No Brasil, tudo parece ser muito confuso, pois os atores políticos, deliberadamente, costumam confudirem ou mesmo atropelarem os seus papéis. Até recentemente, o país enfrentou um sério problema com a assunção sobre um equivocado poder moderador a ser exercido pelos militares, assim como ficaria evidente a exagerada ingerência desses mesmos atores no tocante ao processo eleitoral. Mas, antes, é preciso dizer que todas essas "iscas" foram jogadas por um Executivo que tinha interesse em politizar o estamento militar, fazendo questão de militarizar a burocracia do Estado, que, aliás, deve estar dando um trabalho danado ao futuro governo, que pretende revalorizar os servidores civis, do quadro permanente e devolver os militares ao seu lugar de origem, ou seja, às funções da caserna.
O chamado pacote antigolpe, que está sendo discutido no dia de hoje, por razões óbvias, demorou a ser anunciado, possivelmente, para evitar lacunas ou mesmo melindrar certos segmentos. A prudência é sempre muito importante nessas ocasiões e o inteventor nomeado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, Ricardo Cappelli, vem cumprindo à risca um script que inclui senso de justiça, compromisso inquebrantável com a democracia e rigor no tocante às medidas adotadas contra os infratores ou golpistas. Seu objetivo é o de reestabelecer as estruturas democráticas comprometidas com as investidas golpistas do último dia 8 de janeiro, sem, contudo, ultrapassar os limites impostos pela Constituição Federal. Tudo está sendo feito dentro dos parâmetros legais.
Até recentemente, um comandante militar foi exonerado do cargo por quebra de hierarquia. Quem conhece tais nuances, sabe da obra de engenharia política necessária para se tomar uma decisão deste porte. Sylvio Frota, então comandade do Exército durante a Ditadura Militar, foi demitido num feriado na capital federal, quando seus subordinados estavam curtindo um churrasco com a família. Algo nos diz que tal estratégia pode ter sido obra do bruxo Golbery do Couto e Silva. Ele ainda se coçou, mas não tinha muito o que fazer, ressignando-se aos chinelos e ao pijama.
Cappelli anuncia hoje as medidas que serão adotadas pelo pacote antigolpe - como vem sendo chamado pela imprensa - o seu relatório. O que mais mais se comenta hoje no país é em relação às medidas que poderiam ser edotadas para se evitar novas ocorrências golpistas. Estão previstas medidas de reforço da segurança às instituições democráticas sediadas em Brasília; uma reestruturação dos serviços de inteligência e segurança do Estado; um olhar mais atento sobre o que ocorre nas redes sociais. Há muitos especialistas no assunto, mas, para este editor, vale a premissa do sociólogo francês Claude Leffort, quando afirma que uma democracia que não se amplia tende a morrer de inanição. O melhor antídoto antigolpe consiste em aperfeiçoar as instituições democráticas, criando um modelo de gestão pública onde a população veja suas demandas atendidas e possa creditar sua confiança no regime.
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