pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Uma eleição a ser decidida na articulação da sociedade civil. Ganha as eleições quem conseguir demonstrar que cuidará melhor do recifense.
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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Uma eleição a ser decidida na articulação da sociedade civil. Ganha as eleições quem conseguir demonstrar que cuidará melhor do recifense.



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José Luiz Gomes

Já comentamos por aqui, em nosso último artigo sobre o assunto, que essas eleições municipais de 2016 serão eleições atípicas, mas ainda não dimensionava corretamente a sua importância para a retomada da luta pela cidadania, conforme advoga o editorialista Sílvio Caccia Bava, editor do Le Monde Diplomatique Brasil, num dos seus últimos editoriais. Caccia começa o texto desconstruindo aquela velha máxima sobre a democracia, onde, até bem pouco tempo, para enfatizarmos as suas vantagens sobre as outras formas de organização política, costumávamos afirmar que era um governo do povo, pelo povo e para o povo. Pelo andar da carruagem política, vão longe esses tempos. Hoje, não seria exagero afirmar que a democracia tornou-se um governo de corporações de interesses e, portanto, a antiga máxima pode ser perfeitamente substituída por governo das corporações, pelas corporações e para as corporações. 

O sociólogo catalão Manuel Castells já havia alertado para o problema, apontando as redes sociais como um mecanismo pelo qual a cidadania poderia vir a ser exercida, de certa forma, substituindo os partidos políticos como mediadores da relação com o aparelho de Estado. Na medida em que o sistema político passa a operar unicamente na defesa e consoante os interesses das grandes corporações, o cidadão comum vê vetadas as possibilidades de atendimentos de suas demandas. Até mesmo numa leitura mais teórica, isso significa a falência do sistema político. Não por acaso, o prestígio dos partidos políticos encontra-se mais baixo do que poleiro de pato. E este é um fenômeno generalizado, observado praticamente em todo o mundo. No Brasil, um dos grupos que se aproximou bastante do sociólogo Manuel Castells foi o grupo ligado a irmã Marina, que, com base nesses pressupostos, chegou a decretar o "fim" da política, o que, convenhamos parece ser mesmo um exagero. 

À medida em que se aproxima o afastamento final da presidente Dilma Rousseff e se aprofundam as medidas anti-sociais do governo ainda interino do senhor Michel Temer, é possível perceber, com clareza, o agravamento dos problemas políticos e sociais, que devem ser acompanhados de protestos daqui para frente. Esses protestos serão necessários, mas a tendência, em clima de Estado de Exceção, é que sejam duramente respondidos através de cassetetes, jatos d'água e balas de efeito moral, além, claro, da banalização de instrumentos como prisão preventiva e "presunção" de culpa, mais ou menos, nos mesmo termos do que ocorreu durante as mobilizações das Jornadas de Junho de 2013. Jornadas que, aliás, em sua agenda previa uma reforma política que acabou não acontecendo e o PT tem lá sua parcela de culpa no cartório da história. 

A "tempestade perfeita" de uma crise aguda na economia, na política e de caráter institucional - com um judiciário como fonte de exceção e não de direitos - poderá mergulhar o país num impasse de consequências imprevisíveis. Por enquanto, antes de uma reforma estrutural, é este o sistema político que temos, com as corporações muito bem representadas, através da bancada da Bíblia, da bala, dos bois, dos bancos, da berlinda. Se quisermos, esses são os atores "políticos" do golpe institucional ora em curso no país. Como adverte Sílvio Caccia, também é chegada a hora de fortalecermos uma "bancada da cidadania", formada por representantes que se vinculem e articulem a sociedade civil através dos sindicatos, dos coletivos, das associações de bairros, dos núcleos populares etc. Na percepção de Caccia, em razão do desgaste dos partidos, uma bancada suprapartidária, com membros de diversas organizações políticas. 

É chegado o momento, então, de estabelecermos as conexões dessas reflexões com as próximas eleições municipais do Recife, o que, mais uma vez, deve dar uma injeção de ânimo entre os petistas da terrinha. Apenas á quiza de informações, não custa lembrar aqui a atipicidade dessas eleições, com eleitores desestimulados, com poucos recursos em razão das restrições de financiamento e sem atrair a atenção da grande mídia, concentrada na impeachment e na Operação Lava Jato. Com base nesses indicadores, é possível tirarmos algumas conclusões. Vamos a elas.

1.1 - No nosso último artigo discutíamos o profundo desgaste de imagem do Partido dos Trabalhadores, vitima preferencial de uma onda persecutória infligida por setores do judiciário e pela "grande" mídia golpista. Vale aqui a ressalva que o desgaste dos partidos políticos é generalizado, aqui e alhures, sem distinção de ideologias. A imagem dos partidos políticos junto á população é caótica, chegando atingir índices superiores a 80% de rejeição. Portanto, se é um fato que o PT anda com o prestigio mais baixo do que poleiro de pato, o prestigio dos demais partidos também não vai muito bem assim. Então aquela tese de que o eleitor, no Brasil, vota mais no candidato do que no partido, sobretudo nessas próximas eleições municipais, tende a se confirmar e atores políticos como João Paulo, por exemplo, podem não sentir o o fardo tão pesado de carregar nas costas as mazelas do PT. Talvez fosse o caso de o comando de campanha dar toda a carga no João, colocando o partido num plano menor. João, aliás, é um ator político que não tem envolvimento com os escândalos de corrupção no qual o PT vem sendo prioritariamente investigado, como no caso da Operação Lava Jato. Talvez não possamos dizer o mesmo em relação ao "amarelinho", cujo padrinho político saiu de cena com o conceito mais sujo do que pau de galinheiro.  

