pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 24 de março de 2025

Editorial: Da escola de política mineira, Pacheco aguarda a formação das nuvens.

 



Antes de viajar ao Japão e ao Vietnã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve uma conversa amistosa com o ex-presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, onde se especulou que o teria convidado para ocupar um cargo no seu Governo. Os búzios sobre o destino de Pacheco já foram gentilmente jogados pela imprensa, que previa algumas possibilidades para o ex-presidente da Câmara Alta. Uma indicação ao STF, ao TCU, um ministério do Governo Lula 3 ou uma candidatura ao Palácio Tiradentes em 2026. Da escola política mineira, Pacheco, no entanto, parece não ter identificado ainda algo seguro nas indicações das nuvens, conforme preconizava a raposa Magalhães Pinto. 

Depois dessa conversa, Rodrigo Pacheco teria recusado o convite de Lula, a pretexto de cuidar da vida. Na realidade, o que está ocorrendo é uma sondagem do ambiente político, ou seja, em comum acordo com o Presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab, Pacheco aguarda o momento certo para uma tomada de posição, sobretudo em razão do desgaste que o  Governo Lula enfrenta neste momento, inclusive nas Alterosas. A disputa em Minas Gerais, como sempre, é uma das mais estratégicas do país. Sabiamente, o PSD apostou pesado nos maiores colégios eleitorais, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Salvo melhor juízo, foi em Minas Gerais que o partido mais cresceu. 

Em todo caso, a despeito dessa capilaridade política obtida pelo partido no estado, a quadra mineira é sensivelmente complicada, dada a boa receptividade da população mineira à gestão de Romeu Zema, o desgaste do PT e, por outro lado, as indisposições do bolsonarismo em relação ao ex-presidente do Senado Federal, que ficou bastante arestado com a oposição em razão do seu alinhamento ao Governo Lula 3. Esta difícil decifrar as nuvens

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


domingo, 23 de março de 2025

Editorial: A "equação" do Governo Lula 3 para recuperar a popularidade.



Estávamos fazendo uma leitura das linhas de ações que o Governo Lula 3 deve adotar para reverter a baixa avaliação que ostenta neste momento. Já vamos aqui antecipar um diagnóstico preocupante, embora haja uma narrativa, por parte dos integrantes do Governo, de que a hora da colheita está chegando, externamos aqui o nosso pessimismo em relação ao assunto, embora não esteja na relação daqueles cem empresários ouvidos recentemente por um instituto de pesquisa. Há indícios de que a conta não deve bater. Trata-se de uma equação orientada pela isenção de impostos, como é o caso das pessoas que recebem até cinco mil reais; ampliação de programas como o Minha Casa Minha Vida, com uma linha de crédito para atender às demandas da classe média; incremento de programas como o Pé-de-Meia, que atende aos jovens estudantes do ensino médio de escolas públicas; ampliação do auxílio gás e do farmácia popular; além da aposta na supersafra de alimentos, que pode contribuir para reduzir os preços dos produtos, mantendo sob controle os índices inflacionários. 

Não temos muita certeza sobre isso, daí sugerirmos as ponderações necessárias dos leitores, mas as mudanças de rubrica do orçamento, recentemente aprovado, sugerem a fragilização dos programas sociais já existentes - e, portanto, envelhecidos - dando-se prioridade aos novos programas, o que talvez atinja níveis mais efetivos de repercussão junto à sociedade. A conta, no entanto, não bate. Além da inflação, outra dor de cabeça para o governo diz respeito à segurança pública, onde não se vê, exceto por uma PEC da Segurança que teria sido ampliada, uma preocupação maior com esta questão, que deve fustigar as resistência do Governo Lula 3 até as eleições de 2026, constituindo-se numa bandeira de luta da oposição. Só não pode ter contenção de recursos é para as emendas dos parlamentares, eivadas de denúncias de recebimento de propinas por parte dos parlamentares. 

Lula encontra-se em viagem pelo Japão, com a presença de Hugo Motta, Presidente da Câmara dos Deputados, e com David Alcolumbre, Presidente do Senado Federal. A imprensa especula que seria um bom momento para as articulações políticas em relação às pautas de interesse do Governo nas duas Casas, a exemplo da aprovação da isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais; assim como em relação à apreciação da proposta de anistia, que o governo abomina a ideia, mas há chance de avançar, em razão dos compromissos assumidos pelos dirigentes das Casas Legislativas com a oposição.  

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


Editorial: O imbróglio da segurança púbica no país.


A recente prisão dos envolvidos no latrocínio do ciclista Vitor Medrado, em São Paulo, crime bárbaro, que alcançou repercussão internacional, trouxe um alerta para o agravamento dos problemas relacionados à segurança pública no país. Merecedor do nosso reconhecimento o trabalho desenvolvido pela polícia paulista no desvendamento desse crime e consequentemente prisão dos implicados. Todas as vezes que um crime desta natureza é desvendado, porém, surgem novas vertentes sobre a complexidade de se enfrentar o problema da segurança pública no país. 

No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, salvo melhor juízo em fevereiro, num curto espaço de tempo, estima-se que algo em torno de 800 automóveis foram roubados. Comentando sobre o assunto, as autoridades policiais do estado admitiram que se tratava de uma nova modalidade de atuação do crime organizado, ou seja, a recuperação de carros roubados. Eles mesmo roubavam e depois ofereciam um valor para a devolução do bem, que variava em torno de R$ 3 mil para motos e R$ 30 mil para o SUVs. No caso de São Paulo, descobriu-se que o crime organizada passa a atuar também no "varejo" de roubo de celulares. Existe a suspeita sobre uma senhora, com um apelido engraçado, que estaria fornecendo armas para a atuação desses marginais.

