Concluímos um curso recente na área de cinema, uma de nossas paixões quando mais jovem. No final, um dos professores mais conceituados do Brasil nesta área, Ismail Xavier, faz uma revelação sobre a qual não tínhamos ficado devidamente atentos. Há uma gama de cineastas pernambucanos - elenco dos bons, a exemplo de Cláudio Assis, Lírio Ferreira e Kleber Mendonça - que foram muito influenciados pelo famoso Glauber Rocha. Os filmes? Baile Perfumado, O Som ao Redor, Amarelo Manga ou Baixio das Bestas. O curso foi sobre a transição entre o tradicional e o moderno na arte cinematográfica, ruptura que, a nível mundial, pode ser identificada com a Nouvelle Vague francesa e com o realismo no cinema italiano. No Brasil, naturalmente, o Cinema Novo, de Glauber Rocha.
Há outros nomes importantes nessas disrupturas, a exemplo de Serguei Eisenstein, o grande cineasta do realismo socialista soviético. Quando as Memórias Imorais de Serguei Eisenstein foi lançada, a livraria Livro 7 ainda existia e perdemos a oportunidade de adquirir um exemplar, dada as exigências de fazermos outras aquisições necessárias ao nosso curso universitário. Livros de linguística, que, passado o semestre letivo, nunca mais foram retirados da estante. Somente alguns anos depois é que tivemos acesso a um dos exemplares, que devoramos num ritmo frenético. Eisenstein conta fatos interessantes neste livro, como um momento de gala, num teatro russo, em que o filme O Encouraçada Potemkin foi exibido, em condições adversas. Alguns rolos do filme foram colados literalmente com cuspe. Quando na plateia, o cineasta russo ficou desesperado, pois a película, assim rodada, certamente arrebentaria. Por um desses milagres, o filme rodou sem interrupção.
Dentro do espírito do materialismo soviético, muito influenciado pelo seu pai, Eisenstein se identificava bastante com o regime soviético, tornando-se professor de cinema naquele país. Mesmo com um bom trânsito com o regime, o magistério foi uma alternativa à censura a algumas de suas produções. Há um momento em que ele é confrontado com uma passagem bíblica que recomenda honrar pais e mães para prolongarmos nossas vidas aqui na terra. Ele se pergunta, diante de nossos sofrimentos, se valeria mesmo a pena prolongar nossas vidas no plano terrestre. Tudo isso vem a propósito de um ranking, realizado por uma entidade internacional, sobre a felicidade em alguns países. Um ranking, em princípio controverso, dada a subjetividade do conceito de felicidade. Afinal, somos um país de pessoas felizes? O estudo aponta que avançamos dez posições no ranking da felicidade. Somos o 36º entre os países avaliados. Os países nórdicos permanecem no topo deste ranking.
A pesquisa leva em consideração variáveis como renda per capita, expectativa de vida saudável, apoio social, generosidade, liberdade e percepção de corrupção. Mais uma evidência de que o tema é controverso, dada a sua subjetividade. Diante das variáveis mensuradas, fica realmente muito difícil entender porque avançamos nessa escala de felicidade, diante de tanta desigualdade de renda, problemas com as liberdades individuais e coletivas e a corrupção que se espraia por todos os quadrantes, sob o silêncio sepulcral de algumas autoridades públicas que teriam como dever de ofício coibi-las.
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