1.2 - Estrategicamente, a luta social e comunitária deve sr fortalecida nessas eleições, sobretudo se considerarmos o caráter antipovo deste governo golpista, que investe pesado no corte de políticas públicas que beneficiavam os mais desfavorecidos. Mais do que nunca, o diálogo de base com os movimentos sociais, sindicatos, associações devem ser fortalecidos no sentido de escolha de atores políticos identificados com a luta pela reconstrução da cidadania, profundamente afetada por este governo. Aqui, como partido de massa e não de quadros, em tese, o PT poderia ser favorecido pois, historicamente, sempre manteve vínculos orgânicos com esses movimentos desde a sua fundação. Aliás, foram esses movimentos de base que ajudaram a criar o próprio partido. Acontece, entretanto, que, em seu processo de burocratização e oligarquização, o partido descolou-se desses movimentos, priorizando a luta eleitoral pelo poder no parlamento. Esse foi um dos erros estratégicos do PT, posto que, quando a presidente Dilma Rousseff precisou desse apoio, ele já não foi mais foi possível dada a sua desmobilização. Em todo caso, ainda assim, como partido de massa, o PT reúne melhores condições de retomar este diálogo. Neste aspecto, João conta hoje com um forte aliado, um outro João, o João da Costa, de quem mantinha um distanciamento até recentemente. Hoje eles estão juntos e, como já afirmei em outras ocasiões, o João da Costa parece que gostava desse "cheiro de povo e de máquina". Infligiu duas derrotas aos burocratas da agremiação em disputas internas. Hoje, passa a ser um forte aliado de João, com chances reais de tornar-se um representante do partido na Casa de José Mariano.

1.3 - Arrisco-me a fazer um prognóstico. Para fatores que vão até além das razões apresentadas acima, deverá ganhar as eleições do Recife aquele candidato que conseguir convencer os eleitores que cuidou ou cuidará melhor do recifense. Lembro que o slogan da administração de João Paulo era "A maior obra é cuidar das pessoas". O que se diz é que o candidato amarelo gosta mesmo é de cuidar dos "coxinhas", dos bairros de classe média do Recife. Eleitoralmente, João Paulo tem uma forte inserção nos bairros de periferia. Nas eleições onde ele desbancou o candidato da União por Pernambuco, Roberto Magalhães, as zonas eleitorais do "país" de Casa Amarela foram fundamentais para a sua vitória. Isso talvez explique o ainda baixo desempenho do candidato tucano, Daniel Coelho(PSDB), um candidato praticamente desprovido desse vínculo orgânico com as organizações de base da população. Por mais que se esforce, a gente sabe que Geraldo Júlio(PSB) não tem esse cheiro de povo. Quem mais se identifica com este perfil é o ex-prefeito João Paulo. Em termos de comunicação, no entanto, é preciso que seu comando de campanha deixe claro que "cuidar das pessoas" é um compromisso, algo que está muito além de um simples slogan.

1.4 - No final, acrescentaria aqui que, do ponto de vista estrito das políticas de intervenções urbanas no Recife, principalmente aqueles atores políticos que estiveram ocupando o Palácio Antonio Farias, deverão assumir algum ônus pela precariedade de discussões coletivas sobre o encaminhamento dessas questões; o caráter higienista e excludente do processo - creio que uma herança ainda da década de 40, da Liga Contra os Mocambos, do interventor Agamenon Magalhães -; além, claro, das relações promíscuas entre o poder público e as empreiteiras. A própria justiça já apontou inúmeras irregularidades envolvendo essas transações. Embora o PT tenha cometido os seus pecados por aqui, deverá caber ao atual gestor, Geraldo Júlio(PSB), na condição de governante, o ônus maior. Quem corre solto nessa raia é o candidato do PSOL, Edilson Silva, que sempre esteve do lado dos movimentos sociais e do povo nesta luta. Mas é preciso dizer que o candidato do PSOL entrou nessa briga para preservar o seu capital político e ampliar o do partido.  


P.S.:Do Realpolitik: Este artigo foi escrito nas primeiras horas da manhã de hoje, dia 31, prazo final para a segunda votação no Senado Federal, que determinou o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. Creio que mais ou menos por volta de 13:00 horas de hoje, fui surpreendido com o barulho de fogos de artifícios e uma espécie de "buzinaço". Logo percebi que eram os "coxinhas" comemorando a deposição da presidente Dilma Rousseff, num dos seus redutos, o bairro de Casa Forte. Não mudei as referências, no artigo, que trata Temer ainda como um presidente interino. Para mim, ele deixa de ser "interino", mas permanecerá ilegítimo.   


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