Edição crítica do clássico de Sérgio Buarque de Holanda é lançada pela Companhia das Letras
(Publicado originalmente no site da revista Cult)
por Eric Campi
Para além do famoso conceito de “homem cordial”, Raízes do Brasil se popularizou pelas denúncias do preconceito racial, valorização do elemento de cor, críticas ao patriarcado e principalmente, na década de 1930, pela análise cética do discurso liberal aliada à defesa do Estado forte. Na segunda edição, que data do pós-guerra, porém, expressões e passagens foram modificadas para afastar qualquer má-interpretação de uma ode ao estado totalitário, acenando mais claramente às ideias democráticas.
Na sequência, vieram mais três edições com ligeiras mudanças de vocábulos e novos prefácios e notas. A terceira edição, por exemplo, explicitava a discussão entre Sérgio Buarque de Holanda e Cassiano Ricardo sobre a cordialidade: o poeta a defendia como “técnica da bondade”, enquanto o historiador esclarecia que ser avesso aos rituais sociais era exatamente oposto ao homem polido. A volta das defesas utópicas se deu na quarta edição, de 1963, com o governo João Goulart, e o famoso prefácio de Antonio Candido, hoje quase indissociável da obra original, só veio na quinta e última edição revisada pelo próprio historiador.
Assim, em comemoração aos oitenta anos da publicação, e três décadas da Companhia das Letras, a editora lança Raízes do Brasil – edição crítica, organizada por Pedro Meira Monteiro e Lilia Moritz Schwarcz. O texto apresentado segue a quinta versão, considerada a visão última do pensamento do autor, com atualizações ortográficas e de pontuação, além de todo o conteúdo das edições anteriores com prefácios e notas. O “caráter radical” da escrita buarquianas, como identificado por Antonio Candido em um dos textos presentes no livro, aparece integralmente na edição crítica. Os organizadores questionam se o Sergio Buarque radical veio antes ou depois da análise de Candido, mas, independente da resposta, Raízes do Brasil “é um clássico de nascença”, como afirmava o próprio crítico literário.
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