A palavra "imbróglio" é semanticamente fundamental para definirmos a situação da insegurança pública que o país atravessa, sem que se vislumbre uma luz nesta escuridão. Ao lado da inflação, a segurança pública contribui sensivelmente para a queda de popularidade do Governo Lula 3. Lula tem falado sobre o assunto e ampliou o escopo da PEC que será apreciada pelo Congresso, com enormes chances de ser rejeitada, em razão do "climão" que se produziu em torno do assunto. Às vésperas de apresentá-la, como cereja do bolo, declarações infelizes de autoridades públicas. Está complicada a coisa. Este impasse não será resolvido até as eleições de 2026. 

sábado, 22 de março de 2025

Editorial: Você é feliz? Avançamos dez posições no ranking da felicidade.



Concluímos um curso recente na área de cinema, uma de nossas paixões quando mais jovem. No final, um dos professores mais conceituados do Brasil nesta área, Ismail Xavier, faz uma revelação sobre a qual não tínhamos ficado devidamente atentos. Há uma gama de cineastas pernambucanos - elenco dos bons, a exemplo de Cláudio Assis, Lírio Ferreira e Kleber Mendonça - que foram muito influenciados pelo famoso Glauber Rocha.  Os filmes? Baile Perfumado, O Som ao Redor, Amarelo Manga ou Baixio das Bestas. O curso foi sobre a transição entre o tradicional e o moderno na arte cinematográfica, ruptura que, a nível mundial, pode ser identificada com a Nouvelle Vague francesa e com o realismo no cinema italiano. No Brasil, naturalmente, o Cinema Novo, de Glauber Rocha. 

Há outros nomes importantes nessas disrupturas, a exemplo de Serguei Eisenstein, o grande cineasta do realismo socialista soviético. Quando as Memórias Imorais de Serguei Eisenstein foi lançada, a livraria Livro 7 ainda existia e perdemos a oportunidade de adquirir um exemplar, dada as exigências de fazermos outras aquisições necessárias ao nosso curso universitário. Livros de linguística, que, passado o semestre letivo, nunca mais foram retirados da estante. Somente alguns anos depois é que tivemos acesso a um dos exemplares, que devoramos num ritmo frenético. Eisenstein conta fatos interessantes neste livro, como um momento de gala, num teatro russo, em que o filme O Encouraçada Potemkin foi exibido, em condições adversas. Alguns rolos do filme foram colados literalmente com cuspe. Quando na plateia, o cineasta russo ficou desesperado, pois a película, assim rodada, certamente arrebentaria. Por um desses milagres, o filme rodou sem interrupção. 

Dentro do espírito do materialismo soviético, muito influenciado pelo seu pai, Eisenstein se identificava bastante com o regime soviético, tornando-se professor de cinema naquele país. Mesmo com um bom trânsito com o regime, o magistério foi uma alternativa à censura a algumas de suas produções. Há um momento em que ele é confrontado com uma passagem bíblica que recomenda honrar pais e mães para prolongarmos nossas vidas aqui na terra. Ele se pergunta, diante de nossos sofrimentos, se valeria mesmo a pena prolongar nossas vidas no plano terrestre. Tudo isso vem a propósito de um ranking, realizado por uma entidade internacional, sobre a felicidade em alguns países. Um ranking, em princípio controverso, dada a subjetividade do conceito de felicidade. Afinal, somos um país de pessoas felizes? O estudo aponta que avançamos dez posições no ranking da felicidade. Somos o 36º entre os países avaliados. Os países nórdicos permanecem no topo deste ranking. 

A pesquisa leva em consideração variáveis como renda per capita, expectativa de vida saudável, apoio social, generosidade, liberdade e percepção de corrupção. Mais uma evidência de que o tema é controverso, dada a sua subjetividade. Diante das variáveis mensuradas, fica realmente muito difícil entender porque avançamos nessa escala de felicidade, diante de tanta desigualdade de renda, problemas com as liberdades individuais e coletivas e a corrupção que se espraia por todos os quadrantes, sob o silêncio sepulcral de algumas autoridades públicas que teriam como dever de ofício coibi-las.   

Editorial: Os segredos revelados pelos Arquivos Secretos do Assassinato de John Kennedy.



Não sabemos informar se a divulgação dos arquivos sobre o assassinato do presidente John Kennedy estava entre as promessas de campanha de Donald Trump. O fato é que ele vem tomando algumas medidas polêmicas, como a mais recente, que, num ato, extinguiu o Departamento Federal de Educação, o que corresponderia ao nosso Ministério da Educação. O assassinato do presidente Kennedy enquadra-se entre aqueles casos que não poderiam ser devidamente esclarecidos, talvez pela chamada razão de Estado. Durante o período de adolescente, ainda sem a má influência das telas dos celulares, reunimos um farto material sobre o assunto, como fitas cassetes com entrevistas, recortes de matérias de revistas e jornais, livros, entre outros materiais. Modéstia à parte, reunimos um dossiê de fazer inveja ao FBI. 

