pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 7 de março de 2023

Editorial: O PT deve caminhar com Boulos para a Prefeitura da Cidade de São Paulo, em 2024



De acordo com o Ministro das Relações Instituciinais, Alexandre Padilha, Lula deve mesmo apoiar o nome do Deputado Federal Guilherme Boulos, do PSOL, para a Prefeitura da Cidade de São Paulo, nas eleições municipais de 2024. A repercussão desta notícia tem uma razão de ser. Afinal, não é todo dia que podemos observar o PT abdicar de sua condição de protagonista no campo das esquerdas no país. Unidade sim, desde que vocês nos apóem. O contrário é diversionismo, é tentar fazer o jogo da direita. Nem precisamos mencionar por aqui os casos mais emblemáticos, mas é importante lembrar o caso de Ciro Gomes, do PDT, quando Lula estava preso e não poderia disputar eleições presidenciais daquele ano.  

A eleição de São Paulo será mais um duelo renhido a ser travado entre as forças do campo progressista e as forças do campo do atraso, do retrocesso político e civilizatório. Ali deverá ser travada, nas eleições de 2024, o primeiro round de um embate que tende a se reproduzir nas eleições presidenciais de 2026. Antes, quando da hegemonia política dos tucanos, aquele reduto político era conhecido como tucanistão. Pelo andar da carruagem, os jornalistas precisam encontrar um termo que dê conta da atual condição dequela praça, que está se transformando numa trincheira do bolsonarismo. 

Os petistas não têm dúvidas de que o atual governador Tarcísio de Freitas, deverá disputar as próximas eleições presidenciais pelo campo das forças conservadoras, vale dizer, bolsonaristas. Segundo analistas, o cálculo político de Lula deixar seu feriado de carnaval na Bahia para acompanhar os trágicos acontecimentos das enchentes de São Gonçalo, teria este elemento em jogo. Antes que os petistas raízes nos trucidem, informamos que Lula tem a dimensão exata das responsabilidades do cargo que ocupa e é uma pessoal solidária e sensível ao sofrimento alheio. É um fato que tais fatores também pesaram em sua decisão.   

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


Editorial: Lula decide manter Juscelino Filho e Ciro Gomes vem aí.



O lobby conservador pela manutenção de Juscelino Filho no cargo de Ministro das Comunicações foi grande. Possivelmente maior do que o exercido pelas alas mais ideológicas do PT. No final, Lula acabou cedendo ao lobby conservador, mantendo Juscelino Filho no cargo. O custo político a ser pago não será pequeno. O ônus maior vem, sobretudo, de sua base aliada, inconformada com a decisão. Existe até uma perspectiva de que o seu caso possa vir a ser examinado pela Comissão de Ética Pública. 

Ciro Gomes já avisou que a sua trégua ou tolerância termina em abril. Depois disso, irá se pronunciar sobre o governo do petista. Na realidade, não deve ter sido as explicações de Juscelino que pesaram para mantê-lo no cargo. O cálculo de Lula deve ter sido outro. Principalmente os fatores que estavam em jogo nesta decisão, como a sua já conturbada relação com o União Brasil. Um lado bom quando esses escândalos estouram é que surgem fatos que, por vezes, não tem nem uma relação tão orgânica com os escândalos. 

A atuação de Juscelino Filho, como parlamentar, também foi bastante questionada pelas redes socais, no dia de ontem. São três mandatos e poucos projetos, exceto um deles instituindo o dia do cavalo. Se, por um lado, Juscelino não teria muito a contribuir com o Governo Lula, por outro lado, Ciro pode contribuir, e muito, independentemente do fato de encontrar-se na oposição. Ciro é um cara sério, íntegro e preparado. Uma pena que os descaminhos da política tenha  colocado o cearense em campo praticamente oposto ao do PT. 

Não se sabe, ainda, como o PDT irá gerenciar essa questão, uma vez que o partido integra a base aliada do governo Lula, ocupando, inclusive, uma pasta ministerial. Ciro, por seu turno, nunca respeitou muito essas formalidades. O terceiro Governo Lula começa com uma tempestade de acertos, retomando políticas públicas importantes, cuidando das pessoas, do meio-ambiente, reestabeleendo o lugar do país no contexto da política internacional. Por outro lado, tem pecado em miudezas, como uma decisão equivocada sobre a manutenção no governo de um ministro que cometeu alguns equívocos.      

segunda-feira, 6 de março de 2023

Charge! Thiago Via Jornal do Commércio

 


Editorial: No encontro de hoje, Lula define o destino do ministro Juscelino Filho



Juscelino Filho, Ministro das Comunicações, terá um encontro decisivo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, logo mais, no Palácio da Alvorada. Lula espera dele alguma explicação razoável sobre as denúncias que pesam contra ele, mas, a rigor, a situação chegou a um limite onde não há mais volta. No caso específico, é difícil explicar algo que não se explica. O próprio ministro já teria se antecipado e ressarcido o erário de despesas irregulares contraídas em nome da viúva, como a utilização de aeronaves oficiais em eventos de natureza privada. 

Hoje, 06\03, um grande jornal paulista aponta indícios sobre a eventual contratação de um sócio do seu haras como servidor fantasma. Exitem muitos problemas, o rolo é grande, mas, se tivéssemos que apontar a gota d'água que deverá levar Lula a pedir sua saída do cargo, diríamos que a recontratação absurda de bolsonaristas afastados podem definir o seu destino. Pelo menos dez ex-bolsonaristas foram recontratados na estrutura do Ministério das Comunicações, alguns deles simplesmente voltando às funções que ocupavam no ancien regime. 

Este é um assunto sobre o qual temos discutido por aqui com um certa frequência, portanto, vamos poupar nossos diletos leitores de mais uma discussão. Um dos editoriais do Estadão aponta a absoluta falta de noção do ex-presidente em relação à fronteira do que seja interesse privado e do que seja responsabilidade com a res publica. Espírito público é algo que não consta do dicionário do ex-presidente. Os desmandos na ocupação do cargo são tão escabrosos, que, certamente, permitiram este clima de licensiosidade reinante. O uso indevido do cartão corporativo é um desses exemplos mais emblemáticos.   

