Felizes eram os tempos em que as trapalhadas dos "sobrinhos do capitão”
eram só brincadeiras, não mais do que isso. Já as dos filhos do capitão são
mais complicadas, porque envolvem os negócios da República. Um presidente
fraco, com filhos voluntariosos que querem interferir em tudo: fechar o
judiciário, mandar na base do governo, influir na ação administrativa do
Executivo e ainda alimentar uma relação perigosa com o submundo do crime
organizado, isto tudo constitui um grave risco não só para a estabilidade do
próprio governo, mas sobretudo para o País. Não é aceitável nem benéfica a
existência de uma administração pararela no centro do governo da República.
Mais ainda quando ela não está submetida a nenhuma regra ou controle nem foi
escolhida para isso. Se achávamos que se constituía um sério risco a influência
dos militares e evangélicos (para não falar nos interesses do mercado) no
núcleo duro das esferas de poder, imagina um poder patrimonialista, familiar,
sem responder a ninguém, agindo por conta própria e ameaçando terceiros. Quando
se diz que a cor desse agrupamento político não é fascista ou para fascista, é
no sentido de que ela é algo mais atrasado, mais rudimentar, em matéria de
ideologia política. Poderia estar mais perto da Máfia, talvez. Ou seja, uma
organização criminosa com ramificações no clã dos Bolsonaro.
É disso que se trata. O resto é problemático, sobretudo o ataque
sistemático às conquistas inscritas na Constituição de 1988, em relação à
Seguridade Social, a dignidade da pessoa humana, a proteção dos direitos das
minorias. No entanto, o que parece mais grave não é a face declarada desse
imenso retrocesso político, a serviço dos interesses mercantis, é a face
oculta, patológica, criminosa que se esconde por trás desse programa
ultraliberal que se quer implantar no Brasil. Resta saber se esse poder
paralelo (e familiar) ajuda ou complica as relações com os militares, os
partidos, os líderes das duas casas no Congresso, o Poder Judiciário e a
sociedade brasileira (incluindo os próprios eleitores de Bolsonaro). Ele pode
corroer rapidamente o capital político amealhado, com a ajuda das igrejas, e
atrapalhar os planos de governo. Há muita gente incomodada com a desenvoltura
dos “filhos do capitão” no coração da República.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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