A mídia "engajada" não deixa de enfatizar alguns indicadores que sugerem uma possível melhoria na economia. Como eles mesmo dizem, "paramos de cair", o que já se constitui, por si só, um ótimo resultado. A euforia do Governo é tamanha que o próprio presidente Michel Temer(PMDB) tem afirmado aos aliados que não se considera uma carta fora do baralho. Em entrevista à edição brasileira deste mês do jornal Le Monde Diplomatique , o ex-ministro de Lula, Gilberto Carvalho, faz coro com ilustres petistas ao afirmar que o maior erro cometido pelo partido no governo foi o de não levar adiante o projeto de democratização da mídia no país. Eles hoje parecem dimensionar corretamente o tamanho da encrenca em que se meteram, quando esta mídia "comprometida", consorciada com setores políticos e do empresariado, resolveram urdir o golpe que afastaria a presidente Dilma Rousseff(PT) da Presidência da República, além de execrarem publicamente os membros do partido, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT).
O que talvez pouca gente saiba - uma vez que a mídia alternativa morre de inanição, sobrevivendo, em alguns casos, com inestimável apoio dos seus próprios leitores - é que o desemprego cai apenas no setor informal da economia - o que significa que mais indivíduos passaram a vender pipoca ou sorvetes de iogurtes -; que nunca se investiu tão pouco em saúde, com o comprometimento de programas essenciais, além interditar o funcionamento de novas UPAS; que aumentou o índice de alunos reprovados, além da diminuição das matrículas no ensino fundamental e médio, que mais de 50% das escolas da rede pública não possuem saneamento básico e apenas uma em cada três tem acesso à internet; que nunca se fiscalizou tão pouco o trabalho escravo no país, pois falta até verba de passagens para os procuradores do trabalho. Esse debate sobre o país, certamente, não passa no horário nobre da grande mídia nacional, que prefere outros temas mais palpitantes, como, por exemplo, a negativa do habeas corpus preventivo para Lula, que fora solicitado pelos seus advogados ao Superior Tribunal de Justiça.
Esses dados do cotiando difícil enfrentado pelos brasileiros e brasileiras talvez explique o desencanto com a próxima eleição presidencial, fato observado, mais uma vez, pelo última pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, que aponta que 36% do eleitorado não demonstra qualquer inclinação de voto para a Presidência da República, além de inclinarem-se para o voto branco ou nulo. É mais de um terço do eleitorado, fato jamais verificado no país. Sem Lula no páreo, observa-se uma espécie de orfandade, traduzida no altíssimo índice de votos brancos ou nulo e de eleitores indecisos. A notícia boa é que o ex-militar, Jair Bolsonaro(PSC), parece estacionado na faixa dos 18% do eleitorado - com variações dentro da margem de erro na série histórica dessas pesquisas realizadas até aqui - indicando, quem sabe, um "teto" que não permitira ao seu séquito de seguidores a euforia de outdoors como aqueles espalhados, inclusive no terra do ex-presidente Lula, Garanhuns, aqui em Pernambuco, com os dizeres: "É melhor Jair se acostumando". Em todo caso, com Lula fora da disputa - como pretendem alguns - o militar da reserva lidera a disputa, num quadro ainda indefinido entre o segundo colocado, mais com uma ligeira vantagem da irmã Marina, o que nos rementem a uma observação do professor Michel Zaidan, no sentido de que nos restariam, neste cenário, fazer uma opção entre a cruz e a espada. Esse desapontamento do eleitorado é o resultado de uma crise institucional de dimensões gigantescas, pós-golpe institucional de 2016.
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