sexta-feira, 29 de novembro de 2024
quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Editorial: E o Ciro tinha razão...mas não tem voto.
Apesar de não ter concretizado o seu maior desejo, o de chegar à Presidência do país, o cearense Ciro Gomes construiu uma brilhante carreira política. Foi o governador mais jovem do seu estado, o Ceará, ocupou postos relevantes em Brasília, ora no Executivo, ora no Parlamento. Hoje, segundo ele mesmo já aventou, desistiu dos projetos políticos. Não será mais candidato, uma vez que nem o eleitor do seu estado creditou seu voto a ele nas últimas eleições presidenciais de 2022. Pelo menos quatro informações importantes sobre o político cearense precisam ficar aqui registradas: a) Trata-se de um político que faz o dever de casa. É um dos caras que mais estudaram o país, tornando-se habilitado a tocá-lo, caso tivesse recebido a confiança dos eleitores; b) Não se conhece, em toda a sua vida pública, algo que desmereça a sua conduta como gestor ou homem público, fato raríssimo na vida política brasileira; c) Apesar de temperamental, o que já lhes causou alguns problemas na vida pública, trata-se de um político que não embarcaria em aventuras que não se coadunassem com o respeito à Constituição Brasileira. d) Sugere-se, agora, que suas previsões estão se confirmando. Um eventual desastre econômico, conduzido pelas políticas públicas do Partido dos Trabalhadores, que sempre atuou numa gestão temerária da economia.
Nas eleições, ele sempre alertava para o fato de o eleitor estar optando por este caminho como antídoto às seduções golpistas e fascistas representadas pelo outro polo. Havia a opção de Ciro, mas o eleitor rejeitou-a. Uma pesquisa recente do Instituto Paraná Pesquisas, onde o seu nome ainda aparece como opção para o eleitorado, ele pontou apenas com 7% da preferência do eleitorado, oscilando na sua marca histórica, sem alteração. Ele tinha razão, mas continua sem voto.
Editorial: Ninho de conspiradores. Os dispositivos golpistas ainda estão ativados.
A Polícia Federal sabe que alguns dos dispositivos golpistas continuam instalados. Quando da transição do governo Bolsonaro para o Governo Lula3, muitos deles foram revelados, mas as medidas tomadas foram surpreendentemente tímidas, indicando, quem sabe, que o governo recém-empossado não reunisse as condições políticas para a adoção de medidas mais perenes e eficazes. Uma das medidas que urge, depois de enredar legalmente todos os envolvidos na tentativa de golpe, seria a de proceder uma varredura anti-golpista. O ninho continua intacto, assim como os artefatos estão instalados em dispositivos bem conhecidos da sociedade civil, da PF e dos militares.
Caso não ocorra essa varredura, corremos o sério risco de novas explosões de caráter antidemocrático. É um assunto delicado tratarmos deste tema, uma vez que, ao que se supõe, o Governo Lula3 não dispõe das condições políticas necessárias para desativar por completo esses dispositivos. Lula assumiu este terceiro mandado em condições sensivelmente adversas, atuando em terreno já minado. O plano revelado pela Polícia Federal com o objetivo de assassiná-lo dá a dimensão do tamanho da encrenca.
A proposta de despolitizar completamente as Forças Armadas sugere-se que não foi seguida pelo morubixaba petista, que optou por um alinhamento com militares menos radicais, de perfil legalista, que ficariam conhecidos como os generais do Lula, o que pode não ter sido a melhor alternativa. As intervenções em órgãos como o GSI e ABIN foram tímidas e pontuais. Fica evidente que a estratégia implicou em intervenções negociadas. Não foi o melhor encaminhamento de uma questão tão nevrálgica, quando já se sabia que os órgãos de inteligência haviam sidos aparelhados para monitorar os adversários do projeto golpista em curso.
É preciso evitar que novos ovos da serpente eclodam, uma vez que eles estão sendo chocados há algum tempo. Por razões óbvias, não vamos por aqui entrar nos pormenores, mas antecipamos algumas analogias que podem ajudar o leitor a entender a gravidades do problema. Felizmente evitou-se um revés autoritário, mas a extrema-direita nunca esteve tão organizada e consolidada no país, ao passo em que as forças do campo progressista e democrático estão fragilizadas, enfrentando um momento difícil. É urgente a necessidade de desativar os dispositivos.
Até recentemente a Alemanha desativou uma de suas forças especiais, a KSK, sob o argumento de que parte do grupo estava atuando de forma muito autônoma, independente do Exército, representando um real perigo. Na realidade, se diz que havia uma ligação forte desse grupo com a extrema-direita naquele país. Um dos nossos ninho de conspiradores estava instalado em Goiânia. Outro dia, no Paraná, os alunos de uma escola ainda sob a influência da filosofia das escolas cívico militares, estavam sendo doutrinados com palavras de ordem. É preciso tomar cuidados redobrados com o conteúdo programático presente na formação de oficiais das três forças, principalmente se as apostilas estão sendo encaminhadas, como cortesia e em caráter de parceria, pelo Tio Sam. Principalmente agora.
