precisam ser superados, como a ainda baixa qualidade social da educação básica nas escolas públicas - de onde o Governo Federal afastou-se, com a famigerada municipalização - ; o gargalo do ensino médio - onde os alunos das escolas privadas dão banho nos alunos das escolas públicas em termos de adequação idade/série; as expectativas em se atingir os índices da OCDE, média 6,0 do IDEB, até 2020. 

Eis que no seu segundo mandato, não apenas pela indicação de Cid Gomes para o cargo - mas sobretudo em razão de algumas medidas - como o corte de verbas de custeio da máquina - o PT dava a infeliz sinalização de que aquela pasta já não teria uma função estratégica no seu Governo. Do ponto de vista do discurso, o Governo Dilma mantém sua posição sobre o órgão, respondendo aos adversários com o slogan: Brasil: Pátria Educadora. Pelo discurso oficial, educação não seria apenas uma pasta estratégica, seria a pasta que irá ancorar as ações do Governo Dilma no segundo mandato. Quem acompanha os noticiários, sabe que os problemas se avolumam naquela órgão, ao que o Governo responde que trata-se apenas da não aprovação do Orçamento Geral da União pelo Congresso. Um outro núcleo social que poderia se sentir contemporizado com a indicação de Cortella seria a academia. Ele goza de um bom trânsito entre a estudantada e professores. 

A rigor, com a saída de Cid Gomes da pasta, Dilma aproveitou a deixa para seguir os conselhos de Lula e está realizando uma mini-reforma na Esplanada dos Ministérios. Aloízio Mercadante foi destituído da sua condição de superministro e homem forte das articulações; o ministro das comunicações, Thomas Traumann, pediu afastamento do cargo. Duas frentes em que o Governo Dilma estava perdendo feio a guerra contra seus adversários. Particularmente, até gostaríamos de ter um Cortella no Ministério da Educação. Há, porém, alguns arranjos políticos complicadíssimos com essa pasta o que, em última análise, diminuem bastante a possibilidade de uma indicação do seu nome para aquele órgão. O mais provável é que Dilma aplaque a ira dos seus achacadores - indicando um nome do agrado deles - e ganhe alguns minutos de paz nesse sono com os inimigos. Infelizmente. É a realpolitik, meu filho.

Tijolinho Real: Renato Aroeira tem desenho adulterado pelo partido Anti-PT

 

Tive, ontem, o desprazer de me deparar (mais uma vez) com o roubo e a fraude. Um desenho meu, adulterado e usado sem autorização. Naturalmente, estava em um perfil que combate valorosamente a corrupção e "isso tudo que está aí". Chama-se Partido Anti-PT. Emoticon tongue
Lado a lado, a imagem adulterada e o desenho original.

Um reclame:
Admito que os dois lados são cheios de contradições. Um filósofo de verdade derruba qualquer dos ideólogos de face em minutos... Emoticon wink
A questão, pra mim, nunca foi a consistência, ou a coerência. Escolho a esquerda porque sou humanista.
Mas é chato ver o desenho da gente sendo usado, em pedaços, pra propalar o contrário exato do que você acredita.

Renato Aroeira, hoje, dia 28 de março, em seu perfil na rede social Facebook

quarta-feira, 25 de março de 2015

Tijolinho Real: A crise do jornalismo impresso no Estado.





Não é de hoje que o jornalismo impresso passa por uma grande crise. Isso não acontece apenas no Estado, mas, como nos atinge diretamente, talvez possamos fazer algumas considerações a esse respeito. Submetidos a uma forte injunção econômica e política, os jornais escritos perderam bastante credibilidade e os jornalistas já não exercem as suas funções com a dignidade, a seriedade e profissionalismo que a atividade requer. Publicam o que o poder econômico e os arranjos políticos determinam, comprometendo - apenas comprometendo? - as reais diretrizes que deveriam nortear essa atividade. Aliado a este problema, soma-se o avanço de outras mídias, que começam a comprometer, igualmente, o jornalismo televisivo. O tradicional Jornal Nacional, da Rede Globo, por exemplo, vem amargando perda de audiência sistematicamente nos últimos anos. O binômio jornalismo tendencioso e avanços de outras mídias, por certo, podem determinar o fim desses meios de comunicação.

Nas eleições passadas - para o Governo do Estado - um dos grandes jornais pernambucano transformou-se num panfleto de propaganda de um dos candidatos, com raras "brechas" concedidas ao exercício coerente e isento dos seus profissionais. Recentemente foi adquirido por um grupo empresarial que também administra planos de saúde, num negócio complicado de entender. Ontem foi anunciado a demissão de mais de 100 profissionais desse jornal, entre os quais vinte jornalistas. É o jornal mais antigo em circulação da América Latina. Penso que boa parte dessa história foi resgatada pela microfilmagem da Fundação Joaquim Nabuco. Tenho ótimas lembranças deste vespertino. Sempre aos sábados, saia de casa para a Igreja de Santa Elizabeth, em Paulista, para adquirir um exemplar. Nesse dia, o jornal publicava os artigos do sociólogo Gilberto Freyre. Quando terminei o mestrado, fui agraciado com uma página inteira do jornal, abordando a nossa dissertação. Na nota de rodapé, o jornalista que fez a matéria - hoje assessor de imprensa do Planalto - teve o cuidado de ouvir todas as lideranças petistas locais sobre o assunto.