O crime foi atribuído a Lee Harvey Oswald, ex-fuzileiro naval que pediu licença antecipada da função, um cidadão de personalidade controversa, simpatizante do socialismo soviético, que havia passado alguns meses naquele país, onde havia recebido treinamento militar. Nunca houve uma prova incontestável sobre este caso. Confissões, então, não foram possíveis. Oswald foi assassinado antes. O enredo de filme de Stephen King envolve uma trama com eventual participação da CIA, da máfia americana e até da inteligência cubana. Ao longo do tempo, ganha corpo uma dessas possibilidades, a partir de novas revelações. 

Nós temos a nossa opinião formada sobre o assunto, mas também não podemos prová-la. Sabe-se que não apenas o assassinato de Lee Oswald foi morto logo em seguida, mas, numa sequência macabra, 12 outras pessoas que tiveram algum tipo de relação com aqueles fatos foram mortas.  O mais curioso é que, a partir da liberação desse dossiê, foram revelados alguns fatos sobre a ingerência americana em assuntos da América Latina, envolvendo acontecimentos e personalidades, como o caudilho Leonel Brizola, Juscelino, Jango, entre outros. Alguma surpresa por aqui? A paranoia em torno deste assunto era tão intensa que o documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, foi interpretado à época, pelos agentes da CIA mancomunados aos arapongas brasileiros, como uma lista de pessoas que deveriam ser assassinados pelos cubanos que, supostamente, atuavam aqui no Nordeste. A geopolítica norte-americana estava disposta a tudo para não permitir um outro foco revolucionário na região, a exemplo do que ocorrera em Cuba. 

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo.

 


sexta-feira, 21 de março de 2025

Editorial: Os movimentos de Raquel Lyra no tabuleiro do xadrez da política pernambucana.



Este texto bem que poderia ser o primeiro de uma série que sempre publicamos aqui pelo blog, onde acompanhamos cada eleição no estado. Há um farto material sobre este assunto. Uma espécie de repositório sobre as eleições no estado. Pensamos em publicá-lo em livros, mas o tema cai no desinteresse do público assim que a Justiça Eleitoral determina os vencedores do pleito. Nos últimos dias, as movimentações da governadora Raquel Lyra no tabuleiro do xadrez da política pernambucana chamaram a atenção e vamos discuti-las neste espaço. Partimos do pressuposto de que um bom enxadrista político confunde os adversários em relação aos seus movimentos. Veja-se, por exemplo, o caso de Gilberto Kassab, Presidente Nacional do PSD, hoje, certamente, o melhor entre esses enxadristas. 

Sondado sobre a eventualidade de o seu partido acompanhar uma debandada da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi enigmático, reticente ou desconversou, o que significa a mesma coisa. Ainda não seria este o momento. Por outro lado, num outro lance, abriu um diálogo com o ex-presidente Jair Bolsonaro, onde este último gaba-se de tê-lo convencido a apoiar o projeto de anistia aos envolvidos e condenados pelo 08 de janeiro, algo que está dando muita dor de cabeça ao Governo Lula, que não deseja que isso ocorra. Lá no fundo do tabuleiro, move a peça Ratinho Júnior como uma eventual opção à Presidência da República. Há uma peça reserva aqui que pode se constituir numa opção do partido em qualquer circunstância. 

Matreiramente, Lula, segundo dizem, anda sondando a possiblidade de convidar o governador do Paraná para ser vice em sua chapa de reeleição. Seria uma maneira de cindir os votos dos segmentos conservadores. Já discutimos por aqui que não acreditamos que o governador Ratinho entre nesta, pelas inúmeras razões expostas, mas, enfim. Recentemente Kassab esteve em Pernambuco para filiar a governadora Raquel Lyra ao seu PSD, depois de uma longa espera, uma vez que os bons jogadores também sabem esperar o momento certo. Curiosamente, depois de filiada ao partido, a governadora fez vários movimentos no tabuleiro da política pernambucana, de olho nas eleições de 2026. 

A começar por sua cerimônia de filiação, que ficou mais parecida como uma convenção partidária, e contou com a presença de inúmeras tribos politicas, inclusive com gente ligada ao PL, a exemplo do ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, hoje o homem de interlocução no estado com a direção nacional da legenda em Brasília. Ou seja, a despeito dos flertes com o Planalto - onde se chegou até a especular uma filiação da governadora ao PT - segue-se a máxima de que nunca tão distante que não se possa se reaproximar. Até mesmo com o PL de Jair Bolsonaro. 

Com a eleição de Raquel Lyra, o PSDB cresceu bastante no interior do estado. A pergunta é se esses prefeitos acompanhariam a mudança de legenda da governadora ou permaneceriam no ninho tucano, mas apoiando o seu projeto de reeleição. Para tentar manter um controle sobre esta variável, a vice-governadora, Priscila Krause, logo em seguida filiou-se ao PSDB, argumentando que não se filiaria a um partido, obviamente, que fizesse oposição a governadora Raquel Lyra. O presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Álvaro Porto, que é tucano, negocia em Brasília, com Marconi Perillo, o controle da legenda no estado. Álvaro mantém cordiais relações com o prefeito João Campos, possível adversário da governadora em 2026. 

Neste momento, João finca as suas bases na Região Metropolitana do Recife e já se aventura aos encontros partidários pelo interior do Estado, a exemplo do Sertão do Pajeú. Cobra que não anda não engole sapo, conforme aconselhava o ex-governador Joaquim Francisco. A região é um tradicional reduto político onde os socialistas sempre tiveram uma presença forte. Neste momento, a govenadora assegura a presença de agremiações menores à sua base de apoio, a exemplo do Avante, abrindo espaço na máquina. O mais estratégico dos seus movimentos, porém, diz respeito à sua relação com o PP, do deputado Eduardo da Fonte, que, como já afirmamos em artigos anteriores, possui uma penca de prefeitos em seu grupo político. 