Há alas do partido sensivelmente preocupadas com as repercussões negativas dos episódios envolvendo Juscelino Filho e, a rigor, já entregaram sua cabeça de bandeja ao presidente Lula. Lula não resiste, mas ganha tempo, uma vez que a manobra envolve alguns lances complicados no tabuleiro político. Sua relação com o União Brasil, partido que indicou o ministro, por exemplo, não é das melhores. Alguns indicados, sequer, representam a vontade dos caciques da legenda, a exemplo de ACM Neto, que tinha no colete um correligionário baiano, recusado por petistas da terra de Jorge Amado; Lula estabelece com Luciano Bivar, Presidente Nacional da Legenda, um canal de comunicação privilegiado, o que significa, igualmente, uma penca de nomes para ocupar cargos no governo; Por último, mas não menos importante, há rumores que de que Lula possa entregar o Ministério das Comuniações ao PSD, de Gilberto Kassab. Observando esses bastidores de camarote, mas não menos preocupado com o seu desfecho, o Ministro da Justiça, Flávio Dino. Juscelino Filho tem base política no seu Estado, o Maranhão. Nem precisamos entrar nos detalhes.     

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 5 de março de 2023

Editorial: Um escândalo na largada de Michelle Bolsonaro.



A ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro(PL), já havia acertado todos os detalhes da largada de sua carreira política junto à direção do PL. Assume o comando do PL\Mulher e vai receber um salário do partido para cobrir os custos dessa empreitada, com o propósito de projetar o seu nome para as eleições de 2026. Não se sabe ainda qual o cargo que ela objetiva disputar, mas os sonhos são altos. Michelle tem recebido todo o apoio do presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto. Parece não haver um consenso, porém, dentro da própria família Bolsonaro em torno do assunto. Neste último encontro de conservadores nos Estado Unidos, com a presença do ex-presidente Donald Trump, em seu discurso, Jair Bolsonaro aventou a possibilidade de voltar a disputar a Presidência da República nas eleições de 2026. 

É sempre bom começar um projeto novo com grande entusiasmo e, de fato, a ex-primeira-dama, pelo andar da carruagem política, parecia mesmo muito entusiasmada com a proposta. Agora surge este nebuloso caso das joias doadas pelos sheiks da Arábia Saudita, um enredo das arábias, envolveldo a Presidênfia da República do (des)governo anterior; vários minitérios; negociações de estatais abaixo do preço de mercado; avaliações realizadas pelo Banco do Posto Ypiranga; mulas com status de militares de alta patente; apreensão da muamba pela Receita Federal; Sucessivas tentativas de carteiradas para a liberação, cujo o objetivo não seria tranformar os bens em acervo público; resistência de abnegados servidores efetivos da Receita Federal em não permitir que a lei fosse burlada; um enredo que faria inveja aos melhores roteiristas de Hollyhood. 

O nosso jornalista com o "faro" mais apurado, o Luis Nassif, já andou sugerindo que o beneficiário, na realidade, não seria Michelle, mas o próprio militar, transformado em mula. Bem aqui para nós. Como foi possível isso? militares brasileiros de carreira, de alta patente,transformados em "mulas", uma vez que este não seria o primeiro caso. Os militares brasileiro, por iniciativa própria, deveriam se imiscuirem completamente desse envolvimento político, voltando a cumprir, estritamente, seus deveres constitucionais, que seria o de defender as nossas instituições democráticas. Essa aproximação política foi completamente tóxica.  

Em relação a essa aproximação dos militares com a política, aqui se aplica uma máxima, atribuída ao ex-presidente Jânio Quadros: Intimidades geram filhos e aborrecimentos. Isso vale para qualquer perfil de governo, seja de corte autoritário, seja de corte democrático e republicano. Quanto à primeira-dama, não sei se poderíamos dizer que ela queimou a largada, mas, de certo que não fica nada bem iniciar uma carreira política tendo que administrar um escândalo das arábias.  

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 4 de março de 2023

Editorial: Uma muamba das arábias



Quando a gente pensa que já viu de tudo sobre o Governo Bolsonaro, eis que surge o caso das muambas das arábias, algo que está alcançando ampla repercussão pelas redes sociais. Nunca vi algo com tantas pontas desamarradas, a começar pelos valores pagos pelos Emirados Árabes ao arrematar o leilão da refinaria de Landulpho Alves, na Bahia, segundo analistas, por um preço bem abaixo do mercado, gerando um grande prejuízo para os cofres públicos. A refinaria, trocando em miúdos, foi vendida pela metade do preço. A diferença é pequena, algo em torno dos 11 bilhões de reais apenas. Nem culpo o Governo Bolsonaro por este problema, uma vez que, tal procedimento tem sido recorrente no que concerce ao processo de privatização do patrimônio nacional. 

A Companhia Vale do Rio Doce, também foi arrematada por um valor bem abaixo do seu valor de mercado calculado, fato ocorrido no Governo de Fernando Henrique Cardoso. Só quem se beneficia com esse processo é a iniciativa privada e, naturalmente, agentes públicos que, eventualmente, agem de má-fé. O Governo Lula já teria pedido uma reavaliação do processo de privatização da Eletrobras por encontrar uma série de problemas, a começar pelos aumentos abusivos dos proventos de sua diretoria e do seu conselho de administração. 

No passado, ainda se apregoava uma melhoria na qualidade dos serviços prestados o que, hoje, com os maus exemplos observados, constitui-se numa outra falácia. Citamos o exemplo do Aeroporto Internacional dos Guararapes, aqui no Recife, onde os preços praticados pelos estabelecimentos comerciais se tornaram abusivos; os banheiros já não conservam o mesmo padrão de higienização; o ar-condicionado foi reduzido. Na oportunidde, uma internauta chamou a nossa atenção para o metrô de Belo Horizinte, segundo as suas palavras, "dado" à iniciativa privada, acarretando inúmeros problemas paras os usuários. 

Mas, voltemos às muambas. Por uma questão de "diplomacia", diagmos assim, os Árabes teriam presenteados os membros da comissão com relógios caríssimos - valores em torno de R$200.000,00 - e, supostamente presenteado, igualmente, a primeira dama, Michelle Bolsonaro, com joias cujo valor chegam aos 16 milhões de reais. É aqui que a porca começa a torcer o rabo, pois, ao invés de declarar as joias, pagar os impostos devidos e transformar a doação em bens pertencentes ao Governo Brasileiro, o presidente teria tentado passar na alfândega sem cumprir tais formalidades, delegando a um militar de sua comitiva a tarefa de trazê-las ao Brasil. 