O outro "grande" também não vai muito bem das pernas. Se nos permitem a licença poética, esse é de lascar mesmo. Como comentávamos nas eleições passadas, neste caso em particular,  há um conluio que envolve empresários acionistas - que também são donos de instituto de pesquisa - e que possuem fortes ligações com o Palácio do Campo das Princesas. Isso, do ponto de vista do leitor, não pode dar muito certo. Dá certo para os políticos e empresários que se locupletam deste favorecimento explícito. Aqui pela província, há políticos blindados e uma engenharia de comunicação institucional das mais bem-sucedidas, onde os jornais, infelizmente, tornaram-se apenas uma correia de transmissão dessa engrenagem. A possibilidade, aqui na província, do surgimento de um jornalismo investigativo que desse como resultado o "Escândalo Watergate", que culminou com a renúncia do presidente Nixon, são inexistentes. São por outros canais que tomamos conhecimento das mazelas de corrupção aqui no Estado. Eles, então, perderam a importância. Dezenas de casos escabrosos de corrupção na província não mereceram uma linha dos jornais locais. As redes sociais denunciam isso todos os dias. O excepcional talento dos que fazem a editoria de capa de ambos os jornais, não raro, é suprimido pelo poder econômico ou pelas injunções políticas dos seus proprietários.

Por não sermos um profissional da área e não contarmos com nenhum suporte, não raro, cometemos algumas "barrigas" aqui no blog, induzidas, por vezes, por equívocos da imprensa escrita. Às vezes, são falhas nossa mesmo. Cheguei a postar, por exemplo, que Ciro Gomes seria o ministro da Educação indicado por Dilma quando, na realidade, o nome correto seria o do seu irmão, Cid Gomes. Naturalmente que bem antes dos últimos imbróglios. Outro dia, uma cidadã jornalista fez uma matéria sobre a Fundação Joaquim Nabuco e, além de não aprofundar o conteúdo - preferencialmente ouvindo as partes envolvidas e o que estava em "jogo" - ainda ilustrou a matéria com a foto de um gestor já falecido da Casa. Ele deve ter se revirado no túmulo. Mesmo à distância, ficou feliz com o afago. 

Outro fato curioso, como já afirmamos, é a dinâmica de funcionamento dessa engrenagem de comunicação institucional do Estado, que envolve inúmeros elementos. Trata-se de um dispositivo estrategicamente acionado em ocasiões oportunas, com referências explícitas e subliminares a um ex-governador já falecido. Pouco antes das manifestações que ocorreram contra Dilma Rousseff na Praia de Boa Viagem, os muros do Recife voltaram a se pichados com a inscrição: " Foi o PT que matou Eduardo Campos". Os manifestantes, todos vestidos de verde e amarelo, ostentavam várias faixas com uma frase conhecida do ex-governador: "Não vamos desistir do Brasil". Trata-se de um dispositivo muito bem azeitado.

A formação acadêmica desses profissionais também passa por inúmeros questionamentos. O desenho curricular já não dá conta das vicissitudes da atividade profissional. Seria mais coerente se falássemos de um desenho curricular que não acompanhasse, tão somente,  as mudanças tecnológicas, por exemplo, mas o problema não é apenas este. É um currículo que não acompanha ou mesmo antecipou-se à crise do jornal impresso. Há dificuldades de estágio; ocorreu esgotamento do mercado de trabalho; verifica-se uma erosão da credibilidade desses jornais; praticamente não existem espaços dignos  para a aprendizagem cotidiana do jornalismo. Para que tenhamos uma ideia, há alguns anos atrás, existia um programa para "focas" ,da Editora Abril, que se constituía numa grande referência profissional para o futuro jornalista. Hoje eu não sei se conta muito registrar no currículo que passou pela redação de "Veja". Conta sim. Negativamente. 

Tijolinho Real: Caranguejos: o período de defeso não está sendo respeitado.





Não nego a afinidade com todo o universo que envolve o caranguejo-uçá. Parafraseando Josué de Castro, melhor seria dizê-lo o ciclo do caranguejo-uçá, numa alusão aos seus estudos sobre o tema. Costumeiramente, todos os semestres, levava meus alun@s à comunidade de São Lourenço, em Goiana, onde eles entravam em contato com as questões antropológicas, sociológicas e ambientais que envolve este universo, numa comunidade remanescente de quilombos, que sobrevive da captura desses crustáceos. Que saudades do pirão de caranguejo preparado por Dona Irene, na Praia de Pontas de Pedra. Com prestígio em alta, ainda conseguia umas carnes de patola acompanhadas de uma dose de cana Cobiçada.

Em Jacumã, levar a gurizada para observá-los no seu habitat natural, constitui-se numa das coisas mais prazerosas para mim. Nas últimas férias, aconteceram duas coisas curiosas quando já estava de volta de João Pessoa para o Recife. Uma matéria do Jornal Correio da Paraíba nos informavam que garotos capturavam o crustáceo nas águas poluídas do Rio Jaguaribe, já na divisa de João Pessoa com Cabedelo. A captura se dava de uma maneira pouco usual - confesso que até desconhecia. Quando eles avistam o crustáceo no Rio, mergulham e o captura à mão. Normalmente, a sua captura é realizada no lamaçal dos mangues, introduzindo as mãos - de preferência fechadas - nas suas tocas profundas. 