Eduardo da Fonte é um ator político que se movimenta com relativa autonomia no cenário político pernambucano. No passado, foi o único político a não dobrar-se a eduardolização da política pernambucana. Sabiamente, não depende dos humores do Palácio do Campo das Princesas. Neste lance, porém, especula-se que deseja uma vaga ao Senado Federal na chapa da governadora. Com uma eventual federalização entre o PP e o União Brasil, ele fica com o controle da federação no estado, o que cria um problema para o clã dos Coelho, de Petrolina, que controla o União Brasil em Pernambuco. Miguel Coelho, ex-prefeito de Petrolina, é vinculado ao prefeito João Campos e luta por uma das vagas ao Senado Federal em sua chapa, em 2026. 

Numa entrevista concedida a um jornal local, o Presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab, anteviu que a governadora Raquel Lyra chega competitiva às eleições de 2026, daqui a alguns meses. Até agora a governadora acompanhava a movimentação dos seus adversários no tabuleiro em silêncio. Talvez aguardando o momento certo para mover-se. Este momento parece ter chegado. Pilotando a máquina, com entregas expressivas em andamento, não se surpreendam  com um xeque-mate da governadora nas próximas eleições estaduais. 

Imagem publicada no perfil de Elon Musk sobre a extinção do Departament of Education dos EUA.

 


Editorial: As placas tectônicas políticas se movem em Brasília.

Crédito da Foto: Cristiano Mariz. 


Não vamos aqui entrar nos impropérios já ditos nessa querela entre o Presidente Nacional do Republicanos, pastor Marcos Pereira, e o pastor Silas Malafaia, quando ambos entraram num entrevero depois que se evidenciou que o líder dos republicanos talvez não endosse o projeto de anistia aos envolvidos e já condenados pelo 08 de janeiro. Sinaliza-se, inclusive, a possibilidade de o governador Tarcísio de Freitas deixar a legenda e filiar-se ao PL, constituindo-se numa eventual alternativa de candidatura presidencial ainda em 2026, na hipótese de a candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro inviabilizar-se de vez. O pastor Silas Malafaia quase perdeu a voz bradando pela anistia na última concentração promovida pelos bolsonaristas na praia de Copacabana. 

Depois de tantos apelos e incentivos, hoje fica claro que não precisaria de um grande esforço para tornar Tarcísio de Freitas candidato ao Palácio do Planalto em 2026. Filiado ao PL, as chances aumentam. Outra movimentação importante que ocorre na capital federal diz respeito à federação entre o PP e o União Brasil, uma verdadeira movimentação de placa tectônica política. Muito se especula em torno dessa federação formada entre os dois partidos, a começar pelo musculatura daí decorrente, quando, uma vez federados, eles passam a ter 109 deputados federais, a maior bancada da Câmara Federal, superando o PL. 

Outra preocupação é que o PP, através de seu presidente, o senador Ciro Nogueira, esboça a possibilidade de desembarcar do trem governista. Segundo dizem, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, teria sido consultado sobre o assunto e dado o sinal verde para as negociações. Caiado é candidato a Presidência da República pelo União Brasil. Numa eventualidade de a nova federação desembarcar da base governista - que já é frágil - o dano seria ainda mais expressivo. Essas movimentações políticas entre as duas legendas, em Brasília, estão produzindo alguns arranjos curiosos na quadra política pernambucana, o que discutiremos mais tarde.  

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


quinta-feira, 20 de março de 2025

Editorial: Gleisi Hoffmann ainda não perdeu o sotaque da militância.



A nova Ministra da Secretaria de Relações Institucionais do Governo Lula 3, a deputada federal Gleisi Hoffmann, depois das polêmicas em torno de sua indicação para o cargo, já se pronunciou sobre o assunto, afirmando que entende bem as novas atribuições do cargo que assumiu recentemente. Uma coisa é a liderança do Governo, outra coisa é a direção partidária e outra, bem diferente, é a articulação política ou institucional do Governo. Mesmo assim, recentemente, ela fez algumas ponderações acerca das crítica de governadores de oposição ao Governo Lula 3. Eis aqui um posicionamento mais afeito ao novo dirigente da legenda, o senador pernambucano Humberto Costa, que também teceu suas considerações acerca dos investimentos que o Governo Lula fez em Minas Gerais. Romeu Zema, de oposição, na realidade, é um mal agradecido. 

Esse terceiro Governo Lula tem sido caracterizado pelos infindáveis tropeços. O próprio Lula, numa infelicidade sem tamanho, argumentou que a teria indicado ao cargo por ela ser bonita e que, assim, evitaria problemas com o pessoal do Centrão. Sua relação com o eleitorado feminino ficou estremecida, num momento em que ele tenta, desesperadamente, recuperar a popularidade perdida. Os dados não são nada alvissareiros. A última pesquisa do DataPoder indica que a sangria de popularidade continua. 

Agora é Gleisi Hoffmann, que faz suas ponderações, algo que poderia ter sido perfeitamente evitado ou não dito por ela, em relação ao lugar de sujeito, para usarmos uma expressão do filósofo francês, Michel Foucault. No cargo, os impulsos da militância partidária precisam ser contidos. Gleisi Parece ter esquecido que os estados tem representantes no parlamento e esses, geralmente, mantém bom trânsito com seus governadores, o que pode dificultar as relações institucionais. Principalmente porque estamos tratando aqui de governadores que fazem oposição ao Governo Lula.  

