quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
Editorial: A banalização dos acordos de delações premiadas.
Os acordos de delações premiadas, por motivos que escapam à nossa alçada, estão sendo banalizados no país. A anulação dos acordos celebrados neste sentido no curso da Operação Lava Jato, todos praticamente anulados posteriormente, deram sua contribuição neste aspecto. O mais recentes, como os do ex-militar Ronnie Lessa, autor confesso do assassinato da vereadora Marielle Franco, assim como o do ex-ajudante de ordens da Presidência da República no Governo Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, também tiveram seus problemas. Neste último caso, a Polícia Federal teria recomendado ao Supremo Tribunal Federal reavaliar o acordo, depois que verificou que algumas informações foram suprimidas pelo beneficiário.
Como a imprensa vaza tudo, segundo dizem, no encontro com o Ministro Alexandre de Moraes, ele já teria preparado a mala para uma nova determinação de prisão. A oitiva foi positiva e o acordo foi mantido pelo ministro. Pelo andar da carruagem política, com todo mundo querendo tirar o corpo fora da tentativa de golpe, novos acordos de delação premiada estão sendo cogitados. O general Mário Fernandes, acusado de ter participado das tessituras golpistas de acordo com relatório da Polícia Federal, certamente insatisfeito com a linha de defesa que vem sendo adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, supõe-se que teria manifestado o deseja de fazer delação sobre o caso.
Estaria sendo aconselhado neste sentido pela sua família e por sua defesa. Fernandes estaria muito abalado psicologicamente. Um fato curioso é que o Exército teria vetado o acesso à sua dissertação de mestrado. Isso vem repercutindo enormemente pela imprensa, principalmente numa era dos repositórios, onde as universidades públicas e privadas fazem questão de dar publicidade aos trabalhos dos seus alunos e alunas dos programas de mestrado e doutorado. Salvo melhor juízo, um jornal das Alterosas antecipou-se ao veto e divulgou o teor do que fora discutido na dissertação.
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
Editorial: Rubens Ometto: "Estamos ferrados".
Isoladamente, Rubens Ometto foi o principal doador de campanha do PT nas eleições presidenciais de 2022, quando Lula foi eleito. Isso não vem ao caso, uma vez que o empresário fez doações generosas aos demais candidatos. É uma política do grupo. Nas entrelinhas de sua fala, percebe-se a sua postura crítica ao plano posposto pelo governo, anunciado de forma atabalhoada, com uma cosia dentro da outra - talvez para minimizar as verdadeiras intenções - que ele considera que sinaliza muito mais a intenção de gastar do que cortar gastos.
Não desejamos nos alongar sobre o assunto, uma vez que, por inúmeros momentos emitimos a nossa modesta opinião sobre o tema. Na queda de braços, a ala política do Governo Lula3 saiu vitoriosa sobre a equipe econômica. Com toda a desgraça, o Governo Bolsonaro entregou o governo com superávit fiscal, acima de 5o bilhões. Começaram a estuporar antes mesmo da posse do terceiro mandato do morubixaba. Enterrou-se a opção Haddad antes mesmo do que se esperava. Lula vai tentar um quarto mandato. Nos corredores de Brasília já se especula sobre quem seria o vice ideal, uma vez que Geraldo Alckmin não está bem cotado nas bolsas de apostas. Apertem o cinto.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
Editorial: Ainda a polêmica em torno da aposentadoria dos militares.
No país do hímen complacente ou onde tudo se resolve com um tapinha nas costas, não causa surpresa os rumores em torno de gestões que estariam sendo perpetradas no sentido de minimizar os estragos na tropa em relação àqueles militares que estariam envolvidos nas tessituras golpistas mais recentes. Além de uma punição efetiva, a sociedade brasileira exige que medidas sejam tomadas no sentido de minimizar a possibilidade de novas armações antidemocráticas e inconstitucionais. Isso implica, naturalmente, numa reestruturação na caserna, que passa, necessariamente sobre o aspecto de formação dos militares.
A questão da aposentadoria não passa por tal preocupação. A questão aqui diz respeito a dinheiro mesmo. Ou, para sermos mais preciso, pela ausência dele. Há um déficit gigantesco e é preciso estancar a sangria de alguma forma. Há distorções entre as aposentadorias entre servidores civis e militares e elas precisam serem corrigidas. Quando o servidor público civil se aposenta, já com idade acima dos 60 anos, continua com descontos previdenciários em seus vencimentos, o que se constitui numa excrescência. Já existem alguns movimentos no Legislativo no sentido de rever essa contribuição pós aposentadoria.