Um outro fato que nos chamou a atenção foi a quantidade de carros parados, à noite, nas proximidades do Rio Gramamme. O rio é cortado pela  BR-008, que liga João Pessoa à Jacumã, no litoral sul. Em ambos os lados da rodovia, imensos manguezais. Como a andada é um processo de acasalamento, eles não relutam em atravessar a estrada, correndo o risco de serem atropelados ou mesmo facilmente capturados, o que se constitui crime. Literalmente, perdem a cabeça à procura de um rabo de saia. A Lei Federal 9.605/98 proíbe a comercialização, transporte, armazenamento e consumo desse crustáceo nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março. O período mais crítico, vai de  21 a 26 de março, quando as fêmeas colocam as ovas no mangue. No último dia 21, foram apreendidos nos mercados públicos e feiras livres de Jaboatão dos Guararapes, cinco mil caranguejos, numa prova evidente de que as pessoas não estão respeitando o período de defeso da espécie.

Tijolinho Real: Je suis Vitor Teixeira


 charge gladiador
 
Através do Aroeira, recebemos uma mensagem do chargista Victor Teixeira, informando que a Igreja Universal teria entrado com uma ação extra- judicial contra ele, onde exige que sua página seja retirada da Rede Facebook, argumentando que uma de suas charges, publicada nessa postagem, incita o ódio religioso. O episódio é bastante recente e ainda não sabemos como os dirigentes da rede social Facebook irão se comportar. O pessoal do microblog Twitter, quando então interpelados pelo candidato tucano Aécio Neves, nas eleições de 2014 , que havia solicitado a identificação de dezenas de perfis que, segundo ele, o ofendia - se recusou a entregá-los. Pelo andar da carruagem política, infelizmente, o Facebook - pelo que já podemos constatar em outras ocasiões - deverá mesmo entregar a cabeça de Victor Teixeira ao sacrifício do pessoal da Igreja Universal. 

Muita gente reclama de ter suas postagens ou mesmo seus perfis censurados pela rede Facebook. Nós particularmente condenamos todo tipo de censura. Quem já foi vítima disso, sabe muito bem do que estamos falando. Na nossa modesta opinião, trata-se de um crime hediondo o indivíduo não poder externar livremente suas opiniões. No nosso blog, nunca houve qualquer tipo de censura. Ao contrário, pessoas que, por vezes, são impedidas de publicar noutros blogs, encontram por aqui a solidariedade devida. Respeitamos as posições religiosas de quem quer que seja, mas, aqui para nós, as atitudes deste cidadão conhecido como Bispo Macedo e seu séquito de seguidores, isto sim, é que mereceriam a atenção da Justiça, do Ministério Público. A trajetória dele é algo espantoso. Um self-made man com algumas características bem particulares.

Nos parece que possui uma licenciatura em matemática - mas não quis enfrentar o batente da sala de aula - e resolveu estudar Teologia, onde encontraria mais fácil o caminho do céu. Apesar da concorrência acirrada das igrejas neopetencostais, o bispo Macedo é um homem rico e também muito influente. A arquitetura e o simbolismo do famoso Templo de Salomão, recentemente inaugurado com a presença da presidente Dilma Rousseff - segundo dizem, flerta com a religião judaica. Ele mesmo anda muito parecido com um rabino. O templo custou 680 milhões de reais. Possui um império de comunicação e, pelas suas igrejas, circulam milhões de reais isentos de qualquer tributos, lavadíssimos.

Esboça-se algumas iniciativas no sentido de "disciplinar" essas doações em dinheiro vivo, mas, se depender do aparelho político ligado ao bispo, há poucas chances de coibir essa farra. Agora eles resolveram criar uma espécie de milícia particular, que recebem treinamento militar, prestam continência e estão "prontos para a batalha." Volto a insistir, a justiça deveria, isto sim, estar preocupada com essas ações da Igreja Universal e não com as charges do Victor Teixeira. 

Vejamos o que ele mesmo diz, a esse respeito, depois das inevitáveis comparações com os episódios de Paris, envolvendo os chargistas mortos do Charlie Heddo. 


"Pessoal, vi alguns companheiros aqui no Facebook fazendo uma comparação do caso da minha ilustração sobre os gladiadores com o atentado da Charlie Hebdo, e gostaria de esclarecer alguns pontos. Adianto que repudio totalmente o atentado à revista francesa, mas nunca tive simpatia pelo seu conteúdo, e acho que minhas motivações são diferentes das deles.
Na minha leitura, Charlie Hebdo atacava grosseiramente uma religião milenar, dentro de um país repleto de imigrantes árabes fugidos de conflitos em suas terras natais. Conflitos impostos pelo imperialismo, guerras de interesse profundamente econômico financiadas por França, EUA e aliados.
Meu desenho critica uma iniciativa de uma empresa brasileira fundada décadas atrás, que possui um templo-sede de mais de R$600 mi, imprensa própria, dezenas de parlamentares e agora, um exército.
Existe uma distância imensa entre estampar uma estrela no cu de Maomé para zoar potenciais "terroristas", de pisar no calo de uma seita neo-judaica milionária."