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Editorial: Generais legalistas que não aderiram à tentativa de golpe.
São apenas suposições diante de tantas imprevisibilidades inerentes aos engendramentos de golpes militares. Aqui e alhures. Pelo andar da carruagem das investigações da PF, este último contava até com um ajudante de ordens que tinha como missão cumprir as ordens que diziam respeito às armações golpistas. Sugere-se que tenha sido o principal interlocutor entre o núcleo militar golpista e o ex-presidente. Pela manhã citamos por aqui os nomes do general Freire Gomes, então Comandante do Exército, que, não apenas não aderiu ao golpe, como o repeliu, até ameaçando prender o ex-presidente, caso ele insistisse com a proposta indecente e a sandice inconstitucional.
Sobretudo nesses casos, é sempre bom fazermos justiça, uma vez que o relatório cita outros nomes que se posicionaram do lado legalista, em defesa da Constituição Federal, e foram fundamentalmente importantes para impedir a materialização do golpe. General Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atual Comandante do Exército; general André Luiz Novaes Miranda, então Comandante Militar do Leste; general Guido Amin Naves, Comandante do Setor de Ciência e Tecnologia; Tenente Brigadeiro Baptista Júnior, então Comandante da Aeronáutica.
Editorial: Cada tribo utiliza sua Paraná Pesquisas como deseja.
É curioso esse comportamento das "torcidas organizadas" nas redes sociais. Hoje, 27, o Instituto Paraná Pesquisas divulgou uma pesquisa de intenção de voto para a Presidência da República. Os levantamentos, que estão sendo realizados sistematicamente, numa espécie de monitoramento do comportamento do eleitorado, como ocorre, igualmente, em relação à aprovação da população ao Governo Lula3, aponta uma ligeira vantagem de Bolsonaro numa disputa com o presidente Lula, que poderia, em tese, disputar a reeleição. Os bolsonaristas, naturalmente, estão festejando o resultado, enquanto os petistas se concentram numa dianteira que o presidente Lula abre sobre a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Como afirmou o marqueteiro Duda Lima, numa entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, é muito cedo para discutirmos ou projetarmos expectativas eleitorais sobre as eleições presidenciais de 2026. O quadro ainda é tão nebuloso e incerto que, por exemplo, estamos aqui tratando de atores que, possivelmente não estarão concorrendo àquelas eleições. Bolsonaro será condenado e continuará inelegível até lá. Como afirmamos antes, ou as instituições democráticas deste país cumprem a lei com o rigor devido ou entraremos numa espiral golpista de consequências trágicas, numa eterna instabilidade institucional, com recorrência de quarteladas.
Já comentamos por aqui em outras ocasiões, que Michelle Bolsonaro sempre se apresenta muito bem nas pesquisas de intenção de voto. Uma resiliência eleitoral que os caciques do PL ou os familiares terão que administrar porque não desejam que ela seja o nome escolhido. Hoje, se configura uma candidatura ao Senado pelo Distrito Federal. Haveria três estados que desejam o seu passe para o mesmo cargo. Lula entra na absoluta ausência de alternativas ao seu nome no escopo das forças do campo progressista. Não faz um bom terceiro mandato, a idade está avançada, mas há a ausência de alternativas mesmo dentro do PT.
Fernando Haddad, que poderia ser este nome, sabe que entrou numa sinuca de bico ao assumir o Ministério da Fazenda. Talvez ambos, Lula e ele, tenham errado no cálculo político da empreitada. Não seria este o propósito de Lula, mas é o que se configura neste momento. Haddad briga com o números, briga com o mercado, briga com amplos setores do partido. Tornou-se inviável politicamente para ser o escolhido para disputar as eleições presidenciais de 2026 pelo campo progressista.
Editorial: Bolsonaro sabia de tudo, conclui relatório da Polícia Federal.
É um caminho sem volta para os envolvidos. A transparência desse relatório é um indicativo de que o STF deseja que a sociedade brasileira conheça os pormenores desta tessitura antidemocrática e, naturalmente, as razões pelas quais esses atores estão sendo punidos. O país, que sempre teve uma enorme dificuldade em punir os conspiradores que atuaram contra o regime democrático, agora tem uma oportunidade única de evidenciar para eles que os custos de conspirar contra as instituições democráticas tem um preço alto. Caso este princípio não fique consolidado, entramos no risco da banalização das tentativas de golpe de Estado, principalmente num país com as nossas características históricas, onde o precedente é sempre aventado.