Ao morrer, existe hoje uma série de dispositivos legais, todos no sentido de subtrair seus vencimentos, que caem, em média, pela metade. Isto é resultado das sucessivas reformas previdenciárias impostas sobre os servidores civis, às quais os militares sempre estiveram ausentes. Foi em razão deste histórico que concluímos sobre os ruídos que este tema iria provocar entre a tropa. A Marinha lançou uma nota contrariando aquilo que eles consideram que esteja sendo tratado como privilégios. Exército e Aeronáutica não se manifestaram, mas sabe-se que o drama é o mesmo. Mexeu-se num vespeiro e o Planalto deveria ter em mente o tamanho da encrenca.
Salvo melhor juízo, o raciocínio não se aplica aos militares que, quando se aposentam, em alguns casos, são promovidos ou dados como mortos, inflando seu proventos. A União gasta uma fábula com as filhas dos militares que não se casaram, que podem herdar a pensão dos pais falecidos. Matéria do Estadão verificou que uma delas receberia a quantia de R$ 117 mil reais por mês. A União gastou em 2020 R$ 19 bilhões somente com essas viúvas. 60% do montante gasto com a aposentadoria dos militares é para pagar essa conta.
Drops Político: Perdão total e incondicional a Hunter Biden.
Drops Político: O casamento do ministro Flávio Dino.
Ocorreu neste sábado, em São Luís, no Maranhão, o casamento do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino. Enlace bastante concorrido, com a presença de grandes autoridades federais e estaduais. Entre os seus colegas de trabalho, estiveram presentes os Ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luiz Roberto Barroso. Flávio Dino casou-se com Daniela Lima, com quem mantém uma relação estável há alguns anos. Daniela foi assessora de Dino, quando ambos militavam ainda no antigo Partidão. O governador do estado, Carlos Brandão, não esteve presente ao evento, levantando-se as especulações em torno do assunto. Na realidade, o que se diz é que a relação entre ambos estaria estremecida. Fora do script programado, a imprensa informa que o ministro Luiz Roberto Barroso cantou e houve muita comemoração em relação à vitória do Botafogo.
Editorial: João Campos vai ao encontro de prefeitos eleitos convocados por Raquel Lyra.
Ontem comentávamos por aqui que há 21 requerimentos de convocação para o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski comparecer à Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. A sua presença naquela comissão está programada para amanhã, dia 03, num clima de absoluta beligerância por parte dos opositores que integram a comissão, a maioria deles pertencentes à Bancada da Bala. O ministro é um homem público cordato, urbano, conciliador mas vai precisar de muitos amortecedores para aguentar o tranco. Pelo andar da carruagem política, não enxergamos a possibilidade de construção de consensos sobre o assunto.
Seria até aconselhável que tais encontros acontecessem com mais frequência, em nome do interesse público. Os dois são gestores promissores, com agendas que podem ser convergentes no tocante aos projetos e políticas públicas, uma vez que não há diferenças significativas por aqui em termos de gestão. Na realidade, na última eleição, foi o candidato apoiado pela governadora, Daniel Coelho, quem alertou João Campos para os intermitentes problemas das desigualdades sociais na capital pernambucana. Afinal, ambos, Raquel e João, segundo palacianos, integram a base de sustentação política do Governo Lula3.
domingo, 1 de dezembro de 2024
Editorial: Comissão de Segurança da Câmara convoca o Ministro Ricardo Lewandowski.
Está programada para o próximo dia 03\12 a audiência do Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, na Comissão de Segurança da Câmara dos Deputados. Com uma larga experiência na vida pública, Ricardo Lewandowski é um gentleman, com uma habilidade incomum para evitar conflitos. Numa dessas oportunidades, já também como ministro, na mesma comissão, Lewandowski conseguiu desmontar as hostilidades inerentes a esses encontros, como decorrência do climão entre Governo e Oposição, sobretudo quando está em pauta temas nevrálgicos como segurança pública.
