Este texto bem que poderia ser o primeiro de uma série que sempre publicamos aqui pelo blog, onde acompanhamos cada eleição no estado. Há um farto material sobre este assunto. Uma espécie de repositório sobre as eleições no estado. Pensamos em publicá-lo em livros, mas o tema cai no desinteresse do público assim que a Justiça Eleitoral determina os vencedores do pleito. Nos últimos dias, as movimentações da governadora Raquel Lyra no tabuleiro do xadrez da política pernambucana chamaram a atenção e vamos discuti-las neste espaço. Partimos do pressuposto de que um bom enxadrista político confunde os adversários em relação aos seus movimentos. Veja-se, por exemplo, o caso de Gilberto Kassab, Presidente Nacional do PSD, hoje, certamente, o melhor entre esses enxadristas.
Sondado sobre a eventualidade de o seu partido acompanhar uma debandada da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi enigmático, reticente ou desconversou, o que significa a mesma coisa. Ainda não seria este o momento. Por outro lado, num outro lance, abriu um diálogo com o ex-presidente Jair Bolsonaro, onde este último gaba-se de tê-lo convencido a apoiar o projeto de anistia aos envolvidos e condenados pelo 08 de janeiro, algo que está dando muita dor de cabeça ao Governo Lula, que não deseja que isso ocorra. Lá no fundo do tabuleiro, move a peça Ratinho Júnior como uma eventual opção à Presidência da República. Há uma peça reserva aqui que pode se constituir numa opção do partido em qualquer circunstância.
Matreiramente, Lula, segundo dizem, anda sondando a possiblidade de convidar o governador do Paraná para ser vice em sua chapa de reeleição. Seria uma maneira de cindir os votos dos segmentos conservadores. Já discutimos por aqui que não acreditamos que o governador Ratinho entre nesta, pelas inúmeras razões expostas, mas, enfim. Recentemente Kassab esteve em Pernambuco para filiar a governadora Raquel Lyra ao seu PSD, depois de uma longa espera, uma vez que os bons jogadores também sabem esperar o momento certo. Curiosamente, depois de filiada ao partido, a governadora fez vários movimentos no tabuleiro da política pernambucana, de olho nas eleições de 2026.
A começar por sua cerimônia de filiação, que ficou mais parecida como uma convenção partidária, e contou com a presença de inúmeras tribos politicas, inclusive com gente ligada ao PL, a exemplo do ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, hoje o homem de interlocução no estado com a direção nacional da legenda em Brasília. Ou seja, a despeito dos flertes com o Planalto - onde se chegou até a especular uma filiação da governadora ao PT - segue-se a máxima de que nunca tão distante que não se possa se reaproximar. Até mesmo com o PL de Jair Bolsonaro.
Com a eleição de Raquel Lyra, o PSDB cresceu bastante no interior do estado. A pergunta é se esses prefeitos acompanhariam a mudança de legenda da governadora ou permaneceriam no ninho tucano, mas apoiando o seu projeto de reeleição. Para tentar manter um controle sobre esta variável, a vice-governadora, Priscila Krause, logo em seguida filiou-se ao PSDB, argumentando que não se filiaria a um partido, obviamente, que fizesse oposição a governadora Raquel Lyra. O presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Álvaro Porto, que é tucano, negocia em Brasília, com Marconi Perillo, o controle da legenda no estado. Álvaro mantém cordiais relações com o prefeito João Campos, possível adversário da governadora em 2026.
Neste momento, João finca as suas bases na Região Metropolitana do Recife e já se aventura aos encontros partidários pelo interior do Estado, a exemplo do Sertão do Pajeú. Cobra que não anda não engole sapo, conforme aconselhava o ex-governador Joaquim Francisco. A região é um tradicional reduto político onde os socialistas sempre tiveram uma presença forte. Neste momento, a govenadora assegura a presença de agremiações menores à sua base de apoio, a exemplo do Avante, abrindo espaço na máquina. O mais estratégico dos seus movimentos, porém, diz respeito à sua relação com o PP, do deputado Eduardo da Fonte, que, como já afirmamos em artigos anteriores, possui uma penca de prefeitos em seu grupo político.
Eduardo da Fonte é um ator político que se movimenta com relativa autonomia no cenário político pernambucano. No passado, foi o único político a não dobrar-se a eduardolização da política pernambucana. Sabiamente, não depende dos humores do Palácio do Campo das Princesas. Neste lance, porém, especula-se que deseja uma vaga ao Senado Federal na chapa da governadora. Com uma eventual federalização entre o PP e o União Brasil, ele fica com o controle da federação no estado, o que cria um problema para o clã dos Coelho, de Petrolina, que controla o União Brasil em Pernambuco. Miguel Coelho, ex-prefeito de Petrolina, é vinculado ao prefeito João Campos e luta por uma das vagas ao Senado Federal em sua chapa, em 2026.
Numa entrevista concedida a um jornal local, o Presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab, anteviu que a governadora Raquel Lyra chega competitiva às eleições de 2026, daqui a alguns meses. Até agora a governadora acompanhava a movimentação dos seus adversários no tabuleiro em silêncio. Talvez aguardando o momento certo para mover-se. Este momento parece ter chegado. Pilotando a máquina, com entregas expressivas em andamento, não se surpreendam com um xeque-mate da governadora nas próximas eleições estaduais.