Essas sublevações são até recorrentes no país. Infelizmente. O cientista político polonês, Adam Przeworski, aponta, por exemplo, que, em condições normais ou regulares, cinco mandatos presidenciais sucessivos de quatro anos seriam suficientes para consolidar um regime democrático. Este é um dos requisitos atendidos pelas democracias consolidadas pela mundo afora. Tive a curiosidade de tirar o pulso da nossa fragilizada democracia representativa, que já esteve na UTI inúmeras vezes, e descobri que, a cada dois ciclos de dois mandatos sucessivos, surge um solavanco autoritário pelo caminho. Um bom exemplo, talvez em razão de ser recente, são os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e os dois mandados de Lula. Sabe-se o que veio logo em seguida, respingando nas armações golpistas de 2022, numa sequência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Até agora os golpistas estão acovardados. Se o plano tivesse dado certo, possivelmente já estaríamos contando as vítimas, conforme se previa. Logo entraríamos na contagem dos desaparecidos, prática recorrente em regimes de exceção. Vítimas dos guardas da esquina. Salta aos olhos, em tal relatório, as evidências colhidas sobre a inteireza do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre todas as etapas do processo golpista que esteve em curso. Neste caso, os chifres estão nos lugares certos e tínhamos, igualmente, um ajudante de ordens para assuntos de golpe de Estado. Isso é coisa de Brasil mesmo.
Convém sempre separar os militares da linha dura, golpistas, daqueles moderados, legalistas que cumprem e respeitam os princípios constitucionais. Nossa democracia sobreviveu, conforme conclui o próprio relatório da Polícia Federal, graças a não adesão de dois comandantes militares, que se recusaram a embarcar na aventura golpista e mobilizaram suas tropas com o objetivo de materializar tal intento de ruptura institucional no país: O comandante do Exército, general Freire Gomes, e o comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Baptista Júnior, a quem o Brasil agradece o respeito à Constituição.
terça-feira, 26 de novembro de 2024
Editorial: Um "ponto" nevrálgico a ser pensado sobre a segurança pública em Pernambuco.
As estatísticas indicam um incremento da insegurança pública em estados da região Nordeste, onde se sugere a possibilidade de o crime organizado estar consolidando a sua atuação, em razão de alguns fatores, entre os quais a eventual facilidade de novas rotas de operacionalização. Alguns estados da região, a exemplo de Pernambuco, Bahia e Ceará já se configuram entre os mais violentos do país. Em Pernambuco, devido à implantação de algumas medidas na área de segurança pública, os indicadores de MVLI (Mortes violentas letais intencionais) estariam em decréscimo, o que se traduz como um dado alentador, indicando, quem sabe, que as políticas públicas desenvolvidas na área estão no caminho certo,
A segurança pública está ficando muito ruim no país, principalmente quando se percebe uma desarticulação total entre a União e os entes federados. Na Bahia, por exemplo, os assaltos ocorrem na orla da Barra, junto ao Farol, antes espaços aparentemente seguros. Já não se pode incluir a praia de Itapuã, das canções de Vinícius de Moraes, no roteiro de um visitante ao estado, tampouco o bairro boêmio de Rio Vermelho, onde há várias referências do escritor Jorge Amado e sua esposa Zélia Gattai. O dique do Tororó tornou-se, segundo uma matéria recente, num ponto de vendas de drogas.
No Ceará, além de pontos turísticos sabidamente inseguros como o Dragão do Mar, por exemplo, praias paradisíacas como a de Cumbuco, no município de Caucaia, que possui o melhor passeio de Buggy do país, fica fora do roteiro do turista minimamente informado. O município está completamente dominado por facções do crime organizado. São curiosas essas movimentações em torno da segurança pública no país. Enquanto o Governo Federal convoca os entes federados para apresentar o SUSP - Sistema Único de Segurança Pública - governadores da região sul\sudeste criam um consórcio para tomarem medidas em conjunto sobre o assunto, preferencialmente sem a participação do Governo. Isso não pode dá muito certo.
Um fato grave ocorreu no dia de ontem, 26, quando a Polícia Rodoviária Federal, que o Ministério da Justiça pretende transformar em Polícia Ostensiva, apreendeu, no Norte de Goiás, num inocente caminhão de mudanças, 52 kilos de pasta de cocaína e um fuzil .50, de altíssimo poder de fogo, capaz de derrubar aeronaves. Destino? Pernambuco. Em segurança pública, alguns indicadores são suficientes para acender a luz vermelha. Este indicador é um deles. Se o Recife era apenas uma rota ou destino final, dá a dimensão do enraizamento ou o poder de fogo do crime organizado no estado. Não é brincadeira.
Editorial: Plano para assassinar Lula deu no New York Times.
Há alguns trabalhos acadêmicos insuperáveis ao abordarem determinados assuntos. Temos a nossa lista por aqui, mas não é este o caso. Faremos menção, tão somente, a um trabalho de fôlego, realizado pelo historiador e cientista político uruguaio René Armand Dreifuss, sobre o golpe civil-militar de 1964, intitulado: 1964: A Conquista do Estado, um calhamaço de 900 páginas, onde o pesquisador faz uma verdadeira autópsia do que foi o engendramento político\militar\econômico que resultou no golpe de 1964. O livro é uma tese de doutoramento do autor, estudo realizado na Universidade de Glasgow, na Grã-Bretanha. Dreifus ensinou em várias universidades brasileiras, entre as quais a Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal Fluminense e Universidade de Campinas. Dreifuss já vinha se dedicando aos estudos sobre o sistema de poder no país, assim como a dinâmica das Forças Armadas e do empresariado, articulados com os interesses geopolítico internacional. Dreifuss utiliza-se de categorias teóricas do marxista italiano Antonio Gramsci.