Esta comissão, então, é hegemonicamente formada por parlamentares bolsonaristas, militares e policiais. Todos eles com uma leitura de segurança pública que não se coaduna com as diretrizes do Governo Lula3. Não há um denominador comum, daí as animosidades inevitáveis. Outro dia, um deles estava defendendo a proibição de entrada de papel higiênico nos presídios femininos, enquanto o Governo Lula3 defende toda uma reforma no sistema prisional com o propósito de assegurar que os direitos humanos sejam respeitados naquele ambiente. São perspectivas abissais sobre um mesmo tema.
Para que se tenha um ideia do problema, os governadores das regiões Sul\Sudeste criaram um consórcio, onde se reúnem e estabelecem parcerias para área de segurança pública sem a participação da União. Para esta convocação há 21 requerimentos, envolvendo os mais diversos assuntos. Até sobre o resultado dos procedimentos ou conclusão dos trabalhos da comissão de ética sobre o caso envolvendo o ex-Ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida. Salvo melhor juízo, o processo teria sido arquivado pela ausência de evidências. Boa sorte ao ministro. Ele vai precisar.
Editorial: Comandantes militares se reúnem com Lula. Na pauta, as mudanças na aposentadoria dos militares.
Nem nos momentos de estabilidade institucional os governantes resolveram proceder mudanças no sistema de aposentadoria dos militares. Sempre que o assunto foi discutido, nas reformas da previdência, os militares sempre ficaram de fora. Neste momento de instabilidade institucional, o Governo Lula3 tomou a inciativa de enfrentar a questão, mesmo sabendo que as medidas tomadas não seriam bem-vindas pela caserna. No dia de ontem, o presidente Lula se reuniu com os comandantes das três forças e o ministro da defesa, José Múcio Monteiro, onde o assunto foi discutido.
Grosso modo, o que se sabe é que se trata de um sistema de aposentadoria que gera um déficit gigantesco e, num momento como este, convém estancar a sangria. Os militares alegam que as aposentadorias deles seguem uma dinâmica bastante distinta da aposentadoria dos servidores civis, por razões específicas, que não podem ser lidas como privilégios, como sugere uma nota da Marinha, tratando deste assunto. esta é uma daquelas discussões onde não se chegará à construção de algum consenso.
Beneficiados durante um governo anterior que empreendeu todos os esforços - sugere-se que com objetivos escusos - pela militarização da máquina pública, os militares, de algum modo, precisarão entender que o momento é outro, o país atravessa uma crise econômica preocupante, onde todos precisarão passar por algum sacrifício para superá-la. Um dos maiores problemas apresentados diz respeito à idade de aposentadoria - 55 anos - estipulada em razão das especificidades da tropa.
Editorial: Lula tenta reconectar-se com sua base histórica de apoio.
Na nossa modesta opinião, antes de qualquer coisa Lula precisaria colocar as contas públicas em ordem. Este é um princípio básico. As previsões de agentes do mercado e de economistas não são das melhores sobre os rumos de nossa economia. Quando o sujeito precisa se endividar para pagar as contas entra num círculo que não tem mais volta. No mês seguinte, o salário vem reduzido pelos descontos empréstimos, as parcelas das dívidas permanecem, o sujeito não consegue honrá-las e a bolha estoura com os juros. A economista Tânia Bacelar, numa palestra na Fundação Joaquim Nabuco, respondendo a um questionamento nosso, dá este exemplo de economia doméstica, que, segundo ela, o mesmo raciocínio se aplica às contas públicas.
Déficit público é isto: Você gasta mais do que arrecada. Há um consenso que o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, perdeu o cabo de guerra no Governo Lula. Foi derrotado por aqueles que viam no equilíbrio fiscal um suicídio político, tese defendida por setores influentes da legenda. Esse negócio de mercado não é para alguns petistas, que enxergam nesta entidade um conjunto de maldades contra a sociedade. Logo após os encontros desagradáveis onde este assunto foi discutido no governo - parecia uma daquelas reuniões intermináveis - Os acenos de Lula indicam claramente que ele fez a sua opção pelas políticas sociais, de olho nas eleições de 2026.
Ontem determinou a regularização de terras negras de 15 comunidades quilombolas pelo país afora e, logo em seguida, anunciou um conjunto de medidas com o propósito de atender tais comunidades, onde estão previstas até ações de empreendedorismo, a palavra do momento até para os petistas mais radicais. Antes, já havia anunciado um amplo programa de desfavelização do país, o que deverá ter um custo bastante alto num país com o nosso número de favelas.
sábado, 30 de novembro de 2024
Editorial: Lula liga para Itamar Vieira para informar a regularização das terras do Quilombo de Lençóis.