Funcionários da Receita Federal impediram que tal processo se concretizasse, apreendendo a mercadoria. Taria havido, por parte do Governo Bolsonaro, utilizando-se de todos os expedientes possíveis, quatro tentativas de reaver essas jóias, inclusive uma delas há poucas dias do encerramento do seu mandato. Chegamos até a fazer os elogios merecidos aos funcionários públicos efetivos, do quadro e concursados da Receita, que fizeram cumprir a lei e impediram a famosa carteirada de seus superiores e outros órgãos do governo. Existe, em tais processos, suspeitas sobre eventuais atitudes não condizentes de agentes públicos, o que será devidamente esclarecido pela Polícia Federal, que já foi acionada pelo Ministério da Justiça.   

Editorial: O complicado caso de "desbolsonarização" do Governo Lula

 


Até entendemos quando o ex-executivo da Coca-Cola para a América Latina, Vicente Fox, assumiu o Governo do México, quebrando uma hegemonia de mais de sete décadas de poder do Partido Institucionalista Republicano - o PRI - com seu republicanismo apenas no nome, registre-se -, tenha encontrado inúmeras deficuldades para tocar a máquina sem o apoio de agentes desse partido, enraizados na burocracia estatal durante mais de setenta anos, pois faltaria o azeite necessária para fazer a engrenagem funcionar. Com sua expertise na iniciativa privada, Vicente Fox deve ter percebido este fato muito claramente, observando que não havia outro jeito. Era isso ou a máquina parava.  

Aqui no Brasil, num país de cultura patrimonialista e clientelística, o quadro é ainda mais caótico. Se não tomar alguns cuidados rigorosos, o PT começa a entrar numa espiral enrascada, com um forte risco de desgate de imagem; compromentimentos de suas políticas públicas e prejuízo para o perfil de republicanismo que pretende imprimir na gestão dos negócios públicos, aposta que a população brasileira fez ao votar no partido, numa tentativa de acabar com o descalabro em que estava se transformando a nossa burocracia estatal.

Termos como falcatruas, rachadinhas, propinas, vantangens indevidas, bandidagens contra os opositores, militarização e retrocesso autorititário se tornaram comuns. Eventuais tentativas de contrabando de jóias é a novidade mais recente. São os porões do desgoverno em que estávamos metidos, de acordo com as palavras de um ministro da Corte. Porões do obscurantismo republicano e do atraso institucional. O próprio Lula já observou, publicamente, que sente que a máquina está emperrada em alguns setores exatamente em razão dessa contaminação do bolsonarismo. 

Promover essa assepcia republicana na máquina é uma tarefa hercúlea, mas é fundamentalmente imprescindível fazê-la. Não seria, inclusive, um problema temporal, decorrente do período bolsonarista. Remonta aos costumes arraigados da sociedade brasileira. Começa pelo número absurdo de DAS (Direção de Assessoramento Superior). São mais de 22 mil nos cabides públicos. Depois da era bolsonarista, mais um agravante, um verdadeiro abacaxi para descascar, pois algo estimado em 8 mil deles são militares. 

Conheço repartições públicas onde os DAS eram uma espécie de capitania hereditária, com seus donatários e tudo mais. Quando o indivíduo titular do cargo se aposentava indicava alguém da família ou a amante para sucedê-lo. O Ministro das Comunicações deve mesmo estar com os dias contados. Ainda no dia de ontem, tomamos conhecimento de que os problemas com os quais ele está envolvido são ainda mais graves. Segundo está sendo divulgado pela imprensa, ele teria mantido dez servidores do Governo Bolsonaro  na atual estrutura da Secom. Seriam pessoas que ocupavam cargos de confiança. Isso parece estar se transformando numa prática, uma vez que o Ministro das Minas e Energias também indicou vários conselheiros do Centrão para o Conselho de Administração da Petrobras. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, classificou a atitude como um estelionato eleitoral.

P.S.: Contexto Político: Os comentários dos leitores por aqui são escassos, a julgar, sobretudo, pelo alcance do blog, limitado por uma série de fatores. Mas, eventualmente, recebo alguns e-mails com ponderações sobre os editoriais publicados. Neste sugiro ao PT tomar cuidados redobrados com a presença de bolsonaristas de carteirinha ocupando funções públicas estratégicas. A gente sabe que essa turma está cheia boas intenções. Um outro fator preponderante diz respeito à questão do nepotismo, que o leitor considerou um pouco desfocado do contexto. Aqui esclareço que não é. As nossas preoucupações diz respeito a um prócere petista, ocupando um cargo dos mais releventes na atual administração federal, que está prestes a incorrer neste equívoco. Vamos aguardar, sobretudo, que ele calcule bem a dimensão da encrenca que poderá está criando para a terceira gestão de Lula.      

Editorial: O que o Governo Lula deseja com a nova Abin?



Talvez o escritor Mário de Andrade tivesse uma resposta enigmática sobre essa questão, quando, por ocasião da Semana de Arte Moderna, cunhou a expressão: Nós não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos. É, talvez neste estágio, em que se encontre o Governo Lula no tocante ao destino da Abin, a Agência Brasileira de Informações. Os estragos produzidos nos órgãos de inteligência e segurança do Estado na era bolsonarista foram tão gigantescos que, a simples mundança de peças não resolveria o problema. Era preciso mexer em toda a engrenagem, de preferência numa oficina de absoluta confiança. 

A primeira medida foi retirá-la do controle dos militares do GSI e transferi-la para o Ministério da Casa Civil, comandado pelo baiano Rui Costa. Tal medida sugere que o governo está bem informado sobre onde funcionava o núcleo duro da tentativa frustrada do golpe de 08 de janeiro. Isso já se constitui um bom começo. Salvo melhor juízo, também já teria sido indicado um delegado da Polícia Federal para comandar o órgão. Não seria de bom alvitre um serviço de inteligência que escancarar as suas intenções, mas, como estamos em tempos mais transparentes, aponta-se que uma das principais missões do órgão daqui para frente seria a de monitorarmento dos grupos extremistas pelas redes sociais. 

Quando comentou sobre aqueles episódios o presidente Lula se disse estarrrecido com tanta desinformação, uma vez que as armações do golpe já circulavam pelas redes sociais há um bom tempo. É preciso definir bem o papel desses órgãos num contexto de um regime democrático. Contraditoriamente, numa democracia liberal, considerada como uma das mais avançadas e consolidadas do mundo, o presidente "encomenda" à sua agência de inteligência a preparação de golpes de Estado. Nos países dos outros, é claro. Os casos são inúmeros, mas os mais emblemáticos são os de Cuba, Chile, Nicarágua.  