Há unanimidade, até mesmo entre os acadêmicos, embora conhecendo-se a fogueira das vaidades neste campo, que se trata do melhor trabalho de pesquisa científica já produzido sobre o assunto. Na nossa opinião, sem nenhum demérito ao trabalho de Dreifuss - apenas como recomendação a quem se interessar pelo assunto - apontaria a série de livros produzidos pelo jornalista Élio Gaspari. Diferente de Dreifuss e outros pesquisadores sobre este assunto, Gaspari teve acesso aos melhores arquivos dos norte-americanos sobre o tema. Aqui, como se sabe, além das dificuldades, há controvérsias até mesmo sobre esta memória. Em alguns casos, os arquivos foram perdidos através da autocombustão.
No livro de Dreifuss, que chega a comprometer o posicionamento político de uma grande escritora regionalista, por supostas ligações com os militares, há uma referência a um magnata da imprensa brasileira, dono de um dos nossos principais jornais da grande imprensa, que, um pouco antes da decretação do golpe de 1964, em banquetes na Casa Branca, praticamente implora pela materialização golpista que desenhava no país. Há outro jornal, que costumava emprestar apoio logístico ao golpe, cedendo seus carros de entrega de jornais para as operações de repressão dos militares.
Hoje, 26, repercute bastante nas redes sociais uma matéria do jornal The New York Times sobre o plano golpista no país, que tinha, entre seus objetivos o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Brasil, a reiterada narrativa negacionista sobre o assunto não convence ninguém, nem mesmo os bolsonaristas mais renhidos. Fomentou-se um ambiente político favorável a um atentado ao Estado Democrático de Direito, com ações coordenadas, realizadas em diversos etapas. Felizmente, nenhuma delas tornou-se exitosa. Ou por falha humana, ou por perca do timing - como sugere um áudio que anda circulando nas redes sociais, atribuído ao ajudante de ordens - ou por capilaridade e apoio junto a setores estratégicos entre os militares.
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Editorial: Por que a tentativa de golpe fracassou?
Somente mais recentemente a mãe de Fernando Santa Cruz, Elzita Santa Cruz, naquele que é tratado como um dos casos mais emblemáticos de desaparecidos durante a ditatura militar, depois de uma longa batalha, no curso das investigações da Comissão da Verdade, recebeu a informação de que seu filho havia sido sequestrado, torturado e morto. Fernando fora sequestrado aqui em Olinda, nas proximidades do Mercado Eufrásio Barbosa, submetido às torturas, morto e queimado nos fornos de usinas de açúcar desativados no Rio de Janeiro, que era uma prática comum da ditadura para dar sumiço aos corpos. Esta prática dos militares brasileiros durante o regime militar, dada a sua recorrência, como se presume pela fala do algoz, daria um documentário sobre tais estertores, como ocorre no Chile e na Argentina, onde várias produções já foram realizadas tratando dessa questão. Um dos últimos é "Translados", que trata dos famosos voos da morte, uma prática ritualística da ditadura argentina, que consistia em atirar em alto mar os opositores do regime.
Na República Dominicana, depois que o sujeito era submetido aos "cuidados" de Johnny Abbles Garcia, se sobrevivesse, o que era muito improvável, era atirado aos tubarões numa praia conhecida do país. Esses horrores mencionados acima talvez sejam suficientes para nos indignarmos com esses regimes de exceção e empreendermos todos os nossos esforços em defesa das instituições democráticas. Não se pode brincar com coisa muito séria e da maior gravidade. Uma pergunta que vem suscitando muitas polêmicas recentemente é a discussão sobre as razões que levaram ao fracasso a tentativa de golpe de estado que estava sendo urdida nos corredores de Brasília, um pouco antes da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que previa, entre outras coisas, até a sua morte.