Hoje, 30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma ligação para o escritor Itamar Vieira, autor do premiado livro Torto Arado. O livro do escritor baiano é ambientado numa comunidade quilombola da cidade de Lençóis, na Bahia, comunidade conhecida como Iúna, assim como toda terra negra, sujeita às investidas violentas dos homens brancos. A ligação tem um simbolismo, posto que o escritor, recentemente contemplado com mais um prêmio Jabuti, é oriundo daquelas terras negras.
O presidente Lula assinou um decreto desapropriando terras pertencentes a 15 comunidades quilombolas, entre as quais a de Lençóis. Difícil dizer se o gesto irá melhorar o humor das comunidades quilombolas em relação ao presidente Lula. Durante a semana, o dirigente do MST, Pedro Stédile, um aliado do governo, emitiu algumas considerações duras sobre os equívocos do presidente em relação à sua base histórica de apoio político, a começar pelo próprio MST, que considera bastante tímidas as medidas tomadas em relação aos assentamentos de reforma agrária.
Existem algumas questões no país onde se sugere que os avanços, mesmo no governo com um perfil como o do PT, serão sempre pontuais. Um deles é a reforma agrária. O tempo que Lula está no governo, se desejasse mesmo, já seria suficiente para ter resolvido este problema. Outro gravíssimo problema diz respeito ao número expressivo ainda de analfabetos adultos, que superam os dez milhões de pessoas, sobretudo concentrado num dos redutos políticos do PT, o Nordeste.
Editorial: A linha de defesa de Bolsonaro que preocupa os militares.
Sugere-se que o ex-presidente Jair Bolsonaro está bastante preocupado com a carruagem jurídica dos processos nos quais ele está implicado. Durante a semana já se falou de tudo, inclusive a possibilidade de um eventual pedido de asilo numa embaixada estrangeira, caso a possibilidade de uma prisão se materialize, hoje uma possibilidade concreta diante dos fatos. Durante a semana a Polícia Federal divulgou informações sobre uns recibos de pagamentos a supostos advogados do ex-presidente, onde aparece cifras curiosas, acima dos R$ 6 milhões de reais. Sabe-se que, constituir advogados de defesa, principalmente diante dos enroscos dessas encrencas não ficaria barato, mas, mesmo assim, os valores estão estão acima dos preços praticados pelo mercado.
Os valores não vem ao caso, deixemos com a Polícia Federal tal investigação. Por enquanto, concordamos apenas na estranheza ou curiosidade sobre o fato. Mas, a linha de defesa que está sendo aventada para o ex-presidente vai numa direção que está desagradando profundamente os demais envolvidos na tentativa de golpe, principalmente os militares, que se sentem traídos, uma vez que estão sendo acusados de articularem a frustrada tentativa de golpe por conta e risco, sem o conhecimento do mandatário, que seria vítima de um contragolpe, caso tudo corresse como se previa.
Hoje, 30, a imprensa voltou a repercutir a tomada de decisão para antecipar a posse do presidente Lula em uma semana, fato que seria fundamentalmente importante para o desarme do golpe de Estado que estava em andamento. Um ministro da Suprema Corte, durante um encontro que reunia a nata da sociedade brasiliense, teria percebido que algo fora das quatro linhas estava sendo urdido. São os imprevistos. Até em planejamento de golpes de Estado eles ocorrem.
Editorial: Acreditem. Marçal é petista de carteirinha.
Naturalmente que se poderia tratar de uma brincadeira de muito mau gosto, mas, afinal, o nome do empresário Pablo Marçal aparece nos registros do TSE como sendo filiado ao PT, o que vem suscitando muita polêmica em torno do assunto. Ambos, o PT e o próprio Marçal estão acionando seus dispositivos na justiça no sentido de se verem distante um do outro. Acredita-se que a manobra possa ter sido obra de algum hacker que inseriu, indevidamente, o nome do ex-coach como filiado à legenda.