Victor Teixeira.

terça-feira, 24 de março de 2015

Efeito Coxinhas: Carlinhos Metralha nas manifestações contra Dilma Rousseff.


O Massacre da Granja São Bento voltou ao noticiário recentemente. O jornalista Fernando Brito, do Tijolaço, publicou um longo artigo sobre o assunto em seu blog. A motivação deveu-se à presença do ex-delegado do DOPS-SP, Carlos Alberto Augusto - também conhecido como Carlinhos Metralha - nas manifestações contra o Governo Dilma. O "bom velhinho" ostentava um cartaz onde afirmava que gostaria de ter sido ouvido pela Comissão da Verdade, que já encerrou os seus trabalhos. Uma pena que ele somente agora tenha se manifestado a esse respeito, uma vez que andava sumido e não foi localizado quando convocado para a audiência na Comissão. De fato, ele teria muita coisa a falar sobre presos e desaparecidos durante o regime militar. O ex-delegado do DOPS era um dos colaboradores de Sérgio Paranhos Fleury, uma das figuras mais emblemáticas da repressão do regime aos grupos da luta armada urbanos.

Ambos estiveram envolvidos num caso nebuloso, o Massacre da Granja São Bento, onde 06 guerrilheiros da VAR-Palmares foram executados numa chácara na cidade de Paulista. A localização exata da granja hoje é na cidade de Abreu e Lima que, antes de emancipar-se, era um distrito da cidade de Paulista. Conheço de perto o local. A ação praticamente dizimou os últimos guerrilheiros que pertenciam a Var-Palmares. Eles foram sumariamente executados, a despeito das armações montadas, como a presença de diversas armas junto aos corpos. Haviam sinais de tortura e tiros na nuca, numa demonstração inequívoca de execução. Os guerrilheiros foram pegos como resultado da delação do Cabo Anselmo. 

Por essa época, eles mantinham um aparelho aqui em Olinda, na Praia do Rio Doce. Entre os mortos, a jovem Soledad Barrett, grávida do cabo Anselmo, com quem mantinha um caso. Depois de resgatarem o cabo Anselmo de um possível justiçamento, Sérgio Paranhos Fleury e equipe seguiram para Paulista. Antes, porém, segundo dizem, teriam passado pela Ciranda de Dona Duda, na praia do Janga. Jovens que abraçaram este cidadão, como sugerem as imagens acima, não fazem ideia do risco que ele representa para as liberdades individuais, inclusive a deles.  

MinC reafirma compromisso com mestres e griôs de tradição oral na Paraíba

  

23.3.2015 - 10:54  

 

 
Na Paraíba, rodada de encontros com gestores públicos, redes, movimentos culturais  e representantes da sociedade civil ligados à área cultural. (Foto: Escola Viva Olho do Tempo/Thiago Nozi)
 
A Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC)  esteve na Paraíba, na sexta-feira (20) e no sábado (21), para mais uma rodada de encontros com gestores públicos, redes, movimentos culturais  e outros representantes da sociedade civil ligados à área cultural.
 
Após percorrer oito cidades em pouco mais de dois meses de gestão, a SCDC participou, em João Pessoa, de reuniões com a Secretaria Estadual de Cultura, a Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e a Representação Regional Nordeste do MinC. Os representantes da Secretaria também estiveram presentes no Encontro Nacional de Planejamento da Rede Ação Griô.
 
Na sexta-feira, a secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural, Ivana Bentes, pôde conhecer diversos projetos da Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, dentre eles o do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional da Paraíba, que envolve 223 municípios, com ações voltadas para a valorização, a preservação e o fomento das culturas populares. O encontro contou com a presença do secretário de cultura da Paraíba, Lau Siqueira, e da gerente de Arte Popular e coordenadora do Centro de Referência, Mariah Marques. 
 
O secretário de Cultura da Paraíba destacou a importância da parceria com o MinC. "É muito satisfatório ver o Ministério da Cultura neste movimento de dialogar, escutar e avançar em soluções concretas. Saímos deste encontro confiantes na rearticulação da rede de Pontos de Cultura em nosso estado", afirmou Lau Siqueira.
 
Na reunião, também foram estabelecidas metas para a retomada da Rede de Pontos de Cultura da Paraíba, em uma ação articulada entre as secretarias de Educação e de Cultura. "Os Pontos são essenciais para o desenvolvimento da cultura no Brasil. Mas precisamos enfrentar os problemas vivenciados por eles, para que a rede se mantenha ativa e articulada", destacou a gerente de Identidade Cultural da Secretaria de Cultura da Paraíba e gestora da Rede Estadual de Pontos de Cultura, Mirnah Leite. "A Lei Cultura Viva garantirá uma base legal que respalde os Pontos em relação aos órgãos de controle e que permita que o trabalho flua de maneira mais unificada", avaliou.
 
Ainda na sexta-feira, a equipe da SCDC esteve com o chefe da Representação Regional Nordeste do MinC, Gilson Matias, e com o diretor-executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Maurício Burity. Na pauta, a Rede de Pontos de Cultura de João Pessoa e a criação de um Fórum Permanente de Cultura na cidade. 
 