Conforme antecipamos antes, talvez não tenhamos informações tão precisas sobre o assunto, dando-se o direito até às versões mirabolantes e folclóricas, como a de um Kid Preto, envolvido nas tramoias golpistas, que não conseguiu um taxi para concretizar a missão, tendo que abortá-la. Claro que isso fica no campo do folclore. Na realidade, há três razões principais para o fracasso daquelas tessituras: a) A armação não contou com o apoio de amplos setores da cúpula militar, oficiais de alta patente, em postos de comando, que se recusaram a disponibilizar suas tropas para moer a engrenagem golpista. Embora um desses comandantes tenham colocado seus fuzileiros à disposição dos golpistas. Os militares legalistas, segundo se sabe, não apenas se colocaram contra, mas moveram-se, igualmente, no sentido de evitar adesões da caserna ao intento golpista; b) Gato escaldado tem medo de água fria. Como o governo anterior contribuiu para criar um ambiente propício à sublevação da ordem, atores minimamente mais experientes do staff de Lula, temendo eventuais badernaços institucionais, trataram, de imediato, de legitimar o novo governo eleito, através do reconhecimento do Poder Legislativo. Não havia apoio parlamentar ao golpe, embora a oposição tenha feito a maioria congressual. Há, entre os informes vazados envolvendo os golpistas, a premissa de que faltou articulação neste sentido; O Tio Sam, de imediato, através do presidente Joe Baden, reconheceu o governo eleito do presidente Lula, o que teria desestimulado as tratativas em contrário. O sonho de todo militar brasileiro, como se sabe, é participar das chamadas manobras conjuntas com tropas americanas, ou participar de algum treinamento oferecido pelos militares dos Estados Unidos. É sempre de bom alvitre ditaduras latino-americanas de direita ou extrema direita contarem com o apoio do Tio Sam. É uma tradição. Já naqueles tempos sombrios de 60\70 havia até uma escola de formação de torturadores no Panamá, frequentada pelos algozes tupiniquins. Alguns deles partiram para o outro plano palitando os dentes e jogando dominó com os amigos, aos domingos. Em tais condições, ainda há quem proponha PL de Anistia.
domingo, 24 de novembro de 2024
Editorial: O arquiteto do golpe.
Ali pelos idos da década de 60, quando o economista Celso Furtado presidia a SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - o sociólogo Gilberto Freyre integrava o conselho deliberativo da autarquia recém-criada pelo presidente Juscelino Kubitschek. Segundo Celso Furtado, Gilberto era extremamente disciplinado, chegava na hora certa às reuniões, e, raramente se ausentava das sessões, fato que ocorria apenas quando havia outros compromissos inadiáveis. Por outro lado, sabe-se que haviam divergências entre ambos, minimizadas pelo paraibano, que sempre as atribuía à formação de Gilberto, que não era economista de formação.
Um observador mais atento, entretanto, iria concluir que, na realidade, nessas indisposições do sociólogo com as políticas públicas regionais propostas pela autarquia - que contrariavam os interesses das oligarquias locais - estavam presentes, na verdade, os dois projetos de sociedade em curso no país, que iria resultar, poucos anos depois, no engendramento do Golpe Civil-Militar de 1964. Naquele momento, o golpe militar já estava sendo urdido, preparado. Gilberto se constituiria, alguns anos mais tarde, numa espécie de mentor intelectual dos militares, que o consultava sobre diversos assuntos. Ainda hoje há livros seus sendo reeditados por estamentos militares.
Sugere-se que ele gostaria de ter contribuído para além do que os militares desejavam. Uma matéria do jornal O Globo, mostra, por exemplo, que eram regulares seus diálogos com um dos principais artífices do regime militar - dizem até que o arquiteto do golpe de 1964 - o general Golbery do Couto e Silva. Uma pesquisa na biblioteca do bruxo mostrou que era Gilberto quem mais enviava livros para o então Ministro Chefe da Casa Civil no Governo Ernesto Geisel. Preparado intelectualmente, hábil no traquejo político e estrategista de primeiro time da geopolítica, Golbery sobreviveu no cargo por um longo período, sendo apontado, inclusive, como um dos principais nomes na descompressão do regime.
Habilidade política que faltava a Gilberto, que desejava ser governador de Pernambuco e nunca mereceu a confiança dos militares para nomeá-lo. A conhecida vaidade do sociólogo é um do pontos também elencados quando se discute as reticências dos militares com o sociólogo, a quem fora oferecido o Ministério da Educação e a Embaixada Brasileira em Paris. Ambos os cargos recusados pelo sociólogo. Esta introdução é apenas para mostrar como há uma diferença abissal, sob certos aspectos, como diria Franz Kafka em seu Diário Íntimo e Secreto, entre aquelas tessituras que culminaram com o golpe civil militar de 1964 e o atual, movidos por guardas da esquina, que certamente desejavam dar vasão aos seus instintos selvagens de perversidade contra os desafetos ou opositores e assegurar seus privilégios. Observem o quanto o governo anterior favoreceu os militares, principalmente aquele grupo que gravitava em torno da figura do ex-presidente, escolhidos a dedo, consoante suas afinidades com o projeto em curso.
Revogaram até a legislação, que não permitia a acumulação salarial, elevando os rendimentos de alguns deles lá para cima. acima do teto dos ministros do STF, que é utilizado como parâmetro. É o que Anne Applebaum conceitua como Autocracia S\A, no livro O Crepúsculo da Democracia. É curiosa a sacada desta jornalista e escritora, que conseguiu perceber as similaridades entre essas ditaturas que se instalaram pelo mundo afora, vinculadas à extrema-direita. Em 1964, com toda desgraça inerente aos projetos autoritários - que, em quaisquer circunstâncias, representam um retrocesso civilizatório - não se poderia dizer que não houvesse um projeto em curso para o país. Tivemos até um milagre econômico, que durou pouco tempo, uma vez que o santo era de barro.