Editorial: A pesquisa do fim do mundo para o Governo Lula 3.



O Instituto Quaest\Genial realizou uma pesquisa junto a empresários e investidores para conhecer o humor desse pessoal em relação ao Governo Lula 3. Os petistas mais radicais devem, neste momento, ponderaram sobre o viés de uma pesquisa desta natureza. É como se fosse realizada uma pesquisa sobre o Palmeiras na torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel,  ou sobre o Grêmio dentro de um reduto colorado. Estivemos dando uma olhada nos outros detalhes da pesquisa e, de fato, ela pode ser entendida, assim como na chamada do editorial, como uma pesquisa do fim do mundo sobre o governo Lula 3. Perspectivas de juros altos, retomada do processo inflacionário e pessimismo sobre a possibilidade de que as medidas até aqui adotadas possam reverter tal situação. A rejeição ao Governo Lula3 neste nicho do PIB nacional é de 88%. A pesquisa foi realizada no eixo Rio\São Paulo. 

Setores do partido, talvez hegemônicos hoje na condução das políticas públicas do Governo, fazem ouvidos de moucos acerca dessa reação do mercado, que, aliás, não é de hoje. Lá atrás o presidente da Cosan, Rubens Ometto, empresário privado que mais contribuiu financeiramente para o PT nas eleições presidenciais de 2022, já afirmou que estávamos lascados, durante um evento que reunia, inclusive representantes do Governo. Sabe-se, como afirma Lula, que o mercado não tem coração nem sentimento. Por outro lado, a dinâmica da economia realmente não permite essa gastança desenfreada, de forma irresponsável, sem lastro, apenas como um expediente eleitoral para se viabilizar politicamente nas próximas eleições. O processo é tão errático que o Governo transfere rubrica de gastos de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida para essas novas políticas sociais e abertura de créditos populares. De uma coisa temos certeza: Isso dá inflação. Se vai dá voto é outro departamento. 

O andar de cima, a Bélgica de nossa Belíndia, na expressão criada pelo economista Edmar Bacha, um dos idealizadores do Plano Real, Não desejam pagar a conta da concessão da isenção de imposto de renda para ganha até cinco mil reais. Essas contas não batem e, em momentos, assim, a prudência recomenda tirar o pé do acelerador de gastos. Não há Governo que recupere a popularidade com índices de inflação em alta. O controle das contas públicas deveria ser a meta principal do Governo Lula 3. A austeridade de Gabriel Galípolo, do Banco Central, indicado por Lula, foi o único que escapou da degola do mercado. Ele está no caminho certo e aconselhou o Governo a fazer o mesmo.  

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


Charge! Laerte via Folha de São Paulo.

 


quarta-feira, 19 de março de 2025

Editorial: O equilíbrio instável do governador Tarcísio de Freitas.



Não há dúvidas de que o mainstream conservador vem dando suporte às pretensões políticas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Antes relutante, ele hoje se parece mais identificado com este projeto, talvez antecipando-o para as eleições de 2026, quando era o seu objetivo, em princípio, renovar o contrato de locação com o Palácio Bandeirantes. A revista Veja, na semana passada, trouxe uma longa matéria tratando deste assunto, com o sugestivo título de chamada: O Plano 'T". Vamos ser francos por aqui. Sugere-se que a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro é bastante complicada, talvez mesmo inviabilizando uma nova candidatura presidencial para 2026. Aliás, sua inelegibilidade vai até 2030, quando teremos novas eleições e, se mantidas tais condições, ele ainda não poderia habilitar-se. 

O Estadão, num dos seus polêmicos editorias, discute a posição desconfortável e missão quase impossível do governador em relação a sua cria, Jair Bolsonaro, de quem foi ministro. O articulista cita o ex-governador Leonel de Moura Brizola para lembrar que, em política, como preconizava o caudilho, ama-se a traição, mas abomina-se o traidor. O governador Tarcísio de Freitas vive este dilema. O discurso dele na Paulista estava eivado de ponderações críticas ao Governo Lula 3, focado, por exemplo, em questões como carestia e segurança pública. Sua defesa do ex-chefe e do projeto de anistia teria sido sublimada diante das questões que o colocaria, num eventual futuro político, em contraposição ao Governo do PT. Até mesmo a camisa que ele suava foi lembrada. Embora da seleção brasileira, conforme padrão do bolsonarismo, era do uniforme reserva, na cor azul.

Sugere-se que o andar da carruagem neste momento não dependa apenas de suas convicções pessoais. Ninguém tem dúvida de que ele foi sempre muito leal ao ex-presidente Bolsonaro, a quem trata ainda hoje com grande reverência e admiração. Mas política é um pouco essa coisa. A traição faz parte do jogo. Alguém da crônica política nacional estava observando hoje que o próprio PL anda assumindo posições e estratégias que desvincula a agremiação política do extremismo.   

Editorial: A "Belíndia" já começa a reclamar.



O Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo em termos de distribuição de renda. Este assunto volta à tona no momento em que o Governo Lula está propondo a isenção de taxação da Receita Federal para quem recebe até cinco mil reais por mês. Para equilibrar o jogo, porém, o Governo propõe que os mais ricos compensem essa perda de arrecadação, contribuindo um pouco mais, o que já levanta protestos desses aquinhoados ou privilegiados. É sempre assim. Os do andar de cima da pirâmide social jamais se dispuseram a oferecer algum sacrifício em relação ao andar de baixo. A proposta do Governo ainda deve ser apreciada pelo Congresso, onde o presidente Lula já manifestou o deseja de que o projeto venha ainda melhor, permitindo que os privilegiados continuem comendo seu filé mignon e a sua picanha, mas os de baixo possam continuar consumindo outros cortes menos nobres, a exemplo do osso buco, da costela e do peito com osso. 

Curioso que mais uma vez - parece que não tem jeito - Lula cometeu mais um escorregão, ao afirmar que os pobres poderiam comer também o filé mignon , já prometido pelo Ministro da Fazenda Fernando Haddad, numa outra ocasião. A psicologia explicaria esses atos falhos de Lula como um desejo inconsciente. Ele realmente gostaria que esse estrato social pudesse ter acesso ao produto, mas está difícil. Até o ovo andou sumindo da mesa dos mais pobres. Certamente o projeto sofrerá mudanças e podem ter certeza que o quinhão dos mais ricos serão preservados, assim como os supersalários sumiram das discussões quando Fernando Haddad apresentou o seu pacote de corte fiscal.  

Existem alguns livros que todos os estudantes universitários brasileiros - seja qual for a sua graduação - precisar ler para começar a entender o Brasil. Quando estávamos no batente de sala de aula, dávamos sempre um jeito de inseri-lo nas nossas ementas, seja lá qual fosse a disciplina a ser ministrada. O termo "Belíndia" criado pelo economista Edmar Bacha, em 1974, quando um dos país do Plano Real, onde ele explica que temos as leis e os impostos da Bélgica e a realidade social da Índia, é um desses livros que precisam ser retirados da estante urgentemente. Foi muito feliz o economista, que ganhou o prêmio Jabuti com o texto. 

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


terça-feira, 18 de março de 2025

Editorial: O PT que não tem rusgas com Maduro.



Existe um PT que não mantém qualquer tipo de rusga com o líder venezuelano, Nikolás Maduro. Ao contrário, quando o presidente Lula ensaiou algumas ponderações críticas sobre o que ocorre naquele país, sofreu o patrulhamento desse grupo, um grupo orgânico da legenda, com maiores afinidades com os movimentos sociais, a exemplo do MST. Esse grupo voltou a exercer uma efetiva ascendência sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente a partir da refrega de popularidade que o presidente enfrenta neste momento. Diante das contingências adversas, Lula passou a ciscar para dentro, na avaliação de alguns analistas. 

Este grupo esteve presente na cerimônia de posse do novo mandato do presidente venezuelano e, não raro, recebe convites para participar de outras cerimônias oficiais. Maduro chegou a declarar que as rusgas com Lula são coisas do passado, talvez interpretando, a partir desses movimentos de grupos da legenda, que a reconciliação é só uma questão de tempo. E, por falar em MST, o presidente Maduro anunciou que está doando algo em torno de 188 hectares de terra para o movimento, num projeto agrário que está sendo desenvolvido naquela país, com a participação de outros movimentos sociais e até de militares.

Essas terras teriam sido desapropriadas, possivelmente em algum projeto de reforma agrária, e o presidente resolveu doá-las ao MST. No Brasil, o movimento se arregimenta como pode. Nas últimas eleições elegeram vários representantes do grupo para as câmaras municipais. Não conhecemos o projeto proposta pelo líder venezuelano. O que se especula, no entanto, são as eventuais trocas, ou seja, possíveis projetos do Governo do Brasil naquele país, como ocorreu no passado.    

Editorial: Finalmente, o Congresso vota o orçamento nesta semana.



Não vamos aqui esmiuçar a LOA - Lei Orçamentária Anual - pela ausência de dados mais concretos, mas, por outro, lado, preocupa a ginástica que o Governo Lula 3 vem fazendo em relação ao assunto, diante de um cobertor curto, para atender às necessidade de arranjar recursos para novas políticas sociais e concessões de créditos. A tesoura passaria por programas já consagrados, a exemplo de Minha Casa Minha Vida e do Bolsa Família. O deputado federal pelo Partido Progressistas do Piauí, Júlio Arcoverde, relator, queixa-se dos inúmeros ofícios recebidos do Planalto, o que o contingenciava a convidar os assessores parta fazer os ajustes necessários, consoante as novas diretrizes. O Ministério do Planejamento, por exemplo, segundo notícia do site Poder 360, sugere retirar recursos do Minha Casa Minha Vida e redirecioná-lo para o Vale Gás. 

Na realidade, a rigor, quando propôs a ampliação desse Vale Gás, o Governo não dispunha de recursos para atendê-lo. A prudência recomendaria tirar o pé do acelerador de gastos e  não prometê-lo, mas vá explicar isso a alguns setores do Governo, aliás, o setores mais influentes hoje, com grande ascendência sobre o presidente Lula, que advogam a tese de fertilizar o terreno para as eleições presidenciais de 2026. Ajuste fiscal aqui é palavra proibida. Soa como austericídio. No dia ontem, 17, comentávamos por aqui sobre as avaliações do economista Maílson da Nóbrega, em matéria da revista Veja, onde preconiza a tese que essas concessões de novos créditos irá nos conduzir, na realidade, ao aumento dos índices  inflacionários. E possivelmente endividamento maior da população. Os grifos são nossos. 