Charge: Mariana Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 3 de março de 2023

Editorial: O que Lula está esperando para demitir Juscelino Filho?



As redes sociais, no dia de hoje, amanheceram pedindo a cabeça do Ministro das Comunicações do G overno Lula, Juscelino Filho. Segundo conseguimos apurar, as pressões existem até mesmo entre as hostes petistas mais próximas ao presidente. Há um consenso de que já existem evidências suficientes para o seu afastamento do cargo, independentemente dos arrependimentos e eventuais ressarcimentos de despesas irregulares ao erário. O terceiro Governo Lula inicia com uma arrancada bastante positiva e, ao nosso ver, torna-se urgente tomar alguns cuidados para não torna-se alvo dos ataques da oposição, como se isso fosse possível. Na verdade, o que queremos afirmar é a necessidade de não fornecer mais munições aos adversários de sempre. 

Lula governa, como se sabe, sob arreia movediça. A nossa sorte é que temos um cara com profunda sensibilidade social e muita habilidade política, suficientes para enfrentar as indisposições do mercado; os arroubos dos bolsonaristmo renintente; as agruras impostas pelas dificuldades de governabilidade, num contexto politico extremamente desfavorável; as disputas políticas entre os atores de sua base política mais próxima, já de olho nas eleições presidenciais de 2026. São muitas as dores de cabeça. É preciso ter nervos de aço. O momento ainda é de muita instabilidade institucional. Vamos ver, por exemplo, como reagirão os quertéis em relação a uma determinação explícita do Ministério da Defesa, proibindo qualquer tipo de nota em alusão ao golpe civil-militar de 31 de março de 1962.  

Passamos a nos perguntar então, porque Lula estaria protelando uma decisão sobre o seu Ministro das Comuniações, flagrado em práticas pouco condizentes ao que se espera de um gestor público. Alguns avaliam que seria prematuro, ainda, demitir um ministro antes de 100 dias de governo. O desgaste seria evidente, mas é preciso, avaliar, igualmente, o ônus de mantê-lo no cargo a despeito de tanto desgaste. Lula afirmou recentemente que irá ouvi-lo antes de tomar uma decisão a esse respeito.  

Existem dois elementos fundamentais no direito que, nesses tempos de trevas e obscurantismo, de execrações públicas e linchamentos morais, foram completamente obolidos dos dicionários jurídicos: A presunção de inocência e o amplo direito de defesa. Embora, neste caso, as evidências sejam praticamente conclusivas em relação a algumas das acusações - como, por exemplo, a utilização indevida de aeronaves oficiais - algo nos informa que Lula, tão calejado por injustiças, não deseja cometê-las em seus julgamentos.   

Charge! Mor via Folha de São Paulo

 


Editorial: Gleisi, a ideóloga do terceiro Governo do PT?



No arranjo da composição do terceiro governo Lula, a fiel escudeira Gleisi Hoffmann, chegou a ser cotada para ocupar um ministério. Salvo melhor juízo, a Casa Civil, que acabou sendo entregue ao ex-governador da Bahia, Rui Costa. Aliás, a Casa Civil mudou completamente de perfil no Governo Lula, conferindo importância estratégica e visibilidade ao seu ocupante, que já se apresenta como um eventual candidato às eleições presidenciais de 2026, quando Lula pendurar as chuteiras.Existe até algumas dúvidas sobre se, de fato, Lula pretende mesmo adotar a postura do ex-prefeito de São Paulo, Jânio Quadros. Há quem aposte que ele pretende continuar no cargo, disputando a reeleição. 
Por ocasião daquele arranjo, Lula determinou que a missão da petista seria mesmo continuar na direção do partido, contribuindo com o governo a partir daquela trincheira. Mesmo não ocupando nenhum cargo oficial além deste e o mandato de Deputada Federal, a petista vem se projetando nacionalmente por estabelecer uma espécie de balisamento das diretrizes gerenciais do governo Lula e, ao que se sabe, não vem sofrendo nenhum tipo de reprimenda do chefe. Temos dúvidas acerca do termo "balisamento gerencial". Talvez o mais adequado fosse algo relativo ao "filtro' ideológico e programático, o que daria na mesma coisa, pois isso acabaria determinando as diretrizes gerenciais do governo.  

Na semana passada ela deu um pito no Ministério da Fazenda, ao se pronunciar sobre a questão dos tributos dos combustíveis, deixando o titular da pasta, Fernando Haddad, numa saia justa ao encontra-se com o presidente Lula. Agora foi a vez do ministro Alexandre Silveira, das Minas e Energias, que recebeu uma admoestação da petista, por indicar nomes do Centrão, de perfil privatista, para o Conselho de Adminstração da Petrobras. Se já havia profundos questionamentos acerca dos acertos dessas privatizações em governos anteriores, os mais recentes contribuiram para degradar ainda mais a situação, com as revelações de dos casos escabrosos descobertos pelo governo atual.  

Estava acomoanhando um vídeo do próprio Lula tratando deste assunto. Ele tem razão quando afirma que se construiu uma narrativa equivocada sobre empresas públicas e empresas privadas. Tudo que é privado presta e tudo que público não presta. Veja-se o caso dos Correios e das Americanas, por exemplo. Os Correiros, com as contas ajustadas, nunca deram tanto lucro como agora. Ainda bem que sua privatização será interrompida. As Americanas produziram um rombo de bilhões, trazendo enormes dores de cabeça para o sistema financeiro. Aqui em Pernambuco, os serviços do Aeroporto Internacional dos Guararapes, um dos mais rentáveis do país, depois de privatizado, cairam sensivelmente de qualidade. O curioso é que foi uma empresa estatal que o arrematou.    

quinta-feira, 2 de março de 2023

Charge! Amarildo!

 


Editorial: A reengenhaira de segurança institucional que precisa ser montada por Lula




Pelo andar da carrugagem política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece estar bastante consciente sobre a nessecidade premente de se fazer profundas mudanças na estrutura de inteligência e segurança do Estado. Agora ele deve estar igualmente consciente dos motivos pelos quais deixou de ser informado sobre os acontecimentos do último dia 08 de janeiro. Houve um propósito e não necessariamente uma falha nos serviços de informações. Tais serviços de inteligência e informação precisam ser repensados dentro de um escopo republicano e democrático, que assegure, não o desmonte, mas a perenidade de um estado democrático de direito. 