"Esperamos cada vez mais estreitar essa relação, para que a representação nordeste do MinC possa atuar de forma articulada com a SCDC  em relação aos Pontos de Cultura", afirmou Gilson Matias. "Estamos muito felizes com esta parceria entre a Funjope e o MinC. Seguimos à risca a política cultural estabelecida pelo ministério e estamos implementando o Sistema Municipal de Cultura em João Pessoa. A Rede de Pontos de Cultura engrandece, promove, preserva e registra a cultura do nosso município", destacou Burity.
 
Encontro Nacional de Griôs e Mestres
A Roda de Conversa sobre a Política Nacional Cultura Viva e a Lei de Griôs e Mestres foi outro momento importante da agenda de sexta-feira. O debate girou em torno da regulamentação da Política Nacional de Cultura Viva. No evento, a SCDC reafirmou o compromisso com as políticas defendidas pela Rede Ação Griô para o reconhecimento e a valorização da tradição oral em diálogo com escolas, universidades e Pontos de Cultura.
 
"Existe uma cultura popular contemporânea que está vindo com muita força, fora dos grandes centros. A conexão entre o popular e o contemporâneo, a tradição e a invenção, é algo que vemos com muita força nos Pontos de Cultura, uma das políticas públicas de maior capilaridade no Brasil profundo", destacou Ivana Bentes. 
 
Um documento com as propostas da sociedade e assinado pela Comissão Nacional de Griôs e Mestres foi entregue à SCDC pela mestra Doci, gestora do Ponto de Cultura Escola Viva Olho do Tempo, que sediou a roda de conversa.
 
O Circuito Cultura Viva na Paraíba foi concluído na manhã de sábado, com a participação da 10ª Caminhada de São José, no Vale do Gramame, que neste ano teve como tema O rio Gramame quer viver em águas limpas. "O rio faz parte da cultura local e a responsabilidade de preservá-lo não pode ficar só com as instituições ambientais. A água tem impacto direto na transformação espiritual, religiosa, social e, consequentemente, cultural da comunidade. A SCDC está à disposição para que o diálogo possa envolver outras instituições", ressaltou o diretor da Cidadania e da Diversidade Cultural, Alexandre Santini.
 
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura
c/ informações da Secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural

Tijolinho Real: Voltar para onde mesmo, Luiz Felipe Pondé?

 

 
Outro dia, nos comentários a um artigo publicado por mim no blog de Jamildo Melo, do JC, observei uma coisa curiosa. A tese de que estratos da classe média e a elite não desejavam as concessões que estavam sendo feitas nos últimos anos pelos governos Lula/Dilma ao andar de baixo da pirâmide social foi solenemente rejeitada, apesar de ser um dado apontado em pesquisas sérias, assim como constituir-se - na opinião de alguns analistas - como a principal motivação da rejeição desses estratos ao Governo Dilma Rousseff.  Gosto muito do feedback ao que escrevo, mesmo que tenhamos de suportar, sobretudo aqui na província, muita agressividade. Nem assim perco a esportiva e, não raro, respondo a todos, embora algumas dessas respostas não sejam publicadas. Neste último caso, apenas em resposta ao cidadão que se identificou como Pedro, acabei escrevendo um outro artigo apenas nas respostas. 

As pessoas que nos retrucaram informaram que eram sim favoráveis a uma  sociedade mais justa, que facultasse ao andar de baixo uma educação de qualidade social, acesso a bens, tudo muito cheirozinho. Coisa para se estranhar. Muito curioso isso. O Brasil foi um país construído sob o signo da desigualdade. Erguer muros e demarcar as diferenças sempre esteve nas atitudes de nossas elites. Somos uma sociedade profundamente hierarquizada, durante séculos cindida entre senhores e escravos.Nossa classe média, como enfatiza a filósofa Marilena Chauí, é extremamente preconceituosa. Os casos de racismo e discriminação ocorrem com frequência incomum em nosso país. 

É uma hipocrisia da gota serena. Quando um jornal local mostrou jovens de famílias humildes atolados no lixo no canal do Arruda, o caso teve ampla repercussão nas redes sociais, com famílias de classe média mostrando-se indignadas com aquelas cenas. Como afirmei à época, um discurso muito fácil - e cômodo - para quem, na segunda-feira, em seus carrões, deixam os filhos nos tradicionais colégios da elite recifense, localizados na Avenida Rui Barbosa. Essa gente conta até com seus intelectuais orgânicos, a exemplo do filósofo Luiz Felipe Pondé, que, no último domingo, publicou um artigo polêmico na Folha de São Paulo, onde informa que todas as nossas mazelas atuais podem ser atribuída ao PT, que saiu de onde nunca deveria ter saído, ou seja, das portas da fábrica. O partido, segundo ele, deveria voltar às suas origens.