Um fato aparentemente contraditório é que os militares tinham a convicção sobre a necessidade de uma reforma agrária no país. |Isso ficou claro durante os debates da CPI do MST. Gilberto chegou a escrever um prospecto tratando deste assunto, a pedido de Marco Maciel, bastante solicitado aqui pelo blog, em princípio, pelo seu ineditismo. É lamentável que o sono político das forças do campo democrático, civilizado, republicano e progressista tenha permitido este estágio de avanço da extrema-direita no país. Eles já dominam as ruas, as redes sociais e estão bem representados no parlamento. A cada nova eleição eles avançam, com suas pautas bombásticas, estimulando aloprados, que já chegaram a planejar até mesmo o assassinado de autoridades, conforme conclusões da Polícia Federal.
sábado, 23 de novembro de 2024
Editorial: Oráculo de Harvard, Mangabeira Unger afirma que Lula e Bolsonaro são sócios da mesma escuridão.
Admiramos bastante a inteligência do professor Roberto Mangabeira Unger que, mesmo distante do país, costuma ser certeiro em seus diagnósticos sobre o Brasil. Aliás, Mangabeira costuma ficar numa ponte aérea entre o país e os Estados Unidos, onde é professor da prestigiada universidade de Harvard, onde entrou com apenas 23 anos de idade, fato que costuma orgulhá-lo bastante. Já esteve aqui em Pernambuco, mais precisamente no Programa de Mestrado e Doutorado em Ciência Política da UFPE, onde proferiu uma palestra bastante prestigiada à época. Num dos governos Lula ocupou o Ministério de Assuntos Estratégicos, pasta bem ao seu estilo, condizente com sua inteligência.
Houve uma época em que esteve apoiando o ex-governador Leonel Brizola, apontando que ele seria o único que poderia sacudir as nossas estruturas, fato tão temido pelos militares, que, segundo dizem, encontraram em Lula esse cara com apoio popular, mas que não ameaçava os interesses do mainstream da Faria Lima. Segundo Mangabeira Unger, o país passa por um momento de apagão ou escuridão. Bolsonaro nos atirou nas trevas da ameaça autoritária e Lula não está fazendo um bom governo. Não está preparado, por exemplo, para lidar com a mentalidade pequeno burguesa que aflora entre segmentos dos trabalhadores. Bordões como A Luta Continua, Companheiro! ficaram no passado. A pregação evangélica da prosperidade, hoje, é bem mais atrativa para os pobres da periferia.
De fato ele tem razão. As últimas prisões e indiciamentos realizados pela Polícia Federal indicam o quanto havia de artefatos autoritários instalados no sistema político. Lula, por outro lado, perdeu completamente o timing neste terceiro mandato, enredado com dificuldades internas e externas, que corroem a sua gestão. Nesta questão do ajuste fiscal, por exemplo, apenas como referência, para não adentrarmos em outras questões, o que se sugere que vai ocorrer é uma provável desobediência do morubixaba às recomendações de sua equipe econômica, o que, aliás, já vem ocorrendo. Fazendo uma média ponderada com sua base mais renhida dentro e fora do governo, ele vai acabar desagradando aos dois lados. Aos puros-sangues petistas e ao mercado.
Acreditamos que as medidas e os cortes, que deverão seguir ao contingenciamento dos R$ 5 bilhões já anunciados - danado que Haddad falou em R$ 6 bilhões, mas a Casa Civil anunciou R$ 5 bilhões - não serão suficientes. Por outro lado, os cortes deverão atingir áreas nevrálgicas, como o sistema de aposentadoria dos militares, o que significa, necessariamente, mais desgaste político. É. Como afirma o oráculo de Harvard, está difícil encontrar um luz nesta escuridão. A entrevista do professor Mangabeira Unger foi concedida à CNN.
Editorial: TCU pede suspensão dos salários dos implicados na tentativa de golpe.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União está solicitando a suspensão dos salários dos implicados pela Polícia Federal na tentativa de golpe de Estado. Salvo melhor juízo, o bloqueio de bens do ex-presidente também já teria sido solicitado, pelo mesmo motivo, uma vez que o ex-mandatário está entre os nomes indiciados pela PF. Um jornal aqui do Estado de Pernambuco, em sua matéria de capa, traz a manchete dando conta de que o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, sob o comando de Jair Bolsonaro, uma testemunha chave daqueles fatídicos acontecimentos que se propunham a abalar os alicerces de nossas instituições democráticas - que nunca foram tão sólidos - teria confirmado a anuência do ex-presidente Bolsonaro nessas tessituras golpistas, inclusive que ele sabia sobre o plano para assassinar autoridades da república.