Não vamos aqui entrar nos detalhes para não "melindrar" - já antecipamos que este verbo está na ordem do dia - ou mesmo ferir susceptibilidades. Por aqui, havíamos preparado um longo editorial sobre o contexto da negação do pedido de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, mas optamos por mantê-lo em stand by, para não provocar a ira das hordas bolsonaristas. É uma gente que não tem o menor escrúpulo no uso de expedientes nefastos para destruir os seus opositores. Não jogam limpo. Basta dar uma olhadinha no que está circulando pelas redes sociais em torno do assunto. 

Um cidadão ou uma cidadã, minimamente bem informado, sabe, hoje, com clareza, onde foi urdida a tentatva de golpe do último dia 08 de janeiro. Há endereço e nomes certos, que precisam enfrentar a clava forte da justiça ou serem sumariamente afastados de suas funções estratégicas. O problema é tão gigantesco que, em alguns casos, não seria suficiente mudar uma peça aqui e outra ali, mas a estrutura completa do órgão, como a retirada da ABIN do controle da GSI. A ABIN agora ficará surdinada ao Ministério da Casa Civil, comandadao pelo baiano Rui Costa. 

Convém aqui resgistrar que a má influência nesse aparato de inteligência e segurança remonta a um período anterior mesmo ao bolsonarismo. Embora não se posssa negar o papel preponderante do bolsonarismo neste processo, seja mudando estrutura; designando atores para cumprirem objetivos específicos; estabelecendo políticas. As águas, que nunca foram muito limpas ou transparentes em nosso incipiente processo democrático, ficaram ainda mais turvas a partir de 2013, quando foram iniciadas as tessituras que acabariam por minar o Governo da Presidente Dilma Rousseff. Como diria nossos avós, todo o cuidado é pouco. Muita coisa ainda precisa ser feita.  


Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 1 de março de 2023

Editorial: O óleo já está esquentando para as frituras políticas de 2026




No dia de ontem, o Instituto Paraná Pesquisas realizou sua primeira pesquisas sobre as próximas eleições municipais de 2024. Em tais circunstãncias, tais institutos sempre escolhem aquelas praças mais importantes, de maior visibilidade, algo que agregue valor ao levantamento. O Paraná Pesquisas foi um dos institutos mais bem-sucedidos das últimas eleições, tendo cravado um número expressivo de acertos, tanto no primeiro quanto no segundo turno daquelas eleições presidenciais. Criou-se uma atmosfera muito cinzenta em tordo de eventuais contratos do instituto, celebrados com o Governo Bolsonaro, mas nada que ofuscasse o profissionalismo do instituo que, no final, era isso que importava. 

Neste primeito levantamento o Deputado Federal Guilherme Boulos, do PSOL, aparece empatado, dentro da margem de erro, com o apresentador José Luiz Datena. Boulos crava 26,3%, enquanto Datena aparece com 24,3%. Ainda é muito cedo, muita água ainda deve rolar no rio daquela disputa, que promete ser um clássico a ser disputado entre forças ligadas ao Governo Lula e ao bolsonarismo que resiste.O grande nome do bolsonarismo para eleições presidenciais de 2026 deve ser mesmo o atual governador Tarcísio de Freitas. Comenta-se, até mesmo, que a decisão de Lula de visitar pessoalmente os locais e as pessoas atingidas pelas últimas enchentes no litoral paulista - além do componente de solidariedade de de responsabilidade pública do petista - havia um ingrendiente "politico". O bolsonarismo é mais forte, inclusive, em zonas afastadas da capital. Há uma possibilidade das candidaturas dos Deputados Federais Ricardo Salles e de Carla Zambelli para as próximas eleições municipais. Estamos diante, portanto, da fina flor do bolsonarismo.  

Para suceder Lula em 2026, as movimentações já estão num ritmo bastante acelerado, a julgar pelas escaramuças mais recentes. Não podemos falar de uma eventual queima de largada do presidente Lula ao oferecer as condições efetivas para tornar o professor Fernando Haddad o seu nome preferencial na corrida presidencial de 2026. Geralmente é isso o que ocorre. No plano federal são os superministros, no plano estadual, os supersecretários. No caso do PT, na realidade, o que está ocorrendo é que os demais aspirantes ao cargo estão se mobilizando com o mesmo projeto em curso e isso implica, naturalmente, num jogo de escaramuças e manobras, objetivando desgastar o eventual concorrente. O futuro dura muito tempo e, quem sabe, um outro ator político pode cair nas graças do morubixaba. 

Ás vezes, tais escaramuças são produzidas por iniciativas próprias, em outros casos, pode contar com o sinal verde do morubixaba. Pegou muito mal para Lula, por exemplo, permitir um pronunciamento público da presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, acerca de algumas posições de condução da política econômica do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, envolvendo este assunto polêmico dos tributos dos combustíveis. Ela não foi repreendida, embora Lula tenha ligado parao pupilo com o objetivo de desculpar-se. O estrago, no entanto, já estava feito. É preciso tomar cuidado com as manhas do morde e assopra.  

A lista dos pretendentes à cadeira presidencial no campo aliado é enorme e, a partir de agora, os aspirantes terão que se preocupar não apenas com a gestão de suas pastas, mas, sobretudo, em tomar os cuidados necessários ou reagir à altura em relação às manobras de bastidores. Devem alimentar aspirações presidenciais o senador Camilo Santana, Ministro da Educação; Wellington Dias, do Desenvolvimento Social; Rui Costa, da Casa Civil. Comenta-se, igualmente, na possibilidade dos nomes de Aloízio Mercadante e da própria Gleisi Hoffmann.  

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Editorial: A frigideira petista está no "ponto".



Há algum tempo, este editor mantinha uma proximidade - sobretudo em função das contingências acadêmicas e partidárias - com um bispo anglicano ligado ao Partido dos Trabalhadores. Formado no IUPERJ, ele foi o primeiro cientista político aqui do Estado. Naqueles tempos bicudos, quando da primeira eleição de Lula à presidência do país, ele cumpriu a espinhosa missão de demover as resistências ao petista nas hostes evangélicas. A missão, hoje, seria bem mais espinhosa. Naquela época dizia-se apenas que Lula era comunista. 

No bolsonarismo de hoje, o termo pode ser considerado até um elogio. Tal vocabulário, de caráter depreciador de imagem, foi ampliado sensivelmente. Solidário, sensível, homem de um grande diálogo, abriu caminho para este então jovem estudante de pós-graduação estabelecer contatos com próceres atores daquele grêmio partidário, além de particpar dos encontros daquela agremiação política. Encontros que, aliás, ocorriam com maior frequência no passado. Era um bom momento para lavar as roupas sujas. Lavar en enxaguar, para depurar as impurezas, conforme recomendava o escritor Graciliano Ramos, numa referência ao texto literário, mas que se aplica à situação. 