Esse garoto é meio complicado. Outro dia sugeriu que tinha dificuldades de "pegar mulher" por ser de direita. Achava ele que, ser esquerda, facilitaria enormemente o enlace carnal. As feministas, naturalmente, ficaram uma arara com a expressão "pegar mulher". Este último artigo do filósofo foi duramente criticado pelas redes sociais, com todo tipo de ilação que ele pode suscitar nas entrelinhas, como a volta dos gays ao armário - de onde nunca deveriam ter saído; dos negros à senzala - de onde nunca deveriam ter saído; das mulheres aos aventais das cozinhas - de onde nunca deveriam ter saído etc. 



http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2015/03/17/a-casa-grande-vai-as-ruas-o-que-eles-querem-o-de-sempre/

segunda-feira, 23 de março de 2015

Gilson Caroni Filho: Dilma tem de governar com a agenda que a elegeu

publicado em 20 de março de 2015 às 11:52

Dilma no Tuca 1
Perplexidade e hegemonia
por Gilson Caroni Filho
“O governo está inteiramente aberto ao diálogo e assume como postura central o diálogo com todas as forças sociais. E pouco importa se são forças sociais que apoiam o governo ou são forças sociais contra o governo.” (Ministro José Eduardo Cardozo). Depois de ver a bancada petista aplaudir o ajuste fiscal de Joaquim Levy, gostaria de saber se ouvirá o que pedem as forças sociais que apoiam o governo: defesa da Petrobrás, manutenção da Caixa Econômica Federal 100% pública,não à elevação da taxa de juros e às medidas de ajuste de caráter regressivo e recessivo, e o fim do fator previdenciário no cálculo para aposentadoria, sem elevação da idade
Este primeiro parágrafo pode levar alguns petistas a imaginar que ignoro as mediações políticas e a correlação de forças, enveredando  por uma lógica binária voluntarista, simplória e inconsequente.
Há certa perplexidade de alguns militantes do PT com o novo cenário político. O que estamos presenciando é a primeira ofensiva articulada e organizada da direita desde 1964. Tendo como intelectual orgânico o oligopólio midiático, não podemos subestimá-la com adjetivações fáceis do tipo “coxinha” e ignorar a organicidade do movimento dos nossos inimigos de classe.
O primeiro passo é reconhecer que se trata de uma batalha pela hegemonia, na acepção precisa de Gramsci, e que estamos perdendo feio. São inegáveis os avanços que conseguimos no que diz respeito a programas de inclusão, bem como é indiscutível que não logramos fazer nenhuma reforma estrutural. Muitos dirão que o impedimento é o caráter conservador do Congresso, o que não deixa de ser parcialmente correto, mas a questão central é que deixamos em segundo plano os novos movimentos sociais. Não criamos produção de sentido para nenhum deles. Além da fadiga natural de 12 anos de governo, não temos um discurso que seduza a juventude e outros setores da sociedade.
Não vejo outra saída que não seja o confronto de ideias, a retomada de algumas bandeiras que deixamos pelo caminho, abandonando o tom conciliatório e desfigurante da “governabilidade”, das alianças sem qualquer balizamento programático. Não nos esqueçamos de que foi com uma agenda de esquerda que vencemos uma eleição dada por muitos como perdida. E é com ela que devemos enfrentar o momento atual.
A outra opção é esperar pela conversão ética de parcela majoritária do PMDB, liderada por Eduardo Cunha. Acreditar que a mídia, já sabendo que sofrerá corte de verbas governamentais, se curvará e pedirá desculpas pelo posicionamento claramente golpista que assumiu desde a posse de Lula. Ou que o Congresso precisará de um fato jurídico comprovado para embarcar na aventura do impeachment, ignorando a natureza política daquela casa e o caráter partidarizado do STF. E, claro, orar por uma intervenção divina.
Os que viram as manifestações de sexta, 13/08, deveriam atentar para as palavras de ordem gritadas na Avenida Paulista. O mais importante de tudo foi o recado das centrais e dos movimentos sociais à presidente Dilma: ou governa com a  agenda com a qual se elegeu ou ficará refém do capital e das forças mais retrógradas. Irresponsabilidade política tem consequências de longo prazo.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

Escolha do novo Ministro da Educação será um ponto de inflexão do Governo Dilma Rousseff.






José Luiz Gomes escreve: 



Como se não fossem suficientes os problemas com a condução da política econômica e o travamento na arena política, o Governo Dilma está diante de mais um dilema: a escolha do novo Ministro da Educação. Sob certos aspectos e consoante algumas expectativas, Dilma Rousseff cometeu alguns equívocos com relação a esta pasta e já esgotou sua cota de erros. Insistiu na nomeação de Cid Gomes - que não desejava o cargo - e depois tomou algumas medidas, como o corte de verbas de custeio da pasta, o que começou a comprometer alguns programas, gerando grandes insatisfações entre a confraria de reitores das universidades públicas, até então, um núcleo de apoio ao Governo. Cid caiu depois dos entreveros com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Antes mesmo da tumultuada sessão no Plenário da Casa, ele já havia decidido  entregar o cargo. Não aceitou a determinação do Planalto no sentido de pedir desculpas aos parlamentares. 

Foi uma queda para o alto. Manteve suas posições durante a sessão, verbalizando algumas verdades sobre os membros do Poder Legislativo. Sua fala só foi interrompida depois das recomendações do corte do seu microfone. Seguiu-se uma troca de farpas e as tradicionais ameaças de processos. Nas coxias, comenta-se que foi uma atitude bastante calculada, com o objetivo de alçá-lo, num futuro próximo, a voos nacionais. Embora não houvesse uma expectativa muito positiva sobre sua gestão, é inegável que o representante dos Ferreira Gomes de Sobral encontrou os elementos para uma saída honrosa. Até uma licença para tratamento de saúde foi usada para ganhar tempo.