O que está em negociação no momento, na realidade, envolvendo o empresário é uma eventual desligamento do PRTB, partido pelo qual ele disputou as últimas eleições para a Prefeitura de São Paulo, e ingresso no União Brasil, de olho nas eleições presidenciais de 2026, onde ele poderia voltar a disputar um pleito. Dizem que as negociações estão bastante avançadas, mesmo sabendo-se que, em tese, o partido teria um candidato ao pleito, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Curioso que este partido começou a fazer algumas apostas de risco em relação ao pleito de 2026. Tem candidato próprio; acena positivamente para Pablo Marçal, que deverá filiar-se à legenda; mas não descarta o apoio ao projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderá ampliar a participação da legenda no governo após a reforma ministerial que se aproxima. Em seus pronunciamentos, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado tem dito que conta com o apoio integral da legenda ao seu projeto de candidatar-se às eleições presidenciais de 2026.
Editorial: Raquel Lyra na base aliada do Governo Lula3?
Mesmo pilotando a máquina, o PT não vai bem. Os indicadores das eleições de 2022, 2024 e, possivelmente, as de 2026, pelo andar da carruagem política, indicam a necessidade de uma reavaliação da plataforma política daquela agremiação política, que não consegue dialogar com amplos setores do eleitorado, inclusive com a sua base histórica de sustentação, conforme aventou recentemente o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile. Líamos recentemente um texto que confirma a nossa previsão de que o divórcio com os segmentos evangélicos é irreversível. Os acenos da direita hoje são bem mais atrativos para este nicho eleitoral, bastante influente em voto e formação da opinião pública.
Não é com a oferta de um ministério na Esplanada - como se especula em Brasília - que este quadro mudaria. Raquel sabe que não pode arriscar o seu projeto de reeleição e vai segurando o leme até onde as correntezas políticas suportam. O eleitorado conservador do estado, hoje sensível ao gerencismo do prefeito João Campos, pode selar o seu desempenho no pleito, principalmente se ele estiver na disputa.
Editorial: O desconforto do ministro Fernando Haddad no Governo Lula.
Até recentemente, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisou adiar uma viagem que fazia à Europa e voltar ao país imediatamente, segundo dizem, em razão da alta do dólar. Ele voltou e entrou numa verdadeira maratona no Palácio do Planalto com o propósito de convencer o morubixaba petista e os seus colegas de ministério sobre a necessidade urgente de proceder os cortes necessários no sentido de equilibrar as contas públicas. A proposta não foi bem recebida pelos ministros, que moveram montanhas para que tais cortes não incidissem sobre as suas pastas. Dizem que os diálogos foram acirrados, tendo alguns deles ameaçados, até, em pedir demissão dos cargos, como foi o caso dos Ministros da Previdência, Carlos Lupi, e do Trabalho, Rogério Marinho.
Os atritos com a Casa Civil, que já vinham de algum tempo, apenas se agravaram. Lula, por sua vez, segue a cartilha econômica temerária do PT, à qual o ex-governador Ciro Gomes já se referia durante a última campanha presidencial. Com uma mão, anunciou que é preciso não gastar mais do que se arrecada, com a outra anunciou um ambicioso programa de desfavelização do país. O morubixaba petista até chorou ao anunciar o novo programa, numa evidência de que ele se sente mais à vontade mesmo no Beco da Fome do que na Faria Lima. Seja lá o que vier pela frente. Apertem os cintos.
Este cabo de guerra entre as alas da economia e planejamento, de um lado, guerreando com amplos setores políticos e ideológicos da legenda, do outro, segundo observo, definem, do lado do Governo Lula3, as armas para a disputa das eleições presidenciais de 2026. Lula é candidatíssimo e o Fernando Haddad corre até mesmo o risco de não continuar no cargo, como se presume pelas articulações políticas do Planalto com o Legislativo e com os partidos políticos, que impõem a necessidade de incorporação de novos atores na Esplanada dos Ministérios.
Editorial: Bolsonaro está acuado.
Até recentemente líamos que um integrante da tropa de forças especiais, também conhecida como Kids Pretos, informou que estava disposto a falar. Em princípio, sugere-se apenas uma maneira de minimizar as eventuais consequências dos seus atos, recebendo algum benefício da justiça. Possivelmente uma estratégia de defesa encetada por seus advogados. O ex-presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, está apelando para todo mundo. Já sinalizou até para Lula e Alexandre de Moraes em favor de que eles passem uma borracha em tudo o que ocorreu, anistiem os implicados e vamos festejar o Natal em família.
