Seria um simples truísmo dizer que a floresta
amazônica é o pulmão da humanidade e por isso deve ser preservada a
qualquer custo. No entanto, ela é mais do que isso: sua vegetação
abundante e robusta ajuda muito absorver a quantidade de carvão
produzido na atmosfera pelo aquecimento global. A destruição da floresta
implica num crime contra a humanidade,não só contra os brasileiros. A
responsabilidade civil e penal pela destruição de um dos maiores biomas
do planeta é, em primeiro lugar dos governos nacionais e estaduais da
região amazônica (Brasil, Peru, Colômbia) que deve envidar todos os
esforços para protegê-lo, reflorestá-lo e punir energicamente os que
atentam contra a sua existência (madeireiros, agropecuaristas,
produtores rurais, empresas brasileiras e estrangeiras). Mas essa responsabilidade vai muito
além das fronteiras nacionais do países que compõem a região amazônica.
A
biodiversidade ali reinante (animais, espécies vegetais e minérios)
constituem patrimônio comum da humanidade e deve ser objeto de proteção
da comunidade internacional, através de "fideicomissos" ou fiscais
encarregados pelas organizações internacionais de velar pela sua
sobrevivência e continuidade. Há tempo que se discute esse patrimônio
comum: os oceanos, o espaço sideral, os cursos de água doce etc. Permitir
que a incúria ou a inércia administrativa de um governante nacional
deixe queimar 10% da floresta é um crime ambiental e internacional. O
que se sabe é que o presidente foi avisado, através de ofício, da
extensão das queimadas na região. E que
uma associação de produtores se movimentou através das redes sociais
para atear fogo na floresta. A pergunta que não quer calar é se esse
crime pirotécnico não contou com a conivência tácita das autoridades
federais e estaduais.
O mais grave é que o atual ministro do
meio-ambiente já demonstrou seu descaso e despreparo (para não dizer
coisa pior) para ocupar o ministério. E que até mesmo o vice-presidente
da República sugeriu que se vendesse a amazônia, em razão da "indolência
" dos seus habitantes originais. Curiosa é a reação do chefe de
governo, ao dizer que a amazônia não vai ser vendida a prestação a
algumas nações do G7, que ofereceram ajuda financeira para a proteção da
floresta. Tal afirmação pode ser interpretada como se ele quisesse
vendê-la a grosso a países ou empresas interessadas em explorar a sua
rica biodiversidade.
O Brasil não vive isolado do mundo. A
defesa do meio-ambiente faz parte de uma pauta internacional, como a
paz, o combate a miséria e a defesa dos direitos humanos. Não se trata
de perder a soberania, por integrar esse conjunto de países e aceitar a
cooperação intergovernamental no que tange à preservação de nossos
recursos ambientais. A pior forma de nacionalismo é o chauvismo
estreito e de conveniência para agradar incautos e idiotas.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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