Além dessas qualidades, sempre de bem com a vida, o pastor também tinha um grande senso de humor. Aliás, um humor mordaz, registre-se. Naqueles tempos, o PT chegava pela primeira vez à Prefeitura da Cidade do Recife e havia um secretário que tinha a alcunha de Peixe. Quando o tal secretário entrou numa fase de desgaste, a executiva estadual do partido organizou uma grande reunião para decidir sobre o seu destino, que foi seguida de um jantar. Aproveitando a deixa o professor foi sarcástico: dizem que no jantar será servido peixe frito. Não sabemos como anda a dispensa do Palácio do Planalto, tampouco o que teria sido servido ao ministro Fernando Haddad no dia de ontem. Mas, a rigor, isso não se constitui um bom parâmtro, uma vez que uma raposa política como o Dr. Arraes costumava negar os pleitos,  oferecendo um cafezinho. 

Lembramos deste episódio no momento em que a frigideira do PT foi colocada no fogo, apenas com dois meses do exercício do mandato. Hoje, o óleo já está no ponto. Não seria prudente, do ponto de vista das consequências políticas, que Lula fizesse alguma mudança no ministério antes de esquentar a cadeira. O desgaste seria enorme, embora já haja elementos para isso. É preciso calcular bem essa escala de desgaste político, uma vez que o PT passou a ser muito cobrado por uma tomada de decisão acerca de um determinado minitro que já deu todas as provas de que não reúne as condições para continuar no governo. 

De sua cota conservadora, imposta pelas contingências de governabilidade, o tal ministro possui um perfil contumaz dos desmandos produzidos por quem não tem a minima noção sobre os parâmetros que devem nortear a sua conduta como parlamentar e homem público. Não conhece as fronteiras que devem reger a vida privada e os interesses públicos. Não sabemos qual o preço a ser pago, pois o cidadão tem uns padrinhos importantes e estratégicos para o Governo Lula. 

No caso de Haddad, não se pode dizer que o mesmo queimou a largada. Lula, de fato, emite indicadores de que deseja fortalecê-lo para 2026. Falta algum tempo para aquelas eleições,mas, pelo andar da carruagem política, o óleo parece-nos que já está no ponto. De imediato, estamos cada vez mais conencidos de que a Fazenda não seria o ministério mais adequado para acomodar Fernando Haddad. Internamente, Lula sugere prestigiar o pupilo, mas sabe que a luta por sua sucessão será renhida entre os apoiadores. Já existe uma penca de "cozinheiros" - e cozinheiras, por que não? - tentando "fritar" o nosso ministro. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


domingo, 26 de fevereiro de 2023

Editorial: A famigerada lista negra do trabalho análogo à escravidão.



Uma das vantagens dos regimes democráticos é que o cidadão acaba sabendo de parte das safadezas que correm solta no mundo da política e da economia. Ainda ontem li um texto que trouxe informações novas sobre os estertores do que, de fato, poderia ter ocorrido nos bastidores da frustrada tentativa de golpe de Estado orquestrada no último dia 08 de janeiro. Aquele ato não foi coisa de amadores ou de uma massa ensandecida e descontrolado, mas algo muito bem urdido, planejado, com ações estratégicas, logística e tudo mais. Mas, vamos deixar essa discussão para outro momento para não "melindrarmos". Reparem que este verbo passará a ser usado bastante daqui para frente, por razões bem conhecidas. 

Agora, anda circulando nas redes sociais - sempre tomamos o cuidado de checar antes essas informações - uma espécie do que seria, num passado recente, a lista negra do trabalho escravo, que deve ser retomada com força neste governo, de perfil democrático e republicano. Logo após a ruptura institucional de 2016, foram criadas uma série de embaraços burocráticas que tinham, como objetivo, interditar a sua divulgação. Essa lista tem um caráter extremamente importante, pois não apenas o Estado, mas, sobretudo o cidadão comum fica informado sobre as empresas que utilizam o expediente execrável do trabalho análogo à escravidão, aplicando-lhes a censura e outras sanções efetivas, como, por exemplo, o boicote à compra dos seus produtos ou serviços. 

Ao Estado, naturalmente, cumpre as sanções legais previstas, aplicáveis nesta situação, como multas, a impossbilidade de realização de negócios com os entes públicos, não cencessão de empréstimos públicos ou qualquer outro tipo de concessão. Enquanto a lista mais ampla está sendo preparada, já se sabe que algumas vinículas gaúchas estariam adotando essa prática reprovável. Assim, recomendo aos nossos diletos leitores, consumirem o suco de uva natural acima, produzido na forma cooperativa rural, sem o emprego de trabalho escravo ou outros aditivos, muito bom para a saúde física, mental e, sobretudo, política.  

Editorial: Crise política na Nicarágua: Vamos por parte?




Ontem, depois das leituras e das rotinas de conclusão de mais um livro, nos dedicamos a acompanhar os acontecimentos da crise política na Nicarágua. Nessa época de pós-verdades, já vamos separando os "contra" - perdão pelo trocadilho - daqueles informes consistentes, produzidos por pessoas sérias, menos comprometidas com um dos lados, de preferência oriundos da academia e, melhor ainda, assinados por atores que estiveram envolvidos diretamente com a História recente daquele país, particicpando da luta guerrilheira, ao lado da FSLN - Frente Sandinista de Libertação Nacional - que depôs a sanguinária ditadura de Anastácio Somoza, apoiada, durante décadas, pelos Estados Unidos. 

Já enfatizamos inúmeras vezes por aqui que a democracia no Brasil sempre foi um projeto muito frágil, sobretudo em razão de nossa formação colonialista, escravagista, genocida. Até recentemente, surgiram várias denúncias que vinícolas gaúchas estariam sendo enquadradas pelas irregularidades da prática de trabalhos análogos à escravidão. A Justiça do Paraná acaba de aplicar as penalidades previstas a um cidadão por postar, na internet, o anúncio da venda de um escravo africano legítimo. O anúncide escravidão faria inveja o sociólogo Gilberto Freyre, que escreveu um trabalho sobre o assunto, tratando dos escravos nos anúncios de jornais da época da vigência do regime de trabalho escravo. Isso, naturalmente, antes de 1888, quando a escravidão no país foi extinta "oficialmente". Ou não?