A rigor, não há certeza absoluta sobre os pontos soltos emendados pelo ajudante de ordens nessa audiência com o Ministro Alexandre de Moraes. Sabe-se, no entanto, que o diálogo foi produtivo, uma vez que ficou mantido o acordo de delação premiada celebrado entre o oficial e a Polícia Federal. A quebra desse acordo produziria inúmeras implicações, além da revogação de sua liberdade. Salvo melhor juízo, teria implicações até entre os familiares do oficial. A Polícia Federal já havia recomendado que o acordo fosse desfeito, depois que percebeu esses fios soltos.
O bolsonarismo é um cancro terrível, que conseguiu espalhar seus tentáculos por amplos segmentos da sociedade brasileira, todos cooptados para um projeto comum, que seria transformar a sociedade brasileira numa Autocracia S\A, se considerarmos que seus membros mais diletos já vinham acumulando riquezas incompatíveis com seus rendimentos. O modelo descrito pela jornalista Anne Applebaum, em textos como O Crepúsculo da Democracia, caem como uma luva no modelo de autoritarismo que estava em gestação no país. Um ponto comum entre esses algozes da democracia é o enriquecimento pessoal.
Editorial: Recursos do fundo partidário utilizados para tentativa de golpe? É o Brasil.
A princípio, poderia causar estranheza observar o nome de um dirigente partidário arrolado entre os indiciados por uma tentativa de golpe de Estado. Sabe-se, no entanto, que o indiciamento se deu porque o dirigente partidário, comandante de um fundo partidário poupudo, poderia ter financiado a trama golpista com recursos que, a rigor, deveriam ser empregados com outra finalidade. Quando a poeira abaixar, talvez os congressistas pudessem avaliar como criar normas ou expedientes que impedissem que esses fundos partidários pudessem ser utilizados de forma indevida. As intenções são boas, mas de boas intenções o inferno está cheio.
Partidos são criados, picaretas entram na vida pública, por vezes, tão somente de olho nesses recursos. Dirigentes partidários já entraram em verdadeiras rinhas, se engalfinharam em público, protagonizando graves consequências, apenas para se manterem no controle desses recursos. A suspeita de que esses recursos possam ser utilizados para financiar tentativa de golpe, ao que se sabe, é a primeira vez, mas, por outro lado, a imprensa já denunciou outras aplicações de caráter nada republicano. O fundo é calculado consoante a representação partidária do grêmio politico, mas parece haver um consenso de que esses montantes são muito elevados. Haveriam outras prioridades, principalmente quando se verifica essas idiossincrasias.
E, por falar em armações golpistas, a Procuradoria-Geral da República, ao se pronunciar em torno do assunto, já adiantou que somente em 2025 apresentará suas impressões sobre os 37 nomes implicados nessas tessituras que pretendiam instaurar no país mais um desses experimentos autoritários, sabe-se lá com que consequências, mas todas igualmente danosas para as nossas instituições democráticas e para a sociedade como um todo. Espera-se que a PGR endosse as conclusões da Polícia Federal sobre o assunto. Este mal precisa ser cortado pela raiz.
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Drops Político: Um golpe dentro do golpe.
Drops Político: Mauro Cid contou tudo que sabe?
Drops Político: E o ajuste, Haddad?
O anúncio dos cortes deverá ser sacramentado apenas na próxima semana, conforme previsão do próprio Ministério da Fazenda. Há uma queda de braço dentro do próprio governo em relação ao assunto, expondo cada vez mais o ministro Fernando Haddad. O ministro fica pressionado de um lado e do outro. Dentro do Governo Lula3, pelos ministros que não desejam cortes em suas pastas e integrantes da legenda que veem nesses cortes um suicídio politico do PT. Do outro, o mercado, que exige medidas urgentes, fazendo a temperatura do dólar aumentar e a ameaçando com reprovação de nossas notas como um ambiente seguro para os investimentos.
Drops Político: Quem seria o principal arquiteto da tentativa de golpe?
A Polícia Federal suspeita do general da reserva, Braga Netto. No plano encontrado, logo após a materialização ou desfecho do golpe, ele assumiria o comando do gabinete de crise, dada a sua relevância como um dos atores mais estratégicos de toda a trama que estava em andamento. No entendimento dos investigadores da PF, ele assume o papel daquele elo de ligação que uniria o núcleo golpista e eventuais adesões de setores militares.
Editorial: Bolsonaro sabia do plano para assassinar autoridades?
A revista Veja desta semana traz uma longa matéria sobre as tessituras do plano golpista revelado pelas investigações da Polícia Federal, que incluía, inclusive, o assassinato de autoridades, como era o caso do presidente Lula, o vice, Geraldo Alckmin, e o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Este grupo que tramou contra as instituições da democracia precisa ser punido exemplarmente para, aí sim, ensejarmos alguma possibilidade de pacificarmos um país conflagrado. Não é com anistia que conseguiremos este objetivo.