Sua escolha foi determinada por um arranjo político complicado - e ineficiente, diga-se. Além de "queimar" Dilma Rousseff junto aos setores mais progressistas da sociedade, aqueles que, a rigor, estarão sempre com ela, uma vez que não são orientados pelo fisiologismo. Esta pasta sempre foi estratégica para o PT. Para alguns analistas, as últimas sinalizações e escolhas políticas indicavam que havia deixado de ser. Com a saída de Cid Gomes, Dilma pode retomar, de fato, a coerência do lema : "Brasil, Pátria Educadora" e nomear para a pasta alguém que permita dar continuidade aos avanços que facultaram, por exemplo, um expressivo acesso de jovens do andar de baixo ao ensino superior. 

No outro extremo, pode continuar cedendo às chantagens dos seus achacadores e nomear algum "acochadinho" para a pasta, como já se especula por aí, ligado, imaginem, ao José Serra (PSDB) e Michel Temer(PMDB). Sim, ele tem bom trânsito nessas hostes. Espero que isso não passe de um grande pesadelo. Segundo comenta-se nos bastidores, como as coisas não caminham bem, Lula teria recomendado que ela aproveitasse a oportunidade para uma minirreforma ministerial, mexendo mais um pouco no tabuleiro, já que não teria sido muito feliz nalgumas escolhas. 

Possivelmente, alguns peças estarão sendo mexidas no tabuleiro do xadrez político de Brasília e, sinceramente, não sabemos se podemos chamar isso de minirreforma. Além do imbróglio da escolha do novo ministro da educação - depois de, finalmente, ouvir o ex-presidente Lula, que estava com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato junto ao Planalto neste segundo mandato - Dilma, enfim, amanheceu decidida a reorientar algumas peças chaves do seu staff de articuladores. Articuladores que, aliás, sequer conseguem manter sob o controle do Planalto essa tal de base aliada.Depois dos entusiasmados aplausos de petistas às declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante a sua ouvida pela CPI que investiga os escândalos de corrupção na Petrobras, fica evidente que o corporativismo de alguns petistas já superam sua fidelidade ao Governo Dilma.

Dilma nunca foi muito feliz na articulação política. Além de não gostar do meio de campo da micropolítica, escolheu assessores que também não foram muito bem-sucedidos nessa tarefa, com raros momentos de interregnos durante o seu primeiro governo. Neste segundo mandato, Dilma ainda não teve a menor tranquilidade. Voando solto como um rouxinol no Planalto, o ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante, assumiu, de fato, o papel de articulador político do Governo. Uma de suas estratégias foi apear do Planalto todos os antigos colaboradores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nunca suportou a desfeita. Dizem que pedia sua cabeça a Dilma insistentemente.

Dilma não entregou, mas, a rigor, afastou seu super-ministro do conselho de articulação política, delegando a ele a tarefa de acompanhar os projetos prioritários do Governo. Vaidoso como ele, deve estar uma arara. As peças do tabuleiro político do Planalto passaram a ser mexida ao sabor das vicissitudes políticas enfrentadas, o que indica uma presidente bastante fragilizada, refém das circunstâncias políticas adversas, vítima dos seus achacadores. E isso não é nada bom. 

Embora educação tenha sido tratada pela coalizão petista como uma área estratégica - onde se pode contabilizar avanços significativos nos últimos governos - os arranjos celebrados na escalação do ministério indicavam algo contraditório, a começar pela nomeação de Cid Gomes para aquela pasta. Nem tanto pelo nome me si, mas, sobretudo, pelo que viria depois, com o anúncio de cortes de verbas e os problemas que se sucederam, colocando o slogan de "Brasil: Pátria Educadora" sob judice. 

Os arranjos para a ocupação dos cargos da pasta na gestão(?) Cid Gomes já sinalizavam para um privilegiamento de nomes ligados aos reformadores empresariais da educação. Gente demasiadamente ligada à chamada indústria da educação estavam sendo nomeados para postos-chaves, como o INEP e a Secretaria de Educação Básica, responsável, entre outras coisas, pelo currículo da educação básica. Um deles teria sido orientador de um mestrado profissional da ex-secretária de educação do Governo Cid, no Ceará. Os atores políticos são fundamentais para observamos a tendência de uma gestão.  

É neste particular que observo com muita reservas as especulações em torno do nome de Gabriel Chalita para aquela pasta, como resultados dos novos arranjos políticos celebrados em Brasília. Essa nomeação, certamente, representará um ponto de inflexão do Governo Dilma Rousseff. Aqui, a porca torce rabo. Vamos saber para onde este governo caminha, se no sentido de continuar permitindo as conquistas sociais do andar de baixo ou transformar aquela pasta numa grande orgia de caráter fisiologista, comandada pelo "acochadinho". Sob a influência do PMDB, todos sabem sabem o que pode ocorrer naquele Ministério.