Quarteladas e tentativas de quarteladas são relativamente frequentes, como esta que ocorreu no último dia 08 de janeiro, num rompante que parecia mais de torcida organizada, possivelmente, sem medir as reais consequências nefatas para o país e sua população. Claro que essa premissa se aplica há alguns atores, uma vez que, a cada dia que lemos mais notícias sobre o que, de fato, ocorreu em 08 de janeiro, ficamos convencidos de que tudo foi mililetricamente planejado, com atores releventes elaborando a estratégia, preparando o terreno e dando as coordenadas para o golpe. A questão que se coloca agora é se as nossas instituições democráticas reuniriam condições efetivas para puni-los. Um tema espinhoso e nevrálgico.   

Nossos mais ilustres intérpretes já deixaram isso muito claro. O historiador Sérgio Buarque de Holanda fala-nos da origem perversa dos vícios herdados da colonização portuquesa, que forjou uma sociedade com poucas chances de institucionalização, onde não se estabelece a diferenciação entre a res pública e os interesses privados. Gilberto Freyre entra na questão do sadomasoquismo formativo, na sociedade da aplicação do castigo, do açoite, do infringir ou ser indiferente ao sofrimento do outro. Nossa eleite política e econômica é a mais insensível do mundo. Noam Chomsky, o linguista americano, costuma afirmar que nunca viu coisa igual em nehuma parte do mundo.  

Nossa democracia é tão tão frágil que até para dizer que os militaress ficarão de fora do próximo reajuste dos servidores públicos federais isso se constitui num problema. Os militares tiveram reajustes regulares durante  governo de Jair Bolsonaro, enquanto os civis do Executivo guardam um jejum de 07 anos sem reajustes,  amargando perdas acumuladas que já corroeram mais de 40% dos seus proventos. Setores do governo atual ainda estavam preocupados em não melindrarem os militares, uma vez que a situação já estaria bastante tensionada.  

Fazemos essas considerações iniciais para entendermos o que se passa naquela país da América Central, para onde a comunidade internacional se volta, sobretudo em razão da violação de direitos humanos que ali estão ocorrendo, conduzidas pelo presidente Daniel Ortega, líder máximo da Revolução Sandinista, que chegou ao poder com ideais tão nobres. Assim como ocorre com o Brasil, a Nicarágua possui um sério problema de concentração de poder, ou mais precisamente, o poder concentrado em "famílias". A família do ditador Anastácio Somoza passou 38 anos no poder, saindo apenas em razão da vitória da Revolução Sandinista. 

Somoza pintou miséria contra os opositores, foi uma governo corrupto, concentrou riquezas. Foi impiedoso com os adversários políticos. Comentava-se, até, sobre a existência de covas de leões, onde os desafetos eram atiradaos para a morte. Uma ditadura sanguinária e corrupta, que ceifou a vida de milhares de opositores durante décadas. Nenhum reparo a fazer em relação a Sandino, que iniciou a luta de libertação daqueles país do jugo americano. Quando Sandino iniciou a luta pela libertação, o país era ocupado por fuzileiros americanos, o que feria solenemente a sua soberania. 

Nenhum reparo a fazer sobre a luta revolucionária do povo nicaraguense, iniciada no começo da década de 60, e que acabou chegando ao poder em 1976, depois de uma longa guerra de guerrilha, inspirada na Revolução Cubana. Uma frente ampla, formada por mulheres, jovens estudantes, inclusive com voluntários de outros países, inclusive do Brasil. Os primeiros anos do Governo Revolucinário, de reconstrução nacional, foram extremamente positivos para o país, ao fomentar a organização da sociedade civil, fazer a reforma agrária - principalmente nas terras do latifúndio da família Somoza - e criar programa de combate ao analfabetismo, incluive utilizando o método do brasileiro Paulo Freire. Mais de 50% da população do país era analfabeta. Ao final do programa, os índices caíram para 12%, merecendo o reconhecimento internacional, de órgãos como a ONU. 
A grande derrota da Revolução Sandista não ocorreu em 1991, quando o comandante Daniel Ortega perdeu as eleições presidenciais para Violeta Chamorro, após as duras pressões exercidas pelos Etados Unidos. Eleições, aliás, muito questionadas, a despeito das atenções mundicais. Ortega foi derrotado por ele mesmo, traindo os ideais mais nobres dos revolucionários que pegaram em armas para derrotar uma ditadura sanguinária. Faz algum tempo que o país deixou de ser uma democracia e tornou-se uma ditadura. E os métodos das ditaduras, infelizmente, são sempre muito parecidos. 

Os ingredientes mais nefastos na condução de uma gestão pública já podem ser encontrados no Governo de Daniel Ortega, sendo, justas, portanto, as preocupações com a condução do processo político naquele país, já manifestadas pelos presidentes do Chile e da Colômbia. Repressãp violenta contra os opositores; gestão tememária da contas públicas; mudanças constitucionais para se perpetuar no poder; ausência dos demais poderes do escopo de uma democracia - a exemplo de um Legislativo cooptado e de um Judiciário sem a independência necessária para atuar.

Até recentemente, o PT, ou o presidente Lula em particular, se pronunciou sobre o que ocorre naquele país da América Central, levantando as polêmicas de sempre. Há um legado de conquistas sociais, políticas e econômicas da Revolução Sandinista que  podem e precisam ser defendidos pelas forças do campo progressista. Mas há, por outro lado, os desvios de rumos que são indefensáveis, o que vem provocando os pronunciamentos recentes, por atores políticos representantes deste campo. É neste alinhamento que o PT precisa se situar, evitando oferecer munição aos seus adversários.   

 

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Editorial: A tragédia bolsonarista nossa de todos os dias

 



Infelizmente, vamos conviver com isto durante um bom tempo. Aliás, para ser mais preciso, o país sempre conviveu com esta violência, desde os tempos mais remotos.Violência contra os povos originários, contra os negros, contra os gays, contra as mulheres. Somos uma sociedade forjada na violência, no não reconhecimento do outro. O ódio, o genocídio sempre esteve em nosso DNA histórico. O sociólogo Gilbeto Freyre  afirmava que a democracia entre nós seria inviável, sobretudo por sermos uma nação de perfil sadomasoquista.Quem sabe ele não tinha razão. 
 
