O desembargador pernambucano, Bartolomeu Bueno, presidente da Associação
Nacional dos Desembargadores do Brasil (ANDES), sugeriu que, em razão da
falta de compostura para o exercício do cargo, o senhor Jair Messias
Bolsonaro fosse judicialmente interditado. O magistrado já vinha se
pronunciando antes contra medidas, como por exemplo: a reforma da
previdência social. destinada segundo ele a jogar na miséria milhões de
trabalhadores brasileiros. A proposta de Bueno é mais drástica do que o
recurso do "impeachment", pois é um eloquente atestado da falta de
capacidade civil e jurídica para o cargo.
No entanto, ela é perfeitamente
compreensível diante do que um ex-presidente da República chamou de
"incontinência verbal" de Bolsonaro e um ministro do STF recomendou por
uma mordaça no orifício bucal do presidente. A verborragia desse alto
mandatário do governo brasileiro é absolutamente incompatível com a
liturgia e o decoro do alto cargo que ele ocupa. E provoca muitos
atritos e fissuras desnecessárias com parlamentares, jornalistas,
magistrados, intelectuais e estadistas estrangeiros, com evidentes
reflexos negativos para os interesses do país.
Ultimamente, a escatologia
bolsonariana vem falando repetidamente em "cocô" e "merda". Não se sabe
se isto tem a ver com sua estrutura intestinal ou excretória. Mas esse
tipo de retórica contamina a função administrativa e política do chefe
da nação. Seu universo mental parece povoado de excrementos e sua boca,
um canal de ejeção coprológica. Seria tentado a dizer que se trata de
uma gestão excrementícia, onde ao invés de argumentos, dados e
estatísticas para justificar suas decisões, o que saltam inopinadamente
da boca do presidente são petardos fecais, atirados contra os seus
opositores e desafetos.
Essa desqualificação
enterológica dos adversários o inabilita para conviver com os
diferentes, com a pluralidade político-ideológica,dentro e fora do país.
O mundo não é igual à nossa cabeça e nossos desejos. É "o mundo
verdadeiro, e não nós", como disse o poeta português. Temos que aprender
a conviver com ele, por mais difícil que isto possa parecer. E é o que
falta ao senhor Bolsonaro: flexibilidade, jogo de cintura para
administrar um país complexo e continental como o Brasil e lidar com a
comunidade internacional. São múltiplos interesses e ideologias. É
necessário uma boa dose de tolerância e pragmatismo para sobreviver
neste mundo multicultural. Mas ao que tudo indica o senhor Bolsonaro não aprendeu na caserna essa lição de estadista.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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