Por outro lado, o que se sabe, na realidade, é que a votação estava travada por outros motivos. Mais uma vez em razão da ingerência dos outros Poderes da República em relação à transparência sobre as emendas parlamentares, que se tornou uma queda de braços entre o Legislativo e o Judiciário. Neste meio termo eles voltaram a aprovar um dispositivo que continua não identificando os beneficiários dessas emendas. No último domingo, na jornal Folha de São Paulo, há um imperdível artigo da jornalista Dora Kramer tratando deste assunto. 

Charge! Quinho via Correio Braziliense.

 


segunda-feira, 17 de março de 2025

Charge! Laerte via Folha de São Paulo.

 


Editorial: O apoio do PSD ao projeto de anistia bolsonarista.


Crédito da Foto: Poder360


Até recentemente, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ter mantido um diálogo com o presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab, onde a pauta da anistia aos implicados e condenados pelo 08 de janeiro esteve no epicentro da agenda. O ex-presidente saiu animado do diálogo entre ambos, alegando o apoio de Kassab, que não negou a informação. Depois de fustigar os membros da Suprema Corte, talvez seja este o maior projeto político dos bolsonaristas, algo que embalou as manifestações do dia de ontem, 16, e devem pautar as eleições presidenciais de 2026. Numa análise fria da correlação de forças no parlamento, o Governo Lula 3 não  reúne a menor condição de barrar este projeto, que esteve na mesa de negociação dos novos líderes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. 

Os partidos do Centrão, na realidade, só têm compromissos com emendas e cargos. São essencialmente pragmáticos. Setores do MDB já estudam concretamente a possibilidade de não endossarem o projeto de reeleição de Lula para 2026. Há uma movimentação do senador Ciro Nogueira, do PP, dos Republicanos e do União Brasil também neste sentido. Kassab se movimenta no tabuleiro da política nacional com bastante desenvoltura. É da base do Governo, mas estimula as aspirações do governador Ratinho Junior ao Planalto. A questão que se coloca é como Bolsonaro conseguiu convencer o presidente do PSD a embarcar nesse projeto? Algum arranjo na quadra paulista? 

No dia ontem estávamos lendo um artigo do economista paraibano, Maílson da Nóbrega, publicado na revista Veja, onde ele manifesta sua preocupação sobre a elevação dos índices inflacionário, estimulado pela política de novas concessões de crédito do Governo Lula 3. É impressionante como há um consenso sobre os equívocos dessa gastança do Governo. Mesmo assim, sugere-se que ela é irrefreável. Preparem o bolso. 

Charge! Kleber Sales via Correio Braziliense.

 


Editorial: Lula entrega a Dirceu a missão de "pacificar" o PT.

Crédito da Foto: Poder 360. 

Comendo o mingau quente pelas beiradas, conforme recomenda o ditado, gradativamente, o ex-Ministro da Casa Civil do primeiro Governo Lula, José Dirceu, ensaia sua volta à vida pública. Recentemente comemorou seu aniversário num restaurante em Brasília, em grande estilo, com 500 convidados de peso, que o trataram como comandante. Muitos órgãos de imprensa resolveram esmiuçar o currículo ou o cargo ocupado pelos convidados para, quem sabe, estabelecer algum parâmetro do prestígio do aniversariante. Não é este o nosso caso. Estima-se que em 2026 ele será candidato a deputado federal por São Paulo. Numa entrevista ao Correio Braziliense, o ex-líder petista afirmou suas preocupações com os rumos que estaria tomando o partido, prestes a uma divisão interna de consequências graves. 

É preciso tomar sempre os cuidados necessários ao falarmos aqui de "divisão" do Partido dos Trabalhadores, um partido que já nasceu dividido em sua origem. O que talvez estivesse preocupando Dirceu naquele momento seria uma cisão ou defecção de alguns grupos da legenda. Em seus 45 anos de História talvez o partido nunca tenha enfrentando uma crise nessas proporções. Até mesmo a tendência de Lula, a CNB, encontra-se dividida em relação ao nome de Edinho Silva, já ungido pelo morubixaba para liderar o partido a partir de junho. O deputado federal Rui Falcão recentemente lançou uma carta à militância, habilitando-se para o cargo, com acenas aos setores mais autênticos ou à esquerda da legenda. Carta de militante, daquelas que advogam que setores do partido estão fazendo o jogo do liberalismo de mercado e que é preciso uma correção de rumo, como uma volta às origens.  

O que se especula é que Lula teria entregue ao líder José Dirceu a missão de pacificar a legenda, o que não seria uma tarefa muito simples, mesmo em se tratando de alguém com o trânsito e a habilidade política do grande timoneiro. Especulou-se que o regionalismo seria o fator determinante em relação às brigas internas da legenda. Pelo andar da carruagem política, hoje podemos concluir que não se trata apenas disso as resistências de alguns grupos internos ao nome de Edinho Silva. O feeling político aguçado de José Dirceu já deve ter percebido outras variáveis. Na nossa modesta opinião, um nome paulista até que seria bem-vindo, se considerarmos os percalços que o partido enfrenta no maior colégio eleitoral do país. 

domingo, 16 de março de 2025

Editorial: Um Congresso que não se emenda II.