De fato, somos dados ao golpismo e às quarteladas, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Até recentemente milhares de pessoas insandecidas saíram às ruas para pedir uma intervenção militar, atacando violentamente as nossas instituições democráticas, sem medir as consequências. Irresponsavelmente. Democracia entre nós é coisa frágil e, possivelmente, sempre será. Basta aparecer um louco de vez em quando, com uma "receita" pronta para despertar o monstro das trevas e do obscurantismo e ele ressurge com uma facilidade incomum. 

A receita é simples: Escolhe-se os inimigos - o PT e, em particular, o atual presidente Lula; dissemina-se uma campanha sistemática de ódio e de mentiras, hoje  enormemente facilitada pelos aparatos tecnológicos modernos disponíveis; adota-se políticas públicas deliberadas de "suporte" a essas insanidades, como a facilitação na aquisição de armas pela população. E, aí, o resultado são essas tragédias que, como disse, estão se tornando recorrentes. A equação é simples: campnha de disseminação do ódio + facilidade na aquisição de armas: chacinas como esta que ocorreu recentemente em Sinop, no Mato Grosso do Sul.  
 
Pedimos perdão aos leitores se esquecemos de algum outro ingrediente nefasto. O bolsonarismo despertou o que há de pior na sociedade brasileira. Entende-se as preocupações e a repulsa da sociedade em relação à tragédia que ocorreu recentemente em Sinop, no Mato Grosso do Sul, onde dois bandidos mataram sete pessoas, inclusive uma criança de apenas sete anos de idade. Entende-se a indignação, mas, na realidade, os crimes de ódio já se tornaram recorrentes no país já faz algum tempo. 

A eleição de Lula se constituiu num antítodo ao avanço dessa engrenagem perversa, abjeta mas eles continuam ativos, dispostos a retomarem o poder a qualquer momento, de preferência por caminhos tortuosos, não pelas vias normais, previstas o escopo de uma democracia representativa, mesmo que frágil. É preciso ficarmos atentos e não voltarmos a dormir o sono político que produziu o monstro. 

Charge! Leandro Assis e Triscila Oliveira via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Editorial: Mocidade Independente de Padre Miguel homenageia o Mestre Vitalino.

Crédito da Foto: Fundação Pierre Verger

 


Todas as homenagens ao Mestre Vitalino são muito bem-vindas. Ainda mais se tal homenagem parte de uma escola de samba como a Mocidade Independente de Padre Miguel, que expôs o artesão de Caruaru no Sanbódromo da Sapucaí no desfile do carnaval deste ano. Além do mestre Vitalino, os seus discípulos do Alto do Moura também se fizeram presentes, como mestre Galdino, Manuel Eudócio e Zé Caboclo também homenageados pela mesma escola de samba. Em grande medida, boa parte dos artistas do Alto do Moura são discípulos do mestre Vitalino Pereira dos Santos. Aprenderam com o ele o ofício de transformar o barro em esculturas de arte, seja no estilo, seja nas temáticas da cultura nordestina explorada em seu trabalho artístico. 

As semelhanças são tão nítidas que, em alguns momentos, torna-se difícil identificar o verdadeiro Vitalino do "falso", exceto pelas digitais indeléveis, ou seja, traços únicos que apenas o artista sabia fazer com maestria. Na realidade, Vitalino, apesar de Caruaruense da gema, não nasceu no Alto do Moura, vindo morar no local, ainda jovem, com a família. Sua mãe utilizava o barro para fabricar cerâmicas utilitárias que comercializava na feira local. Com as sobras do barro, Vitalino foi dando os contornos a pequenas bonecos que comercializava, igualmente, na feira local, para conseguir alguns trocados. 

O reconhecimento do seu talento só viria com exposições fora do circuito local, naquilo que a gente chama de um reconhecimento "de fora para dentro", ou seja, a província só se rende quando os de fora reconhecem as qualidades artísticas do artesão local. Foi uma exposição organizada por Augusto Rodrigues, no Rio de Janeiro, que projetou o artista nacionalmente.   Os melhores registros imagéticos do artista, por exemplo, é uma realização do francês, Pierre Verger, quando de suas excursões de trabalho pelo Nordeste, onde registrou todas as etapas do trabalho do astista, desde o recolhimento do barro até a arte final, no forno, para a queima, que ainda existe no Museu Casa do Mestre Vitalino, em Caruaru. 

Museu que, inclusive, reclama a atenção dos poderes públicos, em todas as esferas, sobre os cuidados necessários com a sua manutenção. Graças às ações ou iniciativas de museólogos como Aécio de Oliveira, o Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, detém um dos maiores acervos de obras do artista no país, que possui obras expostas até no famoso Museu do Louvre, em Paris.   

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Editorial: O carnaval de Lula



Depois de uma intensa mobilização para recuperar o tempo perdido e os desmandos do governo anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu descansar e regarregar as baterias durante o período momesmo. Optou pela Base Naval de Aratu, na Bahia, que está se transformando numa especie de residência oficial de veraneio da Presidência da República, uma vez que uma leva de ex-presidentes estiveram no local durante os períodos de feriados prolongados. Como se trata de uma base militar, naturalmente, torna-se possível descansar sem ser incomodado. Mais o danado é que o presidente acabou sendo incomado pelo intenso temporal que caiu na região litorânea do Estado de São Paulo - principalmente na cidade de São Sebastião - acarretando mortes, desaparecidos e desabrigados. 

Com a sua sensibilidade e responsabilidade de um governante, Lula interrompeu o seu descanso merecido e partiu imediatamente para São Paulo, com o objetivo de solidarizar-se com os atingidos e estabelecer ações conjuntas dos governos Federal, Estadual e Municipal no sentido de socorrer as vítimas e adotar medidas para recuperar os danos produzidos pelas enxurradas. Este é um comportamento diametralmente oposto ao do governo anterior, que não demonstrava empatia com o próximo, por vezes até ridicularizando situações de calamidades públicas. 

Antes de mais nada, Lula não fez mais do que deveria ser feito, ou seja, a sua obrigação. mas, diante da conjuntura política que enfrentamos até recentemente, sua atitude está tendo uma excepcional repercussão nas redes sociais. O Governo Lula está dando um ponta pé dos melhores neste início de governo e, naturalmente, não poderia cometer uma falha dessa magnitude, em razão de sua responsabilidade pública. Ponto para Lula. Infelizmente, pelo andar da carruagem, essas tragédias estão se tornando rotineiras, em razão dos danos climáticos produzidos pela ação dos homens na natureza. Não é desejável, mas não seria improvável que outras possam vir a ocorrer.   

Charge! Benett via Folha de São Paulo