A matéria sugere que o único fio solto até este momento é se o ex-presidente Jair Bolsonaro sabia, de fato, do plano de assassinato. Por outro lado, através das falas dos próprios conspiradores, já se sabe que ele estava inteirado de muitas coisas. Pelo andar da carruagem política, apesar do bom momento da direita e dos ventos favoráveis que sopram da outra América, ele não deverá participar das próximas eleições presidenciais. Há encrencas demais e, a rigor, legalmente ele já foi punido com a inelegibilidade. Diante desses novos fatos, membros do PT já encaminharam um pedido de arquivamento do PL da Anistia. Trata-se de algo sepultado, no entendimento até mesmo de parlamentares da oposição.
A trama, apesar dos equívocos crassos no que concerne ao planejamento - o plano foi impresso em impressoras oficiais, de dentro do Palácio do Planalto - tinha alguns ingredientes sórdidos, como a possibilidade de envenenar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que ele estava doente, com a idade avançada e frequentando hospitais. O fato nos fez lembrar da morte do poeta chileno Pablo Neruda, hoje se sabe possivelmente assassinado enquanto estava num leito de hospital. Antes de morrer, ele teria ligado para amigos, se queixando da mudança dos "remédios" e a transferência do hospital. Exumado, se comprovou que fora envenenado.
Sugere-se que a cúpula de nossas Forças Armadas assume hoje uma posição legalista. O próprio Ministro da Defesa, José Múcio, antecipou-se em informar que os militares envolvidos neste complô integram segmentos isolados e não representam o sentimento da caserna. Salvo melhor juízo, há quatro generais envolvidos. Um general do Exército ameaçou prender Bolsonaro quando participava de uma reunião. Embora não se deva desprezar os perigos inerentes a essas tessituras, elas não são compráveis ao que ocorreu na década de 60 do século passado.
Aqui em Pernambuco, um dos estados mais visados à época - em razão da grande ebulição política no campo e na cidade - Dr. Miguel Arraes foi substituído pelo vice, que integrava a conspiração, e o líder Gregório Bezerra, que se escondera no interior para organizar a resistência, foi capturado com a ajuda da aristocracia açucareira, que apoiava o movimento autoritário. Tudo muito bem planejado, nos encontros em insuspeito colégio de freira e entre um e outro licores de pitanga, logo nas primeiras horas da manhã.
Editorial: As portas abertas do PSD para Raquel Lyra.
Sugere-se que falta muito pouco para a governadora Raquel Lyra, finalmente, ingressar no PSD de Gilberto Kassab. O momento oportuno quem dirá é a gestora. Nos últimos dias, começaram algumas especulações aqui na província pernambucana em torno das eleições majoritárias de 2026. Embora próxima do Planalto - por razões obviamente conhecidas, há uma governabilidade em curso - Raquel não aposta todas as suas fichas políticas na eventualidade de um apoio efetivo do PT para o seu projeto de reeleição em 2026. Raquel tem um eleitorado de perfil conservador, quiçá bolsonarista, a julgar pelas eleições de 2022, quando recebeu apoio desse segmento do eleitorado pernambucano.
Um outro elemento a ser considerado, como o fez recentemente Gilberto Kassab, em encontro com empresários, é que o Governo Lula3 não atravessa um bom momento. As eleições de 2022 e 2024 demonstram uma perda de aderência do PT junto ao eleitorado, o que recomenda as precauções necessárias. Qualquer movimentação política neste momento deve considerar esta variável. Tudo é possível até as eleições de 2026, mas, em princípio, hoje, Lula não seria reeleito e o PT está metido numa grande enrascada e sabe-se lá se sairá dela até aquelas eleições. Não é simples o sujeito se reinventar. Exige muitas consultas ao psicanalista.
Nas últimas eleições, João Campos(PSB-PE) chegou a ser criticado por manter o PT numa posição de não protagonista de sua aliança política. Daí fazer algum sentido de uma eventual volta do ex-governador Paulo Câmara à cena politica pernambucana, como especula um blog local. Câmara teria o apoio efetivo de Lula no estado, acomodando na chapa, como candidato ao Senado Federal, o senador Humberto Costa, um quadro que o PT tentará, a qualquer custo, preservar o mandato, principalmente em razão de conhecer as artimanhas que estão sendo urdidas pela oposição depois do controle da Câmara Alta.
Hábil politicamente, a aproximação do prefeito João Campos com o PT é uma aproximação essencialmente de conveniência. Ele se depara hoje com o mesmo dilema do pai, Eduardo Campos, quando desejava ser Presidente da República, ou seja, o antipetismo em segmentos expressivos do eleitorado. Uma candidatura ao Palácio do Campo das Princesas nas eleições de 2026 ainda depende de algumas variáveis, mas, uma vez confirmada, o mais provável é que ele construa uma chapa agregando do centro para a direita, a exemplo dos Coelho, de Petrolina.