Ah, se as coisas pudessem funcionar desta forma. Em 1979 decretou-se uma anistia ampla, geral e irrestrita em relação aos envolvidos no golpe civil-militar de 1964. Deu no que deu, uma vez que os dispositivos continuaram armados. Se não houver punição rigorosa, eles voltam a ser acionados. E não basta essa punição exemplar, o mínimo que a sociedade brasileira deseja neste momento. Depois, é preciso fazer uma varredura no sentido de encontrar tais dispositivos e desarmá-los. Já dou aqui uma dica à Polícia Federal e ao Governo Lula3: um deles, talvez o mais perigoso, fica em Goiânia.
Editorial: Sobre as eventuais menções nazistas nas falas dos golpistas.
Diante das circunstâncias políticas tão adversas, não se poderia esperar outra coisa. A previsibilidade natural é que as instituições da democracia puna com o rigor necessário aqueles atores envolvidos nas últimas tessituras de caráter golpista. O negacionismo que sempre caracterizou o bolsonarismo, também em relação à tentativa de golpe, tem sido uma narrativa exaustivamente repetida pelo seu líder e os apoiadores. São todos inocentes, ninguém queria golpe, trata-se de uma armação dos grupos políticos de esquerda. Se eles tivessem logrado êxito neste intento, nós já estaríamos sofrendo as consequências e legando para as próximas gerações as trevas e obscurantismo que caracterizam os regimes autoritários.
Não estamos afirmando, mas alguns colegas já nos alertaram para as menções nazistas por parte dos integrantes dessa tropa de assalto, que teria planos de assassinar autoridades da república. Se confirmado, trata-se um assunto delicado. O Governo da Alemanha, até recentemente, destituiu parte de uma tropa de elite por entender que eles estavam perigosamente próximos demais da extrema-direita naquele país. É preciso tomar um cuidado enorme com a formação dessas tropas, afeitas às doutrinações, simpatias com grupos radicais de direita e, pior, por vezes orientadas ideologicamente pelos interesses geopolíticos do Tio Sam.
Ocorreu-nos mais recentemente até fazer um levantamento sobre a participação dessas tropas de elite nas recentes sublevações da ordem constitucional no continente. Se isso ocorreu em países como a Alemanha, o que não se sugere que possa estar ocorrendo em países da América Latina ou América Central.
Editorial: Ninho de intrigas no Ministério do Turismo?
A coluna do jornalista Cláudio Humberto, no dia de hoje, 30, traz algumas informações sobre eventuais disputas internas no Ministério do Turismo. O arranjo político realizado para acomodar determinados atores naquele ministério, dá bem a dimensão, no plano macro, sobre as dificuldades encontrados pelo Governo Lula3. O titular da pasta é Celso Sabino, apadrinhado pelo governador do Pará, Hélder Barbalho, político de uma velha oligarquia familiar local, hoje sintonizado com o Palácio do Planalto. Sabino é do União Brasil, mas precisou ceder uma das principais diretorias do órgão, a EMBRATUR, ao neopetista Marcelo Freixo.
Em público, naturalmente, eventuais rusgas ou disputas internas não são do conhecimento de todos, mas, nas coxias, as informações sugerem que elas podem estar ocorrendo, sobretudo em razão das disputas de espaços, sobretudo em razão de cargos cobiçados pelos altos salários pagos. Até recentemente, por exemplo, surgiram notícias sobre eventuais funcionários fantasmas no órgão, todos muito bem remunerados, com salários próximo aos R$ 40 mil por mês, o que estaria sendo investigado por órgão de fiscalização da União.
Curioso - e não menos escandaloso, caso se confirme - é que não se trata de um caso isolado, ou seja, as denúncias sugerem que haveria dezenas dessas funcionários. Marcelo Freixo já veio a público desmentir que soubesse da existência desses funcionários sob a sua gestão. Por enquanto, vamos aguardar a apuração que está sendo realizada sobre este caso.
Editorial: Professora é apedrejada na Bahia.
Há alguns anos, por razões impostas em função das contingências de uma pesquisa em andamento, estivemos na aprazível cidade baiana de Cachoeira, localizada na Região do Recôncavo Baiano, onde estivemos na sede da Irmandade da Boa Morte e do famoso Coco de Roda de Dona Dalva, o mais representativa entre todos os Cocos da Bahia. Dona Dalva é doutora Honoris Causa, título concedido pela Universidade do Recôncavo Baiano. Na sede da Irmandade da Boa Morte, tivemos a oportunidade de conversar com um professor que havia desenvolvido uma metodologia toda especial de abordar e desfazer o preconceito religioso entre os seus alunos em sala de aula.
