pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: 61% dos brasileiros querem novas eleições, de acordo com o Vox Populi.
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sábado, 6 de agosto de 2016

Editorial: 61% dos brasileiros querem novas eleições, de acordo com o Vox Populi.




Este golpe parlamentar no Brasil nos mergulhou num grande impasse institucional, que aponta para algumas alternativas arriscadas. Intenções de golpistas nunca são as melhores, daí se entender que uma das possibilidades possíveis seria o "endurecimento" do regime, solapando algumas conquistas democráticas duramente conquistadas nas últimas décadas. Esta seria uma das hipóteses mais preocupantes. A outra possibilidade seria a construção de um consenso, entre os atores políticos em litígio, acerca de um arranjo que permitisse novas eleições presidenciais, preferencialmente, antes mesmo de 2018. A presidente afastada, Dilma Rousseff, trabalha com está hipótese, mas, segundo soube, encontra resistências dentro do próprio PT, sobretudo naquele grupo que teme pelos desdobramentos da Operação Lava Jato, que já estariam fazendo novos acordos espúrios com a direita, cada qual tentando salvar o seu pescoço.

Mesmo na hipótese de construção de um consenso entre essas forças, ainda assim, o revés sofrido pela esquerda, principalmente, o PT, será sentido nas urnas. Lula sempre aparece muito bem nas pesquisas de intenção de voto - esta última publicada pelo Vox Populi indica isto - mas bons analistas asseguram que este "Fôlego inicial" de Lula não resistiria muito tempo. No que se refere a Dilma Rousseff, então, o quadro é ainda mais complicado. Soma-se isso as ações judiciais que estão ou deverão correr contra ambos. Lula já está bastante encrencado e Dilma Rousseff, segundo dizem, depois da delação premiadíssima do marqueteiro João Santana, também deverá ser acionada pela justiça para se explicar sobre os problemas com o financiamento da última campanha presidencial. O fato concreto é que ambos estão enredados em enormes problemas, assim como o próprio partido. O PT precisa ser reinventado e talvez fosse o caso de apresentar para a disputa presidencial um quadro novo. Há quem especule que o principal postulante a este posto seja o Fernando Haddad, caso seja bem sucedido no seu projeto de continuar administrando a cidade de São Paulo.

Antes que nos condenem, reafirmo aqui nossas convicções sobre a violação dos direitos do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, assim como da ex-presidente Dilma Rousseff, a começar pelo fato de ter sido afastada da presidência sem nenhum crime de responsabilidade configurado, o que pode ser traduzido como um golpe institucional. Por outro lado, é um fato que o Brasil já vive um Estado de Exceção. As próximas eleições se darão sob tais condições. A pesquisa do Vox Populi, publicada nesta sexta-feira pela revista Carta Capital, contribui, sobretudo, para desanuviar a última pesquisa do Instituto Datafolha, clamorosamente manipuladora, uma vez que escondeu o desejo dos brasileiros por novas eleições presidenciais. Para mais ou para menos, os brasileiros que desejam novas eleições presidenciais, em todos os institutos, oscilam em torno de 60%. Até o próprio Datafolha, em pesquisas anteriores, já havia apontado este índice. Na última pesquisa do Instituto, no entanto, o percentual dos brasileiros que manifestaram esse desejo ficou em 3%. De onde eles tiraram este índice é uma grande incógnita. Depois da enorme polêmica, os responsáveis pelo Instituto admitiram o "equívoco". Não adiantou muita coisa não. Ficou a impressão que o Instituto manipulou dados para favorecer o governo interino. 

Há um conhecido cientista político polonês, Adam Przeworski, que escreveu um belo texto sobre a democracia, a começar pelo título muito bem escolhido: Amas a incerteza e serás um democrata.Há várias leituras sobre a democracia no Brasil, a começar pela sua absoluta impossibilidade. O historiador Sérgio Buarque de Holanda dizia que a experiência democrática entre nós não passava de um grande mal-entendido. O cientista político Michel Zaidan, num artigo publicado aqui no blog, traduziu muito bem essa questão, apontando as idiossincrasias da democracia no contexto de uma  sociedade como a brasileira. Um dos aspectos mais visíveis desse problema é que a elite brasileira não tem uma boa convivência com as regras do jogo da democracia, ou seja, não aceita as incertezas inerentes ao processo democrático. 

A democracia, no Brasil, é um mero jogo de cena. Precisa ser uma democracia de "conveniência". Ela só funciona em consonância com a preservação dos interesses da elite. Se esses interesses estão sendo comprometidos, que se danem as regras do jogo democrático. Toma-se o poder, agora de uma maneira mais "sutil", via instituições. O que fazer, então? O PT chegou ao poder através de uma conciliação de classe; negou-se a implementar uma série de reformas importantes - política, agrária, democratização da mídia, tributária - não atingiu os interesses capitais dessa elite. Até que, mesmo assim, eles tomaram a decisão de apear o PT do poder. Dilma Rousseff ganhou aquelas eleições consagrada por mais de 54 milhões de votos e o seu mandato está sendo usurpado através de um processo de impeachment "inventado", sem uma fundamentação jurídica que o ampare. É possível que o historiador Sérgio Buarque tenha mesmo razão. 

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