Oportuno, lúcido e republicano o artigo escrito pela jornalista Dora Kramer, na edição de hoje, dia 16, no jornal Folha de São Paulo, onde ela trata de um Congresso que resiste em aceitar o requisito primário da transparência sobre as emendas parlamentares. Estão sempre criando algum artifício para fugir a este requisito que depõe, como afirmou a Ministra Rosa Weber, ainda em 2022, quando instigada a pronunciar-se sobre o famigerado orçamento secreto, contra os princípios da própria democracia. Não adiante levantar a Constituição durante os discursos, mencionar a palavra democracia dezenas de vezes, fazer referência ao Dr. Ulisses Guimarães e, na prática, defender essa excrescência do orçamento secreto. 

Não é uma questão de dar uma satisfação ao STF, mas trata-se, na realidade, de dar uma satisfação aos seus eleitores, os cidadãos brasileiros que pagam seus impostos, alguns deles com desconto na fonte, incapazes de adotarem quaisquer artifício de sonegação, caso dos servidores públicos federais, que estão com suas recomposições salariais interrompidas em razão da não aprovação da LOA. Depois de decisão de Rosa Weber, quem entrou nesta casa de marimbondos foi o Ministro Flávio Dino, que realiza uma cruzada moralizante em relação às concessões, utilização e, principalmente, a prestação de contas do dinheiro público liberado para essas emendas, onde, na prática, a Polícia Federal já constatou inúmeras irregularidades. 

Arguta, observadora privilegiada da cena política do país, não surpreende os insights da jornalista Dora Kramer, desta vez tratando de um tema nevrálgico para a sociedade brasileira. É por isso que nos inquietamos quando alguém afirma que a nossa democracia está consolidada e que as nossas instituições são sólidas, quando, na realidade, não dão bons exemplos. A não transparência do orçamento público fere princípios basilares de nossa Constituição. Parabéns a jornalista pelo artigo. 

Editorial: Os bolsonaristas estão perdendo a capacidade de mobilização.



A partir de 2013, quando foram iniciados os assédios mais efetivos contra o ordenamento democrático no país, a partir das mobilizações denominadas de Jornadas de Junho, aprisionada por grupos de extrema direita, que conseguiram, de forma efetiva, colocar o bloco de direita nas ruas, gradativamente eles estão perdendo força. Difícil apontar aqui os motivos para este debacle, mas de fato isto está ocorrendo no país, mesmo sabendo do climão favorável aos grupos de direita neste momento histórico. Na realidade, também no Brasil, a direita ou extrema direita - eles abominam essa denominação - continua forte e competitiva. Nossa observação aqui diz respeito apenas às mobilizações de rua que, no passado recente, já foram mais prestigiadas pelas apoiadores. 

Segundo dizem, o Palácio do Planalto lançou uma lupa sobre este último movimento da direita, por motivos óbvios. Há uma frente de batalha institucional no Congresso que articula votos para aprovar a anistia aos envolvidos nos atos de 08 de janeiro. O ex-presidente Jair Bolsonaro tem feito um corpo a corpo neste sentido, conversando com lideranças de partidos que integram o Centrão. O processo exige apenas uma maioria simples, o que facilitaria o trabalho da oposição. Se essas mobilizações ganham força nas ruas, isso poderia se refletir favoravelmente sobre as articulações institucionais. 

Uma outra questão em jogo seria a programação de uma mobilização de artistas ligados aos movimentos de esquerda, que pretendem também se manifestarem contra a anistia, exigindo a punição aos envolvidos. Sem anistia. Como a esquerda encontra hoje enormes dificuldades de reunir seus apoiadores, uma mobilização de grande proporção organizada pela direita seria um escorregão logo de saída, suscitando o acanhamento do campo progressista. 

Editorial: Bolsonaristas nas ruas pela anistia.



Logo mais, em Copacabana, os bolsonaristas estarão se concentrando para a primeira de uma série de mobilizações populares em defesa da anistia aos envolvidos e condenados pelos atos golpistas do 08 de janeiro, em Brasília. Segundo dizem patrocinadas pelo pastor Silas Malafaia, o evento contará com a presença de personalidades da política nacional, a exemplo dos governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro, os filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro, o senador Magno Malta, os deputados federais Nikolas Ferrreira e Gustavo Gayer. Por algum motivo, a esposa do ex-presidente, Michelle Bolsonaro, que sempre aparece muito bem nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, não estará presente ao encontro. 

O evento ocorre um pouco depois de nossa democracia completar 45 anos de existência, quando nomes que participaram dessa reconstrução vem a público para afirmar que as nossas instituições são sólidas ou que a nossa democracia é estável. O cenário que enxergamos não é bem este. Desde 2013 que enfrentamos alguns solavancos políticos, e quase o edifício ruiu em 2023, quando um projeto autoritário chegou a se pensado, articulado e por pouco não executado. A Polícia Federal num trabalho exemplar, desvendou toda essa trama, apontando as responsabilidades dos autores, recomendando seus indiciamentos pelos atos golpistas, algo que já se encontra sob a apreciação da Suprema Corte. Gente graúda, inclusive militares que já se queixam da omissão dos pares.  

O nosso sistema político democrático e republicano precisa, necessariamente, se contrapor aos seus algozes.  Quem ler Gilberto Freyre fica sabendo porque, no Brasil, tudo se resolve com um tapinha nas costas. O Brasil talvez seja um caso único de experiência golpistas onde violadores dos mais elementares direitos humanos passaram para o outro plano sem serem cobrados sobre as atrocidades cometidas durante o período de exceção. Se continuarmos nesse diapasão, o mais provável é que essas iniciativas de caráter golpistas continuem vicejando entre nós.