Os procedimentos por ele adotados nos deixaram uma impressão positiva até hoje. Sempre que visitamos comunidades quilombolas, desde então, fazemos menção ao assunto, dada sua importância. A Irmandade da Boa Morte é uma é um festejo ou ritual religioso realizado harmoniosamente entre a Igreja Católica e as Religiões de Matriz Africana. Em tempos idos, alguns negros perseguidos fugiram de Salvador e procuraram refúgio na cidade de Cachoeira, onde foram acolhidos por membros da Igreja Católica, surgindo daí a aliança estratégica, traduzida na fundação da entidade. O ritual é realizado anualmente, no mês de agosto, atraindo milhares turistas ou local, inclusive do exterior.
A boa morte é uma referência a um conceito relacionado aos sofrimentos infligidos aos escravizados - olha o identitarismo - para os quais a morte seria um alívio dos seus sofrimentos, significando a transcendência para o encontro com seus irmãos no outro plano. Nos momentos de folga das pesquisas, nada melhor que os sucos de jenipapo - uma fruta hoje rara em alguns estados do Nordeste, mas ainda abundantes por lá - e apreciar um bobó de camarão às margens do Rio Paraguaçu. A cidade tem ótimas referências histórias, mas não vamos nos alongar por aqui. Num dos nossos romances recontamos essa experiência naquela cidade.
Esta introdução é para falarmos sobre um episódio desagradável ocorrido naquele estado, na cidade de Camaçari, traduzido como mais um caso de intolerância religiosa contra uma professora local. A professora adotou um determinado livro e ministrava aulas de cultura africana, como está determinado na matriz curricular, ou seja, cumpria um conteúdo previsto. Sabe-se que os pais dos alunos não gostavam do texto da professora, criando alguns idiossincrasias em torno do assunto. Adepta do Candomblé, às sextas-feiras, como é tradição, a professora Sueli Santos, utiliza vestimentas convergentes com a sua religião e passou a ser tradada como "bruxa", "catimbozeira", "demônia", "satanás" e "feiticeira". Os alunos que a agridem são evangélicos, foram advertidos pela escola - tanto eles quanto seus pais - mas as agressões continuaram.
Num determinado momento, enquanto estava numa sala realizando outras tarefas, a professora Sueli Santos foi apedrejado por esses alunos, que atiraram contra ela pedras pela janela. Ferida, a professora precisou de atendimento médico, em mais um episódio triste deste momento delicado que o país atravessa, onde o ódio é estimulado com propósitos políticos, algo típico de projetos autoritários de cunho fascista.
sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Editorial: Um pacote mais político do que econômico.
Esse negócio de cortar gastos, definitivamente, não combina com Lula. Há uma pirotecnia narrativa com o propósito de esconder as reais intenções do governo, ou seja, não há intenções de proceder um corte drástico de gastos, distanciando-se das diretrizes da condução da política econômica que sempre caracterizou o Partido dos Trabalhadores. A Faria Lima reagiu de imediato, elevando a cotação do dólar às alturas, atingindo um índice superior aos R$ 6,00. No day after, embora tenha afirmado que não se pode gastar mais do que se arrecada, o morubixaba petista anuncia um amplo programa de desfavelização do país. A cadeia concedida a Haddad, em rede nacional, por outro lado, pode sinalizar um eventual prestígio do pupilo na disputa presidencial de 2026. Caso Lula não esteja no páreo, naturalmente.
O melhor seria fazer algum sacrifício agora para manter a casa de ordem depois. No entanto, a tese de que esses ajustes econômicos representariam um suicídio político deve ter prevalecido. Certamente, a ala ideológica não deve ter feito um grande esforço para convencer o líder petista. A pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, que aponta uma ligeira vantagem do ex-presidente Bolsonaro - mesmo encrencado até o pescoço - sobre Lula, numa eventual disputa eleitoral entre ambos, concebe-se a partir de uma insatisfação das classes C e D com os rumos da economia do país. A expectativa, naturalmente, é que este quadro possa ser revertido até 2026. Será?