Se confirmada a indicação de Gabriel Chalita para o cargo, certamente Dilma, momentaneamente, pode aplacar a ira dos seus achacadores, principalmente a turma do PMDB. Por outro lado, também é certo que queimará ainda mais seu filme junto aos setores mais progressistas da sociedade brasileira, aqueles que, por enquanto, ainda estão dispostos a ir às ruas para exigir o respeito às regras do jogo democrático. Grande dilema, doutora. 




Hélder Molina Molina: Filósofo da Casa Grande diz que trabalhadores nunca deveriam ter saído das fábricas.




Um artigo publicado pelo "filósofo" Luiz Felipe Pondé, na Folha de S. Paulo (saiba mais aqui), serviu para escancarar a mecânica do pensamento reacionário. "Temos que reconhecer: chegamos ao fim de uma era. O PT vive seu outono. Melhor voltar para o pátio da fábrica onde nasceu e de onde nunca deveria ter saído", disse ele.
O PT, como se sabe, nasceu no calor das greves de metalúrgicos do ABC, em 1980, quando o então operário Luiz Inácio Lula da Silva liderava multidões nos comícios da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo (SP). Chegou ao poder em 2002 e representa a mais bem-sucedida experiência de construção de um partido de massas, na segunda metade do século XX. Desde então, o PT governa um país continental e, hoje, acumula ainda cinco governos estaduais e mais de 700 prefeituras. Segundo Pondé, no entanto, é hora de voltar para o chão de fábrica, de onde o partido nunca deveria ter saído. Afinal, trabalhador tem que obedecer. Operário não pode ser patrão. 

Esse lógica perversa permite que algumas perguntas sejam feitas ao filósofo:
1) será que os negros deveriam voltar para a senzala, de onde nunca deveriam ter saído?


2) será que as mulheres deveriam voltar para a cozinha, de onde nunca deveriam ter saído?
3) será que os gays deveriam voltar para o armário?
4) será que os palestinos deveriam aceitar a opressão imposta por Benjamin Netanyahu?
A ordem social expressa por Pondé é avessa ao conceito de igualdade. Lembra até o pensamento da ex-colunista Danuza Leão, que disse que Paris perdeu a graça depois que ela descobriu que seu porteiro também podia visitar a cidade-luz (relembre aqui o caso).
Aliás, mais uma pergunta: o porteiro de Danuza deveria voltar para a guarita, de onde nunca deveria ter saído?
Esse tipo de discurso, tão ou mais do que o repúdio à corrupção, é o que alimenta a pregação do ódio a um partido político. Como expressou o cientista político André Singer em entrevista publicada neste fim de semana, há um fenômeno a ser estudado no Brasil: a rejeição da elite ao povo brasileiro.

Héder Molina é professor universitário. Em seu perfil do Facebook.

Efeito coxinhas: Crescem as apostas sobre o nome de Gabriel Chalita para a educação. Kassab poderia ir para a articulação política.

Não se constitui novidade para ninguém os problemas enfrentados pelo Governo Dilma Rousseff na articulação política. O caso é tão grave que Dilma não consegue uma coordenação que envolva, tão somente, a fidelidade e o compromisso da sua base aliada. Em seu pronunciamento da na tumultuada sessão da Câmara Federal, o ex-ministro da Educação, Cid Gomes, chegou a lembrar uma máxima engraçada, sugerindo que os infiéis deixassem de achacar o Governo e largassem o osso. Oposição é oposição, situação e situação. A rigor, a articulação política da presidente Dilma Rousseff sempre foi muito ruim, com raríssimos lampejos de lucidez, que proporcionaram raros momentos de tranquilidade à presidente. Dilma não gosta do meio-de-campo da micropolítica e delegou essa tarefa a assessores que também não foram bem-sucedidos. O último a cair é o também ex-ministro da educação, Aloísio Mercadante. Mercadante anda arestado com muita gente do próprio PT, a começar pelo morubixaba Luiz Inácio Lula da Silva, que teria feito gestões junto a Dilma para substitui-lo. Prestigiado e com trânsito livre no Planalto, matreiramente, Aloísio Mercadante tomou algumas medidas maquiavélicas, apeando antigos auxiliares de Lula e tornando-se um dos poucos interlocutores com acesso direto à presidente Dilma. Muito bobinho o menino. Esse escudo estava afundando Dilma na articulação política. Desta vez o problema ainda era mais grave, se considerarmos as dificuldades inerentes em outras áreas, como a economia. Aloísio não perde o cargo, mas fica de fora do conselho político e, portanto, das articulações. Diante das circunstâncias políticas desfavoráveis, finalmente, Dilma parece ter resolvido ouvir Lula, que estava com o prestígio mais baixo de que poleiro de pato neste segundo mandato da presidente. Especula-se que o nome do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, poderia assumir o papel de articulador político do Planalto. Num outro lance curioso deste xadrez político, outra pedra a ser mexida pode ser a de Gabriel Chalita, que pode vir a ser indicado para a pasta da educação. Do ponto de vista das expectativas das forças progressistas, seria um desastre. Do ponto de vista da realpolitik, infelizmente, pode ser um nome com bom trânsito entre os tucanos e conta com o aval do vice-presidente, Michel Temer, que anda meio amuado com o Planalto. Seria uma forma de fazê-lo voltar a comandar a tropa de fisiologistas da legenda, ou, mais precisamente, satisfazer o apetite da legenda, o que poderia significar um momento de trégua.